Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
O livro mais famoso escrito por Darwin chama-se “A Origem das Espécies”. O interessante é que, apesar do
título, em todo o seu livro, Darwin não descreve um único caso concreto, observado na natureza, de nascimento
de uma espécie. Sendo a evolução um processo muito lento, realmente é muito difícil vermos esse nascimento. A
especiação, como é chamada a formação de novas espécies, é, portanto, um dos temas mais polêmicos acerca
da evolução. Há muita discussão sobre como o “nascimento” de uma espécie realmente ocorre.
Modelos de especiação
Há dois modelos básicos de especiação: por anagênese e por cladogênese.
Anagênese
Uma população vai lentamente se adaptando a modificações ambientais, de tal forma que a população final
é tão diferente da inicial, que pode ser considerada uma outra espécie.
Um exemplo muito bem documentado pelo registro fóssil de especiação por anagênese é o cavalo (Equus).
Cladogênese
Uma parte da população sofre modificações diferentes de outro grupo populacional, geralmente por
ocuparem regiões distintas. Com isso, parte da população origina uma espécie e a outra parte, outra espécie.
As duas espécies de lagarto apresentadas ao
lado vivem nas imediações do Rio São Francisco,
próximo ao povoado de Santo Inácio (BA). Elas
descendem de uma mesma espécie (ancestral
comum) que teve sua população separada
geograficamente, em duas, provavelmente por causa
da última era glacial ou por mudança do curso do rio.
Com isso, cada grupo populacional foi-se
modificando geneticamente. Como eles não podiam
se encontrar para recombinar seus genes por meio
do sexo, chegou a um ponto em que as diferenças
ficaram tão grandes que produziram duas espécies
novas.
Perceba que, desde que a vida surgiu na Terra, o número de espécies diferentes aumentou muito. Isso é um
sinal de que grande parte das espécies surgiu por cladogênese, já que, na anagênese, uma espécie é substituída
por outra, enquanto que, na cladogênese, uma espécie se diversifica originando mais de uma nova espécie.
Geralmente, mas, aparentemente, não sempre, para que ocorra a cladogênese são necessárias 3 etapas,
examinadas abaixo.
1. Isolamento geográfico → O isolamento geográfico é a melhor e mais fácil explicação para a especiação
por cladogênese. Imagine, por exemplo, que o alargamento de um rio ou a elevação de montanhas isolem
dois grupos de indivíduos de uma mesma espécie.
2. Diferenciação genética → Como já vimos, as mutações gênicas e cromossômicas ocorrem
aleatoriamente. Portanto, é de se esperar que as alterações genéticas que ocorrem com um grupo não
sejam idênticas as que acontecem com os membros do outro grupo. Como eles, não podem se
intercruzar, porque estão isolados geograficamente, essas modificações aos poucos os tornarão cada vez
mais diferentes. Além disso, por estarem ocupando ambientes diferentes, em um grupo, a seleção natural
pode eliminar um conjunto de alelos que, no outro grupo, seria preservada, visto que, estão submetidas a
pressões seletivas distintas.
3. Isolamento reprodutivo → As diferenças genéticas geradas pelo isolamento geográfico podem conduzir
a alterações morfológicas, fisiológicas ou de comportamento que produzam o isolamento reprodutivo. Ou
seja, mesmo que os dois grupos voltem a se encontrar, não conseguirão mais gerar descendentes férteis.
A partir do momento em que duas espécies estejam isoladas reprodutivamente, já são consideradas
espécies diferentes. Caso o encontro entre os indivíduos aconteça antes que o isolamento reprodutivo
esteja completo, eles continuarão pertencendo à mesma espécie, mas constituirão raças (ou subespécies)
diferentes.
O isolamento reprodutivo pode se dar de várias maneiras. Para fins didáticos, pode ser dividido em mecanismos
pré-zigóticos e mecanismos pós-zigóticos.
• Mecanismos pré-zigóticos.
1. Isolamento sazonal ou estacional: cada espécie se adaptou a se reproduzir em uma determinada fase do ano.
2. Isolamento comportamental ou etológico: os indivíduos não se cruzam, porque a “dança” da corte de cada um
deles é diferente. Com isso, as fêmeas de uma espécie não reconhecem os sinais de sedução dos machos de
outra espécie.
3. Isolamento mecânico: Os órgãos sexuais dos machos e das fêmeas de espécies diferentes não são
compatíveis. Em vegetais, o tubo polínico pode não germinar no órgão feminino de uma flor de outra espécie.
• Mecanismo pós-zigóticos.
1. Inviabilidade do híbrido: Os indivíduos de espécies diferentes podem até copular, mas o embrião não é viável,
morrendo prematuramente.
2. Esterilidade do híbrido: o híbrido até se forma e, algumas vezes, pode até ser mais vigoroso que os pais, mas
são inférteis.
3. Deterioração dos descendentes: os filhos nascem e são saudáveis. Mas, com o passar das
gerações, tornam-se mais fracos e estéreis.
Andressa Camargo
Ciência Hoje on-line/RJ
22/01/01