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O supra- sensorial
~ Henry Corbin
Homem de Luz, no Sufismo Iraniano

Fragmento do livro El hombre de luz de Henry Corbin,


Traduzido para o espanhol por María Tabuyo y Agustín López, Ediciones Siruela, 2000.

Notas de Cláudio César de Carvalho, 2014©

Traduzido para o Português-Braziliano por Cláudio César de Carvalho, 2014©

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O Supra-Sensorial é a percepção de um instante com a eternidade, realizando o Andarilho no Si-Mesmo.
Para se alcançar o Supra-Sensorial é necessário romper as barreiras do medo, das incertezas e da
obscuridade que tende a levar o Andarilho para auto-projeções identificadas com o seu próprio Ego,
desvirtuando assim sua Busca e o desviando do seu Caminho. O processo para se alcançar a percepção
Supra-Sensorial é muitas vezes perceptível também para o artista ainda que seja por um vislumbre
apenas, por exemplo, uma vez que sua Imaginação se torne veículo para momentos de transcendência e
transformação.
Hélio Oiticica (1937-1980), grande artista brasileiro, definiu por meio de sua arte (a qual denominava de
anti-arte) um interessante conceito chamado “Supra-sensorial”, que desenvolveu em 1967, onde propôs
experiências com a percepção do participador, investigando possibilidades de dilatamento de suas
capacidades sensoriais – uma “Supra-sensação”. Segundo Oiticica, o “Supra-sensorial” levaria o
indivíduo “à descoberta do seu centro criativo interior, da sua espontaneidade expressiva adormecida,
condicionada ao cotidiano”.
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Precedendo todos os dados empíricos, as Imagens arquetípicas2 são os
órgãos da meditação, da imaginação ativa; estas efetuam a transmutação
desses dados, dando-lhes o seu significado, e precisamente ao fazê-lo
conhecer a maneira de ser de uma presença humana específica e a orientação
fundamental inerente nela. Tomando o rumo pelo pólo celestial como o limiar
do mundo além, significa que esta presença permite então que um mundo
diferente daquele da ordem geográfica, física, espaço astronômico se abra
diante dele3. Aqui “percorrer o caminho em linha reta” significa se afastar nem

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Na Tradição Oculta o mundo das imagens arquetípicas repousa nas Supernas da Árvore da Vida –
Kether, Chokmah e Binah – formando o que é chamado de Triângulo Supernal ou Emanações Celestiais.
No Livro de Thoth ou Tahuti as Emanações Celestiais são representadas pelos Arcanos Menores com a
numeração 3, 2 & 1, além de serem representadas na Fórmula 3 em 1 pelos Ases tipificando a Raiz ou
Origem dos Quatro Elementos. Contudo, o Quinto & Quintessencial Elemento, chamado de Akasha ou
Espírito Etéreo é representado pela união dos Quatro cuja substância se manifesta através do Três (Três
em UM ou Triângulo Supernal) neste caso representado pelos Três Gunas (Sattvas, Tejas & Tamas –
Mercúrio, Enxofre & Sal). Como é dito em O Livro da Lei: “Eu sou único & conquistador. Eu não sou
dos escravos que perecem. Sejam eles danados & mortos! Amém. (Isto é dos 4: existe um quinto que é
invisível, & ali estou Eu como um bebê em um ovo).”
Carl Gustav Jung (1875-1961), notório Psicanalista e também Hermetista observa com precisão sobre as
Imagens Arquetípicas. Em 1934, Jung escreveu: “Os princípios básicos, os archetypoi, do inconsciente
são indescritíveis em virtude de sua riqueza de referência, muito embora recognoscíveis em si mesmos. O
intelecto discriminador naturalmente prossegue tentando estabelecer-lhes significados únicos e, assim,
perde o ponto essencial; pois aquilo que, antes de tudo, podemos estabelecer como compatível com sua
natureza é seu significado múltiplo, sua quase ilimitada riqueza de referência, que torna impossível
qualquer formulação unilateral.” – (CW 9i, parágrafo 80).
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Neste momento o Andarilho tem a percepção de um novo horizonte de eventos que floresce em sua
Consciência.
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para o leste, nem para o oeste4; isso significa escalar o pico, ou seja, sendo
atraídos para o centro; é a subida de dimensões cartográficas, a descoberta do
mundo interior que segrega a sua própria luz, que é o mundo de luz; é uma
interiorização de luz, em oposição à espacialização do mundo exterior que, por
sua vez, vai aparecer como Trevas5.

Esta interiorização não deve de modo algum ser confundida


com qualquer coisa que os nossos termos modernos de
subjetivismo ou nominalismo possa supor; nem com qualquer
coisa imaginária, no sentido desta palavra que tenha sido
contaminada por nós, pela idéia de irrealidade. A
incapacidade em conceber de uma realidade concreta supra-
sensível resulta em dar demasiada importância à realidade
sensorial; este ponto de vista, de modo geral, não deixa alternativa senão
tomar o universo supra-sensível como um conjunto de conceitos abstratos6.

Pelo contrário, o universo no qual o platonismo neo-Zoroastriano de Sohravardi


é chamado de mundus imaginalis ou a “Terra Celestial de Hurqalya”, que é um

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Na Tradição Hermética “percorrer o caminho em linha reta” seria percorrer o Caminho do Meio como é
demonstrado estruturalmente no esqueleto de a Árvore da Vida que é formado por dois Caminhos que são
mesclados & interconectados entre si, são estes: O Caminho de Samekh ou da Flecha da Provação
representada por uma ponte proto-plásmatica formada pela arco irisação (uma espécie de iridescência)
ou ordenação da consciência pronta para o próximo passo, ou seja, o equilíbrio e harmonia da
Consciência (Tiphareth). E é claro, o Caminho de Gimel também conhecido como da Sacerdotisa da Lua
de Prata ou da Consumação da Verdade conotado pelo “camelo atravessando o deserto” ou mesmo
tipificado pelo “Andarilho do Deserto de Tsh”, ele/a sendo guiado pela sua Estrela de Prata (ACTHP
APΓOC – Aster Argos) cuja Quintessência é Sem Palavra. Na Consumação, há somente VERDADE, eis
o Mistério, no entanto, o Mistério é o seu maior inimigo. Contudo, por que a não citação do Caminho de
Tav se está inserido na formação do Caminho Central de a Árvore da Vida? Porque o Andarilho É o
Caminho; é aonde todas as operações se realizam em sua plenitude, administrando os sete planetas que
compõem os mundos abaixo do Abismo, aquele véu que permanece entre a consciência da Provação e a
Consciência da Verdade. O Andarilho é a própria encruzilhada que estabelece suas relações visíveis e
invisíveis com seu Anjo que o prepara para a Encruzilhada última neste planeta. O Caminho de Tav
jamais poderia deixar de existir já que essa é a condição para que o Invisível possa se manifestar, assim
como se o Invisível não existisse, não haveria razão para que o Caminho existisse i.e. o próprio Andarilho,
por isso Malkuth, onde tudo se manifesta quando bem estabelecida a base que é chamada nos Planos
Interiores de Stelion (ST-EL[ION] = 234 – 4+3 = 7 tipificando as Sete Emanações abaixo do Abismo, e o
2 as Duas Emanações acima do Abismo sendo representados por Binah e Chokmah totalizando 9; o 1 –
ʘNE/UNʘ sendo o Ipssisimus mesmo – ATV 0 do Livro de Thoth) é um Apêndice. Como está escrito no
Liber AL, Cap. I – verso 56: “Aguarde-a não do Oriente, nem do Ocidente; pois de nenhuma casa
esperada chegará esta criança...”
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Introversão dos Sentidos Sethiano, fórmula aplicada por membros de uma Célula Oculta.
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Corbin coloca com muita propriedade a compreensão que o ser humano como um todo vislumbra e
determina sua crença, no entanto, esse vislumbre é apenas o horizonte de eventos daquele que possui sua
consciência a partir dos diversos níveis abaixo do Abismo.
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universo espiritual tangível7. Este certamente não é um mundo de conceitos,
paradigmas e universais. Nossos autores nunca cessam de repetir que o
arquétipo de uma espécie não tem nada a ver com os universais estabelecidos
na lógica, mas é o Anjo dessa espécie. Abstração racional, na melhor das
hipóteses, lida apenas com os “restos mortais” de um Anjo8; o mundo das
imagens arquetípicas, o mundo autônomo de figuras visionárias e formas, está
no plano da angelologia. Ver os seres e as coisas "à luz do norte" é vê-los "na
Terra de Hurqalya", isto é, para vê-los à luz do Anjo; isso é descrito como
chegar a Pedra Esmeralda, o pólo celestial, indo de encontro ao mundo do
Anjo. E isso pressupõe que o indivíduo como tal, independentemente de
qualquer coisa coletiva, praticamente tem uma dimensão transcendente à sua
disposição. Seu crescimento é concomitante com a percepção visionária,
dando forma às percepções supra-sensíveis e que constitui aquela totalidade
de formas de conhecimento que podem ser agrupadas sob o termo
hierognose9.

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Veja fragmento traduzido por ©Cláudio César de Carvalho [com notas de rodapé do tradutor] do livro
La imaginacion creadora en el sufismo de Ibn 'Arabî. HENRY CORBIN: IBN' ARABI Y KHEZR
(KHIDR; AL-JIDR, AL-JADIR). Acesse o link: https://www.scribd.com/doc/114705339/Henry-Corbin-
Ibn-Arabi-e-Khezr.
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Esta é a inútil condição ao se tentar obter as Chaves da Iniciação pelo racional ou pela psicologia
aplicada. Para aqueles que pensam ter tido a consecução de uma realidade transcendente a partir do
horizonte de eventos do Pólo Celestial, isto quer dizer, com o Entendimento que é adquirido acima do
Abismo, os aspectos mentais & emocionais são trabalhados e destilados para que o Destino (Verdadeira
Vontade) se concretize. Veja nota 31no fragmento traduzido pelo autor dessas notas do livro La
imaginacion creadora en el sufismo. Destino = 208 que forma Arksha, “regulado pelas estrelas”, segundo
Liber OKBISh.
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Esse é o processo de todo Andarilho que se torna o Caminho. O Entendimento Numinoso surge a partir
da relação do Deus com seu Andarilho em um trato rigorosamente e amavelmente particular –
Hierognose. Esse trato é a mito-poesia do Beijo do Anjo Púrpuro ou Malva. Segundo o Xeque Ali
Farmadhi, o mundo invisível está todo o tempo, em diversos lugares, interpenetrando com a nossa
realidade. Farmadhi coloca que coisas que nos deparamos como sem explicação, são de fato intervenções
daquele plano. Assim, muitas pessoas acreditam que conheçam os planos invisíveis, no entanto, não
conhecem, mistificando-os segundo seu ponto de vista. Esse plano Invisível não é o plano astral, mas
planos sutilíssimos de Consciência, de essência cósmica por não haver qualquer coisa que o macule. Sem
as devidas Chaves, não se pode alcançar tal percepção desse Invisível – âlam al-mithâl. (Veja nota 8 do
trabalho citado supra).
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