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Mestrados em Educação Musical e em Ensino de Música

1º Ano Desenvolvimento Musical


Docente Graça Boal Palheiros

Ficha de leitura

Nome José Luís Duarte da Silveira _____________________________________ Data: abril de 2020

Referência do artigo Hallam, S. (2010). The power of music: Its impact on the intellectual,
social and personal development of children and young people. International Journal of
Music Education, 28(3) 269–289.

Resumo:

A autora começa por explicar que, durante a aprendizagem, dão-se, no nosso cérebro,
diferentes processos químicos que são responsáveis pela aquisição e retenção de conhecimento.
Estes processos podem ser permanentemente alterados se for promovido o contacto com a música
desde uma tenra idade e assim alterar a forma como o nosso cérebro processa o conhecimento.
Como se verificou em estudos realizados em músicos clássicos no ocidente, o contacto com a
música está associado a uma maior representação de neurónios na região do nosso cérebro que
identifica as notas da escala musical. A autora descreve que, ainda dentro dos músicos, há
diferenças consideráveis no que diz respeito aos processos mentais, que variam de acordo com o
instrumento que cada um toca. São dados os exemplos dos músicos de cordas, que revelam ter um
maior grau de atenção e dos bateristas, que demonstram organizar de uma forma mais complexa os
traços de memória temporal e organizacional.
A autora diz ainda que, para além do conhecimento musical, também os processos envolvidos
na aquisição do mesmo podem contribuir para uma mudança significativa nos processos cerebrais
de cada individuo. Ademais, estes processos podem ser aplicados noutras áreas através de
transferência (o que acontece quando os processos são semelhantes). Dentro da transferência temos
os processos mais espontâneos, como no caso da linguagem, ou os processos que requerem uma
reflexão e um processamento mais complexo, como no caso do processamento do som, das
habilidades motoras, da sensibilidade emocional, da apreensão da relação entre a música escrita e o
seu som e da memorização de informação extensa.
De seguida, a autora explora a relação entre a linguagem e o processamento de música,
explicando que o treino musical tem um grande impacto na maneira como os padrões de alturas de
som na linguagem são interpretados. Susan Hallam refere ainda que mesmo as crianças com pouco
tempo de contacto com a música diferem, no que diz respeito à perceção linguística, das crianças
que não têm contacto com a música. A autora revela que já há estudos que demonstram que as
habilidades musicais ajudam à perceção e produção de fonemas subtis e à capacidade de leitura.
Da mesma forma, o treino musical ajuda a desenvolver habilidades que beneficiam a produção de
fonemas baseados no timbre.
No que diz respeito à literacia, também as crianças que têm contacto com a música
demonstram ter um melhor vocabulário e construção frásica. Para além das perceções melódicas e
de altura de som, as crianças que têm contacto com padrões rítmicos revelam uma melhor
capacidade de leitura, devido à abundante presença dos mesmos na linguagem. Da mesma forma,
também as crianças com dislexia podem beneficiar de um treino rítmico para melhorarem a sua
capacidade de leitura.
Susan Hallam descreve também a forte relação entre música e matemática, salientando que os
músicos têm constantemente que fazer uso da matemática na execução do seu instrumento. Apesar
disto, apenas os processos próximos entre as duas áreas são requeridos. Mais uma vez, a autora
revela que as crianças que têm contacto com a música revelam uma maior habilidade para a
matemática.
A autora refere também o aumento das capacidades de perceção espacial e temporal através da
música, assim como uma melhoria da memória e salienta que nos testes psicométricos, as crianças
que têm contacto com a música apresentam resultados significativamente melhores que as que não
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1º Ano Desenvolvimento Musical
Docente Graça Boal Palheiros

têm contacto com a música. É referido também que, embora não seja tão explorado, também a
criatividade é aumentada quando se promove o contacto com a música.
Susan Hallam explora o desenvolvimento social e pessoal, salientando, mais uma vez, que os
estudantes de música revelam uma maior capacidade de contacto com outras pessoas,
nomeadamente com os seus familiares e professores, o que não se verifica em tão grande escala
nos alunos que não estudam música. Da mesma forma, os músicos desenvolvem uma maior auto-
estima, motivação, sentimento de auto-eficácia, disciplina e relações maduras.
Por último, a autora revela que os músicos desenvolvem maiores capacidades de sincronia
motora, durabilidade, assim como facilita o desenvolvimento de outras capacidades físicas que
sejam necessárias para executar outras ações.
Susan Hallan termina, salientando que há evidências da boa relação entre a música e outras
disciplinas, mas apenas são frutíferas se as experiências com a música forem positivas e
recompensadoras.

Reflexão:

Na minha opinião, a autora explora de uma maneira muito eficaz muito do que a música pode
fazer para que contribua para o desenvolvimento cerebral dos humanos, assim como para a formação
da personalidade dos mesmos.
Fiz parte de um estudo, no ensino básico, que procurava encontrar relações entre a música e a
matemática. Apresentados os resultados, chegou-se à conclusão de que os músicos revelavam uma
apetência especial para a matemática e ainda de que, de acordo com o instrumento que os alunos
tocavam, os resultados variavam. Fiquei, portanto, desde cedo, com a noção de que a música, para
além de uma forma de expressão artística muito relevante na vida das pessoas, traz ainda vantagens
em termos de desenvolvimento cognitivo, de organização e de socialização.
Para além disso, como professor que contacta com crianças que estudam música e com
crianças que não estudam música, consigo, de uma forma bastante natural e meramente observativa,
perceber que a personalidade das crianças que estão em contacto com música é bastante diferente,
uma vez que as mesmas revelam, na maioria das vezes, um comportamento melhor, uma atitude mais
positiva e uma vontade maior de participarem em atividades.
Acima de tudo, acho este artigo muito relevante para o panorama do ensino artístico, seja em
Portugal ou noutros países, pois revela a importância da música na educação de qualquer criança e é
capaz de oferecer mais motivos para os pais incentivarem os seus filhos a aprender música.

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