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1.

2 O conceito de
organismo universal
Evolução no sentido neoplatônico

O conceito de evolução, para Cassirer, abarca "por igual a história da


natureza e a do espírito" e, com isso, "parece encerrar e resolver em uma
fórmula metafísica comum os problemas derivados de uma e de outra" (p.
227-8). Há uma espécie de união entre a "marcha da natureza" e a "marcha
do espírito", chave para as aproximações entre história natural e história
cultural. Com o conceito de evolução articulado ao de Cadeia do Ser, o
desenvolvimento dos objetos materiais e do espírito podem ser avaliados
sob um mesmo conceito.

Este conceito de evolução propõe a existência de uma “linha contínua e


necessária que conduz do mundo das formas puras à existência material das
coisas” (p. 228).
Natureza, história e evolução: a cadeia do ser

A ligação entre o inteligível e o sensível conta com a noção de força, na qual o


ser absoluto está em uma atividade pura, formada por graus – é ele que produz
o mundo das coisas. Esta divisão por graus de atividade do ser gerou um cosmo
ordenado na forma de uma Cadeia do Ser. A ação desta força já confere, por si
só, um ingrediente especial para a construção de uma noção de natureza que
será incorporada à imagem científica do mundo: aquela na qual forças
autônomas atuam por si só.

A evolução no sentido cosmológico-ontológico, que cria a linha de continuidade


entre o inteligível e o sensível, também reflete-se no plano da psicologia do
conhecimento: a tentativa de fundamentar uma teoria do conhecimento sobre a
identidade entre o subjetivo e o objetivo.
A cadeia do ser
Charles Bonnet, Œuvres d'histoire naturelle et de philosophie (1779-83)
• HOMEM • Plantas sensitivas
• Orangotango • PLANTAS
• Macaco • Líquens
• QUADRÚPEDES • Bolores
• Esquilo voador • Cogumelos, Agáricos
• Morcego • Trufas
• Avestruz • Corais, Coralóides
• PÁSSAROS • Litófito
• Asbestos, Amianto
• Pássaros aquáticos
• Talcos, Gypso, Selenitas
• Aves anfíbias
• Ardósias
• Peixe voador
• PEDRAS
• PEIXE • Pedras figuradas
• Peixe rastejante • Cristalizações
• Enguias • Sais
• Cobras aquáticas • Vitríolos
• RÉPTEIS • METAIS
• Lesmas • Semi-Metais
• Caracóis • ENXOFRES
• MOLUSCO • Betumes
• Vermes tubulares • TERRAS
• Mariposas • Terras puras
• INSETOS • ÁGUA
• Inseto-galha • AR
• Solitária • FOGO
• Pólipos • MATÉRIAS MAIS SUTIS
• Anêmonas-do-mar
“Começando por nós e indo até as coisas mais baixas, é uma descida
que se opera através de graus muito pequenos, por uma seqüência
continuada das coisas, que em cada distanciamento diferem muito pouco
uma da outra. Existem peixes que têm asa, e para os quais o ar não é
estranho, por outra parte, pássaros que habitam na água, que têm o
sangue frio como os peixes, e cuja carne se assemelha tanto à dos
peixes no gosto que se permite aos escrupulosos comê-las em dias de
abstinência. Existem animais que se aproximam tanto da espécie dos
pássaros e da dos animais, que estão situados a meio caminho entre
ambos. Os anfíbios têm algo dos animais terrestres e algo dos aquáticos.
Os corvos marinhos vivem na terra e no mar; e os marsuínos (cujo nome
significa porco do mar) têm o sangue quente e as entranhas de um
suíno. Isto para não falar do que se conta dos homens marinhos; existem
animais que parecem possuir tanto conhecimento e tanta razão quanto
alguns animais racionais que se denominam homens. Existem outrossim
uma proximidade tão grande entre os animais e os vegetais que, se
tomarmos o que existe de mais imperfeito nos animais e o mais perfeito
nos vegetais será difícil notar alguma diferença considerável entre uns e
outros. Assim, até que cheguemos às partes mais baixas e menos
organizadas da matéria, veremos em toda parte que as espécies estão
ligadas entre si e diferem tão-somente por graus quase insensíveis”
Leibniz, Novos ensaios sobre o entendimento humano (Cap. VI, §.12)
Cada mudança ocorrida no universo possui uma relação imanente com todas as
demais; se o todo sempre precede às suas partes, a dissociação (análise) do concreto
é apenas abstrata: a realidade é contínua. (Cassirer, p. 228)

Há um intercâmbio dos sentidos lógico e ontológico da precedência do todo em relação


às partes:

(a) A ideia (lógica) de condicionalidade mútua entre as partes: o todo é sempre anterior
(logicamente) à suas partes.

(b) A intuição (sensível) de um universo vivo em sua totalidade: o todo é um organismo


vivo.

(c) A ideia lógica da relação abstrata entre parte e todo se transforma na intuição
concreta de um universo vivo.

(d) Estes dois sentidos ou fatores fazem parte do mesmo complexo superior de vida: a
ideia e o ser concreto atuam entre si.
Aprofundamento do sentido
neoplatônico de evolução:

Estudo do texto “Natureza, história e


evolução: a cadeia do ser”.
A natureza-organismo de Agrippa

A natureza deve possuir uma alma - a alma do mundo.

Há uma racionalidade em atribuir uma alma ao universo, caso queiramos


atribuir-lhe algum valor: a alma do mundo será a fonte originária da força.
Se átomos e animais, mais imperfeitos que o universo podem ter almas,
porque não o próprio universo?

A alma do mundo funciona como uma espécie de "motor interno" do


mundo, em oposição ao motor "relativamente externo" de Aristóteles e,
absolutamente externo, do cristianismo.

Há uma correspondência entre a cadeia do ser material e a anímica. O vivo


não pode ser gerado ou mantido pelo não vivo (inversão da concepção
atual de sistema vivo)

Força do argumento baseado na noção de causa e efeito: como é possível


que o inferior gere o superior? Não deveria ser o oposto?
“ Seria absurdo que o céu, os astros e os elementos, que são a
fonte de vida e os animadores de todos os seres concretos,
careçam, por sua parte, dela; que qualquer planta ou qualquer
árvore participassem de um destino mais nobre e mais elevado
que os astros e os elementos, criadores naturais delas”

Agrippa
De occulta philosophia livro II, cap. 56
Pierre-Louis Moreau de
Maupertuis

Système de la nature.
Paris, 1768.

Sistema da natureza:
ensaio sobre a
formação dos corpos
organizados. Scientiae
Studia, 7, 3, 2009, p.
478.
Há uma alma universal que dá unidade à máquina do universo. A ideia de
alma como a forma do corpo possui longa história filosófica; aqui ela aparece
para cumprir uma função essencial na construção do conhecimento científico.
Essa forma é vinculada tanto ao aspecto dinâmico (causalidade) quanto ao
cognitivo (capacidade de ser conhecido e explicado)

Aspecto cognitivo: o mecanismo universal não pode ser concebido sem uma
alma universal. Ela é um pressuposto da ideia de mecanismo universal.

A alma do mundo não é uma tese secundária, deduzida de uma metafísica


extrínseca à ideia de natureza, mas uma premissa dessa ideia. Não se trata
de um corpo mecânico que a imaginação confere uma alma vinda de fora,
mas o organismo vivo é a condição prévia do mecanismo.

Isso permite que o conceito de organismo universal apareça pela


primeira vez como o postulado de uma absoluta causalidade: toda ação
exercida sobre um ponto qualquer estende suas conseqüências à
totalidade dos fenômenos. É a ideia de lei natural imanente e autárquica
(Cassirer, p. 230).
Magia natural
Substituição da magia dos signos e dos
símbolos por uma forma de magia da
natureza que acredita poder traçar o
rumo para as coisas.

Esta sujeição das coisas não é mais


obtida pelo uso da palavra mágica, mas
através do domínio de suas
propriedades e capacidades internas
sujeitas a uma lei.

Sobreposição da magia, das técnicas e


das ciências: proliferação e unificação
dos saberes.

Clara ideia do valor do controle da


natureza por meio do domínio das leis
naturais – aspecto técnico na magia.
Giambattista della Porta (ca. 1535 - 1615)
A alma do mundo, a consciência e a força
A alma universal também serve de fundamento para a ideia de consciência
particular e não derivada de outros elementos – do mesmo modo que o vivo não
pode provir do não vivo; a consciência não pode provir do inconsciente, do material
não-anímico.

Alma, vida, movimento e força aparecem já unidos em premissas acerca da


estrutura da natureza. Cria-se agora uma relação entre consciência e força, que
frutificará no período moderno. Tal consciência dinâmica pode estar tanto no
homem como nas próprias unidades naturais que servem de fundamento para
tudo o que existe.

A força simples e qualitativamente una contém a multiplicidade na unidade; os


corpos naturais são realidades que se desenvolvem no espaço e no tempo a partir
dessa força. Ser e atividade são sinônimos. Nisso tudo encontramos as ideias de
Plotino.

A ação é algo análogo à consciência e, assim, toda existência é uma vida


consciente de si mesma. Numa formulação posterior, quanto mais "real" um
existente, mais ativo e auto-determinado ele é; ser racional, ser plenamente auto-
consciente, é um ponto já bem superior da existência.
Potência e finalidade: escolástica e renascimento

(1) Conceito escolástico de potência:

(a) Hipótese de uma capacidade geral para a transformação em outra


coisa que não leva em si mesma a tendência à sua realização.

(b) Um substrato indiferente, a matéria, que espera que toda


determinação venha de fora - este “fora”, bem entendido, é de uma
outra entidade, a forma.

(c) Trata-se de uma coisa híbrida, logicamente insustentável segundo


autores renascentistas (Telésio e Patrizzi)

(d) O dualismo que domina a teoria peripatética da natureza repousa


sobre uma confusão ontológica: a consideração empírica da natureza
não dá lugar a uma tal duplicação dos princípios.
(3) Nova crítica do conceito aristotélico de fim:

(a) Concepção de natureza de Aristóteles: as formas das coisas são


entendidas como fins imanentes.

(b) Mas o fundamento último e a meta final de todo acontecer é o motor imóvel
que, situado fora do mundo, sem afetar o ser e o devir do mundo, leva uma
existência própria e independente.

(c) A finalidade da evolução não reside na realização por si mesma da


essência interior das coisas, mas em um ser situado mais além: o conceito de
universo perde sua independência, sacrificada ao conceito de Deus.
(4) A filosofia natural renascentista considera tal concepção como uma
contradição interna que necessita de reforma

(a) Se as mudança ocorridas nos seres não chegam a seu termino neles
mesmos; se é uma meta exterior a eles que lhes marcam o caminho, então
os seres concretos perdem todo valor e toda independência.

(b) As formas como princípios individuais de crescimento e desenvolvimento


são convertidas em invenções ociosas.

(c) Toda eficácia das formas se dissolve na ação do Ser primigênito uno e
universal.

(d) Toda atividade interna das coisas naturais é aparente – elas são, na
realidade, passivas.

(e) Somente a pura imanência do fim pode conferir ao ser sua independência,
sua plenitude e sua variedade organizada – o diverso dentro da unidade, seja
no organismo individual, seja no universal.
(5) Finalidade interna e teoria do conhecimento

(a) Todo gênero é criado graças a si mesmo e leva em si o centro de sua


existência e de sua ação, mesmo que todos eles apareçam entrelaçados em
sucessão contínua e se refiram entre si.

(b) Na cadeia dos seres, cada espécie ou gênero reflete a lei do todo e,
mesmo na sucessão contínua da cadeia, existem de modo autônomo.

(c) A finalidade interna dos gêneros – garantia de "substancialidade" aos


universais – define uma posição em relação à teoria do conhecimento.

(d) O mundo existe substancialmente graças a uma ontologia-cosmologia;


tal existência reflete-se na teoria do conhecimento do mundo; a autonomia
ontológica dos gêneros e das espécies confere autonomia espitemológica
para o conhecimento dos mesmos.

(e) O conceito de finalidade interna, em contraposição ao de finalidade


externa, possui um racionalidade capaz de conduzir a uma forma científica
de conhecimento desenvolvida na ciência moderna.
Evolução emanativa, alquimia e filosofia
química
Filosofia química: nos séculos XVI e XVII uma nova filosofia natural aparece intimamente
relacionada com a química. Ela é utilizada como modelo para uma imagem de natureza
como um cosmo químico (Debus, A. The chemical philosophy: paracelsian science and
medicine in the sixteenth and seventeenth centuries, 1977. Capítulo 2 “The chemical
philosophy”).

A criação era uma espécie de revelação química da natureza. Temos aqui um exemplo de
autonomia natural da criação. O gênese bíblico é descrito à luz da nova química e a
criação é apresentada como um conjunto de processos alquímicos: extração, separação,
sublimação e conjunção.

A criação naturalizada produz uma natureza dotada de forças utilizáveis pelo homem;
nela revela-se o aspecto técnico desse retorno à natureza e da valorização da
observação-sensação-experiência. Lembremos que a autonomia moral do homem vinha
aliada ao domínio da natureza.

A criação concebida como processos alquímicos são identificados às transformações das


substâncias no laboratório. Elas estão associadas a transformações de natureza química
e alquímica que deram origem à terra, aos céus, às águas e, enfim, a todas as criaturas
da natureza.
Exemplo de concepção química da criação na Aurea catena homeri

J. H. Kirchweger, A Cadeia Dourada de Homero, 1723


(1ª edição) La nature dévoilée ou la théorie de
la nature. Paris: Editions Dervy,
1983
“Deus retirou a natureza do nada pela virtude de seu verbo que havia engendrado desde toda
eternidade. Ele quis e o verbo engendrou um vapor, uma névoa ou uma fumaça imensa e nela
imprimiu sua virtude, ou seja, um espírito pleno de força e de potência. Este vapor se
condensou em uma água que os filósofos denominaram universal e caótica ou simplesmente
caos; é desta água que o universo se formou. É ela que foi, como ainda é e sempre o será, a
matéria primeira de todas as coisas naturais [...] tudo o que existe era nas origens apenas um
vapor animado por seu espírito e este tornou-se palpável em forma de água” (p. 16)

“No princípio a água caótica universal era cristalina, clara, transparente, sem odor nem gosto
particular; ela também estava em perfeito repouso e todos os elementos nela estavam
confusos; mas logo, pela ação do espírito invisível que nela esta encerrado, ela colocou-se em
movimento, fermentou, se agitou, fez nascer de si mesma uma terra, putrefou-se e tornou-se
fétida. Assim que atingiu seu termo de putrefação, o espírito motor, obedecendo às ordens do
Criador, separou as partes sutis das grosseiras com ordem e por graus e cada uma se colocou
na posição que lhe convinha: as sutis acima e as grosseiras abaixo, segundo a ordem que
percebemos na natureza. As mais sutis compuseram o que chamamos o céu ou o fogo e as
subsequentes, por graus, o ar e a água, até as mais grosseiras que compuseram a terra” (p.
21).
Crítica à tradição e retorno à
experiência

A metafísica implícita na ideia de


organismo universal recebe pouco a
pouco um conteúdo empírico. Em
Paracelso há grande valorização da
experiência contra a cultura livresca e a
autoridade filosófica da escolástica.

A experiência sensível direta aparece


como a única proteção e o único ponto
de apoio contra a arbitrariedade da
tradição e da especulação.

Paracelsus
(Filipe Aurélio Teofrasto Bombastus
von Hohenheim) (1493- 1541)
Sobre a Geração das Coisas Naturais.

A geração de todas as coisas naturais é dupla: uma que ocorre


pela Natureza sem Arte, a outra que é produzida pela Arte,
quer dizer, pela Alquimia, embora, geralmente, possa-se dizer que todas as
coisas são geradas da terra com a ajuda da putrefação. A putrefação
é o grau mais alto e a primeira ação da geração. A putrefação
origina-se de um calor úmido. Um calor úmido constante produz putrefação e
transmuta todas as coisas naturais de sua primeira forma e essência, bem
como sua força e eficácia, em outra coisa. A putrefação nos intestinos
transmuta e reduz todos os alimentos em fezes, assim também, sem o ventre,
a putrefação em vidro transmuta todas as coisas de uma forma para outra, de
uma essência para outra, de uma cor para outra, de um odor para outro, de
uma virtude para outra, de uma força para outra, de um conjunto de
propriedades para outra e, em uma palavra, de uma qualidade para outra.
Isso é conhecido e comprovado pela experiência diária que muitas coisas
boas que são saudável e um remédio, tornam-se, depois de sua putrefação,
más, prejudiciais, venenosas e nocivas; por outro lado, muitas coisas ruins,
insalubres, venenosas e nocivas, tornam-se, depois de sua putrefação boas,
perdem seu efeito maléfico e produzem remédios notáveis (Paracelsus, 1824,
p.120. Hermetic and alchemicals writings)
Em Petrus Bonus de Ferrara, alquimista do período, lemos o seguinte:

"Se desejas saber que a pimenta é quente e o vinagre refrescante;


que a coloquíntida [Cucurbita pepo] e a losna [Artemisia absinthium]
são amargas, o mel doce e o acônito [Aconitum napellus] venenoso;
que o imã atrai o aço, o arsênico embranquece o latão e a atutía
[Óxido de zinco] o torna de uma cor alaranjada, em cada um desses
casos deverás verificar a asserção por meio de uma experiência. O
mesmo vale para a geometria, a astronomia, a música, a perspectiva e
outras ciências que têm uma finalidade e um campo de ação prática.
Uma regra similar se aplica com dupla razão na alquimia, a qual
pretende transmutar os metais comuns em ouro e prata [...] A verdade
e a justiça desta afirmação, como todas as proposições de natureza
prática, têm que ser demonstradas mediante um experimento prático e
não pode ser demonstrada satisfatoriamente de outra maneira"

The New Pearl of Great Price. A treatise concerning the treasure and
most precious stone of the philosopher. On the method and procedure
of this divine art etc. (Apud Debus, p. 46).
Os paracelsistas rejeitaram o método lógico-matemático das escolas e
voltaram-se para a química “com a convicção de que esta ciência poderia ser
a base para um novo entendimento da natureza” (Debus, 1977, p. 76). A
química passa a ser uma ciência com um campo universal. Para Paracelso a
alquimia e a química "podiam ser utilizadas como chaves para decifrar o
cosmo, seja mediante a experimentação direta, seja mediante a analogia"
(Debus, p. 55).
Medicina

Para a medicina, o concreto manifesta-se quando há uma "viragem" do


macrocosmo no microcosmo: o que é invisível e incompreensível para nós,
salta à vista e se torna tangível quando o enfocamos em suas relações com o
todo; o céu exterior nos ensina o caminho até o céu interior.

Mas, por outro lado, toda enfermidade é um processo unitário que deve ser
considerado e investigado em íntima e necessária relação com toda a
estrutura interior do ser individual. A medicina concebe o organism como um
equilibrio de substâncias internas.
Interações entre subjetivo e objetivo

Esta combinação de elementos naturais e subjetivos, do mundo exterior e do


eu, interpreta o voltar-se para a natureza como um jogo interno-externo que é
designado ainda confusamente como voltar à experiência.

Paracelso e os demais pensadores do período "invocam a realidade sensível


externa na qual aspiram penetrar e à qual querem se entregar plenamente,
mas todos reconhecem, ao mesmo tempo, na imagem com que aqui se
encontram, o reflexo de seu próprio 'espírito'. Postula-se e intui-se, com
obscuro pressentimento, a identidade do 'subjetivo' e do 'objetivo'. Mas como a
ciência não alcançou ainda o grau de maturidade necessário para poder apoiar
ou guiar este postulado, é a mística a única que, em última instância, pode
aplacar a sede de unidade do conhecimento" (Cassirer, p. 246).

O empirismo pode dar tanta importância às sensações que conduza a uma


entrega completa às mesmas na forma de uma fusão mística com o mundo –
que recebe matizes materialistas, mas não como uma espécie de materialismo
"consciente“.
Conclusão
Como vimos, a ligação entre o inteligível e o sensível conta com a noção de
força que confere um ingrediente especial para a construção de uma noção
de natureza que será incorporada à imagem científica do mundo: aquela na
qual forças autônomas atuam por si só – neste caso é a necessidade ligada à
gênese que garante esse elemento.

Até que ponto a ação desta força evolutiva ainda está em curso no mundo tal
como é visto fenomenicamente? Esta força ainda estaria atualizando novas
categorias de seres, novas para nós, mas preexistentes como ideias no
mundo inteligível?

Uma resposta cada vez mais afirmativa a esta última questão nos remete às
sucessivas aproximações de uma noção científica de evolução, na qual as
forças evolutivas são reguladas por leis integralmente naturais, sem qualquer
vínculo com uma instância mítica, religiosa ou metafísica das origens.

Mas a evolução no sentido cosmológico-ontológico, que cria a linha de


continuidade entre o inteligível e o sensível, também reflete-se no plano da
psicologia do conhecimento: há uma tentativa de fundamentar uma teoria do
conhecimento sobre a identidade entre o subjetivo e o objetivo.

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