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1. História
No final do século XIX o físico Alemão Wilhelm Conrad Röentgen descobriu os raios
X, quando estudava as emissões de tubos de raios catódicos. Na mesma época,
Marie e Pierre Curie, paralelamente ao pesquisador francês Henri Becquerel,
descobriram as substâncias radioativas.
1 Físico de Proteção Radiológica do SESMT da Universidade de São Paulo. Doutor em Física (Instituto de
Física
da
USP),
Mestre
em
Ciências
(Instituto
de
Física
da
USP),,
Especialista
em
Vigilância
Sanitária
–
área
Radiações
Ionizantes
(Faculdade
de
Saúde
Pública
da
USP)
2
Físico
de
Proteção
Radiológica
do
SESMT
da
Universidade
de
São
Paulo.
Especialista
em
Radiologia
Uma das aplicações à época era a utilização em sapatarias de luxo. Uma radiografia
do cliente calçando o sapato revelava a necessidade de eventuais ajustes na
confecção do calçado, tornando-o mais confortável. A imagem a seguir ilustra essa
aplicação.
Assim, a proteção radiológica nasceu de um grande desafio: como fazer para não
precisar abrir mão do uso da radiação ionizante? A alternativa seria estudar e
pesquisar, para entender a natureza e os mecanismos de interação destas
radiações. Desta forma, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a proteção
radiológica é favorável ao uso da radiação ionizante. Não o uso indiscriminado, mas
o uso racional, que parte dos conhecimentos adquiridos.
Justificação
Proteç
Proteção
Radioló
Radiológica
Limitação
Otimização
de Doses
Essencialmente o que está por trás deste princípio é que os usos devem ser
justificados. Todo uso da radiação ionizante pressupõe que traga benefícios. Porém,
há malefícios associados a todo uso. Assim, para que um determinado uso seja
justificável, os benefícios devem superar os malefícios. É uma balança de prós e
contras.
Neste caso fica evidente que os benefícios são muito poucos e seguramente
menores que os malefícios associados. Esta é, portanto uma utilização não
justificável. Fere o Princípio da Justificação e deve ser, portanto, considerada
proibida.
Imagine agora, neste mesmo cenário, que o plano de saúde do paciente não
contemple o exame de ressonância magnética, apenas o exame de tomografia
computadorizada. Neste caso a indicação do exame de tomografia computadorizada
passa a ser justificável.
O Princípio da Justificação é de natureza subjetiva, o que implica que o que é
justificável para um pode não ser para outro. No entanto, o uso do bom senso tende
a aproximar as escolhas.
Logo após a descoberta dos raios X e das substâncias radioativas, várias aplicações
foram iniciadas com as radiações ionizantes. O uso era desenfreado e as
exposições pouco controladas, muitas vezes injustificadas para o nível de
conhecimento atual, mas aparentemente normais para a época. Havia grande
diversidade de técnicas para um mesmo tipo de tratamento ou diagnóstico, também
grande diversidade de produtores de equipamentos de raios X.
2.4.1.1. Exposição
A exposição, simbolizada por X, foi a primeira grandeza a ser definida em física das
radiações e é definida apenas para feixes de raios X e gama com até 3 MeV de
energia. A medida da exposição caracteriza a capacidade de um feixe de fótons
ionizar o ar, ou seja, colocar elétrons em movimento. A definição da exposição é:
dQ
X=
dm
1R = 2,58 x10 −4 C / kg
Eab
D=
dm
A unidade original da dose absorvida é o rad (do inglês, radiation absorbed dose).
No Sistema Internacional a unidade é o J/kg (Joule por quilograma) que em Física
das Radiações tem o nome especial Gray, com símbolo Gy, em homenagem a Louis
Harold Gray.
D = 0,00876. X
As grandezas de proteção são definidas para o corpo humano e através delas são
estabelecidos os limites máximos admissíveis de dose para um órgão ou tecido ou
para o corpo todo. Os valores de dose das grandezas de proteção dão de certa
forma uma indicação do risco radiológico. Aqui veremos as definições para a Dose
Equivalente (Ht) em um órgão ou tecido e Dose Efetiva (E) no corpo inteiro.
A Dose Equivalente no órgão ou tecido, simbolizada por Ht, é válida para qualquer
tipo de radiação e é obtida a partir da dose absorvida média no tecido t devido ao
tipo de radiação r (Dt,r) :
H t = Dt ,r .wr
Tabela 2: Valores de wt para alguns órgão e tecidos e sua variação ao longo dos anos.
Variação dos valores de Wt
ÓRGÃO 1977 1990 2007
Gônadas 0,25 0,20 0,08
Mama 0,15 0,05 0,12
Medula óssea 0,12 0,12 0,12
Pulmão 0,12 0,12 0,12
Tireóide 0,03 0,05 0,04
Osso (superfície) 0,03 0,01 0,01
Restante do corpo 0,30 0,05 0,12
3. FATORES DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA
3.2. Blindagem
Figura 5: Blindagens de acrílico para manipulação de emissores de partículas beta.
Figura 6: Blindagem com vidro plumbífero para manipulação de emissores gama.
Figura 7: Armário Blindado de Aço Inox.
Figura 8: Biombo de alvenaria com massa baritada e vidro plumbífero em sala de raios X diagnóstico.
3.3. Distância
Outro fator que leva à diminuição da dose pelo aumento da distância é um fator
geométrico. Uma fonte de radiação emite radiação em todas as direções. Isso
implica necessariamente que nem toda a radiação que uma fonte emite é capaz de
atingir um indivíduo. A radiação emitida na direção oposta à do indivíduo, por
exemplo, não o atinge. A uma dada distância de uma fonte, apenas uma
determinada parcela das emissões, atinge um indivíduo. À medida que nos
afastamos da fonte, como o feixe de radiação é divergente, uma parcela menor
deste feixe atinge o indivíduo. Quando as dimensões da fonte são significativamente
menores do que o indivíduo irradiado, esta relação geométrica é conhecida como “lei
do inverso do quadrado da distância”. Neste caso, ao dobrar a distância, diminuímos
a dose para um quarto do valor inicial.
Um efeito biológico induzido pela radiação ionizante, como o câncer, por exemplo,
não aparece imediatamente após a irradiação. Inicialmente ocorre a ionização, onde
se dá a absorção da energia incidente. A partir desta ionização podem ocorrer
alterações moleculares e estas, por sua vez, podem levar a danos em órgãos ou
tecidos. Tudo depende então da absorção inicial de energia. É razoável supor que,
quanto maior a quantidade de energia depositada pela radiação, maior o dano
biológico. Embora esta suposição não esteja incorreta, veremos a seguir que há
vários fatores a ser considerados para uma correta interpretação do potencial de
produção de efeitos biológicos da radiação ionizante.
Um organismo vivo é formado por diferentes tipos de células. Isso implica que a
radiação pode atingir diferentes tipos de células, com consequências diferentes.
Imaginemos inicialmente que a radiação ionizante incide em um indivíduo e provoca
uma ionização em um átomo de uma importante molécula do corpo deste indivíduo,
danificando aquela estrutura molecular. Este é um tipo de dano causado diretamente
pela ação da radiação naquela molécula e por isso é classificado como dano direto.
Neste caso, a radiação não causou dano diretamente no DNA. O dano foi causado
por “subprodutos” da ionização de moléculas de água. Este é um tipo de dano
causado indiretamente pela ação da radiação naquela estrutura e por isso é
classificado como dano indireto.
Os efeitos classificados como agudos são aqueles que se manifestam num intervalo
de tempo relativamente curto após a irradiação. No caso dos seres humanos estes
efeitos manifestam-se em no máximo dois meses após a irradiação. São efeitos
característicos de exposições a doses elevadas de radiação.
2
Figura 10: Radiodermite provocada por alta dose de radiação ionizante.
4.1.4. Efeitos Tardios
Os efeitos classificados como tardios são aqueles que se manifestam num intervalo
de tempo longo após a irradiação. No caso dos seres humanos estes efeitos
manifestam-se em anos ou dezenas de anos após a irradiação. São efeitos
característicos de exposições a doses pequenas de radiação.
Os efeitos classificados como somáticos são aqueles que ocorrem a partir de danos
provocados pela irradiação de quaisquer células do organismo, exceto as células
germinativas (óvulos ou espermatozoides). Nestes casos, o efeito biológico
manifestar-se-á nos próprios indivíduos irradiados.
Alguns exemplos são o câncer, as queimaduras (eritemas) e a catarata.
Este tipo de efeito apresenta ainda como característica o fato de que sua gravidade
independe da dose de radiação. O principal exemplo, no caso dos seres humanos, é
o câncer.
4.2. Radiossensibilidade
Outro fator a ser considerado quanto à indução de efeitos biológicos pela radiação
ionizante é o fato de que diferentes estruturas celulares podem possuir diferente
sensibilidade à radiação. Este fator é conhecido como radiossensibilidade e tem
diversos aspectos importantes. De uma maneira geral podemos indicar em ordem
decrescente de sensibilidade à radiação, os seguintes sistemas:
SISTEMA HEMATOPOIÉTICO
ò
SISTEMA GASTROINTESTINAL
ò
SISTEMA NERVOSO
Em proteção radiológica este fator pode ser determinante na escolha do tipo de
proteção para uma determinada prática. No radiodiagnóstico odontológico, por
exemplo, há recomendação para o fornecimento de protetor de tireoide aos
pacientes, pois este órgão é reconhecidamente sensível à radiação ionizante.
Com base nesses princípios e nos fatores básicos de proteção radiológica, regras e
procedimentos simples e eficientes são elaborados para que o trabalho com fontes
emissoras de radiação ionizante torne-se algo seguro, a despeito dos riscos e
efeitos biológicos que a radiação ionizante pode provocar no corpo humano ou no
meio ambiente.
O terceiro feixe importante e que tem forte influência nos métodos de proteção
radiológica é a radiação espalhada. Esse feixe é produzido fora do tubo do
equipamento devido à interação, por efeito Compton, do feixe primário com a
matéria que encontra em seu percurso. Em cada tomada radiográfica há radiação
espalhada para todas as direções. Dependendo do ângulo de incidência o feixe
espalhado tem energia pouco menor que o feixe principal e, devido à sua existência,
procedimentos de proteção radiológica devem ser adotados para segurança de
trabalhadores, pacientes e indivíduos do público.
A estrutura física para a sala de exames deve ser planejada e a espessura das
blindagens necessárias calculadas de acordo com o uso do equipamento e da
ocupação nas vizinhanças no entorno da sala de exames. A espessura das
blindagens deve ser calculada de acordo com modelos matemáticos disponibilizados
em recomendações internacionais. A figura abaixo mostra uma estrutura típica para
o planejamento de uma sala.
A barreira primária, destinada para contenção da porção do feixe principal que não
interage com o paciente, em geral é mais espessa que as demais, denominadas de
barreiras de proteção secundárias. As barreiras não absorvem completamente todos
os fótons que as atingem, mas elas devem ter, no mínimo, espessuras adequadas
para que os níveis de doses nas vizinhanças da sala respeitem os níveis máximos
estipulados de dose para o tipo de indivíduo que ocupa o local (trabalhador ou
público). Normalmente utiliza-se um revestimento adicional de massa baritada, entre
1 e 2 cm, para as paredes e espessuras entre 0,5 e 2,0 mm de chumbo para portas
e batentes. Muitas salas de exames para radiografia geral contam com um biombo
de alvenaria para proteção do operador do equipamento. Salas de mamografia
contam com vidro plumbífero que garante proteção adequada da operadora, visto
que em mamografia os raios X utilizados são de baixa energia e requerem
espessuras menores que em outras aplicações. Salas de tomografia têm uma sala
de comando anexa. Para aplicações em que os feixes são bem colimados e com
menores cargas de trabalho, como em odontologia periapical, em geral, não é
necessário blindagens adicionais e pode-se contar com o fator distância para
garantia de proteção do operador.
Em várias situações não podemos utilizar ao mesmo tempo os três fatores básicos
de proteção radiológica e alguma exposição torna-se necessária. Para essas
situações foram desenvolvidos equipamentos de proteção individual como avental
de chumbo, protetor de tireoide, luvas plumbíferas etc. Esses acessórios contêm
material com chumbo e oferecem maior blindagem aos raios X e diminuem a
magnitude das exposições. Os serviços de diagnóstico devem ter disponíveis em
número adequado aventais de chumbo, protetores de tireoide, luvas plumbíferas,
óculos plumbíferos etc, sempre que aplicável.
Figura 14: Avental de chumbo.
Figura 21: Avisos típicos em serviços de radiodiagnóstico.
5.1.9. Monitoração
5.2.3. Monitoração
Figura 42: Depósito de Rejeitos em Serviço de Medicina Nuclear
Figura 43: Foto de um depósito para armazenamento de rejeitos radioativos
A segregação de rejeitos deve ser feita no mesmo local em que forem produzidos,
levando em conta as seguintes características:
a) Sólidos, líquidos ou gasosos;
b) Meia vida curta ou longa (T1/2 > 60 dias);
c) Compactáveis ou não compactáveis;
d) Orgânicos ou inorgânicos;
e) Putrescíveis ou patogênicos se for o caso;
f) Outras características perigosas (explosividade,
combustibilidade, inflamabilidade, piroforicidade, corrosividade e
toxicidade química).
Uma vez que no sistema de limitação de doses não são previstos limites para
pacientes, o regulamento define aspectos importantes voltados para a segurança e
proteção dos pacientes na prática de radiodiagnóstico: a adoção de níveis de
referência de doses para vários tipos de exames e a necessidade da adoção de um
programa de garantia de qualidade do sistema de proteção radiológica, incluindo a
verificação da qualidade das imagens realizadas. Nos capítulos IV e V o
regulamento apresenta, para cada área, requisitos básicos para ambientes,
equipamentos, procedimentos de trabalho e os testes necessários para o adequado
controle de qualidade dos equipamentos e respectivos padrões de desempenho.
Como pode ser observada, a legislação nas diversas aplicações das radiações
ionizantes, em especial na Medicina, é muito vasta e não se esgota com o que foi
apresentado aqui. Há legislações de âmbito estadual e municipal, e legislações
específicas sobre outros temas relacionados, como o transporte de materiais
radioativos, meio ambiente etc. O mais importante a se ressaltar, entretanto, diz
respeito a como “encarar” as normas e regulamentações. O caráter de
obrigatoriedade imposto por uma norma frequentemente afasta o indivíduo da
percepção de que o conteúdo da norma pode auxiliar no trabalho. Isso acaba por
gerar um sentimento ruim de que devemos cumprir uma regulamentação
simplesmente para evitar a punição; e, como consequência, acabamos por perder a
capacidade de análise crítica. Com isso, perdemos junto a oportunidade de
aproveitar o conteúdo técnico de uma norma, para tornar nosso trabalho
intrinsecamente mais seguro ou mais eficaz.
REFERÊNCIAS:
1
"Wilhelm Conrad Röntgen - Photo Gallery". Nobelprize.org. 3 Oct 2012
http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1901/rontgen-photo.html - Acesso em
23/10/2012.
2
J. Cardella, K. Faulkner, J. Hopewell, H. Nakamura, M. Rehani, M. Rosenstein, C. harp, T. Shope, E.
Vano, B. Worgul, M. Wucherer. Interventional Procedures – Avoiding Radiation Injuries.
International Commission on Radiological Protection – Free Educational Downloads.
http://www.icrp.org/page.asp?id=35 – Acesso em 23/10/2012.