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revista Ano XIII

Painel
nº 299
FEVEREIrO/2020

Associação de Engenharia, Arquitetura


e Agronomia de Ribeirão Preto AEAARP

Bambu
Mercado, oportunidade e tradição da
planta que, se bem usada, pode substituir
até mesmo o aço na construção civil

Engenharia
As torres que transportam e
distribuem energia

Arquitetura
Mapa Painel mostra as escolas
da Primeira República
Sustentabilidade está na moda. Nas engenharias e na
arquitetura, entretanto, é tema que sempre esteve
presente, da formação acadêmica até a construção
da carreira no mercado de trabalho. Reciclar, reusar e
reduzir são três dos cinco erres dos princípios básicos
da sustentabilidade que para nós são ações cotidianas
desde sempre. Por isso, nossa responsabilidade em
aprimorar a prática é ainda maior.
Os seminários Sustentabilidade na Indústria da Cons-
trução Civil inauguram a agenda técnica de 2020
amplificando as práticas já adotadas em muitos dos
grandes canteiros de obras da cidade.
Eng. Mec. Giulio Roberto
Na construção, reuso significa economia; economia
Azevedo Prado
significa redução de custos e o resultado dessa equa-
ção é bom para quem investe, para quem usa e para a
palavra do presidente

sociedade como um todo, não é mesmo?


Os dez encontros que acontecerão na AEAARP até
julho deste ano têm a missão de construir novas ba-
ses para a indústria civil na região metropolitana de
Ribeirão Preto.
Nós também criamos soluções e buscamos formas de
atuar de forma responsável, fazendo muito mais com
muito menos.
As engenharias criam novos métodos, novas tecno-
logias, materiais, combustíveis, transporte e métodos
construtivos. É onde os seminários na AEAARP farão
a diferença nas carreiras dos profissionais da cidade.

AEAARP
revista
Painel
Rua João Penteado, 2237 - Ribeirão Preto-SP
Tel.: (16) 2102.1700 Fax: (16) 2102.1717
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Eng. Mec. Giulio Roberto Azevedo Prado


Presidente
Eng. Civil Fernando Paoliello Junqueira
Vice-presidente
índice
Diretoria Operacional
AEAARP Diretor administrativo - eng. civil Luiz Umberto Menegucci
Diretor financeiro - eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho
Diretor financeiro adjunto - eng. agr. Benedito Gléria Filho
Diretor de promoção e ética - arq. urb. Ercília Pamplona
Fernandes Santos
Diretora de ouvidoria - eng. civil Edineia Roberto de Araujo

Diretoria Funcional
05 22 Diretor de esporte e lazer - eng. civil Milton Vieira de Souza Leite
Diretor de comunicação e cultura - arq. e urb. Marco Paulo
Gonçalves de Castro
Especial Financiamento Diretor social - eng. civil Rodrigo Fernandes Araújo
Diretora universitária - eng. agr. Marta Maria Rossi
Uma planta multifuncional Parceria do CREA-SP e Desenvolve
SP oferece crédito para empresas Diretoria Técnica

Construção 08 vinculadas ao Conselho


Agronomia - eng. agr. Alexandre Garcia Tazinaffo
Arquitetura - arq. urb. Silvia Aparecida Camargo
Bambu: alternativa construtiva Engenharia - eng. civil Paulo Henrique Sinelli

Conselheiros Titulares
Arquitetura 11 Eng. Civil Carlos Eduardo Nascimento Alencastre - Presidente

Feito com bambu 25 Arq. Carlos Alberto Palladini Filho


Arq. e Eng. Seg. do Trab. Fabiana Freire Grellet
Arq. e Urb. Adriana Bighetti Cristofani

Legislação 12 CREA-SP Eng. Agr. Dilson Rodrigues Cáceres


Eng. Agr. Geraldo Geraldi Jr
Brasil não tem norma técnica Resolução n° 1.048, de 14 de agosto Eng. Agr. Gilberto Marques Soares
Eng. Civil Edgard Cury
para uso do bambu de 2013 - 1ª parte Eng. Civil Elpidio Faria Junior
Eng. Civil e Seg. do Trab. Luis Antonio Bagatin
Eng. Civil João Paulo de Souza Campos Figueiredo
Eng. Civil José Aníbal Laguna
Eng. Civil Ricardo Aparecido Debiagi
14 26 Eng. Civil Roberto Maestrello
Eng. Elet. Hideo Kumasaka

Mapa Painel Notas Conselheiros suplentes


Eng. Agr. Denizart Bolonhezi
Monumentos educacionais Eng. Agr. Jorge Luiz Pereira Rosa
Eng. Agr. José Roberto Scarpellini
Eng. Civil Marcos Tavares Canini
Eng. Civil Wilson Luiz Laguna
Eng. Mec. Fernando Antonio Cauchick Carlucci

18 REVISTA PAINEL
Conselho Editorial: eng. civil Arlindo Antonio Sicchieri Filho,
Arq. e urb. Adriana Bighetti Cristofani, Eng. Agr. José Roberto
Engenharia Scarpellini, Arq. e Urb. Marco Paulo Gonçalves de Castro -
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Torres de energia
Conselheiros titulares do CREA-SP indicados pela AEAARP:
Eng. mec. Fernando Cauchick Carlucci, suplente eng. químico
Sílvio Augusto Gaspar Malvestio; eng. mec. Giulio Roberto
Azevedo Prado, suplente eng. civil Marcelo Fernandes

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mesmos também não expressam, necessariamente, a opinião da revista.
AEAARP

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Especial

Uma planta
multifuncional
Reconhecido pelo potencial econômico, o bambu pode ser utilizado
nas indústrias de alimentos, cosméticos e construção civil

Há dois lugares no mundo onde não existem


bambus nativos: na Europa e na Antártida. Em
todos os outros continentes somam-se 1.300
espécies, a maioria nos países asiáticos - China, Ja-
pão, Tailândia, Indonésia, Malásia, Myamar – onde
também o uso desse material é milenar.

Índia, Bangladesh, países das Américas


Central e do Sul, África e Austrália têm
espécies nativas de bambu.

O bambu pode substituir ou complementar


outras matérias primas, como fibra, carvão vegetal
e madeira, e é matéria-prima para revestimentos
e estruturas na construção civil e para movelaria
e artesanato.
Do ponto de vista ambiental, a planta promove
enriquecimento químico e físico do solo e pode
ser usada para recuperação de áreas degradadas.
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Revista Painel

O destino industrial da planta é a in- O engenheiro agrícola Antonio Lu-


dústria de papel e celulose, bebidas e dovico Beraldo, professor titular apo-
cosméticos. Existem pesquisas sobre a sentado da Faculdade de Engenharia
aplicação na área de nanotecnologia – Agrícola da Unicamp, conta que o
uma delas seria a obtenção de nanopar- bambu chegou ao país com os colo-
tículas de carvão ativado, usadas para nizadores portugueses, trazidos de
Vantagens a fabricação de filtros de alta eficiência. suas possessões na Ásia (Goa e Can-
O bambu ainda pode ser utilizado tão). Segundo ele, as primeiras espé-
O bambu se adapta às mais diversas como fonte de alimentação, por meio cies pertenciam aos gêneros Bambusa
condições ambientais, não exige de brotos e farinhas, conforme pes- e Dendrocalamus, posteriormente, es-
grandes cuidados com a manutenção quisa desenvolvida pela Faculdade de pécies de bambus do gênero Phyllos-
e é de fácil manejo, além de ter Engenharia de Alimentos da Unicamp. tachys foram trazidas pelos imigran-
custo reduzido de implantação,
tes japoneses.
característica que atrai investidores.
“No entanto, o Brasil apresenta
Quando adequadamente manejado, uma grande quantidade de espécies
tem elevada produção de biomassa
de bambus nativos, que ocorrem em
em curto período de tempo, em
ambiente de mata, sendo ainda prati-
comparação a outras espécies
camente desconhecidos pela popula-
usadas na silvicultura, como o pinus
e eucalipto, por exemplo. ção”, afirma Antonio, que é co-autor
dos livros “Bambu de Corpo e Alma” e
Não possui a necessidade de
“Bambu: Características e Aplicações
replantio após as colheitas, já que
novos colmos são produzidos em Engenharia e na Arquitetura”.
anualmente, por um período que É no Estado do Acre que está a maior
varia de acordo com a espécie. Outra reserva natural em espécies nativas de
vantagem é a boa qualidade de bambu no mundo, com 4,5 milhões de
Antonio Beraldo

suas fibras, que podem ser usadas hectares, o que corresponde a 20,4%
na indústria de papel e celulose, do total dos 22 milhões de hectares
na formulação de produtos que Farinha de colmo jovem de bambu plantados em todo o planeta, segundo
exigem maior resistência ao rasgo e dados da Empresa Brasileira de Pes-
capacidade de carga, como os sacos Cenário do Bambu quisa Agropecuária (Embrapa).
para cimento. No Brasil, o bambu é encontrado A floresta é constituída principal-
O bambu cresce rápido e por isso em maior concentração na Amazônia. mente pela espécie gigante Guadua aff
mesmo sequestra mais gás carbônico Existem cerca de 260 espécies no país, chaparensis e em menor escala, pelo
do ar do que outras plantas. “Há distribuídas em 35 gêneros. Entre as Guadua sarcocarpa. “Eu costumo dizer
registros de taxas de crescimento da principais espécies estão a Bambusa que, se a colonização do Brasil tivesse
ordem de 10 cm/dia a 100 cm/dia
vulgaris, Bambusa vulgaris variedade vit- começado pelo Acre, certamente, hoje,
em condições ambientais favoráveis.
tata, Bambusa tuldoides, Dendrocalamus seríamos, juntamente com a China, a
Em seis meses de crescimento, um
asper, Guadua angustifolia, Phyllostachys Índia e o Japão, uma dessas potências
colmo de um bambu gigante pode
atingir a altura de 20m a 25m”, aurea (cana-da-índia ou vara-de-pescar) do bambu industrializado”, afirma o en-
destaca Luiz Barbieri. e Phyllostachys pubescens (“Mossô”). genheiro agrônomo José Luiz Barbieri.
Muitos bambus são conhecidos
por seus efeitos biológicos –
são antioxidantes, antirradicais
livres, antienvelhecimento,
antibacterianos – e também
podem ser usados na prevenção de
Acervo da Embrapa Acre

doenças cardiovasculares, segundo


Maria Tereza Grombone Guaratini,
pesquisadora do Instituto de
Botânica de São Paulo.
Ocorrência de bambu nativo no Acre
AEAARP

Acervo da Embrapa Acre


Depósito de bambu no Acre

A floresta vem sendo estudada por Phyllostachys makinoi, Bambusa bam-


várias instituições de pesquisa. A Em- bos e Dendrocalamus sikkimensis.
brapa Acre desenvolveu, entre 2009 a De acordo com Antonio Beraldo, o
2016, pesquisas com bambu nativo do bambu é plantado principalmente por
gênero Guadua. pequenos produtores. Desvantagens
“Os resultados estão sendo utilizados
para a conservação dos recursos gené- Economia Diversas espécies de bambus
ticos e para o manejo sustentável das Comercialmente, o bambu chama a lenhosos raramente produzem
populações nativas de bambu”, detalha atenção há pouco tempo. Em 2011, sementes e, quando isso ocorre, as
sementes são de baixa viabilidade
o engenheiro agrônomo Elias Melo de foi aprovada a Lei do Bambu (Lei nº
germinativa, tornando a obtenção
Miranda, pesquisador da Embrapa Acre. 12.484/2011), que instituiu a Políti-
de mudas para plantações em larga
ca Nacional de Incentivo ao Manejo
escala um fator limitante.
Em São Paulo Sustentado e ao Cultivo do Bambu
Para a produção de mudas
No Estado de São Paulo, o Instituto (PNMCB), com o objetivo de incenti-
para plantações comerciais é
Agronômico de Campinas (IAC) man- var o manejo sustentável e o cultivo
recomendado o uso da propagação
tém, na Unidade de Pesquisa e Desen- das espécies nativas e entre os agricul- in vitro ou micropropagação. “A
volvimento (UPD) de Tatuí, o Banco tores familiares. produção de mudas em pequena
Ativo de Germoplasma de Bambu. São Em 2017, o país foi incorporado escala é um processo lento e pode
70 espécies, distribuídas em uma área como o 43º país membro da Rede In- ser feito por propagação vegetativa
de aproximadamente dois hectares. É ternacional de Bambu e Rattan (IN- convencional, ou seja, por meio
considerada a maior coleção existente BAR), entidade intergovernamental que do enraizamento de segmentos
na América Latina. reúne os países protagonistas no mer- de colmos com nós ou de ramos
O engenheiro agrônomo Marcelo Ti- cado mundial do bambu e movimentam secundários. Após o processo de
celli, pesquisador científico e chefe da cerca de 60 bilhões de dólares ao ano. enraizamento é possível multiplicar
as mudas pelo desmembramento
UPD Tatuí, conta que a implantação Segundo Elias, pesquisador da Em-
dos perfilhos que são emitidos de
teve início por volta do ano de 1956 até brapa Acre, a criação da Rede Brasi-
cada muda original”, explica Elias.
1963 e as espécies introduzidas foram leira do Bambu (RBB), de perfil acadê-
O engenheiro agrônomo alerta
trazidas dos Estados Unidos, Peru, Por- mico, e da Associação Brasileira dos
que é necessário ter cuidado com
to Rico, El Salvador, Portugal, Trinidad. Produtores de Bambu (Aprobambu),
espécies de hábito de crescimento
Em 2014, novas espécies trazidas que busca incentivar as pesquisas e o
do tipo alastrante por serem plantas
da China foram inseridas na coleção, empreendedorismo, possibilitou a di- muito agressivas na ocupação
formada por gêneros de bambus exóti- vulgação e promoção do bambu como espacial do terreno, podendo se
cos, como o Dendrocalamus, Phyllosta- alternativa econômica. transformar em invasoras. “A cana-
chys, Bambusa, Guadua, Thyrsostachys, “Trata-se de um recurso rapidamen- da-índia ou bambu mirim (P. aurea),
Gigantochloa, Pseudosasa, Ochlandra e te renovável que pode ser fonte contí- por exemplo, deve ser manejada
também diversas espécies raras, como nua de matéria-prima para diferentes para evitar que se alastre para locais
a Ochlandra travancorica, Thirsosta- mercados e uma opção de negócio indesejados, pois a dificuldade e o
chys siamenses, Thirsostachys olliveri, sustentável”, fala o pesquisador. custo para a erradicação podem ser
elevados”.
A vulnerabilidade ao ataque de
insetos xilófagos e fungos, devido
ao seu elevado teor de amido,
também é uma desvantagem.
“Entretanto, o tratamento
químico dos colmos por imersão
praticamente elimina este
Marcelo Ticelli

problema”, ressalta o agrônomo


José Luiz.

Banco Ativo de Germoplasma de Bambu Tatuí


Revista Painel

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Construção

Escola de bambu
inspira investimento
Agrônomo ribeirão-pretano
frequentou escola feita com bambus
em 1950 e decidiu investir na planta

O engenheiro agrônomo José Luiz


Barbieri é um admirador de bambu.
Nos anos de 1980, ao adquirir algu-
mas terras em Uberaba (MG), iniciou
o plantio com a espécie Dendrocala-

Bambu Carbono Zero


mus asper.
Foi a memória afeita da infância no
“Jardim da Infância Machado de As-
sis”, que ele frequentou nos anos de
Revestimento com varas de bambu
1950, que incentivou o investimen-

Bambu: alternativa
to. A escola, que funcionava dentro
do Parque Municipal do Morro de
São Bento, em Ribeirão Preto, era

construtiva
totalmente construída com bambus
gigantes, da espécie Dendrocalamus
asper, inclusive o telhado.

Planta é utilizada em sistemas construtivos e pode


substituir o aço no reforço de estruturas de concreto

O uso do bambu na construção civil grandes edificações, como pavilhões de


movimenta US$ 30 bilhões na China, exposições, hotéis e edifícios verticais.
que responde por metade do mercado O mercado, segundo o engenhei-
Valdomiro 1950

mundial, segundo informações do estu- ro civil Vitor Marçal, tem sido atraído
do “Economia do Bambu no Brasil: Tec- pela versatilidade dessa matéria-prima
nologia e Inovação na Cadeia Produtiva – leve, resistente e de fácil manuseio
Jardim da Infância Machado de Assis, em Ribeirão Preto – Perspectivas e Desafios” realizado pelo – e pela boa imagem pública que es-
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos sas construções proporcionam. Vitor
Hoje, José Luiz possui um banco de
(CGEE), vinculado ao Ministério da Ciên- é secretário executivo da Associação
germoplasma de bambu, com 11 das
20 espécies mais importantes do cia, Tecnologia e Inovação (MCTI). Brasileira de Produtores de Bambu
mundo, voltado, principalmente, para Fora da China, em países da América (Aprobambu) e acrescenta que, além
a construção, arquitetura, decoração, Latina – Colômbia, Costa Rica e Equa- dessas características, a planta tam-
movelaria e artesanato. dor, por exemplo – existem projetos bém é suficientemente resistente para
bem-sucedidos de habitações popula- manter as características de estrutu-
res com fins de interesse social e até de ras no decorrer do tempo de uso.
Bambu Carbono Zero
José Luiz Barbieri

Vitor Marçal

Estrutura na Colômbia
AEAARP

Pioneirismo

O engenheiro agrônomo Danilo Candia foi um dos primeiros a comercializar o bambu para uso na
construção civil no Brasil. Na década de 1990, começou a pesquisar sobre a planta e testar aplicações.
Conheceu o arquiteto colombiano Simon Velez, um dos maiores nomes da construção com bambu no
mundo, e participou da construção de algumas obras dele no Brasil.
Em 2006, Danilo e a paisagista Renata Tilli se juntaram para fundar uma empresa especializada na
produção de revestimentos e estruturas de bambu.
Desde então, já entregaram 1.500 obras, entre construção de casas, pergolados e estruturas
produzidas somente com bambu, ou integradas com outros materiais, além de execução de forro
para teto, revestimentos aplicados na parede, fachadas, brises, pórticos, portas e janelas.
“O bambu, sem dúvida alguma, é e será cada vez mais uma das grandes soluções no combate a
mitigação das emergências climáticas e com certeza é um grande aliado em nossas necessidades de
ampliar espaços urbanos para o crescimento populacional tão necessário à nossa espécie”.

Bambu Carbono Zero


“É um elemento construtivo que dos para serem utilizados no desen- gado em diversos setores da constru-
pode agregar bastante ao setor da volvimento de produtos normalmente ção civil, desde formas, revestimentos,
construção civil. A beleza estética e produzidos com madeira nativa ou de pisos, coberturas (telhas) e elementos
o grande apelo ecológico são carac- reflorestamento”, destaca. estruturais”, afirma Vitor.
terísticas interessantes para seu uso,
diminuindo consideravelmente o custo Aplicação
energético para produção desse ma- O bambu pode ser aproveitado nos
terial, seu beneficiamento, aproveita- mais diversos segmentos da constru-
mento e acabamento final”, destaca o ção civil, como escoras, proteção de
engenheiro. obra, formas, elementos estruturais

Bambu Carbono Zero


De acordo com a Maria Tereza (colunas, vigas, caibros) e laminados de
Grombone Guaratini, pesquisadora bambu, que podem ser utilizados tan-
do Instituto de Botânica de São Paulo, to como elementos estruturais (pisos,
Esquadria de metal deslizante revestida com varas de
bambus são considerados um dos mais revestimentos e painéis estruturais) ou bambu embaralhado
importantes e valiosos recursos flores- de vedação.
tais não madeireiros. “Os bambus le- Pode ser cortado em ripas, dando O bambu substitui também grandes
nhosos possuem propriedades físicas mais flexibilidade ao material e permi- tubulações que tradicionalmente são
e mecânicas que os tornam adequa- tindo seu uso em sistemas construti- produzidas com substâncias cimentícias,
vos arqueados e estruturas em casca. metal ou plásticos, sendo cerca de 50%
As mesmas ripas podem ser industria- mais leves e 30% mais baratas, propor-
lizadas, sendo planificadas nas quatro cionando redução de custos, logística e
faces e coladas umas as outras em di- montagem, permitindo menor consumo,
ferentes posições, produzindo assim menor tempo de montagem, equipa-
mentos mais leves e menos mão de obra.
Bambu Carbono Zero

“madeira” laminada colada de bambu,


que possui resistência e durabilidade Já os colmos, desde que colhidos no
tão grande quanto madeiras de lei. “O tempo ideal, tratados e secos, podem
laminado de bambu pode ser empre- ser utilizados como escoras, formas,
Réguas aparelhadas para brises
Revista Painel

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proteção de obra, e principalmente Vitor, a falta de conhecimento sobre o “Quando diferentes sistemas construti-
como colunas, vigas e outros elemen- material faz com que um número maior vos são usados em um mesmo projeto é
tos estruturais em diversos sistemas de pessoas utilize o bambu de forma importante que esse profissional tenha
construtivos utilizados atualmente. incorreta, sem tratamentos adequados conhecimento de ambos e principal-
Diversas espécies de bambu apre- e com técnicas ineficientes, fazendo mente entenda como utilizá-los em con-
sentam características indicadas para com que algumas estruturas não te- junto de forma eficiente e resistente”.
serem utilizadas na construção civil. nham todo o potencial de utilização Obras executadas somente com bam-
Gêneros de bambu como Phyllostachys, desse material e terminem por dimi- bu estrutural também demandam co-
Bambusa, Dendrocalamus e Guadua são nuir sua importância e até negativar nhecimento sobre uniões e conexões
os mais utilizados na construção civil a opinião dos consumidores por este entre peças de bambu. “O uso de colmos
brasileira. “Esses bambus apresentam tipo de produto. de bambu, juntamente com elementos
diferentes diâmetros que podem variar “É necessário que o bambu seja uti- de concreto armado, madeira e perfis
de um centímetro, no gênero Phyllos- lizado da forma correta, favorecendo metálicos demandam um entendimento
tachys, até 25 centímetros no gênero assim o desenvolvimento de sistemas global e local dos esforços atuantes para
Dendrocalamus”, informa Vitor. construtivos eficientes e resistentes, o projeto e execução dos sistemas co-
Dependendo das características de mostrando todo o potencial de aprovei- nectivos e interação entre os diferentes
cada um podem ser utilizados em fun- tamento estrutural do bambu”, salienta. elementos estruturais”, informa.
ções estruturais. Bambus mais finos, A maioria dos sistemas construtivos Os tipos de vedação e instalações
por exemplo, são ideais para vedações permite a utilização do bambu. Podem também precisam de atenção por par-
e acabamentos. À medida que os diâ- ser desenvolvidas estruturas feitas te do projetista e construtor. Alguns
metros aumentam podem ser aprovei- totalmente em bambu ou nas quais o sistemas estruturais dificultam o uso
tados como caibros e peças diagonais bambu é utilizado junto com o concre- de vedações convencionais, como ti-
de travamento superior. Bambus com to armado, perfis metálicos, madeira, jolo cerâmico, sendo necessário maior
maior diâmetro ou feixes de bambus dentre outros. entendimento de como essas veda-
de menor diâmetro servem como vi- Vitor ressalta que o projeto deve ser ções e instalações serão desenvolvidas
gas e colunas. realizado por profissional capacitado. no decorrer da obra.

Bambu x aço

O fato de ser oco colabora na utilização do


bambu em substituição a outros materiais.
Bambu Carbono Zero

O bambu pode substituir o aço no reforço de estruturas de concreto em


determinados projetos, principalmente onde não há necessidade de curvas
e estruturas muito longas – como grandes lajes planas, por exemplo.
Réguas aparelhadas para forros O engenheiro Vitor Marçal, secretário executivo da Associação
Brasileira de Produtores de Bambu (Aprobambu), explica que a
resistência do bambu se dá, principalmente, porque muitos são
“Independente do tipo de bambu a
ocos, o que faz com que o peso do próprio elemento estrutural seja
ser utilizado é imprescindível que es-
pequeno. “Diversas pesquisas mostram resultados com altos valores
tejam tratados e secos, possibilitando
para resistência à compressão, chegando a mais de 90 Mpa. Para
o desenvolvimento de estruturas que entender melhor esse valor basta ter em mente que a resistência
trabalhem menos após a execução da mínima do concreto utilizado em construções atualmente é de 25
obra e garantindo a vida útil adequada Mpa”, detalha.
contra agentes patológicos, como fun- Mas, em alguns casos, a substituição não é viável em razão de limitações
gos e insetos”, alerta o engenheiro. tecnológicas, da legislação ou mesmo da escala produtiva, ressalta Daniel
Capobianchi, diretor de Marketing e Novos Negócios da Bambu Carbono
Sistemas construtivos Zero, empresa especializada em produtos derivados de bambu.
Ainda de acordo com o engenheiro
AEAARP

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Arquitetura

Wikipedia
Igreja Nuestra Señora de La Pobreza, em Pereira, Colômbia

Feito com bambu


O bambu é protagonista de obras de
arte da arquitetura sul-americana

O colombiano Simón Vélez tornou-se um dos arquitetos Igreja Nuestra Señora de La Pobreza, em Pereira, Colômbia,
mais importantes do mundo pelo uso inovador do bambu na o Museu Nômade Zócalo, na Cidade do México, e ZERI Pavi-
construção. Simón desenvolveu novos métodos e sistemas lhão para a Expo 2000, em Hannover, na Alemanha.
de apoio estrutural, transformando o material em um recur- Vélez também projetou o Crosswaters Ecolodge, um des-
so moderno e flexível, que pode ser usado em todos os tipos tino de ecoturismo nas florestas da Reserva de Montanha
de edifícios. Nankun Shan, na província de Guangdong, na China, consi-
Com projetos espalhados por 11 países, dentre eles, a derado o maior projeto comercial para o uso de bambu.
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Wikimedia

Casas projetadas por Simón Véliez


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Legislação

Pixabay
Brasil não tem norma técnica
para uso do bambu
Segundo a ABNT, proposta está em fase de
elaboração e será aberta à consulta pública

Normas internacionais para o uso Atualmente, a Comissão de Es- dos ensaios poderão ser usados para
estrutural do bambu existem desde tudo de Estruturas de Bambu (CE- fins de controle de qualidade das cons-
1973 e vêm sendo melhoradas e ade- 002:126.012) atua junto à Associação truções de bambu.
quadas à realidade de cada país. As Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), O documento foi redigido por pro-
normas internacionais ISO 22156 e no âmbito do Comitê Brasileiro da fissionais, pesquisadores e bambuzei-
ISO 22157 norteiam várias outras de Construção Civil (ABNT/ CB-002), ros de vários estados brasileiros, nos
países de todo o mundo, principalmen- para definir parâmetros de aproveita- últimos dois anos, em reuniões bimes-
te sul-americanos, como Colômbia, mento estrutural do bambu no país. trais em diferentes estados brasileiros.
Peru e Equador. Duas normas técnicas estão em de- Segundo a assessoria de imprensa da
No Brasil, o bambu ainda não é re- senvolvimento na ABNT: a Norma Bra- ABNT, os documentos estão em fase
gulamentado, porém já é amplamente sileira 16828-1 (Estruturas de Bambu de editoração e ainda não foram sub-
utilizado, tanto em estruturas rurais - Parte 1: Projeto) e a NBR 16828-2 metidos à Consulta Nacional.
quanto em projetos de maior comple- (Estruturas de Bambu – Parte 2: De- “Torcemos para que em breve essa
xidade estrutural. “Como as normas terminação das propriedades físicas e norma já esteja disponível para apro-
nacionais ainda não estão vigentes os mecânicas). veitamento nacional orientando e de-
responsáveis técnicos precisam se em- A primeira define os requisitos bási- finindo conceitos básicos de qualidade
basar em normas internacionais e ex- cos exigidos para projeto de estruturas do bambu, cálculo estrutural, projeto,
periência prática sobre o material”, ex- feitas com colmos de bambu e a se- execução e manutenção de estruturas
plica Vitor Marçal, secretário executivo gunda estabelece métodos de ensaio desenvolvidas com bambu no Brasil”,
da Associação Brasileira de Produtores para avaliar as propriedades físicas e salienta Vitor, que é também secretário
de Bambu (Aprobambu) mecânicas do bambu. Os resultados da Comissão de Estruturas de Bambu.
AEAARP

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Revista Painel
Revista Painel

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Mapa Painel

MAPA PAINEL

Fernando Braga
Escola Dona Sinhá Junqueira

Monumentos
educacionais Ribeirão Preto na rota das escolas da Primeira
República, que ergueu 126 edifícios escolares no
estado de São Paulo no período

Monumental: essa é a principal característica dos prédios escolares antigos de


Ribeirão Preto. As escolas estaduais Dr. Guimarães Jr, Dona Sinhá Junqueira, Oto-
niel Mota e Fábio Barreto foram construídas no período republicano, entre 1890 e
1930, e integram o conjunto conhecido como “escolas da Primeira República”. Ao
longo dos anos, tornaram-se marcos na paisagem da cidade e pontos de referência
para a comunidade.
A riqueza dos materiais e os detalhes dos edifícios representam a importância
dada à escola nos primeiros anos da República (1889-1930), período em que houve
grande investimento na educação e na arquitetura escolar. Suas características
arquitetônicas foram reconhecidas como patrimônio histórico pelo Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
Segundo o arquiteto Carlos Stechhahn, professor na Universidade de Ribeirão
Preto (Unaerp), os prédios da época, que em sua maioria eram construídos por
determinação e encargo do Estado, obedeciam na sua concepção plantas pouco
elaboradas, mas com fachadas suntuosas, que atendiam aos estilos vigentes.
“O clássico, neoclássico, eclético, barroco, rococó impunham o padrão de
modernidade a ser seguido. A ideia de que o edifício destinado ao ensino devia
ser um marco referência para refletir a qualidade de ensino pretendida ditava os
componentes da concepção a ser seguida”, ressalta.
Na tese “Patrimônio Escolar: para além da arquitetura, a materialidade do patrimô-
nio histórico nas escolas paulistas”, a arquiteta Fabiana Valeck de Oliveira explica que
AEAARP

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foi adotado um projeto padronizado para a construção das Ainda no centro da cidade há um outro edifício imponente
escolas da época, com técnica construtiva simples e alvenaria e que também marcou a história de Ribeirão Preto. Localizado
de tijolos, justificado pela necessidade de erguer rapidamente na Rua Prudente de Morais, 764, o prédio é sede do primeiro
um grande número de edifícios para atender crianças que se ginásio do interior paulista, o Ginásio do Estado.
encontravam fora do ambiente escolar. Criado por decreto legislativo de 27 de dezembro de 1906,
As salas de aula foram distribuídas ao longo de eixos de foi inaugurado em 1 de abril de 1907, com a presença do
circulação, em plantas simétricas. Em geral, apenas a fachada governador do Estado da época, Jorge Tibiriçá. Em 1951,
e a ornamentação diferenciavam os projetos entre si, além teve o nome alterado para Otoniel Mota, em homenagem
dos altos porões construídos para a adequação dos edifícios ao primeiro professor da instituição.
aos diferentes perfis de terreno. O projeto arquitetônico acompanhou o padrão dos
Um grupo de arquitetos, formado por Ramos de Azevedo, grandes grupos escolares, mas acrescentou espaços para
José Van Humbeeck, Carlos Rosencrantz, Mauro Álvaro de biblioteca e laboratório. A primeira turma contou com 77
Souza Camargo, Achiles Nacarato, Cesar Marchisio, Manuel alunos, todos homens. Somente a partir de 1914 foram
Sabater e Victor Dudugras, estava à frente dos projetos ar- aceitas as primeiras alunas.
quitetônicos no estado de São Paulo.
Em Ribeirão Preto, José Van Humbeeck, Carlos Rosen-
crantz, Mauro Álvaro de Souza Camargo e Manuel Sabater
foram os responsáveis, respectivamente, pelos projetos das
escolas E.E Guimarães Júnior, E.E. Otoniel Mota, E.E. Sinhá
Junqueira e E.E. Fábio Barreto.
A escola Guimarães Júnior é a mais antiga de Ribeirão

Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto


Preto. Inaugurada em 1895, foi o primeiro grupo escolar da
cidade. Funcionou inicialmente em dois prédios, um na Rua
Duque de Caxias e outro na Rua do Comércio, no Centro, e
posteriormente em um sobrado na Rua Lafaiete, 15.
No ano de 1902, a escola foi transferida para o edifício proje-
tado por José Van Humbeeck. O prédio contava com dez salas
de aula, divididas em alas masculina e feminina, porão e galpão.
Escola Otoniel Mota em 1920
Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto

Wikipedia

Escola Guimarães Júnior Escola Otoniel Mota hoje


Revista Painel

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Na região central outro edifício educacional chama a aten- com fachada convencional e janelas compridas em arco. O
ção pela fachada volumosa e cantos arredondados. A escola ambiente interno era dividido em oito salas de aula, três para
Fábio Barreto, que inicialmente recebeu o nome de 2º Grupo os alunos do 1° ano masculino, três para as alunas do 1° ano
Escolar, foi construída em 1911, na Rua Amador Bueno, 220. feminino, uma sala para o 2° ano masculino e outra para o 2°
ano feminino. A arborização era um diferencial da escola, que
recebeu na década de 1940 o plantio de estacas de amoreiras
na ala do fundo da escola.

Acervo do Jornal da Vila Tibério

Acervo do Jornal da Vila Tibério


Escola Dona Sinhá Junqueira

Bairro tradicional abriga escola Sinhá Junqueira


O bairro Vila Tibério foi escolhido para a construção da
Escola Dona Sinhá Junqueira hoje
escola Dona Sinhá Junqueira. Inaugurada em 16 de outubro
de 1921, na Rua Conselheiro Dantas, 358, com o nome de Com o passar dos anos e o aumento no número de alunos,
3º Grupo Escolar, recebeu em 1954 o nome Dona Sinhá o espaço físico foi ampliado. Em 1956 foram construídas
Junqueira, em homenagem à Theolina de Andrade Junqueira, duas salas de aulas e em 1958 houve a substituição das ins-
que realizou diversas ações sociais e filantrópicas na cidade. talações elétricas e sanitárias e a construção de novas salas,
No projeto original, de autoriza do arquiteto Mauro Álvaro na ala do fundo. No ano de 1960 a escola foi considerada o
de Souza Camargo, a escola possuía um prédio retangular maior da região.

O estado de São Paulo foi


pioneiro na construção dos espaços
destinados especificamente ao uso
escolar, com locais adequados, divididos
por classes e ambientes demarcados.
As primeiras construções possuíam projetos-
tipo (plantas padronizadas), com alas distintas
e com entradas independentes para meninos e
meninas. As salas eram distribuídas em corredores,
em ambientes preferencialmente retangulares.
Para serem erguidas de modo mais rápido,
em maior quantidade e com custo reduzido,
arquitetos foram contratados para
desenharem fachadas para que as
Wikipedia

edificações fossem distinguidas umas


das outras.
Casa Caetano de Campos - primeiro prédio escolar do período republicano no estado de
São Paulo construído em 1894, na Praça da República, no centro de São Paulo.
AEAARP

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Revista Painel
Revista Painel

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Engenharia

Daniela Antunes
Linhas de transmissão

Torres de
energia
Torres metálicas que sustentam cabos da energia elétri-
ca produzida nas usinas, que normalmente ficam em locais
afastados dos grandes centros urbanos e das principais
capitais do país, atravessam o país, vencendo obstáculos
geográficos, para fazer a energia chegar até o seu destino.
Autoportante e estaiada são os modelos mais As estruturas integram o sistema elétrico, composto pela
utilizados nos 145 mil quilômetros de linhas de produção, transmissão e distribuição. A energia é trans-
transmissão que percorrem o Brasil portada em alta tensão, superior a 100 quilovolts (kV),
que, ao se aproximar dos centros de consumo, é reduzida
em subestações.
AEAARP

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Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)

Mapa do sistema de transmissão no Brasil

O Brasil tem 145 mil quilômetros de cerda na área de estruturas, o perfil do cabos em qualquer condição de vento
linhas de transmissão administradas por elemento em aço geralmente é do tipo e temperatura.
133 concessionárias, segundo o Opera- cantoneira (peça em forma de L) e a li-
dor Nacional do Sistema Elétrico (NOS). gação entre os elementos metálicos que Estaiada x autoportante
As torres são concebidas a partir de compõem a torre pode ser feita com Os modelos mais comuns são a es-
projetos de engenharia e construídas solda ou parafuso, sendo o último mais taiada e a autoportante. Segundo o
de maneira modular (em partes), utili- comum. “A manutenção periódica da engenheiro elétrico Halley Jose Braga
zando predominantemente aço. A es- pintura e dos parafusos garante que a da Silva, coordenador de Viabilidade de
colha do material deve-se à facilidade estrutura dure por mais de 50 anos”, diz. Obras de Linha de Transmissão e Subes-
de transporte e agilidade de montagem A altura assegura que os cabos fi- tação da CPFL Energia, o que as carac-
da estrutura. Normalmente sustentam quem distantes do solo e evita o con- teriza são a classe de tensão da linha de
três conjuntos de cabos de cada lado, tato elétrico com pessoas, vegetação e transmissão e a carga mecânica à qual
acompanhados por um cabo mais alto, veículos que eventualmente atraves- a torre é submetida. “As torres estaia-
no topo, que é o para-raios. sem a região, já que são construídas das, por exemplo, têm estrutura forte e
Segundo o engenheiro Renan Mou- muitas vezes em locais com obstácu- leve, projetada para suportar alta carga
ra Guimarães, professor de Engenharia los, como vales, rios e montanhas. A de equipamentos, além de intempéries
Civil do Centro Universitário Moura La- estrutura também deve suportar os como ventos extremos”, explica.
Revista Painel

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Arquivo Furnas

Wikipedia
Torre estaiada Torre autoportante

Em relação à estrutura, o engenheiro Renan explica que a


torre estaiada é feita com mastro treliçado, quando a esta-
bilidade lateral é garantida por meio de estais (cabos) liga-
dos em diversos níveis da torre. Segundo ele, são estruturas
mais econômicas, porém necessitam de grande área para a
fixação dos estais.

A primeira linha de transmissão de energia de que


se tem registro no Brasil foi construída em 1883,
em Diamantina (MG) e tinha dois quilômetros de Treliçados das torres autoportantes
extensão. Sua função era transportar a energia Fonte: Sharma, 2015, et al, citado por Rothier, 2017
gerada de uma usina hidrelétrica formada por As torres autoportantes são utilizadas em terreno mais
duas rodas d´água que acionavam bombas acidentados devido à sua forma compacta. As estaiadas
hidráulicas em uma mina de diamantes. Era a fixam-se em terrenos com relevos mais suaves, com espaço
maior linha de transmissão do mundo na época. suficiente para ancorar os estais.

Projeto para instalação


As torres autoportantes são estruturas treliçadas com base O projeto de uma linha de transmissão busca otimizar
alargada em formato de pirâmide e que não precisam do au- os aspectos fundiários, ambientais e técnicos, explica Hal-
xílio de estais, suportando-se de forma independente. O tre- ley. “Os fundiários levam em consideração a quantidade
liçado das torres autoportantes pode ser criado de diversas de proprietários de terras impactados pelo trajeto da linha;
maneiras e a estrutura pode ser subdivida em perna, extensão os ambientais focam na mitigação de impactos em áreas de
e corpo básico. “As torres autoportantes necessitam de me- preservação permanente, mananciais, sítios arqueológicos,
nor área de instalação, porém são mais caras do que as estaia- terras indígenas etc.; e os técnicos avaliam a viabilidade de
das. Elas podem atingir até 120 metros de altura”, argumenta. instalação de estruturas em determinados locais”, diz.
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estacas ou sapatas rasas, dependendo Ainda segundo Renan, como as tor-


dos resultados dos ensaios de son- res são muito altas, é fundamental que
dagem de solo. As torres possuem a no projeto seja feita a análise dinâmica
peculiaridade de não necessitarem de de vibração para evitar altas deforma-
barras de arranque, comuns em pilares ções na torre quando a estrutura for
de concreto. “A ancoragem na fun- submetida à ação do vento.
dação em concreto é feita através de Existem alguns limitadores para a ins-
um perfil metálico chamado stub [uma talação de torres. De acordo com o en-
haste dentro do bloco de concreto]”, genheiro Vinicius dos Santos Lima, da
detalha o engenheiro. EDS Engenharia, empresa especializada
em projetos de linhas de transmissão, é
preciso observar a largura da faixa de
servidão onde as torres serão instaladas
para evitar que o balanço dos cabos se
aproxime dos limites de faixa. O relevo
do terreno deve obedecer às distâncias
Subdivisão da estrutura da torre autoportante
Fonte: Amaral, 2015 de segurança previstas em norma, as
limitações das capacidades mecânicas
O tipo de fundação onde as torres
dos cabos condutores e das torres, uma
serão instaladas depende diretamente
vez que quanto maior a distância entre
do tipo de solo. “Uma das característi-
torres, maior será a carga de tensiona-
cas principais das estruturas metálicas
mento nos cabos instalados”, detalha.
é a baixa carga na fundação em rela-
O engenheiro Eduardo Karabolad
ção aos outros sistemas construtivos,
Filho, também da EDS Engenharia, sa-
gerando fundações mais econômicas”,
lienta que o plantio de algumas cultu-
informa Renan. Ancoragem da torre metálica
na fundação em concreto. ras próximas às torres não é indicado
A fundação pode ser em bloco com Fonte: Amaral, 2015.
por causar riscos ao produtor ou até
mesmo para a linha de transmissão. “A
cana-de-açúcar, por exemplo, não deve
Curiosidade
ser plantada próxima as torres devido
ao risco de fogo no local. Também há
As torres 238 e 241 da Linha de Transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus restrições para árvores frutíferas com
conhecidas como Torres do linhão de Tucuruí são as torres de transmissão altura acima de 3 metros e árvores de
de energia mais altas do Brasil. Localizadas nas margens do rio Amazonas, na grande porte, como eucaliptos, pinhei-
cidade de Almeirin, no Pará, elas possuem 300 metros cada, quase o tamanho ros, araucária, porque podem causar
da Torre Eiffel, em Paris, que mede 324 metros. aproximação dos cabos energizados”.
As torres são feitas de aço e pesam cerca de 2.400 toneladas cada. Para Todos os projetos de linhas de
sustentar o peso dos cabos de transmissão, as duas estruturas foram erguidas transmissão são regulamentados
sobre uma base pela ANEEL (Agencia Nacional de
equivalente a Energia Elétrica) e a implantação deve
dois campos de
seguir normas técnicas. As principais
futebol, com
são: a NBR 8800:2008 – Projeto de
390 pilastras de
Estruturas de aço e de estruturas mistas
concreto fincadas
a 40 metros de de aço e concreto; NBR 6120:1980 –
Wikimedia

profundidade. Cargas para cálculo de estruturas de


Torres 238 e 241 em Almeirin Pará
edificações; NBR 6123:1982 – Ação do
vento em edificações e Procedimento
(SDT-240-410-600, 1997) – Telebrás.
Revista Painel
Revista Painel

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Financiamento

Designed by Freepik
Parceria do CREA-SP e
Desenvolve SP oferece
crédito para empresas
vinculadas ao Conselho
Condições especiais são oferecidas para micro, pequenas e médias
empresas de engenharia e agronomia

O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Desenvolve SP – O Banco do


Empreendedor – abriu linha de financiamento em condições exclusivas para em-
presas vinculadas ao Sistema CONFEA-CREA. Em parceria com o conselho pau-
lista, a Desenvolve SP oferece condições especiais de financiamento para micro,
pequenas e médias empresas de engenharia e agronomia.
Desenvolve SP é uma instituição financeira do governo do Estado de São Paulo
que desde 2009 realiza operações de crédito de longo prazo para as pequenas e
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médias empresas paulistas. De acordo A parceria com o CREA-SP objetiva


com o Governo do Estado de São Pau- estimular e financiar projetos que ge-
lo, o objetivo é melhorar “a qualidade rem oportunidades, trabalho e renda.
de vida da população, contribuindo Para isso, são oferecidas linhas de cré-
com a geração de emprego e renda em dito para projetos de expansão, mo-
todas as regiões do Estado, promoven- dernização, aquisição de máquinas e
do o desenvolvimento local”. equipamentos, além de capital de giro.
Quem pode solicitar
Empresas registradas e regulares
junto ao Conselho e, tanto no
Opções de crédito para empresas vinculadas ao CREA-SP
âmbito fiscal quanto no de Linha Taxa Prazo Carência
crédito, com faturamento anual Crédito Digital - A partir de 1,95% (0,65%
a partir de R$81 mil até R$300 BNDES Pequenas acrescidos da TLP) ao 36 meses* 6 meses
milhões, instaladas no Estado de Empresas (CREA) mês
São Paulo.
Crédito Digital - Giro
No site da Desenvolve SP estão A partir de 1,43% ao mês 36 meses* 6 meses
Rápido (CREA)
listadas as opções de crédito e é
possível verificar qual a opção de A partir de 0,33% ao mês
FIP (CREA) até 120 meses* até 36 meses
crédito ideal para seu negócio. acrescidos da SELIC
FIP - Simplificado A partir de 0,33% ao mês
até 72 meses* até 12 meses
(CREA) acrescidos da SELIC
* incluindo a carência
As condições do financiamento poderão ser alteradas sem aviso prévio
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CREA-SP

RESOLUÇÃO N° 1.048, DE
14 DE AGOSTO DE 2013 - 1ª parte
Consolida as áreas de atuação, as atribuições e as atividades adubos, inseticidas, fungicidas, maquinismos e acessórios e, bem
profissionais relacionadas nas leis, nos decretos-lei e nos decretos assim, outros artigos utilizados na agricultura ou na instalação de
que regulamentam as profissões de nível superior abrangidas pelo indústrias rurais e derivadas;
Sistema Confea/Crea. XXI - determinação do valor locativo e venal das propriedades
[...] rurais, para fins administrativos ou judiciais, na parte que se rela-
Art. 4º O exercício das atividades e das áreas de atuação pro- cione com a sua profissão;
fissional elencadas [...] correlacionam-se às seguintes atribuições: XXII - avaliação e peritagem das propriedades rurais, suas insta-
I - ensino agrícola em seus diferentes graus; lações, rebanhos e colheitas pendentes, para fins administrativos,
II - experimentações racionais e científicas referentes à agricul- judiciais ou de crédito;
tura, e, em geral, quaisquer demonstrações práticas de agricultura XXIII - avaliação dos melhoramentos fundiários;
em estabelecimentos federais, estaduais e municipais; XXIV - o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção de
III - propagar a difusão de mecânica agrícola, de processos de obras de drenagem e irrigação;
adubação, de métodos aperfeiçoados de colheita e de beneficia- XXV - o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção de
mento dos produtos agrícolas, bem como de métodos de aprovei- edifícios, com todas as suas obras complementares;
tamento industrial da produção vegetal; XXVI - o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das
IV - estudos econômicos relativos à agricultura e indústrias estradas de rodagem e de ferro;
correlatas; XXVII - o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das
V - genética agrícola, produção de sementes, melhoramento das obras de captação e abastecimento de água;
plantas cultivadas e fiscalização do comércio de sementes, plantas XXVIII - trabalhos de captação e distribuição da água;
vivas e partes vivas de plantas; XXIX - o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das
VI - fitopatologia, entomologia e microbiologia agrícolas; obras destinadas ao aproveitamento de energia e dos trabalhos re-
VII - aplicação de medidas de defesa e de vigilância sanitária vegetal; lativos às máquinas e fábricas;
VIII - química e tecnologia agrícolas; XXX - o estudo, projeto, direção, execução e exploração de ins-
IX - reflorestamento, conservação, defesa, exploração e indus- talações industriais, fábricas e oficinas;
trialização de matas; XXXI - o estudo, projeto, direção e execução das instalações das
X - administração de colônias agrícolas; oficinas, fábricas e indústrias;
XI - ecologia e meteorologia agrícolas; XXXII - o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das
XII - fiscalização de estabelecimentos de ensino agronômico re- obras relativas a portos, rios e canais e das concernentes aos ae-
conhecidos, equiparados ou em via de equiparação; roportos;
XIII - fiscalização de empresas agrícolas ou de indústrias correlatas; XXXIII - o estudo, projeto, direção, fiscalização e construção das
XIV - barragens; obras peculiares ao saneamento urbano e rural;
XV - irrigação e drenagem para fins agrícolas; XXXIV - projeto, direção e fiscalização dos serviços de urbanismo;
XVI - estradas de rodagem de interesse local e destinadas a fins XXXV - assuntos de engenharia legal;
agrícolas; XXXVI - assuntos legais relacionados com suas especialidades;
XVII - construções rurais, destinadas a moradias ou fins agrícolas; XXXVII - perícias e arbitramentos;
XVIII - avaliações e perícias; XXXVIII - fazer perícias, emitir pareceres e fazer divulgação técnica;
XIX - agrologia; XXXIX - trabalhos topográficos e geodésicos;
XX - peritagem e identificação, para desembaraço em repar-
tições fiscais ou para fins judiciais, de instrumentos, utensílios e Brasília, 14 de agosto de 2013 .
máquinas agrícolas, sementes, plantas ou partes vivas de plantas, (Continua na próxima edição)
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Notas

Pixabay
Canudo de
plástico está proibido
no estado de SP
PROCON fará a
fiscalização e multa pode
chegar a R$ 5,5 mil

Desde o dia 17 de fevereiro estabelecimentos comerciais do se a infração, a empresa será autuada. Já as empresas de grande
estado de São Paulo não podem mais fornecer ou vender canudos porte que apresentarem infração serão autuadas de imediato.
feitos de plástico. A proibição atende a Lei n°17.110, de 12 de julho O valor da multa varia de R$ 552,20 a R$ 5.522,00. Em casos
de 2019, que veta a distribuição de canudos de plásticos e orienta de reincidência, será aplicada multa em dobro.
que os estabelecimentos ofereçam canudos de papel reciclável, Segundo o Instituto Akatu, organização não governamental
material comestível ou biodegradável, embalados individualmente sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização do
em envelopes fechados, confeccionados com o mesmo material. consumo consciente, se os canudos consumidos pelos
A fiscalização e autuação será realizada pelo PROCON. brasileiros em um ano fossem empilhados em um muro de
Microempresas e empresas de pequeno porte terão dupla visita 2,10 metros de altura seria possível dar uma volta completa
– uma fiscalização orientadora e, na segunda visita, constatando- na Terra, em uma linha de mais de 45.000 quilômetros.

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