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INTERVENÇÃO FAMILIAR
Aline Siqueira1
RESUMO
Palavras-chave: Família. Intervenção familiar. Comunicação com a família. Modelo para Assistência
familiar. Comunicação terapêutica.
ABSTRACT
The family remains the fundamental unit of society, it is a privileged space for human
relations. It is in this scenario that the communication between the family members and the
health professional assumes a character of increasingly important importance for the well-
being of coexistence. It is with this small group that the nurse has to interact giving his
contribution to the health of its members. It was found that the therapeutic interpersonal
relationship with the family becomes effective as long as there is agreement between both
parties, understanding, acceptance, honesty, trust and commitment of those involved.
However, this will only occur if the health professional is willing to listen to family members
and understand their reality. In this way, this study demonstrated that to perform care for
families, nurses need to have a protocol of actions to guide their routine, so that can deal with
the range of situations that arise without losing sight of the whole.
Keywords: Family. Family intervention. Communication with the family. Family Assistance
Template. Therapeutic communication.
1
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INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
3. REVISÃO DE LITERATURA
predominante é de que o profissional que vai trabalhar com a família tem que estar preparado
para ouvi-la, aceitá-la e compreendê-la, em sua singularidade e complexidade.
Somente será possível conhecer e ajudar a família se o profissional de saúde se
dispuser a ouvi-la reflexivamente e entender sua realidade, pois, apesar de muitos problemas
vivenciados dentro das famílias serem comuns, cada uma delas possui sua individualidade,
suas peculiaridades na forma de conhecer, perceber, sentir e reagir e das situações inesperadas
ou inesperadas. Corroborando as afirmações de Waidman e Stefanelli é possível afirmar que,
no trabalho com o pequeno grupo família, tudo isso torna-se possível quando o profissional
consegue desenvolver a compreensão empatia dos fenômenos que a família vivencia e os
comunica por meio das relações interpessoais do grupo.2,3
Assim sendo, para o desempenho do cuidado às famílias, o enfermeiro precisa ter um
referencial para nortear suas ações, para que possa lidar com a gama de situações que surgem,
sem perder a visão do todo, que constitui o processo de viver em família. Ele deve trabalhar
com as situações do aqui e do agora da família, englobando todas as suas atividades
cotidianas. Pode-se dizer que o passado está presente nas ações do aqui e do agora da família
e que o enfermeiro o leva em conta ao preparar a família para enfrentamentos do momento
atual e futuro. Isso é conseguido à medida que o cuidado que a família tem de si mesma a
autonomia entre seus componentes passam a ser estimulados dentro de um clima empático de
confiança e respeito mútuo nas tomadas de decisão diárias5.
Nesta revisão são apresentados alguns passos a serem utilizados no relacionamento
com a família e a utilização das estratégias de comunicação que têm sido adotadas com ela
nos últimos anos.
O referencial teórico utilizado é o proposto por Joyce Travelbee 2: a teoria interpessoal,
que foi adaptada para o trabalho com famílias. Além dessa adaptação, utilizou-se também
como referencial a comunicação terapêutica apresentada por Stefanelli 3. Assim, o trabalho a
ser desenvolvido é uma atividade continua que envolve em média dez encontros, semanais e
programados com as famílias, os quais podem ocorrer no domicílio, nos ambulatórios, nos
hospitais, nas creches ou em outros locais.
A comunicação e o relacionamento com uma pessoa são diferentes da comunicação e
do relacionamento com a família ou com um grupo de pessoas ao mesmo tempo, por isso o
profissional precisa habilitar-se para esse tipo de comunicação e relacionamento. A empatia
que se desenvolve no grupo é diferente daquela que ocorre entre duas pessoas, e muitos
2
A esse respeito, a Teoria da Relação Interpessoal, de Joyce Travelbee, descreve a enfermagem como um
processo interpessoal, em que o cuidar do paciente encerra um aspecto profissional, a relação enfermeira-
paciente.
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profissionais precisam se adaptar e se habilitar para esse processo grupal. Mas, a partir da
experiência obtida em trabalhar com famílias, deve-se ressaltar que a empatia é apenas um
dos aspectos relevantes a ser levado em consideração na relação interpessoal ou na interação
didática comparada com a relação grupal ou familial1,3.
Para o desenvolvimento do protocolo de assistência com as famílias, inicialmente o
profissional de saúde precisa levar em consideração alguns pressupostos, que são descritos a
seguir1,3.
1. Ter um conceito claro do que é família - para minimizar o efeito de suas concepções
no trabalho que vai desenvolver
2. Adotar um referencial teórico que permita manter suas ações em torno de um eixo
norteador
3. Aceitar ou estimular o desenvolvimento da independência e autonomia da família
4. Construir de forma compartilhada com a família os objetivos e as metas a serem
efetivados para a satisfação de suas necessidades
5. Saber que cada ser humano e cada família são únicos.
6. Estar consciente de que a comunicação é fundamental para a saúde da família -
física e mental.
7. Ter claros a definição de seu papel e os objetivos a serem atingidos no cuidado da
família.
8. Conscientizar-se de que a comunicação com a família deve envolvê-la como um
todo e não apenas alguns de seus componentes
É necessário, portanto, estabelecer um conceito de família para o desenvolvimento da
comunicação e o relacionamento com ela. Se o conceito adotado estiver claro, ele servirá de
eixo para a coerência da conduta do profissional de saúde no processo comunicativo com a
família.
Adotou-se o conceito de família proposto por Nitschke 4, porque retrata a concepção
que as próprias famílias têm do que seja família:
A escolha pela adoção desse conceito tem vários motivos: é um conceito construído
pelas próprias famílias: é amplo e envolve aspectos de várias teorias, como a interpessoal, a
sistêmica e a interacionista, nas quais está fundamentado o trabalho que a autora desenvolve
com as famílias6. Esse trabalho guarda semelhança com o que está sendo desenvolvido, pois
aborda a orientação, a educação, os sentimentos da família, a valorização da cultura, o
respeito à individualidade da família, entre outros fatores. Além disso, é possível perceber que
a concepção de família, para ela mesma, é algo muito complexo5.
Pode-se dizer também que a convivência e as relações familiares também são
complexas, pois dependem de cada ser humano e das vivências da família como um todo, o
que envolve crenças, valores e costumes. As dificuldades enfrentadas na convivência dos
família- res, que engloba suas relações, são mais intensas quando há, em seu interior, a
presença de transtorno mental em um de seus membros. Isso não significa preconceito, mas,
segundo as próprias famílias esse fato acontece pela dificuldade de comunicação que se
instala na presença do transtorno mental5.
Para a elaboração do protocolo de assistência junto ao paciente e seus familiares tem-
se usado como referencial teórico a adaptação feita por Waidman 2 a partir da teoria de
Travelbee. Esse referencial está dividido em quatros etapas: 1-encontro inicial, 2-
comunicação com a família no contexto de sua realidade, 3- desenvolvimento do
relacionamento com a família e 4- desvinculação da família, descritas a seguir.
A-Protocolo de ações
1-Encontro inicial
Contempla desde o momento em que o enfermeiro decide cuidar de determinada
família até quando ela começa efetivamente a desenvolver as ações necessárias. Nessa etapa,
o enfermeiro precisa fundamentar-se nos referenciais teóricos sobre comunicação humana que
utilizará, nas estratégias de comunicação terapêutica e de relacionamento com a família, além
de ter claros os resultados esperados que deverão ser alcançados com essa família2.
O enfermeiro inicia sua atuação com a família apresentando-se, dizendo seu nome e
sua função, utilizando crachá de identificação; a seguir esclarece como obteve o endereço da
família. No caso de visita domiciliaria, deve esclarecer os objetivos da visita, ou seja, firmar o
compromisso de cuidado com a família, combinando os dias e horários para realizar os
futuros encontros, levando em conta sempre o melhor horário para se reunir e estar com toda a
família, e informar sobre como se dará o término da intervenção. Ele deve rever com a família
9
os resultados esperados a serem considerados para que não haja dissonância entre o que a
família almeja e os objetivos do enfermeiro. Também deve estar sempre atento à compreensão
das informações dadas pela família e manter-se alerta para perceber quando é necessário o uso
das estratégias de comunicação de validação2.
Essa primeira interação é fundamental para o desenvolvimento das demais, pois, caso
a família fique com uma impressão negativa do enfermeiro, as interações subsequentes
poderão ficar comprometidas. É nesse momento que o enfermeiro percebe seus primeiros
sentimentos em relação à família e estes devem ser analisados, porém sem manifestá-los. Isso
não quer dizer que os sentimentos devam permanecer ocultos ou não devam existir; deve-se
lembrar sempre que eles afloram quando dois seres humanos ou mais enfrentam uma situação
nova ou não. É preciso, entretanto, que o profissional os examine e torne-se consciente da
existência deles para que não tenham efeito prejudicial no processo de comunicação que se
estabelece, mantendo-se atento a sua comunicação não verbal, porque nem sempre se tem
controle consciente sobre esse tipo de comunicação e é, entretanto, por meio dela que mais se
transmite as impressões e os sentimentos dos individuos5.
Outro ponto importante dessa etapa é a compreensão que o enfermeiro tem de família,
pois nem sempre a estrutura e o tipo de família que encontrará são parecidos com o que
imagina, conhece ou idealiza.
O enfermeiro deve estar cônscio de suas expressões verbais e não verbais ao se
comunicar com essa família para não demonstrar julgamento das manifestações de
comportamento que observa, os sentimentos e pensamentos que são expressos e a forma como
os familiares lidam com a situação. A atitude de julgamento pode prejudicar todo
relacionamento e a assistência que serão desenvolvidos com a família2.
2- Comunicação com a família no contexto de sua realidade
Nessa etapa, a comunicação entre o enfermeiro e a família torna se mais intensa e
profunda. Ela é constituída de três pontos-chave: vivência do paradoxo, vivência da ansiedade
e da angústia e vivência da tomada de consciência3.
A vivência do paradoxo foi assim denominada pela gama de sentimentos e
pensamentos antagônicos que surgem em relação à situação encontrada nas famílias e também
em relação às atividades que serão desenvolvidas com elas. Por exemplo, a diferença
percebida nas famílias, ou nos seus componentes, quando recebem o profissional - alegres e
tristes ao mesmo tempo -, faz com que ele reflita sobre os próprios conceitos e costumes, e
sobre o fato de esperar as coisas sempre como certas, como se soubesse de tudo, e colocando
em cheque o poder con- ferido pelo saber, situação muito comum em instituições nas quais os
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também pelas manifestações de comportamentos como entrar pela porta da cozinha, levar até
um cômodo íntimo da casa, mostrar fotos, objetos íntimos da família, entre outros4,5.
Estabelecer uma assistência programada sob a forma de grupo com familiares é muito
diferente de fazer visitas domiciliárias a uma pessoa da família, pois em grupo é possível
compartilhar a realidade a partir da visão de cada um. Sabe-se que, apesar de viverem juntos e
serem da mesma família, cada membro tem anseios, objetivos e desejos diferentes entre si,
ainda que haja muita coisa em comum. A força da família deve ser explorada pelo
profissional ao propor a assistência2.
A empatia que surge no decorrer da assistência com famílias permite ao profissional
de saúde visualizar com mais clareza como esse grupo vivencia a experiência em busca de
mais saúde. Na tentativa de sentir as concepções e as vivências do grupo, o enfermeiro
transmite a seus membros sua compreensão empática da situação, o que leva cada um deles a
se sentir mais confiante e seguro, diminuindo sua resistência a receber ajuda. Para que isso
ocorra é requerida sensibilidade constante2,3.
4- Desvinculação da família
A família deve ser avisada dessa etapa já na primeira interação, deixando claro o
número de encontros e qual a data da última reunião (10 encontros). Quando esse dia se
aproximar, ele deve ser lembrado para que a família possa se preparar para a separação. Isso
deve acontecer, porque o vínculo que se forma entre o enfermeiro e a família é muito forte e o
rompimento brusco pode acarretar o agravamento da saúde mental da família e todo o
trabalho desenvolvido pode ser combalido9.
A característica principal dessa etapa é a avaliação do trabalho realizado em conjunto
com a família. São levadas em consideração:
• as metas alcançadas e aquelas que não foram verificando junto a família como ela irá
fazer para alcançá-las,
• a obtenção dos resultados esperados;
• a satisfação da família e do enfermeiro;
• a reflexão sobre a importância da comunicação e da relação interpessoal aberta na
família.
A família deve sentir-se segura para procurar ajuda, quando necessário, em local
determinado, cujo endereço deve ser oferecido pelo enfermeiro.
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4. RESULTADOS
Foram encontrados um total de 22 artigos dos quais foram selecionados para a
presente pesquisa um total de 10 artigos que se enquadram nos critérios de inclusão e estão
descritos no quadro 1. Foram excluídos 12 artigos por não estarem de acordo com os critérios
de inclusão.
Quadro 1- Apresentação dos artigos segundo Título, Ano, Tipo de Estudo, Objetivo,
Tipos de intervenção e Resultados, São Paulo, SP- 2021
Maringá.
Comunicação entre 2013 Revisão Analisar o Análise A boa
com o paciente: teoria integrativa diagnóstico em de comunicação
e ensino distintos contextos estudos entre a equipe
clínicos, geralmente de caso de enferma-
associado ao gem, família e
impedimento verbal paciente é
(Stefanelli et. al) por barreiras essencial para a
físicas, tais condução dos
protocolos de
assistência.
5. DISCUSSÃO
Diante dos estudos selecionados para amostra nesta revisão chegou-se ao consenso que
os aspectos de comunicação terapêutica de enfermagem na interação familiar contribuem
diretamente no prognóstico do paciente. Observou-se nos estudos que o enfermeiro tem o
papel de grande importância na dinâmica familiar, podendo assim intervir com ações
terapêuticas para que a família fique em harmonia com as suas relações e conflitos. Quando o
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profissional de saúde interage com a família, por mais que lhe esclareça os objetivos e
explique a forma de agir, diversas vezes seus membros pensam que a presença do enfermeiro
e o desenvolvimento da interação podem trazer-lhes alguns benefícios, além dos que foram
propostos inicialmente.
É muito importante também que o enfermeiro demonstre que a comunicação deve ser
um ato coletivo e grupal e que tudo que for realizado na intervenção familiar é sigiloso, para
que assim, a família sinta-se acolhida e livre para retirar suas dúvidas junto ao cuidado com o
paciente.
Levar as famílias ao entendimento da complexidade comunicacional que envolve a
enfermagem na intervenção família-paciente favorece a valorização do profissional e a busca
por habilidades para cumprir melhor os objetivos de sua aplicação.
CONCLUSÃO
com a família se torna efetiva desde que haja acordo entre ambas as partes, compreensão,
aceitação, honestidade, confiança e compromisso dos envolvidos para que o protocolo de
assistência seja cumprido nas sessões de atendimento. No que tange ao profissional de saúde o
mesmo deve ser solícito e dispor de estratégias de comunicação para lidar com o paciente e
seus familiares e desempenhar as ações contidas no protocolo para que sua rotina tenha
sequência, organização e ao chegar ao final das sessões tenha um retorno positivo que possa
ser continuado tanto no âmbito clínico e se for conveniente no domiciliar também, tudo
dependerá dos resultados da aplicação do protocolo e da gama de possibilidades que este
agregar na melhoria dos serviços em saúde.
REFERÊNCIAS
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uma proposta inicial de sistematização conceitual, in: ElsenI; Marcon SS, SILVA
MRR (orgs). Maringá: Eduem, 2014.
20
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Robe, 2013.
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integrativa. ISSN 2318-8413 seer.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/refacs.
REFACS (online) 2016; 4(2):135-144.
7. Lúcio, K.D.L., Brandão, M.G.S.A., Aguiar, D.V., Silva, L.A., Caetano, J.A. & Barros,
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