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Superior Tribunal de Justiça

AÇÃO RESCISÓRIA Nº 3.535 - SP (2006/0078627-0)

RELATOR : MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO


REVISOR : MINISTRO PAULO GALLOTTI
AUTOR : JOSÉ FRANCISCO DA SILVA
ADVOGADO : IVANIR CORTONA E OUTRO(S)
RÉU : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
EMENTA

AÇÃO RESCISÓRIA. ERRO DE FATO E VIOLAÇÃO DA


LITERALIDADE DA LEI. INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO QUE
ATRIBUIU INTERPRETAÇÃO RAZOÁVEL À NORMA.
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA E AUXÍLIO-ACIDENTE.
CUMULAÇÃO. DEFINIÇÃO DA LEI APLICÁVEL. DATA DA
JUNTADA DO LAUDO PERICIAL EM JUÍZO.
1. Para que o erro de fato dê causa à rescindibilidade do julgado, é
indispensável que ele seja relevante para o julgamento da questão, que seja
apurável mediante simples exame e que não tenha havido controvérsia nem
pronunciamento judicial sobre o fato.
2. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é firme em que " Para ter
cabida a rescisória com base no art. 485, V, do CPC, é necessário que a
interpretação conferida pela decisão rescindenda seja de tal forma
extravagante que infrinja o preceito legal em sua literalidade. " (AR nº
624/SP, Relator Ministro José Arnaldo da Fonseca, in DJ 23/11/98).
3. Não havendo notícia nos autos acerca da data do início da incapacidade
laborativa, nem de requerimento de auxílio-acidente no âmbito administrativo
em data anterior à edição da Lei nº 9.528/97, e elaborado o laudo pericial já na
vigência da Lei nº 9.528/97, não há como se pretender cumular auxílio-acidente
com qualquer aposentadoria.
4. Pedido improcedente.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da TERCEIRA SEÇÃO do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, julgar improcedente a ação rescisória, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Paulo Gallotti (Revisor), Arnaldo Esteves
Lima, Maria Thereza de Assis Moura, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Jane Silva
(Desembargadora convocada do TJ/MG) e Nilson Naves. Ausente, ocasionalmente, o Sr.
Ministro Felix Fischer. Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.
Brasília, 14 de maio de 2008 (Data do Julgamento)
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MINISTRO Hamilton Carvalhido , Relator

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AÇÃO RESCISÓRIA Nº 3.535 - SP (2006/0078627-0)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator):


Ação rescisória ajuizada por José Francisco da Silva com
fundamento no artigo 485, incisos V (violação literal de disposição de lei) e IX
(erro de fato), do Código de Processo Civil, objetivando a rescisão de acórdão
da Quinta Turma deste Superior Tribunal de Justiça no REsp nº 734.534/SP,
assim ementado:
"PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL.
CUMULAÇÃO. AUXÍLIO-ACIDENTE. APOSENTADORIA.
POSSIBILIDADE. TEMPUS REGIT ACTUM. ACÓRDÃO
CONFIRMA MOLÉSTIA ANTERIOR. REEXAME DE
PROVA. SÚMULA 07.
Conforme o entendimento assentado neste Tribunal,
quando o acórdão recorrido confirmar que a moléstia
ocorreu antes do advento da lei que vedou a cumulação,
qual seja, Lei 9.528/97, é possível perceber, conjuntamente,
auxílio-acidente e aposentadoria.
Incidência da Súmula 07 desta Corte.
Agravo desprovido."
Alega o autor violação literal do artigo 86 da Lei nº 8.213/91, ao
fundamento de que é possível a cumulação de benefício acidentário com a
aposentadoria que recebe, ao argumento de que adquiriu a doença antes da
vigência da Lei nº 9.528/97, além de se cuidarem de benefícios de fatos
geradores diversos.

Regularmente citado, o réu apresentou contestação requerendo,


preliminarmente, o indeferimento da petição inicial por não haver o autor
observado o disposto no artigo 488, inciso I, do Código de Processo Civil, com
a cumulação do pedido de rescisão do julgado com o de novo julgamento da
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causa.

Aduz, outrossim, que houve controvérsia e pronunciamento


judicial sobre o fato, não sendo cabível, por isso, a rescisória fundada em erro
de fato, alegando, ainda, que o acórdão não atribuiu interpretação desarrazoada
à norma, a dar ensejo a alegada violação à literalidade da lei.

O Ministério Público Federal veio pela procedência do pedido.

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator):


Senhor Presidente, diga-se, de início, quanto à preliminar de inépcia da petição
inicial, que não há falar em descumprimento do disposto no artigo 488, inciso I,
do Código de Processo Civil, expressamente requerida que restou, na petição
inicial, a rescisão da decisão da Quinta Turma deste Superior Tribunal de
Justiça, bem como o restabelecimento da sentença de primeiro grau.

Por outro lado, no que diz respeito ao erro de fato, recolhe-se no


magistério de José Carlos Barbosa Moreira o seguinte:
"Consiste o erro de fato em a sentença 'admitir um fato
inexistente' ou 'considerar inexistente um fato efetivamente
ocorrido' (§ 1º). De modo nenhum o configura o engano na
qualificação jurídica; por exemplo, a errônea consideração
de determinado contrato como se fosse comodato, em vez de
locação, não corresponde ao tipo legal: é preciso que o erro
incida sobre o fato em si, sobre a ocorrência ou não do
acontecimento. Tampouco se enquadra na moldura do art.
485, § 1º, o mero erro aritmético, suscetível de correção a
qualquer tempo, sem necessidade de ação rescisória.
Quatro pressupostos hão de concorrer para que o erro
de fato dê causa à rescindibilidade:
a) que a sentença nele seja fundada, isto é, que sem
ele a conclusão do juiz houvesse de ser diferente;
b) que o erro seja apurável mediante o simples exame
dos documentos e mais peças dos autos, não se admitindo de
modo algum, na rescisória, a produção de quaisquer outras
provas tendentes a demonstrar que não existia o fato
admitido pelo juiz, ou que ocorrera o fato por ele
considerado inexistente;
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c) que 'não tenha havido controvérsia' sobre o fato (§
2º);
d) que sobre ele tampouco tenha havido
'pronunciamento judicial ' (§ 2º)." (in Comentários ao
Código de Processo Civil, Volume V, 7ª edição,
editora Forense, págs. 147/148).
Tem-se, pois, que para que o erro de fato dê causa à
rescindibilidade do julgado, é indispensável que não tenha havido
pronunciamento judicial sobre o fato (artigo 485, parágrafo 2º, do Código de
Processo Civil), senão vejamos:
"PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. ERRO
DE FATO. ART. 485, IX, CPC. CONTROVÉRSIA.
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL.
- Para que o erro de fato dê causa à rescindibilidade,
indispensável, conforme preconizam os parágrafos do art.
485, inciso IX, do CPC, que não tenha havido controvérsia
sobre o fato, tampouco acerca dele pronunciamento judicial.
Pedido rescisório improcedente." (AR nº 878/ES,
Relator Ministro Felix Fischer, in DJ 19/2/2001).
Na espécie, contudo, tal como se recolhe na própria letra do
acórdão rescindendo, restou expressamente afirmada a impossibilidade da
acumulação de aposentadoria e auxílio-acidente em razão de não haver notícia
de que a incapacidade laborativa tenha se dado em data anterior à edição da Lei
nº 9.528/97, não havendo falar, pois, em erro de fato qualquer a dar ensejo à
rescisão do julgado.

Isso estabelecido, nos próprios da alegada violação da literalidade


da lei, à ausência de vedação legal expressa, este Superior Tribunal de Justiça
firmara entendimento quanto à cumulação do auxílio-acidente com a
aposentadoria, por diversos os suportes fáticos e os títulos jurídicos dos dois
benefícios, tanto quanto as suas fontes de custeio, dês que excluído o
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auxílio-acidente do cálculo do salário-de-contribuição da aposentadoria, para
inibir o bis in idem. Nesse sentido:
"PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL.
CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIOS. APOSENTADORIA
ESPECIAL. AUXÍLIO-ACIDENTE. POSSIBILIDADE.
- Em tema de acumulação de benefícios previdenciários
que apresentam pressupostos fáticos e fatos geradores
diversos, é pacífico o entendimento desta Colenda Corte no
sentido de que é legítima e legal a percepção cumulativa da
aposentadoria especial e do auxílio-acidente, desde que
comprovado o nexo de causalidade entre a doença adquirida
e o efetivo desempenho das atividades funcionais.
- Embargos de divergência rejeitados." (EREsp nº
166.226/RJ, Relator Ministro Vicente Leal, in DJ
18/12/98).

"EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.
PREVIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO. AUXÍLIO-ACIDENTE.
APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO.
1 - Esta Seção já firmou entendimento no sentido da
viabilidade da cumulação da aposentadoria por tempo de
serviço e o auxílio-acidente, desde que comprovado o nexo
de causalidade entre a doença e a atividade exercida pelo
beneficiário.
2 - Embargos rejeitados." (EREsp nº 79.436/SP,
Relator Ministro Fernando Gonçalves, in DJ 17/2/99).
Ocorre, todavia, que, com a edição da Medida Provisória nº 1.596,
de 10 de novembro de 1997, convertida na Lei nº 9.528, de 10 de dezembro
de 1997, o parágrafo 2º do artigo 86 da Lei nº 8.213/91 passou a vigorar com a
seguinte redação:
"§ 2º O auxílio-acidente será devido a partir do dia
seguinte ao da cessação do auxílio-doença,
independentemente de qualquer remuneração ou rendimento
auferido pelo acidentado, vedada sua acumulação com
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qualquer aposentadoria ." (nossos os grifos).
Resta definir, agora, qual o fato jurídico produtor do benefício
que, por óbvio, deve ser considerado para a definição da lei incidente na
espécie, pois que se discute sucessão de leis no tempo.

A Egrégia 3ª Seção desta Corte, nos casos de pensão por morte


devida a menor designado antes do advento da Lei nº 9.032/95, assim decidiu:
"PREVIDENCIÁRIO - PENSÃO POR MORTE -
DEPENDENTE DESIGNADO - LEGISLAÇÃO VIGENTE -
LEI Nº 9.032/95.
1. A concessão do benefício previdenciário deve
observar os requisitos previstos na legislação vigente à
época da circunstância fática autorizadora do pagamento do
benefício, qual seja, a morte do segurado.
2. Embargos de divergência acolhidos." (EREsp nº
193.387/RN, Relator Ministro Fernando Gonçalves, in
DJ 12/3/2001).
Ao que se tem, a Egrégia Terceira Seção desta Corte Superior de
Justiça firmou-se em que, na concessão do benefício previdenciário, a lei a ser
observada é a vigente à época do fato jurídico produtor do direito ao benefício.

Tal orientação, aliás, se harmoniza com a Súmula nº 359 do


Supremo Tribunal Federal, revista no julgamento do ERE nº 72.509/PR,
Relator Ministro Luiz Gallotti, in DJ 30/3/73, com indubitável incidência
analógica na espécie, verbis :
"Ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos da
inatividade regulam-se pela lei vigente ao tempo em que o
militar, ou o servidor civil, reuniu os requisitos necessários."
Ora, os proventos de inatividade são espécie do gênero benefício
previdenciário, assim como o auxílio-acidente.

E por reunião dos requisitos necessários, aqui se entende a


realização do suporte fático do direito à concessão do benefício.
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Tem-se, assim, que os benefícios previdenciários devem ser
regulados pela lei vigente ao tempo do fato que lhe determinou a incidência, da
qual decorreu a sua juridicização e conseqüente produção do direito subjetivo à
percepção do benefício.

E em se tratando de auxílio-acidente, a lei aplicável é a vigente ao


tempo do acidente causa da incapacidade para o trabalho, incidindo, como
incide, nas hipóteses de doença profissional ou do trabalho, a norma inserta no
artigo 23 da Lei nº 8.213/91, verbis :

"Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso


de doença profissional ou do trabalho, a data do início da
incapacidade laborativa para o exercício da atividade
habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em
que for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o
que ocorrer primeiro."
Isso porque, a doença profissional e a do trabalho, assim
entendidas, respectivamente, a produzida ou desencadeada pelo exercício do
trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação
elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social e a adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado
e com ele se relacione diretamente (artigo 20, incisos I e II, da Lei nº
8.213/91), têm, em regra, atuação lenta no organismo, sendo de difícil
determinação a sua data exata.

Daí o dispositivo legal supramencionado haver estabelecido como


dia do acidente, no caso de doença profissional ou do trabalho, a data do início
da incapacidade laborativa para o exercício de atividade habitual, ou o dia da
segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnóstico, este
identificado com a data da perícia realizada no processo administrativo ou a
data da juntada do laudo pericial em juízo, valendo para a sua determinação o
que ocorrer primeiro.

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Na espécie, não há notícia nos autos acerca da data do início da
incapacidade laborativa, de afastamento ou diagnóstico, nem de requerimento
de auxílio-acidente no âmbito administrativo em data anterior à edição da Lei
nº 9.528/97, como se lê na própria letra do acórdão do Tribunal Regional,
lavrado nos autos da ação originária:
"Conforme reiterado entendimento desta C. Câmara,
face a ausência de notícia anterior sobre a moléstia, ao
caso em estudo deve-se aplicar a legislação vigente à data
de mencionado exame, pois aí estaria caracterizada a
doença alegada sendo, portanto, descabida a apreciação da
demanda, ante a vedação legal à concessão de auxílio
acidente a obreiro aposentado. Ademais, o lapso temporal
(10 anos) transcorrido entre a sua aposentação e a
propositura da ação desautoriza a aplicação do princípio 'in
dubio pro misero'. (...)" (fl. 57).
Impõe-se, dessa forma, a fixação do dia do acidente na data em
que foi realizado o diagnóstico, assim considerado a data da juntada do laudo
pericial em juízo. Vejam-se, por oportuno, os seguintes precedentes:
"PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. DATA DO
LAUDO MÉDICO-PERICIAL.
1 - Esta Corte já firmou entendimento no sentido de
que, não havendo postulação administrativa, o termo inicial
do benefício é a data do laudo médico-pericial que constata
a incapacidade laborativa.
2 - Recurso especial conhecido e provido." (REsp nº
314.913/SP, Relator Ministro Fernando Gonçalves, in
DJ 18/6/2001).

"PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO. APOSENTADORIA


POR INVALIDEZ. TERMO INICIAL. LAUDO PERICIAL.
O termo inicial do benefício de aposentadoria por
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invalidez, se não houve exame médico na via administrativa,
é a data apresentação do laudo pericial em juízo, e não a
citação da autarquia previdenciária. Precedentes.
Recurso conhecido (REsp nº
e provido."
304.356/SP, Relator Ministro Felix Fischer, in DJ
4/6/2001).
Juntado que foi, o laudo pericial, em 1999, já na vigência da Lei
nº 9.528/97, não há como se pretender cumular a aposentadoria que já recebe
com o auxílio-acidente, tal como decidido no acórdão rescindendo.

Do exposto, resulta que o acórdão rescindendo atribuiu


interpretação razoável à norma, não havendo falar em violação da literalidade
da lei, a autorizar o cabimento da ação rescisória que, na espécie, evidencia o
descontentamento da parte com a solução jurídica atribuída à pretensão
deduzida e a tentativa de converter a ação rescisória em "recurso" com prazo
de dois anos. Nesse sentido:
"AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO RESCISÓRIA.
TUTELA ANTECIPADA. VEROSSIMILHANÇA.
AUSÊNCIA.
I- "Para que a ação rescisória fundada no art. 485, V,
do Código de Processo Civil prospere, é necessário que a
interpretação dada pelo decisum' rescindendo seja de tal
modo aberrante que viole o dispositivo legal em sua
literalidade. Se, ao contrário, o acórdão rescindendo elege
uma dentre as interpretações cabíveis, ainda que não seja a
melhor, a ação rescisória não merece vingar, sob pena de
tornar-se recurso ordinário com prazo de interposição de
dois anos".
(...)
III- A decisão que deu razoável interpretação de lei não
pode ser rescindida via ação rescisória.
Agravo regimental (AgRgAR nº
desprovido."
3.442/SC, Relator Ministro Felix Fischer, in DJ
25/9/2006).
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"AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, V, CPC. VIOLAÇÃO


LITERAL DA LEI. INOCORRÊNCIA.
Não há ofensa quando o acórdão rescindendo, dentre
as interpretações cabíveis, elege uma delas, que não destoa
literalmente do texto de lei. Decisão que prestigia
entendimento pacificado no âmbito do STJ. Ausência do
pressuposto específico exigido pelo inciso V do Art. 485 do
CPC.
Ação julgada improcedente." (AR nº 2.522/SP,
Relator Ministro José Arnaldo da Fonseca, in DJ
28/6/2004).

"AÇÃO RESCISÓRIA. PRETENSÃO DA AUTORA EM


VER RECONHECIDA A SUA QUALIDADE DE ÚNICA
HERDEIRA DE PESSOA FALECIDA NO BRASIL. ERRO DE
FATO E VIOLAÇÃO DE LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI.
(...)
- Para que a ação rescisória fundada no art. 485, V, do
CPC, prospere, é necessário que a interpretação dada pelo
decisum rescindendo seja de tal modo aberrante que viole o
dispositivo legal em sua literalidade. Se, ao contrário, o
acórdão rescindendo elege uma dentre as interpretações
cabíveis, ainda que não seja a melhor, a ação rescisória não
merece vingar, sob pena de tornar-se "recurso" ordinário
com prazo de interposição de dois anos (REsp nº 9.086-SP).
(...)" (AR nº 464/RJ, Relator Ministro Barros
Monteiro, in DJ 19/12/2003).
Pelo exposto, julgo improcedente o pedido.

Honorários advocatícios em 10% sobre o valor atribuído à causa,


tendo em vista o disposto no artigo 20, parágrafo 4º, do Código de Processo
Civil, com execução suspensa pelo prazo de até cinco anos, ao fim do qual, em
persistindo a incapacidade financeira, terá lugar a prescrição.

É O VOTO.
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RELATOR : MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO


REVISOR : MINISTRO PAULO GALLOTTI
AUTOR : JOSÉ FRANCISCO DA SILVA
ADVOGADO : IVANIR CORTONA E OUTRO(S)
RÉU : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

VOTO-REVISÃO

O SENHOR MINISTRO PAULO GALLOTTI: Cuida-se de ação


rescisória ajuizada por José Francisco da Silva, com fundamento no art. 485, V e IX, do
Código de Processo Civil, contra o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
objetivando rescindir o acórdão proferido no julgamento do AgRg no REsp nº
734.534/SP, assim ementado:

"PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. CUMULAÇÃO.


AUXÍLIO-ACIDENTE. APOSENTADORIA. POSSIBILIDADE.
TEMPUS REGIT ACTUM . ACÓRDÃO CONFIRMA MOLÉSTIA
ANTERIOR. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 07.
Conforme o entendimento assentado neste Tribunal, quando o
acórdão recorrido confirmar que a moléstia ocorreu antes do
advento da lei que vedou a cumulação, qual seja, Lei 9.528/97, é
possível perceber, conjuntamente, auxílio-acidente e
aposentadoria.
Incidência da Súmula 07 desta Corte.
Agravo desprovido." (fl. 72)

Alega o autor ofensa ao disposto no art. 86 da Lei nº 8.213/1991,


sustentando que sua lesão auditiva é anterior à vigência da norma que proibiu a
cumulação do auxílio-acidente com a aposentadoria, qual seja, a Lei nº 9.528/1997. Diz,
ainda, que a decisão rescindenda está em confronto com a jurisprudência deste
Tribunal.

Citado, argúi o INSS, preliminarmente, a inépcia da inicial, uma vez que o


autor não cumulou ao pedido de rescisão do julgado o de novo julgamento da causa,
nos termos do art. 488, I, do Código de Processo Civil.

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No mérito, requer a improcedência do pedido, afirmando a inocorrência de
"qualquer violação literal da lei ou erro de fato".

O Ministério Público Federal manifestou-se pela procedência da pretensão


(fls. 116/120).

Examino, inicialmente, a preliminar suscitada pelo réu.

Colhe-se da exordial:

"Assim, deve ser julgada procedente a presente ação rescisória


para rescindir a r. decisão hostilizada, para restabelecer a r.
sentença de primeiro grau". (fl. 13)

Verifica-se, pois, que, ao contrário do afirmado, restou preenchido o


requisito previsto no art. 488, I, do Código de Processo Civil, não procedendo a
alegação de inépcia da inicial.

Quanto ao mérito, a meu ver, o pedido é improcedente.

Na verdade, a decisão que se pretende rescindir não violou nenhum


dispositivo legal, tendo apenas solucionado a lide original com base na jurisprudência
deste Superior Tribunal de Justiça sobre o tema de que se cuida, segundo a qual, diante
do disposto na Lei nº 9.528/1997, a verificação da possibilidade de cumulação do
auxílio-acidente com aposentadoria tem de levar em conta a lei vigente ao tempo do
infortúnio que ocasionou a incapacidade laborativa.

Se o Tribunal de origem não menciona que a incapacidade ocorreu antes


da vigência da norma proibitiva, a data a ser levada em conta não pode ser outra senão
a da juntada do laudo médico.

Veja-se:

"PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CUMULAÇÃO DE


AUXÍLIO-ACIDENTE E APOSENTADORIA POR TEMPO DE
SERVIÇO. IMPOSSIBILIDADE. ART. 86, § 2º, DA LEI Nº
8.213/1991, COM REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 9.528/1997. -
A Lei 8.213/1991, que regulamenta o auxílio-acidente, com nova
redação dada pela Lei nº 9.528/1997, em seu art. 86, § 2º, impede
a cumulação de qualquer benefício de aposentadoria com o
auxílio-acidente.
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- Sendo o autor beneficiário de aposentadoria por tempo de
serviço desde 28/8/1996, e considerando-se como dia do
acidente a data da apresentação do laudo médico-pericial em
juízo, no caso, 22/10/1998 (fls. 84), deve ser aplicado o comando
da lei nº 9.528/1997, que dando nova redação ao art. 86, § 2º da
Lei 8.213/1991, vedou expressamente a cumulação do
auxílio-acidente com qualquer aposentadoria.
- Recurso parcialmente conhecido e desprovido."
(REsp nº 402.594/SP, Relator o Ministro JORGE SCARTEZZINI ,
DJU de 3/2/2003)

Em novo giro, a par de a pretensão não ter sido devidamente


fundamentada quanto ao inciso IX do art. 485 do Código de Processo Civil, não
vislumbro erro de fato a autorizar o manejo da ação rescisória.

Com efeito, "devem estar presentes os seguintes requisitos para que se


possa rescindir sentença por erro de fato: a) a sentença deve estar baseada no erro de
fato; b) sobre ele não pode ter havido controvérsia entre as partes; c) sobre ele não
pode ter havido pronunciamento judicial; d) que seja aferível pelo exame das provas já
constantes dos autos da ação matriz, sendo inadmissível a produção, na rescisória, de
novas provas para demonstrá-lo" (Código de Processo Civil Comentado e Legislação
Extravagante, Ed. Revista dos Tribunais, 9ª ed., Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de
Andrade Nery, p. 681).

Na hipótese, a questão relativa à época em que teria eclodido a moléstia


incapacitante foi debatida nos autos, tendo o aresto rescindendo enfatizado que o
Tribunal de origem não assegurou que a incapacidade deu-se anteriormente à vigência
da Lei nº 9.528/1997.

Ante o exposto, julgo improcedente o pedido.

Fixo os honorários advocatícios em 10% sobre o valor da causa.

É como voto.

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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA SEÇÃO

Número Registro: 2006/0078627-0 AR 3535 / SP

Números Origem: 200500411491 30098 6685240

PAUTA: 14/05/2008 JULGADO: 14/05/2008

Relator
Exmo. Sr. Ministro HAMILTON CARVALHIDO
Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. WAGNER NATAL BATISTA
Secretária
Bela. VANILDE S. M. TRIGO DE LOUREIRO

AUTUAÇÃO
AUTOR : JOSÉ FRANCISCO DA SILVA
ADVOGADO : IVANIR CORTONA E OUTRO(S)
RÉU : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

ASSUNTO: Previdenciário - Benefícios - Ação Acidentária - Redução da Capacidade Auditiva -


Disacusia

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Seção, por unanimidade, julgou improcedente a ação rescisória, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Paulo Gallotti (Revisor), Arnaldo Esteves Lima,
Maria Thereza de Assis Moura, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Jane Silva
(Desembargadora convocada do TJ/MG) e Nilson Naves.
Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Felix Fischer.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.
Brasília, 14 de maio de 2008

VANILDE S. M. TRIGO DE LOUREIRO


Secretária

Documento: 781071 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/08/2008 Página 1 6 de 16

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