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UNIDADE 2

Integração e blocos econômicos


regionais

Objetivo de aprendizagem
2
„„ Entender o processo de integração econômica e sua
importância no contexto econômico-financeiro internacional.

Seções de estudo

n Seção 1 Por que os países formam blocos econômicos?


n Seção 2 Quais são os Estágios de Integração?
n Seção 3 Exemplo de Integração Total
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Como você estudou na unidade anterior, uma característica


importante da economia mundial é a crescente interdependência
entre as economias domésticas. Nas últimas décadas, as
relações comerciais e as transações financeiras aumentaram
significativamente.

Na verdade, o comércio internacional cresceu tornando as taxas


maiores que o crescimento do PIB mundial.

Além da questão financeira, a globalização da economia tem


consequência na estrutura produtiva. Este é o tema desta
unidade.

O aumento do comércio mundial cresce em velocidade superior à


produção. O aumento do comércio internacional tem como uma
característica importante o fato de que as mercadorias estão se
tornando cada vez mais parecidas, o que exige similaridade nas
tecnologias de produção.

Também é possível observar que as empresas multinacionais ou


transnacionais internacionalizam sua produção, fabricando partes
ou componentes de seus produtos em países diferentes, e com
isso, aproveitando as condições mais favoráveis de cada um deles.

Nesta unidade, você vai aprender sobre integração econômica e


sua importância como elemento dinamizador do comércio entre
As barreiras comerciais são um conjunto as nações.
de instrumentos que o governo de um
pais adota para controlar o comércio
internacional, tais como tarifas,
subsídios, quotas de importação, licenças Seção 1 - Por que os países formam blocos econômicos?
de importação e controle sanitário.
O controle sanitário é uma barreira
não tarifaria assim como padrões de Em primeiro lugar, é importante que você perceba que o livre
segurança, são formas que podem comércio traz benefícios significativos às economias domésticas.
dificultar ou mesmo impedir o comércio
internacional. Em outras palavras, o comércio sem barreiras é vantajoso para
todos os países. Mas nem sempre os países transacionam seus
produtos sem barreiras. Diga-se de passagem, muito raramente!

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Finanças internacionais

Você pode notar que, ao longo do último século,


sucessivas rodadas de negociações internacionais
vêm, com algum êxito, diminuindo as barreiras
protecionistas erguidas pelos países para defender
seus interesses.

E paralelamente, ocorre a formação de blocos regionais


(Mercosul, União Européia, Nafta, entre outros). Muitos autores
argumentam que a formação da União Européia deu-se mais por
razões políticas do que econômicas e comerciais.

Breve histórico do processo de formação da União Européia


No último século, a Europa foi o principal palco de duas guerras
mundiais. Ao final da Segunda Guerra Mundial, o mundo estava
polarizado entre Estados Unidos e União Soviética. Esta polarização
deu início à chamada Guerra Fria. A Europa encontrava-se no meio
do conflito. Daí, segundo alguns teóricos, a melhor forma de se
proteger das influências americana e/ou soviética era através da
união política e econômica. O processo de integração da Europa
teve início em 1951, com acordos que resultaram na Comunidade
Européia do Carvão e do Aço (CECA). Este primeiro tratado visava ao
livre comércio de carvão e aço entre os países signatários. O processo
ficou ainda mais forte com o Tratado de Roma (1957), que estendeu
o livre comércio a todos os produtos e instituiu a Comunidade
Econômica Européia (CEE). Os primeiros países a aderir foram:
Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Em 1972,
Reino Unido, Dinamarca e Irlanda aderiram ao acordo. A Grécia foi
incorporada em 1979. Portugal e Espanha em 1985. Áustria, Suécia
e Finlândia somente passaram a fazer parte da União Européia em
1995. Em 1° de Maio de 2004 entraram para União Européia: Estônia,
Eslovênia, Polônia, Lituânia, Letônia, República Tcheca, Eslováquia,
Chipre, Hungria e Malta. Atualmente, a Turquia está prestes a entrar.
Lembre-se que nem todos esses países fazem parte da chamada
“Zona do Euro”

Você sabe o que é Zona do Euro?


A Zona Euro, oficialmente Área do Euro (também
referenciada como Eurozona, Euro-Área ou ainda
Eurolândia) refere-se a uma união monetária dentro
da União Europeia, na qual alguns Estados-membros
adotaram oficialmente o Euro como moeda comum. A
área monetária é constituída por 16 membros dentro
da União Europeia e mais 9 fora dela.

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Os blocos têm como principal vantagem aumentar as facilidades


de negociação e regras próprias estabelecidas pelos países
membros.

Com isso, procura-se preservar espaços regionais da competição


internacional, ao mesmo tempo em que se buscam aumentos de
produtividade para as empresas pertencentes a um determinado
bloco.

Seção 2 - Quais são os Estágios de Integração ?


As nações independentes, atualmente, procuram se integrar
através de acordos firmados em função de seus interesses
recíprocos.

Há diversos estágios de integração e alguns autores apresentam


tais estágios de maneira mais simplificada e outros de maneira
mais completa.

Você conhecerá, a seguir, a classificação mais completa sob o


ponto de vista teórico, na ordem do estágio onde há menos
integração (e menos interdependência) para o estágio no qual há
mais integração (e mais interdependência):

Zona ou área de livre comércio:


países membros concordam em eliminar as barreiras sobre o comércio recíproco. Mas, as políticas
em relação aos países não membros são independentes.

União Aduaneira:
além da eliminação das barreiras comerciais, os países membros passam a adotar política
comercial uniforme em relação a países não membros.

Mercado comum:
tem os mesmos preceitos da União Aduaneira somados com a livre movimentação dos fatores de
produção (capital e trabalho).

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Finanças internacionais

União monetária ou união econômica:


tem as mesmas características do Mercado Comum e harmonização da política monetária, ou seja,
uma moeda comum.

Integração econômica total:


além da União Monetária, prevê também harmonização de todas as políticas econômicas.

Figura 2.1 - Estágios de Integração


Fonte: Elaboração dos autores (2009).

Observe que esta é uma classificação usual e a descrição


apresentada de forma progressiva somente para fins didáticos.
Mas é importante você saber que, não necessariamente, um
processo de integração entre países precisa se dar nesta ordem.

A implementação destes blocos é tarefa árdua. É


um processo delicado, demorado e que envolve
significativos custos. Isto, pois envolve modificações
nas estruturas econômicas, produtivas, jurídicas e
tributárias dos diferentes países.

No que se refere aos estágios de integração, você deve ter


percebido que à medida que há maior integração entre países,
também se reduz a soberania destes sobre suas políticas
econômicas. Assim, a maioria dos projetos de integração visa
apenas à formação de uma Zona de Livre Comércio.

A ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) é um projeto


que prevê que os produtos feitos nos países das Américas (à
exceção de Cuba) sejam transacionados sem nenhum tipo de
barreira comercial, como impostos de importação.

Já no caso do Mercado Comum, a idéia central é que haja livre


mobilidade de fatores de produção. Ou seja, há liberdade de
enviar capital para um país membro e os trabalhadores podem
escolher trabalhar em qualquer dos países membros. O Mercosul
visa se tornar um mercado comum, mas, por enquanto, enquadra-
se na categoria de União Aduaneira.

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Mais um pouco de história da União Européia


Até a década de 1970, países como Portugal,
Espanha e Irlanda eram considerados os mais
pobres da Europa Ocidental. Com a formação
do Mercado Comum Europeu, o capital de
habitantes de países mais ricos como Alemanha,
Inglaterra e França se deslocou para aqueles países
visando maior remuneração. Da mesma forma,
trabalhadores destes países puderam buscar
mais renda e qualificação nos países mais ricos da
Europa. A conseqüência é que hoje estes países
apresentam crescimento econômico expressivo,
melhor índices sociais e mais qualidade de vida.

Uma ampla discussão a respeito da criação de blocos econômicos


refere-se às possíveis vantagens e desvantagens advindas da
criação de um bloco econômico. As vantagens são chamadas de
criação de comércio e as desvantagens são chamadas de desvio
de comércio. Acompanhe a seguir como se refere cada uma.

„„ Criação de comércio refere-se ao fato de que o


volume de comércio entre os países membros e o
valor dos produtos comercializados aumentam. Isto
seria positivo para os países membros, pois os países
comprariam somente aquilo que é mais vantajoso em
comparação à produção própria. Quando um país
importa, por exemplo, ele está despendendo menos
recursos produtivos na produção de um bem do que se o
produzisse internamente.
„„ Desvio de comércio significa que, pelo fato de
existir uma barreira protecionista para certo produto
proveniente de países fora do bloco, torna-se vantajoso
produzir este produto dentro do bloco. Mas, é
importante notar que isto é uma distorção, pois seria
mais barato para os países de dentro do bloco importar
este produto sem barreiras protecionistas.

Imagine um determinado produto que é produzido


pelos três países. O custo de se produzir no Brasil é
de US$ 100,00, na Argentina de US$ 84,00 e nos EUA
de US$ 72,00. Logo, o Brasil é o país com a produção
menos eficiente deste produto.

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Tabela 2.1 – Situação hipotética de livre comércio

Brasil Argentina USA


Livre Comércio 100,00 84,00 72,00
Tarifa 25% 100,00 105,00 90,00
Tarifa 50% 100,00 126,00 108,00

Fonte: Elaboração dos autores (2009).

**** Neste exemplo, para fins de simplificação estamos desconsiderando valores com
fretes e seguros.

Assim, numa situação hipotética de livre comércio entre os três


países, seria natural que o produto fosse importado dos EUA,
pois a população pagaria o menor preço.

Caso o Governo brasileiro desejasse proteger os produtores deste


produto e impusesse uma tarifa de 50% sobre o preço do produto
importado, então, o produto nacional seria o mais barato e seria o
consumido pela população.

Mas, como há Mercosul, então, o produto argentino não está


sujeito à tarifa, logo o preço dele no Brasil será o mesmo cobrado
na Argentina. Ou seja, há criação de comércio. Mas, como o
Mercosul impõe barreiras aos produtos norte-americanos, então,
este fica mais caro e é preterido pela população (embora sejam
mais eficientes). Logo, há desvio de comércio.

Em suma, conclui que

o bem-estar de uma sociedade aumenta se houver mais


criação de comércio do que desvio de comércio já que ela
terá acesso a produtos mais baratos. Mas se houver mais
desvio de comércio do que criação de comércio, então, o
bem-estar de uma sociedade tenderá a diminuir.

Quais as vantagens da integração econômica?

As vantagens são:

a) maior aproveitamento das vantagens comparativas


regionais: pode ser obtida pela especialização dos países

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membros naqueles produtos nos quais são mais eficientes,


ou seja, onde a produção tem menores custos unitários;

b) criação de economias de escala: economias de escala


referem-se à situações onde quanto maior a produção,
menor tende a ser o custo unitário ou médio. Como
uma área de livre comércio resulta na formação de um
mercado maior, o que pode induzir a um maior nível de
produção e, por conseqüência, economias de escala;

c) possibilidade de oferta de maior variedade de


produtos: com a integração econômica, o tamanho
do mercado aumenta e possibilita a existência de uma
maior variedade de produtos (diferenciados/sofisticados)
resultando em preços menores e maior bem-estar social;

d) maior concorrência intra-regional: com um mercado


maior, maior também será a concorrência. Logo, isto
tende a favorecer a sociedade, pois mais concorrência
significa preços menores e maior qualidade.

Seção 3 - Exemplo de Integração total

O processo de Integração Total, na verdade, limita-se à


integração monetária, como ocorre na União Européia.

A) O Euro (€)

A União Econômica e Monetária (UME) representa um grande


avanço no sentido de uma integração política e econômica
européia. Este avanço foi dado com a introdução do Euro em
substituição às moedas nacionais.

O Euro é uma moeda que representa um cesta de moedas. As


moedas de maior peso nesta cesta são o marco alemão, o franco
francês e o florim holandês. As moedas com menos peso é o
dracma grego.

Uma moeda comum implica, entre os países signatários, uma


estabilidade cambial e uma política monetária comum. Logo,
cada país perde individualmente a política monetária como

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ferramenta de gestão da política econômica e de ajuste das


economias domésticas, pois não podem mais manipular nem a
taxa de juros nem a taxa de câmbio.

Uma moeda única requer também um conjunto de instituições


(um Banco Central Europeu) e regras fiscais comuns.

Mas, para fazer parte da UME, os países têm que obedecer


determinados critérios especificados no tratado de Maastricht,
como por exemplo:

„„ inflação anual não superior a 1,5% acima da taxa média


dos três países com menor inflação;
„„ taxa de juros não superior a 2% acima da taxa média dos
três países com menor inflação;
„„ dívida pública menor que 60% do PIB.

Quais as vantagens da União Monetária?

Pode-se considerar que a União Monetária:

„„ contribui para aumentar o volume de comércio, já que


uma moeda única permite que os consumidores possam
comparar preço em diferentes lugares, o que aumenta a
concorrência;
„„ reduz a inflação e as taxas de juros, já que há mais
concorrência;
„„ aumenta o poder político da União Européia, já que
eles passaram a emitir uma moeda conversível capaz de
rivalizar com o dólar americano.

E quais as desvantagens da União Monetária?

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Diante dessa situação, a União Monetária apresenta algumas


desvantagens, tais como:

„„ os países perderam a taxa de câmbio como mecanismo de


ajuste. Muitas vezes, visando aumentar as exportações
de suas empresas, os governos desvalorizam a moeda
doméstica. Mas, com a União Monetária, perderam
esse importante mecanismo de ajuste do balanço de
pagamentos;
„„ perda da política monetária como instrumento de
administração da economia. Além de perder o direito de
gerir a taxa de câmbio, o país perde também a capacidade
de manipular a taxa de juros interna, já que esta passa ser
determinado regionalmente.

B) Mercosul

A idéia do Mercado Comum do Sul (Mercosul) deu-se a partir


do Tratado de Assunção, assinado entre Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai. O Mercosul, na prática, foi precedido por
acordos bilaterais entre Brasil e Argentina.

Em julho de 1986, os países assinaram a Ata para Integração


Argentino-Brasileira. Dois anos depois, assinaram o Tratado
de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, cujo objetivo
principal era instituir o livre comércio entre os dois países num
prazo máximo de dez anos. Você já deve ter percebido que, até
esse momento, o projeto ainda não teve o sucesso esperado.

De fato, o Mercosul foi criado com o Tratado de Assunção em


1991, com as seguintes premissas:

„„ livre circulação de bens, serviços e fatores de produção;


„„ estabelecimento de uma tarifa externa comum (TEC);
„„ coordenação de política macro e microeconômicas em
conjunto;
„„ compromisso de harmonização das legislações referentes
às áreas de comércio, trabalhista, econômica, fiscal e
financeira.

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Finanças internacionais

A idéia principal era que houvesse uma longa fase de transição,


para minimizar o impacto sobre os agentes econômicos. Mas,
percebe-se que se está longe sequer de uma fase de transição.

Apesar do nome, o Mercosul está longe de ser um mercado


comum, como você aprendeu anteriormente. Mas há algumas
explicações para o fato de o Mercosul ainda não ter tido sucesso.

Em essência, ao contrário do que acontece na União Européia,


há muitas diferenças entre os países. O Brasil apresenta o maior
PIB (aproximadamente, 70% do PIB do Mercosul) e a maior
população (aproximadamente 80%). Além do mais, o Brasil tem
um parque industrial moderno e sofisticado, o que representa
um temor para os outros países. Em contrapartida, é o Brasil que
apresenta os piores indicadores sócio-econômicos.

Além disso, outros fatores têm contribuído, ao longo do tempo,


para que o Mercosul não deslanche. Primeiro, destacamos o
fato de que os países-membros têm tido alguns problemas
econômicos internos.

O Brasil tinha o problema da inflação elevada, que só foi


resolvido em 1994, com o Plano Real. A Argentina durante
uma década utilizou uma âncora cambial, que atrelava o peso ao
dólar, o que levou o país a um sério problema macroeconômico
em 2002. Politicamente, o Paraguai viveu várias crises na última
década.

Com isso, pode concluir que os problemas internos de cada país


são prioritários, o que faz com que o Mercosul seja preterido.

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Síntese
Nesta unidade, você estudou sobre o processo de integração.

O principal objetivo da integração é aumentar as relações


comerciais e econômicas das nações envolvidas. Com isso, os
países podem obter diversos benefícios do livre comércio.

Dando sequência ao estudo, na próxima unidade você vai estudar


sobre a globalização financeira. Até lá!

Atividades de auto-avaliação
Efetue as atividades de auto-avaliação e, em seguida, acompanhe as
respostas e comentários a respeito no final deste livro didático. Para
melhor aproveitamento do seu estudo, realize a conferência de suas
respostas somente depois de fazer as atividades propostas.
Leia com atenção aos enunciados e realize a seguir as atividades.
1. Qual a razão pela qual os países formam blocos econômicos?

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2. Na sua opinião, por que o bloco europeu teve mais sucesso do que o
bloco econômico sul-americano?

Saiba mais
Uma boa opção de leitura são as bibliografias seguintes:

CARVALHO, Maria; SILVA, César L. Economia


Internacional. São Paulo: Saraiva, 2000.

KRUGMAN, Paul; OBSTEFELD, Maurice. Economia


Internacional. São Paulo: Makron, 2000.

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