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ÍNDICE

PREFÁCIO Á 42 EDICÃO 11
2
NOTA INTRODUTÓRIA Á 2 EDIÇÃO 13
PREFÁCIO- CARLOS DOS SANTOS DUARTE 15
PARTE I INTRODUÇÃO 17
PARTE 11 A MORFOLOGIA URBANA 35
2.1 A MORFOLOGIA URBANA 37
2 .2 AFORMAURBANA 41
• FORMA E CONTEXTO 46
• FORMA E FUNÇÃO 48
• FORMA E FIGURA 54
2.3 PRODUÇÃO E FORMA DA CIDADE E PRODUÇÃO E FORMA DO
TERRITÓRIO 63
• O TERRITÓRIO COMO SUPORTE DA ARQUITECTURA 63
• ALARGAMENTO DA NOÇÃO DE FORMA URBANA 63
• A PAISAGEM COMO OBJECTO ESTÉTICO, A PAISAGEM COMO
ARQUITECTURA E A ESTÉTICA DA PAISAGEM NATURAL 66
• FORMA URBANA E FORMA DO TERRITÓRIO 70
2.4 DIMENSÕES ESPACIAIS NA MORFOLOGIA URBANA 73
• DIMENSÃO SECTORIAL - A ESCALA DA RUA 73
• DIMENSÃO URBANA - A ESCALA DO BAIRRO 74
• DIMENSÃO TERRITORIAL - A ESCALA DA CIDADE 74
2.5 OS ELEMENTOS MORFOLÓGICOS DO ESPAÇO URBANO 79
• O SOLO - O PAVIMENTO 80
• OS EDIFÍCIOS - O ELEMENTO MÍNIMO B4
• O LOTE - A PARCELA FUNDIÁRIA 86
• O QUARTEIRÃO 88
• A FACHADA - O PLANO MARGINAL 94
• O LOGRADOURO 98
• O TRAÇADO, A RUA 98
• A PRAÇA 100
• O MONUMENTO 102
• A ÁRVORE E A VEGETAÇÃO 106
• O MOBILIÁRIO URBANO 108
2 .6 EVOLUÇÃO DO TERRITÓRIO 111
• O DOMÍNIO DAS TRANSFORMAÇÕES DO TERRITÓRIO 112
• MECANISMOS DAS TRANSFORMAÇÕES DO TERRITÓRIO 114
2.7 NÍVEIS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO 121
2.8 URBANISMO E ARQUITECTURA 125
(O DESENHO URBANO ENTRE O PLANEAMENTO E O PROJECTO DOS EDÍFICIOS) 125
2 .9 EPÍLOGO 129
PARTE III FORMA DAS CIDADES E DESENHO URBANO ATÉ AO PERÍODO MODERNO 131
3. 1 A LIÇÃO DO PASSADO 133
3.2 A MORFOLOGIA URBANA NA GRÉCIA E EM ROMA 139
• A FORMA DAS CIDADES GREGAS 139
• O DESENHO URBANO NA ROMA ANTIGA 144
• O QUARTEIRÃO GREGO E ROMANO 148
3.3 A FORMA URBANA MEDIEVAL 151
• AS MURALHAS 152
• AS RUAS 152
• OS ESPAÇOS PÚBLICOS - A PRAÇA E O MERCADO 154
• OS EDIFÍCIOS SINGULARES 154
• O QUARTEIRÃO MEDIEVAL 154
3..4 O DESENHO URBANO NO RENASCIMENTO E NO BARROCO 167
• AS FORTIFICAÇÕES 170
• A RUA 172
• O TRAÇADO RECTICULAR - A QUADRÍCULA 174
• A PRAÇA 175
• A FACHADA 177
• OS EDIFÍCIOS SINGULARES 179
• O MONUMENTO 184
• O QUARTEIRÃO 188
• OS QUARTEIRÕES DO BAIRRO ALTO 190
• OS QUARTEIRÕES DA BAIXA POMBALINA 190
• ESPAÇOS VERDES 194
• OUTRAS TIPOLOGIAS
(AS INVENÇÕES INGLESAS SO SÉCULO XVIII - O «CRESCENT»
O «CIRCUS>> E O «SQUARE») 194
3.5 DESENHO DE FORMAS URBANAS NO SÉC XIX . 203
• A CONTINUIDADE DO BARROCO E O APERFEIÇOAMENTO
DA CIDADE BURGUESA · 203
• A DESTRUIÇÃO DAS MURALHAS E LIMITES DA CIDADE 204
• O SUBÚRBIO E A PERIFERIA 206
• A ESPECULAÇÃO FUNDIÁRIA SEM DESENHO URBANO 208
• UTOPIAS SOCIAIS 21 O
• EXPERIMENTAÇÃO URBANÍSTICA 210
• PARIS DE HAUSSMANN- TRAÇADOS BARROCOS E QUARTEIRÕES 212
• BARCELONA DE CERDÁ - EXTENSÃO DA QUADRÍCULA
E SUBVERSÃO DO QUARTEIRÃO 216
• AS AVENIDAS DE LISBOA DE RESSANO GARCIA - TRAÇADOS
BARROCOS E QUADRÍCULAS . 221
3 .6 SÍNTESE- APRENDENDO NO PASSADO 227
PARTE IV A URBANÍSTICA FORMAL 229
4.1 INTRODUÇÃO 231
• A DISCIPLINA URBANÍSTICA - DO INÍCIO AO URBANISMO FORMAL
DE ENTRE AS DUAS GUERRAS 231

8
• SILÊNCIO SOBRE A TRADIÇÃO 238
4 .2 OS TRATADISTAS DO INÍCIO DO SÉCULO XX
E A VALORIZAÇÃO DO DESENHO URBANO 249
• STUBBEN E CAMILLO SITIE 249
• UNWIN - A PRÁTICA DO URBANISMO E DO DESENHO URBANO 252
4.3 A ESCOLA FRANCESA - URBANISMO FORMAL E TRADIÇÃO PARISIENSE 259
• TONY GARNIER E A CIDADE INDUSTRIAL 268
• MARCEL POETE E A INVESTIGAÇÃO URBANA 270
• AGACHE E O PLANO DE RIO DE JANEIRO 273
4.4 A URBANÍSTICA FORMAL PORTUGUESA 281
• FARIA DA COSTA E OS BAIRROS DE ALVALADE E DO AREEIRO 284
4 .5 DA URBANÍSTICA FORMAL AO NOVO URBANISMO 293
PARTE V CONFIGURAÇÃO E MORFOLOGIA DA CIDADE MODERNA 295
5.1 INTRODUÇÃO- A CIDADE MODERNA 297
• A QUESTÃO DO ALOJAMENTO (NOVAS TIPOLOGIAS CONSTRUTIVAS,
NOVAS FORMAS URBANAS) 300
• FUNCIONALISMO E ZONAMENTO - A SIMPLIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS 303
• A QUESTÃO FUNDIÁRIA - PARCELAMENTO E SOLO PÚBLICO 304
• O FASCÍNIO PELOS EDIFÍCIOS ISOLADOS 307
• RUPTURA COM A HISTÓRIA 308
• OS NOVOS MATERIAS E TECNOLOGIAS 31 O
5 .2 A CIDADE-JARDIM, O IMPASSE E A IMPLANTAÇÃO DE RADBURN 311
5.3 A «UNIDADE DA VIZINHANÇA»- A SOCIOLOGIA DESENHA A CIDADE 317
5 .4 AS EXPERIÊNCIAS HABITACIONAIS HOLANDESAS- A REFORMA DO QUARTEIRÃO 323
5.5 EXPERIÊNCIAS HABITACIONAIS NA EUROPA CENTRAL
- AS SIEDLUNGEN E AS HOFF 331
5 .6 A CIDADE DOS CIAM E DA CARTA DE ATENAS 337
• AS UNIDADES DE COMPOSIÇÃO DA CIDADE MODERNA 338
• A CARTA DE ATENAS 344
• OS CENTROS HISTÓRICOS E A CIDADE ANTIGA 347
• O CONTROLO DO SOLO E A LIBERTAÇÃO MÁXIMA DO ESPAÇO LIVRE 348
5 .7 LE CORBUSIER- «A UNIDADE DE HABITAÇÃO» E A «CIDADE RADIOSA» 351
5 .8 A URBANÍSTICA OPERACIONAL- A BUROCRACIA CONSTRÓI A CIDADE 361
• DAS IMPLANTAÇÕES RACIONAIS À PLANTA LIVRE 362
• A ESTÉTICA DO PLAN MASSE 370
• O PREDOMÍNIO DAS DISCIPLINAS NÃO ESPACIAIS NO PLANEAMENTO 372
• A URBANÍSTICA OPERACIONAL E O PLANEAMENTO BUROCRÁTICO 376
PARTE VI O «NOVO URBANISMOn 383
6.1 INTRODUÇÃO- DO REPÚDIO DA CIDADE MODERNA AO NOVO URBANISMO 385

9
6 .2 AS CRÍTICAS TEÓRICAS À CIDADE MODERNA 391
• PIERRE FRANCASTEL E HENRI LEFEBURE 391
• JANE JACOBS - A MORTE E A VIDA NAS GRANDES CIDADES AMERICANAS 392
• ALEXANDER - A CIDADE NÃO É UMA ÁRVORE 394
6 .3 (RE)LEITURA VISUAL E ESTÉTICA DO ESPAÇO URBANO 397
• GORDON CULLEN - A MORFOLOGIA E IMAGEM DA ESCALA DE RUA 397
• LYNCH E A IMAGEM DA CIDADE 39B
6.4 REALIZAÇÕES DIFERENTES E EXPERIMENTAÇÕES NOS ANOS SESSENTA 403
6 .5 CRISE ECONÓMICA, GESTÃO URBANA
E VANTAGENS DOS ESPAÇOS TRADICIONAIS 417
6 .6 OS CENTROS HISTÓRICOS (REVALORIZAÇÃO E DESCOBERTA DA CIDADE ANTIGA) 419
6 .7 ROSSI E A «ARQUITECTURA DA CIDADE» 423
6 .B ROBERT KRIER E O «ESPAÇO DA CIDADE>> 427
6 .9 CULOT E LA CAMBRE DE BRUXELAS- RADICALMENTE NO PASSADO 433
6 . 1O TENDÊNCIAS ACTUAIS 439
• O «NOVO URBANISMO» 439
• O IBA EM BERLIM 442
• UMA EXPERIÊNCIA FRANCESA: A ZAC GUILLEMINOT 446
• O «NOVO URBANISMO» EM PORTUGAL 452
6 . 11 EXPERIÊNCIAS E REALIZAÇÕES PESSOAIS 465
• O PLANO DA TRAFARIA-COSTA DA CAPARICA 469
• O PLANO DO MARTIM MONIZ 471
• ESTUDO DO ALTO DO PARQUE EDUARDO Vil 479
• PLANEAMENTO EM PONTA DELGADA - ILHA DE S. MIGUEL, AÇORES 481
• PLANEAMENTO DA CIDADE DA HORTA - ILHA DO FAIAL, AÇORES 493
• PLANOS DE CENTROS HISTÓRICOS - TAVIRA - MOURA - PONTE DA BARCA 501
• PLANO DIRECTOR DA EXPO 98 509
• PLANO DE PORMENOR DO "QUARTEIRÃO DA GARAGEM MILITAR" EM LISBOA 519
• PLANO EM PORMENOR E ORDENAMENTO DO RECINTO D,f. EPAL NOS OLIVAIS 523
• PROJECTO DE VALORIZAÇÃO DA CERCA DO CASTELO DE ÓBIDOS 527
PARTE VIl CONCLUSÃO. DESENHO DA CIDADE 533
NOTAS À PARTE I 542
NOTAS À PARTE 11 543
NOTAS À PARTE III 549
NOTAS À PARTE IV 555
NOTAS À PARTE V 559
NOTAS À PARTE VI 565
ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO DAS FIGURAS 575
BIBLIOGRAFIA 581
PREFÁCIO À 4.a EDIÇÃO

A reedição desta obra do meu irmão é, como a 3 .º, uma edição póstuma -fale-
ceu precocemente em 2003 - que mostra como uma grande obra perdura sempre para
além do seu autor.
José Lamas era um homem muito culto e viajado, um profundo conhecedor da histó-
ria da arquitectura, das cidades e da vida urbana, sobretudo na Europa, e um observa-
dor atento da sua evolução e do que se fazia em Portugal e pelo mundo. O presente li-
vro resulta do seu trabalho sobre o desenho das cidades, iniciado como bolseiro de
doutoramento em Aix-la-Provence e continuamente enriquecido pela investigação e por
uma vasta experiência profissional.
Mas José Lamas era sobretudo professor de Planeamento e Desenho Urbano, pelo que
colocou sempre grande ênfase na divulgação destes temas da sua vida, ao que. a Fun-
dação Calouste Gulbenkian correspondeu publicando, pela primeira vez em 1990, a
Morfologia Urbana e Desenho da Cidade, que é um best-seller, quer em Portugal quer no
estrangeiro: José Lamas era frequentemente convidado como conferencista pelas muitas
escolas, em que a sua obra era conhecida e seguida no ensino . Por exemplo, em quase
todos os seus últimos anos de vida regeu cursos de pós-graduação no estrangeiro, no-
meadamente no Brasil e Estados Unidos.
Dava, ultimamente, especial atenção aos Planos de Recuperação e Salvaguarda como
o da Cidade da Horta, para o qual preparou um magnífico Manual de apoio. Publicado
postumamente pela Câmara Municipal da Horta, não teve infelizmente a devida divul-
gação. Devo, porém, citá-lo em complemento da presente reedição onde o autor teria
certamente integrado a experiência resultante e onde teria usado mais, como no Manual
da Horta, e se eu pudesse tê-lo influenciado, os apontamentos desenhados à mão livre
que o seu talento artístico registava e que permitiam didacticamente sublinhar vistas e
pormenores construtivos como poucos arquitectos e urbanistas eram capazes .
A Morfologia Urbana e Desenho da Cidade é livro de texto em muitas escolas de Ar-
quitectura e Urbanismo, e entre os mais vendidos Textos Universitários de Ciências So-
ciais e Humanas da Colecção Gulbenkian , mas nem por isso devo deixar de agradecer
à Fundação a sua republicação, que me enche de satisfação pela homenagem, que tam-
bém representa , à memória de um irmão que muito adm irava.

António Ressono Garcia Lamas


Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico

11
NOTA INTRODUTÓRIA À 2º EDIÇÃO

A 2º edição deste livro, ocorrida mais de 1O anos após a sua escrita, levanta algu-
mas questões de oportunidade que não desejaria esconder.
Em primeiro lugar, a larga procura que a primeira edição terá tido em Portugal , es-
sencialmente nos meios universitários, nas Escolas de Arquitectura e Urbanismo, sem que
praticamente tivessem sido feitas recensões, críticas, referências escritas ou publicidade.
Os 3.000 exemplares da primeira edição esgotaram-se em apenas 3 anos (de 1995 a
1998) . O que para o autor será gratificante, é também uma inquietação pela maior res-
ponsabilidade no confronto com a opinião e formação dos leitores . Neste contexto é tam-
bém de constatar o apoio bibliográfico que o trabalho tem constituído nas disciplinas de
Urbano ou às dissertações de Mestrado e Doutoramento em problemas afins
nas Universidades Portuguesas .
Em segundo lugar, questiona-se a actualidade das ideias e reflexões expostas . 1O
anos é algum tempo! Tempo suficiente para que muita coisa se passasse no urbanismo
europeu e acontecesse em Portugal. Tempo que já permite olhar para trás, com o dis-
tanciamento clarificador que esbate o pormenor e acentua o essencial.
Em terceiro lugar, a procura continuada (após esgotar-se a 1 .º edição) constituiria
quase um dever de informação aos estudantes e estudiosos do Desenho Urbano no final
do séc . XX e início de um novo milénio. Quanto mais não seja, a efeméride suscita e
acende esperanças de um mundo melhor - neste tema , melhores cidades e cidades me-
lhoradas pelo Desenho .
Por outro lado, atrevo-me a pensar que as experiências urbanísticas da década de
noventa na Europa e em Portugal não contradisseram significativamente ou anularam as
reflexões e ideias do trabalho .
De facto, quem desenha a cidade tem hoje um léxico vasto, eventualmente ecléctico,
de formas urbanas e modelos ao seu dispor. Novas relações entre espaços construídos
e espaços livres vão sendo procurados . Registo o contributo da paisagística e do dese-
nho dos espaços verdes com o .aparecimento de novos jardins e parques urbanos, sec-
tor onde talvez mais contributos se têm feito sentir com novos conceitos e propostas de
evidente inovação e significado para a vida urbana.
Generaliza-se o interesse pelo arranjo e qualificação dos espaços públicos, quer das
cidades consolidadas, quer das periferias degradadas . A salvaguarda e valorização dos
centros históricos torna-se consensual na convicção dos valores espaciais e construtivos
dos antigos cascos urbanos .

13
Consolidou-se em definitivo o alastramento da cidade "emergente", diluindo-se em di-
versas formas de habitar no território através de novos e melhores sistemas de transporte .
Finalmente, os meios de comunicação estão mesmo de facto a revolucionar um dos ele-
mentos fundamentais das sociedades, com impactos ainda difíceis de sistematizar na
ocupação do território e desenho das cidades .
Neste contexto, em Portugal, e com o derrame dos dinheiros europeus, poderiam co-
meçar oportunidades para fazer melhores cidades e fazer melhor a cidade, questão
para a qual uma parte dos arquitectos e urbanistas se sente cada vez mais profunda-
mente motivada . Contexto em que aparecem licenciaturas especializadas em urbanismo
e desenho urbano e um renovado interesse pelas questões urbanas.
No seu todo, este conjunto de questões justificou prosseguir com a reedição do "Mor-
fologia Urbana e Desenho da Cidade".
Justificou também que se imprimisse alguma revisão à parte final do trabalho, essen-
cialmente no que se refere à reflexão decorrente das experiências pessoais e outras ocor-
ridas nos últimos 1O anos .
Últimos anos nos quais se tem afirmado o amadurecimento sobre a utilização das for-
mas urbanas da cidade tradicional e da cidade moderna, abrindo-se uma via eclética
temperada pelas influências desconstrutivistas e um certo revivalismo do Movimento Mo-
derno no Desenho Urbano.
Todavia, se a influência desconstrutivista tem parecido introduzir alguma diferença
nas propostas de Desenho Urbano, tem-no feito mais pela complexidade oferecida na so-
breposição de sistemas geométricos do que pela introdução de verdadeiros novos con-
ceitos de espaço urbano ou nos modos de o produzir.
Repetindo, continua válida a dicotomia entre morfologia urbana da cidade tradicio-
nal, com os seus contínuos construídos e relação estreita do espaço com os edifícios, e
a cidade moderna, com os seus edifícios soltos no território, maior generosidade de es-
_f'úblico e a independência entre espaço urbano, edifícios e outros sistemas de com-
pos1çao da cidade .

Continua válida por essa razão também a oportunidade do conhecimento dos pro-
cessdos de fazer cidade e do estudo das formas urbanas como ferramenta indispensável
d o esenho urba
no. E ·1us t•f·
1 1ca a oportuni d ade de uma segunda edição.

Abril/1999

14
PREFACIO

A redacção deste prefácio foi para mim ocasião de relembrar uma relação de ami-
zade e colaboração profissional já longa de anos, iniciada na Faculdade de Arquitec-
tura de Lisboa, onde eu e José Lamas éramos docentes, e continuada depois na socie-
dade que formámos . Os Planos da Trafaria - Vila Nova - Costa da Caparica, do
Martim Moniz, de Ponta Delgada e, mais recentemente, da EXPO 98, entre outros, e um
número considerável de projectos de arquitectura, cobrindo programas tão variados
COIJIO os de instalações escolares e centros de cultura, habitação e turismo, foram , e são,
o dia-a-dia de uma relação de trabalho que se prolonga habitualmente num discorrer
sem fim sobre arquitectura, que é, de resto, o «vício» conhecido da generalidade dos
arquitectos.
Curiosamente, esta proximidade diária não impediu uma certa sensação de surpresa
quando li este livro pela primeira vez. Surpresa misturada com familiaridade, porque
muitas ideias ali expostas, e agora ordenadas num todo coerente, tinham sido objecto
de conversas e discussão ocasional entre ambos .
O livro surge numa altura em que se verifica um novo interesse dos arquitectos pelos
problemas do Urbanismo e pelo estudo de matérias que lhe são próprias, manifestado
na realização de colóquios e reuniões de vária índole e na publicação, aqui e ali, de
textos e projectos recentes .
Neste renascer de interesse pela cidade e o urbanismo em Portugal, este livro é um
acontecimento de relevo a assinalar. Ele trata do desenho da cidade do Ocidente euro-
peu ao longo da História, e, nesse processo, José Lamas vê a cidade como lugar carre-
gado de marcas, sinais e símbolos de culturas do passado e do presente que exigem
conhecimento e reflexão séria por parte daqueles que hoje intervêm na sua construção .
Por isso, este livro se inscreve numa linha de pensamento que tem os seus antecessores
ilustres em homens como Comi/lo Sitte, Geddes, Mumford ou Marcel Poete. O que é di-
zer muito.
Mas, como arquitecto, o que lhe interessa prioritariamente investigar é a morfologia
da cidade e a história da forma urbana, onde pretende encontrar razões e justificações
últimas para as concepções que perfilha. «A cidade não é um produto determinista de
contextos económicos, políticos e sociais», afirma, em certa altura, e, nesta perspectiva,
acentua a contribuição específica dos arquitectos através do desenho urbano. E isto é
feito num estilo vivo, directo, e de fácil leitura, mas não isento de paixão nas posições
que assume.

15
O livro foi amadurecido e redigido numa altura em que a prática do urbanismo ra-
cionalista tinha atingido a exaustão e em que se verificavam leituras revivalistas dos
modelos passados do Renascimento, do Barroco e do Neoclássico, na generalidade dos
casos em termos de grande superficialidade e ligeireza.
Consciente disso, José Lamas procura explicar o porquê da actualidade de determi-
nadas tipologias urbanas do passado e filia a sua permanência em razões de cultura e
vivência social no mundo de hoje. O que consegue com razoável êxito. Mais controversa
será a sua análise da contribuição do Movimento Moderno para a forma da cidade,
apesar da objectividade de que se reclama. Mas será possível ser-se completamente ob-
jectivo em matéria como esta?
O livro dirige-se a toda a gente, mas, naturalmente, os mais interessados serão os ar-
quitectos e estudantes de arquitectura, que aqui encontrarão larga matéria de infor-
mação e discussão teórica. Ele contribuirá de certeza para torná-los mais conscientes do
seu papel na construção da cidade. E da alta responsabilidade de que se reveste essa
intervenção.

Carlos Duarte
Prof. Arquitecto

16
PARTE I
I
-
INTRODUÇAO

17
«Les lois
de I'architecture
peuvent être camprises INTRODUÇÃO
de touf /e monde.•

VtoLLET-LE-Duc
Entretiens sur l'architecture !11 Comecei este trabalho em 1974, no quadro do Douto-
ramento efectuado no lnstitut d'Aménagement Régianal
d'Aix-en-Provence. A tese então apresentada (2) aborda-
vo as mesmas questões cujo enunciado é por de mais sin-
gelo: como desenhar idade e ua a int e o a el da ar uitectur o ar'·
uitecto n o urbano e no Jlrocesso de produção da cidade.
Corno é natural, o trabalho de Aix-en-Provence seria influenciãdo pelo ambiente
-t ultural e profissionol desse período. Estava-se no início da década de setenta e a inso-
tidação crescente pelos resultados da cidade moderna motivava estudantes e profissio·
-naís a procurarem uma saída poro a crise do urbanística e da própria
Uma quinzena de anos passou e os trabalhos e as experiências da minha vida pro-
fissional permitiram encontrar resposta para muitas interrogações, desde então. Os
anos corno docente de Planeamento Urbano e Projecto no Departamento de Arquitec-
tura da ESBAL e na Faculdade de Arquitecturc da UTL serviram também para oprofun-
dcr e amodurecer ideias e aprender muitas coisas sobre o cidade. Não é novidade que
se oprende ensinando e que o arquitecto preciso de ultropassar olguns anos de traba-
lho para atingir as suds melhores copacidades.
Também muitas experiências, realizações e acontecimentos se sucederam entretcn-
to, através das quois muito se aprendeu. Mas também novas questões surgiram .
Assim, desde 1974 até hoje, fui reflectindo sobre a mesma questão, ainda (e talvez
sempre) em aberto- O DESENHO DA CIDADE. Fui acumulando memórias, investiga-
ções, leituras, práticas e experiências pessoais e alheias. O tema, tão vasto quanto mo-
tivonte, não cansaria. Quis fazer balanço do que aprendi e reflecti .
Recordo que, há mais de vinte anos, os estudantes aprendiam a desenhar a cidade
dispondo vias, edifícios e manchas verdes no terreno, usando critérios de equilíbrio vo-
lumétrico nas regras do Plan Mosse. Sobre a folha de papel, traçavam vias e
faziam volumes com sombras até encontrarem uma solução de bom efeito gráfico.
ualidade residia na originalidade das f , · · . • das soluções, através
um tanto abstractas, tantas vezes mais escultórias, gráficas ou até 1 usonas · o
__g ue e espaciais ...
Exagero! As coisas não eram assim tão simples ou ligeiras .. .
Havio regras de desenho e composição urbana para os volumes e os seus equilí-
brios; havia horror à simetria e aos eixos de composição; evitavam-se as formas que

19
LONOITUOINALE

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o tO.M.

1-1. A forma humanizada do território - assentamento megolftico de Filitoso - Córsega


1. Plano de conjunto . 2. Planta de pormenor dos monumentos este e oeste

20
-N-1·

/
, .J.
..•.. .. ······--···--.....

1-2 . .Citonio de Briteiros - Portugal. Plano efectuado segundo os escavações. Planto de casos
com vestíbulos e reconstituição oe um monumento funerário

21
evocassem qualquer cidade a.ntiga, clássica ou barroca; exacerbava-se a imaginação
para des.cobrir formas ainda não experimentadas! Cada qual exprimio, também, o seu
temperamento e estados de alma. E também se copiavam os mestres modernos, se fo.
theavam exemplos em revistas e publicações, e se estudavam as realizações da época.
Hoje, na mesma Escola, agora Faculdade, outros estudantes lançam de imediato no
papel formas geométricas de grande semelhança com ruas, praças e
çom eixos e simetrias, organizam os edifícios segundo regras. da cultura urbano açtuol,
unu:e.t evidente às composic- ·
Entre estas. uas práticas, proces.sou-se uma importante mudança na maneira de
entender a desenho urbano.
A simples constatação de.stas duas atitudes implica uma profunda reflexão s.o.bre. as
bases cultura.is que as apoiam- ou deveriam apoiar. Em ombos os., cas.os nqo s.e trata
de modas ou de virtuosismos superficiais, de feitios ou de caprichos no «pronto e vesti.r»
das formas urb os.
Em primeiro lugar, devo ter presente que o es.,en o ur no exige um omtnto pro-
fundo de duas áreas do conhecimento: o processo de formação de cidade, que é histó-
rico e culturel e que se interligo às formas utilizadas no passado mais ou menos. longín-
quo, e que hoje estão disponíveis como moteriois de trabalho do arquitecto urbcmi.sta; e
a reflexõo sobre a FORMA URBANA enquanto objectivo. da urbanismot ou melhor,
quanto corp.o ou materialização da cidade cepaz de determinar o vida humano e.m
munidade. Sem o profundo conhecimento da morfologia urbana e da história da forma
urbana, arris.cam-se os arquitectos. a desenhar e cidade seg.undo práticas su.perficiais.,
usando «feitios• sem conteúdo disciplinar.
A re exa mvestigaçãc;> sobre a forma urbana, pretendo dar a contributo deste
trabalho. Contributo de um profissional empenhado na sva prática, riscando soluções e
vivendo os problemas que hoje se colocam ao arquitecto urbanista - um pwfissional
que interroga e questiona a suo prático, métodos e resultados do se.u trabalho.
Contributo também de um docente cuja ciJitura e formação constitui um corpo de
conhecimentos que deve transmitir na Escola, como o local da reflexão disciplinar.
Mos, antes do mais, esta dissertação é um trabalho de arquitec;:tura, o que qu,e r di-
zer que a orguitectura é um campo disciplinar preciso, r.ocionaJ.r!lente
um si nificado bem definido. teve como o c.riação do
mais pro · ício am tent ' · hu ano e o seu contributo coloco-se a diferentes nfv.êís
- o interior e um café, às grandes composições urbanas-, sen o por tsso mesmo
de difícil delimitação. A arquitectura apa.rece na mais simples habitação rural, na ala-
meda de árvores alinhadas, nas grandes infra-estruturas ou em todos os factos cons-
truídos quçmdo as necessidades espaciais do homem interpretam o sftio e procuram a
harmonia ou a intenção estética. A arquitectura é o arte de construir e ultrapassa a sim-

22
1-3. Lisboa . Gravura de "Urbium Proecipuorum Mundi Theatrum Quintum ."
Georgio Brounio 1593

23
pies assemblagem lógica de elementos construtivos para traduzir a realidade humana
como força criativa e voluntária . Nasceu com os primeiros assentamentos humanos, in-
separável da vida humana e da sociedade, como abra colectiva que tem a sua plena
dimensão como facto urbano. Todavia a construcão da cidade e a resolucão da com-
biente humano exi em ac n e numerosas quali-
dades, c a acção de indivíduos que, pe o seu saber e cnahvl-
dade, se tornam executantes de uma vontade colectiva, explicitando os espaços para
essa vontade.
O arquitecto faz da cidade um problema pessoal, para o qual contribui com as suas
qualidades: o desenho e a sensibilidade ao sítio e ao contexto; a criatividade e imagi-
nação; a capacidade de síntese, a visão global dos problemas. Contribui com um méto-
do de trabalho, uma técnica de concepção e de comunicação de ideias em relação com
os processos de construção. Mas o arquitecto traz também uma experiência ligada ao
presente e ao passado, os quais conhece da vivência da cidade, onde o material da
História é uma fonte inesgotável de aprendizagem e de reflexão. A História ou o recur-
so a ela está sempre presente no estirador e no processo de desenho, sem o r.igor dos
métodos históricos ou o sentido que da História tem o historiador, mas como realidade
viva e campo de experiências nas quais se apoia a prática profissional.
A arquitectura à escala urbana, enquanto desenho de cidade, defronta-se hoje com
toda uma série de interrogações e até de dúvidas, de que são exemplos as diferentes
alternativas surgidas do ós- uerra até a s d'as em que ainda não se che ou a
total acordo uanto à!.!!lQ_ ologias urbanas mais um consenso
za o.-soe a forma da cidade. stas dificulda es arrastam ainda as sequelas da ruptu-
ra criada pelo ' cidade t .cJ.iQ.Qnal.a_O--dificuJdade OJ.I
i..!:!fapacidade que os acquiteJ odernos revelar defini as urban.a s ade-
quadas à sociedade a que se destinavam.
A dependência maior que o urbanismo e o desenho revelam em relação aos siste-
mas políticos e económicos, e fracasso das t a cidade como ob-
'ecto finito- ou peca de quit ura- concorreram também para a crise da urbams-
tica, em parte esmotivando as energias criativas do desenho u.rbano e dando ao
objecto arquitectónico isolado um excessivo grau de autonomia e importância no deba-
te profissional.
O reacender do interesse pela dimensão urbana da arquitectura, pelas relações en-
tre arquitectura e cidade, e pelo modo de formar cidades, tem sido um dos temas mais
fecundos do debate arquitectónico dos últimos quinze anos.
A alternativa hoje presente entre objecto e desenho urbano colo-
ca a questão de saber se a organização do espaço urbano se pode resolver pela
simples intervenção arqu itectónica ou se exige um nível específico e autónomo de

24
1-4 . A infra -estrutura monumental constrói a território: auto-estrada directa Rama -Florença .
Viaduto dei Poglio

25
projecto. Por outras palavras, oder · . · eoo osi ão
· A produção da cidade não poae ser entendida como um mero processo de istr1 UI
ediffcios no território, resolver problemas funcionais, ou criar condições para o investi-
mento económico. Antes do mais, o espaço habitado e construído pelo homem é maté-
ria de competência da arquitectura, e não de um somatório de disciplinas, de técnicas e
de outras preocupações também necessórias. Assim sendo, como se poderá introduzir
no urbanismo a visão arquitectónica, estética e
Parto do princípio de que a forma (física) do espaço é uma realidade para a qual
contribuiu um conjunto de factores socioeconómicos, políticos e culturais. Sem dúvida
que a economia, ou as condições socioeconómicas de produção do espaço, se reflec-
tem profundamente na sua forma. Isto é muito importante. Mas a forma urbana é
também, ou deverá ser, o resultado da produção voluntária do espaço. Entendo por
voluntário um processo que, tomando em conta os objectivos de planeamento (econó-
micos, sociais, administrativos), os organiza e resolve utilizando os conhecimentos cul-
turais e arquitectónicos sobre esse mesmo espaço e materializando-os através da sua
FORMA.
Tai objectivo é mais ambicioso do que o mero funcionamento (mesmo que perfeito)
da cidade e pretende criar um ambiente humanamente válido, através da expressão
estética do espaço urbano.
Esta atitude só pode provir da correcta intervenção da arquitectura na produção do
meio urbano ..l!._nho implícito que-E_ natureza da concepção arquitectónica (e urbanísti-
ca) é essencialmente formal. As noções de Forma Urbana e Forma do Territónõsõõ
eminéntemente uitectura introduz no laneamen banis-
mo um ob"e · damental: a con . a O ESPA O HU DO.
no processo de p aneamen o, que deverá ser contínuo, desde os objectivos e pro-
gramas até à construção de edifícios e infra-estruturas, que importa clarificar a ·inter-
venção da arquitectura e, por corolário, do arquitecto que a introduz. Seria demasiado
contraditório que a disciplina sobre a qual vão desembocar desde o início todas as de-
cisões de planeamento se limitasse a só intervir no final do processo para formalizar ou
desenhar os programas e decisões anteriores.
A produção do espaço não pode ser unicamente resolvida pelos níveis da planifica-
ção regional e urbana e das realizações das construções. A etapa intermédia do dese-
nho urbano é indispensável. De resto, tal etapa inicia-se nas opções de planificação e
prolonga-se até à realização do edificado, constituindo um dos momentos essenciais da
arquitectura. Trata-se, antes do mais e sem qualquer prejuízo dos outros objectivos do
urbanismo, de contribuir com um método e disciplina de trabalho que permitirá melho-
rar e tornar esteticamente válido o produto do planeamento.
Convirá ter presente a crítica sociológica e a demonstração de que nem todas as

26
PLÀNO GERAl

1 - Nüc leot. h• bll•c•on. '


2 -hc.ol• P"m.-n•
l -Centro Ciwco Comer c•"l
4-Merc.ldo'
5-llr•i•
6 - ht•ç.lo de

1-5. Plano de Olivais Norte, 1955-1958. GEU - Gabinete Estudos de Urbanização - CML
Pormenor do Plano de Olivais Sul. Arq .os Carlos Duarte e José Rafael Botelho - 1960. Os
dois planos estão à mesmo escola

27
Nos últimos quinze anos, assistimos a uma profunda reviravolta no desenho da ci-
dac{e, modificação profunda na produção arquitectónica, modificação nas metodolo-
gias de intervenção, nos temas e nos programas.
As propostas desenhadas actualmente nas Escolas, nos ateliers de arquitectos mais
protagonistas, nada têm a ver com o que se passava nos anos sessenta._Apgrentemen-
te, foi tradição da urb ' · a formal através da recu eracã
da cidade tradiciona como a rua, a praça ou .o uarte1rão ue, há du s..déEodas,_PQ:
rec1am es ueci os e esmaga s as roezas tecnoló icas das me aestruturas, do ur-
banismo do plan mosse e da livre. - - -
Efectivamente, a partir do início da écada de setenta, o urbanismo e o desenho ur-
bano sofreram uma profunda revisão. Diga-se em boa verdade que, desde os anos ses-
senta, se iniciou a agonia · oderna» com as suas perversões posteriores.
A preocupação com a ORMA URBANA - tanto estrutura física como funcional -
passou ·a constituir o elemento dominante do projecto· urbano, enquanto, paralelamen-
te, novos conceitos, métodos e programas surgiram na prática urbanística.
Todavia esta rejeição da cidade moderna foi tão apaixonada e emotiva quanto fora
anos antes a condenacão da cidade tradicional e da rue corridor feita por Le Corbusier
e pelos C IAM. Quero -com isto dizer que tanto num caso como no outro tais condena-
.ções não se apoiaram em reflexão crítica profunda. Recordo a frase de Fernando Mon-
tes «Aujourd'hui, la seu/e forme qui nous reste d'être modernes est d'appliquer à l'ar-
chitecture moderne les mêmes remedes qu'elle appliqua à l'académisme» (3).
Parece-me algo inconsequente a condenação sem o juízo e a investigação. Posso
aderir ao novo urbanismo, mas necessito de reflectir tanto sobre as propostas moder-
nas como sobre as tradicionais de cidade. Nessa ordem de ideias, longe de ter simplifi-
cado as coisas, «separando o bem do mal•, ainda torno mais complexas as interroga-

28
c:;:] ViM pedonal
E1paco• públicos 5. Centro Cultural lO . El ectricidade
1. Câmara de Deputado• 6 . Piscina e patinagem sobre qe l o ll. Ajuda Fa.ailiar
2. Complexo administrativo 7. Cinemas e c entros comerc i a is 12. Correios
3. Câmara Municipal 8. Repa.rticão de Desenvolvimento 13 . Palácio de exposicõea
4. Armazóns {centro comercial ) 9 . Repartição de Seguranca Soc ial 14 . Parque (jardia)

1-6. Plano do centro de Cergy - Pontoise . Arredores de Paris - 1968-1970

29
1-7. Urbanismo operacional e o território sem forma . Cidade novo de Champigny
sur Mame. Região de Paris. Visto aéreo, 1968-1970

30
hipóteses para o desenho da cidade contemporânea. Modelos que importa conhecer
em profundidade, tantos nas suas caracterrsticas morfológicas como nos processos cul-
t r:ai e sociais da sua -
O interesse pela FORMA URBAN teró de avaliar com objectividade os conteú os
da cidade moderna e da cidade tradicional, e só dessa avaliação poderão nascer pis-
tas para o desenho da cidade A • s dos objectivos deste
trab
fun amentalmente a dimensão frsica e morfológica da cidade que me preocupa,
porque é essa a dimensão arquitectónica e a que melhor permite o entendimento cultu-
ral da cidade.
Esta tlbordagem do desenho da cidade dentro da disciplina arquitectónica não
in·valida ·:jue as formas urbanas dependam da sociedade que as produz e das condi-
ções históricas, sociais, económicas e polrticas em que a sociedade gera o seu espaço e
o habita, e o arquitecto o desenha.
Porém nunca seró de mais reivindicar um determinado grau de para a Jl
produção arquitectónica. A cidade não é um simples produto determinista dos contex-
tos económicos, polrticos e sociais: é !gmbém o de teorias e posições cultu_rgis_
e estéticas d r ui ectos urbanistas. -
Todavia um primeiro grau de lee ura da cidade é eminentemente frsico-espacial e
morfológico, portanto especrfico da arquitectura, e o único que permite evidenciar
a diferença entre este e outro espaço, entre esta e aquela forma, e explicar as caracte-
rrsticas de cada parte da cidade. A este se juntam outros nrveis de leitura que revelam
diferentes conteúdos (históricos, económicos, sociais e outros). Mos esse con'unto de
leituras só ossrvel arque a cidade existe como fa.cto frsico e ma os ins-
trumentos de leitura lêem o mesmo ob'ecto- o 'co a FORMA URBAN
esta leitura arquitectónica que me interessa e cuja validade procurarei provar, co- /
mo contributo para a prótica do desenho urbano.
Retomo aqui o centro da polémica que nos últimos anos tem agitado o debate pro-
fissional - ca cidade como lugar de arquitectura e onde esta encontra o seu pleno sig-/
nificado». A_guali 'tectural da cidad ão-pode ser entendida a en s ela
realiza ão de edifrcios, e não basta ao arquitecto ompetêncea na realiza ão das
constru õe sua eficócea reside ·u :ame en
-se com os roblemas o p aneamento, atrav ..de-desenho urbao.Q._
Confesso também que a o rigação oca émica de produzir uma dissertação consti-
tuiu uma oportunidade excelente de reflexão sobre este tema, ao qual tenho dado
grande importância na minha vida profissional.
Num pars em que pouco se escreve sobre arquitectura, pareceu-me adequado que
este trabalho pudesse ccnstituir um balanço e reflexão sobre os problemas do desenho

31
'J ·, ,;_,
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./.nl '·
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I

1-8. L'on Krier. Proposto po ro o concurso de ordena mento de Lo Vilette, 1975

32
1-9. Plano de Renovação Urbana do Martim Moniz - Lisboa . Arq . 0 ' Carlos Duarte e José Lo -
mas, 1980

33
Lisboa, Janeiro de 1990

34
PARTEll
I
A MORFOLOGIA URBANA

35
«Une succession d'avenhJres d'âme c'est la
vie de la cité. Mais le plein sens de la vie ur-
baine ne saurait s'aquérir que si I'on distin-
2.1 A MORFOLOGIA URBANA
gue I'ltre urbain, qui constitue en soi I'agré-
gat social qui compose essentiellement la vil-
/e, de la forme urbaine, autrement dit de
I'ensemble des vaies, constructions et espa-
ces plantés par quoi la vil/e s'offre matériel-
lement à nos yeux. Or, c'est à l'être qui
s'appliquent les lois biologiques. La forme
n 'est que la matiere inerte ou de la verdure A morfologia urbana estudará essencialmente os-º!-
que I'être a façonnée ou éJisposée et qui, ectos exteriores do meio urbano e as suas relaçõe·s recí-
par conséquent, ne saurait se confondre procas, efinin o e exp icando a cisa em urbana e a
avec fui. Adéquate à ses besoins quand i/la sua estrutura (2).
crée, elle n'y plus qu'imparfai-
O conhecimento do meio urbano implica necessaria-
tement quand ce sont les générations sui-
vantes qui utilisent cette forme, conservée mente a §Xist• · e instrumentos de leitura ue permi-
néamoins parce qu'il y a un fond permanent tam organizar e estrut os elementos a reendi os, e
dons l'être. A cette forme ancienne ainsi uma re ação o jecto-observa or. stes dois aspectos
maintenue, viennent s'ajouter les formes defrontam-se com questões de objectividade na medida
nouvelles que ces générations mettent au
em que dependem de fenómenos culturais. Um texto de
jour et qui sont I'expression de nouveaux
besoins qui leur sont proposés. Les généra- Cerasi elucida melhor esta questão:
tions successives qui composent l'être •Para descrever ou analisar a forma física de uma ci-
s'écoulent: c'est la forme -qui reste- qui dade ou mesmo de um edifício, pressupõe-se já a existên-
nous rend apparente l'âme urbaine.• cia de um instrumento de leitura ue hierar uize a impor-
MARcEL PotrE
tância dos i erentes elementos da forma. Assim, os os
Paris, son . évolution créative (1938) de eledricidade de uma rua não têm a mesma importân-
cia na descrição do espaço físico dessa rua como a altura
dos ediflcios, etc. Portanto, a leitura, mesmo querendo-se objectiva, passa já por uma
operação da cultura que selecciona os elementos os hierar uiza e lhes atribui valo-
res.» (3)
-----o-meio urbano pode ser objecto de múltiplas leituras, consoante os instrumentos ou
esquemas de análise utilizados. No essencial, os i os de análise v- zer r -
altar os fen "cados na rodu ão do es • As inúmeras significações t•l
que se encontram no meio urbano e na arquitectura correspondem aos inúmeros fenó-
menos que os originaram.
A leitura disciplinar, se bem que rica de conteúdos e esclarecimentos sobre o objec-
to, não o explicará totalmente, quer ·na sua configuração quer no seu processo de for-
mação. de diferentes leituras ej nformaçães poderá explica um ob-
"ecto tão complexo como a cidade. No entanto, é frequente que, na produção das for-
mas ur a nas, exista um en meno que seja determinante e, portanto que assuma maior

37
preponderância em qualquer análise. De igual modo, o arquitecto, ao «produzir• o seu
o
espaço, poderá dar maior ênfase a este ou àquele aspecto, qual se revelará mais evi-
dente em análise posterior.
Nas cidades actuais, certas formas apenas revelam uma total JUjeição _i.o
mo à rentabilidade do solo e à es ecula A destruição da paisagem rural
e ur ano portuguesa efectuada nos últimos trinta anos revela, e bem, as condições cul-
turais, polrticas e sociais em que se projecta e se deixa construir em Portugal. A renova-
ção imobiliária das «Avenidas• em Lisboa revela com toda a evidência as condiÇões de
administração da capital e a ideia que da cidade e da gestão urbanrstica têm os seus
responsáveis técnicos e polrticos. ·
A morfologia urbana su õe a convergência e utilização de dados habitualmente
recolhidos r 1sc1 1n "fer_en s- economia soc1o o ia história _ e ra ·a, arqu•-
t etc. - a fim de ex licor um acto concreto: a cidade como fenómeno frsico e
c rdo. Explicação essa que visa a compreensão total da forma urbana e do seu
processo de formação. Com imprecisão de linguagem, no calão arquitectónico, muitas
vezes as palavras morfologia e forma são usadas indistintamente e sem diferenciação
de significado. Importa clarificar que a morfologia urbana é .a disciplina que estuda o
objecto - a forma urbana - nas suas caracterrsticas exteriores, frsicas, e na sua evolu-
ção no tempo.
a justo trtulo que a morfologia urbana se inscreve nas áreas do urbanismo, da
arquitectura e do desenho urbano. Nesse sentido, poderei defini-la pelo estudo dos
factos co.nstrurdos considerados do ponto de vista da sua produção e na relação das
partes entre si e com o conjunto urbano que definem (SI,
Esta noção leva a clarificar essencialmente três pontos:

38
• Um estudo morfológico deve necessariamente tomar em consideração os nrveis ou
momentos de produção do espaço urbano. Nrveis esses que possuem, dentro da dis-
ciplina urbanlstico-arquitectónica, a sua lógica própria, articulada sobre estratégias
politico-sociais. Um estudo morfológico deve também identificar os nrveis de produ-
ção da forma urbana e as suas inter-relações.

"/

39
2-1 . FORMA URBANA: Tavira no séc. XVI, segundo uma gravura do época, e planto do cidade
no séc. XVIII

40
2.2 A FORMA URBANA
O conceito mais geral de forma de um objecto refere-se à sua aparência ou configu-
ração exterior. Conceito que se pode apreender com facilidade e que faz parte da
experiência quotidiana do Universo. Conhecemos os objectos e a sua forma. Mas tal
conhe 'menta refere-se fundamentalmente a um instrument
terior ue não revelará ce ame todos os conteú s forma. A descoberta de ou-
tros conteúdos imp 1ca outros instrumentos âe leitur .
mo o og1a ur ano m e , em pnmeiro lugar, os instrumentos de leitura ur-
banísticos e arquitecturais - partindo do princípio de que as disciplinas de concepção
do espaço têm instrumentos de leitura que lhes são próprios: a leitura da cidade como
facto arquitectural.
Esta posição implica aceitar que a construção do espaço físico passa necessaria-
mente pela arquitectura (7), Então, a noção de cforma urbana» corresponderia ao meio
urbano como arquitectura, ou seja, um conjunto de objectos arquitectónicos ligados ·
entre si por relacões espaciais. A arquitectura será assim a chave da interpretação cqr-
recta e global da cidade como estrutura espacial. Refiro o importante contributo de
Rossi, particularmente esclarecedor das relações entre arquitectura e cidade:
cA forma da cidade corresponde à maneira como se organiza e se articula a sua ar-
quitectura. Entendendo por 'arquitectura da cidade' dois aspectos: 'Uma manufactura
ou obra de engenharia e de arquitectura maior ou menor, mais ou menos complexa,
que cresce no tempo, e igualmente os factos urbanos caracterizados por uma arquitec-
tura própria e por uma forma própria'. Este é também o ponto de vista mais correcto
para afrontar o problema da forma urbana, porque é através da arquitectura da cida-
de que melhor se pode definir e caracterizar o espaço urbano.» (8)
Neste contexto, a arquitectura não pode compreendida senão como uma parte
da cidade, como um acontecimento submerso num sistema complexo de relações (es-
paciais e outras) com o resto do espaço urbanizado.
A forma física é um dado real que predomina em qualquer descrição de uma cida-
de: Aix-en-Provence é diferente de Paris ou de Lisboa. O Cours Mirabeau é diferente
dos Campos Elíseos ou da Avenida da Liberdade. A n.oção de cforma• aplica-se a todo
o espaço construído em que o homem introduziu a sua ordem (9) e refere-se ao meio ur-
bano, quer como objecto de análise quer como objectivo final de concepção arquitec-
tónica. «O objectivo final da concepção é a forma.• (lO)
O urbanismo assumirá na concepção da forma do meio urbano todos os contributos

41
Ophnton "•udu
- Coo.s •• o o. o. o. o• • oo• • o o• • o. o, 18
O

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- volrle (\ d 1 occ. du tol) ••. • ••• tO\
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2-2 . DIFERENTES FORMAS URBANAS relacionados com os parâmetros urbanísticos e quantita-


tivos

42
1

2-3. Diferentes orgonizoções espociois do mesmo terreno, com diferentes densidodes e ocupo-
ções do solo, segundo o FULHAM STUDY. 1 e 2 -o mesmo densidode de 260 hob/ho, com dife-
rente ocupoçõo do solo. Em 1, à moior libertoçõo de solo corresponde moior olturo de edifícios.
3 e 4 - o mesmo térreno estudodo respectivomente poro 380 hob/ho e 560 hob/ho

43
das diferentes disciplinas e ciências que lhe estão ligadas. A forma urbana é o resultado
final dos problemas postos às disciplinas urbanística e arquitectónica (11) .
É necessário ter sempre presente que tanto a arquitectura como o urbanismo são
disciplinas criativas cujo fim é uma intervenção no espaço, transformando-o.
A concepção arquitectural é essencialmente formal (12l, ocupando-se não só da con-
cepção dos diferentes factos construídos, mas também da definição das ligações que
podem existir entre as edificações e os lugares por elas definidos. O seu domínio
caracteriza-se fundamentalmente pela concepção do meio que o homem habita.
A «forma» su e =em EUJ20Sta a um problema eseaci Alexander);._
uA orma e a solucão do roblema posto e o contexto.» (13) Ou seja, a forma física
torna-se o eJJ ma acca rob ema. , .
egado a este ponto, poderei definir a forma urbana como: aspecto da realidade,
ou modo como se organizam os elementos morfológicos que constituem e definem o es-
paço' urbano, relativamente à materialização dos aspectos de organização funcional e
quantitativa e dos aspectos qualitativos e figurativos . A forma, sendo o objectivo final
de todo a concepção, está em conexão com o «desenho» P 4l, quer dizer, com os linhas,
espaços, volumes, geometrias, planos e cores, a fim de definir um modo de utilização e
de comunicação figurativa ue constitui a « uitectura do cidade».
sta n ç-a-o-1 mais vasto do que o que tende a reduzir o or apen s às caracterís-
ticas dos objectos que podem ser perceptíveis; e só pode ser totalmente compreendida
utilizando a arquitectura como disciplino de análise, e concepção do espaço.
Antes de continuar, devo clarificar certos noções utilizados:
• Aspectos quantitativos - Todos os aspectos do realidade urbano que pode"m ser
quantificáveis e que se referem o uma organização quantitativo: densidades, superfí-
cies, fluxos, coeficientes volumétricos, dimensões perfis, etc. Todos esses dados quan-
tificáveis são utilizados para controlar aspectos físicos da cidade.
• Aspectos de organizaçio funcional- Relacionam-se com as actividades humanas
(habitar, instruir-se, tratar-se, comerciar, trabalhar, etc.) e também com o uso de
uma área, espaço ou edifício {residencial, escolar, comercial, sanitário, industrial, .
etc.), ou seja, aoJipo de uso do solo. Uso o que é destinado e uso que dele se foz.
• Aspectos qualitativos - Referem-se ao tratamento dos espaços, ao «conforto» e à
«Comodidade» do utilizador. Nos edifícios, poderão ser a insonorização, o isolamen-
to térmico, o correcto insolação, etc., - e, no meio urbano poderão ser característi-
cas como o estado dos pavimentos, a adaptação ao clima (insolação, abrigo dos
ventos e das chuvas), a acessibilidade, etc. Os aspectos qualitativos podem também
ser quantificáveis através de parâmetros {os decibéis que medem o intensidade de
conforto sonoro, o lux, como medida do conforto do iluminação, etc.) (15) .

44
=
LJ+LlC

,.,c;EM 00 TECIOO
0
- p.; oMOTOR
a psE- L.EGAL 1.-.&1 2'-7 ; D ........ "'' . :D ... ... 242.

p ,.ocesso _ _ __ _ _ _ _ _ __
.... .........._
p e S TRU"TURA ..

1 e"' ha J . ACESSIVEL
NUMERO OE FOGOS
NUMERO OE HABITANTES
DENSIDADE n . de hab•t.ant.es / ha CpNSTRUIOO
5 de fogos / "'• !:' ào ACESSIVl
MEO.IO DE _ _
COEF. OCUPACAO Df? SOLO nàoCONST. n.ioPERCE1 0,07;:;1

2B
B I NO ICE OE CONSTRUCÁO SUP.

--
o.54 _ - - -· - - · B
37 -- e
° ._ _ _!_ ___.

- ---
--------

2-4. Bairro de Alvalade, Lisboa - medição de porõmetros urbanísticos, segundo o estudo For-
mos e Factores do Crescimento Urbano de Lisboa, do Arq . 0 Isabel Costa, 1978

45
• Aspectos figurativos - Os aspectos figurativos relacionam-se essencialmente com
a comunicação estética. Retomarei este assunto mais tarde (16),

ConvémA!ninguir desde já aspectos qualitativos e estéticos, embora tenham uma


área de sobreposição. Os aspectos qualitativos não são necessariamente estéticos; um
ambiente com um alto grau estético não implica necessariamente uma boa comodida-
de. Em formas urbanas e arquitecturas do passado, encontramos um alto grau de in-
tenções estéticas, sem que o seu conforto e qualidade sejam assinaláveis. Inversamen-
te, certos espaços actuais podem ser de qualidade (existência de espaços verdes, pas-
seios limpos e cuidados, estacionamentos necessários, etc., mas sem que por isso mes-
mo tenham grande interesse estético.
A tual · anti a de Lisboa é um exem lo s b r · ade de rodada, a cair
incómoda cheia e asse1os e vias esburacadas, sem as como
ca 1 ta to, des rende-se de a uma intensa e e t a.
Recordo A Cidade Branca, o filme de A ain Tanner;-e;ncjue 1s6oa é de uma beleza trá-
gica e melancólica. A beleza da rufna, o fasdnio da decadência, certamente incómoda
e desqualificada, mas portadora de uma mensagem estética inconfundfvel, ultrapas-
sando o cenário e assumindo-se como protagonista.
Fica uma interrogação que se aplica· mais às novas produções de espaço do que à
análise do passado: até que ponto se pode falar de qualidade e conforto com ausência
de intenções estéticas e vice-versai Esta questão poderia originar outra investigação.
Finalmente, cham elemen s ó i os às unidades ou artes ffsicas que, asso-
iodas e estruturadas, cons · a forma. Interessa estabelecer· quais os e ementas
mo o óg1cos que são identificáveis an o na leitura ou anál' · de como no pro-
cesso (urbanfstico-ar uitectónico) da sua conce ão.
Em pr1me1ro ugar, os e ementas morfológicos devem relacionar-se tanto com ó es-
cala de análise como de concepção do espaço. Quero com isto dizer que não serão os
mesmos, segundo se trate de uma rua, de uma praça, de um bairro ou de uma cidade.
Discutirei esse assunto mais tarde (17),
Interessará a'nda acrescentar gue a form
nam e e a podem extra1r ou evidenciar certos as ectos ou
eopor aqui.

FORMA E CONTEXTO

ual uer forma deve safsfazer um con'unto de critérios que se desi na geralmente
por «contexto• (18).

46
FORMA E FUNÇÃO

Entre os cri ' · contexto as funcões têm um relevo particular. Não seria sensa-
to negar as relações entre forma e função (19) que existem em to a a concepção arqui-
tectónica e que se podem observar na arquitectura e na forma teró de se re.:..
_lgcionar de J!!Odo a eermjtü:_o desenvolvimento eficaz Qgs
que nela se processam. Neste sentido se percebe facilmente que uma fábrica seja dife-
rente de uma habitação, ou um copo de uma garrafa.
A discussão das relações entre a forma e a função é muito antiga e tem acompanha-
do a teoria da concepção arquitectónica. Ao longo da história, a importância e o grau
de determinismo dessa relação tiveram variações profundas.
Alberti (201, ao formular os princípios da arquitectura, enuncia: a commoditas, rela-
cionando a função ligada a um programa; afirmitas, a estrutura que depende da técni-
ca; a voluptas, ou a qualidade formal, ou seja, a intenção estética. Posteriormente,

48
2-6 . Antigos formos usados po ro novos funções . OM . Ungers Museu de Arquitectura
Frankfurt . Fachada e oxonométrico/corte . O temo do edificio dentro do ed ificio

49
Mies Van der Rahe define a especificidade da arquitectura pelo «que é possrvel con'stru-
tivamente, o que é necessório à utilização e o que é significativo como arte» 1211.
Mas se os três princípios bósicos da arquitectura - a função, a construção e a arte
- estão sempre presentes na arquitectura e na cidade, jó o peso que cada um deles as-
sume no processo criativo pode sofrer variações entre duas posições extremas:
Uma posição cfuncionalista•c. segundo a qual uma forma física que corresponda lo-
gicamente aos problemas funcionais do contexto é bela, uma vez que a beleza é uma
qualidade inerente a todo o sistema bem resolvido. Na prótica, o significada expressi-
vo encontra-se na adequação da forma à função: FORM FOLLOWS FUNCTION 1221 -
a célebre expressão de Sullivan - resume com ênfase esta posição .
..__... O cantifuncionalismo• aceita que a concepção da forma seja ditada de modo inde-
pendente .por outros objectivos (nomeadamente estéticos), para criar a emoção ou o
embelezamento da estrutura.
Para o antifuncionalismo, as funções têm menor ou igual importância que outros cri-
térios do contexto. Exacerbando esta posição,.l•+•r Blgk! escreveria FUNCTION FOL-
LOWS FORM 1231, ou seja, a própria função também se adapta à forma- ou a mesma
função pode coexistir e processar-se em formas diferentes.
Em boa verdade, ambas as atitudes não são desprovidas de intenção estética. Mui-
to pelo contrório, significam processos diversos de atingir a perfeição arquitectónica.
As atitudes do funcionalismo e do antifuncionalismo poderiam parecer bizantinos,
se se esquecesse que têm dominado de modo explícito ou implícito o debate arquitectó-
nico e urbanístico nos últimos cinquenta anos.
Até hó cin uento anos, o ar uitec ro e o urbanismo tinham sabido encontrar um
equilíDn sot · · rio e o ortí
f unções.

50
2-7. AdaptaçCio de antigas formas a novas funçlles . Restauro e adaptaçCia do Colégio dos Jesuí-
tas a Biblioteca Pública e Arquiva de Ponta Delgada. Axanométrita do novo conjunto

51
« •• •• •• •• ••••••• •• •••.••• ••••••••• •••••••• ••• • ••••• • . •• ••••• • •.•••••••••• •••••••••• •••••• ••

« 1. A primeira exigência de cada edifício é conseguir Q::._melhor utilizacão possível.


«2. Os materiais e sistema construtivos utilizados devem estar completamente subor-
dinados a esta exigência primária.
«3. A beleza c nsiste na . ·rect ntre o edifício e a finalidade nas caracte-
rísticas adequadas dos materiais e na elegência do sistema construtivo.
«4. A estética da nova arquitectura não reconhece qualquer separação entre facha-
da e planta, entre rua e pátio, entre frente e traseiras. Nenhum pormenor vale
por si mesmo, senão que forma parte integrante do conjunto. O ue funciona bem
tem uma apresentacão assim mesmo boa. Já não cremo e ai o ten a um as-
ecto eio uan o f ncione e
«5. Também a casa, no seu conjunto, tal como os seus elementos, perde o isolamen-
to e a separação. Assim como as partes vivem na unidade das relações recípro-
cas, a casa vive em relação com os edifícios que a rodeiam. A casa é o produto de
uma disposição colectiva e social. A repetição não deve já considerar-se como um
inconveniente que se deve evitar, mas, pelo contrário, constitui o meio mais im-
portante de expressão artística. Para exigências uniformes, edifícios uniformes,
enquanto a anomalia fica reservada para os casos de exigências singulares -
quer dizer, sobretudo para os edifícios de importância geral e social.•
Mais tarde, a Carta de Atenas adopta idênticas posições. (25). O fu cionalismo
eneraliza-se até ser facilmente ado tad ca o numa verdadeira obsessão que
netrou na inguagem e nas nocõ .u.otidianQ, d e c sentida
estético a vános n1veis. Os móveis são funcionais, e o vestuário, também. Qualquer
como os cinemas ou os teatros, etc., deve antes do mais, funcionar. Os
critérios de avaliação dos projectos centram-se no funcion-amento do programa. A es-
tética funcionalista estende-se ao desenho de interiores, à decoracão, ao desenho in-
dustrial, à moda e ao vestuário, e impregna a cultura pela e com que os seus
conceitos e princípios puderam ser apreendidos e aplicados. Q_que antes fora estética
de van uarda, detento forca da mensa m inovadora universaliza-se, torna-se
acessível ao amem c urtLe..CO tal banaliza-se e é subvertida.
O bom ncionamento torna-se por si só um item e qualida e. No voe ório do

52
sinónimo de funcionaL nado é verdadeiramente «moderno»
que não seja funcional. E «funcional» é sinónimo de qualidade.
Cinquenta anos depois dos palavras de B. Tout, o estético funcionolisto, embora já
abastardado, ainda é universalmente aceite pelo consumidor comum. Qualquer dono
de obro pretenderá apenas, ainda hoje, que um edifício funcione bem (seja funcional),
o que poro ele é suficiente, prescindindo do expressão de outros valores culturais do ar-
quitectura. No entonto, assimilo sempre o beleza à boa resolução de um programo ou
de um problema.
A onizoção funcionolisto dos cidades anulou os considerocões morfoló icos. As
relações quantitativos e distributivos, o zonomen o e o o · . uma funcão exclu-
sivo o cada parcelo do território tornaram-se métodos univers · o urbanismo, pro
zindo cidades mon anos e pouco estimulantes - eventualmente com tudo arrumado
no seu lugar, mos sem lugar poro o surpreso, o complexidade e o emoção.
As teorias funcionalistos encontraram no urbanismo um campo de aplicação facili-
tado. Para tal, muito contribuiu o simplismo das técnicas do zonamento, redúzindo a
organização da cidade a uma distribuição lógico de zonas com programas específicos,
facilitando a realização de edifícios, de preferência monofuncionois, repetitivos, fáceis
de projector e de executar. g aplicação e o dos-pciodpios fun-
cionolistas parece ter tido forte incidência, já no arquitectura de edifícios 'sos se
assaram e mo o 1 eren . Como eter B o e o servo em RM FOLLOWS FUNCJ
TIO 26, no arqu1 ec ura moderna a forma nem sequer segue verdadeiramente o fun-
ção, na medido em que muitos arquitectos continuaram o dor autonomia o outros valo-
res, relações espaciais, caracteres construtivos e estruturais.
Em a ode, raro foi o arquitecto que ro · o funci is.
concepção sena ommo - e ma1s nos seus aspectos teóricos do que no práti-
ca do desenho- pelos preocupações de funcionamento. Todovio, em cada arquitecto,
a formo foi tendo outros graus de autonomia. O funcionalismo foi, sem dúvida, uma
teoria urbanístico e arquitectónica, mas foi, antes do mais, uma estratégia do represen-
tação desenhado e construído. No rótico, traduziu-se mais pela imagem estética ró-
fico e espacial do que por uma correlacão exacta a armo com o uncão.
A o servaçoo a arquitectura e do cidade permite, de resto, comprovar a fro i lida-
de
"---
do funcionalismo do mótico, desmentindo os relacões. lineares de cousa-efeito na
re oção formo- uncão.fNo seu con1unto, a cidade e·o o qui ec uro apresentam uma a,
vers1 a e e significaçõês e de espaços que traduzem mais do
simples organização funcional.
-J Por outro lado, uma mesmo unçõo pode existir convenientemente em formas distin-
tas, A reutilização .de antigos edifícios tem permitido obter excelentes resultados no
grau de utilização, significação estético e quantidade ambiental, tontas vezes maior do

53
que em ediffcios projectados de roiz paro o mesmo programa (27), De resto, o reutiliza-
çã de ediffcios é já por si
Qs-esp-ac;:os em que udo se encontra programa o para cada unção t!m-se reve a-
o extremamente limitadores e pouco versáteis na utilização, e tantas vezes de grande
pobreza formal•. t--------
os-cidade , -fragilidade do funcionalismo é mais evidente. As funções dos centros
urbanos evolufram, passando de lugares de defeso e de poder o lugares de comércio,
serviços e trocas culturais. Os seus espaços foram recebendo essas diferentes funções,
sobrepondo-se com complexidade e dinâmica, bem permitida pelo capacidade de res-
posta de traçados e formas urbanas à modificação funcional.
O entendimento destas questões passa certamente por um equilrbrio de bom-senso.
A função é um dos critérios do contexto, entre tantos outros, com o importância e a
hierarquia própria dada pela visão cultural subjacente à concepção arquitectónica e
urbantstica. Tem certamente um estatuto de necessidade, mas não de suficiência, dado
que também pode ser manipulada com maior ou menor liberdade.
A concepção da forma não se esgota na correspondência a uma ou mais funções.
Tem também motivações mais complexas e profundos - culturais e estéticas.
Como Scrutton, diria que «a ideia de função de um edifício est6 longe de ser clara, nem
está cloro como é que determinada função deve ser transferida para uma forma arquitec-
tural. O que podemos dizer - alguma teoria estética mais adequada - é que
os edifícios têm usos e não deviam entender-se como se os não tivessem» (281,
A cidade e o espaço urbano têm usos e não deviam entender-se como se os não ti-
vessem -acrescento eu.

FORMA E FIGURA
(Aspectos estéticos do urbanismo)

iccrd um en6meno é, por um lado, a maneira como as partes ou


estratos se ·enco dispostos no objecto, e ta bém o poder de exefiçita evidenciar s-
sa dis osição. Estes dois aspec os sempre coexistiram. odavia, se não existe objecto sem
orma, esta tem poderes de comunicação estética dispostos em nfveis muito diferentes.
Chamaremos forma ao primeiro aspecto, e figura, ao segundo; o valor do figura nunca é
nulo, pois que podemos reconhecê-la mesmo em nfveis extremamente degradados.
É unicamente através da figura que podemos descobrir o sentido do fenómeno e re-
construir a totalidade, a pluralidade dos seus elementos construtivos e das suas proposi-

54
2-8 . Construções clondestinos no periferio de Lisboo

55
ções. A estrutura da concepção projectual (o que caracteriza a obra arquitectural) é de na-
tureza eminentemente figurativa.» (29)
GREGOTTI, VITTORIO
11 Territorio deli'architeffvra

A intenção estética é inerente à humanidade, faz parte do nosso dia-a-dia, em todas as


nossas accões.
Da do vestuório, em que o casaco combinar6 com os sapatos, à disposição dos
móveis numa habitação, à cor do automóvel, ..um-se . - úmero de exem mons a
a e eo er estéticos são inerentes ao uotidiano. uma necessidade, que
também se educa e se desenvolve e que tem manifestações primitivas, «selvagens», eruditas
e sofisticadas, ou completamente deturpadas.
A estética da casa clandestina ou do emigrante, ou de edifícios projectados por de-
senhadores, engenheiros, topógrafos ou simples curiosos, é exemplificativo.
A amostragem de formas importadas ou inventadas pelas colagens das mais desa-
justadas inspirações revela uma imaginação delirante de construção civil, sem informa-
ção cultural arquitectónica.
Sem aceitar essas manifestações pelo que significam de destruição do património
arquitectónico e urbanístico, não poderei negar que procuram um sentido estético pró-
prio, com regras que nada têm que ver com a cultura arquitectónica, popular ou erudi-
ta. É uma estética (ou antiestético) própria, fechada, e certamente explicóvel por nume-
rosos fenómenos sociais, culturais, económicos, todos os que se quiser e muitos mais,
excépto os arquitectónicos!
Vulgarmente designadas por Kitsch, estas manifestações estéticas significam no·fun-
do um outro gosto, ou ausência de gosto, diferente da cultura erudita e cortado de um
relacionamento com a História, a sedimentação cultural e a civilização. ·
A anólise desta questão conduziria a estabelecer uma fronteira, ou zona de transi-
ção, entre «construção civil» e «arquitectura». Esta só existindo quando é ultrapassada
a fase primória de simples ligação de elementos construtivos e técnicos, com vista a
obter também efeitos estéticos de acordo com a cultura arquitectónica.
Chegado a este ponto, interessa-me definir os .9.!Qectos figurativos das formas urba-
nas.
por «aspectos figurativos» os aspectos da forma que são comunicóveis
através dos sentidos. E «figura», ao poder de comunicação estética da forma, ou seja,
ao modo como se organizam as diferentes partes que constituem a forma, com objecti-
vos de comunicação.
Nesta definição sigo de perto o texto de Vittorio Gregotti citado anteriormente.
Esse texto retoma a diferença entre construção civil e ar uitectur , ou entre «ocupa-

56
2-9. Planto do Alhambra, Granado
I
57
Sistema de orientaçi ':-11--..J. C+-\

58
Sistema visual Culue'kl

Sistema táctil
Pode parecer menos importante, se não se considerar que no sistema táctil se in-
clue!1l todas as percepções térmicas e de fricção com a atmosfera: as...ccu:rgntes
de ar lar, o sol e o também são importantes na vivência, compreensão e
caracterização a cidade.

Sistema olfactivo
Em certas cidades norte-africanas ou asiáticas, os cheiros são muito mais intensos e
profundos do que no Ocidente e são pertença indissociável do espaço urbano: odores
de suor humano, excrementos, especiarias, comidas e esgotos pertencem ao espaço e
ao conhecimento desses lugares, como de resto o cheiro a forno de pão e a lenha quei-
mada evoca o mundo rural português. Não imagino as ruas das cidades da Índia ou
certos bairros de Macau sem os seus cheiros característicos. Os cheiros e odores carac-
terizam os lugares e são podes do meio urbano. O sistema olfactivo pertence à expe-
riência da cidade, embora seja um factor de menor controlo e incidência no desenho
da forma urbana, tal como tem sido analisada.

Do enunciado dos sistemas de percepção, verifica-se, grosso modo, que 'a cada sis-
tema vai corresponder uma característica da forma, que poderá ser perceptível.
Todavia as condições em que se realiza a comunicação com o ambiente são essen-
cialmente visuais e constituem um momento determinante na experiência de estéTica
urbana, porque os aspectos figurativos se manifestam predominantemente pela comu-
nicação visual.
Para estudar a imagem urbana, não se podem ignorar os trabalhos de Kevin lynch,
de Kepesh e dos seus colaboradores do MIT (3 4), trabalhos que incidem sobre.uma anÓii-
se da forma urbana e que desenvolvem contributos fundamentais para a actividade do
arquitecto urbanista como criador de formas e de imagens. cA imagem da cidade» é
um meio de comunicar a sua forma física . Cito a tese de lynch- «Seremos agora capa-

59
-... : ..-::-........ _ l"la<b. '"
____ _

..
'\ \
2
-
2-10. Kevin lynch- Os sistemas de orientação no formação do imagem de Los Angeles . 1. A
1000"

imagem de Los Angeles extraído dos entrevistos orais. 2. A imagem extraído dos esboços feitos
pelos entrevistados

60
zes de desenvolver o imagem do nosso ambiente, agindo sobre o suo formo ffsico exte-
rior e também desenvolvendo um processo interno de aprendizagem.•
O grande interesse d.Q_trobalho de Lynch reP-ous obr.etudo no @ resso à leitura
ou ex eriêncio ective.-Ao estabelecer o «média• das...imag ercebidas or cada
indivíduo obter-se-ó o imo em c é justamente essa imagem colectivo que
lynch propõe que seja procurado no composição urbano. lynch demonstrou tombé
importância do ambiente visual poro o r do cido ão e poro o seu comporta-
mento soc1o s1 . or é fundamentalmente a visão que
etermino o orientação e os sequências visuais que são essenciais poro o conhecimento
do formo urbano (35).
Do que acabo de ser dito, sobressai que os elementos visuais serão determinantes
em todo o concepção e produção do espaço. Poro que existo imagem (como em todo o
fenómeno correlacionado com a percepção), é necessório uma relação entre objecto e
observador. A formo urbano poderó ter uma multiplicidade de cimogenu que corres-
pondam o outros tontos observadores. No e tonto, o esar de o imo em de ender do
observador, depende rimeir ente dos característicos do formo. e o problemótico
do imagem v1suo é muito importante poro o arquitecto urbanista, mais ainda é o co-
nhecimento dos os morfoló icos, ue s- ais si nificotivos visualmente pois é
através desses elementos que se pr'õeé"sso no essencial o comumcoção figurativo.
ecorro e novo o Gregotti quan o o 1anto o possi 1idade de «qOã quer o mo
conter níveis de comunicação estético ainda degradados•, (36) ou seja, desde que
tenho existido o intenção estética, ainda que culturalmente alienado, o forma terá cer-
tamente níveis de comunicocão estético.
O ob.ectivo d do urbanismo não será ogenos O!:.:.
gori1zor o território goro acolher actividades, mos também actuar no formo oro gue/
existo omunicacão estética e sign· · -o. O ue e uivole o ne ar os mo os exclusi-
vamente ncionolistos - ainda que se possam encontrar estratos de comunicação es-
tétrco no correcto correspondência do formo à função. A próprio formo, ou o imagem
urbano, pode ser organizado com relativa independência poro atingir o comunicação
visual; no fundo, troto-se de retomar os problemas do arte urbano e de embelezamen-
to do cidade com o objectivo de contribuir paro um ambiente mais estimulante.

61
.; · ' .J , ·' .. . .. . .. t• ••

2-11 . O território como suporte dos formos urbanos . Horto - Faial - o cidade e o paisagem
vistos do mar. Porto Pim- Horto- visto do praia

62
2.3 PRODUÇÃO E FORMA DA CIDADE E PRODUÇÃO
E FORMA DO TERRITÓRIO

O TERRITÓRIO COMO SUPORTE DA ARQUITECTURA

xtensão do superfície terrestre no


gru o humano» (37), ou melhor, o espoco construí e o ornem e
P-Oderíamos or e gue não t · idO-hum · o o. Eo es-
paço onde o homem exerce o suo occão, transformando-lhe os condicões físicos,
tmpon o- e o csuo orãem» (39).
oc uolj)êiisogem do Europa, e de certo modo por todo o mundo, é já o resultado
do acção do homem sobre um suporte físico preexistente. ·
As estruturas rurais, tal como os urbanos, decorrem de uma acção humano que ten-
de o dominar os elementos físicos e o clima de modo o permitir e os octividodes,quer es-
tas sejam urbanos, agrícolas ou florestais. Canais e valas, plantações, desoterros ater-
ros, socalcos e cominhos testemunham essa acção transformadora. Nos nossos regiões,
quase todo o espaço já sofreu o acção do homem . Muitos paisagens que se consideram
cnoturois» são apenas paisagens «construídos», com meios e objectivos diferentes dos
urbanos. A diferenço entre os espaços rurais e os espaços urbanos refere-se essencial-
mente 00 seu modo de utilização: em ambos os casos o homem actuo sobre o território,
poro nele viver, exercer actividades, e também de acordo com um sentido estético.
Troto-se de saber se os considerações anteriores sobre o formo urbano podem ser
extensíveis o todo o território, ou seja, se se pode considerar o construção do território
humanizado como fenómeno arquitectural. Questão que encontro também o seu lugar
no planeamento regional e urbanístico como disciplino de organização espll!ciol.

ALARGAMENTO DA NOÇÃO DE FORMA URBANA

O sítio e o suporte geográfico


A formo urbano não poderá ser desligado do seu suporte geográfico - e este é um
elemento tão importante como os factos construídos.
casos o génese e o potencial gerador dos formgs
pelo apontar de um troçado, pelo expressão de um lugar.

63
Rossi refere-se ao csítio» designando-o pelo locus. Mas o locus não é propriamente
o sítio geográfico. É a creia ão sin ular ue existe entre certa situacão local e as cons-
trucões que estão nesse lu ar». A escolha do lugar, tanto para uma construção como
para uma c1 a e, mlía um valor proeminente no mundo clássico; a situação, o sítio, es-
tava governado pelo enius loci, ela presidia a tudo -
senvolvia nesse mesmo lu ar. c conceito de locus sempre este.;'e presente na tratadís-
tica clássica, embora já em Pai/adio e depois em Milizia, o seu tratamento adquirisse
cada vez mais um aspecto de tipo topográfico e funcional.» !40l
Pode-se verificar que o território preexistente- o lugar- constitui sempre
mento determinante na criacão ar uitectónica. Quando__se_utilj am modelos idênticos
em sítios ishn os, a 1versi dos lu ares conferirá identidade 12ró ria a da u ._0
templo rego repete um tipo arquitectónico, mas de santuário para santuário a dif
te variar o seu aspec o. casos é o lugar que, pelo seu
potencial sugestivo, gera a própria· arqu1lec ura.
É frequente, em determinadas metodologias de projecto, o recurso sistemático a
qualquer preexistência como suporte da forma a criar. Recordo a obsessão das ree-
o discurso de alguns r:qu.i.t.eEto.u orto e Lisboa. Recordo ainda
alguém dizer que nada há de mais difícil do que pro'ectar num terreno plano e nu. O
? oce na IVO u 1l1za sem reex1stenc1a como apoio, e e
dor da forma arquitectónica. Por outras pa a ras, e como nos exemplos apresentados
por Rossi, o sítio é um cgénio» determinante e inseparável da arquitectura que o ocupa-
rá - no fundo, é já a génese da arquitectura.
<:oncluindo, não se pode falar de forma urbana sem lhe associar o suporte geográ-
fico, porque a forma urbana é indissociável do seu sítio e do território.

9s limites idade
Actual ente é difícil ou quase im ossível deter ·nar os limit s es a · is da «c· a-
A distinção entre cidade e território considera o território como envolvente da su-
perfície terrestre onde o homem exerce a sua acção transformadora, e a cidade como
o meio geográfico e social formado por um conjunto de construções e cujos habitantes
trabalham em maioria no seu interior (41),
A a · a cidade era e uena (42l, A su ormaJig.QY( -se estreitamente a
um sítio e a limites defe sivos administrativos e de fiscalizaç.ao.)_.q esta e eciam uma
barrei _entre eSJ20Ç.O «construído» e não constr · (.es oco rural).
Com a evolucão das técnicas militares e com a industrialização, a cidade transbor-
dou esses erímetros, diluindo-se a separação entre construí o e não construído. Os
consumos de áreas para novos há 1tos e necessidades as popu ações produziram a

64
2-12. Pormenor do plonto de Lisboo, 1826-1831 , de José Bento Souso Fovo. A cidode ultropos-
so ocidentes geográficos, e o núcleo primitivo desenvolve-se num conjunto desorticulodo de os-
sentomentos periféricos no território

65
A PAISAGEM COMO OBJECTO ESTÉTICO, A PAISAGEM-COMO ARQUITECTURA .
E A ESTÉTICA DA PAISAGEM NATURAL

66
··-..........
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·-·-·
..........................
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-+---- --<"-.. =
1

2-13 . Ilho de Moçambique . A reg ião, o sítio (o ilho) e o ocupação urbano desde o séc . XVI

67
_fgctor cultural. Emoção estética que pode existir de igual modo perante uma paisagem
ou um quadro de Picasso: um pôr do sol, um campo verde, uma aldeia, podem ser per-
cebidos como objectos estéticos de modo semelhante que os objectos manufacturados
ou as formas de arte. Valor que provém também de ue a anizada, a ci-
dade e o território sc3õ"'"fenómenosêülturais.
A beleza dos sítios tem justifica o o próprio ordenamento do território para a defe-
sa e preservação do ambiente e a sua fruição:_miradouros. vias panorâmicas,
proteccão rvas naturais são exemplos.
A aisa em humanizada mbiente ar uitectónico - colectivo .
Os cidadãos têm direito a viver em am •entes esteticamente qualr ICa os. O ireito à
qualidade da paisagem e da arquitectura é um direito social e, noutro sentido, funda-
mento da intervenção do arquitecto.
A defesa da paisagem é uma noção recente que surge justamente da ameaça cres-
cente sobre a integridade dos sítios que se vão tornando um bem raro, logo precioso, e
quando, a partir do século XX, o uso e exploração do território se sobrepõem a qual-
quer processo harmonioso da sua utilização. A defesa da paisagem significa, implícita
ou explicitamente, o reconhecimento da existência de aspectos figurativos. Por outras
palavras, permite considerar que as operações sobre a paisagem (conservação ou
transformação) são também do domínio arquitectónico-urbanístico (43).
Uma outra ordem de questões prende-se com a construção da própria paisagem,
entendida como arte de jardinaria ou «arquitectura paisagística». O seu ponto de parti-
da é bastante antigo: desde os «jardins suspensos» da Mesopotâmia aos traçados clás-
sicos do 'fim dos séculos XVII e XVIII que se ultrapassaram as simples noções de jardim
de Versailles a Fontainebleau, aos parques românticos, aos traçados das florestas de
caça, a construção da paisagem processou-se como extensão do meio edificado, pro-
pondo ao domínio arquitectónico novas organizações do território com novos «mate-
riais». No século XVIII, o alargamento da noção de «jardim» a uma vasta paisagem,
alargando as concepções estéticas da arquitectura à grande escala, perfila duas atitu-
des: a conce cão naturalista in lesa e a racionalista 1 geometrizada, cartesiana, fran- ·

68
2-14. Montanha de Sainle Victorie - Aix-en-Provence - pintada por Cézanne em 4 quadros
diiferentes

69
gem encontra no traçado a cordel rectilínea e na ge_ometria os prindpios de organiza-
ção espacial, estendendo pelo campo ou jardim o modelo dos traçados clóssicos urba-
nos.
A origem do cdesenho• da Natureza encontra-se na própria arquitectura, como ar-
te de organização do espaço, sem distinção de materiais utilizados: elementos
ou minerais, como a madeira, a pedra e o betão, ou elementos vegetais, como plantas
e órvores. Quaisquer destes são i .Y.O.l.m.ente elementos morfológjços porgue são partt!
de uma estrutura e e n um es e uma forma.
A rac1ana ização dos éampos disciplinares e a comp exidade dos conhecimentos
co tribufram para a divisão entre a arquitectura urbana e a arquitectura da paisagem
a também ente o um alargar do campo da arte de jardinaria.

FORMA URBANA E FORMA DO TERRITÓRIO

70
2-15. Tavira - o território orgcnizado para divenas funções e actividades a cidade
e os a pesca e os porios; o campo e a agricultura; as solínas e o inclústria do sal;
as proias e o turismo

71
3

2-16. Escolas sectoriais, urbanos e territoria is - Tavira . 1. Um espaço ur bano: o largo ou o


praça do Alogoo. 2. O bairro/o escalo urbano . 3. A cidade/o território/o escalo I tilotial

72
2.4 DIMENSÕES ESPACIAIS NA MORFOLOGIA URBANA
Avanço agora duas hipóteses relacionados com a dimensão da forma urbana.
• A noção de FORMA aplica-se a conjuntos urbanos de diversas grandezas e comple-
xidade. Fala-se de cforma física» para uma praça, uma rua, um bairro, uma cidade e
até para uma área metropolitana. Não existe um limite específico, mas sem dúvida a
dimensão e a escala estão sempre implícitas nas formas urbanas.
• O espaço humanizado público !45) constitui um ambiente global que só como tal pode
ser compreendido. O homem vive numa continuidade ambiental, e as formas urba-
nàs ou territoriais são constituídas pela composição de diferentes unidades espaciais
e elementos morfológicos. Na forma de uma rua ou de uma praça, podem-
-se distinguir as particularidades dos edifícios que as delimitam e as estrutur9m; na
forma de um bairro, podem-se distinguir as ruas e praças que o compõem e nas quais
este se subdivide. E assim por diante.

Estas duas hipóteses relacionam-se quer com a análise das formas construídas quer
com as metodologias da sua concepção.
A compreensão e concepção das formas urbanas ou do território coloca-se a dife-
rentes níveis, diferenciados pelas unidades de leitura e de concepção.
Nesta ordem de ideias, pode-se recortar o espaço em partes identificáveis. O crité-
rio para esta subdivisão decorrerá quer do modo como se processa a leitura quer do
modo como o espaço é produzido.
ABa ' -de-tisboa é composta malha de ruas ortogonais que ligam pracas
nos extremos. Mas a Baixa é identificáve como um o o e su6atvtstve em ruas, praças,
qua eirões e edifícios.
o vegetal em branco sobre o estirador, o arquitecto tenderá a conceber o espaço
quer a partir das unidades estruturantes quer por adição de elementos.
Assim, pode-se estabelecer uma classificação das escalas ou dimensões da forma
urbana.

DIMENSÃO SECTORIAL - A ESCALA DA RUA

73
DIMENSÃO URBANA - A ESCALA DO BAIRRO

É o parti o di.llens- colo, que existe verdodeir e o área urb ,o


cido e ou porte dela. Pressupõe uma estruturo ae ruas, praças ou formos de escolas in-
feriores. Corres onde numa cidod os bairros, às portes homogéneos identificá is, e
pode englobar o totoli o e o vila, aldeia, ou do próprio ci o e. esta dimensão, os
elementos morfológicos terão de ser identificados com os formos o escola inferior e o
análise do formo necessito do movimento e de vários percursos.

DIMENSÃO TERRITORIAL - A ESCALA DA CIDADE

Nesta dimensão o formo est - através do articulação de diferentes formos à (


dimensão ur ano, diferentes bairros li os entre si. A ormo os c1 o es e "ne-se pe-
o distn uição dos seus elementos primários ou estruturantes: o mocrossistemo de ar-
ruamentos e os bairros, os zonas hobitoci nois, centrais ou produtivos, que se articu-
lam entre si e com o suporte eog.._,r ....
• "'. ......._-'.L"'--
evl ente o Importância do moviment no conhecimento do formo do cidade, mo-
vimento mais rápido que o necessário nos dimensões anteriores. Acidentalmente, al-
guns sítios permitem uma visão global do cidade: o ponte sobre o Tejo, em Lisboa, por
exemplo. Quando tal sucede troto-se de um ponto de visão excepcional (4Bl.
A estrutu lobal-dos--ei des pode-se assimilar o ai uns ti os reconhec' is: cida-
des ineores, rodioco em mo ha__odogonol,-f'.adiois, etc,
Estes tipos correspondem às mocrorgonizoções e são reconhecíveis em quase todos
os assentamentos urbanos. Correspondem também aos elementos operacionais e distri-
butivos do planeamento urbanístico o esta escalo.
A disseminação do urbanização no território fez surgir outros tipos de que o área me-
tropolitano e o conurboção são exemplos.
O planeamento tem contribuído com outros tipologias. O Plano do Grande Lon-

74
dres de P. Ab rie em 1944, avançou com um tipo de macrorganização que fez
escola e oi posteriormente ap ao planeamento das cidades: o núcl ntral e o
anel verde reen belt, as recintos e, finalment cidades nova ue envolviam o
gree lt a istanc1as ióveis. Os esquemas de Howard, sistematizados na teoria
âas garden ct es, são outro exemplo. A cidade linear de Milliutyin também. Qualquer
destes esquemas corresponde à necessidade de ordenar racionaJmente vastos territó-
rios urbanos entendidos nos seus conteúdos funcionais, urbanrsticos e também cultu-
rais.

•••
A classificação intentada apoia-se em classificações anteriormente apontadas por
Tricart e retomadas por Rossi. Tricart, no seu Curso de Geografia Humana, define três
escalas principais na paisagem urbana:

• A escala da rua ou «parte da rua• (bout de rue), que corresponde ao espaço abran-
gido por um observador num ponto qualquer da cidade.
• A escala de bairro, entendida como um conjunto de quarteirões de edifrcios, ruas,
praças, etc.
• A escala da cidade inteira, entendida como uma assemblage de bairros !49) .

Rossi encontra também três escalas, reequacionando a divisão de Tricart:


• A escala de rua;
• A escala de bairro, formada por um conjunto de quarteirões com caracterhticas co-
mun
• A escala da cidade, considerada como um conjunto de bairros.

Para Rossi, os elementos fundamentais da paisagem urbana à escala da rua são os


imóveis de habitação, entendendo o imóvel ccomo uma parcela cadastral em que a
principal ocupação do solo é constiturda por collstrução• !SOl.
Rossi segue a de Tricart e introduz também contribuições estudadas
por Marcel Poete e Henri Lavedan. A perspectiva destes dois autores, essencialmente
analrtica e interpretativa, deixa em aberto a correlação com o processo e método da
concepção arquitectónica e do desenho urbano. As categorias estabelecidas permitem
sistematizar o conhecimento do espaço urbano, mas serão tanto mais vólidas quanto
puderem corresponder também às etapas, metodologias e processos operativos de
concepção arquitectónico-urbanrstica.

75
76
Q Proposed so tellit e tow nt
'I
l .\ New townt , os o ctuolly bui lt

\ - - - Eapreu orter io l' roods

'i
.
-----Arter ial roods

..... •.> :,(109


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/_ ., ./ · I!Jil
.....
Crow ley
·......
o lSmile1 lnner urbon ring

o 20 km .

2. 17 . Organização do morfologia do território: O Plano do Grande Londres - 1944, de Sir


Patrick Abercrombie

77
reutilizadas, deixando, apesar de tudo, margens de liberdade a cada mudança de es-
cala. E.(iste assim uma enorme interdependência entre as diversas dimensões em que se
opera sobre o território: o ões e decis- s-tom das a um escalão superior condicio-
na escalões inferiores e vice-versa. E o seu en deamento é n amenta , se se
pretende uma coer nch ormal e estética no espa o construído. Por exemplo, nas op-
ções de localizaçao e uma área urbana numa encosta ou em erreno plano, são ime-
diatamente excluídos certos traçados e malhas urbanas, jogos de volumes e formas.
Numa encosta, as «vistas• poderão ser completamente ocultas e inexistentes, obstruí-
das pelas construções ou, pelo contrário, serem elementos do espaço urbano, se forem
voluntariamente procuradas.
· Estas questõ.es são complexas, porque, se no escalão do desenho urbano é corrente
e «pacífica• a existência de preocupações formais, já no planeamento regional se
na mais · cil ex licit as reocu a ões icas. a eitura ou intervenção numa
área metropolitana, não interessará saber quais os vimentos, ou a tipologia de por-
tas e janelas. O que contará a esta escala será antes a organização dos grandes ele-
mentos estruturantes: grandes eixos viários e perímetros urbanos, zonas arborizadas
ou verdes, etc. A este escalão, existe um vasto campo de pesquisa e investigação sobre
o modo como introduzir as preocupações morfológicas, estéticas e arquitectónicas sem
cair em preocupações meramente visuais, e de modo a tornar operativo o encadea-
mento com os escalões inferiores do planeamento.
Em resumo e finalizando, diria que a classificação enunciada pretendeu clarificar
a leitura do território, articulando-a com os diferentes níveis de produção do espaço.
Esta correspondência é extremamente importante. Por um lado, a com-
preensão. do território em cada nível .de planeamento, aí explicitando as variáveis ou
atributos de carácter formal; por outro, permite introduzir no planeamento
preocupações morfológicas que geralmente se diluem em métodos que relegam as
preocupações arquitectónicas para os últimos níveis da produção espacial, tantas ve-
. zes pela falta de instrumentos operativos que permitam tratar as questões formais em
qualquer escalão.

78
2.s OS ELEMENTOS MORFOLÓGICOS DO ESPAÇO
URBANO

A morfológicos pressupõe conhecer quais as artes


do como se estruturam nos i erentes esco os 1 enti icodo .
Sendo o leitura e composição urbanos essencialmente arquitectónicas, f?Odemo.s
, o licor ao es oco u smo métodos inter retotivos do ar uitecturo.
- Num edifício, os elementos morfológicos são também elementos construtivos e
espaciais. Nos épocas clássicos, do Renascimento ao Barroco, podem-se identificar
os colunas, o frontão, o entoblomento, o cornijo, o soco e tontos outros. No arqui-
tectura «moderno•, tais elementos não existem, mos existem outros: o pilar, o viga,
o pala de betão e por aí foro. São elementos diferentes e, por serem diferenles e pe-
lo modo como se organizam, diferenciam o arquitectura dessas épocas.
Janelos e escadas e outros elementos sempre existiram e sempre desempenha-
ram idênticos funções: iluminação interior ou união entre níveis diferentes. Tiveram
dimensões e formos diferentes, posicionamentos diversos, intenções estéticos distin-
tos: umas vezes trotados como simples elementos funcionais e discretamente inseri-
dos no edifício, outros trotados como elementos estéticos, marcantes, exacerbados,
como do Conv de Cristo, em T Estes elementos são, à partido e
em si mesmos, exigências funcionais e construtivos. O modo como se posicionam e
se estruturam nos edifícios tem o ver com essas exigências, mos depende dos inten-
ções de comunicação estético ou daquilo o que se convencionou chamar o «lin uo-
-9.!!!LDrquite.ç_tónico». É evidente que-t....o o dizer isto, oce!!.g os contributos..dG-semiolo-
io ar uit ónico, no medido em que o codificação do uitectóni
eo o o com 1 uogem é um mtffi u o teórico interessont (521.
Os elementos mais génericos, como os pore es, os coberturas, os janelos, os
vãos, os portos, os escadas, os rompas e tontos outros, são relativamente constan-
tes no arquitectura {como, no sentido mais geral, são relativamente constantes os
palavras no linguagem ao longo dos tempos). As suas característicos e aspecto ex-
terior, o modo como se inter-relacionam num edifício é que variam de época poro
época ou de autor poro autor e têm ci ver com uma linguagem, com o estético e o
comunicação e com o organização do próprio espaço.
Em tod ui ocidental, podem-se identificar tais elementos: são o
los s mínimos reconhecíveis nos e 1 1c1os com uma função con tr

79
Recorrendo a analogias estruturalistas da semiologia e com alguma prudência, po-
deria comparar a linguagem arquitectónica e os elementos morfológicos dos edifícios
com a linguagem literária (53), na qual existem o texto e as palavras. Estas articulam-se e
posicionam-se para formar frases e ideias . Para tr smitir uma ideia num texto, existem
v · 'cu_p_ossibili des lin u· ticas, literárias, de estilo e ..o..mesrii.Q_ed'-
fício ou QrQ.Q a ode ser organizaao e construído com formas e «linguagens» arqui-
,te.ctónicauiilt.ea.Qh.
- "1>- Pode-se também v · 'cor
constan es na rgyltectuoo.-é..
rovém a comunicação estética do objecto ar ui
Esta constatação e om ém extensivo ao espaço urbano. No cidade, o sentido figu-
rativo, como obro de arte colectivo, provém dos objectos- edifícios (ou construções)
- e do suo articulação com o espaço por eles definido.
O que disse sobre os edifícios é extropolável poro o espaço urbano. Todovio, desde
logo, existe o necessidade de estabelecer uma «escola de leitura», ou se'o, estobelec
quais os elem ur ano!
« u -repticiomente» já o havia feito, quando, ao folar de portos, não mencionei os
dobradiços, os fechaduras e batentes, ou, ao folar de escadas, não referi o degrau, o
cobertor, o espelho, ou, ao folar do espaço urbano, não falei dos postes de iluminação
ou dos fios eléctricos, que também são importantes, mos certamente já em outro nível
de leitura.

O SOLO - O PAVIMENTO

É a artir do território existent e da sua opogr-af!a que se desenha ou con ói


dade, e comecar1a no «C ão que se pisa» a identificarCi't-elementos morfológicos do es-
Põ'ÇOurbano. a topografia e modelação do terreno, mas são também os revestimen-
avim tos, os degraJLs e empedr do , os I ncis as faixas asfalto o os
carris dos e os ectos.
O solo-pavimento é um elemento de grande importância no espaço urbano, mos
elemento também de grande fragilidade e sujeito a contfnuos mudanças. Bosto relem-
brar os evoluções dos pavimentos, ao longo dos tempos. Mos, em contrapartida, re-
lembraria o enorme diferença de aspecto e comodidade que o correcto trotamento do
solo e o pavimentação conferem à cidade.
Registo os conflitos dos interesses que disputam o solo público - o tráfego rodoviá-
rio e o uso pedonal, pelo menos, e o evolução negativo deste conflito em cidades como
Lisboa, em que de ano poro o ano o solo disponfvel poro o peão vai inexoravelmente
diminu indo.

ao
COR.TIC l:':>GUE. M.! TIU\ UE T E.LH.! Do UE T"E'>OIJRO

CORTE!J
. De J101:J TIPtJ., Dl. De. Du4& A .6LAA'!»

l.. CAPELA

2-18. As coberturas dos edifícios no formo do cidode: os "Telhados de tesouro" em Toviro.


Em baixo à direito, um dos mois interessantes conjuntos no Ruo Almirante Cândido dos
Reis, junto à Ermido de N. Sr" do Livramento. Destruído em Junho 2000.

81
2-19. A formo urbano determinado pela exasperação das elern§nlos morfológicas: as edifi-
cias. A especulaçõa sobre a sola, e a dinheiro, determinam a formo do cidade: New Yorlc.
Vistas axonométricas do parte meridional de ManhaHan. Des. em 1980

82
2-20. O edifício como elemento do formo urbano . O conjunto •Amoreiras• - Arq . 0 Tomás Ta-
veira ..___

83
OS EDIFÍCIOS - O ELEMENTO MÍNIMO

Para definir qual o mínimo elemento morfológico identificável na cidade, há que es-
uma hierarquia de valores e fazer uma selecção entre as colecções de objec-
tos que povoam o espaço urbano.
Em primeiro lugar, há que mencionar os objectos cparasitárioSIO, (54) tão profusa-
mente ilustrados nas cidades capitalistas: néons, anúncios, escaparates, montras, etc.,
sucedem-se em profusão, com variações que alteram a imagem da cidade. A outro es-
calão, o mobiliário urbano: o banco, a bica, o quiosque e ainda a árvore, o canteiro ou
as plantas caracterizam a imagem do espaço urbano.
Estas coleccões de ob·ectos são, «elementos m ·s» afectando ·ferentemente a
formõcla cidade. Distinguiria, no entanto, a árvore, gela sua · ortôncia e apel qua-
se idênticos aos os e ifícios. A esta questão voltarei · tarde.
através dos edifícios coo titu1 o es oco ur no e se or anizam os diferent
es iC:Ientificávei com ;formá própria»: a rua, a praça, o beco, a avenida ou ou-
tros espaços mais complexos e historicamente determinados como as invenções dos ur-
banistas ingleses do. século XVIII: crescents, squares, circus, etc., ou, de outro modo, se
identificam os espaços urbanos modernos.
A l?ue de !?ivo/i ou a Praça do Comércio seriam bem diferentes se os seus edifícios

84
·-.....
....... ,.. ..........

---·--
• • • Willililll&•
2-21 . Variações arqu itectón icos do utilização do tipo ed ificado . J. N . L. DURAND . Ensem-
ble d 'édifices resultonl de diverses combinoisons horizontoles el verticoles, d 'oprês /e corrê
divisé en deux, en trais, en quotre, e! porches ouverts pordes entrecolonnemenls . Segundo
o Précis des Leçons d 'Architecture Oonnés à /'(cole Polytechnique . Ed itado em 1813

85
res eito os necessidades funcionais e mite elaborar um projecto», (56) distinguindo-se
o «modelo», que será o representação de uma outro reo i ode.
Dos relações tipologia-morfologia, ressalto que-E_ espaço dos tip01_
edificados e do mod como estes se o .
A tipo o 10 edificado determino o formo ur ano, e o formo urbano é condici o-
ro o tlpolo ia dificodo num evo uçoo o arquitectura e do ur-
on•smo no período entre os duas guerras (1918-1939) revelo inúmeros exemplos de
procuras tipológicos no habitat residencial: no quarteirão nos bairros holandeses, nos
Siedlungen sociais-democráticos alemãs, ou nos Hoff austríacos, e até exemplos mais
extremos, como o Unité d'Habitatian, dele Corbusier, é o tipo edificado que vai Q!jgi-
nar e detrminor os formos urbonàs.
Esta int o é um os campos m · ólidos ue se coloco relo ões
entre o cidade e o ar uitecturo. o e ser o servodo ao longo do História, onde o or-
mo ur ano é resu to o, pro uto, e simultaneamente geradora do tipologia edificado,
numa relação eminentemente dialéctico entre cidade e arquitectura, entre formo urba-
no e edifícios.

O LOTE - A PARCELA FUNDIÁRIA

86
2-22. Loteamentos clandestinos no concelho de Almada . Planta Cadastral, I. G . C., 1977,
e Levantamento Urbonrstico do Plano da Troforio- Vila Novo- Costa do Caparica, de
Carlos Duorte-Jos' Lamas

87
Esta é, de resto, uma importante ruptura provocada pela cidade moderna, num
quadro de relações diferentes dos elementos morfológicos com o espaço urbano.
Os estudos do Laboratório de Urbanismo de Barcelona sistematizam três etapas no
crescimento urbano: o Parcelamento (.c cimento a Urbanizacão infra-
e a Edificacão construção de edifícios), e, verificam que nem sempre os três existem ou
se encadeiam igualmen e. as, na expansão urbana da cidade tradicional o parcela-
mento precede a urbanização, enquanto no conjunto moderno a ênfase é dada na ur-
banização e edificação, jó que o loteamento não existe, embora se possa sempre iden-
tificar como lote o terreno debaixo do edifício (57).

O QUARTEIRÃO

A definição do quarteirão tanto pode basear-se na sua forma construída como no


processo de traçado e divisão fundiária.
O uarteirão é um contínuo de edifícios agw ados entre si em anel ou istema f
.chado e separa o dos-demais· é o es oco delimitado pelo cruz to de três ou mais
em parcelas de cadastro o es para construção de 1c1os. tam-
bém um mo e o e istn uição e erra por propne s n 1arios. Como é também
o modo de agrupar edifícios no espaço delimitado pelo cruzamento de traçados.
O sistema do quarteirão é muito antigo. É um processo geométrico elementar, eco-
mo tal começou a sua existência. A partir desse processo elementar, foi adquirindo es-
tatuto no produção do cidade, como unidade morfológico. Agrupo subunidades, mos
pode também constituir o porte mínimo identificável no estruturo urbano.
Em muitos situações, o quarteirão subdivide-se num conjunto de edifícios e é delimi-
tado por quatro vias. Os edifícios delimitados pelo lote constituem portes do quartei-
rão, portes essas por vezes diferenciados em altura, em profundidade, em programo.
casos com ai bolino o q.MOcteiLão confunde-se co ronde
edifício ou grande parcela. No Plano do Martim Moniz, (58) as unidades-base do formo
urbano são qua e1rões 1 entificodos com lotes ou os próprios edifícios, fornecendo uni-
dades de edificação operativos no parcelamento do solo em «direito de superfície».
Todavio, se a marcação do lote se identifico com a delimitação do edifício, o marca-
ção do quarteirão pressupõe uma hierarquia superior, identificando-se com o definição
do espaço urbano. O quarteirão não é autónomo dos restantes elementos do espaço
urbano- os troçados, ou os vias, os espaços públicos, os lotes e os edifícios. É simulta-
neamente o resultado de regras geométricos de divisão fundiário do solo e de ordena-
mento do espaço urbano, e um instrumento operativo de produção do cidade tradicio-
nal. Esta dualidade confere-lhe um lugar determinante no cidade tradicional como

88
21 PISO 1t PISO

1t PISO

CORTE 1t PISO

n.J'""I
O I l 4•

Al..ÇAOO

fi...J'""I
(, I 2 4.-.
21 PISO

CASA URBANA MEDIEVAL CASA URBANA PRÉ-RENASCENTISTA CASA URBANA CLÁSSICA


Corresponde ao modelo de bebi taçio Evolução tipol9 ica da anteri.o r , N n tim
urb'!na anterior ao aéc. XV, tipica ela a fachada estreita, con porta t o .odelo te casa d e 2 pisos, ch. . .da localM nte de
na area do castelo (antes das e ch.aaini de escuta, Nl apresenta ua •sobrado• . O piso (corresponde ao •p iano .obile•)
deMOlições), ex h te• seg undo p ilo a que corresponde j anela i reservado a Mb i taçio, o lO piso aedestina a
ainda variados exeaploa) e na priMira na fachada . usos utilitár ios ar. . 'lens, co'linha , lo j as, etc ..
irea de extrunuo a, •o l onqo O pri ... iro p ilo i • acede·•• A organhaçio funcional define-se por u.a1 aequincia de
da Rua de Arouche. Norul•nte ao andar s uper ior por escada , eapaçoa rectanqulares ligados entre ai ••• hierarquia
apresenta wu fachad• eatreira (4-6 111 ) noriNlMnte de cotovele. aparente.
COII porta e cha•ini de eacut.ã caT---' A diltribuiçio i . .Mlha nte i de c a se
vezes .ea1a0 ••• c haaini) . O espaço anterior e, •• certos casos, para O 10 piao i abobadado noa espaçoa Miores defin i do• por
i nterior i div i dido ea doia o bter . . torf'l re corre-se a paredes •stras e o acesso ao andar superior faa-se taabia
co•parti-ntoa no p iso, que arcos estrutura is. por escada no t i po preceden te,
co rresponde• i co zinha / sala e quarto, Na hchada aio int r odut.idas .alduraa A c011posiçio da f achada respeita o .odeio c láa lico e a
zona a de e atar e dor111ir. Quando ae de vioa de desenho clialico e a cobertura j de duas iguas paralelas i rua.
necea a irio_aa ia de ua qu arto, cobertura i de duas igual.
aao teit•a d i vhoea por tabiques no Alia dos ele . . ntos j i referenciados, c aracter i zaa ainda a
existente. A.a vezes i ainda aorfolOCJia t .rad icional o uso de soco e cunhais, ou
acrescentado wa Mio piso. A cober tura p i laatra a, definindo a frente ccnat ruida ; a ut ilh açio de
i de iqua (h veze s duas). Qua .. j ane l as de peito no 10 p iso, a linhada • coa s acada s no 20
sempre existe wn peq ueno loq radouro piso e . . ntendo ua ritao hori zontal c onata.nte, e• que a
na a traaeiraa. diM:naio do vic é ae111.pre i nfer i or ao pano de pa rede que o
separa do •,!guinte.

2-23 . Tipologias construtivos, segundo o análise do Plano do Centro Histórico de Mouro (orq .••
C. Duarte e José Lamas)

89
11

OCUPAÇJo DO LOR, ORGMIIAÇJ.O DA


I'ACHADA

A foraa ocupação lote


procede, 9eral•ente, de acordo ca
o principio aproveitar a
extenaio da frente do lote, que
correapoMe à fachada, •
para o intar1or lote
uaa uJ.or ou ...,.,r lrea conto.... 1
aalvagu&M&Mo . _,
al91J88 lrea para
A Or<J&D1aaçio fachada U:u-ae
nwo IIOdelo caractarlaUco
Tavira 1 ua ou doia piaoa, la
veaea tria, eobertoa por telhado•
de teaouro ou 4 iguaa , .. que c

etc.), • oa reatutea

babitaçic
Aaaia, oa vãoa aio de porta • jan•
no 19 piao, • no aec)U.Ddo, de aacac
Da caaoa.
Ao loDqo ® t•po a .. iD&l. .-•• d1
teMinciaac l. a cODforaação aa1a
regular lote e lrea
2. a 11Ultip11caçio do DlhMiro de v i
que •• tornaa aaia eatreitoa •
diainu• o espaço etre 81. B, ao
Mao teço duas 1.
que conforaa o espaço da
rúa, • 2. o lO<Jradouro que i
DO interior lote, pal1
irea

-
&.NO DE REABILITAÇÃO E SALVAGLI&.ROA DO CENTRO HISTÓRICO DE TAVIRA .... sintese , eyolaj:ão ti,Olociea •
9 aalomerado e do etlifiedo

2-24. Anólise da ocupaÇ{Io do lote e arganizaç6o dos fachadas e 110lumetrios no centro


his1órico do Tavira. Segundo o plano de Carias Duarte • José Lamas

90
II

I - Pequeno voluae, de 1 piso, ou


artiCIIllldo CQII 011troe, de l
ou u ie pieoe. Prente eetraita
a qranda profundidade. Cobartu
ru CQII telluodoa da 2 ãquU (!
ou da teeouro ( 2) I! Terraço (ll
II - Virioe vol-• articullldoe,
l. B 2 piaoa, coberto• coa
talbadoa de teaouro a terraço•
(4, 5, 6)

III - Grande• voluaee, da 2 pieoe,


tdbadoe de 4. lguu
ou llilltipl ó e ) ; a ua terraço
anuo (7, 8, 9)
10. Grande volu.e, .mito
profundo, ceia telluodo da
2 lquaa perpendicmlar à
facbeda, ceracterlatico
de araaaina a otic1Daa .
ROte-aa o deaanbo da
platibanda.

!J.o DE E DO CENTRO HISTÓRICO DE TAVIRA slntese , eloluFio tl,oloalea ••


.af \JIMie • Dl\IXII DI f .......:1'-"A , LJ».
9a lomer••• e fi dlflc..o

2-25. Anólise da volumetria das constrvç6es e ocupoç6o do lote. Segundo Plano de Centro
Histórico de Tavira

91
2·26. E"ru\o"d '1

Pombolloo ''''" om . 000


otroçados e gero 'fmmo
lo\o "'"""'"'' . Avenidas de 4Re
odlfi<odo. Ires
CIOGo«O
estreitO rImite
. do.. Bairro
zona<(1880·19",;.,1)
de
noLisbo .
estruturo d I XVI}resulto
Alto (séc. •· 2 . BOIXO
.de
Alto l"obote
' IS ao , ocupando

92
a.. r mgl.
_.. a:-un
Arranganeut

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lotiuOD\mt.
pare eU.. . de•
a. ciU jardin..

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J'j!fiSI •.P.rcd!u coup«•
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149. Loti•a.mmt díwfPWZ>dilottl• t:tU jutliA
,.r Jeu8 pMt:u 1ntft;ft»Yf con.JU!fu.W /1/I•J

Fig.154Parccl1er .. hrnt.;l
.. 'halancernmt .

.......... _... .-
:::.: . : ... -

2-27. Recomendações sobre o organização dos quarteirões e loteamentos. Segundo Ed . Joyant·


- Traité d'Urbanisme, Paris, 1929 _ Parcelamento na renovação dos quarteirões da zona da Bol-
sa em Marselha, segundo o Plano Hebrard e Ramasso (1906), mostrando os alinhamentos, volu-
mes e redistribuição fund iária .

93
elemento morfológico autónomo ou elemento físico, mfnimo à escalo do bairro (do
mesmo modo que ao escalão inferior se identificou o edifício).
Ao longo do suo evolução, o quarteirão foi sedimentondo modos de utilização so-
cial que culminaram nos complexos estruturas do cidade europeia dos finais do sécu-
lo XIX, de que sã exemplos o quarteirão de Houssmonn em Paris, de Cerdó, em Bar-
celona, ou de Ressono areia, em Li oo. Nessas estruturas, o quorte1roo orgon1zo
nções o 1tocionois, comerciais, de serviços e trabalho - artesanato. e pequenos
indústrias em função de práticos sociais de utilização do espaço público: o ruo do fren-
te, o fachada principal, o entrado principal; espaço semicolectivo no logradouro inte-
rior, com o entrado de serviço nos traseiros; espaço privado no interior do prédio e dos
alojamentos.
O quarteirão agrego e organizo também os outros elementos do estruturo urbano:
o lote e o edifício, o troçado e o ruo, e os relações que estabelecem com os espaços pú-
blicos, semipúblicos e privados.
O quarteirão foi (e é) um instrumento de trabalho urbonfstico no produção do cida-
de tradicional, permitindo o localização e definição do arquitectura e relacionando-o
com estruturo urbano. Foi um elemento morfológico sempre presente nos cidades até
ao período moderno, constituindo elemento do estético urbano.
O Mo · nto M imprimiu ao quarteirão um rocesso de transformações su-
cessivos que culminar m no seu ono. num uodro mais v"ãsto de rofU ndos modi:-=-
' ficoçoes maneiro de ensor e or onizor o cidade.
O quarteirão durou até ao pós-guerra, altura em que cedeu o lugar o outros formos
poro voltar à cena do composição urbanístico nos últimos dez anos.
Por isso, reservo poro mais tarde outros referências ao lugar e papel desempenho-
do pelo quarteirão no estruturo urbano.

A FACHADA, O PLANO MARGINAL

No cidade tradicional, o relação do edifício com o espaço urbano vai processar-se


pelo fachada. Entalado entre duas outros empenas, cada edifício dispõe apenas do fa-
chada poro o comunicação com o espaço urbano.
A importância do fachada decorre do posição hierarquizado que o lote ocupo no
quarteirão. E o situação descrito é o situação corrente dos tipologias habitacionais,
com excepções evidentes quando o edifício se situo no meio de um quarteirão ou do lo-
te mais vasto que ocupo.
São os fachadas que vão exprimir os corocterfsticos distributivos (programas, fun-
ções, organização), o tipo edificado, os corocterfsticos e linguagem arquitectónico (o

94
SÉC. XVI E ANTERIORES SÉC. XVII E 1a METADE DO SÉC. XVIII

2° METADE DO SÉC. XVIII 1o METADE DO SÉC. XIX I

2 3 4
2° METADE DO SÉC. XIX

1. Gótico
2. Manuelino

2·28. Anólise do forma dos võ..s e organização das fachadas no centra histórico de Tavira.
Plana do Centro Histórico de T;Mra - C. Duarte - J. lamas

95
estilo, a expressão estética, a época), em suma, um conjunto de elementos que irão
moldar a imagem da cidade. É através das fachadas dos edifícios (e dos seus volumes)
que se definem os espaços urbanos. A fachada é o invólucro visível da massa construí-
da, e é também o cenório que define o espaço urbano.
Eugénio dos Santos, na Baixa Pombalina (1756); Perder e Fontaine, na Rue de Ri-
vo/i (1819); Haussmann, nas renovações de Paris (1856); e também oo ai e filho
em Bath (1728 e 1774) acentuaram ainda mais a relação da forma urbana com a a-
chadas dos edifícios, através de sistemas em que a fachada é desenhada previamente.
A fachada obedece aí a desenhos re eti · s. Por de · s os "fisios
onstruíam-se com re iva in e en ência, segundo programas diferentes.
ste sistema evide ia outra «funç_ã a»_ ac ada a trons1cão entre o mundo col c-
f o do espaço urbano e o mundo pdvod das edificocõe A fac ado assume em de-
termino os epo os do esforço estético, procurando o aparato, a repre-
sentatividade, a ostentação e o prestígio, moldando a imagem e a estético das cidades.
A artir d cbonism od o edifício, e canse uentemente o suo fachada, dei-
ar no espaço urbano o posição que etinha no cidade tradiciono , ossonao
o ser um objecto isolado em redor o QY.OI existe es oco ivre. Deso orecem as .
nos, e os lo os possam o ser vistos e o pertencer à imo m o cidade. Canse uente-
mente o or· ocão dos edifícios deixo de ser inada pela orientação dos troco-
o rincigol» para a rua. es e c n exto, moelif1co-se fo -
temente o posição e o importância do
Em paro e o, as regras e orgamttJçãe--e desenho dõ s edifícios também se modifi-
cam. Ate ao Movimento Moderno, o fachada admitia grous de autonomia em relação
ao interior do edifício, obedecendo a leis de simetria, repetição, equilíbrio, hierarquia e
enfatização de alguns elementos mais significantes {o porta principal, o andor nobre, o
eixo de simetria e o porte central, etc.), evidentes nas arquitecturas eruditas e tontos ve-
zes nos arquitectura populares. Tais regras eram aplicadas em função de uma imagem
exterior pretendido, o que por vezes se subordinava o interior dos edifícios.
A "tecturo moderno vai «moralizar» esta situocã - ela obrigação de traduzir o
es oco interno uncões do edif1c1o na i xterior. A p anta deve corres on-
er o fachada. A leitura dos textos de Bruno Zevi (59) evidencia o es OrÇc; moderno de
relacionamento entre o interior e o exterior dos edifícios.
Essa atitude teria no limite algumas perversões nos anos sessenta, em que os edifí-
cios se organizavam como se de «organigramas» com paredes se trotasse.
Por via das regras modernas, o importância da fachada é eliminado pela diferente
posição do edifício no estruturo urbana e o volume e o massa edificada vão absorver o
esforço de comunicação estético entre o edifício e o espaço urbano, substituindo o mé-
trica, ritmos e o estética das fachadas.

96
Cl

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necc, i .i .

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2-29. A importância dos feche dos no espoçc urbono. 1. desenhos de Percier e Fontcine pore
o Rue de Rivo/i (1800) . 2. Os ·desenhos de Eugénio dos Santos e Carlos Mordei pore c Boixc Pom-
balino . 3. Fcchcdcs dos palácios sobre o rio Gilõo em Tavira (sécs. XVI , XVII, XVIII e XIX)

97
\

Como se pode concluir, a fachada tem uma importância e significado diferentes na


morfologia urbana da cidade tradicional e na cidade moderna.
Para finalizar, direi que, ao identificar a fachada como um elemento morfológico, a
entendo como um elemento determinante na forma e imagem da cidade, elemento ao
qual desde sempre se atribuiu um alto significado no projecto arquitectónico. O reen-
contro com a arte urbana teró de assumir de novo o cenório urbano - não desligando
o desenho das fachadas dos problemas de urbanismo - e através desta questão ·esta-
belecer também um elo de continuidade e integração entre desenho urbano e projecto
arquitectónico.

O LOGRADOURO

oco rivado do lote -o oc or construçà.Q,_m.


traseiras, o espaço priva o, se arado o espa o público pelos contínuos edificados.
ogra ouro 01, também, na c1 a e r c1ona , um res1 uo, ou resu ta o dos
acertos de loteamentos e de geometrias de ocupações dos lotes.
· Teve vórias utilizações ao longo das épocas, desde a horta ou quintal até à oficina,
garagem ou anexo, ou utilização colectiva em situações mais recentes, em sistema de
condómino. É, em boa medida na u · · - 0-l=douro se a
evolucão das ma as . · densificacã.o, reco M ão. oê paçª-2.radourêL
vai oferecen · s modif sos acolhendo numerosas ac-
t . s gue não encontram. outr gar na cidade.
É através da utilização e desenho do logra ouro que se faz parcialmente a evolu-
ção das formas urbanas do cquarteirão• até ao cbloco•.
Todavia não creio que o logradouro constituísse um elemento morfológico autóno-
mo. É, fundamentalmente, um complemento residual, um que fica escondido:
não é utilizado pela habitação nem contribui para a forma dos espaços públicos. Este
lugar modesto na morfologia da cidade tradicional é justamente o seu maior atributo,
permitindo-lhe jogar um papel relevante na evoiÜção da cidade.
É através da utilização e desenho do logradouro que se faz parcialmente a evolu-
ção das formas urbanas do «quarteirão• até ao cbloco• construído.

O TRAÇADO/A RUA

98
2-30. Os troçados: 1. Projecto de urbanização do porte ocidental de Lisboa, por Eugénio dos
Santos e Carlos Mordei (1756); 2. Troçado de Brosnio, por lúcio Costa (1956), esboço inicial

99
te, regula a di posiÇ os ed" ícios e quarteirões, li .pa.ÇQs e partes da fi:
, e confu - e com o esto cria or.
s :igos..cidode anos, de assentamento ilitar._ rovinham da disposicão de
dois trocados ortogonais principais car u-1 e o decumanus maximus), eles próprios na
;uQ orie.ntação e posição recíproca revestidos de atributos cósmicos e religiosos. Dois
mil anos mais tarde Lúcio Costa explica assim o «traçado» de Brasília:
«Nasceu do gesto inicial com que qualquer um localiza um lugar e dele toma posse.
Dois eixos que se cruzam em ângulo recto, formando o sinal da cruz. Este sinal
adaptou-se depois à topografia, à inclinação natural do terreno e à melhor orientação:
os extremos de um dos eixos curvaram-se, formando um sinal que pode inscrever-se
num triângulo equilátero que limita a zona a urbanizar» (60).
O gesto do traçado - quase fenómeno cósmico enraizado na humanidade - é en-
contrado também nos assentamentos coloniais, nas cidades militares e, de um modo
geral, em todas as cidades planeadas.
ara Po Lavedan Tricart (61) o troe ., -Rã Q,
tot lmente modificável, que lhe P- ans .
Assim, encontramos o traça o romano ainda visível em muitas cidades.
O traçado estabelece a relação mais directo de assentamento entre a cidade e o
território. Na análise de M. Poete, r u o tra
formacão e crescimento da
. da deslo . o . urso e da mobilidade de bens, pessoas e ideias. É o
tracado_que . e "ne o a i erentes
imensões. E também de importância vital no orientação em uma qua quer cida e.
Para final izar, diria que o traçado, a rua, existem como elementos morfológicos nos
vários níveis ou escalas da forma urbana. Desde a rua de peões à travessa, à avenida,
ou à via rápida, encontra-se uma correspondência entre a hierarquia dos traçados e o
hierarquia das escalas da forma urbana .

A PRAÇA

100
FIGUllS SJ'A fiAU:S I' I AC.T'> I(,)Nill \

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...
2 -31 . Robert Krier. Diferentes formos de praças apresentados em L'Espace de la Vil/e

l 01
O MONUMENTO

Os dicionórios definem o monumento como «construção, obro de arquitectura ou es-


culturo destinado a transmitir à posteridade o recordação de um grande homem ou feito;
ou obro de arquitectura consideróvel pelo suo dimensão ou mognificiêncio; ou constru-
ção que recobre uma sepultura•.

102
2-32. A Praça do Plano Director do EXPO 98 apresentado pelo Candidatura Portuguesa ao
B.E.I. (1991/1992) (orq.0 ' Carlos Duarte e Jos6 Lamas) como exemplo de espaço individualizado
à dimensão sectorial

103
O monumento é um facto urbano singular, elemento morfológico individualizado
pela sua presença, configuração e posicionamento na cidade e pelo seu significado.
P é um dos em e .o.s__que funda tom o princí io das erman • ncias - um
dos adG-s-u anos ue or 12ersistem no teci o e resistem a transformacões.
A sua presença é determinante na imagem da cidade. A imagem de Roma, aris ou Lis-
boa é também a imagem dada pelos seus monumentos, sejam eles marcos sem finalida-
de de uso, mas com significação social, histórica ou cultural (a coluna de Trajano, o
obelisco da Concorde ou a estátua equestre de D. José), ou edifícios utilitários com va-
lor social e importância cultural. Poete identifica também no monumento um dos ele-
mentos de maior potencial na composição da cidade, mesmo após a perda do seu sig-
nificado utilitário: « edifício úblico ou o monu ento como individualidade e o lo-
calizacão devem intervir em primeira mão na composicão da ci ade. Não se localizam
m qua quer onto. Têm o seu lugar marcado. Servem ara com ora fisio mia urba-
n »-163)
Rossi é mais peremptório ao afirmar que os cos factos urbanos persistentes se identi-
ficam os monumentos, são persistentes na cidade e efectivamente persistem fisica-
mente (excepto, finalmente, em casos bastante particulares)• l6•l.
studo monumentos rmite também uestionar as teorias funcionalistas so-
,bre idade. A existência do monumen o SI ua-se ui: o esem
uma funcão e assume signi icados culturais._hist icos e estéticos bem r
_gu ndo a sua unção pnm1tiva já nfu> exlste.
O monumento esempenfia um pape essencial no desenho urbano, caracterizo a
área ou 'bairro e torno-se pólo estruturante da cidade. Nas «urbanizações operacio-
naiS», a ausência de monumentos representa, de certo modo, o vazio de significado
destas estruturas e o vazio cultural das gestões urbanísticas contemporâneas.
A am li o concei e umento desenvolvido nas últimas décadas o ·.
do elemento singular ar uitectónico ou escultório a ran er conjuntos urbanos,
ce s his · ou s Qróprias A evo ução destes conceitos e um novo olhar
sobre a cidade do passado como ccidade do presente• alteraram o cmaneiro de pensar
o urbanismo•, recolocando o atrimónio edificado na vida da sociedade.
A distância é grande de atitudes como a do Plan Voisin, para Paris, ou as enuncia-
dos na Carta de Atenas e referentes ao património edificado.
ár i os vão assim constituir permanências CLCidode-com monumentos i-
to embora o seu uso e funcão osso ser comei« tome if.ece te. As atitudes de Six-
to V, ao traçar a Roma barroco sobre as ruínas do Roma Imperial, ou de Haussmonn,
ao destruir/reconstruindo o casco histórica da Paris medieval, ou deLe Corbusier, pro-
pondo o renovação do ilôt insalubre no Plan Voisin, já não são defensáveis nem deve-
riam ser possíveis. '-----c::.. d)
104
2-33 . O monumento. Desenho de Eugénio dos Santos poro o estátua equestre de D. José no
Praça do Comércio e máquina poro transporte e colocação no pedestro l (1757). O chafariz no
Ruo do Junqueiro, em Lisboa (1 826). O monumento oo 25 de Abril, em Lisboa. Concurso (1985)
- proposto do Arq . A. Marques Miguel

105
A ÁRVORE E A VEGETAÇÃO

Do canteiro à árvore, ao jardim de bairro ou ao grande parque urbano, as estrutu-


ras verdes constituem também elementos identificáveis na estrutura urbana . Carac-
terizam a imagem da cidade; têm individualidade própria; desempenham funções pre-
cisas: são elementos de co icãa e o desenho urbano· servem par ·
· ir e -c onter os. Certamente ue a estrutura verde não tem a cdureza» ou
edificadas da e. Mas situa-se ao mesmo níve da hie-
rar uia ínorfoló ic isual. Uma rua sem as suas árvores mudaria completamente de
forma e e imagem; um jardim ou um parque sem a sua vegetação transformar-se-io
apenas num terreiro .. . As simples árvores e vegetação existentes em logradauros pri-
vados são de grande importância na forma urbana, no controlo do clima e qualifiéa-
ção da cidade, e como tal deveriam ser entendidas no urbanismo e gestão urbana.
A este título veja-se a destruição das árvores na Rua da Jtmqueira, em Lisboa, realiza-
da em 1992. Uma rua histórica viu-se d ruída técnicas · alas do trânsito ro-
doviário, pela 1m u1çao dos asse· estruicão árvor o aumento da
faixa de acão. as ecto e forma mudaram radie
A construção do território tanto pode utilizar elementos duros ou minerais como ve-
getais ou plantados.
Trata-se de um mesmo problema de desenho arquitectónico em que a árvore, as
plantações, se encontram na mesma escala de valores que a parede, a fachada ou ou-
tro elemento construtivo.
Um traçado pode-ser. efi ido_tanta-p
alinhamento de edifícios. Uma praça também .

106
2-34 . Árvores e mobiliário urbono no Plano de Renovoçõo Urbono do Área do Martim Moniz.
As árvores estão alinhados e plantados em caldeiros nos faixas centrais do boulevord. Qu iosques
e bancos desenhados pelo pintor Dociono Cesto no equ ipo Carlos Duorte-José Lemos

107
O MOBILIÁRIO URBANO

Deliberadamente, é no final que refiro o mobiliário urbano, constituído por elemen-


tos móveis que «mobilam» e equipam o cidade: o banco, o eh iz o cesto e-popéis.
o candeeiro o marco do correio, o sinal" -o etc., ou já com dimensão de constru-
cão como o uios r' o e trons ortes e outros.
O mobiliário urbano situo-se no dimensão sectorio , na escola do ruo, não podendo
ser considerado de ordem secundário, dados os suas implicações no formo e equipa-
mento do cidade. É também de grande importância poro o desenho idade e a sua.
organização, poro o quo 1 ode o espoco uronte anos, terá sido des-
curo o em mu1 ronjos e intervenções.
Hoje voltou de novo à cena profissional, apoiando o requalificação do cidade e
acabando por interessar à próprio produção industrial.
Tombém se poderio referir esse conjunto de elementos « oro it' · s» que nos socie-
dades de consumo invadem e se colam às estruturas edificados, como elementos osti-
cos e máv · · i s montras sinais, iluminocões etc.
Por simplificação de exposição, não se conferiu o estes elementos o mesmo impor-
tância e relevo dados aos elementos do morfologia urbano. E também por razões que
se relocionolizom quer com o mobilidade (sendo portanto efémeros, em constante mo-
dificação) quer com os suas características de elementos «postiços» e adicionais. Ven-

108
\ L \..) tf1 \ lo I lI v .., J I \

2-35. O desenho dos espaços verdes: o árvore e vegetação. 1. Jardins do V.71a d 'Este em Tívoli
(séc. XVI) . 2. Plano do Porque de Bercy- projecto vencedor do concurso. Arq .•• M. Fernond e
I. le Coisne (paisagista)

109
•••
.
Chegado a este ponto, resta clarificar as relações dos elementos morfológicos com
as dimensões ou escalas do espaço urbano.

• Na dimensão sectorial, ou à escala de rua, ,os elementos morfológicos identificáveis


são essencialmente os edifício'S(com a slo adas e planos marginais) o a ado
_!jgmh.é. a árvore ou a estrutura verde d sen solo e iliário ur
• Na dimensão urbana, ou escala de bairro, são os traçados e praças, os quarteirões
e monumentos, os jardins e áreas verdes, que constituem os elementos morfológicos
identificáveis. Diremos também que a forma a esta escala se constitui pela adição de
formas a escala inferior. O movimento é necessário ao entendimento da cidade e à li-
gação, ou colagem, das várias partes urbanas.
• Na dimensão territorial, ou escala urbana, os elementos morfológicos identificam-se
com os bairros, as grandes infra-estruturas viárias e as grandes zonas verdes relacio-
nadas com o suporte geográfico e as estruturas físicas da paisagem.

Esta hierarquização dos elementos morfológicos encadeada por agregação de uni-


dades menores formando outras unidades a uma escala maior não significa a adopção
de um sistema em «árvore» (64), O homem viv numa totalidad · ue nã
por fronteiras A experiência ambiental pressupõe o conhecimento
e diversos conjuntos, a sua articulação e desagregação sucessivas.
A leitura da cidade e do território faz-se simultane nt u es-
tam ém e o ercurso e sequências, o ue significa que a forma urbana só po-

110

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