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Geologiaae

Barragens-
Walter Duarte Costa
© Copyright 2012 Oficina de Textos
1ª reimpressão 2014 \ 2ª reimpressão 2018

Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil a partir de 2009.

Conselho editorial Cylon Gonçalves da Silva; José Galizia Tundisi; Luis Enrique Sánchez;
Paulo Helene; Rozely Ferreira dos Santos; Teresa Gallotti Florenzano

Capa e projeto gráfico Malu Vallim


Foto da capa Barragem de !rapé, construída pela Cemig no Rio Jequitinhonha. Com 200 m de altura, é
a barragem de terra mais alta do Brasil. Acervo da Cemig, cedida por cortesia dessa empresa.
Diagramação Douglas da Rocha Yoshida
Preparação de textos Gerson Silva
Revisão de textos Elisa Andrade Buzzo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Costa, Walter Duarte


Geologia de barragens / Walter Duarte Costa. -­
São Paulo : Oficina de Textos, 2012.

Bibliografia
ISBN 978-85-7975-296-4

1. Barragens - Projeto e construção 2. Geologia


3. Geologia de engenharia 4. Geomorfologia
5. Geotécnica I. Titulo.
12-04914 CDD-624.151

Índices para catálogo sistemático:


1. Geologia de barragens 624.151

Todos os direitos reservados à Oficina de Textos


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Aos mestres e amigos Fernando Olavo
Francis e Jaime de Azevedo Gusmão Filho,
eméritos conhecedores da geologia de enge­
nharia, aos quais devo grande parte de meu
saber;
À minha esposa, Solange, filhos e netos,
razão de meu viver;
Aos meus pais (in memoriam) e irmãos,
pelo legado e carinhoso afeto.
O autor

Nascido em Recife, atual empresa de consultoria (Ecogeo) e in­


em 1938, Walter gressou na Universidade Federal de Minas
Duarte Costa diplo­ Gerais (UFMG), onde lecionou durante 12
mou-se em Geologia anos nos cursos de Geologia, Engenharia
pela Universidade Fe­ Civil, Engenharia de Minas e Arquitetura.
deral de Pernambuco Em 1997 fez um curso de aperfeiçoamento
(UFPE). Ingressou na em contaminação de águas subterrâneas
Sudene, onde exerceu na Universidade de Alcalá de Henares, em
a função de hidrogeó­ Madri. Em 2002 obteve o título de Doutor
logo durante cinco anos. Posteriormente, em Geociências pela Universidade de São
ingressou na empresa Sondotécnica, do Paulo (USP). Em sua atual empresa, exerce
Rio de Janeiro, onde passou a dedicar­ a consultoria nas áreas de geotecnia, hidro­
-se à Geologia aplicada à Engenharia geologia, mineração e meio ambiente.
também durante cinco anos. Nessa Nas empresas em que trabalhou ou nas
cidade, obteve os títulos de Mestre em suas próprias empresas, participou como
Geologia de Engenharia e de Aperfei­ projetista ou consultor na construção de
çoamento em Mecânica das Rochas na Uni­ 170 barragens em todo o Brasil, além
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de realizar vários estudos geotécnicos sobre
e lecionou na Pontifícia Universidade Ca­ túneis, rodovias, portos e áreas urbanas.
tólica (PUC) e na Universidade Federal Na hidrogeologia, participou de projetos
Fluminense (UFF). sobre abastecimento de água em cidades,
De volta a Pernambuco, lecionou durante irrigação, indústria de água mineral e con­
18 anos na UFPE, nos cursos de graduação taminação de aquíferos. Na mineração,
em Geologia e no mestrado de Hidrogeo­ elaborou inúmeros relatórios de pesquisa
logia. Exerceu paralelamente, por meio de mineral e, no meio ambiente, desenvolveu
sua própria empresa (Geotecnia), a ativi­ estudos para mineração, indústria e obras
dade de consultor nas áreas de Geologia de de engenharia. Atuou como perito judicial
engenharia e Hidrogeologia, quando asses­ em mineração e meio ambiente.
sorou projetos e construção de barragens Possui 23 trabalhos publicados sobre
em todo o Nordeste brasileiro. A partir de barragens, 17 sobre hidrogeologia, 4 sobre
1984, passou a residir em Belo Horizonte, mineração e 3 sobre meio ambiente. É só­
contratado pela empresa Enerconsult-SP cio-fundador da Associação Brasileira de
para desenvolver estudos hidrelétricos para Geologia de Engenharia e sócio do Comitê
a Cemig. Na década de 1990, fundou sua Brasileiro de Grandes Barragens.
Muito além de lembranças
Prefáci�
O livro Geologia de Barragens é um importante registro do desenvolvimento e evo­
lução da hidroenergia na matriz energética nacional. A LEME Engenharia, desde sua
fundação, há mais de quatro décadas, esteve presente na elaboração e execução de pro­
jetos de diversas barragens citadas neste documento histórico. A expertise acumulada
pela empresa, conta com a inestimável contribuição de dois grandes profissionais: Mário
Bittencourt e Mário Guedes.
O presente livro nl
.:e esgotar o vasto e e
Bittencourt, engenheiro civil, participou de Jirau (Rondônia); Las Placetas, na
� eologia aplicada a bal
e coordenou mais de 30 empreendimentos República Dominicana e no Projeto dos
aur um estado da art
na América Latina. Pela LEME Engenharia, Mares, no Panamá.
assunto. Ao escrevê-lo
esteve à frente de vários projetos, como as Mais do que projetos, a grandeza é o
por dois objetivos b -
Usinas Hidrelétricas de Quitaracsa (Peru), que os fizeram tão importantes e o que
objetiva literatura té
Mazar e Sopladora (Equador). eles deixaram vai além de lembranças:
aos alunos de Geologí
Em sua trajetória profissional como marcaram nossas vidas com seus feitos
orientar os profissio
geólogo, Guedes participou de mais de 50 e ensinamentos.
sobre a melhor forma
projetos no Brasil e exterior. Como colabo­ Mário Bittencourt e Mário Guedes.
cimentos geológicos e
rador da LEME Engenharia, compartilhou Dois nomes que ficarão registrados na
barragens mais segu
seus conhecimentos com o Complexo Hi­ história. Que seus exemplos e legados
Nos 30 anos em q
drelétrico Capim Branco e com as Usinas nos inspirem!
disciplina de Geolo
Hidrelétricas de Estreito, Irapé, Itiquira, Aos colegas, nosso agradecimento
ria em cursos de Geo
São Salvador e Nova Ponte. eterno.
Flavio Campos nas universidades de
Juntos, Bittencourt e Guedes, deixa­
Janeiro e Minas Ger.
ram suas assinaturas na Usina Hidrelétrica Presidente LEME Engenharia
com a mesma dificu
maioria dos alunos
estrangeiras: a falta
essa ciência editado
deficiência foi bas
publicação em 199
leira de Geologia d
(ABGE), do livro
Assim, um dos obj
plementar para
advindos da publi
especificamente p
por que barragens.

LEME
Mário Bittencourt Mário Guedes barragens em que
de participar, seja 1
construção, pôde e
ENGENHARIA
Prefácio

O presente livro não tem a pretensão profissionais envolvidos não conheciam as


de esgotar o vasto e complexo campo da reais potencialidades oferecidas pela geo­
Geologia aplicada a barragens, nem consti­ logia para a otimização de um projeto de
tuir um estado da arte sobre tão delicado barragem.
assunto. Ao escrevê-lo, o autor foi movido As intrínsecas dependências desse tipo
por dois objetivos básicos: propiciar uma de obra com os aspectos geomorfológicos,
objetiva literatura técnica sobre o assunto geológicos, geotecnológicos e hidrogeo­
aos alunos de Geologia e de Engenharia; e técnicos mostram uma implícita relação
orientar os profissionais dessas duas áreas entre a obra e a natureza. As incontáveis
sobre a melhor forma de aplicar os conhe­ variações ocorridas nessas relações impe­
ámentos geológicos em prol de projetos de dem que se conjecturem fórmulas rígidas
barragens mais seguros e econômicos. aplicáveis a diferentes situações, a exemplo
Nos 30 anos em que o autor lecionou a de uma receita de bolo, pois essas varia­
disciplina de Geologia Aplicada à Engenha­ ções contextuais impingem ao projeto de
ria em cursos de Geologia e de Engenharia uma barragem a assertiva de que cada caso
nas universidades de Pernambuco, Rio de é um caso.
Janeiro e Minas Gerais, deparou-se sempre Por isso, faz-se necessário ao geólogo e
com a mesma dificuldade enfrentada pela ao engenheiro que lidam com esse tipo de
maioria dos alunos não versada em línguas obra um perfeito conhecimento de todas as
estrangeiras: a falta de bons livros sobre condicionantes que possam exercer qual­
essa ciência editados em português. Essa quer influência na obra a projetar, bem
deficiência foi bastante minorada com a como das principais características previs­
publicação em 1998, pela Associação Brasi­ tas preliminarmente para o projeto. A esses
leira de Geologia de Engenharia Ambiental profissionais caberá sempre a decisão de
;ABGE), do livro Geologia de Engenharia. recomendar os tipos de barragem mais ade­
Assim, um dos objetivos do autor foi com­ quados ao local escolhido e, para isso, será
plementar para esses alunos os frutos sempre necessário possuir, minimamente,
advindos da publicação do livro da ABGE, um perfeito conhecimento das seguin­
especificamente para o caso de barragens. E tes condicionantes: morfologia das bacias
por que barragens? É que, nas 170 obras de hidrográfica e hidráulica, bem como dos
barragens em que o autor teve a felicidade possíveis eixos barráveis; caracterização
de participar, seja na fase de projeto ou de geomecânica das fundações, obras comple­
construção, pôde constatar que muitos dos mentares e bacia hidráulica; caracterização
PROJETOS E CONSULTORIA LTDA.
A ECOGEOCIÊNCIA é uma empresa de prestação de serviços nas áreas de geologia,
geotecnia, hidrogeologia, mineração e meio ambiente que alia a experiência adquirida
nos vários anos de funcionamento à larga vivência profissional de seu corpo técnico. Esse
somatório de experiência é complementado pela incessante busca no aprimoramento
de técnicas de metodologias de trabalho, objetivando fornecer aos seus clientes um
serviço de máxima qualidade. Suas principais áreas de atuação são:
GEOLOGIA:
Fotointerpretação geológica; mapeamento geológico; mapeamento estrutural; e análi­
se macro e micropetrográfica.
GEOTECNIA:
Estudos geotécnicos para as diversas etapas de um projeto de barragens (foto abaixo);
estudos de mecânica das rochas para túneis, dutos e galerias subterrâneas; estudos de
contenção de taludes em áreas urbanas, barragens, estradas e mineração; estudos para
fundações de obras de engenharia; análises de erosão e assoreamento; estudos para
projetos de irrigação; projetos viários e portuários; carta geotécnica.
HIDROGEOLOGIA:
Caracterização hidrodinâmica dos aquíferos; análise das possibilidades de explotação
de aquíferos; caracterização físico-química e bacteriológica das águas subterrâneas;
contaminação de aquíferos; explotação de águas minerais.
MINERAÇÃO:
Prospecção através de poços e trincheiras; avaliação de ocorrências minerais; Relatório
Final de Pesquisa; Plano de Aproveitamento Econômico; requerimento para pesquisa
mineral; planejamento de lavra.
MEIO AMBIENTE:
Relatório de Controle Ambiental - RCA; Plano de Controle Ambiental - PCA; Estudo
de Impacto Ambiental - EIA/RIMA; Plano Diretor relacionado com áreas urbanas ou
bacias hidrográficas.

RESPONSÁVEL TÉCNICO
Geólogo Doutor Walter Duarte Costa (forma­
do em 1962 e doutorado em 2002)
ENDEREÇO ADMINISTRATIVO
Rua Volta Grande, 581 - CEP 31.030-340
Belo Horizonte - MG
ENDEREÇO TÉCNICO
Rua Washington, 886 apto. 1201 - Bairro Sion
CEP 30.315-540 - Belo Horizonte - MG
Telefones: (31) 3241.3925 - (31) 85005813
(31) 99738407 BARRAGEM DE IRAPÉ - Estudos geotécnicos da etapa
e-mail: wa1ter1938@gmail.com de viabilidade executados por Walter Duarte Costa
dos materiais naturais de construção; e de um relatório técnico nas diversas etapas
impactos ao meio ambiente passíveis de em que se divide uma pesquisa para projeto
ocorrer com a implantação da obra. de uma barragem, desde a sua construção
Por outro lado, é fundamental a esses até sua operacionalização.
profissionais conhecer bem os objetivos Seguem-se os capítulos que abordam, da
para os quais a obra será projetada, pois forma mais compreensível possível, os se­
é comum constatar-se a realização de guintes aspectos ligados ao projeto de uma
processos investigativos ou construtivos barragem: bacias hidrográfica e hidráulica;
inadequados para a finalidade com que será eixo barrável e obras complementares;
construída a barragem, como, por exemplo, investigações de campo e laboratório; tra­
impermeabilizar as fundações de uma bar­ tamento das fundações; materiais naturais
ragem prevista para controle de enchentes, de construção; monitoramento; meio am­
mesmo que a percolação pelas fundações biente; e critérios para a escolha do tipo de
não comprometa a segurança da obra. barragem.
Outra deficiência constatada em inú­ Dessa forma, o presente livro representa
meros profissionais que lidam com as uma modesta contribuição no sentido de
obras de barragens reside na elaboração aprimorar cada vez mais os conceitos de
dos relatórios técnicos. Às dificuldades uma obra de barramento segura, econô­
de redação consequentes do mau apren­ mica e minimamente impactante.
dizado da língua pátria somam-se a falta Finalizando, o autor deseja expressar
de objetividade e um melhor conheci­ sua profunda gratidão ao professor Edézio
mento dos aspectos a abordar, resultando Teixeira de Car valho, pela revisão final
em documentos imprecisos, inelegíveis e do presente trabalho; ao professor Paulo
incompletos, desprovidos de um roteiro Roberto Aranha, pela revisão e pelas suges­
conciso, bem explicativo e com boas ilus­ tões no capítulo de geofísica; e às entidades
trações. Por esse motivo, o presente livro Cemig, Sondotécnica e ABGE, pela autori­
dedica um de seus capítulos iniciais à ex­ zação para uso de algumas figuras.
planação de conteúdos para a elaboração
O Autor
' 'i'iõs!_ . - . . . ��

'
Apresentação

Um livro sobre Geologia de barragens, desenhavam de retração da energia nuclear


ou para barragens. Será um anacronismo? como parte importante da matriz energé-
Nos últimos tempos - ponha-se logo o tica, por causa dos problemas - dados como
marco: ao término do milênio passado-, as insolúveis - da questão ambiental envol-
(grandes) barragens pareciam ter seus dias vida, ainda então concentrada no destino
contados. O Brasil tinha parado em Tucu- dos resíduos e nos acidentes com os reato-
ruí. Em termos de altura, lembro que Minas res; isso bem antes do vazamento de Three
ainda fazia Irapé, mas o empreendimento Miles Island. Havia também uma certa ex-
grande de fato, dos últimos anos no mundo, pectativa de esgotamento do petróleo. "Não
é Três Gargantas, na China. Os grandes dura mais que 30 anos" foi muitas vezes
"barrageiros" brasileiros, engenheiros, geó- falado com certeza absoluta. Curiosamente,
logos e a multidão de operários que a partir há alguns anos , dei com uma análise do ce-
dos anos 1960 migravam como aves de ar- nário para o petróleo e o carvão, e, no caso
ribação de um canteiro para outro tinham do petróleo, não obstante o consumo cres-
quase sumido como por encanto. Todavia, cente, constava que em todos os anos, desde
as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) a crise do petróleo, as reservas tinham au-
prosperaram, contando-se às centenas as mentado, exceto durante a guerra dita do
obras simultâneas, nos vários estados bra- Golfo. Hoje sabemos que a questão nuclear
sileiros, tocadas por muito menos gente, continua mal resolvida, apesar de países
em parte pelo porte muito menor e, em como o Japão, a França, os Estados Unidos
parte, pelo avanço da mecanização, que e outros terem aí parte substancial de seu
cortou muitos empregos no operariado. suprimento energético.
Geólogos e engenheiros, ou pararam na Evidentemente, com as dificuldades do
chegada da idade de aposentadoria, caíram petróleo (agora acirradas com a presunção
num recolhimento voluntário, quase um do aquecimento global), do carvão e da ener-
ostracismo autoimposto, ou entregaram- gia nuclear, os brasileiros se sentiram mais
-se a outros afazeres. Nessas PCHs, embora bem preparados para o futuro com energias
-ecnicamente mais simples, os respectivos "limpas" de fontes renováveis, hidráulica,
cadernos de encargos tornaram-se mais solar direta, eólica e da biomassa. Natural-
omplexos para atendimento a exigências mente, essas convicções são abaladas por
ambientais crescentes. processos de aprovação algo atribulados,
Lembro-me bem, ainda cursando Geologia como o de Belo Monte no Xingu (empreen-
na Escola de Minas de Ouro Preto, das dis- dimento antigamente, nos anos 1970/ 1980,
cussões sobre as perspectivas que então se chamado Kararaô e Babaquara).
Parece evidente que, se os grandes bar- -se a reunir em livro um pouco do muito que
ramentos fossem todos dotados de eclusas sabe do tema, com bom arranjo didático-
para a navegação, como no São Francisco, -pedagógico, em linguagem simples e
Tocantins e Paraná, teria o setor energé- objetiva. São 12 capítulos de conteúdo ex-
tico recebido da sociedade brasileira um positivo e 4 apêndices: glossário de termos
reconhecimento muito maior, porque a técnicos; normas da ABNT; conversão de
navegação interna, condição essencial de unidades; e relação das obras de barragens
sustentabilidade para qualquer país de di- em que o Autor participou.
mensões continentais, contaria como Sem pretender repetir o sumário, anoto
impacto positivo das grandes barragens, e que o Autor apresenta a matéria da se-
não negativo. A relação com os atingidos, guinte forma:
principalmente os que são removidos de Capítulo 1: conceitos introdutórios
suas residências ou que têm suas proprie- sobre as questões territoriais pertinentes,
dades inundadas, também tem importante os objetivos das barragens e os seus prin-
papel na formação de uma consciência des- cipais tipos.
favorável aos empreendimentos do gênero. Capítulo 2: fases do projeto e da vida das
O geólogo Walter Duarte Costa teve boa barragens, temas apresentados com clara
formação desde o ensino fundamental até a fundamentação, justificando as atividades
universidade e pós-graduação. É natural de das diversas fases de estudo, projeto, cons-
Pernambuco, Estado que se notabiliza por trução e observação do comportamento.
ter dado ao Brasil homens de grande estatura Esses capítulos introdutórios já incluem ar-
científica, técnica, cultural, social e política, gumentos lógicos vinculados à importância
e que, portanto, não inovou em dar-nos o relativa das diversas ocasiões de tomadas de
Autor do livro que honradamente prefacio. decisões. A leitura é agradável, mesmo para
Houve por bem ele centrar em Minas Gerais quem formalmente já tenha passado por
a segunda parte de sua vida profissional, esses temas, de outros autores, em cursos
como geólogo e consultor e como professor de graduação ou pós-graduação.
universitário no Departamento de Geolo- Capítulo 3: apresenta o Autor um sumá-
gia do Instituto de Geociências da UFMG, rio dos aspectos geológicos mais relevantes
onde, por tempo mais curto que o desejado, da bacia de contribuição, distinguindo bem
chegamos a conviver. Homem de ameno a hidrográfica, total, e a hidráulica, inclusa
trato e de falar sóbrio, sempre conduzido na primeira e, no caso, a que fica inteira-
com moderação e, nas questões técnicas, mente submersa em condição de pleno
sempre guarnecido de bons referenciais da armazenamento. Mais uma vez compa-
lógica. É o Walter que vi em artigos técni- recem aspectos da lógica da investigação,
cos, em exposições de encontros científicos, distinguindo-se as necessidades de investi-
nas conversas de corredores escolares, nos gação de cada um deles.
colegiados deliberativos. Capítulos 4 e 5: aprofundam-se as re-
As barragens não deixarão de ser lações interativas entre a barragem e seus
construídas. É o que nos diz ele ao dispor- diversos setores e órgãos auxiliares com
o sítio de implantação das estruturas in- melhorar as suas características, de modo
tegrantes, com destaque para o corpo da a garantir o comportamento adequado
barragem em si quanto às tensões de con- diante dessas solicitações.
tato com o terreno, a bacia hidráulica em Capítulo 9: trata dos materiais de
relação aos fenômenos de percolação e fe- construção, um dos itens de investigação
nômenos de alteração das rochas presentes. geológica inevitável na construção de uma
Dá-se grande destaque às descontinuida- barragem. Com efeito, dependendo do tipo
des dos maciços rochosos em relação ao em causa, a construção de barragens con-
comportamento a prever diante das soli- some obrigatoriamente rochas em blocos
citações típicas quanto a deformabilidade, ou britadas, areia, saibro e solo residual
resistência (estabilidade) e permeabilidade, comum. A disponibilidade, ou a ausên-
em face das cargas hidráulicas aplicadas. cia desta, quanto aos principais materiais
Apresentam-se conhecimentos fundamen- dessa lista pode determinar mesmo o tipo
tais dos domínios da mecânica dos solos, de barragem a ser construído, de modo que
da mecânica das rochas e dos fenômenos a investigação em relação a esses materiais
de percolação, ainda que à guisa de revisão, deve iniciar-se precocemente e desenvol-
sem fundamentações excessivas. ver-se dinamicamente para o atendimento
Capítulos 6 e 7: seriam, a rigor, soma- das especificações de qualidade e de quan-
dos aos dois anteriores, o bloco nuclear do tidade.
livro. Com efeito, a exposição sistemática Capítulo 10: trata do monitoramento,
dos capítulos anteriores constitui uma fase que é a essência do processo de acompanha-
preparatória, com justificações técnicas fun- mento do desempenho da obra.
damentadas, para a fase de investigação, cuja Capítulo 11: meio ambiente é tema
execução, principalmente em grandes em- obrigatório de todas as obras de grande
presas, costuma estar entregue a equipes de porte, e, no caso das barragens, é parti-
geólogos e engenheiros de campo, que podem cularmente importante o fato de, através
participar de programações e interpretações dos cursos d'água, as barragens imporem
precoces em campo. Nessas investigações, aos territórios a jusante, e até a montante,
dependendo do porte da barragem e da sob determinadas circunstâncias, impactos
complexidade do sistema geológico local, ambientais que vão dos suaves e toleráveis
podem ser incluídos ensaios especiais, como até os de grande intensidade, para muitos
os de cisalhamento in situ, dilatométricos considerados intoleráveis.
ou de determinação do estado de tensão, ge- Capítulo 12: o Autor fecha o conteúdo
ofísicos especiais e outros. como se estivesse revisando em parte os
Capítulo 8: importante capítulo no qual, capítulos iniciais. De fato, volta a referir-se
partindo da caracterização do terreno de a aspectos geológicos, topográficos e outros
implantação da obra e das característi- na exposição de critérios de escolha do tipo
cas desta, com as respectivas solicitações de barragem a construir.
previstas, expõe o Autor os tratamentos a Foi feliz o Autor na escolha da marcha
serem aplicados ao terreno, destinados a de apresentação do conteúdo, em sucessão
lógica, facilitando a apreensão gradual de foram feitas. Nos casos de barragens de
complexidades crescentes. usos múltiplos, a submissão operacional
Algumas linhas atrás, comentei que o a necessidades superiores, como a do con-
Autor acredita na continuidade da barra- trole de inundações - relegado em muitos
gem como tipo de obra que a humanidade casos -, deve ser uma disposição sempre
não dispensará. Ora digo que, sem em- presente.
bargo, isso não impede que novas barragens Finalmente, de uma ótica muito pessoal,
propostas terão de passar por crivos cada vejo as barragens, onde bem justificadas,
vez mais severos, quer no plano ambiental, como dispositivos que têm uma virtude
quer na efetiva contribuição que venham a intrínseca muito importante, qual seja, a
ter para o desenvolvimento local, regional, de atravessarem-se no caminho das águas
dos países, por grandes que sejam. que escoam rapidamente de volta ao mar.
Antes de terminar essas despretensio- São, portanto, dispositivos que, embora
sas notas sobre o trabalho apresentado pelo tardiamente, concedem às águas um tempo
Autor, acredito caber aqui uma palavra de a mais de estarem nas áreas continen-
estímulo aos principais destinatários do tais contribuindo de várias maneiras para
livro: provavelmente estudantes ainda em tornar melhor a vida da humanidade, o que
nível de graduação. Ao signatário deste, não deve ser confundido com barragens
a barragem apresenta-se como objeto só mal justificadas, que apenas ampliam o
menos diverso que a cidade em termos de poder de quem as detenha.
desafios. Com efeito, a barragem é maior ' Tenho certeza de que é sempre nessa
que a obra viária, até porque, para a sua perspectiva que o Autor tem construído
construção e operação, requer o acesso uma carreira laureada de grandes serviços
viário; é maior que o aeroporto; maior que prestados ao Brasil, estando o livro desti-
o túnel; maior que a mina, porque terá mais nado a ser um dos maiores .
de uma para supri-la; só não é maior que a
cidade, que decide fazê-la ou não. Belo Horizonte, 18 de junho de 2011
De outro lado, vejo os construtores Edézio Teixeira de Carvalho
de barragens, desde já e cada vez mais no
futuro, aproximando-se de algumas justas
objeções de ambientalistas, daqueles que
são atingidos diretamente e da sociedade
em geral, no sentido de reduzir a intensi-
dade dos impactos negativos e ampliar a
dos positivos, não só por meio de justas
compensações aos atingidos diretamente,
mas também, não menos importante,
agregando às barragens funções adicio-
nais, como o auxílio à navegação por meio
de eclusas, que tanta falta fazem onde não
Sumário
1 Conceitos introdutórios ....................................................................................... 21
1.1 Critérios de projeto .. ................. ........ ... ... ... ... ................. .... .. ..... ... ... ... ..... .... ..... ....... ... . 21
1.2 Objetivos e sua importância no projeto ........................... ..... .... ......... .... .... ... ....... .. .. .. . 22
1.2.1 Barragens de regularização .. .... .. .... .. .. .. .. .... .. .. .......... .. .. .. ..... .. .. .. .. .. .... ... ... .. ...... .... .... .. ... .. ....... 22
1.2.2 Barragens de contenção ......................................................................................... .. ............ 22
1.2.3 Incidência dos objet ivos no planejamento da obra .. ........ .... .. .......... .. ... .. .... ... .... .. .. .... .. ... .. .. 23
1.3 Tipos de barragens .. ... ... ........ ... ...... ..... .. ....... .... .......... ... ... ....... ... .... ..... .. .... .. ....... ... .. ... . 24
1.3.1 Barragen s convencionais.. .. .......... .... ........... ............ ........... ... ... ........................................ ..... 24
1.3.2 Barragens não convencio nais ... ... .. .. .... .. .. .... .... .. .. ... .. .............. ... ...... .. .... .. ....... .... ... .. ............ . 27
1.4 Conceitos , nomenclatura e te rm inologia .......................... .. .......... .. ......... .. .......... .. ...... 28
1.5 Arranjo de uma obra de barragem .. ....................... ..... ...... ... ..... ... ... ... ..... ... .... ... ... ... ... . 29

2 Fases e métodos de investigação geológico-geotécnica em barragens ............... 31


2.1 Etapas na vida de uma barragem .. .. ..... .. .. .... .. .. .. .. .... .... .. .... .... ....... .. ... .... .... ..... ..... .. ... .. 31
2.2 Fases de um projeto .... ....... .. .. ....... .. .. ... ..... ... ..... ... .. ...... ....... ..... ... ... ... ... ... .. ... ...... ... .... .. 31
2.2.1 Inventário ou plano diretor .... .. ... ....... .... .. .. .... .. ..... ..... .. .. .. .. ....................... ............. .. .. .. ...... .. . 31
2.2.2 Viabilidade .... .... ..... .. ... .. ... ... ............ ... ......... .... ...... ..... ....................... .............. ...... ...... ... ..... . 31
2.2.3 Projeto básico .............. ..... ............................ ........................................................ .. .... .. .... .. .. 31
2.2.4 Projeto executivo .. ... .......... .. .... ........ .. ..... ... .. .. .... .... .. ... ... ..... .... ... .... .. .. ... ... ... .... .... ....... .... .. .. .. 32
2.3 Investigações geológico-geotécnicas em barragens .. .... ............. ..... .. .......... .. ... .. ......... 32
2.3.1 Fase de inventário ou plano diretor ............................................. .. .... ... .. .. .... ... .......... .... .. .. .. . 32
2.3 .2 Fase de viabilidade .. ... .. .... ... .... ......... .. .. ... .... .. ........ ... ... .... .... .... .. ... ...... .. ... ........... ..... ........ .... . 34
2.3.3 Fase de projeto básico .......... ... ....... .. .............. ... .. ...... ............... ....... ... .. ............ ... ...... ........... 37
2.3.4 Fase de projeto executivo ..... .. ...................................... ............. ................ ............. .. .. 39
2.3.5 Observação do comportamento da obra.............. ........ .. .... ... ........ ... .... .. ...... .... ... .... .. .. ... ...... 41

3 Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hidráulica ........................ 43


3.1 Erosão e assoreamento ..... ... ...... ........... .............. .... ........................ ........ ... ...... ...... ..... 43
3.1 .1 Erosão ..... ....... .......... .. ..................................... ... .................. .. ... ... .. .... .. ... .. ......... .. .. .. ..... .. ...... 43
3.1.2 Assoreamento ... .... .... .. ........ ... .. ... ... .. ..... .. ....... .. ... ... ......... ... ... ...... ...... .. .. ..... .. .. .. .... ... .. .. .... ..... 44
3.1.3 Riscos de erosão e assoreamento .. .. .... .. .. .... .. ........ .. .. .. .... ... .. ..... .... .. ... ............ .. .... ... .. .. .. ..... .. 45
3.1.4 Medidas preventivas contra a erosão e o assoreamento ........................... .. .. .. .. .... .. ....... .. ..... 46
3.2 Instabilidade de encostas ....... .................... ................... ... ..... ... ... ... ........... ...... ... .. ..... .. 47
3.2.1 Agentes predisponentes ... ..... .. ........ .. .. ....... ... .... .... ... ... .... .. .. ... ... ..... ... .. ..... .. .. ... .. .... .. ... ... ...... 47
3.2.2 Agentes efetivos ... ... .... ... ................. .. ......... ......... ............................ .................... ...... .. ... ..... 52
3.3 Fugas naturais .. ........ ........ .. ...... ... .... ..... ....... ..... ..... ... .... ... .. ... ... .. .. .. ... .. ... .. .... ...... .. ..... ... 53
3.4 Sismicidade induzida ...... .... ..... ... ....... .... .. ... ..... ..... ..... ... ... .. .. .... ... ... ..... ............ .. ... ... .. ... 54
3.4.1 Causas dos sismos induzidos ............................................................. .. ........ .. .. ....... .. .. ... ....... 55
3.4.2 Estudos preventivos ................... .......................... ... ........ ... ... .. ..... .. .. .... ... ...... ....... ... ... ... .. .... 55
3.5 Contribuições indesejáveis ........ ....... .. .. ...... .. .... ...... .......... ....... ..... ..... .. ... ........ ...... ....... 56
4 Problemas geotecnológicos da fundações de uma barragem .............................. 57
4.1 Identificação geológico-geotécnica das fundações ... ........ ......... ...... .. ... .... ... .... ............ 57
4.1.1 Caracterização ..... .. ...... ... ... .. ... ... ... ... .... .. .. ... ...... ........ .... .... .... ....... ... ...................................... 57
4.1. 2 Classificação ..... ..... ...... ....................... .......... ... ... .. .......... ... ...... ......... ... .. ... .... .. ... .. ................. 64
4.1 .3 Compartimentação .. ..... ......... ..... ... ... .. ..... .... ...... ..... ....... ......... ... ................... .. .. ..... ...... .. ....... 67
4.1.4 Modelagem .... .. .. ... ......... .. ... .. ....... ................ .......... ... ........ .. ... .. ... ......... .. .... ... .... ..... .. ............ 68
4.2 Caracterização geomecânica e hidrogeotécnica das fundações da barragem ...... ..... ... 72
4.2 .1 Deformabilidade ou compressibilidade .. ... ... ... ..... .... ... .. .. ..................... .... ........ .. .... ... .. ... ....... 73
4.2.2 Estabilidade ......... ... ............ .... .. ........ .. .. ... .... .. ... ................ .... .............. .. ....... .... .. ... ................ 78
4.2.3 Estanqueidade .. .. .... ... ..... ..... ..... .. .............. ... .. .......... .. ... ...... .... .... ... ................ .... ...... ........ ... . 87
4.2.4 Classificação geomecânica das fundações de uma barragem .... ... ............. .. .... .... .. .......... ..... 96

5 Geotecnia das obras complementares ............................................................... 105


5.1 Canais de adução e restituição .. ..... ........ .. ... ............. ................ ...... ...... ..... ... .... ....... .. 105
5.1.1 Caracterização geológico-geotécnica .. .. .... .......... .... ... ................... .. .. ...... ............ ... ...... ....... 105
5.1.2 Condições de estabilidade ... .. .... .. .... .... .... .... ... ............................................. ... ...... ... ... .... ... 106
5.1.3 Modelo geomecânico de escavação ... ........ ..... ........ ... .... ..... ..... ... ... ............ ....... ..... ... ......... 106
5.2 Vertedouro ... ........ ........ .... ... .... .... .... ........ .... ... ......... ... ... .. .... ............. ... ....... .. ....... .... . 106
5.3 Erosão a jusante ....... ... .... .. .. ...... ... .......... ... ........... .. ... .. ......... .. .. ..... ......... ..... .. ....... .. ... 108
5.4 Obras subterrâneas ..... ... ... ... ..... .. .... ...... .... ..... ..... ... ...... ... ..... ... .............. ........... ........ . 111
5.4 .1 Tipos de obras subterrâneas ... ...... ...... .. ... .... ............... ...... .... ............. ... ... ...... .... .. .... .......... . 111
5.4.2 Influências da geologia nas obras subterrâneas ....................... ...... ... .... .... .. ..... ...... ...... ..... .. 112
5.4.3 Influência do estado de tensões ... ... ..................... .. ..... ... ... ..... ......... ... .... ............................ 116
5.4.4 Influência da geometria do túnel .... .. .... .... .. ... ... ....... ... ............. .... .. ... .. ........ .. ... .. ... .... .......... 118
5.4.5 Classificação geomecânica ....... ... .. .... ... .. ... .. ... .. ... .............. .................. ....... ....... .. ..... ....... ... 119
5.5 Áreas de acampamento e de canteiro de obras ............... ...... ...... ... .... .... ...... .. .. .... ..... 119
5.6 Acessos ..... ... ... .... .. ..... ......... ........ ............ ..... ..... .. .. .... ....... .... ..... .... .......... ............ .... .. 121
5.7 Ensecadeiras .... ........ ... ......... ... .......... ... ... ....... ....... ........... ..... ..... ...... .. .... .. ... .. .......... .. 122
5.7.1 Configuração em planta ........... ... ...... ..... ... .......... ...... ..... .... ..... ...... ............... ............. .......... 122
5.7.2 Construção da ensecadeira ... .. ... ... .... ... .. ... ... ............ ... ..... ....... ..... ......... ..... .............. ....... ... 123
5.7.3 Aspectos geotécnicos ... .. ... ................................. ......... .. ... ... ....... .. .... ... ... ..... ........ ..... .. .. .. .... 125

6 Investigações para obras de barragens .............................................................. 127


6.1 Tipos de prospecção .. .. ...... ..... ...... ........... ....... .... ......... .. .. ...... .... .... .... ...... .. .... ........... 128
6.2 Prospecção indireta ...... .... .. ..... ..... ....... ....... ... ..... ..... ........ .. ... ...... ......... ... .............. .... . 129
6.2.1 Eletrorresistividade ...... ... ... .. .. .. ... .. ...... .... .. ............ ....... ..... ... ......... .... ......... ........ .. ............... 129
6.2.2 Sísmica ..... .. ... ....... .. ......................................... .... .......................... ... .. ... .. .. ... ............ .... ...... 137
6.2.3 Georradar (GPR) ... .. ... .. ... ... .. .. ..... .. .... .. ... ... ...... ... .. .... ........ ..... ... .. ... .... .. ......... ..... ....... .. .. .. ... . 145
6.3 Prospecção semidireta .... ........................ .... .... .. ..... ... ....... .. ..... .. ... .............. ...... .... ... ... 149
6 .3.1 Sondagem a varejão (SV) ... ....... ... .... ... .... .... .. ... .. .. .................................... ........ .. .... ... ........ 151
6.3 .2 Sondagem a trado (ST) ..... .. .. ..... ......... .. ... ...... ...... .. .... ... .. ... ... ....... .. .. ..... .... .... .... ... .. ... .... ..... 151
6.3.3 Sondagem a percussão (S P) .. .. ... .. ... ... ... ........ .... .. ... .... .. ... ... ..... .. ......... ......... ... ........ ...... .... . 153
6.3.4 Sondagens rotativas (SR) ...... ................................. ......... .... .............. ... ........... ....... ... ..... .. .. 157
6.3.5 Sondagens mistas (SM ) ........... ..... ..................... ...... ..... ......... ... ........ ... .... .. ..... .... ..... .... ....... 172
6.3.6 Sondagem com rotopercussão ................................. ..... .. ... ...... .. ... ... .... ... .. .. ... .......... ...... .... 172
6.4 Prospecção direta .. .... ... ...... ... ...... .... .... ... .... ............. .. ...................... ... .... .. ... .. ... .. ..... .. 174
6.4.1 Poços ... .. ... ... ...... .. .... ... ...... .... .. ..... ............. .. ........ .... .............. ..... ...... ... ... ..... .... ...... ...... .... .... 175
6.4.2 Trincheira .......... ... ... ...... .... .... ..... .. .. ... ... .. ... ... ... ..... ..... ................. .... ...... ... ........................... 177
6.4.3 Túneis ...... ..... .. ..... ..... ..... .... .. .......... ... ... ... .. ... .. ..... .. .................. ... .... ........ ... .. .... ....... .. ..... ... ... 179

7 Ensaios e testes ..... ............................................. .. .... .......................................... 181


7.1 Ensaios in situ .. ...... .... ..... ...... .... .. ...... .......... .. ... ...... .... .......... .. .... .. ........ .... .. ............ .... 181
7.1 .1 Ensaios in situ em materiais inconsol idados ... ........ ................. .. .. ........... ... ... .......... ..... ......... 181
7.1 .2 Ensaios in situ em materiais consolidados ..... ..... .. ... ......... .. ..... .. ............... ........ .. .... ... ... ..... .. 188
7.2 Ensaios de laboratório .... ... .... .. ...... ... .. ... .. ...... ..... .. .. .... .. .... .... ....... .... .. .. ..... ........ ... ... ... 202
7.2.1 Ensaios de laboratório em materiais inconsolidados ...... ............ ..... ... ... .. .. ... ... ... .. ....... ... ...... 202
7.2.2 Ensaios de laboratório em materiais consolidados .... ... ........ .......... .... .. ......... ............ ....... ... . 216

8 Tratamento de maciços naturais ..................................................... .................... 231


8 .1 Métodos de tratamento .... .... .... ...... .... .... .. .......... ........ ... ... .... .......... ........ ...... .......... .. 232
8.1 .1Substituição dos materiais da fundação ... ....... ... ... ... ... ... ... .. .. .... ........ ..... ..... ... .. ................ .. ... 232
8.1.2 Injeções ...... ..... .. .... .. ... .... .... ...... .... .... .... .... ....... .. ... ... .... .... .... ... ........ .. ... .......... .. ..... .... ... ... . 236
8.1. 3 Drenagem subterrânea ......... ........ ............. ...... ... ..... .. ... .... ...... .... ..... .. ... ..... .. .. ..... ... .. ..... .. ... . 253
8.1.4 Congelamento ...................... ..... .. .. .. ... ... .. ... ..... ... .. ... ... ... ... ...... .. ............ .... ......................... 254
8 .2 Apl icabilidade de cada método .. .. ... ... .. ...... ... ... .. .. .. .. ... ........ ... .... .... ............ .... ..... ... ... 255
8.2 .1 Melhoramento da resistência .. ..... ... .... ... ... .. ... ... ... .. .. ................ ...... ..... ......... .... ..... .... .. .. .. .... 255
8.2 .2 Redução da percolação ... .. .. ..... .... ... .. ............................... .... ... ... ..... .. ... ... ... .. .... ..... .... ... ..... 255
8.3 Critérios para definir a necessidade de tratamento .... .......... ..... .. .... .. ........ ... .. .. .. ... ..... 263

9 Materiais naturais de construção ....................................................................... 269


9 .1 Tipos de materiais e fontes de obtenção .... ..... ........ ... ... ... ..... ...... ...... .... .... ... ......... ... . 269
9 .2 Materiais pétreos .... .. ............. .. ... ..... ... .. ..... .............. ...... ... ........ ... ... .......... ... ...... ....... 270
9.2.1 Utilização do material pétreo ........ ...... .... ...... .. ... ... ... .... ....... ...... .... ... ..... .... .. .... .. ...... ............ 270
9.2.2 Pesquisa , explotação e beneficiamento do material pétreo .... ......... .... ......... ... .. .... .. ... .... .. . 270
9.2.3 Caracterização do material pétreo ..... ... ... ..... ..... .. .. .. .. .. .... ..... ... .. .. .. ... ..................... ...... ... ... 275
9.2.4 Apresentação dos resultados .............. ...... ...... ... ... .. .... ... .. ... ... ...... ... ... ............... .... .. ... ... ..... 287
9.3 Material arenoso ........ ............... ..... ... .. .... .. ... .. ........ .... ... ............... .. .................... ... .... 288
9.3 .1 Utilização do material arenoso ... .. .. ..... .. ... .. .... ..... .... .... ........... .. ... ... .... .. ..... ... .............. ......... 288
9.3.2 Pesquisa, explotação e beneficiamento do material arenoso .. .... ... .. .. .. ..... .. .......... .... ........ 289
9.3.3 Caracterização do material arenoso .. .. .. ... ... .... ..... .... .. .. ... .. ..................... .... ...... ... ... ... .... .. .. 291
9.3.4 Apresentação dos resultados ... .... ..... .. .... .. .. .. .. .. .. .. ... .. ..... ... ....... ... .... ...... .......... .. ... ...... ... ... 294
9. Material terroso .......... .. .... ........ .... ...... ..... ..... ...... ........ ..... .. ..... ........... .. ....... ... ..... ...... 294
9.4.1 Tipos de materiais terrosos e suas aplicações ......... ......... ........ ......... ... ...... ... ....... ... ... ... .... .. 294
9.4.2 Pesquisa e explotação dos materiais terrosos .............................. ...... ... .. ... ... .. ..... ... .. .. .... .... 296
9.4.3 Caracterização técnica dos materiais terrosos .. ... ... ... ... .. ... .......... ... .. ... .... .. .. .. ... .... ...... .... .... 297
9. .4 Apresentação dos resultados ........... ... .. ... .. ... ... .... ... ... ... ... .. ....... ... .. .. .. .. ... .......... ........... ...... 298
10 Monitoramento ................................................................................................ 303
10.1 Inspeção visual. .... ... .. ............ ..... ..... ....... ... ............... ... ....... ... ..... ... ........ .. .... ........... .. . 303
10.2Topografia ...................... .... ...... ... ... .. ............................................ .. .. ..... ...... .... .. ..... .. 304
10.3 In strumentação ..... ... ... ........... .... .. ... .. ......... ... .. ........... ...... ........ ... .... ...... .. ... ... ... ......... 305
10.3.1 Medição do nível d'água .. .. .... .. ..... .. .. ............ .. .. .... .. .. .. ........ .. ... ... .... ... .... ............. .. .. ........ 307
10.3.2 Medição da pressão neutra ..... ..... .. ... ... .... ... ... ... .. ..... .. .. .... ... .. ........ .. ... .... .. ... ........ ... .. ... ... . 308
10.3.3 Medição da tensão total .. ..... ...... .. ... .... .. .... ..... ..... ..... .. ... ... ... .. .. ...... .. .. .. ..... .... .. ..... .... ... ..... 308
10.3.4 Medição de deslocamento ....... .. ...... ...... .. ..... .... .. ... ... .. ... .... .. ... .. .. .... ....... ... .......... ... ... .. ... 308
10.3.5 Medição da vazão ........................ ...... ... .. ..... ..... .... ..................................... .. ..... .... .. ... ..... 310
10.3.6 Medição de aceleração sismológica ........ ... ..... .... ........ .. .......... .. .... ... ........ .... .. .... ..... .. .. .. .. 310
10.3.7 Frequência das medições ... ... .... .. .... ... ... ... .. .... .. ........ ............. ... ... ........... ......... .... ............. 311

11 Meio ambiente ................................................................................................. 313


11 .1 Critérios de estudo .... .. ..... .... .... .. ...... ..... ... .. .. ..... ..... ..... .... .. .... .. ......... ..... ........ ..... .... ... 313
11 .2 Fase de projeto ....... ...... ...... .. ... .. .... .. .. ...... ......... ..... ... ...... ... ... .......... .. .. ................. ..... 315
11 .2.1 Abertura de acessos .................. ... ....... .... .. .. ..... ...... .. .. .. ... .... .. .. .. ... .......... ... .... .... ... ... ..... .. .. 315
11.2.2 Execução de sondagens ..... ............. ... ............ ............. ........... ..... ... ............. .. ... ... .. .. .... ... . 315
11 .2 .3 Abertura de túneis ..... .... .. ..... .. ... .. ... ....... .... .. ... .. .... ... ....... ... ..... ......... ..... .... ... .. .... .. .... .. .. ... 316
11.2 .4 Expectativas sociais .. ....... .. ... ... .... ..... .... .. .... .. .... .. ... .. .. ..... ... .. ... .. .. ............. ... .................... 316
11.3 Fase de instalação do canteiro, acampamento e acessos .. .............. ... ....... ........... ...... 317
11.3.1 Impactos gerados pelo canteiro de obras ..... ... .. ........ ..... .. .... .. .... .... .. ... ....... .. ...... .... .. ........ 317
11.3.2 Impactos gerados pelo acampamento ... ... .... .. .. .... .. .... .. .... .. ... ........ ..... .. ..... .. .. .... .. ... .. ... .... 317
11.3.3 Impactos causados pela abertura de acessos ............. .. .. .... ... .. .. ..... ... ... .... .. ... .. .. ..... .... ...... 319
11.4 Fase de constru ção e preparação do reservatório .. ... .... .... ........... .. ....... .......... ............. 319
11.4.1 Impactos gerados pela construção ..... ..... ...... ..... ... .. ..... .. ... ... ... ... .. .... .. .... .. .... .. ... .... .. .. .. .... . 319
11.4.2 Impactos gerados pela explotação de materiais naturais de construção ......... .... ...... .. ... ... 320
11.4.3 Impactos gerados na preparação do reservatório ...... .. .... .... ... .. .. .. .... .. .... .... .... ... ...... ...... .. 320
11.5 Fase de enchimento do reservatório ........... .. .... ...... ... .. ..... .... ... .... ...... ..... .. ... ... .. ... ... .. . 321
11 .5.1 Inundação das áreas marginais ..... ... .. .. ... .... ..... .. ... .. ... .... ... .. ... .... .. .. ... .. ... .... .. .. ..... ... ....... .. . 321
11.5.2 Redução de água a jusante ............... ...... .... .. ..... ....... .... ... .... ... .... .. .... ... ... .. .. .... .. .. .... ... ... .. 321
11.5.3 Modificação da qualidade das águas ... ...................................... .... ..... ... ........ .. ... .. .......... 322
11 .6 Fase de desmobilização do canteiro e do acampamento .... .......... ... .... ... .... ............. .. 322
11 .6.1 Desmobilização do canteiro de obras ................. .... ................. ........ ........... ............... ..... . 322
11.6.2 Desmobilização do acampamento ...... ........... ... ... .. .. ..... .. ......... ... ... ........... ....................... 322
11 .7 Fase de operação ...................... .... ..... ........ ................... ... ... ........ ... ... ... ... ............ .. .... 323
11.7.1 Variação do nível do reservatório ................... .......... ...... ............... ...... .. ... ... .... ..... .... ... ..... 323
11.7.2 Manutenção da infraestrutura remanescente .... .. ...... .. ......... ...... .. .. .. .. ........ ............ ... .... ...... .. ..... 324
11 .8 Estudos ambientais ... ... .... .... ... ... ....... .... ... ....... ... .. ..... ... ..... ... .. ........... .. .. ...... ... ... ..... ... 324
11 .8.1 Documentação ... .. .... ... ...... ...... .... .... .... .. .... ... ....... .......... .... .......... .. .. .... .. ... ..... ... ........ ... ... . 324
11 .8.2 Licença Prévia (LP) .................... ..... ..... ..... ........... .................... .. .. ....... .... .. .... .. ... ... .. .. ... .... .. 325
11 .8.3 Licença de Instalação (LI) .... ........ .. ...... .... .... .. ... .......... ..... ... .............. ..... ....... ....... .. ....... ... 325
11 .8.4 Licença de Operação (LO) ... ........ ... .. ..... ...... .... ... ..... .... ... ............................ .......... ......... 327
12 Critérios para escolha dos tipos de obras ......................................................... 329
12 .1 Topografia ............................ .... .... .... .. ...... ... ........ ... ...... ..... ... ...... ... ... ..... ... ... ..... .... ... . 329
12 .1.1 Corpo da barragem ..... .. ............................................... ................. ............... ................... 329
12 .1.2 Vertedouro ................. ... ... ......... .... .. .... ... ... .. ... .. .. .... .... .. ... .. .. ... ... .. ... .... ... .. .. .. ... .... .. .. ... ... .. 329
12.1.3 Desvio do rio .. .. .. .. .... .. .... .. .. .. ...................... .. ........ ................... ........ .. .... .. .. .. .. .... ... .. .. .. .. .. .. 330
12 .1 .4 Obras auxiliare s .... ........... ...... ......... ... .. .. ..... .. ........ .. ................. ... .. .... .. ... ....... .. ..... ............. 330
12 .2 Geologia das fundações .................. ......... .... .... .......... .. .... ..... .... .... .. .... ... .. .... ... ...... .... 330
12 .2.1 Corpo da barragem ..... .. .... .. .... ..... ................ ... ............ .. .... .... ............ ... ... .. .. .. ........ ........... 330
12 .2.2 O bras auxiliares .... ... .... ...... ... .... ... .. ..................... ........... .......... ............... ...... .. ... ... ......... .. . 333
12 .3 Materiais naturais de construção ... ... ...... ... ...... ....... ... .. ... ......... ................... ......... ..... . 333
12.3.1 Localização ... ... ... ..... ........ ... ...... .. .... .. ... .. ... ... .............. .. .... .. ........ ................. ........... ......... .. 333
12 .3.2 Quantidade .... .. ... .. .. .... .. .... .. .. .. ... ... ... .. .. .. .... ......... ... .... .. .... .. .. .. ... .. .. .... ..... ... .. .. .. ....... .. ........ 334
12.3.3 Características técn icas do material .... .. ...... .. ...... ... .. .... .. ... .. ... .. ... .... .. .. .... ..... ........... .. .... .. .. 334
12 .4 Meio ambiente ... ... ..... ...... ... ... .. ..... ... ... ........... ... ... ... ... .. .... ....... .... .... .... ...... .. .... ......... 334
12.4.1 M ateri ais natu rais de con st rução .. ..... .. .... .. ................... ... .... .. .. .. .... ..... .. ........ ... .. .. .... ... .. .. .. 334
12.4.2 Áreas inundadas. .... ... . . ............ ...... .. ........ .... .. .... .. .... ... ... ........... ........... .................. 334
12.5 Fase de definição do tipo de barragem .. .......................... ........... ...... .... .. ... .... .. ..... .. .. 335

Apêndice 1 - Glossário de termos técnicos ........... ................................................ 337

Apêndice 2 - Principais normas técnicas da ABNT


aplicadas a solos e agregados ............................................................................... 341

Apêndice 3 - Conversão de unidades do Sistema Internacional


de Unidades {SI) para as principais unidades {Frazão, 2002; lnmetro, 1989) ........ 343

Apêndice 4 - Barragens que tiveram a participação do autor ............................... 345

Bibliografia recomendada .....................................................................................348

eferências bibliográficas ....................... .............................................................. 351


1 Conceitos introdutórios

1.1 CRITÉRIOS DE PROJETO • Climatologia e recursos hídricos;


• Morfologia;
O projeto de uma barragem envolve as- • Geologia e Geotecnia;
?ectos muito diversificados, sobretudo por • Impactos ambientais.
abranger fatores de natureza bastante dis-
tinta quando considerados em função do Normalmente é difícil dissociar as in-
aspecto enfocado: obra propriamente dita terdependências dos fatores relacionados
ou ambiente em que a obra será inserida. às condicionantes naturais de alguns fato-
Os fatores relacionados com a obra pro- res ligados à própria obra, principalmente
?riamente dita referem-se à concepção e ao no que se refere aos parâmetros necessários
dimensionamento dos diferentes compo- à definição da concepção do projeto. Assim,
nentes da obra e podem, em geral, admitir dificilmente se pode conceber o melhor ar-
a seguinte abordagem: ranjo de obra sem levar em conta, ao mesmo
• Objetivo da obra; tempo, os seguintes fatores:
• Tipo de barragem; • Objetivo da obra;
• Arranjo de obras; • Balanço hídrico;
• Dimensionamento da barragem, le- • Relevo;
vando em conta suas características de • Condições geológico-geotécnicas das
deformabilidade, estabilidade e est an- fundações;
queidade; • Disponibilidade de materiais naturais
• Dimensionamento das obras com- de construção;
plementares, como vertedouro, canais, • Impactos ambientais relevantes.
túneis e casa de força, em função de cri-
térios de projeto e segurança das obras; Os fatores listados são essenciais não
• Metodologia de construção; apenas para definir o melhor arranjo das
• Cronograma e custos; obras de uma barragem, mas também
• Monitoramento das obras projetadas; para analisar a própria viabilidade dessa
• Critérios operacionais . obra. Os demais fatores relacionados ao
dimensionamento serão fundamentais
Os fatores relacionados com o ambiente para a definição do método construtivo, dos
em que a obra será inserida dizem respeito custos e da segurança na fase operacional.
às condicionantes naturais do local de Dos fatores essenciais mencionados
implantação da obra e do reservatório for- anteriormente, apenas o balanço hídrico
mado, podendo, em princípio, abordar os não será abordado na presente obra, por se
seguintes tópicos: constituir num campo vasto da Hidrologia,
22 1 Geologia de Barragens

responsável pelo dimensionamento de todo doméstico, industrial e irrigação. A eleva-


o volume afluente e pelas responsabilida- ção do nível da água destina-se sobretudo
des em contê-lo com a máxima segurança. à geração de energia elétrica, por meio
Igualmente não serão analisados os aspec- da transformação da energia potencial
tos ligados ao dimensionamento de obras hidráulica criada pela queda d'água. Sub-
de engenharia, quer ligados à própria bar- sidiariamente, a elevação do nível busca
ragem ou às obras complementares. melhorar as condições de navegação fluvial,
tanto a jusante, por meio da regularização
das vazões no período de estiagem, como
1.2 ÜBJETIVOS E SUA
a montante, por meio do afogamento de
IMPORTÂNCIA NO PROJETO
eventuais corredeiras e cachoeiras. Final-
Os objetivos para os quais as barragens mente, a simples criação do lago pode ser
são concebidas são de inteiro conhecimento necessária para o aproveitamento turístico.
daqueles que lidam com tais obras; todavia, Deve-se adicionar aos objetivos das bar-
é necessário enfatizar que a sua defini- ragens de regularização o melhoramento
ção constitui a primeira condicionante no das condições de piscicultura, não só no re -
planejamento de uma barragem. Em prin- servatório criado, mas ao longo de todo o
cípio, com relação ao objetivo, as barragens trecho de jusante.
podem ser separadas em dois grandes
1.2.2 Barragens de contenção
grupos: regularização e retenção.
As barragens de contenção objetivam
1.2.1 Barragens de regularização
reter água de forma temporária ou acu-
Como indica o próprio nome, essas mular sedimentos, resíduos industriais ou
barragens objetivam regularizar o regime rejeitas de mineração. No caso de retenção
hidrológico de um rio, armazenando água de água, essas barragens têm a finalidade
nos períodos em que a afluência é maior que de amortecer a onda de enchente para
a demanda, para utilizá-la nos períodos de evitar inundações a jusante. Conforme
déficit de afluência em relação à demanda. mostrado na Fig. 1.2, a onda de cheia é
Essa operação, que é esquematizada na
Fig. 1.1, possibilita reduzir a amplitude Q

das vazões naturais no primeiro período e


garantir, no segundo, vazões efluentes su-
periores às naturais.
Vazão regularizada
Dependendo da finalidade específica da
regularização, pode-se buscar aumentar o
volume de água armazenada, elevar o nível
natural com tal armazenamento ou, sim-
plesmente, criar um lago. O aumento de
Período de armazenamento Período de regularização
volume é objeto de toda barragem que visa
a qualquer tipo de abastecimento, como FIG. 1.1 Regularização do regime hidrológico
1 - Conceitos introdutórios 1 23

-emporariamente armazenada e liberada tegida a área de alimentação contra


àe forma que a vazão efluente não cause poluentes químicos tóxicos, além de
anos a jusante. As barragens de retenção proibida a atividade de recreação em seu
e carga sólida ou mista buscam evitar que lago;
os materiais retidos danifiquem o leito dos • abastecimento industrial: águas com
cursos d'água a jusante, tanto fisicamente, restrições de salinização, em função do
por meio do assoreamento, quanto quimi- tipo de indústria, sendo, em geral, evita-
camente, quando tais materiais contêm das águas duras (carbonatadas);
carga tóxica poluente. • abastecimento para irrigação: águas com
restrições de salinização, em função do
Q
Descarga tipo de cultura e das características do
(máxima natural solo a irrigar.
Descarga Vazão
natural, Barragens para hidrelétrica: devem
amortecida
priorizar os desníveis do perfil longitudinal
Descarga
máxima efluente
do rio, onde é maior o potencial hidráulico;
Descarga o regime hidrológico é importante, pois
-efluente
não podem ser admitidas grandes deple-
ções do reservatório.
Barragens para navegação: além de
FIG. 1.2 Amortecimento de uma onda de enchente exigirem a construção de eclusas, precisam
garantir um nível de regularização de todo
o rio compatível com o calado das embarca-
1.2.3 Incidência dos objetivos no ções previstas .
planejamento da obra Barragens para turismo: devem pro-
A escolha do melhor local para implanta- piciar a formação de lagos extensos e com
ção de uma barragem e do tipo de obra mais declividade suave nas margens, para im-
apropriado pode ser bastante influenciada plantação de equipamentos marginais,
pelo objetivo a que se destina a barragem. como píer e ancoradouros para pequenas
Pode-se constatar essa influência quando se embarcações; o reservatório não poderá
observam as características exigidas para os sofrer depleções; devem-se evitar condi-
diversos objetivos de barragens discutidos ções favoráveis ao assoreamento.
anteriormente, que podem ser sintetizados Barragens para piscicultura: o reser-
da forma que segue: vatório formado deve levar em conta a
Barragens para abastecimento: exigem qualidade da água, a natureza dos fundos
condições morfológicas que propiciem um e das margens, a profundidade e a ilumina-
grande volume armazenado e podem, ainda, ção, evitando-se a eutrofização, que poderá
em função da finalidade específica, exigir inviabilizar a vida piscosa.
as seguintes condições: Barragens para controle de enchen-
• abastecimento doméstico: águas com tes: além de exigirem um volume de
baixo teor de salinização, sendo pro- armazenamento compatível com a neces-
24 1 Geologia de Barragens

sidade de contenção da onda de enchente, as mais variadas finalidades, as barragens


devem contemplar áreas em que não seja evoluíram muito em tecnologia. Todavia,
muito prejudicial a inundação temporária ainda hoje, alguns tipos mais primitivos
a montante. de barragens são eventualmente utilizados
Barragens de contenção: devem apre- quando a obra assume pequenas propor-
sentar o máximo de segurança quanto à ções, principalmente quando executada
possibilidade de escapamento de produtos por pequenos fazendeiros com o objetivo
tóxicos armazenados, tanto por superfície de armazenar água para próprio consumo
quanto por meio de infiltrações, quando e da forma mais barata possível. Por isso,
podem poluir as águas subterrâneas. quanto ao tipo, devem as barragens ser
divididas em dois grandes grupos: con-
Como se observa das exigências, não vencionais, que são as mais utilizadas e
apenas é fundamental levar em conta o cujo mecanismo é de amplo conhecimento
objetivo no planejamento inicial de uma na literatura especializada; e não con-
barragem, como também é difícil conci- vencionais, que incluem as que são pouco
liar mais de um objetivo para uma mesma utilizadas, embora algumas delas possam
barragem, no projeto denominado de fina- ter sido desenvolvidas recentemente.
lidades múltiplas. Assim, uma barragem
1.3.1 Barragens convencionais
projetada para hidrelétrica ou para abas-
tecimento, em que a demanda é grande em
Barragens de terra
relação ao volume afluente, pode apresentar
depleções do reservatório que inviabilizem • homogêneas: a barragem é con-
qualquer aproveitamento turístico de seu siderada homogênea quando há
lago. Da mesma forma, uma barragem para predominância de um único material,
abastecimento doméstico não permite o embora possam ocorrer elementos di-
aproveitamento para lazer; e a manuten- versificados, como filtros, rip-rap etc.
ção de um volume vazio para amortização (Fig. 1.3a).
de enchentes inviabiliza o aproveitamento • zonadas: nesse tipo de barragem, há
para fins de abastecimento ou de produ- um zoneamento de materiais terrosos
ção de energia elétrica. Portanto, qualquer em função de suas características de ma-
aproveitamento múltiplo deve ser prece- teriais e/ou permeabilidade (Fig. 1.3b).
dido de uma rigorosa análise hidrológica
Barragens de enrocamento
para verificar o balanço entre os volumes
afluente, efluente e utilizado em cada uma • com núcleo impermeável: na barra-
das finalidades. gem de enrocamento, o material rochoso
é predominante e a vedação da água,
nesse caso, é feita por meio de um núcleo
1.3 TIPOS DE BARRAGENS
argiloso, separado do enrocamento por
Desde os remotos tempos em que o zonas de transição, para evitar o carre-
homem tenta barrar os cursos d' água com amento do material fino para o interior
1 - Conceitos introdutórios 1 25

do enrocamento. O núcleo pode ficar traçado retilínio (crista) ou em curva


centralizado (Fig. 1.3c) ou inclinado (em arco).
para montante (Fig. 1.3d). • gravidade aliviada: trata-se de uma
• com face impermeável: nesse tipo de estrutura mais leve, onde a barragem de
barragem, a vedação da água é garan- gravidade convencional acha-se vazada
tida pela impermeabilização da face de com o objetivo de imprimir menor
montante da barragem, seja por uma pressão às fundações ou economizar
camada de asfalto, seja por uma placa de concreto, que pode atingir menos da
concreto (Fig. l .3e), ou ainda, por uma metade do consumo de uma barragem
chapa de aço (Fig. 1.3f). de gravidade. Nesse tipo de barragem,
ocorrem esforços de tração que exigem
Barragens de concreto
um maior uso de armação (Fig. 1.4b).
• gravidade: são barragens maciças A exemplo da barragem de gravidade,
de concreto, com pouca armação, cuja essa barragem pode ter seu traçado re-
característica física é ter sua estru- tilínio ou curvilíneo.
tura trabalhando apenas à compressão • em contraforte: essa barragem
(Fig. 1.4a). Essa barragem pode ter seu assemelha-se à de gravidade aliviada,

0 Terra homogênea 0 Terra zonada

0 Enroc~ento com núcleo central 0 Enrocamento com núcleo inclinado


- - - - - = - - - - - r . ;;u•

, ...... /
<..
Tapete
impermeável

8 Enrocamento com face de concreto (D Enrocamento com chapa de aço

Plinto

FIG. 1.3 Barragens de terra e de enrocamento


26 1 Geologia de Barragens

porém é ainda mais leve (Fig. 1.4c). a curvatura ocorre em duplo sentido, ou
Por concentrar em pequena área da seja, na horizontal, ao longo de seu tra-
fundação os esforços causados pela çado, e na vertical (Fig. 1.4e). São, por
pressão hidrostática, apresenta maiores isso, chamadas de barragens de dupla
tensões de contato, exigindo uma maior curvatura, e os arcos formados podem
armação. Das três barragens de con- ser simples (Fig. 1.4f) ou múltiplos
creto, é a que apresenta menor volume (Fig. 1.4g). Nesse tipo de obra, parte
de concreto. das pressões hidráulicas é transmitida
• de concreto rolado ou compactado: às ombreiras pelo efeito de arco. Por ser
trata-se de uma barragem de gravidade um obra esbelta, é a que consome menor
em que o concreto é espalhado com volume de concreto por metro quadrado
trator de esteira e depois compactado. de superfície represada.
Como o concreto não é vibrado, a sua es-
Barragens mistas
tanqueidade é garantida por uma camada
de concreto convencional construída n o A barragem pode ser considerada mista
paramento de montante (Fig. 1.4d). em sua seção ou em seu traçado. A barra-
• abóbada: as barragens de concreto gem de seção mista é aquela constituída por
abóbadas ou em arco são aquelas em que diferentes materiais ao longo de uma seção

0 Concreto gravidade 0 Concreto aliviada

0 Concreto em contraforte 0 Concreto rolado

·convencional

0 Concreto de abóbada (D Arco simples (D Arcos múltiplos

-- -- ·-
FIG. 1.4 Barragens de concreto
1 - Conceitos introdutórios 1 27

transversal. Os tipos mais conhecidos são: 1.3.2 Barragens


terra/enrocamento (Fig. 1 .Sa); terra/con- não convencionais
creto (Fig. 1.Sb); e enrocamento/ concreto
Barragens de gabião
(Fig. 1.Sc). A barragem é mista ao longo do
seu traçado quando parte da obra é de um A barragem de gabião é uma obra de pe-
tipo e parte, de outro, entre as barragens queno porte (geralmente inferior a 10 m
convencionais. Não se considera barragem de altura) projetada para ser parcial ou to-
mista aquela em que o corpo principal é talmente vertedoura. Conforme mostra a
de terra ou enrocamento e o vertedouro Fig. 1 .Se, essa obra é constituída por uma
é de concreto, mesmo que constitua uma parede de gabião com extensão para ju-
continuidade do traçado (Fig. 1.Sd). sante formando a bacia de dissipação e

G) Terra/enrocamento (B Terra/concreto

0 Enrocamento/concreto @ Terra com vertedouro lateral


1 1

/2 11
1

Í
8 Gabião (D Madeira
Manta de gabião Chapa de aço
V: \
Gabião (gaiola
de arame)
\ Tora de madeira

Enchimento
· com pedra

Terra Bidim Enchimento


com pedra

FIG. 1.5 Barragens mistas e não convencionais


28 1 Geologia de Barragens

aterrada a montante com material argiloso. Barragens de alvenaria de pedra


Ela necessita de uma transição ou manta de
Constitui uma variação da barragem de
bidim entre a argila e o gabião para evitar
gravidade, em que o concreto é substituído
o carreamento de finos. Uma placa de con-
pela alvenaria de pedra rejuntada manual-
creto na parte de vertência deverá garantir
mente com cimento. Não exige a utilização
a proteção do coroamento para grandes
de armação nem de fôrma.
vazões efluentes.

Barragens de madeira
1.4 CONCEITOS , NOMENC LATURA
Essa barragem exige madeira de boa E TERMINOLOGIA
qualidade e deve ser revestida com uma
A conceituação relacionada com o pro-
chapa de aço que garantirá a sua vedação.
jeto e a construção de barragens, incluindo
As caixas formadas pela armação de ma-
a nomenclatura e a terminologia adotadas
deira devem ser preenchidas com rocha
nessa área da engenharia, implicaria a ela-
para evitar o seu deslocamento pelas pres-
boração de um autêntico dicionário técnico,
sões hidrostáticas (Fig. l .Sf) .

·~
1~~ :::.: ~

'3~r::~ agem Foz do Areia


Foz do Areia dam
Planta geral
General plan

FIG. 1.6 Arranjo ge ral da barragem Foz do Areia-PR


Fonte: CBGB (1982).
1 - Conceitos introdutórios 1 29

que extrapolaria o nível do presente está- 1.5 ARRANJO DE UMA OBRA


gio de conhecimentos. Assim, o Apêndice 1 DE BARRAGEM
traz um glossário dos principais termos
Na Fig. 1.6 são mostradas em planta
relacionados a essa matéria, não só por ser
algumas das obras relacionadas com a
necessário ao conhecimento e à discussão
barragem Foz do Areia, localizada no rio
dos assuntos abordados nos capítulos sub-
Iguaçu, no Estado do Paraná, na qual
sequentes, mas principalmente por dirimir
podem ser observadas várias das termino-
dúvidas quanto ao emprego dúbio e até
logias apresentadas no glossário técnico.
errado que muitas vezes é dado a alguns
desses termos .
2 Fases e métodos de investigação
geológico-geotécnica em barragens

2.1 ETAPAS NA VIDA DE decorrência do progressivo detalhamento


UMA BARRAGEM que as fases mais decisivas passam a exigir.
As fases de estudo de um projeto e suas
Como toda obra de engenharia, uma principais características são descritas a
obra de barramento possui uma vida útil seguir.
e considera todo o seu período de utiliza-
2.2.1 Inventário ou plano diretor
-o, na hipótese de um dia vir a tornar-se
aproveitável para os objetivos que nortea- Essa fase corresponde a um primeiro
ram a sua construção. Essa vida, na verdade, planejamento para a escolha de locais
micia-se com o projeto da obra, admitindo passíveis de serem barrados em uma de-
ês etapas distintas e bem características: terminada bacia hidrográfica, e pode ser
_ roj eto, construção e operação. concluída com uma ordem de prioridade
O projeto considera todo o conjunto de das alternativas inventariadas, em função
:nvestigações, estudos e análises que per- dos objetivos e das condicionantes naturais
:::::tite definir o tipo de obra mais adequado de cada local.
"' oda a metodologia para a sua construção.
2.2.2 Viabilidade
_:. , . construção abrange não apenas a barra-
~ propriamente dita, mas todas as obras Nessa fase, terão início os estudos espe-
a 'liares que possibilitarão a utilização cíficos para uma determinada alternativa
::..a barragem, segundo os objetivos para os inventariada, ao final dos quais estarão de-
- ais a obra foi concebida. A construção é finidos: a exata posição do eixo barrável, o
::.ada por concluída com o enchimento do melhor tipo de barragem, as diferentes solu-
.eservatório criado. Por sua vez, a operação ções de arranjo de obras e, principalmente, a
=orresponde ao efetivo funcionamento da viabilidade técnica e econômica do empreen-
· ra, que poderá ter início com o uso parcial dimento. Em geral, um projeto de viabilidade
- sua capacidade de utilização, incremen- não excede os dois anos de duração; todavia,
- do esse uso no decorrer do tempo. no Brasil, barragens mais complexas têm ex-
trapolado em muito esse prazo.

2.2 FASES DE UM PROJETO 2.2.3 Projeto básico


O projeto de uma barragem é execu- Nessa fase, serão analisados todos os
~do em fases sucessivas, cujos objetivos e estudos e investigações necessários à confi-
:netodologia variam não só em função da guração final do projeto de obras, fornecendo
escala de estudo, mas principalmente em todos os elementos que possibilitem licitar a
32 1 Geologia de Barragens

construção dessas obras. Uma vez que esse 2.3 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-
projeto é fundamental para a licitação das -GEOTÉCNICAS EM BARRAGENS
obras, é imprescindível que as investigações
realizadas conduzam a custos realísticos. 2.3.1 Fase de inventário ou
Para isso, não apenas serão necessários es- plano diretor
tudos geotécnicos criteriosos, mas também
I - Objetivos do estudo
uma acurada análise dos problemas so-
ciopolíticos, econômicos e ambientais. A a] selecionar os melhores locais barráveis
postergação de questões fundamentais para em função da geologia e da topografia;
a fase executiva, com o objetivo de minimi- b] caracterizar superficialmente os eixos
zar os custos para viabilizar o projeto, pode barráveis selecionados sob o ponto de
acabar onerando posteriormente a obra e, vista geológico e geotecnológico;
com isso, inviabilizando-a. Muitas vezes, fa- c] definir as macrocaracterísticas dos re-
tores aparentemente pouco representativos servatórios formados em cada eixo;
para o cômputo dos custos, como a esco- d] definir superficialmente as característi-
lha do melhor equipamento ou da melhor cas do materiais naturais de construção.
metodologia, podem significar a diferença
II - Atividades a desenvolver
entre um projeto economicamente viável e
um inviável. a] levantamento de todos os elementos geo-
lógicos e cartográficos existentes (mapas,
2.2.4 Projeto executivo
aerofotos, relatórios, projetos etc.);
Essa fase é realizada durante a cons- b] escolha da base geológica para caracte-
trução da obra e tem um duplo objetivo: rizar a geologia regional (escala entre
complementar o projeto básico com as in- 1:100.000 e 1:250.000 para grandes
formações obtidas por meio das escavações bacias, e entre 1:25.000 e 1:50.000 para
e possibilitar a modificação de algumas pequenas áreas);
feições do projeto em decorrência de pro- c] fotointerpretação geológica de uma faixa
blemas surgidos na construção. Além dos que cubra com folga todos os reservató-
estudos relacionados com o projeto da rios estudados, usando, de preferência,
barragem, são ainda desenvolvidos estu- as seguintes escalas: 1:40.000 a 1:25.000
dos para acompanhar o comportamento (aerofotos) e 1:100.000 (mapa resul-
da obra durante a operação. Esses estudos tante). Nessa fotointerpretação devem
são geralmente desenvolvidos nos cinco ser contemplados os seguintes aspectos:
primeiros anos de funcionamento da obra, • litologia com contatos entre as diferen-
período em que costumam ocorrer os tes rochas e coberturas incoerentes;
principais problemas relacionados com a • macroestruturas geológicas;
operação do sistema. Nessa fase, só devem • evidências de instabilidade de taludes
ser criadas novas alternativas se surgirem e/ou erosão; .
novos dados que não foram conhecidos na • análise geomorfológica dos divisores
fase anterior. das bacias hidráulicas;
2 - Fases e métodos de investigação geológico - geotécnica em barragens 1 33

• aspectos hidrogeológicos (fontes); • estado de alteração das rochas;


• impactos ambientais criados com as • medição das estruturas presentes nas
inundações; rochas locais;
• classificação tato-visual dos materiais
d] controle de campo para a identificação incoerentes de cobertura;
das rochas mapeadas, caracterização • classificação tato -visual de todos os
dos solos de cobertura (alúvio, elúvio e materiais naturais de construção;
colúvio) e medições das estruturas ge- • classificação das rochas presentes
ológicas regionais. Observar ainda os nos eixos barráveis segundo a ABGE
seguintes aspectos: (classificação do estado de alteração,
• evidências de salinização; fraturamento e coerência);
• presença de minas e garimpas; • evidências de salinização (superficial
• jazidas ou ocorrências minerais nas ou subterrânea) .
áreas de inundação;
III - Produtos a fornecer
• formas de utilização das águas sub-
terrâneas; a] relatório geotecnológico;
b] mapa geológico regional (compilação
e] fotointerpretação geológica das áreas utilizando a escala indicada em II.b);
correspondentes à localização dos eixos e] mapa fotogeológico da área de interesse
barráveis e suas proximidades. Em espe- aos reservatórios (conforme II.e);
cial, observar: d] mapa fotogeológico das áreas contíguas
• tipos litológicos e eventuais contatos; a cada eixo barrável escolhido (escala de
• cobertura incoerente e seus contatos; apresentação = 1:40.000 a 1:25 .000)
• grandes linhas estruturais (linea-
IV - Itemização do Relatório Final
mentos, dobras, fraturas, falhas etc.);
• evidências de escorregamentos (cica- a] introdução (objetivos, localização, con-
trizes, deslocamentos) e de erosão; dições de contorno, acessos);
• cobertura vegetal (densidade, natu- b] metodologia utilizada;
reza, nativa ou implantada etc.); e] aspectos fisiográficos (clima, relevo, ve-
• acessos ao local; getação, solos, hidrografia);
• atividades antrópicas (formas de ocu- d] geologia regional:
pação humana); • litoestratigrafia;
• aspectos hidrogeológicos (fontes); • tectônica e estruturas;
• possibilidades de materiais naturais • intemperização e solos resultantes;
de construção em função do relevo;
e] geotecnologia das bacias de inundação:
atudo de campo visando caracterizar • estabilidade de taludes;
elhor todos os aspectos indicados pela • erosão e assoreamento;
;:o ointerpretação, em especial para de- • fugas de natureza geológica;
::nir: • salinização;
34 1 Geologia de Barragens

f] hidrogeologia: • material arenoso (filtros e agregado):


• tipos de aquíferos; mesmo que para o pétreo;
• influências previstas entre a hidroge- • material terroso: mesmo que para o
ologia e os reservatórios; pétreo;

g] recursos mmera1s: k] meio ambiente:


• substâncias minerais existentes na • impactos ambientais esperados;
área inundável; • medidas mitigadoras recomendadas;
• situação perante o DNPM;
l] recomendações para o projeto:
h] geologia e geotecnologia dos eixos bar- • em função das características topo-
ráveis: gráficas, geológicas e de materiais de
• características litológicas e geotecno- construção, fazer as seguintes reco-
mendações para cada local estudado:
lógicas das rochas locais;
o melhor tipo de barragem;
• tipos de rochas;
o melhor arranjo de obras.
• estruturas presentes (plotar em este-
reograma polar); 2.3.2 Fase de viabilidade
• estado de alteração e provável espes-
sura dos solos; I - Objetivos do estudo
• fundações (estimativas);
a] caracterizar com mais detalhes algumas
• características de estabilidade:
alternativas para barramento;
o resistência ao cisalhamento das
b] detalhar os problemas do reserva-
rochas;
tório, inclusive sob o ponto de vista
o relação entre os esforços e as des-
ambiental;
continuidades;
c] selecionar o melhor eixo barrável entre
• características de deformabilidade;
as alternativas priorizadas;
• características de estanqueidade; d] caracterizar a viabilidade do eixo sele-
cionado.
i] obras subterrâneas:
• eventuais problemas do traçado e II - Atividades a desenvolver
formas de evitá-los ou minimizá-los; a] conforme 2.3.1-II.a;
• problemas de emboques de túneis: b] escolha das bases geológicas:
o estabilidade dos cortes; • AI - área de influência (bacia hidro-
o interceptação com drenagem super- gráfica): 1:100.000 a 1:250.000;
ficial; • ADA - área diretamente afetada (bacia
hidráulica) 1:50.000 a 1:100.000;
j] materiais naturais de construção: • AEB - área do eixo barrável: 1:5.000;
• material pétreo (enrocamento e agre-
gado): localização, características (esti- c] fotointerpretação geológica na ADA,
madas) e condições de explorabilidade; procurando definir:
2 - Fases e métodos de investigação geológico - geotécnica em barragens 1 35

• tipos litológicos (contatos); f] estudos nos eixos barráveis:


• macroestruturas (plotar em diagra- • mapeamento de detalhe (1:5 .000),
mas radiais percentuais); com levantamento de:
• áreas com solos aluviais; o tipos de rochas, classificando-as

• acessos; pelaABGE;
0 coberturas de materiais incoerentes
• atividades antrópicas;
• explorações mineiras; (elúvio, colúvio e alúvio);
• focos de erosão; o estruturas com plotação em estereo-

• evidências de instabilidade de encostas; grama polar;


0 evidências de movimentos de encos-
• presença de condições cársticas;
• caracterização dos interflúvios mais tas;
baixos nos limites do reservatório; • levantamentos geofísicos (eletrorre-
sistividade ou sísmica de refração),
.: geologia de campo na área do reservató- objetivando definir:
0 espessura de solos residuais quando
rio (ADA), visando, além de aferir todos
o eixo for muito aberto;
os dados da fotointerpretação, definir:
o espessura de aluvião nas planícies
• possibilidades de salinização (infor-
de inundação;
mar-se sobre a qualidade das águas);
o espessura de capeamento de solo em
• coletar água para análise quando sus-
canais e túneis;
peitar de sua qualidade química;
o fraturamento em áreas muito ex-
• caracterizar os tipos litológicos e seu
tensas;
estado de alteração;
• abertura de poços e/ou trincheiras ao
• observar nos cortes a espessura da co-
longo do eixo barrável para inspeção
bertura de solo;
• e classificação dos materiais;
• observar as ações antrópicas na gera-
• sondagens rotativas com ensaios de
ção dos seguintes problemas: perda d' água e, eventualmente, a per-
o erosão;
cussão, visando a um conhecimento
o instabilidade de taludes;
geológico em profundidade, indepen-
• medir as macroestruturas (foliação, dentemente do arranjo de obras;
xistosidade, falhas etc.);
• observar as explorações mineiras g] estudo de materiais de construção:
(minas, garimpas etc.); • cubagem preliminar dos materiais
• observar o tipo e a densidade das pétreos, arenosos e terrosos com base
fontes de água; nas seguintes pesquisas:
• levantar os poços tubulares e caracte- o definição do expurgo de pedreiras
rizar o seu uso; com furos de sondagem;
0 definição da área e da espessura dos

e] fotointerpretação nas áreas de alterna- areais por meio de prospecção;


tivas de barramento (AEB): o definição do volume de material ter-
• conforme 2.3.1-II.e; roso por meio de malha de furos;
36 1 Geologia de Barragens

• caracterização in situ dos materiais de • fontes de poluição da água subterrânea;


construção; • influência do reservatório para as
• coleta de materiais para ensaios de la- águas subterrâneas;
boratório;
• ensaios laboratoriais de todos os ma- g] recursos minerais:
teriais naturais de construção. • ocorrências minerais na AI;
• jazidas e garimpos na ADA:
III - Produtos a fornecer
o reservas e produção;

a] relatório geotecnológico; o perspectivas de aproveitamento antes


b] mapa geológico regional da AI (copi- da inundação;
lado utilizando escala indicada em 0 recursos minerais que serão inun-

2 .3 .2-II.b); dados;
c] mapa fotogeológico da ADA (escala e • situação da pesquisa e lavra no DNPM;
conteúdo definidos em 2.3 .2-II.c);
d] mapa geológico da AEB (1:5.000). h] geologia dos eixos barráveis:
• síntese das características de todos os
IV - Itemização do Relatório Final
eixos barráveis:
a] introdução (conforme 2.3.1-IV.a); o critérios geológicos influentes na se-

b] metodologia utilizada (escritório, campo leção do eixo;


e laboratório); o problemas dos eixos eliminados;

c] aspectos fisiográficos (conforme 2.3 .1- • características detalhadas do eixo se-


-IV.c); lecionado:
d] geologia da AI: 0 fundações: conforme 2.3 .1-IV.h,
• litoestratigrafia; acrescido das informações de son-
• tectônica e estruturas; dagens;
• intemperismo e solos resultantes; 0 geologia: detalhamento litológico e

• sismicidade natural; estrutural com elaboração de mode-


los geomecânicos;
e] geotecnologia da bacia de inundação: 0 obras auxiliares: detalhamento geo-
• detalhamento do item 2.3.1-IV.e; lógico e modelos geomecânicos;

f] hidrogeologia: i] obras subterrâneas:


• tipos de aquíferos; • detalhamento do contido em 2.3 .1-
• recarga, fluxos e exutórios; -IV.i, utilizando dados de sondagens;
• características hidrodinâmicas subter-
râneas; j] materiais naturais de construção:
• características hidroquímicas subter- • para cada tipo de material, fazer as se-
râneas; guintes considerações:
• uso atual da água subterrânea; 0 reservas: usar dados das cubagens

• potencialidade de utilização futura; realizadas;


2 - Fases e métodos de investigação geológico - geotécnica em barragens 1 37

o caracterização: com base nos resul- • ADA- área diretamente afetada (bacia
tados dos ensaios de laboratório; hidráulica): 1:20.000 a 1:50.000;
o condições de exploração: com base • AEB - área do eixo barrável: 1:500 a
nas características morfológicas, 1:2.000;
acesso à obra, localização e condi-
ções relacionadas com eventuais c] fotointerpretação na ADA (pref. na
impactos ambientais; escala 1:20.000), procurando definir:
• detalhamentos geológicos relevantes;
k] meio ambiente: • detalhamentos de geologia aplicada
• impactos gerados pela obra nas fases mais importantes, a saber:
de implantação e operação; o erosão;

• impactos gerados pelo reservatório; o assoreamento;

• impactos gerados pelo acampamento o instabilidade de taludes;

e canteiro de obras; o possibilidade de fuga de natureza

• medidas mitigadoras para os impac- geológica;


tos prognosticados;
d] geologia de campo na ADA, visando:
1] recomendações para o projeto: • aferir a fotointerpretação;
• detalhamento das recomendações • coletar amostras para ensaios labora-
contidas em 2.3 .1-IV.l, com base nos toriais;
elementos pesquisados na presente • locar eventuais áreas para prospecção
etapa de estudos, com referência ao geofísica;
eixo selecionado. • locar eventuais sondagens rotativas;

2.3.3 Fase de projeto básico


e] fotointerpretação na área de interesse
ao eixo barrável, visando caracterizar e
I - Objetivos do estudo
detalhar os problemas diagnosticados
a] detalhar os problemas geológicos e geo- em 2.3.2-11.e;
técnicos do eixo barrável escolhido; f] estudos no eixo barrável:
b] detalhar os problemas do reservatório; • mapeamentos localizados conforme
c] apresentar recomendações técnicas para 2.3.2-II.f;
os problemas caracterizados; • levantamentos geofísicos visando
d] apresentar programas para minimizar extrapolar ou interpolar feições geo-
os impactos decorrentes da obra; tecnológicas caracterizadas no estudo
e] apresentar programas orientativos para efetuado em 2.3.2-II.f;
a fase de construção. • abertura de poços e/ou trincheiras
com coleta de materiais indeforma-
II - Atividades a desenvolver
dos;
a] conforme 2.3.1-11.a; • sondagens rotativas e/ou a percussão,
b] escolha de bases geológicas: visando definir as características ge-
38 1 Geologia de Barragens

otecnológicas e hidrogeotécnicas no • programa de escavações de obras


entorno das principais estruturas da superficiais, com plano de fogo;
obra, em função do arranjo concebido • programa de escavações (plano de
na fase de viabilidade e das modifica- fogo) e contenções (escoramento) de
ções introduzidas no projeto básico; obras subterrâneas;
• ensaios in situ de mecânica das rochas • programa de monitoramento de en-
em túneis e galerias, visando caracte- costas;
rizar: • programa de monitoramento do
o estado de tensões do maciço rochoso; maciço da barragem;
o condições de resistência ao cisalha- • programa de monitoramento das
mento; obras subterrâneas;
o condições de deformabilidade em • programa de monitoramento relativo
função da anisotropia; à sismicidade natural e induzida;
o condições reológicas do maciço ro- • programa de aproveitamento de ma-
choso; teriais escavados;
• plano de exploração de materiais
g] estudo de materiais naturais de cons- construtivos;
trução: • plano de depósito de materiais esté-
• detalhamento das características in reis;
situ de alguns dos materiais estuda- • plano de recuperação de áreas degra-
dos em 2.3.2-II.g; dadas pela exploração de materiais de
• coleta de materiais para ensaios com- construção e construção de acessos,
plementares de laboratório; acampamento e canteiro de obras.
• caso seja necessário aumentar o volume
III - Produtos a fornecer
de material estudado na fase de viabili-
dade, as jazidas ou pedreiras novas ou a] relatório geotecnológico;
ampliadas deverão ser amostradas e b] mapa geológico de detalhes do eixo bar-
ensaiadas em laboratório; rável com seções ilustrativas;
• o número de amostras coletadas será c] mapa geológico de detalhes de estrutu-
compatível com o detalhamento re- ras auxiliares da obra;
querido; d] mapa geológico de túneis e galerias;
• cubagem de todas as ocorrências se- e] programas e planos de controle e moni-
lecionadas de materiais construtivos; toramento.

IV - Itemização do Relatório Final


h] elaboração de programas de controle e
monitoramento, a saber: a] introdução (conforme 2.3.1-IV.a);
• programa de tratamento das funda- b] metodologia utilizada (conforme 2.3 .2-
ções; -IV.b);
• programa de instrumentação das fun- c] síntese dos estudos de viabilidade;
dações e obras subterrâneas; d] geologia da área de inundação:
2 - Fases e métodos de investigação geológico - geotécnica em barragens 1 39

• det alhamento das feições relevantes; b] identificar feições geológicas durante as


• recomendações para solucionar os escavações;
problemas caracterizados; c] modificar as recomendações e progra-
mas fornecidos no projeto básico em
e] geologia do eixo barrável: função dos conhecimentos adquiridos
• detalhamento de feições relevantes; durante a construção;
• geologia das obras auxiliares; d] apontar soluções imediatas para proble-
• problemas específicos de fundações; mas surgidos durante a construção.
• soluções t écnicas e análise econômica
II - Atividades a desenvolver
para todos os problemas geotecnoló-
gicos; a] bacia hidráulica:
• observar problemas de erosão e ins-
f] obras subt errâneas: tabilidade de encostas durante o
• características geológicas; desmatamento;
• problemas construtivos; • detalhar feições geológicas passíveis
• soluções técnicas e análise econômica de fugas do reservatório;
para os problemas caracterizados;
b] escavação das fundações da barragem e
g] materiais naturais de construção: de obras auxiliares:
• características e restrições de uso; • plano de rebaixamento do nível freá-
• problemas de propriedade; tico;
• volumes disponíveis; • mapeamento geológico das paredes
• plano de exploração das jazidas e pe- de escavação e superfícies de concre-
dreiras; tagem;
• locação de sondagens e ensaios in situ
h] recomendações para o projeto: complementares;
• elaboração dos programas e planos • acompanhamento dos serviços comple-
descritos em 2.3.3-II .h; mentares, introduzindo as modificações
• sugestões para eventuais modifica- que se fizerem necessárias;
ções no arranjo de obras; • analisar as características do material
• recomendações para estudos comple- escavado, visando ao seu aproveita-
mentares durante a construção da obra; mento na obra;
• sugestões para minimizar os impac-
tos ambientais. c] escavação de obras subterrâneas:
• ajustes no plano de desmonte elabo-
2.3.4 Fase de projeto executivo
rado no projeto básico;
• mapeamento das paredes e tetos dos
I - Objetivos do estudo
túneis e cavernas;
a] complementar os estudos do projeto • recomendações para imediata conten-
básico; ção de trechos inst áveis;
40 1 Geologia de Barragens

• planejamento de ensaios in situ com- • acompanhar a construção das obras,


plementares; apontando soluções imediatas para
• acompanhamento dos serviços com- os problemas eventualmente surgidos
plementares com eventuais modifica- na interação obra/geologia;
ções;
g] materiais de construção:
d] tratamento das fundações: • acompanhar as escavações, com espe-
• ensaios de qualidade de caldas de inje- cial atenção para as heterogeneidades
ção no laboratório e in situ; surgidas;
• locação de furos de sondagens com • ensaiar todos os materiais que
eventuais modificações do plano ela- apresentem características visual-
borado no projeto básico, em função mente diferentes da jazida estudada;
dos conhecimentos adquiridos na es- • indicar a utilização dos materiais des-
cavação; critos anteriormente;
• acompanhamento do tratamento, • recomendar novas jazidas em função
definindo as condições de parar a in- de eventuais modificações do projeto;
jeção ou intensificar o tratamento em
função dos resultados obtidos; h] meio ambiente:
• recomendar a localização do depósito
e] construção da barragem: de estéreis das escavações e jazidas;
• introduzir modificações na concepção • orientar o tratamento das pilhas dos
da obra em função do máximo aprovei- depósitos de estéreis;
tamento dos materiais de escavação e • orientar a recuperação das áreas de-
das informações obtidas durante as gradadas.
escavações;
• acompanhar as condições de compac-
III - Produtos a fornecer
tação em função das características
previstas para os materiais de cons- • relatório de acompanhamento
trução e dos materiais de escavação;
IV - Itemização do Relatório Final
• acompanhar a instalação de equipa-
mentos para monitoramento; a] introdução (conforme 2.3.1-IV.a);
• indicar soluções para quaisquer pro- b] caracterização geológico-geotécnica da
blemas construtivos relacionados à obra:
interação obra/geologia; • bacia de inundação;
• barragem;
f] obras auxiliares: • obras auxiliares;
• recomendar modificações para os pro- • obras subterrâneas;
jetos de obras auxiliares em função de
problemas geotecnológicos identifica- c] problemas construtivos e soluções ado-
dos nas escavações; tadas:
2 - Fases e métodos de investigação geológico - geotécnica em barragens 1 41

• escavações; • verificar a ocorrência de sismos nas


• tratamento das fundações; proximidades do reservatório;
• construção da barragem; • observar o eventual uso impróprio
• obras auxiliares superficiais; das encostas que possa propiciar a
• obras subterrâneas; contaminação das águas do reserva-
• materiais naturais de construção; tório;
• instrumentação de monitoramento; • observar o eventual uso impróprio
• ensaios de laboratório; das águas do reservatório;
• ensaios in situ;
b] barragem e obras auxiliares:
d] meio ambiente: • fazer medições periódicas em toda a
• impactos causados; instrumentação instalada;
• medidas mitigadoras adotadas; • observar o aparecimento de trincas ao
• medidas de recuperação. longo do maciço da barragem;
• observar se a água de percolação pela
2.3.5 Observação do
barragem ou pelas fundações não está
comportamento da obra
carreando material argiloso;
• observar o surgimento de trincas em
I - Objetivos
estruturas de concreto;
a] analisar o comportamento da obra • observar o eventual desplacamento
diante do enchimento do reservatório e das lajes de concreto do vertedouro;
das variações de fluxo anuais; • observar se as águas efluentes não
b] observar o comportamento das encos- estão provocando erosões que com-
tas desmatadas ao longo do reservató- prometam qualquer parte da obra;
rio; • analisar periodicamente o comporta-
c] possibilitar a tomada de decisão rápida mento das obras subterrâneas;
no caso de eminente acidente com • observar a eficácia do tratamento
algum componente do sistema. de recuperação das áreas degrada-
das pela construção, em função da
II - Atividades a desenvolver
reconstituição da flora e fauna.
a] reservatório:
III - Produtos a fornecer
• observar evidências de erosão e/ ou
instabilidade de encostas; • relatórios trimestrais
• verificar a formação de surgências no
IV - Relatório
lado oposto do divisor de águas que
possam representar fugas do reserva- • a abordagem do relatório será
tório; variável em função dos problemas
• proceder a leituras de piezômetros efetivamente constatados no período
eventualmente instalados em encos- analisado, pois não será necessário
tas instáveis; analisar situações estáveis.
3 Aspectos geológicos ligados às
bacias hidrográfica e hidráulica

A abordagem da influência de fatores no deslocamento de partículas que com-


geológicos simultaneamente em ambas põem um solo ou uma rocha. No presente
as bacias que se relacionam com o barra- trabalho, será analisada apenas a erosão
mento de um rio deve-se ao fato de que, provocada pela água (o vento, o mar e as
na maioria dos casos, esses fatores são geleiras ficarão fora dessa análise), não
comuns a essas duas áreas. À medida que apenas pelo fato de esta ser o mais impor-
tais fatores forem abordados, será dada tante agente erosivo, mas também pela
ênfase à área em que são mais importan- inexistência ou fraca atuação dos demais
tes; eles podem, todavia, em alguns casos, agentes com relação a barragens no Brasil.
estar ausentes em uma dessas áreas . A erosão pelo efeito da água pode ser
pluvial, quando exercida diretamente
pelas águas de chuva, ou fluvial, quando
3 . 1 EROSÃO E ASSOREAMENTO
provocada pelos rios . Em termos de re-
Esses fatores são abordados em con- servatório, a erosão pluvial é muito mais
junto por estarem intimamente ligados significativa, pois a área exposta a esse pro-
como um perfeito exemplo de causa/ cesso em uma bacia hidrográfica é muitas
efeito, pois é sabido que a erosão é a causa vezes superior àquela em que pode ocorrer
da remoção dos componentes de um solo a erosão fluvial (margens do rio apenas).
ou rocha, enquanto o assoreamento dos Na erosão pluvial, interferem muitos fa-
cursos d'água e dos reservatórios, de- tores de natureza bastante diversificada,
corrente da sedimentação do material e os mais significativos são: pluviosidade,
erodido, constitui o efeito dessa erosão. No declividade, natureza do solo, cobertura
processo erosão/sedimentação, faltaria vegetal e atividade antrópica.
apenas a componente do transporte, que A influência da pluviosidade se faz
geralmente é o mesmo veículo responsável sentir mais na forma como ocorre do que
pela erosão, ou seja, a água. Ainda assim, no volume da precipitação pluviométrica
será feita uma análise da fenomenologia anual. Nas regiões onde a pluviosidade
de cada processo separadamente e, depois, é concentrada em poucos meses do ano,
analisado o risco de erosão e assoreamento os efeitos das precipitações pluviais
como um único processo em termos de sobre a erosão dos solos são muito mais
danos causados a um reservatório. intensos. Em 1988, na região norte do
Estado de Minas Gerais, foi constatada
3 . 1.1 Erosão
uma precipitação pluvial em cinco dias
A erosão é um processo que resulta correspondente a 40% da média anual
44 1 Geologia de Barragens

prevista para a região, o que constitui, e reservatórios. A mineração não contro-


sem dúvida, uma concentração pluvial de lada expõe extensas áreas decapeadas
elevado poder erosivo. sujeitas à erosão.
A declividade tem sua influência óbvia
3.1.2 Assoreamento
na intensidade da erosão, uma vez que
atua diretamente no gradiente das águas O assoreamento representa a deposi-
percoladas, aumentando sensivelmente a ção da carga sólida proveniente da erosão.
sua velocidade e, consequentemente, seu Um reservatório pode receber a carga
poder erosivo. sólida de três fontes diferentes: do rio
A natureza do solo diz respeito prin- principal a ser barrado; dos tributários
cipalmente aos agentes que influem na que afluem diretamente ao reservatório; e
coesão das partículas que o compõem. Os das encostas que funcionam como interf-
materiais sem coesão são mais facilmente lúvios desses tributários.
erodíveis, como é o caso dos solos mais A carga sólida transportada por um
arenosos e siltosos. A lateritização ou a rio, seja o principal ou o tributário, é de-
calcificação aumentam significantemente positada sempre que ocorre uma redução
a resistência à erosão dos solos. na velocidade da água que a transporta.
A cobertura vegetal é imprescindível Essa redução de velocidade pode resul-
como proteção dos solos contra a erosão, tar do aumento da seção da calha do rio,
pois sua rede de raízes funciona como ele- quando existem condições topográficas
mento fixador do solo, aumentando sua para o alargamento dessa calha, ou da re-
resistência à erosão. A sua copa também dução do gradiente do perfil longitudinal
exerce uma proteção contra a erosão, re- do rio. Normalmente ocorre uma redução
duzindo o impacto da chuva diretamente do gradiente quando um rio penetra no
sobre o solo. reservatório, onde a declividade do fluxo
A ação antrópica é geralmente danosa superficial é mínima. Essa redução é res-
no processo da erosão, pois o desen- ponsável pelo assoreamento comum a
volvimento reflete-se no contínuo toda extremidade de montante de um
desmatamento, que expõe o solo aos efei- reservatório, e será tanto mais intensa
tos da erosão pluvial. Em áreas urbanas, quanto maior for a declividade do leito do
a concentração de fluxos que encami- rio antes de atingir o reservatório.
nham as águas pluviais e de despejo para Nesses casos, o assoreamento inicia-
as áreas periféricas constitui um forte -se com a sedimentação da carga sólida
agente erosivo, responsável pela forma- mais grosseira logo que penetra no reser-
ção de voçorocas que têm comprometido vatório, e a carga de finos sedimenta mais
inúmeras cidades brasileiras. Na área interiormente no lago. À medida que esse
rural, o desmatamento para implantação assoreamento se intensifica, a carga do
da agricultura tem propiciado a forma- material grosseiro vai avançando sobre a
ção dos mais variados tipos de erosão, sedimentação fina até completar o assorea-
responsáveis pelo assoreamento de rios mento de todo o reservatório (Fig. 3.la-c).
3 - Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hidráulica 1 45

Esse problema varia muito segundo a desses afluentes. A pior situação é vista
con formação da bacia hidrográfica. O caso na Fig. 3.lf, em que o reservatório recebe
mais favorável é aquele em que predomina grandes tributários nas vizinhanças da
o rio principal com afluentes curtos e de barragem, o que proporcionará o assorea-
pouca competência. Essa bacia é t ípica mento mais rápido de todo o reservatório.
de rios acanalados, formando extensos A forma de evolução do assoreamento
cânions, que resultam em reservatórios pode ser observada n a sucessão apre-
estreitos e alongados (Fig. 3.ld). Nesse sentada na Fig. 3.lg-j. Nesse esquema,
caso, o assoreamento do rio principal mostra-se a penetração progressiva do as-
levará muito tempo para ameaçar a vida soreamento provocado pelo rio principal e
útil da barragem, principalmente porque dois tributár ios, além da carga sólida pro-
essa topografia geralmente favorece a edi- veniente de três pontos situados ao longo
ficação de barragens de grande altura. Na das encostas. Na Fig. 3.lj , o reservatório
Fig. 3.le, a drenagem dendrítica é pouco acha-se já quase totalmente assoreado.
h ierarquizada, propiciando reservatórios
3 .1. 3 Riscos de erosão
espraiados, barragens baixas e a conse-
e assoreamento
quente contribuição do assoreamento de
vários locais diferentes, embora de pe- Na análise de riscos, algumas das
quena intensidade, por causa da extensão condicionantes da erosão não são conside-

0 0

FIG. 3.1 Assoreamento em um reservatório: (a), (b) e (e) fases de assoreamento; (d), (e) e (f) infl.uência da
co nfiguração do reservatório; (g), (h), (i) e (j) evolução de um assoreamento
46 1 Geologia de Barragens

radas, pois tal análise visa fornecer dados fatores acham-se divididos em sete clas-
para um eventual zoneamento de áreas ses, de acordo com a variação considerada
problemáticas nesse aspecto, e alguns para cada fator, em termos de influência
fatores, como o clima, são geralmente relativa média. O risco de erosão foi de-
uniformes ao longo de toda a área de uma finido em função da combinação desses
bacia hidrográfica. Outros fatores, como fatores, conforme indicado na Tab. 3.lb,
a ação antrópica, são muito localizados e na qual foram consideradas cinco classes
dinâmicos, de sorte que dificilmente as de risco, do nulo ao muito alto.
condições no início dos estudos serão as
3.1.4 Medidas preventivas
mesmas à época em que forem tomadas as
contra a erosão e o
medidas preventivas ou corretivas.
assoreamento
Assim, serão considerados como fatores
variáveis e ponderáveis de risco de erosão No estudo de um reservatório, deve-
apenas a declividade, a natureza do solo -se proceder ao levantamento de todas as
e a cobertura vegetal. Na Tab. 3.la, esses condições que favorecem a erosão e carac-
terizar as potencialidades morfológicas
de assoreamento do futuro lago formado
TAB. 3.1 Hipóteses de agrupamento pela barragem. As medidas preventivas,
de risco
(a) Fatores influentes na erosão
estabelecidas a partir de um diagnóstico
Fator Variação Número preciso dessas potencialidades, variam
< 20 % 1 desde o ataque das causas da erosão até a
Declividade 20%-50 % 2 medida extrema de deslocar a barragem
> 50 % 3 para um local melhor, pois o assorea-
coesivo 4 mento pode constituir-se num fator que
Solo
não coesivo 5 inviabilize a construção da obra.
eficiente 6
Vegetação O ataque às causas da erosão resume-
ineficiente 7
-se ao eficaz controle de áreas desmatadas
(b) Classificação do risco de erosão
e à proteção de pilhas de materiais soltos
Combinação de
Grau Risco provenientes de rejeitas e estéreis de mi-
fatores (N° 5)
1+4+6 nulo neração ou da construção civil. Devem-se
1+4+7 evitar os cortes e aterros que fiquem des-
li 1+5+6 reduzido protegidos contra a erosão, bem como a
2+4+6 exposição demorada de solos entre o des-
1+5+7
matamento e o plantio agrícola.
2+4+7
Ili médio Reduzidos os focos de erosão e plane-
2+5+6
3+4+6
jada a localização da barragem de forma
2+5+7 a evitar situações como a mostrada na
IV 3+4+7 alto Fig. 3.lf, pode-se conviver com o assorea-
3+5+6 mento sem grandes traumas, desde que se
V 3+5+7 muito alto adotem as seguintes medidas:
3 - Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hidráulica 1 47

a] calcular, em função do objetivo para metros cúbicos desses materiais deslocou-


o qual a barragem foi construída, o -se com velocidade de 25 m /s para dentro
tempo em que o assoreamento do do reservatório, expulsando instanta-
reservatório comprometerá a sua uti- neamente um volume de 40 milhões de
lização. Esse cálculo é feito a partir da metros cúbicos de água por sobre a barra-
medição da carga sólida transportada gem, para provocar a completa destruição
pelo rio principal e seus tributários de três vilas a jusante.
que afluirão diretamente ao reservató- A movimentação de massas de solos e
rio, acrescida da carga sólida passível rochas ao longo das encostas marginais
de ser transportada pela erosão dos in- de um reservatório decorre da inter-
terflúvios ao longo desse reservatório. veniência de uma série de fatores que
Se o tempo desse comprometimento atuam como agentes predisponentes à
for inferior a 50 anos (limite arbitrado instabilização no momento em que se
pelas empresas de consultoria e de instala um reservatório. A atuação de tais
construção), a obra não é viável. agentes é, portanto, anterior à construção
b] planejar o uso das áreas assoreadas da barragem, e o enchimento do reserva-
a fim de evitar sua exploração in- tório poderá atuar como agente efetivo
discriminada, que pode, inclusive, no desencadeamento da movimentação
comprometer a utilização do reserva- de massa, se houver uma situação des-
tório remanescente. favorável de instabilidade imposta pelos
c] verificar se o assoreamento não pre- agentes predisponentes. A caracteriza-
judicará o eventual uso que era feito ção da estabilidade das encostas naturais
das águas armazenadas nas partes será, pois, objeto dos estudos geológicos
terminal e marginal do reservatório, da bacia hidráulica, independentemente
principalmente em termos de recrea- da construção da barragem, bem como
ção, turismo e lazer. a análise de como a formação do reser-
vatório poderá influir numa eventual
instabilidade caracterizada para essas
3.2 INSTABILIDADE DE ENCOSTAS
encostas.
A partir dos acidentes ocorridos com
3.2.1 Agentes predisponentes
a barragem de Vayont, na Itália, em 1963
e, no ano seguinte, na barragem de Ge- Para a primeira caracterização, faz-se
patsch, na Áustria, passou-se a dar maior necessário definir a forma de atuação
importância ao estudo de estabilidade dos principais agentes predisponentes na
de encostas marginais aos reservatórios. área marginal à bacia hidráulica, pois even-
Em Vayont, constatou-se a magnitude tuais movimentações de solos ao longo da
catastrófica que pode representar para bacia hidrográfica, a montante da bacia
um reservatório o deslizamento de uma hidráulica, somente poderão implicar o
grande massa de rocha e solo de suas en- assoreamento do reservatório pelo mate-
costas, pois um volume de 250 milhões de rial proveniente dessa movimentação.
48 1 Geologia de Barragens

Os principais agentes predisponentes e em relação à encosta (ao longo da encosta


podem ser agrupados em forma de com- ou em seu sopé). Quanto ao material de
plexos, a saber: cobertura do maciço rochoso mais íntegro,
• complexo geológico; denominado regolito, há que se considerar
• complexo morfológico; toda a variação que ocorre desde a rocha
• complexo climático-hidrológico; alterada até o solo mais maduro (eluvião),
• complexo biótico; conforme se pode observar no perfil de
• complexo antrópico. intemperismo típico de regiões tropicais
(Fig. 3.2).
a) Complexo geológico
Esses materiais são caracterizados
A Geologia pode exercer influência na pela profunda heterogeneidade de seus
instabilidade de uma encosta de duas dife- constituintes, que resulta em elevada
rentes formas: em função das propriedades anisotropia de suas propriedades geo-
dos solos que recobrem o embasamento mecânicas. Como as características mais
rochoso e em função das características marcantes desses solos são os planos re-
de resistência inerentes ao próprio maciço liquiares de descontinuidade do maciço
rochoso . O solo mais evoluído, resultante rochoso, devem-se concentrar neles as
da completa intemperização química principais atenções sobre a estabilidade,
da rocha-mãe, pode apresentar caracte- por tratar-se, geralmente, de elementos de
rísticas que induzam instabilidade em mais baixa resistência ao cisalhamento.
função dos seguintes fatores : espessura, A perfeita caracterização desses planos
textura, heterogeneidade e resistência inclui: atitude, espaçamento, formas de
ao cisalhamento. Os solos homogêneos embricamento, relações com os esforços
são mais facilmente estudados, pois suas que poderão induzir a movimentação de
características de resistência podem ser massas e resistência ao cisalhamento.
admitidas para todo o pacote presente na O solo coluvionar apresenta uma cons-
encosta. O maior problema são as hetero- tituição muito variada, em decorrência
geneidades representadas pelas variações de sua gênese. Embora não apresentem
de textura, concentrações de material ilu- estruturas planares nem diferenciação de
vial, planos remanescentes de estruturas horizontes, esses solos são textural-
reliquiares da rocha etc. Faz-se necessário, mente muito heterogêneos, principalmente
portanto, caracterizar todas as variações quando resultam da mistura de materiais
presentes em um solo residual, definindo, provenientes de rochas diferentes. Assim,
para cada uma, suas características de trata-se de solos de comportamento im-
resistência ao cisalhamento. Análises de previsível, sendo necessário, em cada caso,
instabilidade devem ser feitas prevendo caracterizar as suas eventuais heteroge-
todos os tipos de ruptura, não só quanto neidades e definir separadamente as suas
à forma (planar ou circular), mas quanto propriedades de deformação.
à sua localização em relação à geologia (no O maciço rochoso íntegro pode, even-
erior do solo ou no contato solo/ rocha) tualmente, apresentar problemas de
3 - Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hid rául ica 1 49

Métodos de
~ Comporta-
Classificação Perfil de intemperismo ~
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u Escavação Perfuração
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Solo vegetal
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FIG . 3 .2 Perfil de intemperismo para regiões tropicais
Fonte: Vaz (1996).

instabilidade ao longo de uma encosta, nesse campo reside em caracterizar muito


mas nunca em decorrência das caracterís- bem a influência que tais planos possam
ticas de resistência da rocha propriamente exercer sobre a estabilidade da encosta,
dita, e sim em função de suas desconti- sendo válidas para o saprólito todas as re-
nuidades. Dessa forma, todo o problema comendações feitas .
50 1 Geologia de Barragens

b) Complexo morfológico Por outro lado, as fortes declividades


reduzem a taxa de infiltração, com a con-
Como morfologia, podem-se analisar sequente inibição dos solos formados, e a
as diferentes formas de relevo atuantes e a elevada velocidade que imprimem ao es-
declividade das encostas. Entre as formas coamento superficial aumenta o poder de
de relevo, podem ser mencionadas as en- erosão dos solos formados . Assim, há con-
costas contínuas ou entrecortadas, planas dições para movimentação do solo, mas
ou encurvadas, côncavas ou convexas. há pouco solo a ser movimentado.
Evidentemente, as influências que essas
e) Complexo climático-hidrológico
diferentes morfologias exercem sobre
a instabilidade de encostas podem, em Embora possam ser incluídas nesse
alguns casos, ser significativas. Em geral, complexo todas as componentes de um
porém, não é esse o maior peso do relevo clima, é a precipitação pluviométrica que
como fator predisponente à movimentação merece maior destaque como agente pre-
de massas ao longo de encostas naturais. disponente no processo de instabilidade
A declividade é, na verdade, o aspecto de encostas. Isso porque todas as demais
mais significativo do relevo na predis- componentes, como temperatura, umi-
posição à instabilidade que pode ocorrer dade, evaporação e insolação, atuam em
em uma encosta. Em princípio, para a prazo muito longo por meio da contri-
análise de estabilidade, pode-se dividir buição à intemperização química dos
a declividade em três faixas : declividade maciços rochosos, provocando o seu en-
fraca (0 % a 30%); declividade média fraquecimento com progressiva perda de
(30 % a 100%); declividade forte (mais resistência ao cisalhamento.
de 100%). Na faixa de declividade fraca, As águas precipitadas não apenas
o risco de instabilidade em função do atuam como agente predisponente, cola-
relevo é de nulo a incipiente, embora tal borando na armação de um cenário crítico
declividade favoreça a formação de solos em relação à estabilidade, mas ainda
espessos, por ser maior a infiltração das podem constituir-se no próprio agente
águas pluviais, bem como a sua manuten- efetivo, com responsabilidade direta sobre
ção, por ser baixa a taxa de escoamento a movimentação dos solos ou rochas.
superficial. Na faixa de declividade média, Como agente predisponente, a parcela
o risco de instabilidade aumenta conside- das águas pluviais que se infiltra ao longo
ravelmente, pois ainda é alta a infiltração, dos poros dos solos ou pelas fraturas das
moderada a erosão e espesso o solo for- rochas pode exercer as seguintes influên-
mado. Na faixa de declividade forte, há cias perniciosas para a estabilidade:
uma compensação entre os fatores desfa- • carrear o material coesivo, redu-
voráveis e os favoráveis à estabilidade. O zindo parcela da resistência ao
fator desfavorável é, sem dúvida, a grande cisalhamento;
influência da componente vertical, ou da • aumentar a subpressão hidrostática
gravidade, na movimentação desses solos. (Una Fig. 3.3a), aliviando as tensões
3 - Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hidráulica 1 51

normais impostas pelo peso próprio instabilidade de uma encosta, dos quais
do solo ou da rocha (N na Fig. 3.3a); destacam-se:
• provocar pressões neutras ao longo • quando o peso das árvores não é
de fendas e fraturas verticais ou compensado por uma eficiente fixa-
perpendiculares à encosta (V na ção de suas raízes;
Fig. 3.3a), aumentando as tensões • quando a vegetação forma barrei-
cisalhantes (T na Fig. 3.3a). ras contínuas à passagem do vento,
transmitindo ao solo todo o impacto
A atuação da água da forma descrita recebido durante as fortes ventanias;
anteriormente reduz o fator de segurança • quando a vegetação possui rizomas
mostrado na Fig. 3.3a, deixando-o bem facilmente decomponíveis, como a
próximo à unidade, o que configura um bananeira, pois, ao apodrecerem,
estado de equilíbrio crítico entre as forças criam caminhos de infiltração exces-
que induzem o cisalhamento e a resistên- siva da água para o interior do solo.
cia do material envolvido. Nessa situação,
e) Complexo antrópico
qualquer incremento nas condições des-
favoráveis constitui o agente efetivo que Inclui todas as ações exercidas pelo
provocará a ruptura do maciço, podendo homem e que podem contribuir para a
ser a própria água. criação de condições de instabilidade nas
encostas. Basicamente, essas ações podem
d) Complexo biótico
ser agrupadas em duas classes de proble-
A influência do complexo biótico é re- mas: descompressão na base e compressão
presentada pela atuação da vegetação, no topo.
pois é mínima a contribuição de micro- A descompressão na base da encosta é
-organismos animais na instabilidade de representada por todos os tipos de esca-
uma encosta. Na maior parte, a influência vações realizadas ao longo ou no sopé de
da vegetação é positiva, ou seja, tende a uma encosta (Fig. 3.3b), seja para mine-
melhorar as condições de estabilidade das ração, construção civil ou qualquer outra
encostas por meio de duas formas diferen- finalidade. Dependendo das característi-
tes de atuação: cas de resistência do maciço que constitui
• redução da infiltração das águas plu- a encosta e da altura do corte realizado,
viais, eliminando a sua perniciosa poderá ser gerada uma situação de insta-
influência na instabilidade; bilidade potencial passível de desencadear
• aumento da resistência do solo pelo o processo de ruptura a qualquer incre-
poder de fixação de suas raízes, mento de tal situação.
principalmente as pivotantes, que A compressão no topo da encosta é
alcançam maiores profundidades. consequente do depósito de materiais
(Fig. 3.3c) ou da construção de edifícios
Há, todavia, casos em que a vege- com deficiências de fundações. Os de-
tação pode influir negativamente na pósitos mais comuns são decorrentes do
52 1 Geologia de Barragens

0
Superfície

~v::;t
<"(}laoo de rupt""
Vsem /
/
/...__/
de ru ptura

F. S. = cA + (Pcosi
- U - Vseni) tgq>
sem+ COSI

0 _,.,,./ 0 /

I --~---------,<.. . _<~y / ---- -1'


-(J(NA
/1 _,,f NAfinal Depleção antes
/ Superfície __,. __,. _:;" \ NA intermediário NA
.,..----- de ruptura depois
NA inicial

FIG. 3 .3 Influências na instabilida de de taludes: (a) poropressão; (b) corte em pé de ta lude; (c) sobrecarga
no topo; (d) enchimento de reservatório; (e) de pleção em reservatório

rejeito de minerações, bota-fora da cons- se dirigiam da encosta para o vale e


trução civil e lixo urbano. Dependendo passam então a receber a infiltração
das características do maciço e da geome- das águas do reservatório (Fig. 3.3d).
tria da encosta, tais sobrecargas poderão Completado o enchimento, novamente
criar também situações de instabilidade se inverte o fluxo das águas subter-
potencial da encosta subjacente. râneas, que voltam a contribuir para
o próprio reservatório. Essa variação
3.2.2 Agentes efetivos
no fluxo das águas subterrâneas pode
Interessa ao projetista de uma barra- influir na estabilidade de várias ma-
gem definir como pode a obra estudada neiras, a saber: cria novos caminhos de
vir a tornar-se um agente efetivo na percolação da água, com o consequente
mobilização de massa ao longo de uma arraste de material coesivo; aumenta
encosta que já se encontra em situação de a poropressão em planos favoráveis à
estabilidade crítica, constatada nos estu- instabilidade; aumenta a subpressão
dos realizados . O reservatório criado pela hidrostática; promove a flutuação de
barragem induz modificações no regime camadas sub-horizontais ao longo dos
das águas subterrâneas das encostas planos de acamadamento. No caso da
marginais ao lago, podendo exacerbar a barragem de Vayon, a ruptura ocorreu
criticidade de instabilidade de duas dife- durante o enchimento do reservatório,
rentes maneiras: o que indica que a fase final de inversão
a] inicialmente, durante o enchimento do do fluxo não chegou a ocorrer. Prova-
reservatório, há uma inversão do fluxo velmente as novas condições impostas
das águas subterrâneas, que antes pelo nível intermediário da Fig. 3.3d
3 - Aspectos geológicos ligados às baci as hidrográfica e hidráulica 1 53

tenham exacerbado a instabilidade das 3.3 FUGAS NATURAIS


camadas sub-horizontais do calcário,
provocando o seu movimento para o Serão analisadas no presente capítulo
interior do reservatório. O movimento apenas as possibilidades de fuga de água
das camadas contíguas ao nível da água do reservatório por infiltrações ao longo
no reservatório descalçou um grande de seus limites marginais, excluindo as
volume do maciço rochoso da encosta eventuais infiltrações sob a própria bar-
sobre o reservatório, que acompanhou ragem, que serão objeto de análise no
o movimento descendente, gerando a Cap. 4. As possibilidades de fugas de água
catástrofe já descrita. laterais em um reservatório são comuns
b] depleção criada por condições quando o divisor de águas que limita a
climáticas e hidrológicas, ou de ope- bacia hidrográfica está próximo ao nível
racionalidade do próprio reservatório, máximo de acumulação (Fig. 3.4a). Essa
pode deixar uma fatia da encosta sa- possibilidade de percolação é ainda maior
turada (Fig. 3.3e). A tendência ao quando a rede de drenagem superficial se
imediato escoamento dessa água retida acha condicionada pelo fraturamento do
na área hachurada dessa figura cria maciço rochoso, como indicado na refe-
condições de elevado fluxo no ponto rida figura , pois o fraturamento constitui
da encosta contíguo ao nível rebai- um fácil caminho de percolação das águas
xado do reservatório, podendo carrear subterrâneas.
materiais e induzir elevadas tensões Outra condição geológica que favorece
hidrostáticas no maciço, suficientes essas fugas é a ocorrência de camadas
para provocar a sua ruptura. Esse pro- permeáveis que propiciem o fluxo subter-
cesso será tanto mais perigoso quanto râneo do reservatório para o seu exterior
mais rápida for a depleção. (Figs. 3.4b-c). Na primeira, uma camada
de calcário, facilmente solúvel, permite
Além do efeito de instabilidade a percolação das águas acumuladas atra-
criado diretamente pela ação da água vés de um divisor da bacia hidráulica;
do reservatório, deve-se lembrar que na segunda, esse fluxo é propiciado por
t odas as encostas que serão submersas uma camada de arenito. Também é muito
pelo lago formado são desmatadas, para comum a existência de solos de alteração
evitar os problemas de eutrofização que sofreram carreamento de sua fração
das águas armazenadas . A retirada da argilosa pelas águas percolantes e torna-
vegetação implica a redução de um dos ram-se mais permeáveis (Fig. 3.4d). Esse
fatores que aumentam a resistência do foi o motivo da fuga de água do reserva-
solo ao cisalhamento, e isso pode, em al- t ório da barragem de Lajes, no Estado
gumas situações, exacerbar as condições do Rio de Janeiro, e somente após a sua
de criticidade da estabilidade nessas detecção e devido reparo foi possível atin-
encostas . gir a cota máxima de acumulação desse
reservatório.
54 1 Geologia de Barragens

0 ---

0 0 0

FIG. 3 .4 Fugas em reservatórios: (a) visão em planta; (b) fuga por camadas de calcário; (e) fuga por camada
permeável; (d) fuga pelo solo residual

3.4 SISMICIDADE IN DUZIDA V MM); Carmo do Cajuru, em Minas


Gerais (1970 a 1972, mb = 4,7); Port o Co-
A sismicidade induzida por reser- lômbia e Volta Grande, divisa de Minas
vatórios tornou-se alvo de maiores Gerais e São Paulo (1973 a 1974, mb = 5,1);
preocupações a partir da década de 1960, Capivara, divisa de São Paulo e Paraná
quando foram registrados quatro gran- (1976 a 1979, ML = 4 ,0); Marimbondo,
des abalos sísmicos relacionados com o divisa de São Paulo e Minas Gerais (1975);
enchimento dos seguintes reservatórios: Paraibuna-Paraitinga, em São Paulo (1976
Hsinfengkiang, na China (1962, M = 6,1); a 1977, mb = 3,2).
Kariba, na Zâmbia (1963, M = 6,1); Apesar de serem relativamente recen-
Kremasta, na Grécia (1966, M = 6,3); e tes os estudos sobre o assunto, é flagrante
Koyna, na Índia (1967, M = 6,5). Esses a preocupação em diagnosticar as suas
sismos provocaram muitas perdas huma- causas e minimizar os seus efeitos por meio
nas e materiais, chegando a comprometer de soluções preventivas incorporadas ao
as estruturas das barragens de Koyna e projeto de uma barragem. Tal preocupação
Hsinfengkiang. é procedente, pois as consequências de um
No Brasil são conhecidos sismos rela- sismo para uma grande barragem podem
cionados com os seguintes reservatórios: ser profundamente catastróficas, se este
Capivari-Cachoeira, no Paraná (1971, chegar ao ponto de provocar a sua ruptura.
3 - Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hidráulica 1 55

3.4.1 Causas dos sismos e ocasionando fadiga estática; esse


induzidos fenômeno é responsável pela for-
mação de novas fissuras na rocha,
A principal relação constatada permitindo a penetração da água a
entre o enchimento do reservatório e a maiores profundidades;
indução de movimentos no interior do • o reservatório poderia mudar as
seu embasamento rochoso parece ser propriedades mecânicas do meio,
atribuída ao acréscimo de pressão neutra tornando-o mais heterogêneo como
ao longo dos planos de descontinuidade do um todo e, portanto, menos resis-
maciço rochoso, que reduzirá as pressões tente para suportar cargas.
normais responsáveis pela resistência ao
3.4.2 Estudos preventivos
cisalhamento ao longo desses planos. Isso
corresponderia a deslocar, no sentido da Os estudos com o objetivo de prevenir
origem das abscissas, o semicírculo re- a sismicidade induzida devem constituir
presentativo das tensões normais cr1 e especial preocupação nos seguintes casos:
cr3 , provocando o seu tangenciamento à • em regiões sismicamente ativas, por
envoltória de ruptura. Tem sido um con- meio do levantamento de todos os
senso entre os estudiosos do assunto que eventos sismológicos num raio de
tal situação somente ocorreria se o maciço 100 km do eixo da barragem;
já fosse potencialmente sísmico, ou seja, • em projetos em que a barragem
se as condições estruturais da área do re- exceda os 100 m de altura ou o reser-
servatório fossem consequentes de uma vatório, um bilhão de metros cúbicos.
tectônica com evidências de reativações,
mormente pós-terciárias. Isso justificaria Nesses casos, deve-se fazer um estudo
a completa ausência de sismos na maio- geotectônico e hidrogeológico detalhado,
ria dos reservatórios, principalmente os principalmente nas áreas mais próximas
relacionados com as barragens de porte à barragem e de maior profundidade do
bastante elevado. Outras causas aventa- reservatório. É fundamental o levanta-
das são: mento das fraturas e falhas existentes
• energia potencial armazenada pela nessa área, pois se notou, nos casos de
depressão elástica da crosta em Carmo do Cajuru e Paraibuna-Paraitinga,
pontos onde as tensões já são consi- uma estreita relação entre os sismos
deráveis, possibilitando a liberação de induzidos e as fraturas preexistentes.
energia sísmica; Também é importante a caracterização
• reajustamento das camadas do da tectônica regional para definição do
subsolo em decorrência da sobre- estado de tensões predominante na área
carga do reservatório; e que poderá direcionar os sismos induzi-
• processos químicos tais como a dos. Deve-se investigar a permeabilidade
hidratação de moléculas de silicone- do maciço rochoso nas maiores profundi-
-oxigênio, enfraquecendo o material dades possíveis.
56 1 Geologia de Barragens

Finalmente, deve-se completar o mento para montante da confluência do


estudo sismológico com a caracterização tributário indesejável, desde que sejam
da deformação da crosta esperada em válidas as condições topográficas, geoló-
função do enchimento do reservatório. gicas etc.
O estudo sismológico deve ser concluído
b) Cursos salinizados
com a recomendação de implantar sismó-
grafos que possam ser ativados antes da Alguns cursos d'água são profun-
construção da barragem. damente salinizados em função da
presença de sais provenientes da lixivia-
ção de solos salinos, principalmente em
3.5 CONTRIBUIÇÕES INDESEJÁVEIS
climas semiáridos. A constatação desse
A caracterização dos problemas pe- fato é fundamental no estudo da bacia
culiares à bacia hidrográfica ou à bacia hidrográfica e, nesse caso, a única solução
hidráulica, efetuada nas seções prece- é o afastamento do eixo para montante da
dentes, poderá indicar a necessidade de confluência, se a qualidade química das
modificar o local do eixo barrável, a fim águas armazenadas for necessária para o
de evitar contribuições indesejáveis de de- objetivo para o qual está sendo projetada
terminadas áreas dessas bacias. Entre as a barragem.
contribuições já discutidas e outras ainda
c) Cursos d'água poluídos
não abordadas, podem-se aventar as se-
guintes causas para tais deslocamentos da A poluição de alguns cursos d ' água que
obra: recebem efluentes de indústria, minera-
ção e centros urbanos pode também criar
a) Cursos com elevada carga de
sérios problemas para o reservatório a ser
sedimentos transportada
formado. Nesse caso, são válidas todas as
É possível que alguns tributários de recomendações feitas para o item anterior.
maior competência transportem uma
elevada carga sólida, seja decorrente de
áreas erodíveis pela atividade agrope-
cuária, seja decorrente do transporte de
materiais de rejeito de minerações, es-
cavações urbanas etc. Nesses casos, se a
contribuição líquida desse tributário for
imprescindível para o objetivo do pro-
jeto a ser implantado, pode-se prever a
construção de uma obra para contenção
da carga sólida antes que ela adentre ao
futuro reservatório e vá acelerar o seu
assoreamento. Caso tal contribuição seja
prescindível, é melhor deslocar o barra-
4 Problemas geotecnológicos das
fundações de uma barragem

O sítio de obras corresponde a toda a mecânico das fundações, que retratará a


área necessária à perfeita caracterização do definitiva relação entre as condicionantes
arranjo de obras em um projeto de barra- geológicas, morfológicas e hidrogeológicas
gem. Inclui, assim, a obra relacionada com com as características das obras a proje-
o barramento propriamente dito e todas as tar. Essa identificação envolve processos
obras complementares, como vertedouro, distintos, embora superpostos em alguns
canais de adução, obras subterrâneas, en- casos, que variam em função do crité-
secadeiras, acessos, área de acampamento rio identificatório e do volume de dados
e canteiro de obras. No presente capítulo, disponíveis. Esses processos são: caracte-
porém, serão analisados apenas os aspec- rização, classificação, compartimentação e
tos ligados às fundações da barragem. modelagem.

4.1.1 Caracterização
4.1 IDENTIFICAÇÃO GEOLÓGICO -
A caracterização corresponde à etapa
- GEOTÉCNICA DAS FUNDAÇÕES
mais importante do processo identificató-
Como fundação será considerado todo rio, pois, nessa etapa, deverão ser definidos
o embasamento geológico existente no todos os parâmetros que permitam dis-
local onde será assentada a barragem ou tinguir os diferentes materiais envolvidos
suas obras complementares (vertedouro, em uma fundação. É baseada em todos
canais, tubulações para adução, usina etc.), os meios de investigação geológica e
independentemente se tal material será geotécnica, a saber: fotointerpretação,
conservado ou retirado para a construção geologia de campo, sondagens diretas e
da obra em projeto. Assim, a fundação in- indiretas, ensaios in situ e de laboratório.
cluirá não apenas o maciço rochoso, mas Por meio dessas investigações, deverão ser
todo o material incoerente - ou regolito - buscadas, para cada material existente, as
que o recobre, seja produzido in situ, como seguintes caracterizações:
os diversos estágios de material intempe-
Geologia:
rizado, cuja gradação vai da rocha sã até o
solo residual maduro, seja transportado • Materiais incoerentes: composição
(aluvião, coluvião, tálus etc.). granulométrica, coloração, espessura,
A completa identificação desses mate- estrutura, grau de compacidade e con-
riais constitui um processo evolutivo com sistência.
as etapas de estudo de uma barragem . To- • Materiais coerentes: tipo litológico,
davia, deve-se sempre levar em conta que composição mineralógica, estruturas,
o objetivo final é chegar ao modelo geo- estágios de alteração, estados de con-
58 1 Geologia de Barragens

sistência e características dos planos de Segue um roteiro dos processos e mé-


descontinuidade. todos para a caracterização dos materiais
presentes em uma fundação de barragem,
Geotecnia:
por meio das investigações superficiais, da
• Materiais incoerentes: resistência à análise de testemunhos de sondagens e da
compressão, permeabilidade e resistên- interpretação dos ensaios realizados.
cia ao cisalhamento.
a) Materiais incoerentes
• Materiais coerentes: caracterização Hi-
drogeotécnica e Geomecânica do maciço • Composição granulométrica: na fase
rochoso. de inventário, é necessário estimar o
percentual das diferentes frações que
Uma vez que a caracterização depende constituem o solo (argila, silte, areia e
do grau de investigações realizadas, é na- pedregulho), por meio de exame tato-
tural que esse processo evolua com as -visual (ver Quadro 4.1); na fase de
diferentes etapas de estudos de um projeto viabilidade, essa caracterização deve ser
de barragem, em que os meios de investi- embasada em análise granulométrica
gação são aprimorados em função do maior (peneiramento e sedimentação), princi-
aporte de recursos destinados às sucessivas palmente se for prevista a manutenção
etapas de estudo. Todavia, é importante do solo como fundação da barragem.
frisar que a etapa de viabilidade deve ser • Coloração: é importante caracterizar
encerrada com a perfeita caracterização a cor do solo, principalmente na fase
de todos os materiais existentes em uma de inventário, pois as cores cinza, mor-
fundação, pois essa etapa é responsável mente mais escuras, podem evidenciar
pela definição da viabilidade técnica e eco- a presença excessiva de matéria orgâ-
nômica do empreendimento. Para isso, nica, o que orientará o geólogo para o
é necessário conhecer muito bem todas planejamento de análises laboratoriais
as características dos materiais envolvi- específicas na fase de viabilidade, a fim
dos e suas adequações ao arranjo de obras de caracterizar a real influência dessa
concebido. matéria para as propriedades físicas
A apresentação dos resultados da ca- do solo.
racterização deve ser feita de forma • Espessura: na fase de inventário,
dissertativa, com cada unidade geológica em que é mínimo o número de sonda-
constituinte da fundação descrita com gens, a espessura dos solos deve ser
o máximo de detalhes, complementados inferida pela extrapolação de dados
com os resultados obtidos nos ensaios pontuais, interpretação das con-
realizados. As ilustrações pertinentes à ca- dições de intemperização, análise
racterização devem restringir-se ao mapa geomorfológica, cortes naturais (erosão)
geológico, aos perfis de sondagens efetu- e artificiais (estradas, mineração etc.)
adas e aos gráficos obtidos nos ensaios e, eventualmente, pela utilização da
realizados. geofísica. Na fase de viabilidade, essa
111At,1to (.í.l!tassifkação expedita dos solos
Denominação a constar na descrição geológica Características de reconhecimento
(além do nome científico)
Quando seca, não forma torrão. Grãos visíveis ou percebíveis totalmente. Para a indicação das frações
Areia (fina, média e grossa) predominantes, podem-se utilizar como modelo amostras previamente separadas e classificadas em
laboratório.
Silte Quando seco, forma torrão que é esmagado com a pressão dos dedos.
Argila Quando seco, forma torrão que é inquebrável com a pressão dos dedos.
Quando secas, formam torrões resistentes ou praticamente inquebráveis com a pressão dos dedos.
.i,.
Argila arenosa (fina, média e/ou grossa) Na argila arenosa, é possível visualizar e sentir grande número de grãos de areia, mas na argila siltosa 1
"O
e argila siltosa isso não é possível. Imersas em água, a massa é amolgável e pode-se perceber as frações arenosas,
o
bem como indicações da predominância de argila ou silte (menor ou maior facilidade de separar as C""
;;-
partículas). 3
li>
Quando secos, formam torrões que são esmagados com esforço pela pressão dos dedos. Imersos em Ili

Areia (fina, média, grossa) argilosa e silte argiloso �


água, sente-se a presença de uma massa amolgável nos dedos (argila).
Silte arenoso, areia siltosa, areia pouco argilosa Quando secos, formam torrões que são esmagados com facilidade pela pressão dos dedos. Aspecto
:::J
e silte pouco argiloso farináceo após o esmagamento. o
õ­
Exemplo de descrição:
Prof. (m): Material:

(JQ

Ili

...
Quando houver matéria orgânica, deve-se indicar Q.
0,00 /5,50 Aluvião li>
sua maior ou menor ocorrência. Sugere-se a seguinte Ili

Quando ocorrer cascalho, a porcentagem em relação gradação: Areia fina e média, cinza e
:::J

ao solo deverá ser estimada e a sua granulometria, - com raízes;


Q.
0,00/2,00 com pouca matéria orgânica
indicada conforme as seguintes faixas: - com pouca matéria orgânica; º'
4,50/5,50 com 30% de cascalho 1 e 2 n,

• Cascalho 4: diâmetro maior que 76 mm - turfosa (c/ muita matéria orgânica); Ili

(cascalho quartzítico) Q.

• Cascalho 3: diâmetro entre 76 mm e 38 mm • turfa. n,


e
• Cascalho 2: diâmetro entre 38 mm e 19 mm Quando houver blocos ou matacões de rocha (escavados 5,50/8,40 Solo de alteração de gnaisse 3
- Cascalho 1: diâmetro entre 19 mm e 4,8 mm ou perfurados com rotativa), deve-se indicar a litologia, Silte argiloso, cinza li>

o diâmetro aproximado e parâmetros geotécnicos como esbranquiçado


grau de alteração e coerência. iil
8,00/8,40 com fragmentos de rocha �
gnâissica 3
solo de alteração jovem)
V,
Fonte: Monticeli (1986). \()
60 1 Geologia de Barragens

espessura deve ser conhecida mais acu- Nos colúvios, podem ocorrer níveis de
radamente por meio da intensificação tálus que constituem planos de elevada
dos processos de investigação. descontinuidade, principalmente se
• Estrutura: deve-se descrever toda os blocos forem tabulares e estiverem
estrutura existente no solo e que orientados paralelamente à encosta.
possa constituir um eventual plano • Compacidade, consistência e resistên-
de descontinuidade. Nos solos resi- cia à compressão: esses dados são todos
duais, podem-se encontrar estruturas relacionados com a sondagem a per-
reliquiares da rocha-mãe, planos de cussão (SPT), que permite caracterizar,
concentração de minerais por iluvia- para cada grau de compacidade de uma
ção ou por delimitação de antigos areia ou consistência de uma argila, a
blocos alterados diferencialmente. respectiva resistência à compressão.
Nas aluviões, as estratificações cruza- Essa caracterização é feita segundo a
das e as intercalações de materiais de classificação dos diferentes graus de
granulometria diferenciadas podem compacidade, consistência e resistência
constituir importantes estruturas à compressão apresentada na Tab. 4.1 .
influidoras na deformabilidade, estabi- Esse tipo de identificação deve ser
lidade ou estanqueidade das fundações. bastante intensificado na fase de viabi-

TAB. 4 . 1 Classificação dos solos pela consistência das argilas e compacidade das areias
Amostrador padrão Terzaghi-Peck (SPT)
Material Coesão aproximada Pressão admissível
Nº de golpes Classificação
c (kg/cm 2 ) qa (kg/cm 2 )
<2 muito mole < 0 ,1 25 < 0 ,3 - 0,22
0 ,3 - 0 ,6
2-4 mole 0,125 - 0 ,25
0 ,22 - 0,45
0,6-1 ,2
4-8 média 0,25 - 0 ,5
0,45 - 0,9
Argila 1,2 - 2,4
8 - 15 rija 0,5 - 1
0 ,9 -1,8
2,4 - 4,8
15 - 30 muito rija 1-2
1,8 - 3,6
> 4,8
> 30 du ra >2
> 3,6
O -4 mu ito fofa é necessári o
4 - 10 fofa compactação

Areia 10 - 30 média 0 ,7 - 2,5


30-50 compacta 2 ,5 - 4,5
> 50 muito compacta > 4,5
Obs .: 1) as pressões admissíve is da linha superior referem- se às fundações isoladas e as da linha inferior, às
fun dações contínuas; 2) No valor de qa, apenas para as argilas foi considerado um fator de segurança igual a 3 -
pressão de ruptura= qa x 3.
Fonte: Monticeli (1 986).
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 61

lidade, caso seja prevista a permanência melhor caracterização do tipo litológico.


do solo nas fundações da obra. Nesse • Estado de alteração: a análise detalhada
caso, e principalmente se o solo for da rocha e de suas descontinuidades
argiloso, é necessário caracterizar a de- deve permitir a identificação das seguin-
formação do solo com o tempo, por meio tes feições relacionadas com a alteração
do ensaio de adensamento, realizado em química:
amostras indeformadas. o indícios de alteração dos minerais,
• Permeabilidade: os testes de infiltração evidenciados pela perda do brilho,
do solo, por meio dos furos de sonda- descoloração ou perda de resistência
gens a percussão ou rotativas, devem à escarificação com a lâmina de aço
ser feitos apenas enquanto não houver (canivete);
definição acerca do seu aproveitamento o presença de películas de oxidação
ou da sua retirada como fundação. Se ferruginosa (avermelhada) ou man-
for definida a sua retirada, torna-se to- ganesífera (preta), principalmente ao
talmente desnecessário o conhecimento longo de planos de descontinuidades;
dessa propriedade. o presença de minerais pulverulentos;
• Resistência ao cisalhamento: essa pro- o percentagem dos materiais alterados
priedade do solo somente deve ser em relação ao total da amostra.
caracterizada se for definida a per-
manência deste como fundação da • Estado de consistência ou coerência:
barragem, e, nesse caso, deverá ser esse parâmetro avalia a resistência da
analisada na fase de viabilidade. Para rocha à desagregação com os dedos (fria-
tal, coletam-se amostras indeformadas bilidade), ao impacto com o martelo
em cada variação granulométrica ou (tenacidade) e ao risco (dureza). Nesse
estrutural e realiza-se o ensaio de caso, devem ser feitas as seguintes ob-
cisalhamento direto ou triaxial. servações:
o resistência da rocha à quebra com o
b) Materiais coerentes
martelo de geólogo;
• Litologia, composição mineralógica e es- o resistência da rocha à quebra com os
truturas: a minuciosa análise geológica dedos;
dos maciços rochosos sãos ou alterados, o resistência da rocha ao risco com
em afloramentos ou por meio de teste- lâmina de aço (canivete);
munhos de sondagens, deve permitir o resistência da rocha ao risco com a
uma completa identificação dos minerais unha;
que constituem essa rocha, sua estrutura o tipo de som (oco ou metálico) ao ser
e, finalmente , sua classificação litoló- percutida com o martelo.
gica. Caso o exame a olho desarmado
seja insuficiente para tal determinação, • Características dos planos de des-
devem-se confeccionar lâminas delga- continuidade: considerando que as
das para identificação microscópica e propriedades de um maciço rochoso são
62 1 Geologia de Barragens

prioritariamente governadas pelas pro- sistência é tanto maior quanto mais


priedades das suas descontinuidades, irregular ou áspera for a superfície
é extremamente importante a carac- desses planos; assim, a resistência
terização desses planos, o que inclui a seria máxima no tipo I e mínima no
identificação dos seguintes parâmetros: tipo IX dessa figura. No item 4 .2.2,
orientação, espaçamento, persistência, será analisada a influência da rugosi-
rugosidade, abertura, preenchimento, dade na estabilidade das fundações .
percolação e resistência das paredes . As o Espaçamento : distância entre dois
principais características a determinar planos de descontinuidade para-
para tais parâmetros são: lelos, medida perpendicularmente
o Orientação: atitude do plano re- ao plano. No caso de fraturas, um
presentado pela direção e pelo conjunto de planos paralelos é de-
mergulho, e que deve ser anotada nominado família e um conjunto
em função do vetor do mergulho do de famílias, sistema. Quando o espa-
plano, conforme a seguinte anotação: çamento é muito pequeno, o maciço
000°/00°; o número de três dígitos rochoso tem um comportamento ge-
indica o azimute do vetor (0° a 360°) omecânico mais próximo ao de um
e o número de dois dígitos, o valor material granular; nos espaçamentos
do ângulo de mergulho (0° a 90°) maiores, duas ou mais famílias de
(Fig. 4 .la). fraturas , associadas ou não a outros
o Rugosidade: as paredes de uma des- planos de descontinuidade, como
continuidade podem apresentar xistosidade ou estratificação, são res-
formas de rugosidade conforme a ponsáveis pela individualização de
nomenclatura indicada na Fig. 4.2 . blocos.
Essa característica é de fundamen- o Persistência: refere-se à extensão da
tal importância para a resistência ao continuidade de um plano, tanto
cisalhamento ao longo desse plano, na horizontal como na vertical
desde que não ocorra material de (Fig. 4 .lb). A persistência de duas
preenchimento. Naturalmente, tal re - famílias de fraturas pode ser fun-

0
Sistema
subpersistente

Sistema
Direção do plano: p não persistente
Direção do mergulho: e = p + 90º Sistema
persistente
Ângulo de mergulho: a
Vetor do mergulho: 0/a

~ . _ _1 Orientação de um plano (a) e persistência de fraturas (b)


4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 63

Recortada chida por material sedimentado


(areia, silte, argila, matéria orgânica
Irregular
etc.) ou precipitado quimicamente
li (calcário, sílica, óxidos de ferro etc.).
Lisa
Dependendo do tipo de preenchi-
mento, o comportamento físico da
Ili
Polida com estria
descontinuidade poderá ser bastante
Ond ulado diversificado, tanto com relação à
IV deformabilidade quanto com relação
Irregular
à estabilidade e à estanqueidade. O
V
comportamento físico do preenchi-
Lisa
mento depende dos seguintes fatores,
que devem ser bem caracterizados:
VI Polida com estria
mineralogia, tamanho das partícu-
Plana las, largura e permeabilidade.
VII o Percolação: devem-se observar to-
Irregu lar
dos os indícios de percolação de água
VIII ao longo das descontinuidades, desde
Lisa
o simples umedecimento até fluxos
IX
contínuos ou intermitentes, nota-
Polida com estria
damente em planos interceptados
por escavações superficiais ou sub-
FIG. 4.2 Rugosidade de uma descontinuidade
terrâneas. Em projetos mais longos,
Fo nte: ABGE (1983).
que envolvam mais de uma etapa da
damental na determinação do grau climatologia anual, deve-se obser-
de embricamento entre os blocos var a variação da percolação entre as
formados . épocas chuvosa e seca.
o Abertura: a distância entre paredes o Resistência das paredes: considerando
de uma descontinuidade somente que a resistência à compressão de uma
pode ser considerada abertura se o rocha é reduzida à medida que essa
espaço resultante não estiver pre- rocha se altera quimicamente, é ne-
enchido. As maiores aberturas são cessário definir o estado de alteração
proporcionadas pelas juntas de dos planos de uma descontinuidade,
tração, principalmente quando notadamente fraturas, pois a pene-
correspondem à posição vertical ou tração da água nesses planos tende a
subvertical. A principal influência da acelerar a intemperização da rocha a
abertura refere-se à estanqueidade partir dessa superfície para o interior
das fundações . do maciço. Além dos procedimentos
o Preenchimento: uma descontinui- referidos para a análise dos estágios
dade que se abriu pode ser preen- de alteração, será sempre útil estimar
64 1 Geologia de Barragens

a resistência à compressão in situ, por parâmetros elásticos e de resistência


meio do esclerômetro de bolso. à compressão e ao cisalhamento do
o Caracterização hidrogeotécnica: o maciço rochoso. Esses parâmetros
maciço rochoso tem, na maio- variam em função do grau de altera-
ria dos casos, suas propriedades ção e das relações existentes entre a
hidrogeotécnicas ou hidrogeológicas direção de aplicação das cargas im-
condicionadas pelas características postas pela obra e as direções dos
de suas descontinuidades, principal- planos de descontinuidade. Assim,
mente a abertura, o espaçamento e é necessário ter antes uma perfeita
a persistência. Exceto nos casos em caracterização geológica do maciço
que o espaçamento é muito redu- rochoso e, a partir daí, progra-
zido, quando então o maciço rochoso mar os ensaios in situ ou a coleta de
apresenta um comportamento hi- amostras para ensaios laboratoriais.
drogeológico semelhante ao dos No item 4.2 serão detalhados esses
materiais granulares, a maioria dos procedimentos de pesquisa.
maciços caracteriza-se por condições
4.1.2 Classificação
de percolação da água bastante he-
terogêneas e aleatórias, dificultando O processo de classifi.cação corresponde a
o tratamento hidrogeotécnico pelas uma graduação nos diferentes parâmetros
leis da mecânica dos fluidos, que são definidos pela caracterização, de sorte a
definidas para meios homogêneos, zonear diferentes graus de aplicação de cada
isotrópicos e contínuos. Assim, o parâmetro caracterizado. O zoneamento é
comportamento hidrogeológico dos sempre feito a partir do grau mais favorável
maciços rochosos é extremamente para o mais desfavorável. Assim é que, ao
condicionado pelo direcionamento e classificar uma rocha quanto ao grau de al-
abertura das descontinuidades, exi- teração, designam-se as classes Al, A2, A3.
gindo uma pesquisa calcada numa A4 e AS, sendo a classe Al correspondente
perfeita definição desses parâmetros. à rocha de maior sanidade e AS, a mais de-
Somente após tal definição devem composta. Da mesma forma, as classes Cl a
ser programadas as sondagens que CS indicam a variação de coerência, da mais
permitirão identificar, por meio dos coerente para a incoerente, e as classes Fl
ensaios de perda d' água, as reais ca- a FS indicam a variação do menor ao maior
racterísticas hidrogeotécnicas do grau de fraturamento. A Fig. 4.3 apresenta
maciço rochoso. Nesse sentido, as essas classificações, exemplificadas no
sondagens deverão ser programadas perfil de sondagem mostrado na Fig. 4.4.
de forma a interceptarem o maior A classificação do material constituinte
número de descontinuidades poten- de uma fundação pode levar em conta l.llDa
cialmente abertas. grande variedade de parâmetros e ge~
o Caracterização geomecânica: essa ca- mente procura adequar o zoneamento
racterização envolve a definição dos características geológicas, hidrogeolólii
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 65

D ECOMPOSIÇÃO C ONSIST!NCIA

Grau Denominação Características Grau D enominação Características

A rocha apresenta seus minerais Rocha com som metálico, quebra com
Rocha muito
D1 Rocha sã constituintes sem decomposição. C1 dificuldade ao golpe do martelo.
consistente
Eventual me nte apresenta juntas oxidadas. Sua superfície é riscada pelo aço.
A rocha apresenta decomposição Rocha com som fraco, quebra com relativa
Rocha po uco Rocha
D2 incipiente em sua matriz e ao longo dos C2 faci lidade ao golpe de martelo. Ao ser
decomposta consis tente
planos de fraturas. riscada pelo aço deixa sulcos superfi ciais.
Rocha A rocha apresenta cerca de 1/ 3 de sua Rocha com som oco, quebra com facilidade
Rocha
D3 med ianamente matriz decomposta. A decomposição ao ao golpe de martelo com fragmentos
C3 medianamente
decomposta longo das fraturas é acentuada . quebradiços à pressão dos dedos.
consistente
Sulco leve ao risco do aço .
A roc ha apresenta cerca de 2/3 de sua
Rocha mui to matriz ou de seus minerais totalmente Rocha quebra com muita facilidade com
D4 Rocha pouco martelo, bordas dos fragmentos facilmente
decomposta decompostos. Todas as fraturas C4
estão decompostas. consistente quebradas manualmente. Sulcos profundos
ao risco do aço.
Rocha
A ro cha a presenta todo o seu corp o
D5 extre ma mente Rocha esfarela-se ao golpe de martelo,
totalmente decomposto. Rocha sem
decomposta desagregando-se com a pressão dos dedos.
C5 consistência
Pode ser cortada com aço, sendo riscada
(friável)
FRATURAMENTO com a unha.

Espaçamento entre
Grau Denominação Fraturas/metro
fraturas (m)
C ONDUTIVIDADE HIDRÁULICA
Ocasionalmente
F1 $1 2:1 ,0
fraturada Grau Denominação Perda d'água específica (1/mín . m.kg/cm 2)
F2 Pouco fraturada 1,1 a 5 0,20 a 0,50 H1 Muito baixa CH <0,1

Medianamente H2 Baixa 0,1 s CH < 0,5


F3 5,1 a 10 0,10 a 0,17
fraturada H3 Média 0,5 s CH < 5,0
F4 Muito fraturada 10,1 a 20 0,05 a 0,09 H4 Alta 5 s CH < 25,0
Extremamente H5 Muito alta CH 2: 25,0
F5 >20 <0,05
fraturada

LEGENDA DE SOLOS E ROCHAS

Solos
r--:7 Areia
t...::...:.'... seixos
f"777A
tLLLLi Silte
1===1Argila ~ Fragmentos
~ de rocha 1':•••; •I Concreções
• • • lateríticas ll1 1l 1 11Raízes 1.:-:-:--j Mica
Rochas
1->~>~] Quartzo micaxisto 1/L.// 1carbonoso/
Quartzo micaxisto
grafitoso E2a
Quartzo micaxisto
caulinizado
(:-;:;1Pegmatito
~ ~~:J Quartzo - sericita xisto 1-ç:-;.1lateritizado
Quartzo micaxisto
□ \ Ve io de quartzo

Abreviaturas
OX Oxidado SE Sericita Ba Biotita CA Carbonatada MI M icácea
SI Silicificada
OFE Óx ido de ferro TC Talco C Cau linizada SU Sulfetada MN Manganês

SIMBOLOGIA DAS DESCONTINUIDADES PRINCIPAIS

Diáclase (D) { { Sem preenchimento (A)


Falha (F) Aberta Com preenchimento (P)
Xistosidade (X) (Entre parêntesis o material)
Contato (C) { Não cimentada (F)
Acabamento (A) Fechadas Cimentada (C)
Junta (J) (Entre parêntesis o material)

Regularidad e: Plana 1-1 Curva 1- , Irregular 1-1

Aspereza: Espelhada 1 , , Lisa 1 , , Rugosa 1 • >


Deco mposição : Plana 1- 1 Curva 1- • Irregu lar ,_,

CRITÉRI OS PARA DEFINIÇÃO DA RECUPERAÇÃO

Normal : Porcentagem do material recuperado em relação ao trecho perfurado. em função das características geológicas,
disponibilidade de equipamento e habilidade operacional

M odificada: (ROD) - porcentagem do so matório de peças de testeminho de tamanho su perior a 10 cm, em relação ao trecho
perfurado, em função das descontinuidades do maciço rochoso.

FIG. 4.3 Classifi.cações do maciço rochoso de acordo com a decomposição, consistência, fraturamento e con-
du tividade hidráulica
Fonte: ABGE (1983).
Ê o SPT o V,
Ensaio de perda d'água E
°'
°'
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IL JA-ºL1 /
._ 2XA .Q2L_ SH /
Carnonoso cinza escuro
Rocha mesocrática de
Trecho
não ensaiado
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......
1-

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~
ii1
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V,
2.:. 1347. 5XF.22L.SH f/eio de quartzo textura lamelar xistosa,

3.:
-
-
~
83 xA.22L.sH
JA - - I
7 Pouco carbonoso
formada por minerais de
quartzo de granulometria
0,13 0,45
3,20 0,70
5
Q-Í/
/ -?,~/
-,\:>/ ..,. :
N
:
oN 16/06 ç,· 1-
~

/
=-- 1 // cinza claro muito fina e mica em -
9,90 0,71 7 /
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61 t 3/ li
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5..:
-
~

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~ ~
3XF .QlL_SH r'
ox
I r'

,, ,,
5XA ........... SH
,,
minúsculas palheras,
princi palmente seri cita e a
muscovita, com biotita
em menor quantidade.
rn
:, 8,30 0.47
3,13 0.45
7,17 0,25
I
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/

5 1
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-"

(10 ~ (2~
-5
...

45 ,, ,, formação
Sericítico com
de talco Rocha de resistência 17/06 8.87 0,74
5 :t I 0~/ -
6-: 2JA ~ SV SE e/ -,\:>/ o >--
- NVI
.__
3XF...QLSH
,, ,, nas juntas
decompostas
à co mpressão média
e cond utividade 12.2C 1,22 3 / /
/
N
ai ---
,, ,,
N
7.: cinza claro hidráulica alta . 8,83 0,74 I / li
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,, 5,63 0,42 lt~ - -


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Estanque PE (máx .)
2,100 kg/cm 2
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80 -.(4)
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cinza claro com o 1,25 7
I -
...,__
12..:
69 ox níveis escuros :ti
...
JF - I

ox
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,,;; M esma resistência
à compressão e .s 19/06
0,30 2,55
5
§/
I -,\:>/
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JF - - I cond utividade HI ~ -=- 1-

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0.92 3.95 / li
._ 30/06 13 / / -"
J,, -=- i / //
.::: , 5,
- \:
su ,. - . 0,47 2,55

FIG. 4 .4 Exemplo de um perfil de sondagem, em projeto do autor


4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 67

cas e geomecamcas locais, e também às • classificação expedita dos solos (ver


necessidades impostas pelo tipo de obra. Quadro 4.1);
Em geral, apresenta-se em forma de tabela, • classificação de compacidade, con-
na qual podem-se acrescentar valores ob- sistência e resistência dos solos (ver
tidos em ensaios in situ ou laboratoriais, Tab. 4.1);
como no exemplo da Tab. 4.2. • classificação de decomposição, consis-
Além das classificações puramente geo- tência e fraturamento (ver Fig. 4 .3);
lógicas (mineralogia, litologia e estruturas) • classificação em função de parâmetros
e pedológicas (agronômicas e geotécnicas), geotécnicos específicos (ver Tab. 4 .2);
muitas outras levam em conta a aplicação • classificação do maciço rochoso como
das características dos solos e das rochas fundação de barragem (ver Tabs. 4.8
para um projeto de barragem. Segue uma a 4.13);
relação, à guisa de exemplo, dos principais • classificação do maciço rochoso para
tipos de classificação adotados atualmente, obras subterrâneas (ver Tab. 5.1).
já que não existe uma padronização da
4.1.3 Compartimentação
melhor forma de classificar uma fundação
para barragem: A compartimentação corresponde a
• classificação do solo residual (ver um zoneamento do maciço rochoso a
Fig. 3.2); partir da interpolação ou extrapolação de

TAB. 4.2 Classificação do maciço rochoso em função de parâmetros geotécnicos específicos


(Usina Ilha Solteira)
Classificação geotécnica
Classificação Fraturamento
geológica Alteração Fraturas Classe de rocha
Descrição
por metro
Brecha basáltica
Extremamente alterada Fraturamento irregular V
argilosa
Muito alterada Rocha extremamente IV
> 20
Basalto fraturada Ili *
compacto e Muito fraturada 11 - 20 Ili
vesicular e Praticamente sã Pouco fraturada 2 - 10 li
amigdaloidal
Ocasionalmente
fraturada

Parâmetros de cisalhamento
Classe de rocha Módulo de deformabilidade (kg/cm 2 )
de projeto (kg/cm 2 )
"' 200.000
li 125.000 , = 7,8 + crtg 56° (*)
Ili 35 .000 , = 6 ,1 + crtg 48º
Ili *
, = crtg 34º (O< cr < 6 kg/cm 2)
1: = 1,6 + crtg 24° (6 < cr < 16 kg/cm2)
IV 9.000 , = 1,0 + crtg 35°
V 4.000 1: = 0,5 + crtg 30°
(*) Nota: usado , = 8,0 + crtg 45° para o projeto das fundações.
Fonte: Monticeli (1986).
68 1 Geologia de Barragens

dados pontuais. Para tanto, utilizam-se sificação, ou mesmo uma seção para cada
os dados da caracterização ou da clas- compartimentação, conforme mostram as
sificação e são estabelecidas unidades Figs. 4.6 e 4.7. Além dos dados geológicos e
geológico-geotécnicas de forma bi ou tridi- geomecânicos que embasarão essas compar-
mensional, de sorte que se possa ter uma timentações, devem ser explorados todos
visão ampla de todo o maciço da funda- os elementos topográficos e hidrogeotécni-
ção, com suas variações geomecânicas na cos. Na compartimentação tridimensional,
horizontal e na vertical. Na forma bidimen- procura-se integrar as três principais di-
sional, a compartimentação é apresentada reções relacionadas com a obra. Pode-se
por meio de seções, geralmente paralelas realizá-la por meio de blocos diagramas ou
ao eixo barrável, embora possam ser com- de diagrama de cerca, em que várias seções
plementadas por outras direções. Nessas serão entrelaçadas (Fig. 4.5).
seções, devem-se plotar todas as infor-
4.1.4 Modelagem
mações obtidas nas investigações, sejam
diretas (poços, galerias e sondagens) ou in - Nessa etapa, procura-se estabelecer pro-
diretas (geofísicas). Em uma mesma seção, tótipos para as condicionantes geológicas
pode-se apresentar mais de um tipo de elas- e geotécnicas, com base em todas as fases

--:.=..:=-

,
,;
r··'
•• ✓;y- ,

~;, J
~.:.r., )
'água/verted , .. ' /'
/alte .~Canal de adução
,4é-L--- --<~~;,. tomada d'água/
\-• vertedour
.----- \'- (Alter

------------ \ ...-\
Tonada d'água
(Alternativa E

c...c...<f:i
SR-03

Túneis de desvio

FIG. 4.5 Diagrama de cerca mostrando quatro seções geológicas de uma obra de barramento (barragem de
Irapé-MG)
Fon te: cortesia da Cemig.
Cota
(m)
5

SR-49 SP-48
Condições geológicas

5
:25
~º~ T T SP-73
T
SP-52
T
SR-46
TT
SP-59
SP-54 SP-63 SR-42

tI l~ ~ T T
23 ,... Linha de referênci
~
Basalto compacto j · · - - - ·- - - - - - . .::~-- . -:r~ni~) :~~~:;• :,. f tl= i 5~1
T
ct~i~~~[~ç. -

Limon it1co e
5 echa basált~Js:ffo"g~
Basaltolcompacto l:.
Bas. Ves . amigoaloidal 1 _ 1
Basalto com pacto "'ti

SR-48
Fu ndação o
!:!:
SP-73 SP-52
T SR-46 (1)
5
·25 T T T SP-54 TSP-63 SR-42
3
li>
"'
T
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C/Q
5 (1)
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.....
Linha de
}~:\:-:~ ~ >:~~'j;,';;:.r
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::1
referência o,
:23
5
F
. A F~ --. . . .....
~-
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1 ':~
o
5 ,--SP-49 "'e.
r--.._ jP-94

-
li>
2601 ,-r SP-48 Permeabilidade "'
5 T SP-73

T SPj52
SR-46

T
SP-59

T
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::1
e.

5~llhtll»ht --- J. 1
SP-63 SR-42 li>
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(1)

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~ - 1//.lY.17..--.,,L.. "// "l.l.ll.il'I.I.I.I.I t'.-.- -1 ,--
,Í~---~-
,.;::-.-,,
dr--,: ;-
.:;?-=::::;;==--~-~-Uf1w,_,:;2i (1)
e:
3
~
3
;;;;~;i11~= ;;:_'?:t} ::/;:;:/::-_ . . . .. ·-· - ··- -·
li>
O"
~
220
;;;
....
0 _ _5..___ _.
10- -1-'-5- -2....0-~25.___3_,_0....,[., 165 170 175 180 185 190 195 200 'v 445 450 455 460 465 470 475 480 ~
3
FIG. 4.6 Compartimentação geológico-geotécnica da Usina Porto Primavera
Fonte: Monticeli (1986). '°°'
70 1 Geologia de Barragens

CONDIÇÕES DE PERMEABILIDADE (ONDIÇÕES DE FUNDAÇÃO


P.E. em 1/ mín .m (kg/cm 2)

~ PE ;;:: 100 0
[? ~'(,:~>:{:] Solo com ín dice de resistência menor que 1O golpes de
\ {5!f ~.\ penetração para os últimos 30 cm do barrilete amostrador SPT
o
~ 10$ PE < 100 v, { ::•;:::••:::
:-;.::••=_:;.
Solo com índice de resistência maior que 10 golpes de
penetração para os últimos 30 cm do barrilete amostrador SPT

~ 5$PE<10 - Arenito brando

Cimento limonítico
1 $ PE < 5 Arenito resisten te - [
Cim ento limonítico e calcífero

C J PE < 1 - - - - - Juntas sub-horizontais

Não foram executados


ensaios de permeabilidade
no aluvião. Nos trechos
8 Rocha muito alterada (Tipo IV)

de argila estima-se PE < 1 .8


~
i---:-7 Rocha muito fraturada, praticamente sã
ii = trecho no qual não "'
ro
L_J (tipo Ili * > 20 fraturas por metro)
foi efetuado ensaio
de infiltração C J Rocha praticamente sã (tipo 1, li e 111)

CONDIÇÕES GEOLÓGICAS

Coluvião ~ reia pouco argilosa


Argila
Solo de
alteração ~ reia pouco argilosa
de arenito
Areia
Arenito _]Cimento limonítico
Argila arenosa / eSt ratificado ~ imento limonítico e calcífero
areia argilosa
recha basáltica arenosa
Areia pouco argilosa Basalto
-c asalto compacto

D ~
.li.
"
'<§5>
dlo
Turfa/presença
de matéria orgânica

Cascalho
______J
Contato de unidades geológicas

S,bdi,isão de ,o idades geológic,s

S3
~ Nível d'água
E Local de ocorrência de estrias de fricção
EH: em fratura sub-horizontal ROC Trecho de ocorrência de rocha quebrada caoticamente
Ev: em fratura subvertical

FIG . 4.7 Legenda das seções mostradas na Fig. 4 .6

anteriores de identificação, mostrando o No modelo geomecânico, podem-se


relacionamento entre tais condicionantes indicar as relações qualitativas entre os
e as necessidades do projeto. O modelo diferentes componentes geológicos e as va-
consubstanciado nesse protótipo pode ser riadas alternativas de projeto, desde que
geomecânico ou geo-hidrológico. tais componentes sejam caracterizadas
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 71

200

150 - --- - - -

5 ·-== · - - --·
------ ----- -- ------------------ 7-------11 -- --
100 3 : 1
.-;;:-- -----=--,-;:::-- 4 ~- :F
- ---- - - - - 5 __ <ii:>____ 5 --------------

------ ------------3 --------


2 ---------------

-50

Parâmetros geomecânicos

c 0 E Kn Kt y K,q
Unidades geomecânicas µ
(kg/cm 2) (graus) (10 3 kg/cm 2 ) kg/cm .cm (1/m 3) (cm/5)

1) Solo 0,2 28 0,3 0,30 1,7 10·4

2) Matacões de basalto 2,0 32 2 0 ,25 2,2 10•4

3) Basalto denso 15 45 200 0,18 2,9 10-5

4) Contato o 45 200 80 10°

5) Brecha arenosa 8 30 80 0,22 2,3 10 -4

6) Brecha argi losa o 27 40 0 ,22 2,2 10-3

7) Basalto vesicular e amigdaloidal 10 37 150 0,20 2,6 10·4

8) Descon tinuid ade sub-horizontal o 38 200 70 10°


9) Basalto denso 12 40 180 0,19 2,7 10-s

1O) Contato aberto o 45 200 80 10°

11) Brecha arenosa intemperizada 6 30 60 o, 18 2,2 10·•

FIG. 4 .8 Modelo geomecânico de um bloco da Usina de Itaipu


Fonte: Monticeli (1986).

geomecanicamente no texto, conforme No modelo geo-hidrológico, procura-se


mostra o exemplo da Fig. 4 .8. Além disso, mostrar o comportamento generalizado do
no próprio modelo podem ser caracteri- maciço rochoso das fundações, em função
zados todos os parâmetros geomecânicos, das influências hidrogeotécnicas relaciona-
conforme mostra a Fig. 4.9. das com a infiltração das águas pluviais, seu
72 1 Geologia de Barragens

Modelo geomecânico

(Aci ma da cota 400 m) (Abaixo da cot a 400 m)

Solo resid ual + colúvio 2 Xisto alterado (03/04) - zona de descompressão 3 Xisto são a pouco alterado (01 / 02)

FIG. 4.9 Modelo geomecâ nico para a barragem de Irapé-MG


Fonte: cortesia da Cemig.

fluxo subterrâneo e a consequente alteração 4.2 CARACTERIZAÇÃO


das rochas. Esse modelo é fundamental na GEOMECÂNICA E
análise da deformabilidade, estabilidade e HIDROGEOTÉCNICA DAS
estanqueidade das fundações e pode ser vi- FUNDAÇÕES DA BARRAGEM
sualizado pelo exemplo da Fig. 4 .10.
Neste capítulo, será considerado eixo
barrável não apenas a linha que materializa
a crista da obra ao longo de toda a seção
barrável, mas uma faixa que inclui toda a
obra de barramento. Nos estudos iniciais
de um projeto de barragem, a localização
do eixo barrável é condicionada priorita-
riamente pelo fator morfológico. À medida
que a geologia vai sendo conhecida, algu-
mas modificações no traçado desse eixo
podem ser necessárias, incluindo seu
__ L -- eventual deslocamento. Por isso, é im-
portante iniciar os estudos geológicos e
geotécnicos em uma área que extrapole
Modelo geo-hidrológico
os limites da própria obra, com relação ao
- - Superfície topográfica eixo inicialmente concebido. Assim, será
- · - Limite da zona de descompressão detalhada aqui a caracterização geomecâ-
- - Nível de água subterrânea
nica e hidrogeotécnica das fundações de
Plano de xistosidade: Fratura:

TL J Alterado
Descomprimido são
Fechado sâo
,,L-Seca
/ - Saturada
uma barragem ao longo de uma área pas-
sível de receber uma obra de barramento e
de acordo com os princípios formulados no
item anterior. Os principais aspectos a ca-
FIG. 4.10 Modelo geo-hidrológico para a barragem
racterizar para uma fundação de barragem
deirapé-MG
Fonte: cortesia da Cemig. são, na área geomecânica, a deformabilidade
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 73

e a estabilidade, e na área hidrogeotécnica, a compressibilidade manifesta-se mais inten-


estanqueidade. samente em dois tipos de solos: solos moles
e solos porosos e colapsíveis.
4.2.1 Deformabilidade
Os solos moles são representados por
ou compressibilidade
argilas, areias argilosas e siltes argilosos.
Como deformabilidade será analisado o A presença desses materiais exigirá um
problema da deformação que uma funda- estudo minucioso, com o objetivo de de-
ção de barragem poderá sofrer ao receber a finir dois aspectos da deformação: o tipo
carga imposta pela obra, mas sem que tal de- de recalque e o tempo em que ocorrerá.
formação chegue a provocar a ruptura das Para tal, é necessário realizar ensaios de
fundações . Evidentemente, essa deforma- adensamento em todas as variações textu-
ção poderá implicar recalques da obra que rais do solo, pois são as heterogeneidades
levem à sua ruptura, o que não significa que verificadas tanto na horizontal como na
as fundações também sofreram ruptura. vertical que constituem a principal causa
Em função do tipo de obra a projetar, as dos recalques diferenciais, embora estes
fundações podem ser constituídas exclusi- também possam ser provocados por desi-
vamente por materiais coerentes (rochas) gualdades nas tensões aplicadas pela obra.
ou incluir um capeamento de material inco- O tempo de recalque deve ser o menor
erente (solo). Uma vez que os problemas de possível e, de preferência, ao longo da fase
deformabilidade são distintos nesses dois construtiva da obra. Esse tempo depende
tipos de fundação, tanto na caracterização da percentagem de consolidação, que varia
do problema como na forma de tratá-lo, em função de vários fatores, conforme a se-
serão analisados separadamente os res- guinte equação:
pectivos processos de deformabilidade em t (l + e)K
U = - - --
solos e em rochas.

a) Deformabilidade em solos
onde:
(*r ªvYw
(4.1)

O problema da deformabilidade em solos U - percentagem de consolidação;


está intimamente relacionado à caracterís- t- tempo;
tica de compressibilidade desse material. O e - índice de vazios;
efeito da deformação em solos compressíveis K - permeabilidade da camada argilosa;
é representado pelo recalque das estruturas H - espessura da camada a ser adensada;
assentadas sobre ele, e esse recalque pode ser N - número de camadas drenantes;
uniforme ou diferencial. No primeiro caso, a ªv - relação entre a variação de índice de
fundação se deformará com a mesma inten- vazios e a variação de pressão;
sidade em toda a base da obra, provocando Yw - densidade da água.
o seu afundamento por igual; no segundo
caso, o recalque é maior em um trecho e Conhecidos esses fatores, pode-se calcu-
menor em outro, mobilizando tensões na lar o recalque total ocorrido nesse tempo,
obra que podem causar a sua ruptura. A de acordo com as seguintes equações:
74 1 Geologia de Barragens

(4.2) olho nu, com consequente alto grau de po-


rosidade e baixo teor de umidade, o que
(4 .3) resulta em baixo grau de saturação. Quando
a estrutura desses solos sofre colapso ao
onde: serem saturados, são também denomina-
r t - recalque alcançado no tempo t ; dos colapsíveis, o que os torna, nesses casos,
U - percentagem de adensamento; extremamente compressíveis. Geralmente
llh - variação na altura da camada; esses solos são resultantes da lixiviação de
h - altura da camada; óxidos de ferro e da iluviação das frações
ei - índice de vazios inicial; finas pela ação das águas pluviais infiltradas.
p - pressão imposta à camada; Como é comum a ocorrência de solos poro-
llp - variação de pressão. sos entre os elúvios e os colúvios, e como a
espessura desses solos varia muito ao longo
Em função dos dados calculados para de uma encosta, podem ocorrer recalques
o valor dos recalques e do tempo em que diferenciais ao longo do eixo longitudinal de
ocorrerá, pode-se sugerir uma das seguin- uma barragem, com o surgimento de trin-
tes alternativas para o projetista: cas transversais ao eixo. Essas trincas são as
• remoção parcial ou total do material mais perigosas por comunicar a face de mon-
mole, substituindo-o por aterro com- tante com a face de jusante da barragem.
pactado; a remoção será parcial quando De um modo geral, a compressibilidade
o · solo melhora suas características de dos solos porosos aumenta com o aumento
compressibilidade com a profundidade; do seu limite de liquidez. Quando subme-
• adensamento normal com o abati- tidos à saturação, sem acréscimo de carga,
mento dos taludes ou a construção de esses solos podem sofrer recalques bruscos,
bermas de equilíbrio, embora tais so- em consequência do colapso sofrido pela es-
luções interessem mais à estabilidade trutura do solo ao ser saturado. Um exemplo
(elas podem, eventualmente, exacerbar brasileiro de solos porosos é a argila do Terci-
os recalques pelo acréscimo do bulbo de ário da cidade de São Paulo, que pode recalcar
pressões); 3% quando submetida à carga de 1 kgf/cm 2 ,
• construção lenta, desde que o crono- com um acréscimo de 3% se for saturada
grama da obra o permita, pois o ritmo com a mesma carga. Assim, uma camada
lento ou a construção por etapas reduz a de 5 m dessa argila pode sofrer um recalque
intensidade do recalque; de 30 cm se for saturada a uma pressão de
• adensamento acelerado por uma so- 1kgf/cm 2 .
brecarga ou pela construção de drenos Embora menos acentuado, o problema de
verticais de areia, antecipando, assim, a deformabilidade pode ocorrer em solos de
ocorrência dos recalques. baixa compressibilidade, como os solos resi-
duais e coluviais. Nestes, o principal aspecto
Os solos porosos e colapsíveis são aque- que poderá influir na compressibilidade é a
les que apresentam macroporos visíveis a presença de descontinuidades, o que deve
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 75

ser bem caracterizado na fase de investi- A Tab. 4.3 mostra alguns exemplos desses
gações, conforme já mencionado. Nos solos dois parâmetros em alguns solos brasileiros.
residuais, a presença de planos reliquiares Como se pode observar, os valores do módulo
da rocha-mãe pode significar a ocorrência E decrescem à medida que aumentam as pres-
de argilas de preenchimento de fraturas ou sões. Isso se deve à quebra do embricamento
de alteração de concentrados em feldspatos entre blocos ou à ruptura da cimentação
(veios aplíticos e pegmatíticos), que podem entre os grãos. Com a redução progressiva da
aumentar a compressibilidade do solo como porosidade, o material torna-se mais rígido e
um todo. Nos solos coluviais, a seleção gra- esse módulo voltará a crescer com a continui-
nulométrica imposta pelo transporte pode dade do aumento das pressões.
levar à individualização de leitos mais
b) Deformabilidade em rochas
argilosos, com fracas características de
compressibilidade. Embora o efeito da deformação de
A compressibilidade dos solos pode um maciço rochoso seja o mesmo veri-
ainda ser medida por meio do módulo de ficado para o solo, ou seja, resulta em
deformabilidade (E), consequente da relação recalque para a obra que lhe está assentada,
entre a carga aplicada (o) e a deformação podem-se observar duas grandes diferen-
sofrida pelo solo (E): ças entre esses dois tipos de materiais, na
relação entre deformação da fundação e de-
(4.4) formação da obra, a saber:
• no caso de solos, os recalques são mais
No item seguinte serão detalhados os significativos que em rochas; todavia, as
procedimentos para essa determinação. A barragens construídas em solo são dos
compressibilidade pode ainda ser expressa tipos de terra ou de enrocamento, cuja
pelo coeficiente de compressibilidade flexibilidade pode admitir um acomo-
volumétrica (Cc), conforme a equação: damento aos pequenos recalques das
fundações, mesmo diferenciais, sem
(4.5) grandes danos para a obra;

TAB. 4 .3 Valores de E e Cc para alguns solos


Material E kg/cm 2 x 10 3 Cc 1/kg/cm 2 x 10- 6 Nível de tensões kg/cm 2
Solo residual 1,70 350 0-2
Solo saprolítico de basalto 0,60 100 0-6
0,50 1.200 0-2
Solo residual de gnaisse 0,40 1.500 0-4
0,35 1.700 0-6
0,80 875 0-4
Enrocamento de basalto
0,40 1.750 0 -8
Brita corrida 0,73 820 0-4
Areia artificial 0,28 2.100 0-4
Fonte: Cruz (1996).
76 1 Geologia de Barragens

• no caso de rochas, os recalques são, em partir de ensaios in situ (ver item 7.1) ou de
geral, pouco significativos; porém, se a laboratório (ver item 7.2). Nesses ensaios, o
obra construída for de concreto, sua ele- maciço rochoso é carregado e descarregado
vada rigidez poderá ser comprometida três vezes, devendo o módulo E ser medido
pelos pequenos recalques diferenciais, nos dois últimos carregamentos (Fig. 4.11a),
provocando o aparecimento de trincas que pois o primeiro carregamento é afetado pelo
poderão causar grandes prejuízos à obra. fechamento das descontinuidades abertas.
O parâmetro que define a resistên- O módulo E pode ser obtido pela apli-
cia à deformação das rochas é o módulo de cação de uma carga de compressão ou de
deformabilidade (E), já definido no item an- tração, e pode ainda ser uniaxial ou triaxial.
terior. Esse módulo deve ser medido numa Em todos os casos, é denominado módulo de
curva tensão x deformação construída a deformabilidade estático (Eest)·

CJ

E1 = tga1
E2 = tga2 l l l
□□□
E1+ E2
E= - -
2

2 3

0 E

r
Ruptura

0 J
r -------- 1 2
1
1

Eo
1 1
, _ _ _ _ _ _ _ _ .J
Creep
___ ,,
X Ôx
primário

2 2

Õy = Õy + Õy Õx Õx
2 2 Õx = 2 + 2
Õy Õx
Ey = - Ex = -
Óy Óx

a= ~Ey

FIG. 4.11 Parâmetros de deformabilidade: (a) curvas de deformação; (b) inf/.uência das descontinuidades; (e) coe-
fi.cien te de Poisson; (d) deformação lenta ou creep
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 77

O módulo de deformabilidade dinâmico micamente, sendo extremamente baixos


(Edin) é obtido por meio do emprego da quando o solo representa o estágio final
geofísica, especificamente pelo método de dessa alteração.
sísmica (ver item 6.2.2). O módulo Edin é Outra influência significativa pode ser
aproximadamente igual ao módulo Eest observada na Tab. 4.4, quando se compa-
quando este é obtido por meio de uma ram as rochas quase homogêneas, como
carga que não ultrapasse 30% da carga de o granito, com rochas orientadas, como o
ruptura do material ensaiado. A partir daí, micaxisto, em que a foliação resultante da
o módulo Eest vai diminuindo em relação xistosidade é muito pronunciada. Essa fo-
ao módulo Edin, à medida que aumenta a liação representa planos de descontinuidade,
carga de ensaio nesse tipo de determina- os quais reduzem bastante o módulo de
ção. Nessa situação, a relação entre esses deformabilidade, por tenderem a se fechar
dois módulos é a seguinte: quando o maciço rochoso é carregado pela
obra. A influência da descontinuidade do
Edin = 8,3Eest + 0,97 (4.6) maciço rochoso sobre o módulo Eest varia
com a relação entre a direção de aplicação
Nos maciços rochosos, a deformabi- da carga e a direção desse plano, conforme
lidade é influenciada por quatro fatores mostra a Fig. 4.llb. O módulo E será maior
importantes: constituição mineralógica, quando a carga for aplicada na mesma di-
grau de alteração, planos de descontinui- reção da descontinuidade e menor quando
dade e relação entre a direção de aplicação aplicada perpendicularmente a ela.
da carga e a direção da descontinuidade. Uma característica elástica da rocha
A constituição mineralógica de uma rocha que influi no módulo de deformabilidade é
influi no módulo de deformabilidade da se- o Coeficiente de Poisson (u), definido con-
guinte forma: forme indicado na Fig. 4.llc, e cujos valores
médios das principais rochas acham-se indi-
n
Er = L Ei ·Vi (4.7) cados na Tab. 4 .4. O módulo E é diretamente
i=l proporcional ao Coeficiente de Poisson, ou
onde: seja, para uma carga aplicada na vertical, o
Er - módulo de deformabilidade da rocha; módulo E guarda a seguinte relação:
Ei - módulo de deformabilidade de cada
mineral; (4.8)
Vi - volume ocupado por cada mineral na
rocha; Finalmente, deve-se levar em conta o
i - número de minerais. tempo de aplicação da carga na deformação
A Tab. 4.4 exemplifica uma relação dos dos maciços rochosos . Embora essa influ-
valores médios do módulo Eest para as ência seja bem menos significativa que a
rochas em estado são. Esses valores vão pro- registrada para os solos argilosos, pode ser
gressivamente diminuindo à medida que as problemática em função da rigidez das obras
rochas ou minerais vão se alterando qui- de concreto que concentram as cargas sobre
78 1 Geologia de Barragens

TAB. 4.4 Valores médios do Módulo E e do Coeficiente de Poisson para algumas rochas
Módulo de Young
Grupo de rocha Rocha
E x 10- 5 kg/cm 2
Coeficiente de Poisson o
Basalto e gabro 6,0 - 12,0 0,15 - 0,20
Anfibolito 6,0 - 7,0 0,25 - 0,30
Granito e granodiorito 5,0- 9,0 0,10 - 0,30
Ígneas
Di abásio 3,0 - 9,0 0,15 - 0,20
Andesito 1,2 - 3,5 0,11 - 0,20
Riolito e fonolito 1,0-2,0 0,1O - 0,20
Mármore 6,0 - 9,0 0,11 - 0,20
Quartzit o 4,0 - 10,0 0,15 - 0,20
Metamórficas Gnaisse 2,5 - 6,0 0,08 - 0,20
Quartzoxisto 1,2 - 3,0 0,15 - 0,20
Micaxisto 1,0-2 ,5 0,10 - 0,15
Calcário 4,0 - 8,0 0,10 - 0,20
Arenito 1,5 - 5,0 0,07 - 0,15
Sedimentares
Dolomito 2,0 - 3,0 0,08 - 0,20
Argil it o 1,5 - 3,0 0,1 0 - 0,25
Fonte: Legget (1962); Novik e Rzh evsky (1971).

tais rochas. A deformação lenta, ou fluên- • quando o fator de segurança em rela-


cia, que ocorre nos maciços rochosos com a ção à estabilidade é inferior a 1,2.
aplicação de uma carga constante pode ser
4 . 2.2 Estabilidade
dividida em três fases, conforme se observa
na Fig. 4.lld. No instante t 0 , de aplicação Como estabilidade serão incluídas todas
da carga, tem-se a deformação i::0 , corres- as possibilidades de ruptura que possam
pondente à relação cr/ E. Numa primeira ocorrer em uma fundação de barragem
fase de fluência , ocorre o creep primário, em decorrência das cargas impostas pela
em que as deformações são um pouco mais obra. Não serão analisados aqui os casos
acentuadas no início, suavizando ao final. em que há rupturas no corpo da barragem
Numa segunda fase, denominada creep se- ou ao longo do contato barragem/ funda-
cundário, as deformações são constantes ção, mas sem haver ruptura nas fundações,
com o tempo, resultando em uma reta a re- pois tais casos decorrem de uma das se-
lação deformação x tempo. Na última fase , guintes causas:
quando a resistência básica da rocha começa • projeto de engenharia deficiente;
a ser vencida, ocorre o creep terciário, com • deficiência construtiva;
um aumento nas deformações até atingir a • erosão interna causada pela percola-
ruptura. Evidentemente, essa condição não ção de água no corpo da barragem;
ocorre de forma frequente e apenas é pro- • recalque excessivo da obra por
blemática nas duas seguintes situações: problema de deformabilidade das fun-
• quando o módulo E é muito baixo; dações;
4 - Prob lemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 79

• erosão interna nas fundações da bar- A barragem de gravidade funciona como


ragem. uma estrutura monolítica, rígida e coesa, de
forma que as pressões que ocorrem ao longo
Das causas apresentadas, as três pri- de toda a fundação de uma barragem são
meiras nada têm a ver com a geologia; a função do peso total distribuído ao longo
quarta já foi analisada no item anterior e a dessa fundação, como mostra o esquema da
quinta será objeto de análise no item 4.2.3. Fig. 4.12c, variando muito pouco ao longo da
A ruptura de uma fundação depende fundação. Em consequência, as tensões atu-
essencialmente de duas condicionantes: antes nas fundações são muito diferentes
aplicação das cargas impostas e resistência do quando o reservatório está vazio e cheio. No
material da fundação. primeiro caso, as tensões atuam na vertical
(Fig. 4.12c); ao se encher o reservatório, as
a) Aplicação das cargas impostas
pressões hidrostáticas atuam em conjunto
A solicitação imposta a uma fundação com o peso da barragem, dando como re-
depende fundamentalmente do tipo de bar- sultante de pressões um vetor dirigido para
ragem. Nesse aspecto, essas obras podem jusante, como mostra a mesma figura . Além
ser divididas em três grupos: barragem dessa resultante, a pressão hidrostática in-
de terra e/ou de enrocamento; barragem de troduz no corpo da barragem uma tensão de
gravidade; e barragem delgada de simples torque que tende a comprimir contra a fun-
ou dupla curvatura. dação o seu pé de jusante e a levantar o pé
A barragem de terra ou de enro- de montante, como mostra a linha interrom-
camento exibe um comportamento pida na base da barragem (Fig. 4 .12d).
semiplástico, e a pressão exercida em um A barragem delgada de simples ou
ponto das fundações depende da espessura dupla curvatura apresenta uma dis -
da barragem nesse ponto. A distribui- tribuição de tensões muito particular.
ção de pressões exercidas por esse tipo de Primeiramente, o efeito de arco de seu eixo
barragem sobre as fundações é muito se- promove uma distribuição das pressões
melhante àquela exercida pela água do hidrostáticas, que são parcialmente dire-
reservatório, conforme mostra a Fig. 4 .12a. cionadas no sentido das ombreiras, como
Em consequência dos ajustes internos do mostra em planta a Fig. 4.12e. Depois, o
material da barragem, as pressões exercidas alívio do peso da barragem, representado
sobre as fundações são aproximadamente pelo adelgaçamento de sua seção, reduz a
iguais ao peso de prismas isolados de altu- componente vertical, no caso de simples
ras diferentes, e a distribuição das pressões curvatura, ou a componente inclinada, no
ao longo da base apresenta-se conforme caso de dupla curvatura (Fig. 4.12f). Como
indicado na Fig. 4.12b. Essa figura mostra resultante dessas pressões, o vetor possui
que a influência da água do reservatório é uma inclinação mais suave no segundo
maior nos trechos mais profundos da face caso, porém a magnitude de todas as ten-
de montante da barragem, decrescendo sões é significantemente inferior àquelas
com a redução de profundidade. causadas pela barragem de gravidade.
80 1 Geologia de Barragens

b) Resistência das fundações • as ombreiras possuem solos residuais


ou coluviais, geralmente mais resisten-
A exemplo do problema da defor- tes e menos espessos que os aluviais;
mabilidade, serão tratados separadamente • as pressões verticais impostas pela
os casos de resistência de fundações em barragem de terra são reduzidas ao
solos e em rochas, pois as relações obra/ longo das ombreiras;
fundação são muito diferentes para esses • a presença de solos compressíveis está
dois tipos de materiais . sempre ligada a sedimentos fluviais ,
principalmente ao longo de bacias de
• Estabilidade das fundações em solos inundação marginais ao leito do rio,
Conforme assinalado anteriormente, as quando o vale assume grandes larguras
fundações em solos somente admitem bar- em sua base e recebe a deposição de ma-
ragens de material solto, preferencialmente teriais argilosos;
de terra. Por outro lado, foi explicado no • as maiores pressões das barragens de
item anterior como se distribuem as pres- terra são transmitidas em seu trecho
sões impostas por esse tipo de barragem. mais central, onde é maior a sua altura.
Assim, pode-se concluir que, em princípio, o
problema de estabilidade de uma fundação Nesses trechos , o problema é semelhante
em solo restringe-se ao trecho mais baixo da ao já comentado para a deformabilidade,
seção barrável, pelos motivos que se seguem: ou seja, são os solos constituídos por ar-

,,.
0 0
..K
:
Í
: ' ,,....-Reservatório
cheio /"' Reservatório
cheio
Reservatório vazio (
Reservatório vazio

0
- - ~ - - -- - -k-----,:,-r71""- Y-
-,4""5-_ q>
~ Ili
2
/? '--- Cisalhamento linear

FIG. 4.12 Dist ribuição das cargas impostas por uma: (a) e (b) barragem de terra ou enroca mento; (e), (d) e (g)
barragem de gravidade; (e) e (f) barragem em arco de dupla curvatura
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 81

gilas moles ou aqueles colapsíveis que c - coesão mobilizada ao longo do plano


podem se deformar até atingirem a rup- de ruptura;
tura. A ruptura desses materiais ocorre por cr - tensão normal ao plano de ruptura;
cisalhamento, e pode-se ter uma boa apro- ~ - ângulo de atrito, representando a
ximação da resistência à ruptura desses máxima obliquidade das tensões que mo-
solos por meio do ensaio de resistência à bilizam o corte.
penetração (SPT), que indica o limite da
pressão admissível, acima do qual poderá Embora os parâmetros e e ~ dependam
ocorrer a ruptura (ver Tab. 4.1). Esse do estado de tensões instaladas no solo,
recurso, que pode ser suficiente na caracte- pode-se relacionar alguns exemplos para
rização de uma fundação na fase preliminar solos residuais (Tab. 4.5).
de estudos geológicos, deve ser complemen-
tado, nas fases mais detalhadas do projeto, • Estabilidade das fundações em
pelos ensaios de cisalhamento direto e rochas
triaxial em amostras indeformadas coleta- A ruptura de uma fundação constituída
das desse material, conforme programação de rocha pode ser analisada em função de
discutida no Cap. 6. Nesses ensaios são de- dois critérios: tipo de ruptura e aplicação da
terminados os parâmetros de resistência ao carga imposta pela obra.
cisalhamento que permitem analisar a es-
Tipos de ruptura
tabilidade de um talude em solo em função
da seguinte equação: A ruptura de um maciço rochoso é uma
t = e +crtg~ (4.9) função do estado de tensões que atua nesse
maciço, se uniaxial ou triaxial.
onde: No estado uniaxial, as tensões 0 2 e 0 3
-r - tensão de cisalhamento; são nulas (ver Fig. 4.13a). Nesse estado,

TAB. 4.5 Parâmetros de resistência ao cisalhamento de alguns solos residuais


Barragem Rocha de origem e' (kgf/cm 2 ) ~• (º)

Porto Colômbia 0,20 - 0,25 17 - 24


Marimbondo Basalto 0,10 15
1,00 24
Metabasito 0,30 25
Tucuruí
Filito 0,36 24
Quartzito 0,31 22,5
Corumbá Cloritaxisto 1,20 29
Cana Brava Metagabro 0,40 - 0,80 20 - 22
Serra da Mesa Micaxisto 1,80 - 2,85 30
Simplício Migmatito 0,20 - 0,30 23 - 27
Sapucaia 0,90 24
Gnaisse
ltacoara 0,30 24
Fonte: Cruz (1996).
82 1 Geologia de Barragens

podem ocorrer rupturas por tração e por o plano de ruptura em função da variação
cisalhamento. A ruptura por tração ocorre do ângulo de atrito interno, que varia nas
quando a tensão de tração (crt) gerada pela rochas entre 30° e 60°. O último círculo de
compressão uniaxial (cr1 ) supera a resis- Mohr mostra a condição para que 0 fosse
tência à tração do maciço rochoso (St), igual a 45°, o que não ocorre na prática, já
antes de mobilizar tensões cisalhantes que nenhuma rocha possui um ângulo de
(Fig. 4.13c). Nesse caso, a envoltória de rup- atrito interno nulo.
tura tangencia o semicírculo das tensões Quando uma rocha é comprimida unia-
cr1 crt no ponto correspondente a crt, no cír- xialmente, pode ocorrer um esmagamento
culo de Mohr, como mostrado nessa figura. decorrente da conjuminância das ruptu-
Quando a resistência à tração supera a ras por tração e por cisalhamento, e, nesse
tensão de tração gerada pela compres- caso, utiliza-se a resistência à compres-
são uniaxial, são mobilizadas tensões de são (Se) como parâmetro de resistência do
cisalhamento ('r) que provocam a ruptura maciço rochoso. A Tab. 4.6 mostra os valo-
por cisalhamento, desde que essas tensões res médios das resistências à compressão,
superem a resistência ao cisalhamento ao cisalhamento e à tração das princi-
do maciço rochoso (S5), como mostrado na pais rochas.
Fig. 4.13d, com respectiva demonstração
da ruptura no círculo de Mohr ao lado. • Aplicação da carga imposta pela obra
O estado triaxial é mostrado na Dada a maior resistência da rocha,
Fig. 4.136. Nesse estado, a ruptura ocorre somente as barragens de concreto, que
por tração quando a tensão de tração crt impõem elevadas cargas concentradas,
gerada por cr1 encontra uma tensão de podem influir na estabilidade de suas fun-
confinamento também de tração (cr3), e a dações.
soma dessas duas tensões tem a possibi- Em princípio, são previsíveis dois casos
lidade de ser tangenciada pela envoltória distintos: cargas impostas na base das fun-
de ruptura do maciço rochoso, como mos- dações e cargas impostas às ombreiras.
trado no círculo de Mohr da Fig. 4.13e. Esse As cargas impostas na base das funda-
caso é incomum, pois geralmente as ten- ções são aquelas indicadas nas Figs. 4.12d
sões confinantes são compressivas, e não e 4.12f, em que o peso da barragem forma
tracionais, a não ser quando movimentos uma resultante com a pressão hidrostática,
epirogenéticos alçam blocos dantes compri- atuando a partir do centro de gravidade
midos orogeneticamente, criando trações da obra, no sentido do seu pé de jusante.
horizontais em consequência do maior O peso da barragem representa a principal
raio externo da crosta terrestre (teoria de componente dos esforços impostos à funda-
Price, 1966). Assim, os casos de ruptura ção e o esquema de distribuição das tensões
no estado triaxial são predominantemente geradas pode ser visualizado na Fig. 4.12g.
por cisalhamento (Fig. 4.13f). Os círculos Inicialmente, desenvolve-se uma cunha cuja
de Mohr indicados nessa figura mostram declividade é função do ângulo de atrito do
a variação que sofre o ângulo 0 entre cr1 e material da fundação; essa cunha, indicada
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 83

<J

8 uniaxial

Ruptura
0 por tração

<J

Ruptura por
0 cisalhamento

<J
cr, <J

3 Triaxial cr,

- --...
0 Ruptura
por tração - -- <J3

<J3 + cr, cr, <J

e= 60º
0 = 15°

Ruptura por
0 cisalhamento <J3

,:

e= 30°
0 = 30°

<J3

,:
e= 45º - 0 12

0 = 0°
0 = 45°

cr, cr

FIG. 4.13 Estados de tensões e tipos de rupturas


84 1 Geologia de Barragens

TAB . 4 .6 Valores médios de resistência das principais rochas


Grupo de Resistência à Resistência ao Resistência à
Rocha
rocha compr. (kgf/cm 2 ) cisalh . (kgf/cm 2 ) tração (kgf/cm 2 )
Basalto e gabro 800 - 4 .000 50 - 400 60 - 200
Anfibolito 1.700 - 2.800 150-300 100 - 150
Granito e granodiorito 1.200 - 2.800 100 - 300 100 - 250
Ígneas
Diabásio 1.200 - 2.500 100 - 150 100 - 200
Andesito 500 - 3.000 80 - 150 50 - 150
Riolito e fonolito 1.000 - 3.000 80 - 200 80 - 120
Mármore 600 - 1.800 100 - 250 60 - 160
Quartzito 2 .800 - 3 .000 150 - 200 150 - 200
Metamórficas Gnaisse 800 - 2.500 50 - 100 40 - 70
Quartzoxisto 1.300 - 2.500 120 - 150 100 - 150
Micaxisto 500 - 1.500 40 - 80 30 - 70
Calcário 600 - 1.800 100 - 180 50 - 120
Arenito 300 - 1.500 100 - 200 30 - 100
Sedimentares
Dolomito 200 - 1.200 80 - 150 25 - 100
Argil ito 400 - 1.000 40 - 70 30 - 50
Fonte: Legget (1962); Novik e Rzhevsky (1971 ).

por I nessa figura, produz duas zonas de mobilizada a tensão de cisalhamento linear
cisalhamento, cada uma delas constituída na Fig. 4 .12g.
por duas partes: uma de cisalhamento radial, A influência da direção do plano de
indicada por II e limitada por um arco de es- descontinuidade sobre a ruptura por
piral logarítmica; e outra de cisalhamento cisalhamento pode ser observada no gráfico
linear, indicado por III e definida pelo ângulo da Fig. 4.14b. Verifica-se essa influência até
de 45° - ~/ 2 com a horizontal, explicado 45° entre as direções de descontinuidade
pelo esquema da Fig. 4 .14a. A capacidade de e de aplicação dos esforços, e ela se reduz
suporte da fundação, que define a sua con- para ângulos inferiores a 45° e se anula to-
dição de estabilidade, é igual à resistência talmente a partir dos 60°. Assim, pode-se
oferecida ao deslocamento pelas zonas de prever que as descontinuidades do maciço
cisalhamento radial e linear. rochoso que possuem ângulos de 0° até 60°
Uma vez que a resistência ao no sentido de montante são passíveis de in-
cisalhamento de um maciço rochoso é con- fluenciar a estabilidade das fundações de
dicionada pelas suas descontinuidades, que barragens de peso (Fig. 4.14c). A situação
constituem planos de fraqueza do maciço, mais crítica de instabilidade é aquela em que
pode-se constatar que as piores condições ocorrem descontinuidades mergulhando
de estabilidade de uma fundação em rocha para jusante e para montante (Fig. 4.14d),
correspondem à situação em que a direção pois a intersecção desses planos favorecerá
de u ma ou mais descontinuidades coincide a formação de cunhas instáveis que tendem
ou está próxima à direção em que se acha a se deslocar para jusante, a exemplo do
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 85

que ocorreu na barragem de Malpasset, na apresente próximo às condições ideais de


::-rança. homogeneidade e isotropia, a resistência
Constitui, pois, objeto do estudo da própria rocha pode ser representativa
aeológico definir as direções das descon- para o maciço da fundação. Nesse caso,
·nuidades e, no caso de constatada a as informações preliminares de resistên-
coincidência abordada anteriormente, ca- cia podem ser atendidas com os ensaios
racterizar a resistência ao cisalhamento de de compressão simples e de cisalhamento
t ais planos. direto. A segurança desses resultados, pelo
Desde que não ocorram planos de des- fato de ser esperada uma maior resistência
continuidade mergulhando para jusante e em razão do confinamento do maciço ro-
para montante, ou que o maciço rochoso se choso in situ, compensa eventuais reduções

20 = 90 - q>
e=45 - .!.
2

Nos meios roc hosos:


30° < q> < 60°

(J Logo:
15º<q>< 30º

60°

45° / Pl ano de ruptu ra


e
Plano de
descontinuidade

O 15° 30º 45° 60° 75° 90°


a

0
- .~ - - L - -
...____ ,L.- .:,e;.,-"""":-- ~
----........

FIG. 4.14 Rupt uras por cisalh am ento: (a) esquema no circulo de Mohr; (b) infl_uência do s planos de desconti-
nuidade; (e) e (d) cunha de deslizamen to na fundação de uma barrage m; (e) condições criticas de ruptura nas
ombreiras
86 1 Geologia de Barragens

na resistência em função de possíveis des- vez que nem sempre são visíveis as des-
continuidades não localizadas. continuidades desses maciços, que podem
A resistência ao cisalhamento depende ser representadas por dissoluções cársticas
não apenas dos parâmetros intrínsecos caóticas, de dimensões e aberturas imprevisí-
do material envolvido, mas também das veis. Essas descontinuidades podem reduzir
componentes de tensões que são mobiliza- sensivelmente a resistência desses maciços,
das pela carga induzida, conforme mostra provocando o seu colapso ao receberem
a equação da resistência ao cisalhamento cargas concentradas. Nesses casos, deve-se
indicada para os solos (4.9). adensar a investigação de subsuperfície, com
Os parâmetros e e ~ não são constantes a utilização de sondagens rotativas e geofí-
para um mesmo maciço rochoso, pois estão sica, conforme será abordado no Cap. 6.
intimamente relacionados com o estado As cargas impostas às ombreiras são aque-
de tensões a que esse maciço está sujeito. las indicadas nas Figs. 4.12c e 4.12e. Para
Ainda assim, são relacionados valores as cargas resultantes do peso da barragem,
médios para tais parâmetros na Tab. 4.7, indicadas na primeira figura, os efeitos em
para diversos tipos de rochas. uma eventual ruptura são os mesmos já
Nos estudos mais detalhados, devem- analisados para a base das fundações.
-se realizar ensaios de cisalhamento direto, Para as cargas hidráulicas direcionadas
preferencialmente in situ. Caso sejam rea- pelo efeito de arco, a geometria das desconti-
lizados em laboratório, as amostras devem nuidades passíveis de influir na ruptura por
ser orientadas, a fim de que as pressões apli- cisalhamento é diferente (Fig. 4.14e). Nesse
cadas no laboratório guardem as mesmas caso, descontinuidades verticais, como fra-
relações com as descontinuidades das turas, porém com direções dispostas como
cargas aplicadas pelas obras. indicado nessa figura, são extremamente
Em termos de maciço rochoso, merece perigosas para a estabilidade do maciço
atenção especial o caso de calcários, uma rochoso, que poderá formar cunhas com
deslocamentos no plano horizontal, as
quais poderão levar à ruptura da barragem.
TAB. 4.7 Valores de coesão e ângulo de
atrito para diversos tipos de Assim, constitui objeto das investigações
rochas detalhadas o arranjo das descontinuidades
Coesão - e Ângulo de do maciço rochoso ao longo das ombreiras,
Rocha
(kgf/cm 2 ) atrito - ~ (º)
para o caso de uma barragem em arco.
Granito 140 - 500 45 - 60
A resistência do maciço isento de des-
Dolerito 250 - 600 55 - 60
continuidades nessas direções também
Basalto 200 - 600 50 - 55
deve ser investigada, no caso em que são
Arenito 80 - 400 35 - 50
esperadas menores resistências da própria
Folhelho 30 - 300 15 - 30
rocha, como em arenitos, calcários não
Calcário 100 - 500 35 - 50
200 - 600 50 - 60
metamorfizados etc. É que, em geral, a des-
Quartzito
Mármore 150 - 300 35 - 50
compressão por erosão induz tensões de
Fonte: Farmer (1968). tração ao longo das encostas, o que favorece
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 87

a redução da resistência da rocha e pode lito considerado desde a rocha alterada em


:avorecer o aparecimento de rupturas ao seus planos de descontinuidade deve ser
ngo das direções indicadas na Fig. 4 .14e, encarado como um dos piores materiais
ao ser o maciço comprimido com tensões em termos de resistência ao cisalhamento,
e baixo ângulo com a encosta, como são merecendo análises cuidadosas de sua re-
aquelas induzidas pela água. sistência até para barragens de material
solto de maior peso, como as barragens de
• Estabilidade das fundações em sa- enrocamento, mormente se tiverem grande
prólito altura. A única vantagem desse material é
Os casos até agora abordados consi- propiciar, com certa facilidade, a coleta de
deraram o solo maduro e a rocha sã, com amostras indeformadas para que se possa
seus problemas específicos e diversificados . avaliar em laboratório a real influência de
Ocorre, todavia, uma grande variação de suas descontinuidades sobre a resistência
situações entre a rocha sã e o solo maduro, ao cisalhamento.
em função da progressiva atuação da
4.2.3 Estanqueidade
intemperização. Essa variedade de situ-
ações será incorporada em um só pacote, A propriedade de estanqueidade de um
correspondente ao saprólito, conforme in- meio qualquer relaciona-se com o impedi-
dicado na Fig. 3.2. mento da percolação da água através dele.
A intemperização química do maciço No caso de barragens, a percolação da água
rochoso reduz todas as suas resistências armazenada pode ocorrer através do corpo
pela tendência em transformar minerais da barragem ou pelas suas fundações.
resistentes como o feldspato em argilas de Assim, considera-se uma barragem estan-
baixa resistência. O efeito pernicioso dessa que quando não ocorre percolação de água
intemperização torna-se mais grave por de montante para jusante, quer pelo seu
iniciar-se ao longo dos planos de descontinui- corpo, quer pela sua fundação.
dade, os quais, normalmente, já constituem Evidentemente, é impossível cons-
planos de menor resistência do maciço truir uma barragem totalmente estanque,
rochoso. Assim, um gnaisse cuja xistosi- onde a percolação da água seja efetiva-
dade mergulha para montante com ângulo mente nula, pois os custos para obliterar
em torno de 30° constitui uma fundação as minúsculas passagens da água seriam
altamente instável caso ocorram intemperi- incompatíveis com os efeitos esperados
zações ao longo de algum desses planos. para tal estanqueidade. Assim, busca-se, na
O saprólito bastante desenvolvido pode estanqueidade parcial de uma barragem,
·á apresentar características de um solo; to- reduzir a percolação a níveis aceitáveis em
avia, a presença de planos reliquiares de função da segurança da obra e do objetivo
descontinuidade do maciço rochoso poderá para o qual foi projetada. A percolação além
induzir orientações preferenciais onde a desses níveis será considerada excessiva e
resistência ao cisalhamento será menor pode ser responsável por um ou mais dos
que a do próprio solo. Em resumo, o sapró- seguintes prejuízos à obra:
88 1 Geologia de Barragens

• erosão interna da barragem ou das critos no item 7.1.lb. Evidentemente, para


fundações, levando à ruptura da obra; realizar tais ensaios, a forma mais prática e
• fugas excessivas de água do reser- econômica será aproveitar todas as sonda-
vatório, que comprometam o volume gens executadas, sejam elas a percussão ou
armazenado em barragens para abas- rotativas, pois quanto maior for o número
tecimento, ou a altura do nível do de ensaios, mais representativa será a média
reservatório, para hidrelétricas e barra- obtida para o valor da permeabilidade,
gens de lazer; além de ser possível identificar eventuais
• subpressões elevadas na base da bar- anomalias nesse parâmetro hidráulico,
ragem, comprometendo a estabilidade em consequência das heterogeneidades do
da obra, no caso de barragem de con- meio granular.
creto. Caracterizada a permeabilidade média,
pode-se calcular o volume de água perco-
A percolação através do corpo da bar- lada num meio em um intervalo de tempo
ragem ou no contato obra/fundação é um qualquer (dia, mês, ano etc.). Para isso, é
problema puramente construtivo e, por- necessário construir uma rede de fluxo que
tanto, não será abordado no presente livro. represente a distribuição da água na base
A percolação através das fundações admite da barragem, ou seja, no trecho da funda-
duas grandes divisões, em função das ca- ção constituído por solo. Essa rede de fluxo
racterísticas dessa fundação: percolação é obtida pelo traçado de duas famílias de
em meios porosos e percolação em meios linhas contidas em um mesmo plano e que
fissurados. são denominadas linhas de fluxo e linhas
equipotenciais (Fig. 4.15).
a) Percolação em meios porosos
As linhas de fluxo representam o cami-
Os meios porosos em geologia são aque- nho teórico que a água percorre quando
les constituídos por solos inconsistentes se locomove de montante para jusante ao
ou por rochas sedimentares granulares longo de uma fundação de barragem. As
não cimentadas, como conglomerado, are- linhas equipotenciais são linhas que ligam
nito etc. Nesses meios, embora possam pontos de mesmo potencial hidráulico no
ocorrer anisotropias no parâmetro da interior de uma rede de fluxo. O potencial
permeabilidade, segundo a horizontal e a hidráulico em um ponto qualquer da rede
vertical, existem maiores aproximações de fluxo é dado pela equação de Bernouilli:
com a homogeneidade do meio e, para efei-
u v2
tos de percolação, este pode ser considerado h=- + z + - (4.10)
Ya 2g
contínuo. Assim, é possível não apenas de-
terminar a permeabilidade média desse onde:
meio, mas também estimar o fluxo de água h - potencial hidráulico em um ponto da
que poderá passar num determinado tempo. rede;
Pode-se obter a permeabilidade por u - pressão neutra;
qualquer tipo de ensaio in situ entre os des- Ya - peso específico da água;
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 89

z - elevação do ponto em relação a um Como, na prática, os problemas de fluxo


'vel de referência; em meios porosos podem ser resolvidos em
~ - velocidade da água no ponto conside- duas dimensões, considera-se a terceira di-
.,.ado; mensão com o valor unitário.
- aceleração da gravidade. É necessário observar os seguintes cri-
térios no traçado de uma rede de fluxo:
Como a velocidade da água nos meios • o número de fluxos não deve ser ex-
_ orosos é muito pequena, o último termo cessivo (entre 3 e S);
a Eq. (4.10) pode ser desprezado, ficando: • as equipotenciais devem fazer ân-
gulos aproximadamente retos com as
h=~+z (4.11) linhas de fluxo;
Ya
• a distância entre equipotenciais deve
Na Fig. 4.15, o potencial hidráulico no ser tal que a figura geométrica formada
ponto A é representado pela soma de z + z'. por duas linhas de fluxo e duas equipo-
A pressão neutra u que atua no ponto A tenciais se aproxime de um quadrado,
é dada por: ou seja, L = b na Fig. 4.15.
u = z' ya (4.12)
e: O número de canais de fluxo é denomi-
z'=~ e h=~+z c.q.d (4.13) nado Nf.
Ya Ya
O número de equipotenciais é denomi-
Duas linhas equipotenciais consecuti- nado Neq.
·as de fluxo formam um canal, conforme O número de queda de potencial é deno-
m ostrado no exemplo da Fig. 4.15. A rigor, minado Nq:
seriam necessárias quatro linhas para ca-
Nq = Neq - 1
racterizar tridimensionalmente um canal.

H
H
Última equipotencial

Linha equipot encial Linha de flu xo Canal de flu xo Nível de referência

FIG. 4.15 Rede de flu xo sob uma barragem


90 1 Geologia de Barragens

No exemplo da Fig. 4.15, temos: Nf = 4; ôh


Q=k ·--bd
Neq = 14; e Nq = 13. L (4.18)
Pela Lei de Darcy:
Q = kiA (4.14) Se considerarmos a vazão correspon-
onde: dente à descarga no canal que tem uma
Q - vazão que passa em uma área de ex- largura unitária, temos:
tensão A;
Q b
k - coeficiente de permeabilidade; -=q =k-ôh · - (4.19)
d L
i - gradiente hidráulico.
O gradiente hidráulico entre dois pontos Como um dos critérios da construção da
de uma rede de fluxo é dado pela relação rede de fluxo é que b = L, tem-se:
entre a diferença de carga hidrostática q = Mh (4.20)
entre esses pontos e a distância entre eles:
Essa é a vazão em um canal de fluxo.
ôh
i=- (4.15) A vazão total que flui através de Nf
L
canais de fluxo em uma rede será:
Para determinar 6h entre duas linhas
Qt = qNf = Mh-Nf
equipotenciais de uma rede, divide-se a di-
ferença entre as equipotenciais limites da Como:
rede (ht) pelo número de queda de poten-
cial, ou seja:
Nf (4.21)
Qt =-·k·ht
Nq
(4.16)
A seguir serão arbitrados alguns dados
Na Fig. 4.15, a primeira equipotencial para a barragem exemplificada na Fig. 4.15
tem a carga H e a última, carga nula, ou, por e calculada a vazão que passa por suas fun-
outro raciocínio, a primeira tem o poten- dações no período de um ano.
cial H + Z e a última, Z. Subtraindo as duas, • Altura do nível d' água: 45 m;
tem-se uma diferença de carga igual a H. • Extensão da barragem: 100 m;
• Permeabilidade do solo da fundação:
ôh=_!i_ (4.17) 5 x 10- 5 m /s.
13
4.5.10-5 -45-100 3
A área considerada para a percolação Qt = - - - - - - = O 069m I s=
13 '
da água com descarga Q é transversal ao
2.183.261,54 m 3 / ano
plano da rede indicada na Fig. 4.15, ou seja,
corresponde a b.d, sendo d a largura do No caso de haver uma permeabilidade na
canal de fluxo, ou a terceira dimensão, con- horizontal (kx) diferente da permeabilidade
siderada unitária na presente exposição. no sentido vertical (ky), deve-se mudar a
Assim, a Lei de Darcy pode ser escrita da escala horizontal de todo o projeto antes d
eguinte forma : construção da rede de fluxo . Para tal, toda
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 91

as medidas horizontais (eixo X) devem ser O gradiente hidráulico iBc será, então:
mudadas de x para xt, de acordo com a se-
guinte equação: . 25,4-21,94 O 692
lBC = 5 = '

(4.22)
b) Percolação em meio fissurado
O valor de k a entrar na Eq. (4.21) pas- Nos maciços rochosos constituídos por
sará a ser k', a saber: rochas ígneas e metamórficas e algumas
sedimentares, os interstícios entre os mi-
k' = .jky · kx (4-23) nerais correspondem aos poros das rochas
sedimentares granulares e dos solos incon-
A rede de fluxo possibilita, ainda, de- sistentes que formam os meios porosos já
terminar as pressões neutras em qualquer discutidos. Ocorre que tais interstícios são
ponto da fundação, bem como o gradiente tão fechados que a porosidade denominada
h idráulico entre dois pontos. intersticial é insignificante, sendo, por-
tanto, praticamente nula a permeabilidade
• Cálculo da pressão neutra
ao longo desses interstícios (geralmente da
Da Eq. (4.11) e considerando Ya = 1, tem-
ordem de 10- 10 cm/s). Assim, em hidráulica
-se:
de rochas admite-se que o fissuramento
h =u + z (4.24)
representa um papel preponderante, pois
oferece caminhos privilegiados ao fluxo das
u =h - z (4.25)
águas subterrâneas.
Exemplo: O termo fissura, que caracteriza o meio
fissurado , é considerado no sentido amplo,
Com base na Fig. 4.15, em que z = 15 m,
englobando todas as descontinuidades
calcular a pressão neutra no ponto B, que está
abertas do maciço rochoso, independen-
a uma altura de 8 m do nível de referência.
temente de sua gênese geológica. Inclui,
O potencial hidráulico da equipotencial
assim, as juntas de estratificação, de xis-
em que se situa o ponto B é:
tosidade e demais planos de fraturas e
h = (45 + 15) -10x3,46 falhas. Por meio de um cálculo muito
simples, pode-se concluir que algumas
h = 25,4m = 2,54kg/cm 2 fissuras, mesmo muito finas, propiciam
u = 25,4 - 8 = 17, 4m = 1,74kg / cm 2 permeabilidade muito elevada ao maciço
rochoso, quando comparada àquela propi-
• Cálculo do gradiente hidráulico ciada pela matriz rochosa, ou resultante da
No mesmo exemplo da Fig. 4.15, calcular porosidade intersticial.
o gradiente hidráulico entre os pontos B e C. Em consequência, os fenômenos de
O potencial hidráulico em B, como já percolação nos maciços rochosos são ca-
visto anteriormente, é 25,4 m, enquanto racterizados por anisotropias hidráulicas
em C, esse potencial será de 21,94 m. resultantes de uma ou mais orientações
92 1 Geologia de Barragens

privilegiadas do fluxo das águas percoladas qual não será desenvolvido no presente
através das fissuras . A orientação desses texto. O importante é definir o significado
planos de anisotropia nunca é arbitrária da permeabilidade fissural e identificar as
ou aleatória, mas obedece a padrões rigida- famílias de fissuras que realmente sejam
mente controlados pela gênese geológica. mais significativas para a estanqueidade de
Em função dessa gênese, tais planos podem uma fundação de barragem.
ser agrupados em uma ou mais famílias de O escoamento através de uma fissura
fissuras planas paralelas. obedece à Lei de Darcy, definida por:
A densidade desse fissuramento é funda-
mental na caracterização da condutividade (4.26)
hidráulica de um meio rochoso. Como se
pode observar na Fig. 4.16a, se a densidade onde:
do fissuramento é suficiente para indivi- v - velocidade média de escoamento;
dualizar blocos centimétricos, o meio pode kf - permeabilidade ou condutividade hi-
ser considerado hidraulicamente contínuo, a dráulica da fissura;
exemplo de um meio poroso, já tratado no Jf - projeção ortogonal do gradiente hi-
item anterior. Caso essa densidade indi- dráulico.
vidualize blocos decimétricos a métricos,
como mostrado na Fig. 4.16b, o meio já pode A condutividade hidráulica de uma fis-
ser considerado hidraulicamente descontínuo, sura é definida pela expressão:
sendo o fluxo comandado pela interação
tridimensional de todos os sistemas de fis- S·g•e 2 (4.27)
kt=---
suras. No caso mostrado na Fig. 4.16c, as 12 -u -C
famílias de fissuras possuem espaçamen- onde:
tos decamétricos e, nesse caso, além de kf- condutividade hidráulica da fissura;
ser o meio hidraulicamente descontínuo, S - grau de abertura da fissura;
devem-se tratar as diferentes famílias iso- g - aceleração da gravidade;
ladamente e verificar posteriormente a e - abertura da fissura;
influência entre os diferentes sistemas. u - viscosidade cinemática do fluido;
O caso b é o mais comum nos maciços C - coeficiente relacionado com a rugosi-
rochosos estudados como fundação de dade relativa da fissura.
barragens. Nesse modelo geo-hidrológico,
é possível analisar a distribuição do po- Nas condições mais comuns de rugo-
tencial hidráulico definido na Eq. (4.11), sidade e temperatura, a relação g/12 uC
a partir de um modelo matemático que aproxima-se da unidade. Considera-se,
integre as condições de fluxo nas varia- assim, que apenas dois elementos exercem
das direções impostas pelas diferentes grande influência na permeabilidade da fis-
famílias de fissuras . Esse estudo, além de sura: Se e.
complexo, encontra pouca aplicabilidade O grau de abertura de uma fissura é im-
no projeto de uma barragem, motivo pelo portante, pois representa a relação entre a
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 93

0
/ .

/ /
/
/

0
Área fechada (SF)

Sr= SA + SF

5= ~
Sr
Família
de fissuras

0 1 - Sistema de fissura k11

2 - Sistema de fissura k12


- Matriz rochosa de k

2
3

FIG. 4 .16 Meio f,.ssurado: (a), (b) e (e) densidade do f,.ssuramento; (d) áreas abertas e fechadas de uma f,.ssura;
e) permeabilidade de diferentes sistemas de f,.ssuras
Fonte: Louis (1974).

area aberta de uma fissura e sua área total, e com 1,0 mm de abertura, para a mesma fre-
conforme mostrado na Fig. 4.16d. Embora quência, corresponde ao valor de 10-1 cm/s.
-eja muito difícil definir essa relação na prá- Na prática, esses valores são muito menores,
.ca, pode-se atestar a sua influência quando o que mostra que a abertura da fissura não
se compara o coeficiente de permeabilidade somente pode variar muito, mas também se
obtido em ensaios in situ com os resultados torna nula em vários trechos.
teóricos esperados para a abertura da fissura A importância da abertura é óbvia,
conhecida. Assim é que, uma fissura por já que o coeficiente de permeabilidade
metro, de 0,1 mm de abertura, corresponde da fissura é diretamente proporcional ao
a uma condutividade da ordem de 10- 4 cm/s, seu quadrado.
94 1 Geologia de Barragens

Quando se tem um sistema de fissu- tectônicos que atuaram na região e as es-


ras como o indicado na Fig. 4.16c, pode-se truturas que tais processos impuseram ao
calcular a condutividade hidráulica do maciço rochoso. Deve-se também analisar
maciço rochoso a partir da condutividade a influência dos fatores exogenéticos que
das fissuras elementares de acordo com atuaram no modelamento do relevo, pois
a expressão: muitas das fissuras presentes nos maciços
e
rochosos resultam da descompressão cau-
K=- ·kf +k (4 .28) sada pela erosão. Fissuras resultantes do
b rn
resfriamento do magma em rochas efusi-
onde: vas nada têm a ver com esforços tectônicos
k - coeficiente de permeabilidade ou con- ou processos exogenéticos, mas podem
dutividade hidráulica do meio; apresentar aberturas significativas.
e - abertura média das fissuras; Porém, como a maioria das fissuras é
b - espaçamento médio entre fissuras; ligada a processos diastróficos da crosta
kf - coeficiente de permeabilidade da fis- terrestre, a primeira análise para caracteri-
sura; zar sua gênese passa pelo comportamento
km - coeficiente de permeabilidade da de deformação do maciço rochoso ao
matriz rochosa. sofrer esforços compressivos. Quando as
rochas são comprimidas, geralmente por
Para calcular a condutividade hidráulica pressões tectônicas tangenciais à crosta,
do sistema da fissuras nº 1 da Fig. 4.16e, os podem ocorrer fraturas por cisalhamento
ensaios in situ deveriam ser feitos em son- e por tração, dependendo da profundi-
dagens executadas perpendicularmente a dade em que ocorrer o diastrofismo e das
tal sistema, o mesmo ocorrendo para o sis- próprias características de resistência do
tema de fissuras nº 2. maciço comprimido.
Na prática, km é quase sempre despre- As fraturas de cisalhamento fazem um
zível, dominando, assim, a condutividade ângulo máximo de 30° com o esforço com-
fissura!. pressivo, ao passo que as fraturas de tração
As Eqs. (4.27) e (4.28) mostram ser de são paralelas ao esforço compressivo ou
fundamental importância no estudo da perpendiculares ao esforço trativo.
estanqueidade de uma fundação de barra- Pela própria gênese do fraturamento,
gem, para a caracterização das famílias de as fraturas de cisalhamento são fechadas ,
fraturas mais abertas, pois será segundo pois resultam do deslizamento de um bloco
esses planos que deverá ocorrer a maior sobre o outro sob efeito compressivo. Por
percolação das águas infiltradas. sua vez, as fraturas de tração são geral-
Como o fissuramento dos maciços ro- mente abertas, pois os esforços trativos
chosos está sempre relacionado a um tendem a separar os blocos fraturados .
processo de gênese da própria rocha, é Assim, deve-se iniciar toda a pesquisa de
de fundamental importância estabele- percolação em meios fissurados com a ca-
cer todas as relações entre os processos racterização dos vários tipos de fraturas de
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 95

~ação que podem estar presentes em uma comprimidos orogeneticamente, são alça-
fundação de barragem. dos à superfície da crosta por movimentos
A Fig. 4 .17 mostra as principais situações epirogenéticos. Como o raio externo da
em que pode estar presente uma fratura crosta é cada vez maior que o interno, ocor-
de tração. Em 4.17a é mostrado o esquema rem folgas laterais no bloco soerguido, com
eórico da ruptura por tração gerada por a consequente descompressão das tensões
compressão uniaxial. No círculo de Mohr, acumuladas e segundo a mesma direção, ou
constata-se que não houve mobilização de seja, aproximadamente horizontal (Price,
ensões cisalhantes na ruptura, que ocorreu 1966). Gerada a tração, o bloco se rompe so-
por ter a tensão trativa gerada superado a frendo colapso (fraturas e falhas) pelo efeito
resistência à tração. Em 4 .17b apresenta- da gravidade, que passará a funcionar como a
-se a relação entre blocos que, depois de tensão máxima (compressiva) nessa ruptura.

Fraturas de tração

Fraturas de descompressão (alívio de tensões)

~ Descompressão horizontal 0 Descompressão vertical (sheet joint)

Fraturas associadas a dobramentos


Planos de ruptura por tração

~ Juntas de contração
b
A.
f

FIG. 4 .17 Descontinuidades potencialmente abertas


96 1 Geologia de Barragens

A Fig. 4.17c refere-se ao alívio de tensões de estanqueidade para o eixo I e não ter
pelo efeito da erosão, ocorrida aproxima- a menor importância para o eixo II. Isso
damente na horizontal, embora possam porque, a fratura aberta, segundo o este-
tais fissuras ocorrer subverticalmente nas reograma dessa mesma figura (B), está na
encostas abruptas causadas pela erosão direção NW-SE, paralela à direção do fluxo
fluvial. Essas fraturas são também cha- no caso da barragem I, possibilitando uma
madas de fraturas de relaxação do maciço elevada percolação da água armazenada
e são responsáveis pelo aumento de sua através das fundações. No eixo II, por sua
intemperização por propiciarem o maior vez, essa fratura aberta encontra-se para-
afluxo das águas pluviais infiltradas. As lela ao eixo, impedindo qualquer fluxo de
fraturas de tração mostradas em 4 .17d são montante para jusante.
consequentes do mesmo esquema de rup- A permeabilidade dos maciços rochosos,
tura mostrado em a, porém ocorrente em também denominada de condutividade
estratos dobrados. O plano ac nessa figura hidráulica, pode ser classificada em dife-
corresponde à tração primária, relacionada rentes graus em função da variação de seus
com o esforço compressivo crc, ao passo que valores (ver Fig. 4.16).
o plano bc corresponde à tração secundá- No Cap. 8 será analisada a necessidade
ria, relacionada com os esforços de tração de melhorar as características de estan-
crt, gerados na parte externa da dobra pelo queidade de um maciço rochoso.
efeito do arqueamento. Finalmente, em
4 .2.4 Classificação geomecânica
4 .17e é apresentada a fissura de contração
das fundações de uma
resultante do resfriamento do magma.
barragem
Caracterizada a fratura de tração em
uma fundação, deve-se estabelecer o plano Ao longo do tempo, a mecânica das rochas
de sondagens para interceptar o maior tem se desenvolvido predominantemente
número dessas fraturas. O procedimento em função das obras subterrâneas, notada-
do ensaio de permeabilidade ao longo das mente no campo da mineração, onde grandes
sondagens em maciços rochosos será deta- nomes se destacaram por suas classificações
lhado no item 7.1.2. geomecânicas dos maciços rochosos, como
Como no meio fissurado a percolação Laufer, Bieniawski e Laubscher. Eviden-
deverá ocorrer prioritariamente ao longo temente, tais classificações foram muito
de planos de descontinuidade abertos, é utilizadas em outros tipos de obras subter-
muito importante observar a relação entre râneas, como túneis viários, dutos e galerias
as direções das descontinuidades abertas para os mais variados objetivos.
e a direção do fluxo natural das águas de Uma obra de barramento, entendida
montante para jusante na base de uma bar- como um todo, é das mais complexas em
ragem. Dessa forma, na Fig. 4.18, a mesma relação à participação do maciço rochoso.
permeabilidade encontrada em furos de Isso porque, além de funcionar como fun-
sondagens executados nos eixos I e II em dação da barragem, esse maciço pode ser
A pode representar um grande problema solicitado de várias outras formas, como
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 97

an relação à estabilidade de taludes, canais A natureza do meio rochoso é o principal


túneis para os mais variados fins (adução, fator classificatório da fundação, pois deverá
s.esvio, vertedouro etc.); obras subterrâ- caracterizar as propriedades geomecâni-
eas, como algumas hidrelétricas (Paulo cas envolvidas em uma obra de barragem
Afonso, p.ex.); materiais de construção; para um meio descontínuo, onde influem
acia de dissipação etc. não apenas a tipificação petrográfica, mas
Assim, é quase inconcebível uma clas- principalmente as suas descontinuidades
sificação genérica e abrangente do maciço (estratificação, xistosidade, fraturas, falhas,
rochoso para todas as finalidades que dobras etc.) e o seu estágio de alteração.
contemplem um projeto completo de uma Os principais aspectos envolvidos na
barragem, daí a dificuldade em encontrar caracterização de um maciço rochoso que
classificações específicas para esse fim que funciona como fundação de barragem são
evem em conta os diferentes estágios de a deformabilidade e a estabilidade, entre as
conhecimento ou abordem todas as impli- propriedades geomecânicas, e a estanquei-
cações geológico-geotécnicas relacionadas dade, na área da hidrogeotecnia.
com esse tipo de obra. Como, na maior
parte dos casos, os maiores problemas de • Deformabilidade
uma fundação de barragem ocorrem no A deformabilidade de um maciço rochoso
maciço rochoso, o autor apresentou um aborda as características de deformação
modelo de classificação de maciços rocho- que uma fundação de barragem poderá
sos específico para barragens (Costa, 1999), sofrer ao receber uma carga imposta pela
o qual será discutido a seguir. obra. Essa deformação pode levar ou não
à ruptura do maciço rochoso, conforme
a) Critérios de classificação
já descrito em 4 .2.1. Evidentemente, tal
Em qualquer barragem a projetar, inde- deformação poderá implicar recalques da
pendentemente do seu tipo, porte, objetivo, obra (geralmente diferenciais) que levem à
sua condição topográfica e natureza geoló- sua ruptura, o que não significa que as fun-
gica, a fundação deverá ser caracterizada e dações também sofreram ruptura.
classificada em função de suas proprieda- A deformabilidade aqui considerada
des geomecânicas e capacidade de reter o é uma propriedade intrínseca da rocha,
fluxo de água. e mesmo quando atinge a ruptura, não
No caso dos maciços rochosos, a qualifi- seriam considerados os efeitos dos planos
cação das fundações das barragens deverá de descontinuidade, já que tais influências
ser abordada como uma função da natu- serão abordadas na análise da estabilidade
reza do meio rochoso, conhecida em nível de do maciço rochoso. Com relação à de-
w.bilidade do projeto, por se constituir na formação sem ruptura, também é pouco
etapa mais decisiva e importante de toda a significativa a influência das desconti-
obra, pois é nessa fase que se deve definir a nuidades, pois as maiores deformações
interferência das condicionantes geológico- causadas pelo fechamento dos planos de
-geotécnicas no projeto e nos custos da obra. descontinuidade ocorrem ao longo do início
98 1 Geologi a de Barragens

da obra, quando as cargas ainda são pouco ragem corresponde à resistência imposta
significativas. Quando a barragem atinge pelo maciço rochoso que integra tal funda-
alturas maiores, com consequentes cargas ção aos fatores que induzem à ruptura.
mais elevadas, já se encontram fechados No item 4 .2.2, definiu-se que essa resis-
todos esses planos, e a deformação passa a tência depende dos parâmetros e (coesão)
ser comandada pelos parâmetros geomecâ- e <p (ângulo de atrito interno) do maciço
nicos inerentes à própria rocha. rochoso. Esses parâmetros são muito reduzi-
Os principais parâmetros que m- dos ao longo dos planos de descontinuidade
fluem na deformabilidade são: módulo de desse maciço, daí ser muito importante
deformabilidade, resistência à compressão uma perfeita caracterização dessas desconti-
e estado de alteração da rocha. nuidades no estudo da estabilidade de uma
O módulo de deformabilidade, também fundação de barragem. À medida que a
conhecido como módulo de elasticidade, rocha vai se alterando, também caem muito
módulo de Young ou módulo E, é definido pela os valores desses parâmetros, razão pela
relação entre a carga aplicada pela obra (crz) qual constitui importante parâmetro para
e a deformação sofrida pela rocha no avaliação da estabilidade das fundações de
mesmo sentido da aplicação da carga (sz). uma barragem a caracterização do estado de
Esse módulo varia proporcionalmente à alteração do maciço rochoso, principalmente
participação volumétrica de cada mineral ao longo dos planos de descontinuidade.
e à sua variada resistência à decomposição. Nesses planos é mais acentuada a alteração
A resistência à compressão deveria ser da rocha, por causa da percolação da água ao
definida pelo ensaio triaxial, que reconsti- longo deles, pois, como já citado, possuem
tuiria as condições reais de campo; todavia, menor resistência ao cisalhamento, inde-
esse ensaio somente é recomendado na pendentemente de estar alterada a rocha em
etapa de projeto básico, razão pela qual seu entorno. Finalmente, a resistência à com-
será considerada a resistência à compres- pressão da rocha também influi na ruptura e,
são simples para dar uma ideia a favor da consequentemente, na estabilidade das fun-
segurança das condições de ruptura. Esta dações de uma barragem, pelo que também
resultaria, assim, da relação entre a carga deve ser considerada nessa análise.
aplicada na ruptura (F em kgf) e a seção da
amostra (A em cm 2). • Estanqueidade
O estado de alteração da rocha é fun- A propriedade de estanqueidade de uma
damental, pois à medida que os vários fundação de barragem relaciona-se com o
minerais vão se alterando, a resistência à impedimento da percolação da água através
compressão vai diminuindo, atingindo os dela. Evidentemente, não se pode esperar
valores mínimos quando a rocha chega à que uma fundação seja totalmente estan-
condição de saprólito. que, pois os custos para tornar o maciço
rochoso impermeável seriam incompatíveis
• Estabilidade com os efeitos esperados para tal estanquei-
A estabilidade de uma fundação de bar- dade. Assim, com a estanqueidade parcial
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 99

-.: u m maciço rochoso, busca-se reduzir a rado. Trata-se de um importante critério


colação a níveis aceitáveis em função da caracterizador da estanqueidade e, por-
-\!Urança da obra e do objetivo para o qual tanto, imprescindível à classificação de um
bra foi projetada. maciço rochoso que atua como fundação de
Uma vez que a permeabilidade intersti- uma barragem. É, contudo, imprescindível
:ial na maioria das rochas que constituem analisar as perdas d' água juntamente com
=- fundações de uma barragem (rochas a caracterização estrutural, conforme mos-
~ eas e metamórficas) é praticamente trado na Fig. 4.18.
- ula (da ordem de 10- 10 cm/s), pode-se
b) Modelo de classificação
:oncluir que os planos de descontinuidade
;:onstituem-se no principal veículo de per- Definidos os critérios mais importantes
:olação da água nos maciços rochosos. na caracterização dos principais aspectos
:=>enominando genericamente de fraturas envolvidos na fundação de uma barragem,
_;_ maioria dos planos por onde percolam restaria graduar os diferentes parâmetros
as águas subterraneamente, pode-se defi- selecionados, de sorte a zonear graus de
::.ir como parâmetro mais importante para aplicação de cada um deles.
=Ssa propriedade hidrogeotécnica a perfeita O modelo escolhido foi inspirado na
::aracterização estrutural do maciço rochoso. classificação de Bieniawski (ver Tab. 5.1),
A condutividade hidráulica, que reflete a que atribui índices para ponderar as
uantidade de água na unidade de tempo cinco classes em que foram divididos os
ue passa em um metro linear desses parâmetros selecionados. O somatório
?lanos de descontinuidade por unidade de desses índices permite zonear cinco classes
? ressão hidráulica, é o parâmetro que mede para o enquadramento do maciço rochoso
a permeabilidade do maciço rochoso fratu- para obras subterrâneas.

N w E

t
o s

FIG. 4.18 Relações entre as direções de descontinuidades abertas e o sentido de f/.uxo das águas sob uma
barragem: (a) mapa com indicação de dois eixos barráveis; (b) estereograma de fraturas dessa área
100 1 Geologia de Barragens

Embora o princípio de classificação seja é fundamental na análise de estabilidade.


o mesmo, os parâmetros são diferentes, em Porém, mais importante que isso é a in-
função dos aspectos envolvidos na funda- tensidade e o sentido de inclinação desses
ção de uma barragem. A Tab. 4.8 mostra a planos de descontinuidade, o que pode ser
classificação geral dos maciços rochosos em bem evidenciado no Quadro 4.3.
função dos critérios adotados. O atrito e o embricamento provocado
O módulo de deformabilidade - E (GPa) foi pelas irregularidades ao longo dos planos de
definido em 4.2.1 e as formas de execução descontinuidade, principalmente de fratu-
dos ensaios que permitem sua definição ras, influem decisivamente na resistência
serão descritas no Cap. 7. ao cisalhamento. A abertura desses planos
A resistência à compressão uniaxial - Se e seu material de preenchimento são impor-
(MPa) foi definida em 4.2.2 e as formas de tantes fatores na análise dessa resistência.
sua determinação também serão descritas O Quadro 4.4 mostra esse relacionamento
no Cap. 7. Os graus de alteração da rocha e comprova a necessidade de uma acurada
(D 1 a D 5 ) devem ser definidos em função descrição de todas as descontinuidades
das características apresentadas por cada existentes em um maciço rochoso.
um desses estágios de alteração, conforme A influência do posicionamento das des-
discriminado no Quadro 4.2. A presença continuidades analisadas em cada sistema
de um ou mais sistemas de descontinuidades sobre a estabilidade da obra só pode ser bem

TAB. 4.8 Classificação geral dos maciços rochosos


Aspecto envolvido Parâmetro Variação de índices

!
Deformabilidade
Módulo E (GPa)
> 200
10
100 - 200
8
50 - 100
6
10 - 50
4
<10
2
Resist. à compr. > 100 50 - 100 20 - 50 5 - 20 <5
! uniaxial (MPa)
Alteração da rocha
10
D1
8
D2
6
D3
4
D4
2
D5
t (Quadro 4.2) 16 12 8 4 2
Sistemas de descont. A B c D E
(Quadro 4.3) 8 6 4 2 o
Estabilidade Relação de direções a b c d e
(Tab. 4.9) 8 6 4 2 o
Condição da a' b' c' d' e'
descont. (Quadro
44)
8 6 4 2 o
t Espaçam. Entre
descont. (m)
> 3,0
10
1,0 - 3,0
8
0,3 - 1,0
6
0,05 - 0,3
4
< 0,05
2
Condutividade H1 H2 H3 H4 H5
Estanqueidade
hidráulica (Tab. 4.10) 15 10 7 4 o
a b c d e
t Relação de direções
(Tab. 4.9) 15 10 7 4 o
Somatório de índices 81 - 100 61 - 80 41 - 60 21 - 40 < 20
Classe do maciço rochoso 1 li Ili IV V
Descrição do maciço rochoso M. Bom Bom Reg. Ruim M. Ruim
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 101

QUADR04.2 Decomposição das rochas


Grau Denominação Características
A rocha apresenta seus minerais constituintes sem
D1 Rocha sã
decomposição. Eventualmente apresenta juntas oxidadas .
A rocha apresenta decomposição incipiente em sua matriz e
D2 Rocha pouco decomposta
ao longo dos planos de fraturas.
A rocha apresenta cerca de 1/3 de sua matriz decomposta.
D3 Rocha medianamente decomposta
A decomposição ao longo das fraturas é acentuada.
A rocha apresenta cerca de 2/ 3 de sua matriz ou de seus
D4 Rocha muito decomposta minerais totalmente decompostos . Todas as fraturas estão
decompostas .
A rocha apresenta todo o seu corpo totalmente
D5 Rocha extremamente decomposta
decomposto.

compreendida quando considerada a relação esse mesmo plano dificulta a percolação da


entre as direções desses planos e a direção do água, mesmo se estiver aberto, tornando-
eixo barrável. A Tab. 4.9 mostra a influência -se um fator favorável à estanqueidade.
dessa relação não apenas sobre a estabili- Quanto menor o espaçamento entre os
dade, mas também sobre a estanqueidade, planos de descontinuidade, maior a interco-
e pode-se observar que essa influência é municabilidade entre eles, configurando
otalmente oposta para essas duas pro- blocos isolados que reduzem a sua resis-
priedades do maciço rochoso. Enquanto tência ao cisalhamento .
um plano de descontinuidade torna-se Em termos de estanqueidade, a maior
perigoso para a estabilidade quando se intercomunicabilidade entre os planos
aproxima da mesma direção da barragem, abertos, quando é reduzido o seu espa-

QUADR04.3 Sistemas de descontinuidades


Classe Características Denominação
A Um sistema dos tipos : V ou MF Muito favorável
Um sistema dos tipos: JF ou Mf
B Favorável
Dois sistemas dos tipos: H/M F, H/Mf, V/JF, MF/JF
Dois sistemas dos tipos: H/JF, HIV, JF/Jf, V/Jf, V/MF, MF/Mf
e Regular
Três sistemas dos tipos: H/JF/ Jf, H/V/JF, V/ JF/Jf
Um sistema dos tipos: H ou Jf
D Dois sistemas dos tipos: H/Jf ou V/Mf Desfavorável
Três sistemas dos tipos: H/V/Jf, H/V/M F, H/M F/Mf, V/M F/ JF
Dois sistemas dos tipos: Jf/MF ou Mf/Jf
E Três sistemas dos tipos não incluídos nas classes C e D Muito desfavorável
Mais de três sistemas
Sim bologia
"1 - Horizontal
V- Vertical
JF - Mergulhando para jusante com forte ângulo (>50°)
Jf - Mergulhando para jusante com fraco ângulo (< 30°)
M F - Mergulhando para montante com forte ângulo
Mf - M ergulhan do para montante com fraco ângu lo
10 2 1 Geologia de Barragens

QUA DRO 4.4 Condições da descontinuidade


Classe Descrição da superfíci e do plano de descontinu idade
a' Superfície rugosa, descontínua, paredes resisten t es
b' Superfície levemente rugosa, separação< 1 mm, paredes resistentes
e' Superfície levemente rugosa, separação< 1 mm, paredes fracas
d' Superfícies contínuas, estriadas ou com preenchimento< 5 mm ou com abertura de 1 a 5 mm
e' Superfícies contínuas com preench imento mole > 5 mm ou com abert ura> 5 mm

TAB. 4.9 Influência entre as direções das descontinuidades e do eixo barrável com
relação à estabilidade e à estanqueidade das fundações
Ângulo entre a descontinu idade e o eixo da barragem (º)
Classe Tipo de infl uência
Com relação à estabilidade Com relação à estanqueidade
a Nula 71 - 90 O - 10
b Reduzida 51 - 70 11 - 30
e Regular 31 - 50 31 - 50
d Elevada 11 - 30 51 - 70
e Muito elevada O - 10 71 - 90

çamento, contribui decisivamente para se não fosse possível aplicar na prática tais
aumentar a permeabilidade do maciço conceitos. Na verdade, uma classificação
rochoso, chegando a conferir ao maciço ro- genérica e abrangente, que aten de a três
choso, nos casos mais extremos, a condição importantes e distintos aspectos de uma
de aquífero granular (Fig. 4.16a). fundação de barragem, serve tão somente
A condutividade hidráulica é definida para que se tenha ideia da qualidade do
pelos ensaios de perda d'água (ver Cap. 5). maciço rochoso na forma mais abrangent e.
A classificação do maciço em relação a esse Isso porque, na prát ica, é possível que um
parâmetro é apresentada na Tab. 4.10. maciço rochoso considerado bom na clas-
A classificação geral apresentada na sificação geral possa ser muito bom em
Tab. 4.8 resulta do somatório de todos os termos de deformabilidade, regular em
índices atribuídos aos diversos parâmetros termos de estabilidade e ruim em termos de
para cada uma das cinco classes em que foi estanqueidade. Nesse caso, seria necessário
dividido o maciço rochoso. concentrar as atenções apenas na estabili-
dade e na estanqueidade dessas fundações.
c) Aplicabilidade do modelo de clas-
Para avaliar separadamente a influên-
sificação do maciço rochoso para
cia dos parâmetros escolhidos nos três
barragens
aspectos enfocados, foram elaboradas as
O simples fato de classificar um maciço Tabs. 4 .11, 4.12 e 4.13, respectivamente
rochoso em função de sua finalidade e de para deformabilidade, estabilidade e
critérios eleitos como supostamente mais estanqueidade. Nas duas primeiras são re-
importantes não teria muito significado comendados diferentes tipos de barragens
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem j 103

TAB. 4.10 Condutividade hidráulica


Classe Denominação Permeabilidade cm/s Condut. hidráulica l/min.m.kg/cm 2
H1 Muito baixa k < 10-5 C.H < 0,1
H2 Baixa 10-5 < k < 5.10-5 0,1 < C.H < 0,5
H3 Média 5.10-5 < k < 5.10-4 0,5 < C.H < 5,0
H4 Alta 5.10-4 < k < 2,5.10-3 5,0 < C.H < 25,0
H5 Muito alta k > 2,5.1 0-3 C.H > 25,0

em função da classificação do maciço ro - classificação do maciço rochoso quanto à


choso, de acordo com suas características percolação da água subterrânea submetida
de deformabilidade e estabilidade. à pressão do reservatório.
O somatório de índices apresentado nas Essas tabelas são uma tentativa de nor-
Tabs. 4.11 e 4.12 deve incluir os parâmetros tear o geólogo e o engenheiro geotécnico
considerados entre as setas verticais que com relação a situações genéricas, o que não
aparecem acima e abaixo do nome de cada impede de estreitar mais o grau de conhe-
aspecto enfocado na Tab. 4.8. cimento e necessidades da obra com dados
A Tab. 4.13 traz as providências reco- melhores e confiáveis, que possam mudar
mendadas para melhorar a condição de um pouco os procedimentos recomendados
estanqueidade das fundações em função da nessas tabelas.

TAB. 4.11 Aplicação da classificação quanto à deformabilidade


Somatório de índices 26 - 36 16 - 24 < 16
Classificação do maciço Bom Regular Ruim
Concreto
Enrocam ento
Tipos de barragem recomendados Enrocamento Terra
Terra
Terra

TAB. 4.12 Aplicação da classificação quanto à estabilidade


Somatório de índices 42 - 60 26 - 40 < 26
Classificação do maciço Bom Regu lar Ruim
Concreto
Enrocamento
Tipos de barragem recomendados Enrocamento Terra
Terra
Terra

TAB. 4.13 Aplicação da classificação quanto à estanqueidade


Condutividade hidráulica H1 H2 - H3 H4- H5
Somatório de índices > 40 20 - 40 < 20
Classificação do maciço Bom Regular a ruim Ruim a péssimo
Injeção ao longo de duas Injeção ao longo de três
Providências recomendadas Nenhuma
ou três linhas ou mais linhas
5 Geotecnia das obras complementares

5.1 CA NAIS DE ADUÇÃO de fluxo, seção do canal, cota do nível da água


E RESTITUIÇ ÃO e variação de profundidade de escavação),
deve-se programar a investigação geotécnica
Em uma obra de barragem, os canais (supondo-se já conhecer a geologia de super-
. dem ser utilizados para o direcionamento fície), que pode ser baseada em sondagens
d.as águas do reservatório para diversas es- mecânicas ou com o auxílio da geofísica.
3"1..lturas, como vertedouro, tomada d'água Com os resultados das sondagens, deve-
~ túneis de desvio, ou como restituição das -se apresentar uma seção longitudinal ao
aguas para jusante, a partir da casa de força canal e algumas seções transversais sempre
ou de túneis de desvio. Com base no co- que ocorram variações, quer topográficas,
- ecimento das condicionantes geológicas, quer geológicas, que influam na defini-
.c:eotécnicas e morfológicas da área de en- ção dos problemas de estabilidade. Nessas
·orno da barragem, o geólogo deve auxiliar seções, devem ser compartimentadas as
engenheiro projetista quanto à melhor diferentes unidades geológico-geotécnicas
:xalização dos canais necessários à obra, presentes no futuro canal, conforme exem-
?rincipalmente quando essas condicionan- plo da Fig. 4.6. É sumamente importante
:es são muito diferentes nas duas margens caracterizar nessas seções e em sua análise
-=o rio. Uma vez selecionados os melhores os seguintes elementos:
ocais sob o ponto de vista de arranjo de a] contato solo/ rocha;
bras e das condicionantes naturais, devem b] contato entre diferentes classes do
·er caracterizados os problemas induzidos maciço rochoso;
. elo fluxo das águas nesses canais. Nessa c] características dos materiais no trecho
aracterização, três pontos devem ser bem submerso do canal;
efinidos: d] características dos materiais no trecho
• natureza dos materiais de escavação submetido a variação do nível d' água
(solo ou rocha); (NA);
• geometria das descontinuidades; e] características dos materiais no trecho
• estabilidade das paredes de escavação. permanentemente emerso;
f] características dos materiais na entrada
do canal;
S . 1.1 Caracterização geológ ico-
g] geometria das descontinuidades (plota-
-geotécnica
das em estereograma polar);
Conhecido o traçado previsto para o h] persistência, extensão, rugosidade e
canal e as condições de projeto (velocidade preenchimento das descontinuidades.
106 1 Geologia de Barragens

5.1.2 Condições de estabilidade o embricamento dos blocos dificulta o seu


arrancamento pelo fluxo das águas, ofe-
Os canais de adução ou de restitui- recendo boas condições de estabilidade à
ção são sempre veículos de fluxos com parede de escavação.
vazões consideráveis, razão pela qual
5 . 1.3 Modelo geomecânico
devem ser constituídos de materiais que
de escavação
ofereçam resistência à erosão. Assim, a pri-
meira consequência do estudo geológico Em função das características de es-
consiste em zonear os trechos de baixa re- tabilidade diagnosticadas no estudo
sistência à erosão e que necessariamente geológico-geotécnico, deve-se estabelecer
tenham que ficar submersos, recomen- um modelo geomecânico para as escava-
dando não somente taludes de escavação ções do canal em que conste:
apropriados, mas também estruturas de • trechos sem revestimento;
contenção para evitar sua erosão e/ou • trechos com revestimento;
seu desabamento. • taludes em solo e em rocha, no trecho
Para os trechos de rocha sã, o canal não emerso e no trecho submerso;
deverá ser revestido, mas geralmente es- • estruturas de contenção (placas, ti-
cavado com taludes verticalizados. Nesses rantes etc.);
trechos, é necessário definir as relações • proteção contra erosão no trecho
entre as direções do fluxo das águas e as emerso em solo.
direções das descontinuidades presentes
no maciço, bem como as condições de em- A Fig. 5.2 mostra um tipo de modelo
bricamento dos blocos individualizados geomecânico de escavação para o canal
por tais descontinuidades. Isso porque do vertedouro da barragem de !rapé
eventuais situações desfavoráveis nessas (Cemig).
relações de direções podem induzir o ar-
rancamento de blocos das paredes, o que
5.2 VERTEDOURO
funcionará como início de erosões pontuais
que poderão desencadear grandes instabi- O vertedouro de uma barragem pode ser
lidades ao longo da parede de escavação, de vários tipos, desde os mais convencio-
com os consequentes problemas de assore- nais, em calhas incorporadas à barragem
amento do canal e transporte de detritos ou em canais abertos em uma das margens,
para as estruturas de jusante. até os mais incomuns, que incluem a tulipa
A Fig. 5.1 mostra duas situações de e os túneis.
estabilidade de talude em canais. Na pri- No caso de tulipa, praticamente não há
meira (a), o fluxo de águas favorece o qualquer interferência das condicionantes
arrancamento de blocos, podendo gerar geológicas, pois toda a estrutura é incorpo-
instabilidade da parede de escavação em rada à própria barragem, merecendo, assim,
função das demais características de resis - apenas os cuidados de um engenheiro pro-
tência do maciço rochoso; na segunda (b), jetista. Por esse motivo, esse tipo de obra
5 - Geotecnia das obras complementares 1 107

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FIG. 5.1 Estabilidade de taludes em canais - barragem de Irapé-MG: (a) situação de instabilidade das
pa redes com relação ao arrancam ento de blocos; (b) sit uação de estabilidade das paredes com relação ao arran -
camento de blocos
Fo nte: cortesia da Cemig.

não será discutido aqui. O vertedouro em o caso em que essa obra é localizada fora da
túnel, por sua vez, será abordado no item própria barragem , ou utilizando uma sela
correspondente a obras subterrâneas (5.4). topográfica, ou escavando um canal na en-
Os vertedouros em calhas incorporadas à costa. No primeiro caso, geralmente não
própria barragem são, a exemplo da tulipa, há necessidade de canal de aproximação e
um problema meramente construtivo da a estrutura do vertedouro é constituída de
engenharia, e a única relação com a geolo- três partes: ogiva, canal rápido e restituidor
gia refere-se à erosão das águas restituídas, (Fig. 5.3a).
o que será comentado no próximo item. A ogiva é uma estrutura de concreto
Resta, assim, como vertedouro a analisar, onde se situa a comporta para controle do
108 1 Geologia de Barragens

maciço rochoso para evitar eventuais


desplacamentos decorrentes do efeito de
sucção provocado por vácuo hidráulico, o
Superfície que pode ser exacerbado pela subpressão
topográfica
hidrostática na base dessas placas, quando
~ o maciço rochoso é muito fraturado.
/ ~ 0.25 O engenheiro projetista poderá reco-
Solo
coluvionar /
/
/
/ 1.ov mendar a utilização de tirantes para fixação
2 ,00
/ / =t--t das placas ou de drenas para aliviar as sub-
/_,,,
pressões (Fig. 5.3c). Nesse caso, é necessário
caracterizar muito bem as reais caracterís-
Obs.: quando submerso o
ticas de resistência do maciço rochoso, bem
micaxisto alterado deve ter como suas condições de percolação de água.
taludes com H:V = 0,33:1,0
O restituidor pode ser constituído por
+.--.'.-+ Variável uma bacia de dissipação, que amortizará a
velocidade da água efluente, restituindo-a
FIG. 5.2 Mo delo geomecânico de corte (barragem
de Irapé-MG) ao rio com reduzido poder erosivo
Fonte: cortesia da Cemig. (Figs. 5.3a e 5.3c), ou por uma estrutura de
salto de esqui, que dirigirá a água vertida
fluxo d 'água que será vertido. Ela funciona , a uma fossa no leito do rio (Fig. 5.3b). Em
portanto, como uma pequena barragem ambos os casos, a obra de restituição será
de gravidade, razão pela qual são exigidas construída em concreto e, apesar de eventu-
como sua fundação as mesmas caracterís- almente delgada, recebe a água com muita
ticas geomecânicas referidas no item 4.2, velocidade, exigindo do maciço rochoso
com relação à deformabilidade e estabili- boas características de deformabilidade e
dade. Assim, em princípio, deve ser fundada estabilidade.
em rocha D1/ D2 .
O canal rápido corresponde ao trecho
5.3 EROSÃO A JUSANTE
intermediário situado entre a ogiva e o
restituidor, e geralmente possui grande A erosão a jusante das estruturas de
declividade (Fig. 5.3b). Dada a elevada velo - efluxo de uma barragem, como túneis
cidade imposta pela grande vazão da água de restituição e vertedouros, depende da
passando em uma área reduzida e com forma como as águas são restituídas ao
forte gradiente, esse canal deve ser reves- canal do rio a jusante da obra de barra-
tido não só na base, mas também em suas mento. No caso de túneis , geralmente a
paredes de escavação, mesmo quando a erosão é provocada unicamente pelo atrito
rocha em que será assentado for da melhor do fluxo da água, que chega ao rio com sua
qualidade. velocidade amortecida pelo atrito ao longo
O problema que poderá ocorrer nessa do canal de restituição. Nesses casos, a
obra refere-se à fixação das placas no erosão será mínima, pois o próprio colchão
5 - Geotecnia das obras complementares 1 109

Canal rápido

Bacia de dissipação

,, Comporta
Stop L _ ..

;!'

Salto de esqui

r. _~ ·· !·•·······s.\
--~ ~u
o · · ·- n~

Comporta

Bacia de dissipação

Draina
galle
1Furo de dren agem
ln]eçoes Drenagem Holes drainage
Grouting Drainage

FIG. 5.3 Tipos de vertedouro


110 1 Geologia de Barragens

d' água existente no rio a jusante diminuirá borda de jusante (Fig. 5.4), formando bar-
o poder erosivo dessas águas efluentes. reiras ao fluxo de jusante, que passa, com o
No caso de vertedouro, há duas espécies decorrer do tempo, a funcionar como uma
de efluxo, conforme o tipo de vertedouro: barragem. À medida que essa barragem vai
calha com bacia de dissipação e calha com crescendo com o acúmulo de materiais,
salto de esqui. No primeiro caso, o poder o nível do rio a montante dela poderá ser
erosivo das águas é amortecido na bacia elevado, comprometendo eventuais estru-
de dissipação, porém o grande volume das turas da obra, como casa de força, pé da
águas restituídas pode criar correntes com barragem etc.
altas velocidades a jusante dessa bacia,
gerando os mesmos problemas de erosão
citados para os canais. Nesse caso, somente
um modelo hidráulico poderá caracterizar
as direções dessas correntes e prever a velo-
cidade do fluxo da água nessas direções . Aí,
então, deverá ser feita uma análise das in-
fluências das descontinuidades do maciço
rochoso e de suas relações com os fluxos
previstos, visando diagnosticar problemas
relacionados com a sua erosão. Também
é importante caracterizar para esses ma- FIG. 5 .4 Fossa de erosão a jusante de vertedouro
ciços todas as eventuais variações no seu
estado de alteração, desde as mais unifor- Para evitar tais problemas, a fossa
mes em relação à profundidade até as mais deverá ser pré-escavada, reduzindo, assim,
heterogêneas em consequência das descon- o transporte do material resultante da
tinuidades existentes. erosão natural das águas efluentes. A pro-
No caso de vertedouro que termina fundidade de escavação da fossa deve ser
em salto de esqui, uma nova componente prevista em função das características ine-
é adicionada ao poder erosivo das águas rentes ao projeto e ao maciço rochoso. A
restituídas: o impacto causado pela queda equação utilizada pela maioria dos projetis-
d'água sobre o maciço rochoso. Nesse caso, tas para calcular a profundidade da erosão
o poder de erosão das águas restituídas na fossa é:
poderá escavar fossas muito profundas no
maciço rochoso, trazendo alguns proble- de = K. q 0,54 . H0,225
mas se o mecanismo da erosão e transporte
do material erodido não for previsto antes onde:
da operação da obra. de - profundidade de erosão medida a
Ocorre que, à medida que a fossa vai partir do NA de jusante;
se aprofundando, os blocos resultantes da K - coeficiente de resistência à erosão do
erosão podem ir se acumulando em sua maciço rochoso;
5 - Geotecnia das obras complementares 1 111

q - vazão específica (m 3 / s/ m); 5.4 ÜBRAS SUBTERRÂNEAS


H - desnível (m) entre o NA de montante e
o NA de jusante. 5.4.1 Tipos de obras subterrâneas

O valor de K nessa equação tem variado As obras subterrâneas para barragem


muito de autor para autor, desde 0,525 podem ter as mais variadas finalidades, e
(USBR) até 1,9 (Veronese). No trabalho In- as principais são:
vestigação geomecânica a jusante de vertedouros • desvio do rio na fase construtiva;
com dissipador em salto de esqui, Brito (1991) • vertedouro;
estabeleceu critérios geológicos para estimar • adução para casa de força ou para
o valor de K. Primeiramente, esse autor defi- abastecimento;
niu um quadro classificatório para o maciço • acesso a obras subterrâneas;
rochoso em função das características das • chaminé de equilíbrio;
descontinuidades e condicionantes geome- • câmara de válvulas;
cânicas da rocha. Com base nas classes de • casa de força;
maciço assim identificadas, estabeleceu um • restituição de águas turbinadas.
zoneamento para um gráfico que relaciona a
variável qº• 54 . Hº· 225 com a profundidade de Com relação à geometria, essas esca-
erosão a partir do NA de jusante. Na Fig. 5.5 vações podem ser classificadas em dois
acham-se reproduzidos o quadro classifica- tipos: túneis e cavernas. No primeiro
tório e o gráfico para zoneamento do valor caso, estão as escavações em que a exten-
de K proposto por Brito (1991). são é muito superior à largura e à altura, e
Como exemplo de aplicação dessa nelas incluem-se as escavações para desvio,
metodologia, pode ser citado o projeto vertedouro, aduções, acesso, chaminé de
da barragem de !rapé, em Minas Gerais, equilíbrio e restituição das águas turbina-
cujos valores relacionados com o maciço ro- das. No segundo caso, a extensão é pouco
choso foram: superior às outras dimensões, incluindo-se
• resistência: Rl; aí as escavações para casa de força e câmara
• diâmetro médio do bloco de rocha: de válvulas.
0,5 a 1,0 m; Com relação à horizontalidade, as caver-
• padrão de descontinuidade: PES. nas são sempre dispostas na horizontal; a
chaminé de equilíbrio é um túnel vertical e
Com base no quadro classificatório, o os demais túneis podem assumir qualquer
maciço rochoso enquadrou-se na Classe IV. posição. Finalmente, quanto à tempora-
Pelo gráfico de zoneamento do valor de K, neidade, os túneis de desvio são as únicas
esse parâmetro varia entre 0,9 e 1,5, tendo obras temporárias, sendo desativadas após
sido escolhido o valor médio dessa faixa, ou a conclusão das obras, embora possam con-
seja, 1,2. Em função dos dados de projeto, tinuar com um trecho em funcionamento
calculou-se em 47 m a profundidade da quando são parcialmente aproveitados
fossa de erosão. como vertedouro.
114 1 Geologia de Barragens

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FIG. 5.6 Emboques em túneis: (a) talude suave em solo; (b) talude íngreme em solo; (c) emboque em rocha
com descontinuidade mergulhando no mesmo sentido da encosta; (d) emboque em rocha com descontinuidade
mergulhando no sentido contrário ao da encosta; (e) intersecção de descontinuidades sobre o emboque

surge a possibilidade de um aprofunda- A orientação das descontinuidades em


mento diferencial do perfil de alteração, relação ao traçado pode exercer influência
tornando totalmente heterogêneo o contato muito variada na estabilidade do teto e das
solo/ rocha. paredes laterais de escavação. Com base na
A Fig. 5.7a mostra um túnel que atra- estratificação, por ser a descontinuidade
vessa um maciço relativamente homogêneo, mais uniforme do maciço rochoso, podem-
com exceção do trecho indicado por C, onde -se analisar quatro casos distintos:
uma descontinuidade litológica ou estrutu- • Caso 1: rocha laminada com o teto do
ral, recebendo o fluxo de águas superficiais, túnel paralelo à laminação (Fig. 5.7b).
propiciou o aprofundamento diferencial do A rocha é considerada laminada quando
manto de alteração. As investigações geoló- composta por uma sucessão de leitos pa-
gicas devem ser bastante detalhadas para ralelos, cujas espessuras são pequenas em
prever situações como a indicada nessa relação ao diâmetro ou à altura da abertura,
figura e nortear um programa de investi- e quando a ligação entre os leitos é nula ou
gações que identifiquem a real situação do possui resistência inferior à resistência à
maciço rochoso nos pontos B e C. tração dos leitos rochosos. Nesse caso, o
O ideal é que o túnel possua um recobri- maciço pode ser considerado isotrópico para
mento de rocha sã pelo menos igual a duas a análise de estabilidade das paredes, que
vezes o seu diâmetro. serão estáveis, mas o teto oferece grandes
5 - Geotecnia das obras complementares 1 115

oblemas de estabilidade, em função das Para 70° < a < 90°, a situação de esta-
:3acterísticas de resistência de cada leito, bilidade da escavação dependerá do estado
que será discutido mais adiante. de tensões do maciço rochoso. Se as tensões
horizontais forem superiores a 1 / 3 das ten-
• Caso 2: descontinuidade inclinada sões verticais, o maciço rochoso pode ser
e paralela ao traçado do túnel (Fig. considerado isotrópico e alguma caída de
5.7c). blocos do teto e das paredes pode eventual-
Se a= 0°, a situação é idêntica ao caso 1. mente ocorrer. Para evitá-la, utilizam-se
Para 0° < a < 20°, não haverá problema chumbadores . Caso crh < 1 /3 crv, as tensões
::.e estabilidade nas paredes, mas a situação de tração criarão grandes problemas de ins-
:io teto será crítica e, geralmente, a forma tabilidade no teto da escavação.
::o teto do túnel será condicionada pela la- Para 20° < a < 70°, a situação de ins-
;ninação (Fig. 5.7d). tabilidade no teto é semelhante ao caso

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FIG. 5.7 Diferentes situações do traçado de um túnel: (a) decomposição diferencial das rochas; (b) desconti-
nuidade horizontal; (c) e (d) descontinuidade paralela ao túnel com inclinação para um de seus lados; (e) e (f)
descontinuidade perpendicular ao túnel; (g) descontinuidade vertical com inclinação qualquer em relação ao
tú nel
116 1 Geologia de Barragens

anterior, porém a instabilidade das paredes 5.4.3 Influência do estado


é maior, sendo mais iminente a ruptura por de tensões
cisalhamento em um dos lados da escava-
ção. O comportamento geomecânico de um
maciço rochoso ao ser escavado por um túnel
• Caso 3: descontinuidade inclinada e ou qualquer outro tipo de escavação sub-
perpendicular ao traçado do túnel terrânea é ditado pelo estado de tensões
(Fig. 5.7e). gerado no entorno da abertura.
Se B= 0°, a situação é idêntica ao caso 1. No caso de uma escavação circular, a
Para 0° < B< 20°, a situação das paredes tensão tangencial às paredes de escavação,
é idêntica ao caso 0° < a < 20°, mas a situa- sejam no teto ou lateralmente, desenvolve-
ção do teto é bem diferente. Agora o túnel -se conforme indicado na Fig. 5.8a. Nessa
corre na direção do mergulho da desconti- figura , a s é a tensão tangencial e CTy, a
nuidade e, se ocorrer uma camada de baixa tensão vertical. Observa-se que na crista do
resistência (Fig. 5.7.f), será muito extenso o teto as tensões são negativas e de mesmo
trecho em que o túnel terá tal camada como valor de ªy· Ocorre, assim, uma tração
teto, e isso exigirá um severo programa de horizontal no topo do teto do túnel de in-
estabilização com tirantes. tensidade igual à tensão imposta pelo peso
À medida que Bvai aumentando, dimi- da rocha, considerando o efeito de arco im-
nui a necessidade de ancoragem no teto, e posto pela abertura.
não haverá problema de estabilidade para As tensões tangenciais negativas se
as paredes, qualquer que seja o valor de p. anulam aproximadamente a 1/ 3 do arco
A melhor situação de intersecção de uma compreendido entre o raio na vertical (y) e
descontinuidade por um túnel horizontal é na horizontal (x). A partir daí, as tensões
quando p = 90°. tangenciais são compressivas, assumindo
o valor máximo na perpendicular à hori-
• Caso 4: descontinuidade vertical e zontal, quando são correspondentes a 3ay.
fazendo um ângulo qualquer com a Nessas circunstâncias, pode-se prever que
direção do túnel (Fig. 5.7g). as tensões de tração no teto propiciarão a
Para y = 90°, a situação corresponde ao abertura de fraturas paralelas ao traçado
caso em que a = 90°. do túnel, além de facilitarem a flexão de
Para y = 0°, a situação é idêntica ao caso camadas sub-horizontais. Por outro lado,
em que P= 90°, ou seja, é a melhor situação as tensões compressivas que se distribuem
para a abertura de um túnel horizontal. para as paredes laterais aumentam as pos-
Para 70° < y < 90°, as condições do teto sibilidades de ruptura por cisalhamento
e das paredes assemelham-se à situação em ao longo dessas paredes, principalmente
que a= 90°. quando as descontinuidades possuem um
Para 20° < y < 70°, algum suporte pode ângulo a > 70° (Fig. 5.7c).
ser necessário no teto e nas paredes. Com relação ao teto, deve-se analisar
se a geometria das descontinuidades, já
5 - Geotecnia das obras complementares 1 117

entada no item anterior, não exacerba problemas de rock bursts ou explosões na-
-?Oblema criado pelas tensões de tração. turais de rocha, quando grandes blocos
: casos mais críticos, devem-se executar podem ser destacados violentamente para
·os de flexão, deformabilidade e tração o interior da escavação.
rochas que compõem o teto. O problema das paredes laterais deve ser
_ o caso de laminações horizontais observado com mais atenção quando dois
m aciço no teto, os valores de deflexão, ou mais túneis são abertos em paralelo,
- ão de cisalhamento e tensão de tração muito próximos entre si. Nesse caso, o es-
-~e atuam em uma lâmina de rocha no teto paçamento entre os túneis funciona como
:o dados pelas seguintes expressões: um pilar, o qual receberá o efeito do arque-
amento das tensões verticais provenientes
y· L4 3y· L y- L2
32E · t 2
' max
, =-- cr max
, =--
t das duas escavações atuando simultanea-
;nãx - 4 2
mente. Assim, enquanto no caso de uma só
abertura a tensão cre - que assume o maior
n de: valor quando atua perpendicularmente
áx = deflexão máxima; no eixo horizontal (Fig. 5.8a) - decresce
-=roáx = tensão de cisalhamento máxima; rapidamente para o interior do maciço,
m áx = tensão de tração máxima; tornando nulo o efeito da abertura a uma
:, = vão da lâmina no teto; distância igual ao diâmetro da abertura
- = espessura da lâmina; (Fig. 5.8b), esse efeito é somado quando
· = peso específico da rocha; duas aberturas são feitas muito próximas
E = módulo de deformabilidade da rocha . (Fig. 5 .8c).
Nesse caso, a tensão no "pilar" é calcu-
Para as paredes laterais, as consequências lada pelo valor médio <Jp, que depende da
do esforço compressivo não são as mais de- relação entre o diâmetro da escavação (w0 )
sastrosas, a não ser que o estado de tensões e o espaçamento entre escavações (wp).
n aturais ou virgens seja muito elevado, em Por exemplo, para uma relação w 0 / wp = 5,
função da tectônica local, podendo levar a a tensão vertical que atua no "pilar" (crp)

cro
Cl"y

A+B
cro = -
p- crp = (1 + WofWr)cry

FIG. 5.8 Distribuição de tensões no en torno de túneis: relação entre cre e cry nas paredes do t únel (a) e no
entorno do t únel (b); tensões sobre o pilar formado por dois túneis próximos (e)
118 1 Geologia de Barragens

existente entre as escavações é igual a 6cry, parede podem ser calculadas para diversas
o que pode ser suficiente para provocar a formas de escavação, a partir do conhe-
ruptura do pilar. cimento do estado de tensões virgens do
Em função das descontinuidades exis- maciço rochoso (segundo Hoek e Brown,
tentes, torna-se necessário, nesses casos, 1980). A título de exemplo, considere-se
calcular a resistência do maciço rochoso que O"x = cry e que Pz = 2,70 MPa. Analise-
que integra o pilar e dividir essa resistência -se as tensões que atuam no teto (crr) e na
pela tensão calculada pela equação de <Jp, parede lateral (cr5) para os seguintes tipos
na Fig. 5.8c. Essa relação constitui o fator de abertura: a) circular; b) elíptica com o
de segurança do pilar contra a ruptura. maior eixo na vertical; c) elíptica com
o maior eixo na horizontal.
5.4.4 Influência da geometria
Observa-se que cada tipo de abertura
do túnel
apresenta um estado de tensões diferente.
A forma do túnel induz variações muito Assim, quando for possível variar a forma
significativas no estado de tensões gerado da escavação, deve-se conciliar a forma es-
no entorno da cavidade, ou, mais precisa- colhida com as consequências que o estado
mente, no teto e nas paredes. de tensões impuser à escavação, principal-
Na Fig. 5.9 são mostrados gráficos com mente levando em conta a geometria das
base nos quais as tensões no teto e na descontinuidades do maciço rochoso.

12
Valores das contantes A e B
~ = (Ak - 1)

'""' ººººººººº
11
Pz
10 A 5,0 4,0 3,9 3,2 3,1 3,0 2,0 1,9 1,8

B 2,0 1,5 1,8 2,3 2,7 3,0 5,0 1,9 3,9


9
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.8 8 6
C1J
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o 2 3 4 2 3 4
Razão = Tensões horizontais "in situ" = k Razão = Tensões horizontais "in situ " = k
Tensões verticais "in situ" Tensões verticais " in situ"

FIG. 5 .9 Inf/.uências da forma do túnel sobre as tensões que atuam em seu entorno
Fonte: Hoek e Brown (1980).
5 - Geotecnia das obras complementares 1 119

5.4.5 Classificação geomecânica mente, de canteiro de obras, geralmente


são localizadas em função de dois aspectos
Em função das características geológicas principais: proximidade da obra e condições
::: geomecânicas do maciço rochoso, deve-se topográficas. Assim, é pouco provável que o
.:lassificar esse maciço com o objetivo de defi- fator geológico pese muito na escolha dessas
;!IT a sua aptidão para escavação subterrânea. áreas, razão pela qual o papel da geologia
~xistem várias classificações geomecânicas nesses casos tem sido resolver os problemas
?<ilª escavações subterrâneas, porém as mais gerados por uma localização que não atenda
~rilizadas são a de Bieniawski, proposta pelo às melhores condições geológico-geotécnicas.
- uth African Council for Scientific and In- Em geral, os problemas nessa área são:
~ustrial Research (CSIR); a de Barton, Lien e • instabilidade de taludes em cortes
_unde, proposta pelo Norwegian Geotechni- e aterros;
cal Institute (NGI); e a de Laufer. • geração de focos de erosão;
Pelos gráficos da Fig. 5.9, têm-se os se- • inundações em áreas baixas próximas
m intes valores: às obras;
a b e • obtenção de água para consumo.
crr 5,40 10,80 2,97

crs 5,40 2,70 10,80 Outros problemas são ligados à de-


gradação ambiental e serão abordados no
A Tab. 5.1 apresenta a classificação de Cap.11 .
ieniawski, por ser a mais simples e, por A área de acampamento, por exigir ex-
:sso, a mais utilizada. tensões maiores, geralmente fica mais
Nessa classificação, são levados em distanciada da obra, e sua localização pode
conta critérios geológicos (características ser mais adequada às condicionantes geoló-
as descontinuidades), hidrogeotécnicos gicas, geotécnicas e hidrogeológicas. Nesse
condições de percolação da água subterrâ- caso, o problema de inundação pode serdes-
:::iea) e geomecânicos (RQD e resistência à cartado, pois geralmente o acampamento
compressão). A título de exemplo, segundo fica localizado em áreas mais elevadas.
essa classificação, o maciço rochoso da bar- Dependendo do porte da obra, o con-
ragem de Irapé (MG) apresentou, para as sumo de água para o acampamento pode ser
diversas obras subterrâneas previstas na- o maior problema e, nesse caso, o geólogo
quele projeto, um somatório de índices que deve perscrutar as melhores possibilida-
'ariou entre 67 e 87 pontos, o que permite des de exploração das águas subterrâneas,
classificar aquele maciço como bom a muito pois, além de constituir uma captação mais
bom para obras subterrâneas. barata, pode eliminar maiores aduções e
sistema de tratamento. Tal solução também
implica problemas ambientais muito me-
5.5 ÁREAS DE ACAMPAMENTO
nores que a captação de água superficial,
E DE CANTEIRO DE OBRAS
principalmente se for necessária a constru-
As áreas de acampamento e, principal- ção de barragem para esse fim.
TAB. 5.1 Classificação geomecânica de maciços rochosos p ara túneis
-~ ~í_n_d_ic_e_d_e_c_o_m_p_r_e_ss_ã_o_p_o_n_t_ua_l-+-___8_M_P_a_ _ _+-___4_-8_M_Pa_ _ _+-_ _
r<J 2_-4_M_P_a_ _-+-___1_-2_M_P_a_ _--+_U_t_ili_z_ar_e_n_s,a_io_d_e_co_m-.-p_r._s_im_pl_e_s
~.c~--
u 10-25 3-10
~ ~ ~ Resistência à compr. simples 200 MPa 100-200 MPa 50-100 MPa 25-50 MPa MPa MPa 1-3 MPa
~ ~ 1------------+----------+----------+--------+----------+----+----+----
Peso relativo 15 12 7 4 2 1 O
R.Q.D. % 90 -100 75-90 50-75 25-50 25
21-- - - - - - -- -- - - - - - - 1 - - - - - - - - + - - -- - -- - - + - - - - - - - -1 - - - - - - - - + - - - -- - - - - - - - -
Peso relativo 20 17 13 8 3
Espaçamento de fraturas 3m 1-3 m 0,3 -1 m 50-300 mm < 50 mm
31-----'---'-------------1--------+---------+--------1--------+-------------
Peso relativo 30 25 20 10 5
Superfícies Superfícies Superfícies estriadas
Superfícies pouco Preenchimento mo le
muito rugosas. Não pouco rugosas. ou preench. < 5 mm
4 Condições das fraturas rugosas. Separação > 5 mm ou abertura
contínuas. Fechadas. Separação < 1 mm. ou abertura 1-5 mm.
< 1 mm. Paredes duras > 5 mm. Fraturas contínuas
Paredes duras Paredes moles Fraturas contínuas
Peso relativo 25 20 12 6 o
rd
Infi ltração em 10 m de túnel nen huma ou
< 25 L/min ou 25-125 L/mi r ou > 125 L/min ou
<lJ
e
cê Relação:
...,<lJ Pressão de água na fratura Oou _ _ _ _ _ __ 0,0-0,2 ou 0,2-0,5 ou 0,5 ou
5 ..o
:J
V, Tensão principal máxima
rd
:J
b.O Água sob pressão
·<( Cond ições gerais Completamente seco Umidade Prob lemas graves de água
moderada
Peso relativo 10 7 4 o
Ajuste para orientação das descontinuidades
Direção e mergulho Muito favoráve l Favorável Aceitável Desfavorável M uito desfavorável
Peso relativo o -2 -5 -10 -12
Classes de maciço
Classe nº li Ili IV V
Descrição Muito bom Bom Regu lar Pobre Muito pobre
Soma dos pesos rel ativos 100-81 80-61 60-41 40-21 20
Significado das classes
10 anos para 6 meses para 1 semana para 5 horas para
Tempo méd io de autossustentação 10 mi n para vão de 0,5 m
vão de 5 m vão de 4 m vão de 3 m vão de 1,5 m
Coesão > 300 kPa 200-300 kPa 150-200 kPa 100-150 kPa < 100 kPa
Ângulo de atrito > 45° 40°-45° 35°-40° 30°-35° < 30º
1,,,,1, 1111 111 1 • 11 ( I" /1,
5 - Geotecnia das obras complementares 1 121

Deve-se levar em conta que tanto a área • presença de estruturas reliquiares no


de acampamento quanto a de canteiro de solo e no saprólito;
obras podem constituir-se em obras per- • relações entre as descontinuidades do
manentes. A primeira, por ser geralmente maciço rochoso e o talude do corte;
utilizado o acampamento para outra finali- • natureza da cobertura vegetal da
dade após a construção da obra; a segunda, encosta;
porque em grande parte dessa área serão • presença de trincas a montante da
construídas obras . Assim, os problemas área de corte;
gerados não devem ser tratados como se • relação entre as drenagens de encosta
relativos a obras temporárias, onde as solu- e os taludes a serem abertos;
ções nem sempre são duradouras. • características da encosta onde será
executado o aterro;
• possibilidades de uso do material de
5.6 ACESSOS
corte no aterro;
Os acessos também serão, em grande • localização de bota-fora proveniente
parte, utilizados após a construção das de material de corte não aproveitado;
obras, exceto aqueles para áreas de emprés- • eventuais jazidas de empréstimos
timos e pedreiras. Assim, deve-se tratá-los para aterro.
como obras permanentes, com seus traça-
dos definidos no sentido de evitar grandes Nas encostas de elevada declividade,
obras de infraestrutura e oferecer a máxima deve-se estudar a possibilidade de construir
segurança ao tráfego de veículos leves e pe- estradas mais estreitas e de mão única, con-
sados. forme mostra o esquema da Fig. 5.10a. Essa
Os maiores problemas para a esco- solução apresenta as seguintes vantagens:
lha do traçado são relacionados com a • economiza a escavação do trecho
interação topografia/geologia. A dificul- hachurado na figura;
dade de atingir os vales mais profundos • reduz a altura de corte, o que
através de encostas muitas vezes com acen- aumenta a segurança do talude;
tuada declividade impõe soluções que nem • reduz o risco de abalroamento de
sempre conseguem evitar a ocorrência de veículos;
problemas geológico-geotécnicos. Nesse • facilita a drenagem, o que reduz os
caso, os maiores problemas relacionam-se problemas de erosão.
com a estabilidade de taludes de corte e
aterro nas estradas a meia encosta. A única desvantagem é impedir as ul-
Os principais aspectos a observar nesses trapassagens, principalmente na eventual
taludes são: quebra de veículos . Isso pode ser resol-
• natureza geológica do talude a proce- vido com a construção de alguns nichos
der o corte; (Fig. 5.10b).
• características de resistência ao
cisalhamento do solo;
122 1 Geologia de Barragens

f-----,
Mão única
- ------ -

Mão dupla

FIG. 5 .1 0 Infl.uência da topografia nas estradas de acesso: (a) configuração em dua s vias de mão única;
(b) construção de nichos para ultrapassagens ou para atender à quebra de veículos

5.7 ENSECADEIRAS Em princípio, as ensecadeiras podem ser


consideradas "obras de risco", pois, além
Ensecadeiras são obras de barramento de dimensionadas para vazões estimadas
temporário para permitir a construção para tempo de recorrência curto (10 a 50
da barragem e obras complementares em anos), terão que ser construídas por meio
terreno seco. Para tal, deve-se construir do lançamento dentro do rio, sem qualquer
uma ensecadeira a montante e outra a ju- compactação artificial, o que exige muita
sante da barragem, e desviar o curso do rio engenhosidade não só em seu projeto, mas
a partir do lago formado pela ensecadeira principalmente em sua construção.
de montante até ultrapassar a ensecadeira
5.7.1 Configuração em planta
de jusante. Esse desvio pode ser feito por
meio de canal, mas geralmente é feito A disposição das ensecaderias em planta
por meio de túnel, que será posteriormente depende de dois aspectos: largura do rio e
tamponado ou aproveitado parcialmente arranjo das obras. Em função desses dois
como obra definitiva (limpeza de fundo aspectos, pode-se optar por um dos seguin-
ou vertedouro). As ensecadeiras podem tes tipos de disposição: barramento parcial
também ser destruídas após a conclusão da ou barramento total do rio.
obra ou incorporadas à própria obra. No barramento parcial, a ensecadeira
Embora constituam um problema cons- tem a forma de U deitado, com as duas ex-
trutivo, de responsabilidade do engenheiro tremidades fixadas nas margens do rio e a
projetista, as ensecadeiras também apre- parte curva dentro do rio (Fig. 5.lla).
sentam problemas de fundações, além de Nessa opção, a obra é construída em
algumas implicações com a própria obra duas ou mais etapas . No caso mais sim-
de barramento, razão pela qual serão abor- ples (duas etapas), a obra é construída
dadas no presente capítulo. na primeira etapa, no interior do U, que e
5 - Geotecnia das obras complementares 1 123

:-reviamente secado por meio de bombea- desvio do rio (Fig. 5.12). Essa alternativa
ento da água que aí ficará retida. Nessa é a mais empregada quando o curso do rio
e~pa, o rio continua fluindo no trecho não apresenta uma largura que não permite o
:::nsecado (Fig. 5.lla). A obra construída seu barramento parcial para a constru-
essa etapa deve incluir as estruturas de ção da barragem. O exemplo dessa figura
:oncreto necessárias (vertedouro, toma- corresponde à barragem de Foz do Areia,
.ias d' água etc.), devidamente providas de no Paraná.
adufas para permitir o fluxo das águas na
5.7.2 Construção da ensecadeira
segunda etapa. Concluída a primeira etapa,
..:estroem-se as ensecadeiras em forma
a) Ensecadeira fundada em rocha
e U, permitindo que o fluxo do rio passe
-ambém pelas adufas. Inicia-se a segunda A ensecadeira fundada em rocha é
etapa pela construção de duas novas en- construída em duas etapas: pré-ensecadeira
ecadeiras que irão abraçar a estrutura e alteamento. A pré-ensecadeira é executada
de concreto já existente, direcionando o com material lançado sem compactação,
à uxo do rio para as adufas construídas preferencialmente na época em que a vazão
Fig. 5.llb). Secando-se o novo trecho do rio encontra-se mais reduzida. Em geral,
ensecado, completa-se a construção da bar- a pré-ensecadeira é construída de forma
ragem conforme mostrado nessa figura . submersa, por um trecho em enrocamento,
Findo o processo, eliminam-se as enseca- seguindo-se em direção de montante,
deiras, fecham-se as adufas e inicia-se o por um material de transição (pedrisco e
enchimento do reservatório formado . A areia) e por um material vedante (argiloso),
grande vantagem dessa alternativa é dis- como indicado na Fig. 5.13. O alteamento,
pensar o desvio do rio. por sua vez, é executado com uma parte
No barramento total, são construídas submersa (enrocamento), porém a maior
duas ensecadeiras e um dispositivo de parte é construída a seco, com compacta-

~1
o
·;::

0 CD Ensecadeira
de montante
o
"D
oX
Ensecadeira :::,
ü:

l
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....,"' o -e"' .is -e"'
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111111
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!:_ll Q) t>O Q)
~
~"' !{ ;, . !:_ll
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!:_ll
"'
~ CM
~

Ensecadeira
de jusante

FIG. 5.11 Ensecadeira por barramento parcial do rio: (a) primeira etapa; (b) segunda etapa
124 1 Geologia de Barragens

ção (Fig. 5.13). A parte emersa geralmente é


constituída por um enrocamento a jusante
e um material vedante (argiloso) a mon-
tante, com a transição entre esses materiais
construída por areia e pedrisco.
Embora os materiais aqui apresentados
sejam os mais comumente utilizados para
a configuração das ensecadeiras, são co- Tú neis
nhecidas ensecadeiras compostas dos mais de desvio

diferentes tipos de materiais, como estacas


de aço, madeira, sacos de areia e cimento,
enrocamento injetado com argamassa e até
de concreto, como a ensecadeira da barra- Ensecadeira
\'1'l!WIIJl.!illlt,- ✓ de jusant e
gem de Funil, no Rio de Janeiro.
Também é comum fazer a incorpora-
ção das ensecadeiras no próprio corpo da
barragem (Fig. 5.14); nesses casos, porém,
embora constitua urna solução econômica,
é necessário que sejam rigorosamente obe-
decidos os mesmos requisitos de segurança
adotados para a barragem. FIG. 5 .1 2 En secadeira por barramento total do rio
(barragem de Foz do Areia - PR)
b) Ensecadeiras fundadas em solo Fonte: modifzcado de CBGB (1982b).

Geralmente o solo existente no leito e grossos, o que pode criar problemas de


do rio é de origem aluvionar e, na maioria deforrnabilidade e estabilidade das fun-
das vezes, constituído por areia ou cas- dações dessas ensecadeiras. Nesses casos,
calho. Ocorre que, em rios que alternam é comum lançar sem compactação uma
períodos de baixas e de elevadas vazões, camada de solo arenoargiloso ao longo
pode haver alternância de materiais finos de uma faixa de largura bem superior à

Alteamento

Material
vedante
Enrocamento

Pré-ensecadeira

FIG. 5.13 Etapas de pré-ensecadeira e alteamento na construção de um a ensecadeira


Fonte: modifzcado de Cruz (1996).
5 - Geotecni a das obras complementares 1 125

Ensecadeira
de montante

Barragem principal

FIG. 5.14 Ensecadeiras incorporadas à barragem


:onte: modif,. cado de Cruz (1996).

oase prevista para a ensecadeira, em todo <leira ao corpo da barragem, pelos motivos
o trecho submerso, formando uma pré- já explicitados no item anterior.
-ensecadeira (Fig. 5.15). O alteamento será
b) Materiais de construção
eito na parte emersa por meio da compac-
~ação do material vedante, como mostrado Antes de construir as ensecadeiras, é
nessa figura, e pode, eventualmente, contar necessário ter um bom conhecimento das
com uma proteção de enrocamento no es- disponibilidades de materiais naturais
paldar de jusante. de construção, para evitar que o seu uso
nessas obras comprometa a sua utilização
5.7.3 Aspectos geotécnicos
na barragem principal. Como exemplos da
nefasta interferência entre a ensecadeira e
a) Fundações
a obra, no que tange à utilização de mate-
Dada a dificuldade de coletar amostras riais de construção, podem ser citadas as
indeformadas de materiais inconsolidados barragens de Passaúna e de Rosana. No pri-
submersos, a caracterização das fundações meiro caso, a utilização de solo argiloso nas
nos locais previstos para ensecadeiras deve ensecadeiras comprometeu o volume ne-
ser feita por meio de sondagens a percus- cessário desse material para a construção
são sobre plataforma fixa ou flutuante , do núcleo da barragem. No segundo caso,
definindo, por meio do SPT e da coleta com foi necessário utilizar solo-cimento para
amostradores especiais, o tipo de material construir o rip-rap da barragem porque as
que recobre a rocha, bem como a sua espes- ensecadeiras consumiram os poucos blocos
sura. Esse estudo deve ser mais detalhado de rocha não desagregável que poderiam
quando se tenciona incorporar a enseca- ser utilizados como rip-rap.

Solo
Compactado

Solo de vedação lançado

Aluvião

FIG. 5 .15 Ensecadeira fundada em solo


ionte: modif,. cado de Cruz (1996).
6 Investigações para obras de barragens

Entende-se por investigação ou pes- o perfeito conhecimento das feições geoló-


-: ·sa no estudo de uma barragem o gicas e geotécnicas do projeto a implantar.
: nj unto de operações que permitam O mais importante na programação
..;.:na perfeita caracterização de todas as dessa pesquisa é racionalizar o seu uso em
-_·çõ es geológicas e geotécnicas passíveis função das reais necessidades requeridas
- ser relacionadas com a implantação por cada etapa de investigação discutida
-.,sse tipo de obra. A metodologia da no Cap. 2. Isso porque o custo dessas in-
- squisa envolve desde a investigação vestigações cresce muito com o grau de
- campo, incluindo os estudos superfi- detalhamento requerido nas fases de pro-
·s, os diferentes meios prospectivos e jeto básico e projeto executivo, razão
- ensaios tecnológicos desenvolvidos in pela qual é totalmente desaconselhável
u, até os testes realizados em labora- a realização de métodos mais avançados
rio. Os estudos superficiais iniciam-se de investigação antes que seja compro-
escritório por meio do levantamento e vada a viabilidade técnica e econômica da
= análise dos dados fisiográficos , geoló- obra na etapa de viabilidade. Esses cuida-
- os, hidrogeológicos e geotecnológicos dos devem levar em conta não apenas o
=o apenas do local de barramento, mas tipo de investigação, mas também a sua
- oda a bacia hidrográfica contribuinte. quantificação, uma vez que alguns tipos
rue-se, ainda no escritório, a caracteri- de prospecção e de ensaios são iniciados
cào preliminar dessa área por meio da já na fase de viabilidade, como mostrado
-ointerpretação geológica. Esses estu- no Cap. 2, continuando nas fases de de-
tê m continuidade em campo, com a talhamento do projeto. Assim, deve-se
_rição da fotogeologia , caracterização quantificar um número m ínimo desses
itu dos aspectos geológicos e geotéc- processos investigatórios na fase de viabi-
os da bacia e dos locais de obra, além lidade, desde que atendam à necessidade a
·dentificação superficial dos materiais que se propõem, e aumentar esse número
rais de construção e dos prognósti- nas etapas seguintes.
- dos impactos ambientais. Outros aspectos relevantes na progra-
.Sssa pesquisa superficial acha-se deta- mação de uma investigação são: tipo de
por etapa de investigação no Cap. 2 obra, porte da obra, natureza geológica
Será concluída com a programação das do local de implantação, riscos envolvidos
est:igações subsuperficiais, por meio dos e meio ambiente. Explicitou-se no Cap. 2
entes tipos de prospecção, bem como que uma das recomendações a ser feita no
_ ensaios que se fizerem necessários para relatório relacionado com a fase de inven-
128 1 Geologia de Barragens

tário ou plano diretor seria a indicação Finalmente, as investigações devem


do melhor tipo de barragem a projetar ser programadas com a preocupação de
para o local a ser investigado. Nessas reduzir significantemente os impactos
circunstâncias, o geólogo encarregado ambientais decorrentes da implantação
de programar as investigações a partir das obras associadas à barragem a projetar.
da etapa de viabilidade deve estar certo Nas investigações que serão comenta-
de que as pesquisas programadas são as das a seguir, será sempre indicada a melhor
mais adequadas para o tipo de barragem forma de sua utilização em cada etapa de
preconcebido. Se as condicionantes envol- projeto e, quando possível, quantificado
vidas com a obra prevista contemplarem o tipo de pesquisa abordado. Embora os
outros tipos de obra que, na fase de via- diversos tipos de prospecção e de ensaios
bilidade, possam ser cotejados com o tipo sejam normalmente terceirizados com
preconcebido, é obrigação do geólogo abrir companhias especializadas, é necessário
o leque de investigações de modo a aten- que o geólogo responsável pela Geologia
der às necessidades exigidas pelos demais e Geotecnia de um projeto de barragem
tipos passíveis de ser projetados. conheça as particularidades, vantagens e
O porte da obra também influi muito desvantagens de cada investigação. Esse
na programação das investigações. Assim, conhecimento não apenas lhe permite
uma barragem com 20 m de altura deverá,
adequar cada método programado à sua
em princípio, exigir uma investigação
situação específica, mas também lhe pro-
bem menos onerosa que uma barragem
porciona meios de promover uma melhor
com 100 m ou mais de altura.
fiscalização dos trabalhos contratados.
A natureza geológica do local de im-
plantação das obras, tanto da própria
barragem como das obras auxiliares dis- 6.1 TIPOS DE PROSPECÇÃO
cutidas no Cap. 4, é fundamental para
A prospecção para uma obra de barra-
uma perfeita adequação dos processos
mento é uma forma de pesquisa que visa
investigatórios . Por exemplo, é muito di-
caracterizar todas as feições naturais do
ferente o tipo de investigação programada
local em que será implantada a obra, não
para uma barragem implantada sobre
apenas em superfície, mas até a profun-
uma aluvião espessa, daquele indicado
didade que poderá interferir ou sofrer
para uma fundação rochosa.
Os riscos envolvidos pela obra são interferência dessa obra. Em função do
geralmente associados à possibilidade contato com essas feições , principalmente
de ruptura da barragem. Para minimizar geológicas e geotécnicas, a prospecção
esses riscos, a investigação deve esclarecer pode ser: indireta, semidireta e direta.
muito bem todas as feições que possam A prospecção indireta é aquela em
comprometer a segurança das obras a pro- que não há qualquer contato entre o in-
jetar, bem como as possíveis consequências vestigador e o material investigado, e o
de um acidente catastrófico para as popu- conhecimento desse material é obtido
lações localizadas a jusante das obras. por meio da identificação de suas pro-
6 - Investigações para obras de barragens 1 129

:-riedades físicas. Essa identificação é elétricas, entre as quais podem ser citadas:
.ealizada por meio da Geofísica, e as prin- potencial elétrico, condutividade elé-
apais propriedades físicas investigadas trica (ou o inverso, resistividade elétrica),
são: velocidade de propagação de ondas constante dielétrica e permeabilidade
sísmica), condutividade elétrica (ele- magnética. Dessas propriedades, a condu-
orresistividade), propriedade dielétrica tividade elétrica é a mais importante para
radar), densidade (gravimetria) e susceti- a prospecção elétrica; as demais têm uma
ilidade magnética (magnetometria) . No significância bastante reduzida.
. resente texto, serão abordados apenas os O método de eletrorresistividade
rrês primeiros métodos geofísicos citados, baseia-se, fundamentalmente, na Lei de
:>ar serem aqueles que encontram maior Ohm, descoberta experimentalmente
aplicação nos projetos de barragem. pelo alemão Georg Simon Ohm (Feitosa
A prospecção semidireta não leva o et al., 2008). Essa lei expressa a proporcio-
::nvestigador até a profundidade em que nalidade entre a intensidade de corrente
o material (solo ou rocha) se encontra, elétrica que percorre um condutor me-
;nas permite o seu contato direto por meio tálico e a diferença de potencial entre os
e amostras colhidas pelos diversos tipos terminais desse condutor (Fig. 6.1).
e sondagens. A prospecção direta, por
-ua vez, permite ao investigador um con-
Condutor de comprimento t.L, resistência t.R e
~ato direto com o material investigado,
seção transversal t.A
?ºr meio de escavações como poços, trin-
m n
cheiras e túneis .
A seguir, serão comentados esses dife-
rentes tipos de prospecção, sempre com
_é'_ )l l'>R

l'> L
)
_____;_
l'>i

M
Vm · Vn = -l'>V
a indicação de suas vantagens e desvan-
~agens, não apenas operacionais, mas i - intensidade da corrente elétrica (amperes)
R - resistência do material à passagem da corrente
também em função da relação custo/ be-
elétrica (ohms)
efício. V - potencial nos terminais M e N (volts)
L - comprimento do tubo condutor (m)
A - seção do tubo condutor (m 2)

6.2 PROSPECÇÃO INDIRETA


FIG. 6.1 Fundamentos da Lei de Ohm

6. 2 .1 Eletrorresistividade
Pela Lei de Ohm:

a) Princípios do método elétrico


(6.1)
A prospecção elétrica baseia-se nos
efeitos produzidos pela passagem de uma A resistência elétrica do condutor varia
corrente elétrica através de solos e rochas. na razão direta do seu comprimento e na
Os minerais que constituem esses mate- razão inversa de sua seção, resultando na
riais apresentam diversas propriedades seguinte expressão:
130 1 Geologia de Barragens

trica (p) é a que permite maior variação,


(6.2) a saber, desde 10 16 ohm.m (enxofre puro)
até 1,6 x 10- 8 ohm.m (prata nativa).
onde p é o fator de proporcionalidade de- Em função desse valor, os materiais
nominado resistividade. Esse fator, ao admitem a seguinte classificação:
contrário da resistência, é um parâmetro
Condutor: p < 10- 5 ohm.m
que caracteriza o material, independen-
Semicondutor: 10-5 < p < 10 7 ohm.m
temente de suas dimensões.
Isolante: p > 10 7 ohm.m
Pode-se deduzir a medida da re-
sistividade a partir da expressão (6.2)
como segue: Muitas rochas que são, por natureza,
2 semicondutoras ou até isolantes, podem
L1R.M ohm.m h m.m (,..,. )
p=---· =o ~lm tornar-se condutoras quando se encon-
L1L m
tram saturadas, quer através de seus
Pode-se, em alguns casos, utilizar poros (rochas sedimentares) ou de suas
também a unidade ohm.cm (1 ohm.m = fissuras (rochas ígneas e metamórficas).
100 ohm.cm). Nesses casos, a condutividade é eletrolí-
A condutividade elétrica (cr) é o in- tica, por ocorrer através de um eletrólito,
verso da resistividade, ou seja: que é a água. Essa condutividade poderá,
ainda, ser bastante elevada em função da
1 L1L
CT= - = -- - (6.3) concentração de sais contidos na água.
p L1R·M
A Tab. 6.1 mostra exemplos de resis -
Sua unidade será: tividade para vários tipos de rochas em
diferentes ambientes e de idades diferen-
2
a= [m / (ohm.m )] = [1 / (ohm.m)] = tes, segundo Keller (1966), mostrando
[(1 / ohm) · (1 / m)] = mho/ m que a resistividade aumenta com a idade
das rochas e diminui com a umidade,
De todas as propriedades físicas dos principalmente se em presença de água
minerais e rochas, a resistividade elé- salinizada.

TAB . 6.1 Resistividades em função da idade das rochas e do ambiente de formação


Sedimento Sedimento Rochas Rochas Rochas
marinho terrestre vulcânicas extrusivas carbonáticas
Idade geológica
(arenito, (arenito, (basalto, (granito, gabro (calcário,
folhelho etc.) argilito etc.) riolito etc.) etc.) dolomito etc.)
Quaternário -
1 - 10 15 - 50 10 - 200 500 - 2.000 50 - 5.000
Terciário
Mesozoico 5 - 20 25 - 100 20 - 500 500 - 2.000 100 - 10.000
Carbonífero 10 - 40 50 - 300 50 - 1.000 1.000 - 5.000 200 - 100.000
Paleozoico 40 - 200 100 - 500 100 - 2.000 1.000 - 5.000 10.000 - 100.00
Pré-cambriano 100 - 2 .000 300 - 5.000 200 - 5.000 5.000 - 20.000 10.000 - 100.00C
6 - Investigações para obras de barragens 1 131

A Tab. 6.2 most ra exemplos do au- na condutividade elétrica, uma vez que
mento da condutividade de algumas a maior retenção da água ocorre nesses
rochas em presença da água, segundo Tel- planos de estratificação, conferindo maior
ord, Geldart e Sheriff (1990). condutividade ao longo desses planos do
Isso explica porque a argila é muito que no sentido perpendicular a eles. O
melhor condutor que a areia. Em primeiro mesmo não ocorre com o arenito, cujas
lugar, os grãos da argila são infinitamente propriedades elétricas se aproximam mais
menores que os da areia, propiciando uma de um meio isotrópico.
maior superfície específica para adesão
b) Medição da resistividade
da água em suas partículas; em segundo
ugar, porque, como os poros da argila são A medição da resistividade p do
muito reduzidos, propiciam a entrada da subsolo é feita com a utilização de um sis-
água pelo efeito da capilaridade. Assim, tema quadripolo (Fig. 6.2).
pode-se dizer que a condutividade elétrica Por meio desse quadripolo, o circuito
das rochas depende dos seguintes fatores : elétrico é fechado através de dois eletro-
• litologia e composição mineralógica; dos (A e B) cravados no solo, permitindo
• porosidade total da rocha; a medição da corrente I no amperímetro.
• geometria dos poros e extensão de A diferença de potencial (tN ) resultante
seu preenchimento; dessa corrente é medida entre dois outros
• geometria das fraturas e fissuras e eletrodos (M e N) cravados no solo, no
respectivos grau s de abertura; domínio de influência da corrent e I, por
• resistividade da água de saturação meio de um potenciômetro.
(parcial ou total). Caso a separação dos eletrodos A e
B seja pequena e suficiente para deter-
Por outro lado, a laminação de rochas minar com segurança a resistividade
de origem argilosa, como o folhelho e a de uma única camada (AB 1 na Fig. 6.3),
ardósia, propicia uma elevada anisotropia cujas características se aproximem da
homogeneidade e isotropia, pode-se con-
TAB. 6.2 Variação da resistividade das siderar como real a resistividade obtida,
rochas na presença da água embora, na prática, essa possibilidade seja
Rocha % H20 p (ohm .m)
remota.
0,54 1,5x1O 4
Siltito O que geralmente ocorre é que a se-
0,38 5,6 X 108
paração entre os eletrodos "capta" a
1,00 4,2 X 103
Arenito resistividade de duas camadas (AB 2 na
0,10 1,4 X 108
1,30 6,0 X 103 Fig. 6.3), ou heterogeneidades e/ou ani-
Calcário
0,96 8,0 X 104 sotropias dentro de uma mesma camada.
0,31 4,4 X 103 Nesse caso, considera-se como resistividade
Granito 0,19 1,8 X 106
aparente aquela obtida na investigação.
o 1010
Dependendo da separação entre A e
0,95 4,0 X 104
Basalto B na Fig. 6.3, poderão predominar na re-
o 1,3x1O8
1 32 1 Geologia de Barragens

Amperímetro Fonte •
r·•--····.. ··········••U• " '·····-··-········ .. ········+ 11·•······••U••·······?_circuito AB.............
• ,•• •• •n•• ••• .. •••• ................. ... • .. ••• .. ••• • .. • • •• •••\,

i i Circuito MN (tN) i
l ! r........ p ••• • ..i
A i ;M N ; Potenciômetro 8

Linhas de corre nte


Equipo~

FIG. 6 .2 Medição da resistividade do subsolo


Fonte: modi fi cado de Feitosa et ai. (2008).

A disposição do quadripolo encontra


uma grande variedade na literatura espe-
A B, B,
I
cializada, porém os tipos mais utilizados
1
dl 1 I p,
\
I são aqueles dispostos linearmente e que
/ guardam uma simetria entre os quatro
'" ---------
/ p,
eletrodos e um ponto central a eles. São,
portanto, denominados quadripolos linea-
FIG. 6.3 Resistividades captadas em mais de res simétricos. Os dois mais comuns são o
uma camada Schlumberger e o Wenner, esquematiza-
Fonte: modificado de Fernandes (1 984).
dos na Fig. 6.4.
sistividade aparente final os efeitos da No quadripolo Wenner, as distâncias
resistividade p1 ou p2 . A resistividade AM, MN e NB são iguais, enquanto no
aparente (pa) pode ser medida com o auxí- Schlumberger a distância MN deve ser
lio do quadripolo indicado na Fig. 6.2, por menor que AB/ 5. O quadripolo Wenner
meio da seguinte equação: apresenta as vantagens de manter sempre
elevada a diferença de potencial fN e de
Pa =K · !'N (6 .4) ser de fácil mensuração. Como desvanta-
I
gens, podem ser citadas duas principais:
onde K é a constante geométrica do qua- torna as operações de campo mais lentas
dripolo e corresponde à expressão: e não permite distinguir entre efeitos
profundos e os eventualmente decorren-
K= rc- AM· AN tes de heterogeneidades superficiais. O
MN
6 - Investigações para obras de barragens 1 133

o de AB/ 2, propiciando a representação


M N B
f
i l l
Schlumberger (MN < AB/5)
l gráfica da função Pa (AB/ 2). A curva resul-
tante dessa plotagem é denominada curva
de resistividade aparente, diagrama elétrico
o ou, simplesmente, sondagem elétrica verti-
M N B
cal (SEV). A Fig. 6.5 mostra dois exemplos
1
i l l
Wenner (AM = MN = NB)
l de SEVs, em que foram investigadas três
camadas de diferentes resistividades.

FIG. 6.4 Quadripolos lineares simétricos


Perfil de resistividade
quadripolo Schlumberger tem como van- A técnica de perfr_l de resistividade,
~ gens principais agilizar as operações também denominada de caminhamento
e campo e possibilitar distinguir entre elétrico, explora a continuidade horizon-
efeitos profundos e superficiais. Sua prin- tal e vertical da resistividade aparente
cipal desvantagem é tornar mais difíceis no subsolo. Por meio dessa técnica, todo
e menos precisas suas medições, princi- o quadripolo é deslocado a cada nova
? almente em presença de horizontes mais medição. Como o comprimento da linha
resistivos, como as areias secas. AB permanece constante, é possível in-
vestigar o subsolo lateralmente a uma
c) Técnicas de medição profundidade constante. Se a superfície
Entre as variadas técnicas adota- do terreno for horizontalizada, os levan-
tamentos serão à cota constante. Ao longo
das para medição das resistividades
de um perfil de resistividade é possível
aparentes, serão analisadas as duas mais
identificar descontinuidades verticais,
empregadas na geologia de barragens:
como falhas em rochas sedimentares e
sondagem elétrica vertical (SEV) e perfil
fraturas em rochas cristalinas. A pro-
,;e eletrorresistividade.
fundidade de investigação corresponde
aproximadamente a 20% do comprimento
- ndagem elétrica vertical - SEV
da linha AB. As Figs. 6.6 e 6.7 mostram as
Como seu próprio nome indica, essa
diferenças entre a SEV e a perfilagem.
e uma técnica de exploração vertical, em
• e é mantido fixo o centro do quadripolo,
Uma vez que a profundidade é cons-
realizando-se uma série de medições de re-
tante nessa técnica de prospecção, é
sistividade aparente por meio do aumento
possível, com os dados obtidos em cada
::a distância AB a cada nova medição. Com ponto, construir um mapa de isorresistivi-
aumento de AB, a corrente elétrica, em dade da área investigada em profundidade,
-ese, circulará a profundidade maior que como mostra o exemplo da Fig. 6.8.
:ia medição anterior. Os valores de resis-
Com base nesse mapa, podem-se fazer
:ividade aparente obtidos por tal técnica as seguintes ilações geológicas:
são plotados graficamente em papel bilo- • A área é dominada por solo ou rocha
5arítmico, contra os respectivos valores sedimentar.
134 1 Geologia de Barragens

SEV Tipo Resistivo-Condutivo-Resistivo SEV Tipo Condutivo-Resistivo-Condutivo


Horizon te Re sistivo

E ~
E E
.L .L

º
2
e
º
2
e
<l)
e!
~
o.. g_ 1.---'
"' "'
e
"'
·u
Horizonte Cóndutivo
"'
·u
e Horizonte Cóndutivo
~
~
=
~ "
e,::

AB/2 (m ) AB /2 (m )

FIG. 6.5 Exemplos de sondagens elétricas verticais (SEV)


Fonte: modificado de Feitosa et ai. (2008).

-, P,
I

__./ --------,_'.
\\
/
AB/ 2

FIG. 6.6 SEV

.-1<----'

A
i _ ~f7,-, -
...... ,

M N
~..
...Bi P,
,. ,- -· ...... __,,,,, -~
.... ---"'
[!,. \
\
1
I
' _ ,.
t--------------------- x

FIG. 6.7 Perfilagem elétrica

• Na área indicada por R, é provável a • É provável a presença de material


ocorrência de rocha ígnea. mais permeável (talvez um paleo-
• A água salina do mar invade a área vale) no entorno da seta maior, por
sedimentar com concentração decres- onde a água salina penetrou com
cente no sentido de sua interiorização. maior facilidade.
6 - Investigações para obras de barragens 1 135

Evidentemente, para cada profundi- heterogeneidades, descontinuidades e


dade investigada pode-se construir um anisotropias dos meios (solo e rocha),
mapa idêntico ao da Fig. 6.8, o que per- principalmente em decorrência dos efei-
mite correlações geológicas a diferentes tos diferenciais da intemperização; e
profundidades e a construção de perfis presença de agentes externos, como a
como o mostrado na Fig. 6.10. água. Nesse sentido, a prospecção elétrica
é das mais inseguras, principalmente em
d) Aplicações do método elétrico
função de dois fatores: a condutividade
para barragem
elétrica dos minerais e rochas é aproprie-
dade física mais variável desses materiais;
Em princípio, qualquer método de pros-
a água propicia a condutividade eletrolí-
?ecção indireta tem suas limitações, dada
tica que pode afetar significantemente a
a variabilidade de resultados passíveis de
resistividade aparente desses materiais.
obter em consequência de condicionan-
Assim, uma determinada resistividade
-es como: variação da propriedade física
aparente pode ser resultante de espessu-
intrínseca da rocha e dos seus minerais;

200
100

50
30

25

20

+ - -- - - - - + - - - - - - - t - - -- - + - - - - - - + (500)

(E = 200) (300) (400) (500) (600)


O 100 m (Resistividades em f.lm)
f - - -- ---<

: G. 6.8 Mapa de isorresistividade em profundidade


~ te: modificado de Fernandes (1984).
136 1 Geologia de Barragens

ras muito diferentes de solos ou rochas • detectar a presença do nível freático;


sedimentares, em função da constitui- • caracterizar o recobrimento de túneis
ção litológica e do tipo de água presente e canais (adução, desvio ou verte-
nesses materiais, como mostra a Fig. 6.9. douro);
Assim, recomenda-se sempre fazer uma • caracterizar jazidas de materiais ter-
SEV próxima a uma sondagem mecânica rosos.
para aferir os resultados dessa sondagem
elétrica. Após tal aferição, é possível es- Para as fundações, esse método só é
tender a prospecção para uma área maior. recomendável no caso de serem constituí-
Na verdade, a melhor utilidade da pros- das por espessa camada de solo (aluvionar
pecção elétrica é permitir a interpolação ou eluvionar) ou por rocha sedimentar.
ou a extrapolação de resultados obtidos Ainda assim, não se recomenda esse
com sondagens mecânicas muito espaça- método para as ombreiras, principal-
das , dada a diferença de custo entre esses mente no sopé de seus flancos, onde a
dois métodos investigativos. Os efeitos eventual ocorrência de blocos e matacões
da anisotropia elétrica podem ainda ser presentes em tálus pode mascarar comple-
detectados com a realização de uma SEV tamente os seus resultados. Na parte mais
perpendicular à realizada na investigação. horizontalizada do fundo do vale, uma
No estudo de uma barragem, pode-se sondagem SEV deve ser feita próximo a
utilizar a prospecção elétrica nas seguin- uma sondagem mecânica para melhor ca-
tes situações: racterizar as litologias e suas espessuras.
• caracterizar as fundações da barra- A partir dessas informações, pode-se es-
gem; colher o comprimento AB compatível com
• detectar a presença de diques , fratu- a profundidade de investigação escolhida
ras e falhas; a partir da SEV e desenvolver uma per-

Areia argilosa
saturada

e Areia argilosa seca

Areia saturada

Argila saturada com


água salgada
Argila saturada
Argila seca
Areia seca

FIG. 6.9 Espessuras (e) variadas de diferentes situações geológicas acusando uma mesma resistividade
aparente
6 - Investigações para obras de barragens 1 137

agem elétrica ao longo de toda a área procedimento recomendado para as fun-


?revista como base da barragem. Como dações, porém com a execução de apenas
resultado dessa investigação, podem- um perfil ao longo do traçado previsto.
-se obter perfis elétricos transversais Devem-se adotar os mesmos cuidados
ou longitudinais ao eixo barrável ou um para evitar interpretações falsas apoiadas
mapa de isorresistividade das fundações. unicamente na prospecção geofísica.
A Fig. 6.10 mostra um exemplo em que a Finalmente, para jazida de materiais
interpretação da eletrorresistividade nas terrosos, pode-se adotar a mesma metodo-
fu ndações de uma barragem poderia con- logia indicada para as fundações, inclusive
duzir a um grande erro. com a aferição mecânica dos resultados
Observa-se claramente que os hori- obtidos pela Geofísica.
zontes condutores entre as distâncias
6.2.2 Sísmica
120 e 160 pés e entre 210 e 240 pés são
matacões dentro de um solo residual, e
a) Princípios do método sísmico
o mesmo pode ocorrer com o maior ho-
rizonte condutor entre as distâncias 40 O método sísmico utiliza a propaga-
e 80 pés. Assim, o tracejado branco indi- ção de ondas elásticas e acústicas através
cando o topo rochoso é totalmente falso, dos solos e rochas que integram a crosta
exigindo sondagens mecânicas para aferir terrestre. Essa propagação depende
esses resultados. A interpretação para fra- fundamentalmente das propriedades
tura provavelmente está correta. elásticas/acústicas dos minerais e rochas,
Ao longo dos traçados previstos para mas sua velocidade sofre influências de
canais ou túneis, pode-se adotar o mesmo outros fatores, como vazios entre grãos e

Anomalia - Fratura Well #9 (90 ft. north)


rock at 6 ft. below ground surface

Leste
Topo rochoso
(bed rock)
Distância (pés)
• Oeste
1.300
1.200
1.100
O 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 280
20 1.000
900
800
700

<il 600
u
Eu 500

--
O
Escala em pés
20 40 60 80
"'

400
300
200
100

FIG. 6 . 10 Perfilagem ao longo de um eixo barrável


Fonte: AGI (2011).
138 1 Geologia de Barragens

ao longo de fraturas, e dos materiais que equações que regem essas proporcionali-
podem preencher total ou parcialmente dades são:
esses vazios, sejam sólidos ou líquidos. Ao 112
E(l - u)g ]
produto da densidade e da velocidade de VP = [ p(l + u)(l - 2u) (6.5)
propagação de ondas acústicas denomina-
-se impedância acústica .
Quando um impulso é gerado na su- (6.6)
perfície do terreno, ou próximo a ela, há onde:
geração de dois tipos de ondas: de corpo e VP - velocidade das ondas primárias;
superficiais. V5 - velocidade das ondas secundárias;
As ondas de corpo propagam-se para E - módulo de elasticidade;
o interior do maciço terroso ou rochoso, G - módulo de rigidez;
como se uma tensão fosse aplicada a essa u - coeficiente de Poisson;
superfície por esse impulso. Essa tensão, g - aceleração de gravidade;
independentemente do ângulo que faça p - densidade.
com a superfície, será decomposta em
duas tensões: uma normal à superfície (o) Considerando a relação entre os
e outra tangencial ('r). Da mesma forma módulos de elasticidade e rigidez, pode-
como incidem no momento do impulso, -se apresentar a equação para as ondas S
essas tensões são introduzidas no interior como segue:
do corpo impactado, movimentando-se
Eg ]1/2
sempre nas mesmas direções em que in- (6.7)
Vs = [ 2p(l +u)
cidiram, ou seja, as tensões normais se
interiorizam por meio de uma propagação No caso de um meio com u = 0,25 e
longitudinal em relação ao seu traçado, p = 2,6 g/cm 3 , chega-se às seguintes ex-
enquanto as tensões tangenciais se propa- pressões:
gam no sentido transversal em relação ao
seu traçado. As tensões normais, ao serem
introduzidas em um maciço terroso ou
rochoso, correspondem às ondas primá-
rias (P) ou longitudinais, ou compressivas, A relação V/V5 será de 1,74, o que rati-
enquanto as tensões tangenciais geram as fica a maior velocidade da onda P. Por t a:
ondas secundárias (S), também chamadas motivo, as prospecções sísmicas normal-
de transversais ou cisalhantes. As veloci- mente utilizam a chegada da onda P em
dades de propagação das ondas P e S são suas investigações. Uma vez que o módulo
muito diferentes, pois enquanto as ondas de rigidez é nulo nos fluidos, conclui-se
P se propagam com velocidades proporcio- que nesse meio não há propagação das
nais ao módulo de elasticidade do meio, ondas S, conforme comprova a Eq. (6 .6).
as ondas S se propagam com velocidades As ondas superficiais são geradas
proporcionais ao módulo de rigidez. As pelo fato de o subsolo ser um meio he-
6 - Investigações para obras de barragens 1 139

·erogêneo, descontínuo, anisotrópico e essa interface, penetrando em outro meio,


:inito. Essas ondas são propagadas sobre com uma abrupta variação na direção de
a superfície que sofre o impulso ou ime- sua propagação. A energia que volta à su-
iiatamente abaixo dela, em todas as perfície corresponde à refl.exão da onda
·versas direções contidas nesse plano, incidente, e a parte da energia que pene-
embora com velocidades que variam em trará na interface corresponderá à refração
fu nção das heterogeneidades peculiares da onda incidente (Fig. 6.11).
a essa superfície nas diferentes direções. Constata-se, assim, que a interface
As duas principais ondas superficiais são: representa um contraste de impedância
:layleigh e Love. As ondas Rayleigh en- acústica de dois meios.
volvem uma combinação de movimentos
longitudinais e transversais, segundo
uma trajetória elíptica; as ondas Love
apresentam movimento ortogonal ao
sentido de propagação. Ambas as ondas
superficiais apresentam velocidade infe-
rior às ondas S, motivo pelo qual não são V,
V, Descontinuidade elástica
consideradas nas prospecções sísmicas. ou interface
As ondas Rayleigh são importantes nos
estudos sismológicos.
Nas prospecções sísmicas, denomina-
-se interface a superfície que delimita dois FIG . 6.11 Ref/.exão e refração sísmicas

meios com diferentes velocidades de pro-


b) Mecanismo da reflexão
pagação ondular (geralmente a onda P).
Essa interface pode ser representada por Na Fig. 6 .12, o ponto "O" é a fonte de
um plano de acamadamento, um contato emissão de impacto, e ao longo da reta Ox
entre rochas ou até mesmo pela separação pode ser instalado um número qualquer
de um meio seco para o mesmo meio satu- de geofones.
rado. Pode, ainda, ser um plano horizontal
X
ou inclinado, ou ser representada por uma
~===---=G=-------x

f
superfície plana ou curva. Em termos físi-
cos, essa interface constitui um plano de
descontinuidade entre meios com veloci- V,
dades diferentes de propagação das ondas. V,
x/2
A prospecção sísmica baseia-se no fato
de que um impulso gerado num ponto FIG. 6.12 Ondas ref/.etidas e refratadas
próximo à superfície gerará ondas que,
ao encontrar uma interface, terão parte Nessa figura, a linha I representa uma
da energia original retornada à super- interface entre dois meios geológicos
fície, enquanto outra parte atravessará de velocidades V1 e V 2 , situada na pro-
140 1 Geologia de Barragens

fundidade H da linha Ox. No geofone G, do sinal refletido. Uma das vantagens


situado na distância "x" de "O", chega- desse método é o fato de que parte da
rão duas ondas: uma direta, propagada energia emitida sempre retornará ao
na superfície segundo o percurso OG; e sensor ao encontrar contrastes de impe-
uma refletida na interface, fazendo um dância acústica, e outra é a possibilidade
ângulo de incidência "a" nessa interface, de se observar muito mais detalhes de
cujo percurso seráOA +AG. Como o tempo subsuperfície que não são atingidos pelo
necessário à chegada de uma onda é dire- método de refração.
tamente proporcional à extensão do seu
e) Mecanismo da refração
percurso e inversamente proporcional à
velocidade com que essa onda se desloca Ao se analisar o caso mais comum,
no meio, tem-se: em que V1 < V 2 , pode-se observar na
Tempo de chegada da onda direta: Fig. 6.13 que há muitas alternativas para
as ondas refletidas e refratadas.
Tn = OG = ~
V1 V1 (6.8) Como mostra essa figura, o ângulo p
agora é maior que o ângulo a e aumenta
Tempo de chegada da onda refle- proporcionalmente com esse ângulo de
tida: acordo com a Lei de Snell, ou seja:

2 2 1/2 sena.= senp


TRL = OA + AG = (x +4H ) (6 _9 )
V1 V2
V1 V1

Como a velocidade V1 é a mesma para Quando o ângulo Pchega a 90°, o que


as duas ondas, deduz-se que a onda direta corresponde a um ângulo de incidência ac>
chegará primeiro que a refletida. Todavia, a onda se propaga paralelamente à superfí-
essa chegada é desprezada por ser facil- cie de separação dos dois meios e se refrata
mente reconhecida a influência que tais para o meio superior com ângulo igual à ac
ondas sofrem das ondas Rayleigh e Love. O geofone G1 captará a onda refletida para
Constata-se ainda, na Fig. 6.12, que, sendo ac> sendo a distância OG 1 denominada dis-
V1 > V 2 , o ângulo de refração p é menor tância limite para que se produza a volta
que o ângulo de incidência a e, nesse caso, da onda refratada em V2 . A partir do geo-
o raio refratado não volta à superfície para fone G3 , a onda refratada chega primeiro
ser detectado por geofone. Tem-se, assim, a Assim, a distância OG 3 é denominada dis-
utilização do método de sísmica de refle- tância crítica e o ângulo ac, de ângulo crítico
xão. No caso V1 < V2 , que é o mais comum É importante ressaltar que, para qualque-
de ocorrer, há possibilidades de ser medi- ângulo a superior a ac, como o ângulo y na
das a reflexão e a refração da onda. Fig. 6.13, somente haverá reflexão da onda
A utilização desse método depende incidente, captada no geofone G2 , embora
de muitos fatores geológicos, principal- ocorram outros fenômenos, como a onda
mente com relação à capacidade dos solos gevanescente, que não é importante para a
e rochas transmitirem altas frequências reflexão ou para a refração. As ondas refie-
6 - Investigações para obras de barragens 1 141

O G, G G G
...---or--------------------------...--------,,.--- 2 3 4
X

FIG. 6.13 Ondas ref/.etida s e refratadas


Fonte: modi(lcado de Fernandes (1984).

·das mais detalhadas para investigação do


horizonte V1 são aquelas que chegam aos V,
geofones situados entre O e G1 . E
Num gráfico tempo-T x distância-X, o
Q_
E
cada horizonte com velocidade diferente ~
V,
será representado por uma série de pontos
que definirão linhas compatíveis com a
velocidade do meio atravessado por refra-
XC x'c Distância (x)
ção. A linha que une todos esses pontos
Ponto
é chamada de dromocrônica (drama = de tiro 2345 6 789
1
º11 12131415 • Geofones
1
lugar para se correr + crana = tempo). É,
pois, um gráfico que mostra o registro V,

dos tempos tomados pelas ondas refrata-


das para percorrerem várias distâncias. A V,

Fig. 6.14 mostra uma dromocrônica para


V,
três horizontes, com V1 < V 2 < V3 ·
Na Fig. 6 .14, xc corresponde à dis- FIG. 6.14 Dromocrônica de três horizontes
Fonte: modi{lcado de Feitosa et ai. (2008).
tância crítica para a refração que ocorre
entre as camadas de velocidades V1 e V 2 , captadas as refrações no h orizonte V 3 . A
e x'c corresponde à distância crítica para Fig. 6.15 mostra um tipo de geofone, que
a refração que ocorre entre as camadas se acha conectado a uma haste para sua
de velocidades V 2 e V3 . Observa-se nessa fixação no solo.
figura que os geofones que melhor capta-
d) Metodologia da prospecção
rão as ondas refletidas no horizonte V1
sísmica
são aqueles de números 1 a 3 . Os geofo-
nes 4 a 10 captarão as ondas refratadas no A prospecção sísmica pode envolver
horizonte V 2 e a partir do geofone 11 são pequenas ou grandes profundidades de
142 1 Geologia de Barragens

investigação. Para pequenas profundida- um geofone. Pela fraca intensidade do im-


des, pode-se realizá-la com dois métodos pacto produzido, esse método restringe-se
distintos: martelo ou explosivos. a investigar interfaces com profundidades
O uso do martelo tem sua capacidade não superiores a 20 m. Outra restrição é a
restringida pela intensidade do impacto presença de solos granulares secos, como
produzido. Por meio desse método, faz- a areia, que produzem uma grande disper-
-se percutir um martelo grande - na são das ondas nesse meio, fazendo com
verdade, uma marreta, como visto na que elas penetrem pouco na subsuperfície.
Fig. 6.16 - sobre uma placa de aço fixada O uso de explosivos nas investiga-
na superfície do terreno. As ondas produ- ções de pequena profundidade é feito
zidas sofrerão reflexão em uma interface por meio do disparo de uma carga explo-
não muito profunda, sendo captadas por siva a poucos centímetros da superfície,
permitindo que as ondas geradas por tal
impacto sejam refletidas e refratadas nas
interfaces encontradas, o que será cap-
tado por uma série de geofones instalados
na superfície, como mostrado no esquema
da Fig. 6.14. Para profundidades de inves-
tigação em torno de 50 m , são geralmente
utilizados 12 geofones. Para grandes pro-
fundidades , aprofunda-se mais a carga
explosiva, aumenta-se sua capacidade e
o número de geofones, que geralmente é
igual ou superior a 24. O registro básico
utilizado na interpretação dos dados da
refração sísmica chama-se sismograma. A
Fig. 6.17 mostra um modelo completo de
uma prospecção sísmica, com o perfil ge -
FIG. 6.15 Geofone ológico, a dromocrônica e o sismograma
correspondente à chegada das ondas.
O sentido de propagação das ondas merece
uma especial atenção na programação
de uma prospecção sísmica de refração,
porque nem sempre uma interface se apre-
senta horizontalizada, como se pode ver
nas Figs . 6.12 a 6.14. Muitas vezes esse
plano encontra-se inclinado e, supondo-
-se conhecer o sentido do mergulho para
programar a prospecção nesse mesmo
FIG. 6.16 Martelo usado na sísmica de re f'l.exão sentido, podem-se encontrar duas situa-
6 - Investigações para obras de barragens 1 143

,::,

':' 300 l=--\~==.--,-,--..;.,..-.1L.,--,;L--11-,-,-,--!'-,-,--+-.,.....,..L..-,-.....,J:,----.-,,C...,-,--t,'-,-_J_,,_,......L_,-;.:~:.;,:;;~ ~-,l


::'
~ 6 00
::' .
5
õ 9 00 t ::t::_=:r_==_~~~:;:::::t:::::::;::=~:r:_
=~
:;:_
:::::::_e~=
_'.;=~=
-:r~=-=r~~==i~-::.~r:=-=-T
-: :=__=1:
- =_ -~-::.;::_=~:5:_::T:'.'v:~~;;i-;;~:::j
:

::1G. 6.17 Modelo de prospecção sísmica


.:'an te: Dobrin (1981), modificado pelo Prof Paulo Aranha (UFMG).

cães distintas: a prospecção avança a favor 'i'.T


- _ _j
:io mergulho dessa interface, ou contra esse l'.x

:::iergulho. Na Fig. 6.18, observa-se urna l'.x V,


rospecção a favor do mergulho, enquanto 1'.T ª sen (ac + 0)

a Fig. 6.19, a prospecção é feita no sen- v,


"do contrário ao mergulho da interface.
Corno muitas vezes se desconhece o
entido para o qual mergulha a interface,
as apenas a sua direção, constitui rotina
a prospecção sísmica obter informações
FIG. 6.18 Propagação a favor do mergulho da interface
os dois sentidos perpendiculares a essa Fonte: modificado de Fernandes (1984) .
.iireção. A Fig. 6.20 mostra um exemplo
::rn que esse procedimento é adotado.
Por meio dessa metodologia, obtém-
-se urna velocidade aparente (Vap) para o
l'.x V,
orizonte que gerou as ondas refratadas. 2H ocosac
v, l'.T sen (a,, + 0)
::ssa velocidade aparenta um valor que
_ de ser superior ou inferior à velocidade
~eal de V2 . Na Fig. 6.20, tem-se:
A favor Contra o
do mergulho: mergulho:
·r - V1 V1 FIG. 6.19 Propagação contra o mergulho da interface
· ap(F) - V (C) - - ~ ~ -
sen(ac + 0) ap - sen(ac + 0) Fonte: modificado de Fernandes (1984).
144 1 Geologia de Barragens

• fundações;
Como: V2 = ____1_ , tem-se que: • canais;
senac
• túneis e obras subterrâneas;
• pedreiras e jazidas de materiais ter-
rosos e arenosos;
• determinação do assoreamento do
reservatório.
e) Aplicações da prospecção sísmica
em barragens
A caracterização das fundações inclui
as seguintes definições:
No projeto de uma barragem, a pros-
• tipos de estratos em rochas
pecção sísmica com o uso do martelo só é
sedimentares;
recomendada para a prospecção de jazidas
• espessura do regolito, incluindo alú-
de materiais terrosos em áreas com espessa
vios e elúvios;
camada de solo maduro, a fim de evitar as
• estruturas como falhas e fraturas
imprecisões decorrentes da presença de (método de reflexão);
matacões. Ainda assim, deve haver uma • propriedades elásticas das rochas.
aferição de seus resultados por meio de
prospecções diretas, além de o método ser A exemplo da recomendação feita para
utilizado apenas na etapa de viabilidade. o método elétrico, não se recomenda esse
O método sísmico com a utilização de método para as ombreiras, em razão das
explosivos pode ser empregado na caracte- heterogeneidades presentes nos colúvios,
rização das seguintes feições relacionadas principalmente nos sopés de seus flancos,
com o projeto de uma barragem: onde é comum a presença de blocos e

Tl - - - - - - - - - - - - - - = : .L__ _ _ _ _ _ _ _ ___,_,T

(C)

-- -
Vap __

FIG . 6.20 Prospecção sísmica tipo direto e reverso


Fonte: modifzcado de Fernandes (1984).
6 - Investigações para obras de barragens 1 145

matacões nos tálus, que mascaram total- priedades elásticas, é possível estender
mente esse tipo de investigação. Também essa prospecção até o projeto executivo,
na parte aplainada do vale é comum a pre- quando muitas dessas obras já se encon-
sença de grandes matacões resultantes da tram parcialmente abertas. Nesses casos,
intemperização diferencial das rochas. ultimamente tem sido muito empregada a
Nesses casos, a detecção do contato com sísmica por meio de furos de sondagens,
a rocha sã pode ser totalmente falsa, pelo denominada de método crosshole, cujo
que se recomenda sempre aliar a prospec- esquema de funcionamento pode ser ob-
ção sísmica a sondagens mecânicas que servado na Fig. 6.21. Com esse método,
possam aferir seus resultados. Em se tra- torna-se fácil fazer correlações entre os
tando de fundações, deve-se utilizar esse parâmetros geotécnicos estáticos, obtidos
tipo de prospecção na etapa de viabilidade. por meio de ensaios convencionais (com-
Para canais projetados, como desvios pressão simples, ensaios triaxiais, módulo
do rio, adução e aproximações do ver- de deformabilidade estático etc.), e os
edouro, a prospecção sísmica objetiva módulos dinâmicos, em que não ocorre
definir a espessura do recobrimento in- qualquer perturbação no maciço rochoso.
consolidado e inconsistente, a fim de que Em pedreiras, a prospecção sísmica
sejam projetados os taludes de escavação. pode definir a espessura do material es-
Os cuidados a tomar nessa prospecção são téril a decapear, condição imprescindível
os mesmos referidos para as fundações , para definir a viabilidade econômica de
principalmente em função das heterogenei- sua utilização. Para jazidas de materiais
dades propiciadas pela presença de blocos terrosos e arenosos, dependendo de sua
e matacões. Assim, essas investigações extensão, essa prospecção poderá reduzir
devem ser sempre aferidas por sondagens, os custos da prospecção direta, definindo
limitando-se à etapa de viabilidade. a espessura do material a utilizar. Em
Para túneis e obras subterrâneas, a ambos os tipos de estudo, deve-se utilizar
prospecção sísmica poderá prestar as se- essa forma de prospecção na etapa de via-
guintes informações: bilidade, devidamente aferida.
• espessura e irregularidades do solo O assoreamento de reservatório pode
de alteração, principalmente em ser determinado com o uso do método de
função da intemperização dife- perfilagem sísmica contínua . Por meio desse
rencial ao longo de fraturas, como método, desloca-se todo o sistema de emis-
mostrado na Fig. 5.7a; são e captação do som através de um barco
• fraturamento (método de reflexão); sobre a água do reservatório, conforme
• propriedades elásticas do maciço ro - mostrado por Souza et al. em ABGE (1988).
choso.
6.2.3 Georradar (GPR)
Para as duas primeiras aplicações,
eve-se empregar a prospecção sísmica a) Princípio do método
a etapa de viabilidade, sempre aferidas O método de georradar ou GPR
?Or sondagens mecânicas. Para as pro- (Ground Penetration Radar) guarda re-
146 1 Geologi a de Barragens


lações com os dois métodos geofísicos A corrente por condução (Jc) é definida
anteriores. Com o método elétrico porque como:
se baseia em propriedades elétricas como Jc = cr · Ê (6.10)
a condutividade, e com a sísmica porque

está relacionada com a reflexão de ondas onde cr é a condutividade elétrica e E é o
eletromagnéticas. campo aplicado no material.
Campos eletromagnéticos (EM) são Na corrente por deslocamento, a separa-

constituídos por campos elétricos (E) e ção de cargas que ocorre em um dipolo no
➔ ➔
campos magnéticos (H). Como as varia- qual se aplica um campo (E) é dada pela
ções magnéticas nas rochas são, na sua densidade D, assim expressa:
maioria, muito fracas , podem ser consi-
deradas desprezíveis (Daniels; Gunton; D= c·Ê (6.11)
Scott, 1988), daí que as propriedades elé- onde E é a permissividade dielétrica.
tricas constituem os fatores dominantes
que controlam a resposta do subsolo ao Quando a condutividade e a permissi-
campo EM. vidade dielétrica são constantes em um
As movimentações de cargas elétricas meio, existe uma frequência de transição
(correntes elétricas) no subsolo, resultan- em que as duas formas de cargas elétricas
tes da ação de um campo eletromagnético, se equivalem. Acima dessa frequência pre-
podem ocorrer de duas formas : corrente domina o deslocamento, quando a energia
por condução e corrente por desloca- se propaga como onda sem nenhuma ou
mento. com pouca dispersão. Abaixo dessa fre -

Detalhe da tela do sismógrafo mostrando


. . ... ........... ...
... um traço típico de ondas obtidas no
.... .. .. .
.. ... ..... ... . ... .. . .... . ...... ' ....... . . . ensaio Crosshote:
. . .. .." .. .... . . P = chegada das ondas primárias
..... ... ., ...... .. ...
1 ....... .

. .....
.. ... .... . . .... ..... . . . . ..... . (longitudinais)
...,. .. ..... ......
li: ....
. . ' .... .... ..
11 .. • • • .. . .. . ..
.. ... ,. . . . S = chegada das ondas secundárias
(transversais)

::::::::::- L. ~~~~~~ :~~ ~:;~~ f :::~~~~~~~~:j


FIG . 6.21 Arranjo de campo de sismograma obt ido
Fonte: Dourado (1984).
6 - Investigações para obras de barragens 1 147

.uência, predomina a condução, em que a Conforme Davis e Annan (1989), para


aiergia se difunde no material. condutividades menores que 100 mS/ m, a
Segundo Annan (1992), a veloci- velocidade permanece constante entre as
dade (V) e a atenuação (a) da onda no frequências de 10 e 1.000 MHz .
eslocamento são relacionadas com a
b) Metodologia do georradar
? ermissividade dielétrica e com a condu-
·vidade elétrica, como segue: A prospecção por georradar ou GPR é
feita por meio de um sistema que envolve
(6 .12) quatro elementos principais: unidade
de transmissão, unidade de recepção,
unidade de visualização e unidade de gra-
1,64 • cr
a=--- (6.13) vação. O esquema da Fig. 6.22 mostra a
-JK relação entre esses elementos.
onde K é a constante dielétrica do mate- O transmissor produz um pulso elétrico
rial, definida como: de alta voltagem e com mínima duração,
(6.14) que é aplicado na antena transmissora
responsável pelo seu envio ao subsolo.
onde: Esse sinal propaga-se no interior do solo
Eo - permissividade dielétrica no vácuo; e, ao encontrar interfaces, é refletido para
E - permissividade dielétrica do material. a superfície, sendo detectado pela antena
Quando uma onda eletromagnética receptora, que o repassa ao sistema de
é gerada na superfície do terreno, irá se recepção. O receptor amplifica o sinal,
propagar em subsuperfície num meio que acondicionando-o para ser visualizado na
em constante dielétrica K1 . Ao encontrar tela, ao mesmo tempo que o imprime no
uma interface que separa esse meio de um sistema de gravação. A Fig. 6.23 mostra o
outro com constante dielétrica K2 , essa caminhamente do pulso elétrico através
onda se reflete e volta à superfície. O coefi- do subsolo, sua reflexão em diferentes
➔ ➔
ciente de Reflexão R, para os campos E e H interfaces e sua reflexão até o retorno à
gerados nesses meios, é definido, para in- superfície, ao longo de um caminhamente
cidência normal à interface, como segue: de GPR em uma linha.
O deslocamento das antenas em super-
R= cp:; -)K;)i (j.f; +)K;) fície é feito como mostrado na Fig. 6.24,
(6.15) usualmente com distância constante,
ou seja, é mantida fi xa a distância entre
Segundo Ulriksen (1982), a velocidade as antenas. Esse método é chamado de
e a atenuação das ondas EM são os fatores common offset.
que descrevem a propagação de ondas de Os perfis de georradar podem ser
alta frequência no subsolo, os quais são feitos de modo contínuo ou descontínuo,
dependentes das variações dielétricas e dependendo da morfologia do terreno.
condutivas dos materiais aí existentes. No modo contínuo, o conjunto de ante-
148 1 Geologia de Barragens

nas é movido seguidamente ao longo da No modo descontínuo, os dados são ob-


linha de deslocamento, utilizando como tidos em posições individuais, ficando as
referência para a emissão de ondas um antenas estacionadas momentaneamente
mecanismo de tempo ou de trecho per- em cada ponto de medição durante a
corrido. Essa metodologia (Fig. 6.24) é emissão de ondas . Esse método é indicado
aplicável em terrenos aplainados e com para terrenos acidentados ou com muitos
poucos obstáculos, quando então se torna obstáculos.
extremamente rápida e de fácil execução. A penetração do sinal de radar está con-
dicionada inicialmente pelas propriedades
Visor
elétricas do material atravessado (conduti-
Gravação
vidade e constante dielétrica). Assim, esse
sinal pode atingir profundidades supe-
riores a 20 m em solos ou rochas de baixa
Transmissor Receptor condutividade (resistividade < 50 ohm.m),
mas poderá penetrar menos de 1 m em
Antena Antena argilas altamente condutivas. A frequên-
cia do sinal emitido também contribui
diretamente para uma maior penetração
Solo e resolução do método. Frequências maio-
res (200 a 2.500 MHz) possibilitam maior
resolução, porém menor penetração. Ao
Rocha contrário, frequências menores (10 a
FIG. 6.22 Esquema dos elementos que compõem um 200 MHz) propiciam maior penetração,
sistema GPR
porém com menor resolução vertical.
Fonte: modif,.cado de Annan (1992).

Deslocamento ~

Zona Anômala Solo

Rocha

FIG. 6.23 M odelo geológico simplif,.cado com posicionamento do GPR ao longo de um a linha
Fonte: m odif,. cado de Davis e A nnan (1989).
6 - Investigações para obras de barragens 149

Como os diferentes tipos e tamanhos


as antenas permitem variar a frequência
.:o sinal emitido, é necessário, em cada
rogramação, conhecer a priori o tipo de
itologia esperado, a fim de que se possa
_rogramar as antenas que propiciarão
..una maior profundidade de investigação
-em comprometer a resolução dos dados
obtidos.

e) Aplicações do georradar em bar-


ragens

Apesar das limitações impostas por


esse método de prospecção, principal-
;riente relacionadas com a profundidade
:nvestigada, o georradar tem sido muito FIG. 6 .24 Desloca mento das antenas no método GPR
tilizado no Brasil, mormente na detec- Fonte: cortesia do Prof Paulo Aranha (UFMG).
ão da conformação das estruturas das
para definir a espessura dos depósitos ,
rochas cristalinas, em projetos de implan-
permitindo sua cubagem. As pedreiras,
uição de dutos subterrâneos, na detecção
por sua vez, geralmente possuem reco-
do nível freático, em processos cársticos,
brimento de estéril pouco espesso, daí
na determinação de aluviões submersas,
poderem ter essa espessura investigada
na identificação de pipping em solos etc.
pelo georradar.
Em barragens, pode-se aplicar esse
O assoreamento do reservatório
m étodo nas seguintes situações:
de barragens de pequena altura, ou até
• fundações da barragem e das obras
mesmo nas partes terminais das obras de
associadas;
grande porte, pode ser definido pela utili-
• jazidas de areia e pedreiras;
zação do georradar (Fig. 6 .25).
• assoreamento do reservatório.

Nas fundações, o GPR pode ser utili- 6.3 PROSPECÇÃO SEMIDIRETA


zado com os seguintes objetivos:
• definir a espessura de aluviões Na prospecção semidireta, o pesquisa-
submersas; dor pode conhecer materiais geológicos
• caracterizar os materiais incoeren- situados a diferentes profundidades de in-
tes que recobrem o embasamento vestigação, sem que tenha acesso ao local
rochoso; investigado. Para tanto, ele se vale da ob-
• caracterizar o fraturamento do tenção de amostras desses materiais por
maciço rochoso. meio dos diferentes tipos de sondagens.
Como, em geral, as jazidas de areia são Embora a amostragem de solos e rochas
-ubmersas, o GPR pode funcionar bem seja um dos objetivos dessa prospecção,
150 1 Geologia de Barragens

nem sempre esse objetivo é plenamente as características dos materiais incon-


alcançado. Dependendo das condições do solidados amostrados. A amostragem
material e do método de prospecção ado- parcial está relacionada com as rochas ,
tado, ocorre uma das seguintes situações: quando as condições de intemperização
• amostragem deformada; e de fraturamento desses materiais não
• amostragem indeformada; permitem que se obtenha uma recupera-
• amostragem parcial; ção total dos testemunhos de sondagem.
• amostragem integral; Na amostragem integral, todo o material
• nenhuma amostragem. sondado é recuperado, enquanto que, em
alguns métodos de prospecção, nenhuma
A amostragem deformada é aquela que amostragem pode ser obtida.
ocorre em materiais inconsolidados, em Os principais métodos de investigação
que o método de prospecção altera a tex- mecânica que integram a prospecção se-
tura original desses materiais, destruindo midireta são:
suas estruturas reliquiares e mas carando • Sondagem a varejão - SV
inúmeras de suas propriedades físicas. Na • Sondagem a trado - ST
amostragem indeformada, preservam-se • Sondagem a percussão - SP

Distâncias - m
b
0,00 25,00 50,00 75,00 100,00
0,00

__. . .. __ _
FIG. 6.25 Pesquisa de assoreamento em um reservatório de barragem: (a) imagem do procedimento geofísico
sobre um barco; (b) radargrama que mostra, na parte superior mais clara, o contorno do material arenoso
responsável pelo assoreamento
Fonte: co rtesia do Prof Paulo Aranha (UFMG).
6 - Investigações para obras de barragens 1 151

• Sondagem rot ativa - SR embora utilizada desde os primórdios da


• Sondagem mista - SM investigação do subsolo. Trata-se de uma
• Sondagem rot opercussiva - SRP sondagem manual ou mecanizada, que
utiliza o trado como instrumento para
6 .3 .1 Sondagem a varejão (SV)
perfurar e amostrar o solo de baixa a
Esse tipo de prospecção não permite média resistência.
qualquer amostragem e presta-se apenas
a) Perfuração com trado
para detectar a espessura e o tipo de ma-
erial granular submerso. Por isso, é mais O trado responsável pela escavação é
utilizado na pesquisa de materiais are- constituído por três partes: cruzeta, haste
nosos nos leitos dos rios, como forma de e trado. O trado propriamente dito pode
obter esse tipo de material para suas di- ser do tipo concha ou helicoidal (Fig. 6. 26).
versas aplicações. A cruzeta e as hastes são geralmente de
A sondagem é feita por meio da cravação ferro galvanizado, com diâmetro mínimo
de uma haste metálica lisa, operada geral- de 1" (2,5 cm). A cruzeta é conectada à
mente através de um barco. Essa cravação haste através de um T e as hastes, com
pode ser manual ou por golpes de marreta, tamanhos de 1, 2 e 3 m, são interconec-
e a percepção do tipo de material atraves- tadas com luvas do mesmo material. O
sado pode ser feita pela reação sonora e trado tipo concha é utilizado com os se-
vibratória do processo. Nas areias, a pene- guintes diâmetros: 3" (7,5 cm), 4" (10 cm),
tração é áspera, ao passo que nas argilas é 6" (15 cm) e 8" (20 cm). O trado helicoi-
macia. Em superfície rochosa, o impacto é dal apresenta o diâmetro mínimo de 2 ½"
duro e resvala. Uma das limitações desse (6,3 cm), mas pode alcançar diâmetro
método é a reduzida profundidade de in- superior a 10" (25 cm) quando acionado
estigação, que nunca ultrapassa os 3 m, mecanicamente. O trado concha também
além da impossibilidade de coletar amos- pode ser acionado mecanicamente com a
tra do material sondado. utilização de um pequeno motor respon-
Em projetos de barragem, utiliza-se sável pela sua rotação, conforme mostrado
essa prospecção para o levantamento de na Fig. 6.27, em pesquisa realizada pelo
azidas de areias submersas e na avaliação autor em sua tese de doutorado.
o assoreamento nas partes terminais do A sondagem deverá iniciar-se com o
reservatório. Em razão das limitações re- trado concha, que, dependendo do tipo de
:eridas, esse tipo de prospecção é muitas material a escavar, poderá ultrapassar fa-
..ezes utilizado em complemento às pros- cilmente os 15 m de profundidade (acima
:>ecções geofísicas, principalmente no do nível freático) . Sempre que forem en-
::nétodo GPR. contradas concreções de seixos ou de
laterita, deve-se substituir a concha por
6 .3.2 Son dagem a trado (ST)
uma ponteira constituída por uma peça de
A sondagem a trado é uma das pros- aço terminada em bisel, que poderá desa-
- ecções semidiretas mais rudimentares, gregar ou reduzir as concreções, de sorte
152 j Geologia de Barragens

a propiciar a continuidade da escavação o que também deve ser feito se houver


com o trado concha. Ao atingir horizon- artesianismo não surgente. Os resultados
tes de argila mais rija, ou argila abaixo do da perfuração devem ser apresentados
nível freático, a concha deve ser substitu- em perfis apropriados, onde constarão,
ída pelo trado helicoidal. no mínimo:
A sondagem a trado será encerrada nos • nome da obra e do cliente;
seguintes casos: • identificação e localização do furo;
• quando atingir a profundidade que • diâmetro da sondagem;
interessa ao projeto; • data de execução;
• quando ocorrer desmoronamentos • cota, quando possível;
sucessivos das paredes do furo; • descrição dos materiais atravessa-
• quando o avanço da escavação for dos;
inferior a 5 cm em 10 minutos de • profundidade das amostras coletadas;
operação contínua; • medidas de nível de água, quando
• quando se atingir o impenetrável à possível.
perfuração, pela ocorrência de casca-
lho, matacão ou rocha (nesse caso, o O Boletim nº 3 da ABGE (1999) apre-
furo poderá ser deslocado num raio senta um modelo para o perfil desse tipo
de 3 m e tentada nova perfuração). de sondagem.
Em barragens, pode-se utilizar a son-
Caso seja encontrado o nível freático , dagem a trado na pesquisa de materiais
a sua profundidade deverá ser anotada, terrosos (ver Cap. 9) e na caracterização
das fundações da barragem. Para as fun-

Haste

- Trado

Concha Helicoidal

FIG. 6.26 Tipos de trado FIG. 6 .27 Trado mecanizado


Fonte: modi ficado de ABGE (1980). Fonte: pesquisa do autor.
6 - Investigações para obras de barragens 1 153

- ções, esse tipo de sondagem é muito


- pregado em complementação aos
tros tipos de investigação mecânica
para aferição da geofísica. Apresenta
- mo vantagens a rapidez da prospecção
:: o seu baixo custo, e como desvantagens,
- deformação da amostra, a dificuldade
:.e atravessar materiais granulares gros-
_______._.-.
__,;--=:::_~.::..:
~~

- ---=t,._i,,,_ .
~-
- iros e saturados e a impossibilidade de -
--==- --~-=- ·-
- __ ·-
rapassar blocos e matacões . -:' ' .

b) Amostragem com trado


~
rnostra. ~ 1 /
As amostras devem ser coletadas a :

·. A
• • ,,.. t

:
\ rnostra. 2
:ada metro perfurado e dispostas em Separação das pilhas por \
diferença de material /
:!ilhas sobre uma lona, para impedir seu
-ontato com o solo de superfície. As pilhas
FIG. 6.28 Amostragem de uma t radagem
rão separadas a cada mudança de mate-
Fonte: modifi.cado de USB R (1973).
ial (Fig. 6.28).
O acondicionamento da amostra varia pode ser obtida por meio do golpeamento
:om o objetivo da sua coleta. Quando se de peças cortantes ou por lavagem combi-
:.estina a ensaios geotécnicos, devem ser nada com a percussão. Os dois principais
-oletadas duas amostras: uma com 100 g objetivos dessa sondagem são caracterizar
:: acondicionada em um frasco, parafi- o material perfurado e definir a resis-
:nzado ou selado com fita colante, para tência à penetração desses materiais.
-=eterminação da umidade natural; outra Subsidiariamente, esse tipo de sondagem
: m cerca de 14 kg, em saco de lona ou presta-se à realização de inúmeros ensaios
-.: ástico transparente, para determina- in situ. Para conhecimento do material
:ão dos demais ensaios geotécnicos. Toda perfurado, pode-se empregar o método de
~ostra coletada deverá receber duas lavagem, e para definir a resistência à pe-
:: ·quetas: uma interna, devidamente netração com as diferentes interpretações
?TOtegida, e outra externa. Em ambas as de seus resultados, emprega-se o método
.:1 ·quetas devem constar: nome da obra e de percussão, também chamado SPT
-o cliente; nome do local; número do furo; (Standard Penetration Test). A Fig. 6.29
.:ata de coleta; intervalo de profundidade mostra o esquema de montagem dos
:.a amostra; e nome do coletor. equipamentos necessários a esse tipo de
sondagem.
6.3.3 Sondagem a percussão (SP)
a) Perfuração por lavagem
A sondagem a percussão é um método
"'Vestigatório de materiais inconsolida- Execução da sondagem
:.os e incoerentes em que a perfuração A sondagem por lavagem é sempre
154 1 Geologia de Barragens

combinada com a sondagem a trado, material escavado, faz-se subir manu-


uma vez que esta permite uma melhor almente a composição haste + trépano
amostragem. Assim, a perfuração é geral- por uma altura de 30 cm, soltando-a em
mente iniciada por um trado concha até queda livre com um movimento manual
atingir o impenetrável a esse tipo de per- de rotação imprimido às hastes.
furação, quando então troca-se o trado A sondagem por lavagem será dada por
concha pelo helicoidal, prosseguindo até concluída nos seguintes casos:
o impenetrável definido no item 6 .4.2a. A • quando atinge a profundidade es-
partir desse ponto, inicia-se a sondagem pecificada na programação dos
por lavagem, que consiste em penetrar serviços;
por percussão o trépano mostrado na • quando o avanço for inferior a 5 cm
Fig. 6.30. Essa peça de aço possui dois durante 30 min.
furos por onde sai a água introduzida
sob pressão nas hastes que conduzem Amostragem
o trépano. Para facilitar a trituração do A amostra na sondagem por lavagem é
obtida de três formas:
• amostra retirada dos trados;
• amostra obtida pela circulação da
água;
Tripé
~
• amostra colhida por uma bomba
balde.

ovimentação b) Perfuração a percussão com SPT


Haste
_,,,,-- Execução da sondagem
Parede do furo Nesse tipo de sondagem, utiliza-se o
tripé mostrado na Fig. 6.29, onde uma
manivela permite acionar um cabo que
Barrilete
sustenta um peso de 65 kg. No interior
do furo encontra-se uma haste em cuj o
topo há uma cabeça de cravação (ressalto
na Fig. 6.29) e na base, um barrilete que
FIG. 6.29 Esquema de montagem da sondagem funciona como escavador e amostrador.
SPT
Fonte: modificado de ABGE (1998).
O barrilete (Fig. 6.31) é um tubo oco com
dimensões internacionalmente padroni-
Orifício de saída da água
zadas para permitir o correlacionamento
dos seus resultados com outras experiên-
cias brasileiras e internacionais.
Inicia-se a perfuração com um tubo
#
concha até a profundidade de 55 cm.
FIG. 6.30 Trépano Daí em diante, alternam-se trechos de
Fonte: modificado de ABGE (1980).
6 - Investigações para obras de barragens 1 155

Seção A-A
736,60 mm

-G. 6.31 Ba rrilete padrão para SPT


- e: modificado de ABGE (1980).

~- T com 45 cm de extensão com trechos Fig. 6.32 mostra um exemplo de apresen-


-: 55 cm escavados a trado ou por lava- tação de uma sondagem SPT, em que se
;em. Para execução do SPT, são feitas três pode visualizar a diferença entre as duas
~arcas na haste (geralmente com giz), medições anteriormente referidas .
.:.:stanciadas 15 cm entre si. Colocado A sondagem deverá ser dada por con-
_ barrilete no fundo do furo, apoia-se cluída quando a penetração referente a dez
-~avemente o peso de cravação sobre o golpes consecutivos for inferior a 5 cm, não
~ssalto das hastes e anota-se a eventual se computando os cinco primeiros golpes do
_enetração observada, que corresponderá teste, ou quando o número de golpes ultra-
a zero golpes. passar 50 num ensaio em 30 cm. Nesses
Em seguida, suspende-se o peso de era- casos, considera-se o material impe-
ação até uma altura de 75 cm em relação netrável à percussão. Na Fig. 6.32, o
a cabeça de cravação da haste, fazendo-o impenetrável ocorreu quando foram ne -
cair em queda livre sobre esse ressalto, cessários 18 golpes para penetrar apenas
com a consequente cravação de parte do 5 cm.
arrilete. Continua-se com essa operação, A aplicação da sondagem a percussão
anotando-se quantos golpes foram neces- em projetos de barragem praticamente se
sários para a cravação dos 30 cm iniciais e resume à medição da resistência do solo
dos 30 cm finais . Embora os 30 cm iniciais como suporte para cargas que lhe serão
possam dar alguma referência sobre a re- aplicadas. Assim, o seu emprego tem sig-
sistência do solo penetrado, sempre há, nificativa importância para definir as
nos 55 cm superiores ao trecho perfurado características das fundações da barra-
com SPT, uma influência da conturbação gem, quando se trata de solo espesso ou
provocada no trecho escavado a trado ou de sedimento pouco consolidado. Nesses
por lavagem, motivo pelo qual os 30 cm casos, a barragem mais indicada é a de
iniciais geralmente apresentam resistên- terra, e o SPT esclarecerá dois pontos
cia inferior à dos 30 cm finais. Assim, fundamentais : a) a que profundidade se
para efeito da aplicação desse método ao encontra o impenetrável à percussão;
projeto geotécnico, empregam-se apenas b) qual a profundidade em que o SPT é
os 30 cm finais, que corresponderiam compatível com a carga máxima imposta
ao valor da resistência à penetração. A pela obra a projetar.
156 1
Geologia de Barragens

Percussão Infiltração
_._;
-- - 30 cm iniciais !Golpes 30 cm V,

- 30 cm finais Descrição do material V


TestE Absorção >
V
Golpes/30 cm Iniciais Finais cr::
nº k=cm/Seg
10 20 30
1 3 4 :....:. ·- Areia fina siltosa fofa,
1

! 4 5 0 87
-·- . cinza escura (aluvião) ê
' t _:/.Areia fina silto-argilosa pouco ~
2,00- 1,90
V ::-; compacta.cinza (aluvião)
_ _ _...:___ __ _ _ _--J ' - -
_ :..i.
1<.:.-...:....L
5 5
-
1
', 3 5 - -
.. Areia fina e média siltosa,
-
'\ 9 11 4,00
3,65 ·,-:---=-:-:-
NA "
com lente argilosas pouco
a median. compacta,
'r\ - ·-
·-
cinza escu ra (aluvião)

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16 17
- .-.
1
)>
19 22 6,00 5,98
I
1
I 17 19 6,87 ...
/; Argila arenosa dura,
cinza escura (aluvião)
\
. . . . - Areia fina e média compacta,
'[\ ·· cinza clara (aluvião)
\ 22 25 · + - --
8,00 8,00 i:,..:..·~- .:.... ---------1
1 ✓-·.

~
I
20 23 Areia fina e média argilosa,
compacta cinza
clara (aluvião)
1
.-'-_.L.• - -- - -- - - - - - 1
0,00 10831<-y"-· c
. j...

' · o: - o· Areia grossa com pedreg.


11,62 ~-o.º· ª;:;~;~?aá~íl/fi~~\~º)
12,00
\ _ Final da perfuração

Observações:
- Impenetrável a percussão (alter. de rocha)

Localização: Sondagem nº
Estaca 16 + 0,00 - montante 20 m SP.07 1
Coordejnadas !Cota: !Operador: Data JVisto:
N= E= 604,794 1 Assis 1 = 30/12/92 TT = 04/12/92

FIG. 6.32 Perfil de uma sondagem a percussão com SPT


6 - Investigações para obras de barragens 1 157

A quantidade de sondagens SPT para deve utilizar essa amostra como amostra
uma fundação de barragem varia em indeformada para efeito de testes labo-
:unção das seguintes condicionantes: ratoriais. Para os demais usos, a amostra
atureza do solo, altura da barragem, coletada no barrilete de percussão pode
extensão do eixo e área da base da barra- ser acondicionada segundo as recomen-
gem. Em função dessas condicionantes, o dações feitas em 6.4.2b.
espaçamento entre furos pode variar de Para os solos argilosos ou siltosos
10 m a 50 m. O ideal é combinar o uso de de baixa consistência, é possível coletar
algumas dessas sondagens com a sonda- amostras praticamente indeformadas com
oem rotativa, produzindo uma sondagem o uso do amostrador de solo de cravação
mista (ver item 6.4.5). com paredes finas, também denominado
Além dos objetivos anteriormente refe- de Shelby, por ter sido a marca registrada
ridos para esse tipo de sondagem, podem com essa utilidade. Como se pode ver na
ainda ser feitas inúmeras correlações Fig. 6.33, esse amostrador é composto por
entre a resistência à penetração e diversos um tubo metálico de paredes finas, em
mdices dos solos. Para os solos arenosos, geral com 50 cm de comprimento e diâ-
por exemplo, é possível estimar o módulo metro de 2 ½" ou 4", ligado a uma cabeça
de deformabilidade, o ângulo de atrito e a provida de uma válvula de alívio.
compacidade da areia, e para os solos argi- O amostrador é introduzido no solo por
losos, estimar o módulo de deformabilidade, meio de cravação contínua e constante, e a
a coesão e a consistência da argila. válvula permite o escape do ar e da água à
medida que o solo penetra nele. Concluída
Amostragem na sondagem a percussão a coleta, o tubo é desconectado da cabeça,
A sondagem a percussão com SPT sendo raspados levemente cerca de 2 cm
utiliza o amostrador padronizado tipo do solo em cada extremidade, quantidade
Raymond (Fig. 6.31). Como se pode ob- substituída por parafina a fim de conser-
servar no corte A-A dessa figura, o corpo var a umidade natural da amostra. Em
principal, com extensão de 55,88 cm, laboratório, a amostra é retirada através
é bipartido, formando, quando des- de um extrator e submetida a todos os
montado, duas calhas em que se pode testes aplicados a amostras indeformadas.
analisar e coletar a amostra de solo que
6.3.4 Sondagens rotativas (SR)
aí fica retida. A espessura desse barrilete
é de 0,795 cm, o que equivale a uma in- Esse é um tipo de sondagem larga-
t rodução no solo pesquisado de 1,59 cm mente utilizado em obras de engenharia
de espessura total da ferramenta de que envolvem o conhecimento das rochas
escavação que penetra sob impacto de sondadas, uma vez que permite a perfura-
batidas . Obviamente que essa penetra- ção e a extração de qualquer tipo de rocha.
ção dinâmica causa forte compressão da Por meio desse método prospectivo, o
amostra produzida, deformando sua es- material rochoso é perfurado pela ação
t rutura original, motivo pelo qual não se conjugada de rotação e força de penetra-
158 1 Geologia de Barragens

ção, que cortam a rocha de forma cilíndrica se compartimentou o testemunho du-


e contínua ao longo de todo o furo. rante uma manobra, independentemente
A amostra de rocha perfurada é deno- do comprimento de cada um desses tre-
minada test emunho.A Fig. 6.34apresenta chos. Denomina-se manobra na sondagem
um esquema desse tipo de sondagem, em rotativa cada ciclo de corte e retirada dotes-
que a engrenagem mecânica acionada temunho do interior do barrilete. Algumas
por um motor é responsável pela rotação classificações de maciços rochosos usam a
dos equipamentos de corte e amostragem, recuperação modificada, também deno-
denominados, respectivamente, coroa e minada RQD (Rock Quality Designation).
barrilete. A Fig. 6.35 mostra uma foto de Por meio dessa metodologia, somam-se
uma sonda rotativa em operação. A água em uma manobra todos os trechos de t es-
bomb eada sob pressão objetiva evitar o temunho que tenham individualmente
superaquecimento da coroa durante o comprimento igual ou maior que 10 cm,
corte da rocha. excluindo aqueles que foram partidos para
A quant idade de testemunhos retida acomodação do t estemunho na caixa. O
no barrilete, dada em percentagem entre RQD representa a relação entre a soma
a extensão da amostra e o comprimento desses pedaços e a ext ensão da manobra.
perfurado, é denominada recuperação. A perfuração pode ser feita em diver-
Considera-se como extensão da amostra sos diâmetros padronizados pela DCDMA
o somatório de todos os trechos em que (Diamond Core Drill Manufactures Asso-

,, ·
/ ,,,..,...,.,../
~ Furo de sondagem
.✓
_ . alargado e limpo

/ Orifício para alívio de pressão


,?· · (válvula esferoidal interna) ,·
'/
Cabeçote com rosca para
' conector (niple adaptador)

/ . . ·· . .,....,...-Tubo amostrador
/ _,;- (cam isa fina de latão)
/ / ,•

/ . / /

/
/
/ /
/ /

Antes da cravação Após á cravação


6 - Investigações para obras de barragens 1 159

Mangueira para
sucção de uma
fonte de água

Revestimento

® ®~
®
y V

V V

y \I

Barrilete

FIG. 6.34 Esquema de uma sonda rotativa


:onte: modificado de ABGE (1998).

d ation), conforme indicado na Tab. 6.3, dagem a percussão. Assim, admite-se


na qual a primeira letra refere-se ao diâ- que tais métodos já foram utilizados nos
metro do furo e a segunda (X ou W), ao materiais inconsistentes que recobrem
ipo de acoplamento dos tubos de reves- os maciços rochosos, incluindo o solo e
timento. o saprólito. Em alguns casos, o saprólito
apresenta elevada resistência àqueles
a) Perfuração a rotação
processos mais simples, principalmente
Deve-se utilizar a sondagem rotativa em decorrência das heterogeneidades
naqueles materiais que demonstraram consequentes da intemperização dife-
impenetrabilidade a outros métodos mais rencial, o que exige sua perfuração pelo
simples de perfuração, como trado e son- método rotativo.
160 1 Geologia de Barragens

de vídia embutidas no corpo metálico da


coroa, projetando-se apenas o necessário
para uma eficaz ação de corte. As pasti-
lhas são formadas por uma liga de aço com
carboreto de tungstênio, que lhe confere
alta resistência para o corte. Para rochas
duras, é necessário utilizar coroa dia-
mantada, que pode ser de dois tipos: com
os diamantes cravados em torno da face
da coroa e incrustados até certa profun-
didade na matriz (Fig. 6.36b) ou com os
diamantes impregnados dentro da matriz
da coroa.
FIG. 6.35 Sonda rotativa em operação
Escolhidos os tipos de avanço e de
Fonte: projeto do autor.
coroa, inicia-se a perfuração em rocha
TAB. 6.3 Diâmetros de perfuração por meio de manobras compatíveis com o
Diâmetro Diâmetro do estado de alteração e de fraturamento da
Denominação
do furo (mm) testemunho (mm) rocha. Quando a rocha possui boa quali-
EW-EX 37,71 21,46 dade nesses aspectos, a manobra pode
AW-AX 48,00 30,10 ser quase igual ao comprimento total do
BW-BX 59,94 42 ,04 barrilete (3 a 5 m). Quando as más carac-
NW-NX 75,69 54,73 terísticas do maciço rochoso dificultam a
HW-HX 99,23 76,20 amostragem, deve-se diminuir o compri-
mento da manobra.
O avanço da sondagem rotativa pode Ao se atingir o nível freático, deve-
ser manual ou hidráulico. O avanço -se anotar sua profundidade e medi:
manual sob o controle de um sondador esse nível todas as manhãs, antes ce
experiente é recomendado em maciços ro- reiniciar as operações. Concluída a so~-
chosos muito alterados ou extremamente dagem, deve-se esvaziar o furo e, no
fraturados , a fim de se obter uma melhor seguinte, medir o nível corresponde --=
recuperação. Outras práticas para melho- à estabilização do freático. Essa pro
rar essa recuperação serão discutidas no dência visa evitar o mascaramento des
próximo item, referente à amostragem. nível pela introdução da água para s
Definido o tipo de avanço da sonda- dagem, principalmente quando o solo
gem rotativa, é necessário escolher o intemperização é argiloso, podendo le
tipo de coroa que cortará a rocha. Se o muito tempo para que essa água se infil
maciço rochoso for brando, como algu- e seja equilibrada a configuração hidrog-
rochas sedimentares, ou saprólito de ológica local. Situação como essa provoco
as. emprega-se a coroa de uma falsa interpretação da profundida "
-da de pastilhas do freático em um projeto de estabilizaç"
6 - Investigações para obras de barragens 1 161

b
Batente
Saída Face
d'água Seção calibradora externa
a
Corpo
Corpo

. 6.3 6 Coroas de sondagem rotativa do tipo vídia (a) e diamante (b)


.;:e: modifzcado de ABGE (1980).

encosta no Rio de Janeiro, resultando • simbologia para o perfil geológico;


projeto de contenção oneroso e des- • descrição litológica;
_,,,cessário. • nível d 'água e suas variações, com
A apresentação dos resultados da per- respectivas datas;
-:.!ração rotativa deve constar em um • ensaio de perda d' água, indicando:
-:-erfil apropriado (ver Fig. 4.4), no qual vazão específica, pressão efetiva e
- n stem as seguintes informações: gráfico pressão x vazão;
• nome da obra e do cliente; • valor da permeabilidade por trecho
• identificação e localização do furo; ensaiado;
• inclinação e rumo do furo; • assinaturas do responsável pela son-
• diâmetro da sondagem e tipos de dagem e do geólogo fiscal.
barrilete e de coroas utilizados;
b) Amostragem na sondagem rota-
• cotas e coordenadas;
tiva
• data de execução;
• nomes do sondador, da firma execu- A amostra de rocha obtida na sondagem
tora e do geólogo responsável; rotativa, ou testemunho, fica armazenada
• posição do revestimento; no barrilete indicado na Fig. 6.34. Os
• escala de profundidade; barriletes mais conhecidos são: simples,
• recuperação dos testemunhos em duplo-rígido e duplo -giratório (Fig. 6.37).
percentagem por manobra; O barrilete simples consta de um único
• número de peças de testemunhos tubo, onde a passagem da água de circu-
por metro; lação ocorre entre sua parede interna e o
• RQD; testemunho, que fica sujeito à ação abra-
• graus de consistência, decomposição siva dessa água impregnada de detritos,
e fraturamento; além do atrito com a parede do barrilete.
• simbologia para as principais des- Assim, deve -se utilizar esse barrilete so-
continuidades; mente em rochas de excelente qualidade.
162 1 Geologia de Barragens

O barrilete duplo-rígido é constituído Existe ainda um barrilete utili-


por dois tubos concêntricos, ambos com o zado para amostragem de materiais
mesmo movimento rotatório. A passagem inconsolidados, porém impenetráveis à
da água ocorre entre os dois tubos , o que percussão e à lavagem, como algumas
evita seu efeito erosivo sobre o testemu- argilas duras e folhelhos alterados. Trata-
nho. Esse barrilete deve ser utilizado em -se do amostrador Denison (Fig. 6.38),
rochas de boa qualidade. que possibilita a coleta de amostras
O barrilete duplo-giratório, além de indeformadas desses tipos de materiais,
possuir dois tubos concêntricos, apre- semelhantemente ao Shelby, embora este
senta um sistema de rolamentos que seja operado por pressão para solos moles
impede que o tubo interno, que armazena e o Denison, por rotação para solos duros .
o testemunho, acompanhe a rotação do Observa-se, assim, que a escolha do
tubo externo. Assim, além de o testemu- barrilete é fundamental para a obtenção
nho ficar liv re do contato com a água de de uma boa recuperação, além do t ipo de
circulação, que pas sa entre os dois tubos , avanço e do comprimento da manobra. A
ele sofre o menor impacto possível. Deve- experiência do sondador complementa os
-se utilizar esse barrilete para amostrar cuidados para uma boa recuperação, pois,
rochas brandas, alteradas e fraturadas . na ausência do geólogo, o sondador deve

Rolamento

Cabeçote Pino de guia


Adaptador

Tubo externo

Tubo externo
Tubo interno
Tubo do barrilete
1

r
1
Calibrador
Calibrador
Mola
Mola

Barrilete simples Barrilete duplo-rígido Barrilete duplo-giratório

FIG . 6.37 Tipos de barrilete para sondagem rotativa


Fonte: modificado de ABGE (1980).
6 - Investigações para obras de barragens 1 163

tar apto a fazer as escolhas indicadas


teriormente, bem como minimizar os
pactos e abalos provocados pela im-
- rícia no fornecimento de cabo, que
-ontribuem para reduzir a recuperação.
Rolamento
_ara que o maciço rochoso seja bem repre-
5entado, recomenda-se que a recuperação
:ião seja inferior a 90%. Haste

Esgotados todos os recursos aqui expli-


Cabeçote interno
'tados, caso a recuperação ainda seja muito
aixa (menor que 80%) e o conhecimento
o trecho não recuperado seja de signifi-
cativa importância para o projeto, pode-se
Tubo interno
realizar a amostragem integral, recurso
esenvolvido pelo Laboratório Nacional de
:3ngenharia Civil (LNEC) de Portugal e já Camisa de latão
aplicado no Brasil desde a década de 1970.
A Fig. 6.39 mostra o esquema de aplicação
dessa metodologia, modificada a partir
Retentor da amostra
de um fôlder da Sondotécnica/ LNEC, e a
Projeção do tubo interno
Fig. 6.40 mostra fotos de testemunhos de Sapata do tubo interno
sondagens obtidos por tal método.
Conforme mostra a Fig. 6. 3 9, em 1 a son-
dagem é executada no diâmetro normal D, FIG. 6.38 Barrilete amostrador tipo Denison
preferencialmente NX; em 2 inicia-se o Fonte: modificado de ABGE (1980).

procedimento para a amostragem integral injetado, no mesmo diâmetro D da perfu-


do trecho abaixo do executado em 1, por ração inicial. O testemunho assim obtido
meio de uma perfuração em um diâmetro terá uma recuperação integral, uma vez
menor (d), que poderia ser EX; em 3 são in- que as partes fraturadas e/ou alteradas
roduzidas hastes referenciadas ao norte foram consolidadas pela injeção de pro-
magnético, sendo o trecho introduzido duto colante. Além dessa vantagem, o
no diâmetro d provido de orifícios; em 4 testemunho acha-se referenciado, o que
é feita a solidarização das hastes na base permitirá que sejam definidas as atitudes
do furo com diâmetro maior e introduzida de todas as suas descontinuidades.
sob pressão uma calda com produto quí- Os testemunhos de sondagem devem
mico cimentante, que penetrará através ser acondicionados cuidadosamente em
dos furos nos vazios da rocha perfurada caixas de madeira ou de plástico, a fim de
pelo diâmetro menor; em 5 a haste é des- evitar quebras, e mantendo as posições
conectada no trecho de maior diâmetro e é relativas dos testemunhos obtidos. Cada
realizada uma sobreperfuração do trecho manobra deve ser separada da anterior e
164 1 Geologia de Barragens

da seguinte por tacos de madeira em que de barramento, aplicável não apenas para
serão anotados com tinta indelével a pro- o conhecimento das rochas das fundações,
fundidade do início e do final da manobra. mas de todas as obras relacionadas com o
Na tampa e num dos lados menores da barramento. Assim, podem-se distinguir
caixa, deverão ser anotados com tinta in- as aplicações da sondagem rotativa nas
delével os seguintes dados: nome da obra seguintes obras e feições de um projeto de
e do cliente; número do furo; e localização barragem: fundações, vertedouros, canais,
do furo. A Fig. 6.41 mostra um exemplo túneis, usinas hidrelétricas e pedreiras.
de caixa com testemunhos em uma obra
supervisionada pelo autor. Sondagens rotativas para as fundações
da barragem
e) Aplicações da sondagem rotativa
As sondagens ao longo das fundações
em projetos de barragens
da barragem objetivam fornecer as se-
A sondagem rotativa constitui ferra- guintes informações:
menta indispensável para qualquer obra • caracterização litológica;

2 3 4 5

1/,
l_ l
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cr

= _". 39 Esquema da execução de uma amostragem integral


6 - Investigações para obras de barragens 1 165

FIG. 6.40 Detalhe da amostragem integral e um testemunho com 2,20 m dessa amostragem
:::ante: cortesia da Sondotécnica.

• estado de alteração das rochas; Todas essas informações são


• tipo, posicionamento e abertura das imprescindíveis para uma perfeita carac-
fraturas; terização geomecânica e hidrogeotécnica
• grau de consistência das rochas; do eixo barrável, conforme analisado no
• condutividade hidráulica do maciço item 4 .2. Para obter o máximo aproveita-
rochoso; mento dessas informações, é necessário
• coleta de amostras para ensaios la- elaborar um programa de sondagens ade-
boratoriais; quado às reais necessidades do projeto,
• ensaios in situ; considerando sempre que, em projeto de
• definição do fluxo das águas subter- barragem, cada caso é um caso. Assim,
râneas . não é possível estabelecer um programa

H/\ll 11 /\ GEM S. /\ ~ T O'\: I O )) E L I i\l /


SO~D/\GEi\l SIC 02 EST. :i+0,00-EIXO

:IG. 6.41 Caixa de testemunhos


166 1 Geologia de Barragens

de sondagens com se fosse uma receita Embora a fase de viabilidade exija o


de bolo. Qualquer planejamento nesse número suficiente de sondagens para es-
sentido deve-se apoiar nos seguintes co- clarecer todos os problemas da fundação,
nhecimentos prévios: é sempre possível haver a necessidade
• caracterização geológico-geotécnica de realizar mais sondagens na etapa de
superficial, com ênfase para as es- projeto básico, principalmente se houver
truturas geológicas presentes; alguma mudança no projeto idealizado na
• caracterização morfológica da área etapa de viabilidade.
que interessa ao eixo barrável; O espaçamento entre sondagens
• premissas técnicas do projeto. também não pode ser constante, pois varia
em função das exigências do projeto e das
Com base nesses conhecimentos, deve- necessidades em detalhar a geologia em
-se partir para o planejamento das subsuperfície. Em áreas de geologia mais
sondagens, que envolve as seguintes homogênea, como regiões sedimentares,
definições: número de sondagens; espa- o espaçamento pode ser mais regular,
çamento entre as sondagens; inclinação variando entre 50 m e 100 m, como mos-
dos furos; profundidade; feições geológi- trado na Fig. 6.43, onde o espaçamento
cas passíveis de detalhamento; aferições ao longo do eixo barrável foi constante e
de prospecções indiretas; necessidades igual a 100 m. Em função dos primeiros
específicas do projeto; dificuldades opera- resultados obtidos, um espaçamento ini-
cionais; custo x benefício etc. cialmente previsto poderá ser diminuído
O número de sondagens varia muito ou aumentado.
em função da extensão do eixo barrável, A inclinação dos furos depende
do tipo de barragem e das características da geologia das fundações. Em regiões
geológicas a esclarecer. Entretanto, deve- sedimentares, como na barragem de Con-
-se considerar que, em termos de reconhe- trato (Fig. 6.43), as sondagens podem ser
cimento, por exemplo, para cotejar alter- verticais (Fig. 6.44); em áreas cristalinas,
nativas diferentes na etapa de viabilidade, porém, onde a maioria das fraturas são
é necessário um mínimo de quatro sonda- verticais, como na barragem de Serrinha
gens, duas na parte baixa do vale e uma em (Fig. 6.42), deve-se inclinar o furo de 10
cada ombreira. Definido o eixo a estudar, a 30° com a vertical, a fim de interceptar
serão acrescentadas mais sondagens não um maior número de fraturas (Fig. 6.45).
somente ao longo do eixo, mas também a A profundidade tem relação direta
certa distância para montante e para ju- com a altura prevista para a barrage
sante. Essas sondagens rotativas podem imediatamente sobre o local da sondagem
ser complementadas por sondagens a per- Nesse sentido, há muitas divergências
cussão, como mostrado na Fig. 6.42, ou entre os autores, que chegam a estabelec
por sondagens mistas, como mostrado na profundidades que variam desde 0,5 H a e
Fig. 6.43, ambas as áreas referentes a pro- 1,0 H (H = altura da barragem). O mais re-
jetos desenvolvidos pelo autor. comendável seria adotar como parâme
6 - Investigações para obras de barragens 1 167

. ... /
/ . . /.
/ ./
/ .
/
/ I /
I /· ./
SP-17
I o ._/. SP-13
o -
l. . _;:..... , ___ ... '

l .. · / . . .' · . SP-15
.· . . o ·- .
/ ' ',
/· SR:5, · ·Eix0 barrável . · SR-4 .
30° .
SP-14
o . , ·

SP-12
.,o .

Qal

FIG. 6.42 Sondagens rotativas e a percussão na barragem de Serrinha (PE)

FIG. 6.43 Sondagens rotativas e mistas na barragem de Contrato (PI)

médio 0,75 H, partindo do princípio de obtidos em duas manobras sucessivas,


não encerrar a sondagem sem que sejam de 3 m cada, todos os valores ideais para
168 1 Geologia de Barragens

o projeto (recuperação, consistência, al- mostra um paleocanal cuja presença foi


teração, fraturamento e condutividade prevista pela geofísica e confirmada pela
hidráulica). sondagem SM-8.
A caracterização das feições geoló- As necessidades específicas do
gicas passíveis de detalhamento pode projeto podem exigir a realização de son-
ocorrer na fase final de uma campanha de dagens localizadas ao longo das fundações
sondagens na etapa de viabilidade ou no da barragem, como, por exemplo, na base
projeto básico, sendo uma consequência da de futuras tubulações para tomada d' água
interpretação das sondagens anteriores. ou vertedouros tulipas. Também o projeto
Nesses casos, a localização da sondagem de barragem em concreto pode exigir son-
é definida pelo surgimento da necessidade dagens mais adensadas e localizadas sob
de detalhar uma feição geológica já iden- determinadas estruturas. A barragem de
tificada, como uma falha, um dique, uma enrocamento com face de concreto exigirá
zona alterada, um paleovale etc. sondagens sob o plinto.
A aferição de prospecções indire- As dificuldades operacionais geral-
tas, como a geofísica, pode ocorrer de mente são ditadas pela morfologia do eixo
duas formas: proceder a uma correlação e pela presença da água no rio. Em vales
entre as prospecções semidiretas e indi- com declividades muito íngremes, como a
retas, como já comentado nos métodos barragem de Irapé, em Minas Gerais, torna-
geofísicos; ou esclarecer feições determi- -se impossível sondar em grande parte de
nadas pela geofísica, como paleocanais, suas ombreiras. Uma solução para tais
heterogeneidades, fraturas etc. A Fig. 6.44 casos seria a abertura de nichos ou peque-

m SR-11

25 30 35 40 45

FIG. 6.44 Seção no eixo da barragem de Contrato (PI), vendo-se o leito do rio entre as sondagens SM-9 e SM-1
Note-se que, além das sondagens mistas (SM-7 a SM-10), localizadas na bacia de inundação, também a son-
dagem rotativa (SR-11), localizada na ombreira esquerda, foi executada na vertical
6 - Investigações para obras de barragens 1 169

_; · ..
+
~

+-
8,Õ
2,

·50

-IG. 6.45 Seção no eixo da barragem de Serrinha (PE), mostrando todas as sondagens rotativas inclinadas

nos túneis que permitissem a localização de rável, pois, do contrário, as sondagens


sondas de pequenas dimensões. Também constituiriam uma das particularidades
o rio dificulta a realização de sondagens, já citadas para as fundações da barragem.
?rincipalmente quando a lâmina de água é Fora do eixo barrável, o vertedouro geral-
espessa. Essas situações exigem a implanta- mente tem a forma assumida na Fig. 5.3a,
ão de plataformas fixas ou flutuantes que podendo a ogiva situar-se em uma depres-
oneram e retardam muito essas investiga- são do terreno ou ser implantada em uma
ções. Quando a largura do rio não é muito área escavada.
!!rande, podem-se realizar sondagens incli- Em princípio, devem ser investigadas
nadas a partir de suas margens, pelo menos por sondagens rotativas as fundações da
na fase de viabilidade (Fig. 6.46). ogiva, do canal rápido e da bacia de dis-
Finalmente, deve-se observar na sipação. O número de sondagens em cada
programação de sondagens a relação uma dessas obras dependerá de suas ex-
custo x benefício. Isso não significa que, tensões e das características geológicas
em uma pesquisa para barragem, se faça locais, mas, se a ogiva localizar-se em uma
economia em detrimento da qualidade. depressão morfológica, devem-se fazer
Ocorre que, muitas vezes, uma sondagem pelo menos três sondagens no sentido
a mais não trará informações adicionais transversal ao fluxo vertedor (Fig. 6.47).
que justifiquem a sua execução, como
ambém, às vezes, duas sondagens podem Sondagens rotativas para canais
ser substituídas por uma sem representar Em barragens, os canais podem ter
risco de comprometimento da pesquisa. várias finalidades, como desvio do rio,
As sim, deve-se avaliar muito bem o bene- tomada d'água, aproximação do verte-
fício advindo de cada sondagem. douro etc. As sondagens rotativas nessas
obras visam definir os contatos entre solo,
Sondagens rotativas para vertedouros saprólito, rocha alterada e rocha sã, a fim
Será abordada aqui apenas a situação de possibilitar a análise de estabilidade
do vertedouro localizado fora do eixo bar- necessária ao projeto de taludamento dos
17 0 1 Geologia de Barragens

NA em 20/02/1974

25

20

15

10

o ._________________________________________,

FIG. 6.46 Seção ao longo do eixo da barragem de Ma tapagipe (PE), em projeto coordenado pelo autor.
Observe-se que as sondagens inclinadas na fase de viabilidade resolveram o problema da lâmina d'água no rio

cortes a proceder no canal, como mos- No item 5.4 ficou clara a distinção no
trado na Fig. 5.2 . tratamento de duas porções de um túnel:
Caso o canal não seja muito extenso, emboques e traçado. Nos emboques, a
três sondagens são necessárias: uma no caracterização das descontinuidades do
seu trecho inicial, outra nas proximi- maciço rochoso e de seu regolito é fun-
dades da obra a que se destina (ogiva do damental para avaliar a melhor solução
vertedouro, tomada d 'água etc.) e uma in- do projeto, como mostrado na Fig. 5.6.
termediária. Todas as sondagens deverão Assim, deverão ser executadas duas a
atingir a cota prevista para o piso do canal. três sondagens no sentido contrário à de-
Se o canal for muito extenso, recomenda- clividade do terreno sobre os emboques,
-se interpolar a prospecção geofísica entre a fim de caracterizar todas as feições geo-
essas três sondagens. lógicas necessárias ao projeto . Quanto ao
traçado, o mapeamento geológico e uma
Sondagens rotativas para túneis topografia de detalhe deverão indicar os
Entre as finalidades de obras subterrâ- principais pontos a ser investigados por
neas passíveis de ocorrer em um projeto sondagens rotativas . Assim, no túnel
de barragem, enumeradas no item 5.4 .1, mostrado na Fig. 5.7a seriam imprescin-
apenas a casa de força não pode ser consi- díveis as sondagens nos pontos B e C,
derada um túnel. Assim, pelo menos sete com profundidades que ultrapassassem a
utilizações de túnel foram ali previstas, o cota prevista para o piso do túnel. Caso
que dá uma ideia da importância da investi- essas sondagens revelassem situações
gação por sondagem para esse tipo de obra. desfavoráveis à escavação desse túnel,
6 - Investigações para obras de barragens 1 171

55

50

.!{)

f
30

25 f.
· 20

..f
FIG. 6.47 Sondagens rotativas executadas para a ogiva do vertedouro da barragem de Orobó (PE)
?ante: pesquisa do autor.

sondagens adicionais com espaçamento as sondagens estariam incorporadas à


de 10 m seriam executadas, a fim de programação das fundações, discutidas
definir a extensão do problema. Nos in- anteriormente. Desligada do corpo da
erflúvios, seriam feitas sondagens com a barragem, a usina pode admitir três situ-
profundidade suficiente para interceptar ações de localização: abrigada, em poço
o nível freático, podendo ser concluídas e subterrânea. Nos casos de abrigada ou
após duas manobras de 3 m cada uma, que em poço, a localização fica muito próxima
apresentassem os parâmetros já citados à superfície, o que facilitaria sua investi-
em conformidade com as necessidades gação por meio de sondagens rotativas
do projeto. Para túneis muito extensos, inclinadas, conforme especificado para
as sondagens rotativas devem ser inter- os emboques dos túneis . No caso de usina
poladas com a prospecção geofísica. subterrânea, a investigação dependerá da
sua distância em relação à superfície e
Sondagens rotativas para usinas hidrelé- da morfologia local. Se essa distância for
tricas (casa de força) muito grande e a declividade for muito
As usinas hidrelétricas podem ser ins- forte, pode ser mais econômico abrir um
taladas no corpo da barragem, quando túnel que poderá ser utilizado no futuro
172 1 Geologia de Barragens

pelo próprio projeto, como acesso à usina na vertical, a sua continuidade por meio
ou para restituição das águas turbinadas, da sondagem rotativa não pode ter qual-
e a partir desse túnel executar sondagens quer inclinação com a vertical. Esse tipo
rotativas horizontais que poderão subsi- de sondagem é largamente utilizado para
diar a elaboração de alguns testes in situ. pesquisar as fundações de uma barragem,
como exemplificam as Figs. 6.43 e 6.44.
Sondagens rotativas para pedreiras
6.3.6 Sondagem com rotopercussão
Como será discutido no Cap. 9, um dos
objetivos da pesquisa de material pétreo
a) Equipamentos e metodologia
para as obras de engenharia é a defini-
ção do expurgo das pedreiras, ou seja, A sondagem rotopercussora utiliza
a caracterização de todos os materiais conjuntamente a percussão e a rotação,
que recobrem a rocha sã, bem como sua visando à trituração da rocha. O sistema
espessura. Para tanto, é necessário utili- de perfuração pode ser de três tipos:
zar a sondagem rotativa. Dependendo da manual, mantido sobre vagão e jumbo. O
extensão da pedreira, podem-se progra- tipo manual é também chamado marte-
mar duas a três sondagens localizadas de lete (Figs . 6.48 e 6.49) .
forma a propiciar uma boa representação Esse equipamento é constituído de três
de toda a pedreira investigada. Para pe- partes: cabeça, haste e broca. Na cabeça
dreiras muito extensas, essas sondagens (ver Fig. 6.49), são imprimidas as ações de
poderão ser interpoladas e extrapoladas percussão e de rotação. Os impactos pro-
com a prospecção geofísica. As sondagens duzidos por um pistão originam ondas de
deverão ser concluídas ao se atingir duas choque que se transmitem à broca através
manobras de 3 m cada uma, com boa recu- da haste. Com o movimento de rotação,
peração (acima de 90%). faz-se girar a broca para que os impactos se

6.3.5 Sondagens mistas (SM)

As sondagens mistas constituem


uma associação da sondagem a percus-
são e da sondagem rotativa. Assim, em
uma mesma sondagem são investigados
os materiais incoerentes, por meio da
percussão, e os materiais rochosos mais
resistentes, por meio da sonda rotativa.
Não será necessário, portanto, descrever a
metodologia de sua execução, uma vez que
é a mesma já referida nos dois tipos pros-
pectivos incluídos. Apenas se faz restrição
à inclinação do furo, pois, uma vez que a
sondagem a percussão é realizada apenas FIG. 6.48 Corpo de um martelete
Fonte: ITGE (1994).
6 - Investigações para obras de barragens 1 173

Movimento de
Percussão
Movimento
Haste De rotação

Avanço Corpo
Detritos
/ '
1

:IG. 6.49 Ação de um martelete


.=-onte: modificado de ITGE (1994) .

. reduzam sobre a rocha em distintas po- rodas ou por esteiras. O deslocamento


sições. As hastes podem ter seção redonda por esteiras (Fig. 6.51) é mais utilizado
ou hexagonal, com comprimento variável em razão da maior facilidade de transi-
entre 3 m e 6 m e diâmetro entre 1" e 2". tar sobre terrenos irregulares. O sistema
• s brocas podem ser de pastilhas ou de jumbo (Fig. 6.52) é semelhante ao anterior,
:>0tões. Nas brocas de pastilhas, são inseri- com a diferença de que possui dois ou mais
das na cabeça da broca quatro pastilhas de braços para executar vários furos simul-
carboreto de tungstênio, dispostas em cruz taneamente, na horizontal ou na vertical,
ou em X (Fig. 6.50a). Na broca de botões, tanto de cima para baixo como de baixo
são inseridos cilindros de carboreto de tun- para cima, no caso de obras subterrâneas.
gstênio em sua cabeça, de forma a ficarem
b) Aplicações da rotopercussão em
expostos em forma de botões (Fig. 6.50b).
barragens
Os detritos resultantes da trituração
da rocha por meio desse processo são Esse método de investigação tem muita
expelidos do furo pelo efeito do ar ou da restrição, pela qualidade da amostragem
água, embora no Brasil se utilize o ar com obtida. Como o material rochoso é total-
maior frequência. mente triturado, a identificação litológica
O equipamento rotopercussor mon- somente é possível por meio da identifica-
tado sobre vagão pode ser deslocado por ção mineralógica dos detritos extraídos,

a b

FIG. 6.50 Tipos de broca para a sondagem rotopercussora: (a) pastilhas; (b) botões
Fonte: modificado de ITGE (1994).
174 1 Geologia de Barragens

• obras subterrâneas: execução de


furos para introdução de explosivos;
• pedreiras: execução de furos para
introdução de explosivos.

6.4 PROSPECÇÃO DIRETA


Motor
Como já citado, esse tipo de prospecção
leva o investigador até o local pesquisado,
independentemente do tipo de material
Centralizador a investigar. Com tal procedimento, é
da haste ___,.,...,
possível definir in loco as seguintes carac-
terísticas do subsolo:
Martelo
Tran slação
• perfil do solo, com as características
de fundo
pedológicas de cada variação do ma-
FIG. 6.51 Esquema de funcionamento de uma rotoper- terial inconsistente e das formas de
cussora sobre vagão deslocado por esteira transição entre horizontes diferen-
Fonte: modificado de ITGE (1994).
tes;
o que impede qualquer avaliação sobre a • textura e estrutura dos diferentes
textura e estrutura da rocha. Por outro materiais;
lado, a profundidade máxima de perfu- • presença de blocos e matacões nos
ração não excede os 35 m, o que também horizontes do solo;
constitui uma restrição na investigação de • características do saprólito e suas
uma barragem. formas de transição para o solo que
Dessa forma, essa metodologia so- lhe recobre e para a rocha sotoposta;
mente é aplicada em obras de barramento • características litológicas e seus es-
nas seguintes situações: tados diferenciais de alteração;
• fundações : abertura de drenas; • atitude real das descontinuidade_
• contenção de encostas: abertura do maciço rochoso, como planos de
de drenas e para chumbamento de estratificação, de xistosidade, frat u-
tirantes; ras, falhas e dobras;

X XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXX XX XXXXXXXXXXXX XXXX

FIG. 6.52 Rotopercussora no sistemajumbo perfurando em um túnel na horizontal


Fonte: modificado de ITGE (1994).
6 - Investigações para obras de barragens 1 175

• espaçamento, abertura, rugosidade atravessado, amostrando aqueles


e preenchimento dos planos de des- que julgar necessários;
continuidade. iii) escorar todas as paredes com tábuas
de boa qualidade, contraventando-
Além da caracterização in situ dos ma- -as com escoras de madeira ou
-eriais investigados em subsuperfície, metálicas;
esse tipo de prospecção também per- iv) prosseguir a escavação adotando a
mite coletar amostras deformadas ou cada 1,5 m os procedim en tos indi-
indeformadas de solos e rochas para a rea- cados em (ii) e (iii);
lização de ensaios laboratoriais e a execução v) a escavação deverá ser concluída
dos diferentes tipos de ensaios in situ, em nos seguintes casos: atingir a pro-
solo ou em rocha. Pode-se fazer a pros- fundidade que atenda ao objetivo
pecção direta por meio de três métodos: da escavação; atingir o nível freá-
oços, trincheiras e túneis. tico; atingir a rocha.

6 .4.1 Poços
Para completa segurança da escavação,
devem-se tomar os seguintes cuidados:
a) Abertura do poço
• depositar os materiais escavados
Pode-se abrir o poço em solo ou em a uma distância mínima de 1 m da
rocha. Em solo, utilizam-se ferramentas borda do poço, para não sobrecarre-
manuais, como pá, enxada, enxadeco, pica- gar o topo do talude;
reta, barra-mina etc. A seção do poço pode • caso não seja necessário deixar
ser quadrada ou circular, e a dimensão o poço aberto para investigações
varia em função do material a escavar e das posteriores, deve-se retirar o seu es-
necessidades de observação e amostragem, coramento e preencher o poço com o
;:>0rém não deverá ter menos de 2 m de material que dele foi retirado;
diâmetro ou de lado, dependendo do tipo • a operação de fechamento do poço
de seção. A profundidade varia em função deve obedecer às seguintes etapas:
do objetivo da investigação, porém dificil- (i) retirar o escoramento do trecho
mente ultrapassa os 15 m. mais inferior, mantendo sempre os
O avanço da escavação deve ser cui- operários acima desse trecho e sa-
dadoso a fim de evitar riscos à segurança cando as tábuas e escoras por meio
dos operários que realizam a escavação e de cordas; (ii) retirado o escoramento
do técnico que irá analisar e/ ou amostrar do trecho mais profundo, deve-se
o material escavado. Recomendam-se os preencher esse trecho com o material
seguintes procedimentos nessa escavação: depositado nas proximidades do furo,
i) escavar até a profundidade de em camadas de 0,30 m de espessura,
1,5m; compactadas por sepos manuais;
ii) analisar detalhadamente as ca- (iii) preenchido e compactado o trecho
racterísticas de cada material mais inferior, procede-se com a
176 1 Geologia de Barragens

mesma metodologia de baixo para tar uma mistura de diferentes horizontes


cima, até chegar à superfície; do solo (Fig. 6.53). Em ambos os casos,
• caso o poço necessite permanecer recomenda-se colocar uma lona no fundo
aberto para estudos posteriores, do poço e raspar a parede com uma pica-
devem-se tomar os seguintes cui- reta, como indicado nessa figura .
dados: cercar com arame farpado Para amostra indeformada, escava-se
uma área num raio de 5 m em torno um nicho na parede do poço, deixando
do poço; construir leiras que des- intacto um bloco do horizonte do solo a
viem o fluxo das águas superficiais, ser amostrado (Fig. 6.54). A seguir, corta-
evitando que o escoamento dessas -se o bloco em sua base, na linha de corte
águas penetre no poço; colocar uma indicada nessa figura, com o máximo
placa com as seguintes informações: cuidado para não provocar qualquer dis -
nome da obra, local de investigação e túrbio da amostra.
número do poço. O bloco retirado é exposto em uma su-
perfície aplainada e recoberto em todas as
Em rocha, o poço deve ser aberto com suas faces com três camadas alternadas
a utilização de explosivos, e sua abertura de algodão e parafina derretida. Uma vez
pode ser feita de cima para baixo ou o con- solidificada a parafina, coloca-se o bloco
trário, no caso de ser feita a partir de uma em uma caixa de madeira, cujos lados e
obra subterrânea. Uma vez que a rocha tampas devem ser parafusados para evitar
possui elevada resistência à escavação, as distúrbio na amostra. Para reduzir os im-
paredes escavadas podem ser mantidas pactos do transporte, os espaços entre a
estáveis com cortes verticais, dispen- caixa e a amostra devem ser preenchidos
sando qualquer tipo de escoramento. com serragem úmida.
No caso de poços iniciados em solo e
que adentrem n a rocha, é necessário au- ---.
mentar bastante suas dimensões em solo
e reforçar o escoramento de suas paredes, • . 0 "ºntÕ!'. -.../::-.;.
a fim de permitir a abertura em rocha, -~. L:.;::~,: ~~~,.,-,'l-
quando então as dimensões da abertura • • ·1.oç,te '· (.:-
poderão ser reduzidas . • 1.º no(~ ~ ; •-/ ,:

b) Amostragem !' i>:,.){/J'' .


:.. .,-..,; :n?l.'1.
A amostragem em um poço deve ser
feita ao longo de sua parede lateral, em
solo ou em rocha. A amostra em solo
pode ser deformada ou indeformada. Na
amostragem deformada, pode a amostra
ser retirada de um determinado horizonte FIG . 6.53 Amostragem deformada em mais de w-
horizonte do solo
do solo ou coletada de forma a represen-
Fonte: modificado de USDI-BR (1973).
6 - Investigações para obras de barragens 1 177

Parede do poço

FIG. 6.54 Amostragem indeformada de um horizonte do solo

A amostra de rocha poderá ser coletada abertura manual utiliza as mesmas ferra-
dos blocos resultantes da dinamitação no mentas citadas para a escavação de poços,
ato da escavação. e os cuidados a tomar nesse processo são
os mesmos referidos para os poços. A
c) Utilização do poço em barragens
Fig. 6.55 mostra duas trincheiras abertas
O poço é utilizado em projetos de bar- em projetos de PCH (pequenas centrais
ragem com os seguintes objetivos: hidrelétricas) desenvolvidos pelo autor.
• caracterizar e amostrar os materiais Como cuidados adicionais para esse
incoerentes nas fundações da barra- tipo de escavação, recomendam-se os se-
gem, nos canais e em emboques de guintes:
túneis; • em trincheiras com profundidade
• aferir a geofísica; superior a 1,5 m, deverão ser insta-
• caracterizar e amostrar os solos que ladas escadas de acesso espaçadas
serão utilizados nas jazidas de mate- entre si, no máximo, 15 m;
riais terrosos; • os trabalhadores dentro da trin-
• acessar os túneis de investigação nas cheira devem manter entre si uma
fundações da barragem. distância mínima de 3 m;
• devem-se manter caminhos de cir-
6.4.2 Trincheira
culação no entorno da trincheira,
a) Abertura da trincheira livres de depósitos de materiais de
escavação. Para tanto, recomenda-
A trincheira, por ser uma escavação
-se fazer essa deposição somente em
geralmente muito extensa e estreita, é
um dos lados externos da trincheira
sempre aberta em solo, e pode ser escavada
(Fig. 6.55).
manualmente ou de forma mecanizada. A
178 1 Geologia de Barragens

FIG. 6.55 Trincheiras abertas manualmente

A abertura mecanizada da trincheira


pode ser feita com diversos tipos de es-
cavadeira, sendo mais utilizadas as de
caçamba, de arrasto, de mandíbulas e a
retroescavaderia. A Fig. 6.56 mostra a
escavação de uma trincheira com uma
escavadeira de mandíbulas. Observe-se
nessa figura o detalhamento do escora-
mento das paredes da trincheira.

b) Amostragem

A amostragem do solo em uma


trincheira ocorre da mesma forma especi- FIG. 6.56 Escavação de uma trincheira por escava-
deira de mandíbulas
ficada para o poço.
Fonte: modificado de <http://www.ce2.ufjfbr>.
e) Utilização de trincheira em
se trata de uma escavação mais longa
barragem
permite uma melhor visualização desse
A principal utilização da trincheira materiais que o poço, não apenas ao long
em projetos de barragem é a caracteriza- das ombreiras, mas também na partem ·
ção dos materiais incoerentes ao longo rebaixada do vale. Nas fundações, as trin
das fundações da barragem, pois, como cheiras são geralmente escavadas ao long
6 - Investi gações para obras de barragens 1 179

::o cut off, ou ao longo da base do plinto, caracterizar as condições geomecân i-


caso de barragens de enrocamento com cas do maciço rochoso para implantação
:ace de concreto. Outra utilização refere- de obras subterrâneas. Esses túneis são
-se às obras em canais e também ao local abertos por explosivos e geralmente aces-
?revist o para a ogiva do vertedouro. sados através de poços abertos também
na rocha. Seu principal uso refere-se à re-
6.4.3 Túneis
alização de ensaios in situ de mecânica das
rochas.
Os túneis aqui analisados são aqueles
abertos unicamente com a finalidade de
? esquisar os solos e rochas locais, razão
? ela qual podem ser considerados como
obras temporárias. Os túneis escavados
em solo ou no saprólito podem utilizar as
mesmas ferramentas referidas para poços
e trincheiras . Esses túneis geralmente são
· mitados a 2 m de altura, com largura
máxima de 2 m (Fig. 6.57). Dessa forma,
deve-se cuidar apenas da estabilidade de
seu teto, o que torna necessário o seu es-
coramento contínuo.
Em barragem, esse tipo de investigação
restringe-se a estudos nas ombreiras, em
sit uações p ouco comuns representadas
por fortes declividades e espesso regolito.
Os túneis escavados em rocha visam
investigar as fundações da barragem ou

Fig. 6. 57 Pequeno túnel aberto em saprólito na


ombreira de uma barragem
7 Ensaios e testes

7.1 ENSAIOS IN SITU Para ratificar essas diferenças, pode-se


citar o caso do material rochoso. Quando
Os ensaios ou testes in situ são aqueles se coleta uma amostra desse material para
realizados em campo para determinação ensaio de laboratório, definem-se as pro-
das propriedades físicas e mecânicas dos priedades físicas e mecânicas da rocha
materiais que funcionarão como base de ensaiada; porém, se o ensaio for realizado
obras relacionadas com a barragem, ou in situ, as propriedades determinadas
que sejam alvo de escavações a céu aberto referem-se ao maciço rochoso, na situação
ou subterrâneas nesse tipo de obra. Pode- mais condizente com a influência sofrida
-se realizá-los em materiais incoerentes, por esse maciço com a implantação da obra.
como os diversos tipos de solos; em ma- Além das heterogeneidades e desconti-
teriais consolidados, como os diversos nuidades presentes em um maciço rochoso,
tipos de rochas; e nas zonas de transição também a existência de zonas alteradas
entre esses materiais, como os saprólitos. pode influir muito na caracterização desse
Na presente análise, os saprólitos serão maciço, efeito este somente detectado pelo
incluídos entre os maciços rochosos para ensaio in situ, uma vez que as amostras
a abordagem dos ensaios in situ, pelo fato levadas para ensaios de laboratório são
de serem acessados pelos mesmos méto- sempre escolhidas em estado são.
dos utilizados para a rocha. A abordagem dos ensaios in situ pode,
Os ensaios in situ levam uma grande em princípio, incluir duas linhas, as quais
vantagem sobre os de laboratório pelas diferem pela metodologia de aplicação:
seguintes razões: ensaios em materiais inconsolidados e en-
• ensaiam materiais indeformados; saios em materiais consolidados.
• na maior parte dos ensaios, a área de
7.1.1 Ensaios in situ em
atuação é muito grande, o que per-
materiais inconsolidados
mite resultados médios compatíveis
com as heterogeneidades presentes Os principais ensaios in situ realizados
no material ensaiado; em materiais inconsolidados para proje-
• por alcançar grandes áreas, os tos de barragens são:
ensaios atingem uma grande quan- • Peso específico aparente
tidade de descontinuidades que • Permeabilidade
retratam melhor as condições mecâ- • Resistência à penetração
nicas do material ensaiado. • Resistência ao cisalhamento
• Resistência à compressão simples
1 32 1 Geologia de Barragens

a) Peso específico aparente circular no centro, com mesmo diâ-


metro do funil metálico, dotada de
Esse método é aplicável a qualquer tipo
rebaixo para apoio do funil (Fig. 7.2);
de solo, desde que possua sustentação de
• balanças que permitam determinar
suas paredes ao ser escavado, razão pela
nominalmente 1,5 kg e 10 kg, com
qual não pode ser executado abaixo do
resolução de 0,1 g e 1,0 g, respecti-
nível freático. Também não podem ser
vamente;
muito grandes os vazios do solo, como no
• equipamento para medir a umidade
cascalho, pois propiciariam a penetração
natural em campo, que pode ser uma
da areia utilizada nesses ensaios.
estufa capaz de manter temperatu-
A aparelhagem necessária a esse ensaio
ras entre 105º C e ll0ºC, ou qualquer
consta de:
outro equipamento;
• um frasco de vidro ou plástico trans-
• areia lavada e seca, de massa espe-
lúcido, com cerca de 3.500 cm 3 de
cífica aparente seca determinada
capacidade, dotado de um gargalo
em laboratório e constituída de
rosqueado, com funil metálico pro-
fração com diâmetro dos grãos entre
vido de registro e de rosca para ser
0,59 mm e 1,2 mm, sendo que a soma
atarraxado ao vidro (Fig. 7.1);
das percentagens, em massa, retida
• bandeja quadrada rígida, metálica,
na peneira 1,2 mm e passada na
com cerca de 30 cm de lado e bordas
peneira de 0,59 mm, deve ser igui:
de 2,5 cm de altura, com orifício
ou menor que 5% . Essas condiçõe5
granulométricas podem ser també
definidas em laboratório.

Frasco

Funil

FIG. 7 .1 Frasco para medição in situ do peso FIG. 7.2 Placa ou bandeja para suporte do f1'.
específico aparente segundo a norma NBR 7185 da segundo a norma NBR 7185 da ABNT (medidas
ABNT (medidas em mm) emmm)
7 - Ensaios e testes 1 183

O ensaio começa com a limpeza da onde:


5Uperfície do terreno abaixo da qual se Ys - peso específico aparente seco do solo
eseja medir o peso específico do solo, in situ (g/cm 3);
-ornando-a plana e horizontal, tanto Yar - peso específico aparente seco da areia
uanto possível. A seguir, coloca-se a obtida em laboratório (g/cm 3);
iJandeja, certificando-se se há um bom Ph - peso do solo extraído da cavidade (g);
contato entre ela e a superfície do ter- h - teor de umidade do solo extraído da
reno. Escava-se o solo a partir do entorno cavidade (%).
o orifício central da bandeja até obter-
b) Permeabilidade
-se uma cavidade cilíndrica com cerca de
5 cm de profundidade. Recolhe-se cui- Embora exista um grande número
dadosamente em um saco plástico todo o de ensaios de permeabilidade in situ,
solo extraído, determinando-se seu peso como em cava, em trincheira, em anéis
específico com resolução de 1,0 g, ano- cilíndricos etc., aqui serão analisados
ando o valor Ph. Desse material extraído, apenas aqueles realizados ao longo de
mede-se a umidade natural h, em campo sondagens a trado ou a percussão, por
ou em laboratório. Instala-se sobre o ori- serem os normalmente utilizados no
fíc io o conjunto frasco (cheio de areia) + projeto de barragens . Do ponto de vista
fu nil, cujo peso total corresponde a P1 , hidrogeotécnico, esses ensaios podem ser
de forma que o funil fique encaixado no classificados em função de dois fatores:
rebaixo da bandeja. Abre-se o registro modo de realização (a nível constante ou
do frasco, permitindo o escoamento da a nível variável) e diferencial de pressão
areia para o interior do furo. Fecha-se o aplicada (positivo, ou carga, e negativo,
registro, retirando o conjunto frasco (com ou descarga). Esses ensaios podem ainda
a areia restante) + funil, e pesa-se nova- variar em função de sua realização quanto
mente o conjunto, o que corresponderá ao nível freático (NA): acima ou abaixo do
a P2. A areia que permaneceu dentro do NA. O Quadro 7.1 sintetiza a classificação
fu nil já teve seu peso previamente medido desses ensaios.
em laboratório, o qual corresponde a P3 . A O ensaio a nível constante é realizado
areia que preencheu a cavidade do terreno por meio da manutenção do nível d'água
tem seu peso P4 correspondente a: no interior do poço testado durante toda a
realização do ensaio. A manutenção desse

QUADRO 7 . 1 Classificação dos ensaios de


permeabilidade in situ
O peso específico aparente seco do solo
Modo de Denominação
in situ pode ser calculado a partir da se- Pressão aplicada
realização do ensaio
guinte expressão: Carga
Nível nfiltração
1

constante Descarga Bombeamento


ys = yar = I\i x 100
P4 lOO+h Carga Rebaixamento
Nível variável
Descarga Recuperação
184 1 Geologia de Barragens

nível pode ser feita pela adição contro- feito ensa10 de rebaixamento quando a
lada da água no interior do poço (ensaio carga hidráulica no trecho ensaiado for
de infiltração) ou pela retirada dessa água superior a 0,02 MPa (2 m) e, por avaliação
(ensaio de bombeamento). visual, o rebaixamento da água no tubo de
O ensaio a nível variável é realizado com revestimento for inferior a 10 cm/ min".
a alteração do nível natural do poço para No trabalho da ABGE (1990b) indicam-se
um nível denominado inicial, medindo-se gráficos, tabelas e equações para o cálculo
o tempo que esse nível leva para voltar à da permeabilidade in situ em todas as al-
posição natural ou próximo a ela. O esta- ternativas apresentadas no Quadro 7.1.
belecimento do nível inicial pode também A título de exemplo, a Fig. 7.3 mostra
ser feito de duas formas: pela adição de dois ensaios in situ de permeabilidade,
água de uma fonte externa ou pela re- executados pelo autor para um projeto de
tirada dessa água por bombeamento. barragem no nordeste brasileiro. Ambos
No primeiro caso, será medido o tempo foram realizados pelo método de infil-
para que o nível acrescido volte ao nível tração, um acima do nível freático (zona
original (ensaio de rebaixamento), e no vadosa) e outro abaixo (zona saturada).
segundo caso, será medido o tempo para As leituras indicadas nas tabelas da
que o nível inicial, rebaixado pelo bom- Fig. 7.3 correspondem ao rebaixamento da
beamento, retorne por ascensão ao nível água no tambor que alimenta o poço para
original (ensaio de recuperação). garantir a fixação do nível inicial na boca do
Na prática, é muito mais comum re- revestimento. A diferença entre a primeira
alizar os ensaios por carga, seja por e a última leitura representa a altura h cor-
infiltração ou por rebaixamento, uma vez respondente à descida da água no tambor
que os ensaios por descarga implicam no tempo do teste (30 min). Conhecendo-
operações mais complexas e onerosas, -se o raio do tambor (cilíndrico), pode-se
a começar pela abertura do poço, que determinar o volume de água adicionada ao
necessitará de filtros e pré-filtros para poço para garantir a permanência do nível
evitar o carreamento de finos do solo, os no tempo de teste (V= rc.r 2 .h). Dividindo-se
quais poderão danificar a bomba, asso- esse valor pelo tempo de ensaio, tem-se a
rear o poço e reduzir a eficácia do teste. vazão (L/min). A coluna d'água representa
Complementaria essas dificuldades a ins- a carga (kg/cm 2), e a absorção corresponde
talação de bombas e de rede elétrica ou à divisão da vazão pela extensão do trecho
geradores para acioná-las . ensaiado [(L/min)/ m].
Uma vez considerados os ensaios por A perda d' água específica (PE), que cons-
carga como alternativa mais viável para titui um dos valores hidrogeotécnicos
os projetos de barragens, restaria defi- obtidos nesse teste, representa a divisão da
nir qual o método a adotar: infiltração absorção pela carga [(L/min)/ m] / (kg/cm 2).
ou rebaixamento. As diretrizes da ABGE Para obter-se a permeabilidade fin al
a sugerem como opção na escolha (K) (cm/s), multiplica-se a perda d'água
os o seguinte critério: "será específica por um fator de conversão (Fc)
7 - Ensaios e testes 1 185

1
Boca do revest. Hora 8:20 8:21 8:23 8:25 8:30 8:35
1 1 8:40

1
l?m
0,73 m

1 ..
t

1
1
Superfície
do terreno 1
,.,, Leitura

lnfiltr.
L
o
34,6
1

33,3
3

30,2
5

27,5
10

22,1
15

19,6

1-
20

16,4

8:45 8:50
! 1,73 m l 1---,.,,.H,,,, 1 -----1
o-=-ra=-i---- + - - - - - r
1empo
; - - - - + -- - - t -- - --rl_ _--;
Lençol acum. 25 30
/min\
freático ,

!2' mt.tubo6~n,
Sapata,
_rI__ lnfiltr.
L
15,5
1
Leitura
15,2

19,5
1

1 !
( ' --.-- Ensaio realizado Tipo de ensaio ! Condições de medidas
1 0 furo 6 cm 11 l - .--□
1 1,00 m l t--A-:-b-ai-xo--:d-o-N-.A -,,r-:-cNc-ív'el-c~on-s.,..t.""(N7.""C),-----+.,,,Ta-m'b-o~r"'(T,.,.)------1
Fundo do furo 1 d •
Acima do N.A. Q Rebaixam. (R8) @
Proveta (P) [o
Com artesian. · ci 1 ~~~~~~-~R~t ~fJ;i~ (~)
Trecho Coluna d'água Vazão Absorção Carga efet. Perda d_-agua j K
ensaiado (m) l
(kg/cm 1 )) j (1/min) (l/min x min) (kg/cm>) rltm ,esrr\'i~c~fi~!trm> Fator F.C. (cm/s)

1,00-2,00 0,223 1 0,651 0,651 0,223 1


2,917 0,61 1,78 X 10-4

Observações:

Boca do reves t. Hora 10:55 1 10:56 10:58 11:00 11 :05 11 :10


ti-..---+-----:- ---+-- ---,f-----+--- --.----+------1
11 :15 !
-----"- Tempo 1 1
Superfície ~~,~- O 1 3 5 10 15 20
l 0,6~ m l 1 do terreno 7
✓i\.Y/.CV--'"""''",-'<.' : Leitura 33,1 1 31,0 27,5 1 25,0 20,1 j 15,6 11,7
1 lnfiltr.
1 3,00m 1 L ! 1 !
l I 1 1 1
j
3,62 m Hora 11 :20 11 :25 1
Lençol 1--r,""'em=po;:--l - - -- -+-----,'-----+-----l- - - + - -- _;.- - --l
freático J ~~,~- 25 30
2,38 m
Leitura 8,2 4,3
12' int. tubo 6 crÍJ lnfiltr.
28,97
Sapata1 L
1 Ensaio realizado Tipo de ensaio Condições de medidas
l 0 furo 6 cm ~ !
1,00 m l
r:-A,:-b-,ai-xo::-:;
do !
-::--:-N;-.A-;:-_
- --;:ill
:;;::;--t-l<:liv,~1vPle17cvm,~,,..T1' n-
1,,.;n_... , - - - h Ta:-::m::i:,b:-::,0 -:-'r("'Ts--J-- - -- l
Fundo do furo , .,___ - -~•~- Acima do N.A. c:i Rebaixam . (R8) fjijl- Proveta (P) IT7
8ombeam. (88) l!ê!J- Revest. (R) lLJ
Com artesian. c::J Recuoer. (RC) ,,____ í! H
Trecho (aluna d'água Vazão Absorção Carga efet. !Peraa ª.agua 1 K
ensaiado (m) (kg/cm>) 1 (1/min) (1/mi n X min) (kg/cm>) /1/m .e~~c~fi~:/rm2\ Fator F.C. (cm/s)

3,00 - 4,00 0,300 1 0,966 0,966 0,300 1 3,219 0,99 3,19 X 10·4
Observações:

FIG. 7.3 Exemplos de ensaios de permeabilidade in situem solos

retirado de ábacos que são apresentados Test , realizado a partir da mudança ins-
na Fig. 7.4. tantânea no nível d' água em um poço,
Outra alternativa para medição da provocado pela rápida introdução ou
?ermeabilidade in situ de solos é o Slug retirada de um cilindro metálico no m -
186 1 Geologia de Barragens

0 =2 'li' 1
0 =2 t"
2

L,----'
~ .......
---~ ------
---
,._... - - 0 =4 "
- ~
//
/ /
-----
~
0 =4" h

"/ //
K = PE · FC (cm/s) / / K = PE · FC (cm/s)

PE = _Q_ ( 1/ min
I PE = _Q_ ( 1/ mi n )
Lh m.kg/c m2
Lh m.kg/cm
1
2 3 L(m) 2 3 L(m)
Para trechos de ensaio situados acima do N.A. Para trechos de ensaio situados abaixo do N .A.

FIG. 7.4 Ábacos para conversão de perda d'água especifica (PE) em permeabilidade (K)
Fonte: ABGE (199Gb).

terior desse poço. O ensaio consiste em netration Test), que visa correlacionar a
medir a recuperação do nível a partir de resistência à penetração com diversos
sua mudança instantânea até o nível an- índices físicos dos solos, conforme já des-
terior a essa mudança. crito em 6.3.3b.
A permeabilidade ou condutividade Para reduzir o efeito do atrito lateral
hidráulica nesse ensaio é calculada das paredes do furo ao longo da exten-
pela equação: são de 73,66 cm do arnostrador do SPT,
foi concebido o penetrôrnetro de cone,
2 onde um cone metálico é fixado a urna
K= r -ln(L / r)
2L•To haste que é introduzida no furo de duas
onde: formas: estática ou dinâmica. Embora
r - raio do poço (rn); reduza o efeito do atrito lateral, esse
L - comprimento do trecho ensaiado ou método não despertou muito interesse
do filtro do poço (rn); por não permitir a obtenção de amos-
T O - tempo de recuperação de 67% no tras do solo penetrado, razão pela qual
nível d'água (s); teve seu emprego abandonado nos Esta-
K - permeabilidade (crn/s). dos Unidos desde 1955. Na Bélgica e na
O valor TO pode ser obtido em um grá- Holanda, onde as condições do solo são
fico rnonolog com [(H-h)/ (H-H 0)] x t, onde: particularmente favoráveis a esse tipo
H - nível d'água original; de investigação, esses ensaios são reali-
H 0 - nível d 'água após a mudança instan- zados em conjunto com o SPT. No Brasil
tânea; também não houve boa aceitação para
H - nível d'água no tempo t; esse tipo de ensaio.
t- tempo.
d) Resistência ao cisalhamento
c) Resistência à penetração
Para solos argilosos, há um equi-
O ensaio de resistência à penetração pamento que permite definir, com boa
mais conhecido é o SPT (Standard Pe- aproximação, a resistência ao cisalharnento
7 - Ensaios e testes 1 187

in situ. Trata-se do Vane Test. Esse teste,


também chamado de "teste de palhetas", ,
/ '',,,.'->
,s
foi inicialmente desenvolvido na Suécia, --" ,!à{'>J
, ,s ,
onde são comuns argilas muito moles. As
~;'~jy
I _c'?z7
palhetas são constituídas por duas placas / Braço de torção
/ de três posições
metálicas muito finas , soldadas entre si de __ -Rolamento de esferas
forma a fazer uma cruz no plano horizon-
tal. Elas são penetradas no solo argiloso
devidamente protegidas por um revesti-
mento metálico, que é introduzido até uma
profundidade ligeiramente acima da cota
em que deverá ser feito o teste (Fig. 7.5). A
seguir, a palheta é impulsionada para fora revestimento
do revestimento e para dentro da massa
do solo a ser ensaiado, através de uma fina
haste ligada a uma haste de maior diâmetro
que chega até a superfície do terreno. Um
esforço de torção é aplicado lentamente por -Sapata cortante

meio de uma manivela até produzir uma


ruptura cilíndrica na argila.
Existem três tamanhos de palheta:
2"x 4", 3"x 6" e 4"x 8" (diâmetro x com-
primento). Por sua vez, há três posições ({f} :·seçãa A-A
do medidor de força no braço de aplica-
ção da torção, que devem ser utilizadas FIG. 7.5 Equipamento do Vane Test
nos seguintes casos: 15,2 cm para argi- Fonte: Tschebotarioff (1978).

las moles; 30,5 cm para argilas médias; e


45,6 cm para argilas rijas. Para cada ta-
manho de palheta existem gráficos que
dão a resistência ao cisalhamento para
a torção aplicada, que é registrada no
dinamômetro.

e) Resistência à compressão simples FIG. 7.6 Penetrômetro de bolso


Fonte: modifzcado de Tschebotarioff (1978).
A resistência à compressão simples in
situ pode ser determinada para alguns sua extremidade. Quando a agulha vence
tipos de solos com o equipamento pe- a resistência do solo e aí penetra, fica re-
netrômetro de bolso (Fig. 7.6). O teste gistrada na escala de medição, situada
consiste em fazer penetrar no solo co- no setor intermediário do equipamento,
esivo, sob pressão manual, a agulha de a resistência à compressão em kgf/cm 2 •
188 1 Geologia de Barragens

Segundo Tschebotarioff (1978), esse teste trecho ensaiado, pode mostrar-se ele-
só apresenta eficácia para argilas com IP vada para os trechos mais superiores de
igual ou maior que 12. investigação, provocando a abertura de
fraturas e o falseamento dos resultados
7.1.2 Ensaios in situ em
obtidos. Num desses estudos, Sabarly
materiais consolidados
(1968) demonstrou que essa pressão apli-
Os ensaios in situ em materiais conso- cada num círculo de raio de 1,0 m, em
lidados - maciços rochosos - realizados uma fratura de um maciço rochoso com
em projetos de barragens são: E = 10 5 kgf/cm 2 e u = 0,5, provocaria um
• Permeabilidade acréscimo de abertura nessa fratura igual
• Módulo de deformabilidade a 0,3 mm no centro do círculo e a 0,2 mm
• Resistência ao cisalhamento nas bordas . Em consequência, se a fratura
• Tensões virgens estivesse quase fechada, incapaz de pro-
vocar qualquer percolação d' água, poderia
a) Permeabilidade
absorver de 50 a 150 L/min num ensaio
O ensaio de permeabilidade execu- com pressão de 10 kgf/cm 2 , considerando
tado em maciços rochosos é denominado que a vazão absorvida varia com a quarta
ensaio de perda d'água sob pressão, que potência da abertura da fratura. Para
permite a caracterização hidrogeotécnica evitar tais problemas, a escola americana
de um maciço através da condutividade implementou um sistema de ensaio com
hidráulica do meio, incluindo os poros, no pressões crescentes com a profundidade
caso de rochas granulares (arenito, conglo- (1 psi/pé de profundidade), o que corres-
merado etc.) e as fraturas. Nesse ensaio, ponderia a 0,23 kgf/cm 2 .
podem-se definir dois parâmetros hidro- No Brasil, o ensaio de perda d'água fo .
geotécnicos: absorção específica (ou perda regulamentado pela Associação Paulista
d 'água específica) e permeabilidade. de Geologia Aplicada (APGA) em 1971
Esse ensaio é internacionalmente co- e seus critérios foram definitivamente
nhecido como Ensaio Lugeon, por ter sido estabelecidos pela ABGE (1975). Por t a.is
proposto por Maurice Lugeon (Lugeon, critérios, o ensaio é realizado em cinc
1933). Por esse critério, a unidade Lugeon estágios de pressão, com a seguin ::
corresponde à absorção de 1 litro por sequência:
minuto por metro de trecho ensaiado, sob
1° estágio: pressão mínima
10 quilogramas força por centímetro qua-
2° estágio: pressão intermediária
drado, ou seja:
3° estágio: pressão máxima
4° estágio: pressão intermediária
1 Lugeon = 1 L / min.m / 10 kgf / cm 2 5° estágio: pressão mínima
Estudos posteriores demonstraram
que a pressão de 10 kgf/cm 2 , empregada As pressões a serem lidas no manôm
ependentemente da profundidade do tro têm os seguintes valores:
7 - Ensaios e testes 1 1 9

ressão de perda d ' água muito superiores àqueles


0,10 kgf/cm 2 que resultariam da absorção das fratu-
:::únima:
ressão metade da pressão ras no trecho ensaiado. Por esse motivo,
:ntermediária: máxima recomenda-se sempre o uso de obturador
simples, deixando o uso de obturadores
0,25 kgf/cm 2 por metro
. ressão duplos apenas para a necessidade de de-
de profundidade do
áxima: talhar o exato local de uma perda d' água
ensaio
excessiva constatada em um trecho de
Basicamente, há duas metodologias 3 m, quando então poderiam ser testados
:>ara a execução desses ensaios: com ob- trechos com 1 m ou 2 m de extensão.
:urador simples e com obturador duplo. A realização do ensaio de perda d'água
. o primeiro caso, a cada 3 m perfurados é feita com os equipamentos mostrados
2m rocha, coloca-se o obturador acima do na Fig. 7.7 e a finalidade de cada equipa-
echo a ensaiar e executa-se o ensaio com mento é descrita em ABGE (1975).
s cinco estágios de pressão. No segundo Os dados obtidos em um ensaio de
aso, procede-se à perfuração de uma só perda d ' água sob pressão devem ser ano-
-;ez até o final do furo. Concluída a per- tados num boletim corno o padronizado
:uração, iniciam-se os ensaios de perda pela ABGE (1975), apresentado na Fig. 7.8.
.: •água, ensaiando trechos de 3 m ou mais, Antes de iniciar o ensaio de perda
-=e cima para baixo ou ao contrário, utili- d'água, deve-se efetuar um ensaio de
zando sempre dois obturadores para isolar perda de carga, conforme explicitado em
trecho a ensaiar. Esse segundo método ABGE (1975). O ensaio propriamente dito
e o preferido das empresas de sondagens, é iniciado com a pressão mínima no 1° es-
?Ois evita a perda de tempo para substi- tágio, sendo a absorção d ' água no trecho
aúr o equipamento de sondagem pelo de ensaiado medida no hidrômetro a cada
ensaio a cada 3 m de perfuração. Ocorre minuto durante o período de 10 minutos.
ue, por melhor que seja a vedação propor- Concluído esse período, passa-se sucessi-
cionada pelo obturador, sempre há o risco vamente ao 2°, 3°, 4° e 5° estágios, sempre
e ocorrer vazamentos em decorrência da com períodos de 10 minutos e medições
irregularidade das paredes do furo, prin- da absorção d' água a cada minuto. O total
cipalmente pela caída de fragmentos da absorvido em cada estágio é dividido pelo
rocha fraturada. Se o ensaio for realizado tempo de ensaio, correspondendo à vazão
com um só obturador, a ocorrência de va- em L/min. A vazão específica (QE) resulta
zamento é constatada pelo retorno da da divisão da vazão pela extensão do trecho
agua à superfície, e as providências podem ensaiado [(L/rnin)/ rn] . A coluna d'água re-
ser tomadas com o deslocamento do obtu- presentando a carga hidráulica (H) varia
rador. Todavia, se o vazamento ocorrer no em função da presença do nível freático
obturador inferior, a água escoará para o (Fig. 7.9).
:nterior da sondagem e jamais se perceberá A carga efetiva (Ce) ou pressão efe-
o vazamento, o que resultará em valores tiva é definida pela equação:
19 0 1 Geologia de Barragens

Estabilizadores
de ressão
Piezômetro

Conjunto
motor-bomba
Manômetro
~ ,_....___.____

Canalização
- p/ alimentação de injeçao

Canalização
de retorno Obturador
Alimentação

FIG. 7.7 Montagem dos equipamentos para o ensaio de perda d 'água


Fonte: ABGE (1975).

A Fig. 7.11 mostra um exemplo de um


Ce = -H + Pm - Pc (kgf / cm 2 ) ensaio de perda d'água executado pelo
10
onde: autor em um projeto de barragem no nor-
H - coluna d 'água (m); deste brasileiro. O gráfico resultante desse
Pm - pressão manométrica (kgf/cm 2) ; ensaio e apresentado nessa figura per-
Pc - perda de carga (kgf/cm 2). mite tecer algumas considerações sobre
A perda d'água específica (PE) é trecho ensaiado.
definida por: Os casos típicos de comportamen
hidrogeotécnico são apresentados
PE = -QE[ (L / mm
. 2
/ m)/ (kgf / cm )] Fig. 7.12, retirados do trabalho da ABG::.
CE
(1975). Constata-se que o trecho do exe -
plo citado na Fig. 7.11 corresponde ao ti
A perda d ' água específica ou absor- T2, ou seja, um regime turbulento co-
ção específica é também definida pela fechamento, provavelmente em fu n ª
unidade Hvorslev (Hv), sendo: de impurezas contidas na água do ens
que colmataram um pouco algumas h-:
turas, permitindo uma absorção me
1 Hv = 1 [(L/ min / m)/ (Kgf / cm 2 )] =
nos estágios decrescentes. Nesse tipo -
1 L / min.m / atm.
comportamento, a ABGE sugere a u
Finalmente, o coeficiente de zação de dados obtidos no 1° estágio
permeabilidade (K), dado em cm/s, ensaio, que, por sinal, apresentaram
pode ser definido multiplicando a ab- lores maiores de absorção específiG.
sorção específica pelo fator F, que pode consequentemente, da permeabilidade
ser obtido graficamente da Fig. 7.10.
llolellrn de cn5alo de perda d'águ.i 5ob pre551lo folha
Cli ente _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ Empreiteira _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __
Obra Local
_._._.,., Sondagem nº
En saio de vazão da bomba Manômetro nº Hidrôm etro nº
Pressão Capacidade Divisão Data
Tipo Data de af eri ção
kgl/cm 2 kgl/cm2 de esca la de afe ri ção
Vazão
L/ min

N.A . antes do ensaio _ _ _ m. Altura do manômetro _ _ _ _ m . Altura do funi l _ _ _ _ _ m. 0 da tubulação _ _ _ _ _ _ Inclinação _ _ _ _ _ __

I
1 (acima do N.A .) = prof . do obturador m + Trecho de ensa io.,. 2 m + altura doI Funil ___ m x 0,1 %_ kg/cm 2
Coluna d'água 2 (abaixo do N .A .) x adotado _ _ _ _ _ _ m + altura doI Funi l _ _ _ _ ,m x 0,1% _ _ _~ g/cm 2 M anôm. _ m x 0,1 %_ kg/cm 2
(medidas na vertical) M anôm . ___ m x 0,1% _ _ _~ ,g/cm 2
3 Cartesianismo) x altura do manômetro _ _ _ m + altura do nível estático __ m x _ _ _ _ m x 0,1% _ _ _ _ kg /cm 2

Perda de carga x prof. do obturador ____ m. + Altura do Funil _ _ _ _ _ _ m% _ _ _ _ m


M anômetro _ _ _ m% _ _ _ _ m
Trecho de ____ a ____ m Data ____ / ____ / _ __

Pressões
Estágios Abso rções em litros a cada minuto L/ min L/ min x m
kgf/cm 2

. 2

5
'-1
1
Namômetro Coluna Perd a de Perda d' água m
Pressão efetiva Abso rção k (cm/s)
Estágios ou funil d'água ca rga específica ::i
kgf/cm2 L/min x m fator F x 10·4
kgf/cm2 kgf/cm 2 kgf/cm 2 L/ min x m x (kgf/cm 2) "'!!!.
o
1 "'n,
2 ,+
n,
3
4
"'n,
,+

5 "'
FIG. 7.8 Boletim para ensaio de perda d'ág ua sob pressão padronizado pelaABGE ...
Fonte: ABGE (1975).
'°...
192 1 Geologia de Barragen s

N. A . (artesianismo)
----=-,- -
-= '
'

N.A.
e e

Pob Pob

,, li
li 11
L/2
li
li
1; L/2
11
L 1) L li
(1 11
li
li
"
"11li
"

d d
N.A.
Abaixo do N.A. (2)
Aci ma do N.A. (1) e com art esianismo (3)
(1) H = h + Pob + L/2 (2) H = h + N (3) H =-N
3
+h

FIG. 7.9 Localização do trecho ensaiado em relação ao nível freá tico


Fonte: ABGE (1975).

b) Módulo de deformabilidade suem baixo módulo de deformabilidade,


o que implica riscos para obras de carga
Em geral, os ensaios para determinação
concentrada, como aquelas de concreto
do módulo de deformabilidade, ou módulo
associadas a maciços terrosos ou de enro-
de Young, in situ são onerosos, daí se jus-
camento.
tificarem apenas quando as condições
Os ensaios de deformabilidade in sitt.
geológicas, após bem caracterizadas, susci-
mais empregados são: macacos gigantes
tarem dúvidas quanto ao comportamento
macacos planos e dilatometria.
geomecânico do maciço rochoso diante
das cargas previstas para a obra projetada.
Macacos gigantes
No Brasil, esses ensaios têm sido
Nesse tipo de ensaio é aberto um nich
realizados nos projetos de barragens im-
em uma das paredes de uma galeria de
- ----das sobre basaltos, pois as br~chas
pesquisa e instalados dois macacos gigan-
~erderrames geralmente pos-
7 - Ensaios e testes 1 193

Fator " F''


(x10·4) 1,5
1.4
1,3
1,2

---
-
- ~ - n
1,1
1,0
0 ,9
0,8 1.......--- e::::=
--
-:::::: --
e-::::: ~ --:::::
e--
--
~~
~ ~e---

0,7 ...---::: :::::-::


. ./'.
v
K = PE x F
0 ,6 ~ 1/ -
/
0,5 ~ - Q
PE - L x Ce K cm/ s -
,1v : Q I/ min
0,4 F-1 ,66 x 10• c Ce kg/ cm 2 -
0,3 1// - 21t f
L m -
0 ,2 ~ c f = ln 0,66 x L r m -
ff/ r
0,1
I
ºo 2
Comprimento do trecho (L)
3 4m

FIG. 7.10 Gráfico para determinação do Fator F para cálculo da permeabilidade no ensaio de perda d'água
b pressão
=onte: ABGE (1975).

Pab (m)
de 1,30 a 8,36
1 Trecho I Diâm d
·
Cana~zação
d1am 3/
-c I Alt. h I N.A. N
manam . 1,30
.li
Acima 1
Ens. Abaixo 2
d Coluna H/ 1Q Fator F
N ~ b.J'á~ua ~ 1 09 ,o•
3,08 m 0 ,06 m _-~ comR .. ,~Ôm 9
~
..,
:i
X
- -
=Pressão
manom.
Absorção a cada minuto - 1
1) _4 m __ad_otado _ _ _ _Ar~-~- - ~
T
tempo
Q Pc
vazão perda-de carga
Ce Qe 1 l
.. ~- -·_....:..2. ~l:m___· _ x , =
vazão . perda
Pe K
coefic.
o kg/cm> Parcial Total decorr. I/ min carga efetiva especif. "á~ua esp.permeab.
o
oX
- mirr-- - - - kg/cmL -kg/cm>- I/min/m -1 mini --~cm/s -
0,5 0,5 0,5 0,5 0 ,5 kg/cm>
,:;·.; 0,10 6,5 10 0,65 0,00 0,31 0,211 0,74
-= o 0,5 1,0 1,0 1,0 0,5 0,681
~o - -··-· - --
o 1,0 1,0 1,0 1,0 1,5
30 0+ 1,10 12,0 10 1,20 0,00 1, 31 0,390 0,35
1,5 1,5 1,5 1,0 1,0 0,325
-:- r-1 --- -- - •----
(1j 2,0 2,0 2,0 2,0 2,5
--:: "'u
;!>+-'
UJ
V,
2,20 2,5 2,5 2,5 2,0 2,0
22,0 10 2,20 0,01 2.40
· -- - - - -- --
0,714
0,298
0,32
f -
1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
1,10 7,5 10 0,75 0,00 1,31 0,244 0,20
0,5 0 ,5 0,5 0,5 0,5 0 ,186
. -
0,5 0,5 0,0 0 ,0 0,0
~ 0,10 1,0 10 0,10 0,00 0,31 0,032 0,11
0,0 0 ,0 0 ,0 0,0 0,0 0,104
;:~ Observações:
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~"o "" º -
DA
-
0,8 (Q e) vazão - I/ min, m
-

FI G. 7.11 Resultado de um ensaio de perda d'água


194 1 Geologia de Barragens

tes, que podem ser colocados na vertical, paredes rochosas no sentido da aplica-
na horizontal ou inclinados (Fig. 7.13). ção da carga. Para a realização do ensaio,
A instalação de extensômetros junto aos aplicam-se cargas crescentes, medindo,
macacos permite medir a deformação das para cada acréscimo de carga, a deforma-
ção correspondente. Definida previamente

.,__

.
<ti
e:
E
<ti
...J
/] /13/ l
Sem alte ração

15
4
Com fechamento

5 1
2

1
Com abertu ra

5
4
a carga máxima a aplicar, geralmente um
pouco superior àquela prevista para a obra,
tão logo essa carga seja atingida, inicia-se
um processo decrescente de aplicação da
carga até atingir o estágio inicial do ensaio,
quando então fica concluído o 1° ciclo de
~o
~
e: carga e descarga do maciço rochoso.
..2' ~ ~ ]
:::, ~2 4] 2] 4 Repete-se o mesmo processo por mais
~
:::,

#] V]
,- dois ciclos completos, o que permite a
35 5 1 5
. construção de um gráfico como o mos-
o
e) t rado na Fig. 7.14. Uma vez que o 1° ciclo
<ti
E provoca maiores deformações residuais
.g ~
24 ] 2 4
~
(1)
por corresponder ao fechamento de des-
LU 15 5 1 5
o continuidades abertas , utilizam-se apenas
- aq !?
'ro ~~~ vo
~ ;;,_
1 os dois últimos ciclos para determinar o
.8 " )em alte racao c..om tPch;, mento

Vd2
e om ahert11r"
o ~ módulo E (também chamado de módulc
Hl) ,Q

-~ ✓2
N cn
<ti '"'
> t; V//2 de elasticidade), por meio da relação:
~ ~" ª P
1 3 1 1 3 E =-= tga
E
Os gráficos foram elaborados tomando pressões nas
ordenadas e vazões nas abcissas. onde:
E - m ódulo de deformabilidade (kgf/cm-
FIG . 7.12 Tipos de comportamento do t recho ensaiado
ou MPa);
Fonte: A BGE (1975) .
u
/ a
ttt .------- - - , - , . - - ------, )"/ '

a
Ensaio vertical Ensaio horizontal Ensaio inclinado

FIG. 7 .13 Posicionamento dos macacos gigantes para ensaios de módulo de deformabilidade in s itu (a=
tensão aplicada)
7 - Ensaios e testes 1 195

o instrumento, também denominado "al-


• mofada de pressão", é constituído por duas
chapas metálicas soldadas nas bordas,
formando uma grande almofada metálica
(Fig. 7.15). No seu interior são dispostos
quatro defórmetros, que são ligados por
fios a uma caixa de leitura.
A metodologia de ensaio consiste nos
seguintes passos:
• Abre-se um rasgo na rocha por meio
------, E de um disco diamantado com 1 m
e,
de diâmetro e 8 mm de espessura,
-IG. 7.14 Gráfico Ten são x Deformação até uma profundidade de 1,5 m
(Figs. 7.16 e 7.17).
-P- tensão correspondente à carga proje- • Introduz-se o macaco plano no
~da (kgf/cm 2 ou MPa); rasgo.
,_ - deformação do maciço rochoso para a • Aplica-se uma pressão interna no
-ensão crp; macaco por meio da injeção de óleo
- ângulo entre a tangente à curva de de- sob pressão controlada.
' ormação no ponto crp e a horizontal; • Na caixa de medição, que fica loca-
Er - deformação residual. lizada externamente ao rasgo, são
medidas as deformações sofridas
Esse tipo de ensaio tem a vantagem de pelo maciço rochoso nos quato de-
atingir uma grande área de investigação, fórmetros .
detectando a influência de descontinui-
dades geológicas que não estejam muito
próximas à área de ensaio. Como des-
vantagens, citam-se duas: apenas pode
ser executado em uma galeria ou túnel e
apresenta um elevado custo de instalação
e operacionalização.

Macacos planos de grande área


O macaco plano de grande área (LFJ -
Large Flat Jacks) foi desenvolvido pelo
Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC) de Lisboa e é utilizado no Brasil
pela empresa de consultoria Sondotécnica
Engenharia de Solos S.A., em cooperação
FIG. 7.15 Macaco plano de grande área
técnica com o LNEC, desde 1972. Esse Fonte: cortesia da Sondotécnica.
196 1 Geologia de Barragens

• Com os dados de carga aplicada e as O trecho do macaco plano com cinco


deformações medidas, constroem- orifícios visto na Fig. 7.15 constitui
-se curvas tensão x deformação para apenas um suporte que permite a introdu-
cada defórmetro, na mesma sistemá- ção do macaco plano (trecho não vazado)
tica citada para os macacos gigantes . a uma profundidade maior, livrando-se,
consequentemente, da zona superficial
mais perturbada.
O rasgo feito no maciço rochoso para
instalação do macaco plano pode ser
feito na vertical ou em qualquer dire-
ção, o que permite definir o módulo de
deformabilidade na condição mais conve-
niente, em função das descontinuidades
geológicas. Além dessa vantagem, esse
Serra circular método apresenta um custo inferior ao do
dia mantada
disk saw macaco gigante e pode ser executado em
qualquer posição do terreno. Em relação ao
Rocha
macaco gigante, apresenta a desvantagem
~7"<'"""-H;:;:=;~~~~rock mass
de investigar uma área de entorno menor,
em função da aplicação da carga, embora
esta possa ultrapassar 100 kgf/cm 2 .
FIG. 7.16 Esquema do equipamento para serrar o
rasgo em que será introduzido o macaco plano Dilatômetro
Fonte: cortesia da Sondotécnica. O Dilatômetro (BHD - Borehole Di-
latometer) é também um equipamento
desenvolvido pelo LNEC e aplicado nc
Brasil em cooperação técnica com a
Sondotécnica. Conforme mostrado na
Fig. 7.18, esse aparelho é constituído por
um cilindro com 87 cm de extensão e
7,4 cm de diâmetro externo.
O cilindro do dilatômetro é todo de
aço, revestido por uma camisa de borracha
muito resistente, na qual encontram-se
quatro pares de transdutores disposto_
radialmente e afastados angularmenu:
de 45°. A mangueira é inflada por meio da
FIG. 7.17 Operação de serragem em uma parede injeção de água sob pressão controlada E
vertical de um t únel para aplicação do desinflada por meio da abertura de U lllê
macaco plano
válvula de descarga em sua extremidad
Fonte: cortesia da So ndotécnica.
7 - Ensaios e testes 1 197

Cilindro de aço
Transdutores steef cylinder
Tubo de ar comprimido liner differential Tubo de ar comprimido ,
dir compressed pipe Admissão transformers air com ressed pipe Valvula de descarga
d'água
Camisa de '\ re/ief valve
,~bo elétrico water inlet Apalpador , borracha
I /efetric cable ,-- contact head rubber jacket

Mangue,ira d'água _ _ _ _
~terp1pe . 32 32~ 32
Hast~ de posicionamento 545 ~
pos1t1onmg _________ _ _ _ __ _ _ __
869

FIG, 7.18 Detalhes dos principais componentes do dilatômetro


:ante: cortesia da Sondotécnica.

acionada por ar comprimido. A Fig. 7.19 (76 mm), executado com o máximo cui-
mostra os círculos na camisa de borracha, dado para evitar o estreitamento do furo
representados pelos t ransdutores. As de- por desgaste da coroa, ou o seu desvio.
ormações da rocha pela inflação causada O furo deve exceder, no mínimo, 2 m em
pela água sob pressão são transmitidas a relação ao trecho definido para ensaio.
partir dos transdutores, através de fios, Finalizado o furo, introduz-se o dilatô-
até uma caixa de leitura (Fig. 7.20). metro cuidadosamente até o ponto em
O dilatômetro deve ser introduzido que se deseja ensaiar e, então, aplica-se
em furo de sondagem de diâmetro NX água sob pressão, ajustando o zero para

FIG. À esquerda, aparelho para leitura das


7 .20

FIG. 7.19 Dilatômetro pronto para ser inserido deformações e à direita, bomba d' água para
em um furo vertical introdução da pressão
::ante: cortesia da Sondotécnica. Fonte: cortesia da Sondotécnica.
198 1 Geologia de Barragens

uma pressão inicial pequena, suficiente macacos gigantes, resultando em quatro


para uma perfeita adesão entre a camisa conjuntos de curvas (Fig. 7.21).
de borracha e as paredes do furo . Carrega- Pode-se realizar o ensaio dilatomé-
-se hidraulicamente, por incrementas de trico em qualquer direção e em furos de
pressão controlados, medindo, para cada sondagens executados a partir da super-
incremento, as deformações acusadas nos fície do terreno, ou no interior de poços,
quatro diferentes transdutores, até atin- galerias ou túneis, podendo atingir mais
gir a pressão máxima preestabelecida. Em de 100 m de profundidade, e utilizar pres-
seguida, procede-se à descarga por decrés- sões superiores a 150 kgf/cm 2 . Esse ensaio
cimos gradativos de pressão, por meio da funciona também abaixo do nível freá-
descarga de fundo acionada pelo ar com- tico, em qualquer condição de saturação.
Em funç ão dessas características, o ensaio
primido, medindo, para cada decréscimo
dilatométrico apresenta muitas vantagens
de pressão, as consequentes deformações
sobre os demais, principalmente em rela-
nos quatro transdutores. Realizada a des-
ção ao custo e à operacionalidade. A única
carga total, está encerrado o 1° ciclo de
desvantagem refere-se à extensão da área
medições. Fecha-se a válvula de descarga e
ensaiada, pelo fato de a área de aplicação
repete-se duas vezes todo o procedimento
da carga ser reduzida; todavia, essa des-
para configurar o 2° e o 3° ciclos de ensaio.
vantagem pode ser facilmente contornada
Com os dados de pressão e as respec-
pela facilidade de deslocamento do dila-
tivas deformações, constrói-se o gráfico tômetro dentro do furo , o que possibilita
a x s para cada transdutor, com base no estender a área de aplicação da carga ao
qual se pode calcular o módulo E para longo de todo o furo.
cada direção com espaço angular de 45°, Em alguns projetos de barragem re-
a exemplo do que foi descrito para os alizados no Brasil, o dilatômetro fo ;

p
(kgt/cm2)
Ciclo Carga Descarga
1 2 3 4
60

/;,! rt
,. 2
3
1
-
cycle up dow n

- - -0-- - -
/j
50 I I

k /
1
1

40

30
;l
I T
/
/
20 .
/•

J,
10
o 160 O 160 O 160 O 240 õ (µ)

FIG . 7.21 Curvas a x E obtidas em um ensaio di/atométrico


Fonte: cortesia da Sondotécnica.
7 - Ensaios e testes 1 199

_ · izado com o macaco plano de grande do piso é isolado por meio do corte da rocha
~ea, e então comparados os seus result a- com serra diamantada (Fig. 7.23), for-
:. s (Fig. 7.22). Os ensaios exemplificados mando um bloco com seção de 1,0 x 1,0 m
-essa figura foram realizados em um e altura de 0,4 m (Fig. 7.24).
esmo local (barragem de São Simão, em Cortado o bloco, constrói-se sobre ele,
.:;oiás), tendo a comparação desses ensaios no topo e nos lados, uma carapaça de con-
.:onstit uído o objetivo principal da disser- creto para garantir que as cargas aplicadas
:ação de mestrado do autor. serão distribuídas de forma igual por toda
c) Resistência ao cisalhamento a superfície aplicada. Instalam-se então
os macacos na vertical, para imprimir a
O ensaio de resistência ao cisalhamento
tensão normal ao plano de ruptura e ligei-
.::.e maciços rochosos realizado in situ é de-
ramente inclinado em um dos lados, a fim
senvolvido pelo método de cisalhamento
de imprimir a tensão tangencial a 30° da
di reto, em que é aplicada sobre um bloco
superfície de ruptura (Fig. 7.25). Obtida a
rochoso de 1,0 x 1,0 x 0,4 m de dimensões,
ruptura, consegue-se um par de valores
ma tensão normal e uma tensão tangen-
T x 0 para o gráfico de ruptura.
à al, esta última responsável pelo corte
Repete-se o ensaio com mais dois
segundo uma dada superfície plana. Pelas
dimensões do ensaio, que envolve pesada blocos esculpidos na mesma feição geoló-
mstrumentação, ele também tem sido gica, obtendo-se para duas outras tensões
desenvolvido no Brasil por meio da coope- normais, duas tensões tangenciais respon-
ração técnica LNEC/ Sondotécnica. sáveis pelas rupturas . Constrói-se, assim,
Realiza-se o ensaio de resistência ao uma envoltória de ruptura para o maciço
cisalhamento em galeria, onde um trecho rochoso, como indicado na Fig. 7.26.

FIG. 7.22 Ensaio dilatométrico realizado logo


abaixo do rasgo de um ensaio de macaco FIG . 7.23 Serra circular diamantada
plano para corte da rocha
Fonte: cortesia da Sondotécnica. Fonte: cortesia da Sondotécnica.
200 1 Geologia de Barragens

Como se pode observar da sistemática pela extensão da área de ruptura, tem sido
desse ensaio, trata-se de um ensaio muito pouco aplicado em projetos de barragens
oneroso e de longa duração, em função no Brasil.
das etapas operacionais envolvidas.
d) Tensões virgens
Assim, embora forneça bons resultados,
A determinação das tensões virgens,
ou seja, do estado de tensões iniciais de
um maciço rochoso em que será edificada
uma obra, é extremamente importante
para projetos que envolvem obras subter-
râneas (túneis, usinas subterrâneas etc.),
bem como para fundações de barragens
em vales estreitos ou em encostas abrup-
tas. O LNEC desenvolveu dois métodos
que são realizados no Brasil em coopera-
ção técnica com a Sondotécnica: cilindro
sensível e macaco plano de pequena área.

Cilindro sensível
O cilindro sensível (STT - Stress Ten sor
FIG. 7.24 Bloco rochoso cortado in situ para ensaio de
Tube) é um cilindro que contém em seu
cisalhamento direto
Fonte: cortesia da Sondotécnica. interior vários defórmetros dispostos em
posições variadas e que são capazes de

, (kgfcm2) Gráfico, x a
60 graph
Ruptura
-(rupture)

45

30 • Deslizamento
• (slip)

15 • Pontos obtidos no ensaio (ruptura franca,


(obtained points in the test)
• Pontos corrigidos (ruptura franca)
(corrected points)

o~-----
,s - - -
30
----
45
- --
a (kg/crTl"

FIG. 7.25 Montagem dos equipamentos para o ensaio FIG. 7.2 6 Envoltória de ruptura em um gráfzco
T x CT no ensaio de corte in situ no
de cisalhamento direto in situ no maciço
maciço rochoso
rochoso
Fonte: cortesia da Sondotécnica.
·e- cortesia da Sondotécnica .
7 - Ensaios e testes 1 201

edir deformações causadas por alívio à medida que avança a perfuração,


~e tensões. Seu emprego envolve as seguin- em consequência da liberação de
:es atividades, visualizadas na Fig. 7.27: tensões do maciço rochoso.
• Perfurar o maciço rochoso no diâme- • Medir as leituras finais .
tro 140 mm até as proximidades do • Calcular o estado de tensões em
trecho a ensaiar, ou seja, na profun- função das deformações medidas.
didade D.
• Perfurar, a partir de D, mais 90 cm, Esse método foi utilizado em várias
com 37 mm de diâmetro, conser- barragens brasileiras.
vando coaxialidade perfeita com o
diâmetro maior (de 140 mm). Macaco plano de pequena área
• Penetrar o cilindro sensível no O macaco plano de pequena área (SFJ -
trecho aberto com 37 mm (Fig. 7.28), Small Flat Fack) foi também desenvolvido
solidarizando as paredes externas do pelo LNEC, a exemplo do LFJ. A diferença
cilindro com as paredes da escavação está na extensão longitudinal da placa me-
por meio de uma cola aglutinante. tálica, que no SFJ corresponde à metade
• Fazer as leituras iniciais dos de- daquela existente no LFJ, o mesmo aconte-
fórmetros numa caixa de leitura cendo em relação ao suporte de aproximação
externa. visto na Fig. 7.15. O ensaio de tensões vir-
• Reperfurar o trecho de 90 cm com o gens por meio desse método só permite
diâmetro de 140 mm, procedendo à definir uma direção de tensão por ensaio e
leitura sistemática dos defórmetros envolve as seguintes operações:

Amostra
recovered
Para unidade de leitura rock core
- for reding unit
0 = 53 mm
1<11
o
-e
l1l
-e

§ -s
e 2-
c.. l::l

D
:1..:_:__
0 =47 mm

D+ 0,9
D++-- ---- \
Deformetro

FIG. 7.27 Sequência de operações para o ensaio com o cilindro sensível


Fonte: cortesia da Sondotécnica.
202 1 Geologia de Barragens

• Define-se a direção em que será feito e cont ínua, medindo-se a dist ân cia
o rasgo para introdução do macaco entre os dois pinos a cada incremento
plano, que deverá ser perpendicular de pressão.
à direção na qual se pretende medir • Quando a leitura entre os pinos cor-
as tensões virgens. responder à leitura inicial ant es do
• Chumbam-se dois pinos na rocha, rasgo, finaliza-se o ensaio.
no trecho correspondente à metade • A pressão injetada para que a leit ura
do futuro rasgo, em direções opos- entre os pinos seja igual à leitura ini-
tas em relação ao rasgo, medindo-se cial corresponderá à tensão de alívio
com instrumento de precisão a dis- que deformou o maciço em função
tância entre os dois pinos. do corte realizado.
• Procede-se à abertura do rasgo com a
serra diamantada vista na Fig. 7.16. Para determin ar a tensão virgem em
• Concluído o rasgo, mede-se a distân- outra direção, repete-se toda a sequência
cia entre os dois pinos, que deverá de atividades para um novo rasgo,
ser menor que a leitura feita antes do localizado perpendicularmente à nova di-
rasgo, em consequência da deforma- reção em que se pretende calcular a tensão
ção do maciço rochoso causada pelo virgem. A exemplo do cilindro sensível,
alívio de tensões na ruptura. esse método também já foi utilizado em
• Introduz-se o macaco plano de pe- algumas barragens brasileiras.
quena área e procede-se à injeção
de óleo sob pressão, de forma lenta
7. 2 ENSAIOS DE LABORATÓRIO

Os ensaios ou testes realizados em la-


boratório apresentam, em alguns casos, as
desvantagens citadas em 7.1, com relação
à dificuldade de caracterizar as heteroge-
neidades e descontinuidades do material
ensaiado, porém encontram muitas apli-
cações em setores em que não é possíve..
realizar o ensaio in situ. Da mesma forma
que os ensaios realizados em campo, os en-
saios laboratoriais podem ser aplicados em
materiais inconsolidados ou consolidados.

7.2.1 Ensaios de laboratório em


materiais inconsolidados

Os principais ensaios laboratoriais re-


FIG. 7.28 Introdução do cilindro sensível no alizados em materiais inconsolidados em
interior do furo
um projeto de barragem são:
Fonte: cortesia da Sondotécnica.
7 - Ensaios e testes 1 203

• Granulometria na Tab. 7.1. Normalmente são utilizadas


• Peso específico apenas sete dessas peneiras (3/4", 3/ 8",
• Umidade natural nº 4, nº 16, nº 40, nº 100 e nº 200). Com
• Limites de consistência base nos percentuais retidos em cada
• Teor de matéria orgânica peneira, constrói-se uma curva granulomé-
• Permeabilidade trica como mostrado na Fig. 7.29. O trecho
• Compactação da curva correspondente à fração fina (diâ-
• Adensamento metro das partículas inferior a 0,075 mm),
• Cisalhamento direto que passa na peneira 200, é determinado
• Triaxial por meio do ensaio de sedimentação.

a) Ensaio de granulometria TAB. 7.1 Tamanhos das principais peneiras


Abertura Abertura
A caracterização da granulometria de um Pene ira Peneira
(mm) (mm)
solo é efetuada pela análise granulométrica,
1 ½" 38 nº 16 1,2
que determina a faixa de tamanhos das par- 1" 25 nº 30 0,6
ticulas presentes nesse solo, expressa como 3/4 " 19 nº 40 0,42
uma percentagem do peso total seco. De 3/8" 9,5 nº 50 0,30
acordo com a norma NBR 7181 da ABNT, a Nº 4 4,8 nº 100 0,15
distribuição do tamanho das partículas do N°10 2,0 nº 200 0,075
solo é obtida por meio de dois métodos: pe-
neiramento e sedimentação. Ensaio de sedimentação
Esse ensaio tem como base o princípio
:.nsaio de peneiramento da velocidade de sedimentação dos grãos
Esse ensaio é realizado para deter- do solo em água. Essa velocidade é dire-
minar a distribuição das partículas do tamente proporcional à massa específica
solo que possuem diâmetro maior que da água e das partículas do solo e ao di-
0,075 mm. Para tanto, uma amostra de âmetro dessas partículas, e inversamente
solo deve ser agitada em um conjunto de proporcional à viscosidade do líquido.
peneiras com aberturas progressivamente No laboratório, realiza-se o ensaio em
menores (de cima para baixo), ficando uma um cilindro de sedimentação, utilizando
cuba situada abaixo da peneira mais infe- 50 g da amostra do solo seca em estufa.
rior para coletar a fração de solo que passa Um densímetro imerso na água contendo
nessa última peneira. Antes de ser penei- o solo em suspensão possibilita medir, a
rado, o solo deve ser secado em estufa cada tempo t , o peso específico na vizi-
e posteriormente destorroado. Após o nhança do seu bulbo a uma determinada
onjunto de peneiras ser agitado por um profundidade (L). O diâmetro das partí-
"ispositivo mecânico, pesam-se as amos- culas (D) no entorno do bulbo será:
:ras retidas em cada peneira.
As peneiras possuem um diâmetro de L(cm)
_0, 3 cm (8") e suas aberturas são indicadas D(mm) = K
t(min)
204 1 Geologia de Barragens

A classificação do solo pode ser feita


on d e K = -ºri
- e, por sua vez, 17 e, a v1s-
.
de várias maneiras, porém são mais co-
~ Gs - l
cosidade da água e Gs, o peso específico nhecidas as constantes da Tab. 7.2, em
função do tamanho dos grãos.
dos grãos.
No Brasil, a classificação mais utili-
As partículas com diâmetro maior
zada para barragem é a do sues, cuja
que D estarão sedimentadas e as in-
metodologia pode ser vista em Das
feriores continuarão em suspensão.
(2007), eraig (2007), Pinto (2000), Vargas
Determina-se, assim, a quantidade de
(1977) e diversos outros compêndios de
cada granulometria para cada tempo ana-
mecânica dos solos. Na curva da Fig. 7.29
lisado, permitindo definir, em relação à
a última escala para os limites de classi-
quantidade da amostra ensaiada, os per-
ficação granulométrica corresponde a
centuais de cada tamanho de partícula,
sistema do sues.
o que ensejará a continuação da curva O Diâmetro efetivo (D10) é o diâme-
granulométrica vista na Fig. 7.29, para tro, na curva granulométrica do tamanh
frações abaixo de 0,075 mm. das partículas, correspondente a 10% q =
A curva granulométrica assim obtida passa, ou 10% mais finos , conforme vis
permite a definição de quatro característi- na Fig. 7.29. O diâmetro efetivo dos sol
cas do solo: classificação do solo; diâmetro granulares é uma boa referência para
efetivo; coeficiente de uniformidade; e co- estimar a condutividade hidráulica, co
eficiente de curvatura. se verá em 7.2.lf.
Sedi mentação Peneiramento
p
Pol. nº200 nº50 nº30 nº10 3/8 1
______ _ _ ____ _ _ _ _ __!_'__=~nõ.'.
0 10;;-;;o___!!__,~nº°'"40n'-'-'"'---;;;;n
º""16,.....,_,_=-----;;.;;,---=='---;3.;;;/4---'---;1,71/2>IT'-,_-
mm. 0074 015 03004206 12 20 1925 38
1oof - - - - - - - - -- -----~{.!::!...~~~~=""---4'"-----'""'----"'-:::;;:;~-'r'-':"'4. er-
go : 10

30 ···· ···················-·--·····-·-····················, · · ···

20

1O ····-··-······--··-··········-······-· ••••••••••• ,
5 2 ,i. 5 3 4: 6 s 1: 3 :s 7 9 3
4 3 D,Ji .b·.ºs .i9 . 2 ' 4 5'/{10 2

Comp Arg ila Silte Pedregul ho


Grossa
Comp Argila Silte Pedregulho
Com p Arg ila + Silte Grossa Pedregul ho

FIG. 7.29 Curva granulométrica de um solo


7 - Ensaios e testes 1 205

:AB. 7.2 Classificação do solo pelo tamanho dos grãos


Tamanho dos grãos (mm)
itério
Pedregulho Areia Silte Argila
-ssociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) > 4,75 0,05 - 4 ,75 0,005 - 0,05 < 0,005
0,075 -
: stema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) 4,75 - 76,2 < 0,075
4.75
. assachusetts lnstitute of Tecnhology (MIT) > 2,0 0,06 - 2,0 0,002 - 0,06 < 0,002
-merican Association System Highway and 0,002 -
2,0 - 76,2 0,075 - 2,0 < 0,002
-,ansportation Officials (AASHTO) 0,075
.S. Department of Agriculture (USDA) > 2,0 0,05 - 2,0 0,002 - 0,05 < 0 ,002

O Coeficiente de Uniformidade (Cu) é solos, oscilando geralmente entre 19 e


.::.efinido como: 20 kN/ m 3 , ou 1,9 a 2,0 t / m 3 .
Para determinar o peso específico dos só-
Cu = D50
D10
lidos (y5), coloca-se um peso seco conhecido
do solo em um picnômetro, completa-se
nde D60 corresponde ao diâmetro das com água e determina-se o peso total. Esse
artículas 60% mais finas do solo. peso total, subtraído do peso do picnôme-
O Coeficiente de Curvatura (Cc) é de- tro com água (medido antes do ensai ) e
::ni.do como: do peso do solo conhecido, corresponde
ao peso do volume de água deslocado pelo
solo no picnômetro. Desse peso calcula-se
o volume da água deslocada, que corres-
onde D30 corresponde ao diâmetro 30% ponderá, também, ao volume do solo.
:nais fino das partículas do solo. Dividindo-se o peso inicial do solo pelo
seu volume assim determinado, tem-se
o peso específico do sólido, ou dos grãos.
b) Peso específico
Esse peso não varia muito de 27 kN/ m 3 , ou
Em laboratório são determinados dois 2,7 t/ m 3 . Para os grãos de quartzo (areia),
pesos específicos dos solos: peso especí- é de 26,5 kN/ m 3 , ou 2,65 t / m 3 .
r co natural e peso específico dos sólidos.
e) Umidade natural
Para a determinação do peso específico
natural (yn), o solo é moldado em um cilin- A umidade natural do solo (h ou w)
dro metálico de dimensões padronizadas expressa a relação entre o peso da água e
pela ABNT, o que permite calcular o seu o peso dos sólidos . O solo amostrado em
volume. O peso do solo é obtido pela dife- campo deve ser parafinizado para evitar
rença entre o peso total (sólido + molde) a modificação de sua umidade no trajeto
e o peso do molde vazio. Dividindo-se o até o laboratório. Para a determinação da
peso do solo pelo volume conhecido, tem- umidade natural, pesa-se o solo no seu
-se o peso específico natural, o qual não estado natural, seco em estufa a 105°C,
varia muito entre os diferentes tipos de até constância do peso, e depois pesa-se
206 1 Geologia de Barragens

novamente. Subtraindo-se o peso inicial Sólido Semissól ido Plástico Líquido Aumento
- - - - + - - - t - - -1 - - ~ do teor de
do peso final, tem-se o peso da água con- Lim it e de Limite de Limite de umidade
cont ração - LC plasticidade - LP liquid ez - LL
tida no solo. Dividindo esse peso pelo peso
final, que corresponde ao peso do solo FIG. 7.30 Evolução do co mportamento do solo com
seco, e multiplicando o resultado por 100, o au mento do teor de umidade
obtém-se o teor de umidade em percenta-
na mecânica dos solos, o Índice de
gem. Os teores de umidade dependem do
Plasticidade (IP), definido como:
tipo de solo, mas geralmente se situam
IP = LL - LP
entre 10% e 40%; podem, porém, ultra-
passar os 100% em solos turfosos. Limite de liquidez (LL)
d) Limites de consistência Esse limite é determinado em labora-
tório com base na norma NBR 6459 da
Os solos de granulação fina contendo
ABNT, segundo a qual o ensaio é reali-
minerais de argila podem ser moldados na
zado em um equipamento denominado
presença de alguma umidade sem chegar
Casagrande, que consiste em uma concha
a esfarelar, graças à natureza coesiva cau-
de latão e uma base de borracha rígida,
sada pela água adsorvida que circunda as
sendo a concha golpeada sobre a base por
partículas argilosas. A consistência desses
um excêntrico operado por uma manivela.
solos com teor de umidade variável foi
Para realizar o ensaio, coloca-se uma
desenvolvida pelo cientista sueco Atte-
pasta resultante do solo umedecido o
berg no início do século XX. Segundo esse
bastante que admita ser cortado sem pro-
cientista, o comportamento desses solos
vocar desabamento da parede do corte
com a variação do teor de umidade admite
Em seguida, provoca-se um sulco na parte
quatro estados básicos a partir da menor
central com uma ferramenta padrão, dei-
umidade, a saber: sólido, semissólido,
xando o solo no interior da concha como
plástico e líquido.
visto em seção na Fig. 7.31a. Com o uso da
O teor de umidade, em percentagem,
manivela, a concha é levantada até uma
para o qual ocorre a transição de um de-
altura de 1,0 cm, caindo em seguida sobre
terminado estado para o imediatamente
a base. O limite de liquidez é definido pelo
seguinte é denominado limite. Assim, o
teor de umidade necessário para fecha!
teor de umidade entre o estado sólido e
com 25 golpes uma distância de 1,27 cr::
o semissólido é denominado limite de
ao longo da parte inferior do sulco, d=
contração; entre o estado semissólido e
forma a ser vista em seção na Fig. 7.31b.
o plástico, limite de plasticidade; e entre
o estado plástico e o líquido, limite de
Limite de plasticidade (LP)
liquidez. A Fig. 7.30 mostra a evolução do
Esse limite é determinado com bas-
comportamento dos solos finos argilosos
na norma NBR 7180 da ABNT. O ensa:
com o aumento da umidade. é muito primitivo, baseando-se na rol
Esses limites são conhecidos como
gem manual sobre uma placa de vidr-
Limites de Atteberg. Utiliza-se ainda,
despolido, de uma massa de solo umed
7 - Ensaios e testes 1 207

ciclo com uma determinada umidade, até V. ·---·- - - - - - -----·- - - - -·- ---- -·-·-·-
=armar filamentos . O LP é definido como
o teor de umidade no qual o filamento de o
o
V>

solo se fragmenta quando rolado na es- o


"D
(IJ
pessura de 3,2 mm. E
::,
o> v,_ ,______....,

Limite de Limite de Limite de H,


contração plasticidade liquidez
Teor de umidade (%)

FIG. 7.32 Modelo para explicar o limite de co ntração:


Vi - volume inicial; Vr - volume final; h; -
umidade inicial
Fonte: modificado de Das (2007).

definida empiricamente pela equação


FIG. 7.31 Seção vertical da concha no ensaio de IP= 0,73 (LL-20). Essa linha separa as
Casagrande: (a) após o corte; (b) final do ensaio
argilas inorgânicas (situadas acima dela)
:..imite de contração (LC) dos siltes inorgânicos (situados abaixo).
Esse limite é determinado com base na As informações obtidas nesse gráfico são
norma NBR 7183 da ABNT. Baseia-se no de grande importância e compõem a base
ato de que o solo se contrai à medida que para a classificação unificada dos solos
perde a umidade, atingindo um estágio (SUCS), cujos símbolos aparecem no grá-
de equilíbrio no qual maior perda de umi- fico da referida figura.
dade não importará em maior perda de A plasticidade dos solos finos pode
volume, como se vê no gráfico da Fig. 7.32. ainda ser avaliada em laboratório por
O ensaio é realizado em laboratório meio dos testes de rigidez, de dilatância e
com uma cápsula de porcelana revestida de resistência a seco.
?Or vaselina, na qual se coloca o solo ume-
decido com determinada umidade. Seca-se Teste de rigidez
em estufa, reveste-se o solo em parafina e No laboratório, esse teste é muito pa-
mede-se seu novo volume por imersão em recido com o realizado para o limite de
agua. O ensaio é repetido com teores variá- plasticidade. Uma parte do solo é rolada
"eis de umidade, e o LC corresponderá ao sobre uma superfície lisa ou na palma da
-eor de umidade a partir do qual a amos- mão até formar um cilindro, que é amas-
tra não perde mais volume. sado e novamente moldado na forma
Com base nos resultados dos ensaios cilíndrica. Essa operação é repetida até
de LL e LP, Casagrande propôs um grá- que, em razão do secamento da amostra,
co de plasticidade, conforme mostrado os cilindros se partam em fragmentos
a Fig. 7.33. Nesse gráfico, a linha A é com diâmetro de 3 mm. Nessa condição,
208 1 Geo logia de Barragens

as argilas inorgânicas de alto LL são ra- do solo com aproximadamente 6 mm de


zoavelmente rígidas e duras; as argilas de espessura. A resistência do solo seco é
baixo LL são macias e se esfarelam facil- avaliada por meio da rupt ura e do esfare-
mente; os siltes inorgânicos produzem um lamento do solo p ela pressão dos dedos.
cilindro fraco que pode se romper e esfa- Quanto maior o LL de argilas inorgâni-
relar imediatamente. cas, maior a resistência à ruptura; os siltes
inorgânicos de baixo LL possuem pouca ou
Teste de dilatância nenhuma resistência a seco, esfarelando-
Uma pequena porção do solo contendo -se com a leve pressão dos dedos.
água suficiente para torná-lo macio, mas
e) Teor de matéria orgânica
não pegajoso, é colocada na palma da mão
aberta na horizontal. Bate-se então uma A matéria orgânica afeta sobretudo
mão sobre a outra muitas vezes. A dila- os agregados miúdos (areia) no seu em-
tância é determinada pelo surgimento de prego no concreto. A determinação do
um filme lustroso de água na superfície teor de matéria orgânica é feita segundo
do solo. Depois de ser espremida e pres- a norma NBR NM 49 da ABNT. Faz-se a
sionada com os dedos, quando a pasta comparação da cor de uma solução aquosa
endurece, a superfície torna-se fosca se o de hidróxido de sódio, à qual o material
solo possui partículas de silte e areia fina, foi submetido, com a cor de uma solução
o que não ocorre se o solo for constituído padrão de dicromat o de potássio.
predominantemente por argila plástica.
f) Permeabilidade

Teste de resistência a seco Pode-se realizar de duas formas o ensaio


Deixa-se secar completamente, seja de de permeabilidade de um solo em laborató-
forma natural ou em um forno , uma porção rio: a carga constante e a carga variável.

60

w 50
~
V
-o
<U CH /
-o
:~ 40
/
~
<U
V
a.. \

~ 30
(IJ
-~
-o
.E 20
CL
/
/ MH
OH
/
10
/
/ ML
1 - OL

o 10
ML
20
V 30 40 50 60 70 80 90 100
Lim it e de liqu idez

FIG . 7.33 Gráf,.co de plasticidade com indicação dos símbolos da c/assif,.cação SUCS
7 - Ensaios e testes 1 209

3nsaio com carga constante


Nesse tipo de ensaio, a água que atra-
vessa o corpo de prova do solo é ajustada
de forma que a diferença de carga entre
a entrada e a saída permaneça constante
durante todo o ensaio.
Com vazão constante, mede-se em
urna proveta o volume de água durante
um determinado tempo (Fig. 7.34). A
Água
permeabilidade será dada por:

K = VL
Aht
onde: FIG. 7.34 Permeâmet ro de carga constante
Fonte: modifzca do de Das (2007).
K - permeabilidade em cm/s;
V - volume de água coletada em cm 3 ;
L - comprimento do corpo de prova; J_
dh
A - seção do corpo de prova; T
h - diferença de carga hidráulica; Piezô metro
- tempo de medição.

:.nsaio com carga variável


Nesse ensaio, a água de um piezômetro
ui através de uma amostra de solo. No Corpo
de prova
instante t = O, o nível de água no piezôme-
tro é h1 e no instante t = t2 , esse nível será
h2 (Fig. 7.35).
A permeabilidade será dada por:

aL h
t
K = 2,303-logrn - 1
At h2

onde: FIG. 7.35 Permeâmet ro de carga variável


: - permeabilidade (cm/s); Fonte: modifz cado de Das (2007).

a - seção do piezômetro (cm 2) ; metro efeti vo do solo (D10), de acordo com a


- comprimento do corpo de prova (cm); equação (Mello; Teixeira, 1967):
• - seção do corpo de prova (cm 2);
k =a. D1 o
- - tempo final (t2); onde:
1 - nível inicial (cm); k - coeficiente de permeabilidade (cm/ s);
::i 2 - nível no tempo t 2.
a - coeficiente que varia com a compa-
A permeabilidade pode ainda ser cidade (50 < a < 150);
2stimada a partir do conhecimento do diâ- D10 - diâmetro efetivo do solo (cm).
210 1 Geologia de Barragens

g) Compactação em um molde metálico cilíndrico com


11,64 cm de altura e 10,16 cm de diâmetro
A compactação de um solo corresponde interno, o que propiciará a compactação
à sua densificação por meio da remoção do de um volume de 944 cm 3 de solo. O solo
ar pela aplicação de uma energia mecânica. é colocado nesse molde em três camadas,
Ela tem por finalidade aumentar o peso es- cada uma compactada por um soquete de
pecífico seco do solo e, consequentemente, 2,5 kg caindo de uma altura de 30,48 cm.
a sua resistência às cargas aplicadas. A Cada camada recebe 25 golpes desse so-
água adicionada ao solo durante o processo quete espalhados ao longo de toda a área
de compactação objetiva amolecer as suas do molde. O solo a ser compactado terá
partículas para facilitar o deslizamento seu teor de umidade determinado no -la-
entre elas, resultando em uma formação boratório antes de iniciar o ensaio.
compacta de alta densidade. Ocorre que O peso específico natural de compac-
o aumento do teor de umidade somente tação (y) pode ser calculado pela equação:
influi enquanto a água preenche os vazios p
y= -
sem ocupar o espaço das partículas do v
solo. Assim, esse incremento da umidade onde:
atinge o máximo de influência no aumento y - peso específico natural de compacta-
do peso específico quando todos os vazios ção (g/cm 3);
estiverem saturados. A partir desse ponto, P - peso do solo compactado no molde (g);
o aumento da umidade provocará uma di- V - volume do solo contido no molde
minuição do peso específico, pois a água (944 cm 3).
tomará o espaço dos grãos. O ponto em
que o teor de umidade possibilita atingir Conhecido o teor de umidade, pode-se
o mais elevado peso específico do solo é calcular o peso específico seco do solo por
denominado umidade ótima (H0 J. Os en- meio da equação:
saios de compactação visam determinar Yd = y
H
em laboratório a umidade ótima e a cor- 1+ -
100
respondente densidade máxima do solo, e onde:
podem ser feitos de duas maneiras: Proc- Yd - peso específico seco do solo (g/cm 3);
tor normal e Proctor modificado. y - peso específico natural do solo (g/cm 3);
H - teor de umidade do solo (%).
Ensaio de Proctor normal
Esse ensaio é normatizado pela NBR Obtido o peso específico seco em cinco
7182 da ABNT e consiste na compactação ou mais medições, constrói-se a curva
do solo com o mínimo de cinco teores de de compactação do solo ensaiado em um
umidade diferentes, a fim de construir o gráfico Yd x H (Fig. 7.36). Nessa curva, o
gráfico de compactação. Para cada teor de ponto de inflexão corresponde ao peso es-
umidade, o solo é bem misturado com a pecífico seco máximo, também chamado
respectiva quantidade de água e colocado de densidade máxima (YmáJ e a umidade
7 - Ensaios e testes 1 211

mesmo molde do Proctor normal, porém


o solo é compactado em cinco camadas
por um soquete de 4,54 kg caindo de uma
altura de 45,7 cm. O número de golpes é o
mesmo do Proctor normal (25). Como esse
ensaio aumenta o esforço de compactação,
resulta no aumento do peso específico
seco máximo do solo e na redução da umi-
dade ótima de compactação. A construção
da curva de compactação é feita da mesma
Ho,
Teor de Umidade - % maneira que no Proctor normal.

FIG. 7.36 Curva de compactação h) Adensamento

correspondente a essa densidade definirá O ensaio de adensamento em labo-


a umidade ótima (H 0 J de compactação. ratório visa definir as características de
compressibilidade dos solos argilosos.
=.nsaio de Proctor modificado Nele, o corpo de prova, que mede 6,4 cm
O ensaio de Proctor modificado surgiu de diâmetro e 2,5 cm de espessura, é
para atender à utilização de rolos com- colocado dentro de um anel metálico de-
pactadores muito pesados, visando a uma nominado edômetro, com pedras porosas
maior aproximação entre as condições na base e no topo. Uma carga é aplicada
de laboratório e as condições de campo. na parte superior sobre a pedra porosa
_ esse ensaio, que também consta da (Fig. 7.37) e a deformação sofrida pelo
norma NBR 7182 da ABNT, utiliza-se o solo é registrada por um extensômetro.

Relógio compacado, =º Ca,ga aphcado,a• - -- - - - -

Água

::IG. 7.37 Esquema do edômetro


::ante: modificado de Das (2007).
212 1 Geologia de Barragens

Cada carga é aplicada por 24 horas e após o e0 , pois somente o Hv varia durante o
esse período é geralmente dobrada. ensaio. Assim, !le = er - e0 .
A deformação sofrida pelo corpo Com os valores de !le para cada carga
de prova adensado, para uma determi- aplicada, pode-se construir o gráfico ex cr'
nada carga aplicada, inclui três estágios (Fig. 7.39), que permite calcular a pressão
(Fig. 7.38), a saber: de pré-adensamento (crc'), como indicado
nessa figura.
- Estágio I: compressão inicial, predomi-
nantemente por pré-carrega-
mento;
- Estágio II: adensamento primário re- Estágio 1

sultante da transferência
gradual da poropressão ex-
cessiva para a tensão efetiva o
'"'<>"' Estágio li
em função da expulsão da §
água dos poros; .!:?
Q)
o
- Estágio III: compressão secundária
ocorrida após a dissipação
do excesso de poropressão,
1
consequente do reajuste Estágio Ili

plástico da estrutura do solo.


Tempo (escala logarítimica)
Como o corpo de prova tem sua altura
inicial (H) reduzida em cada incremento FIG. 7.38 Gráfico Tempo x Deformação no ensaio
de adensamento
de carga, é possível determinar para cada Fon te: modificado de Das (2007).
carga aplicada a redução do índice de
vazios (e), pois:

onde:
ô
·;;;
a -f=--=-,- - a - - b
~ 19 ' , a '-.--... d
e0 - índice de vazios inicial; Q)
-o 1
QI 1
Vv - volume de vazios; u
'õ 1
V5 - volume de sólidos; ..f 1
1
A - área do corpo de prova; 1
1
Hv - altura de vazios no início da carga 1
h
1
aplicada; 1
H 5 - altura de sólidos no início da carga 1
1 cr',
aplicada. Pressão - cr' (esc. log .)
O ercorrespondente ao índice de vazios
FIG. 7.39 Gráfico ex cr'
no final da aplicação da carga é m enor que
Fonte: modificado de Das (2007).
7 - Ensaios e testes 1 213

i) Cisalhamento direto Se a metade inferior da caixa estiver


fixada, haverá um deslocamento progres-
O ensaio de cisalhamento direto sivo da metade superior, por meio de
objetiva determinar em laboratório a re- sucessivos Af (Fig. 7.40), detectados por
sistência à ruptura por cisalhamento dos meio do defletômetro horizontal insta-
solos. Trata-se do ensaio mais antigo e mais lado na parede lateral da caixa de ensaio
simples com tal objetivo, o qual baseia-se (metade superior). Também ocorrerão
no critério de Coulomb, em que uma reta pequenas modificações na espessura do
relaciona as tensões normais e tangenciais corpo de prova, assinalada por ~h nessa
aplicadas ao material ensaiado. Apesar de figura, e que são detectadas pelo defletô-
simples, exige cuidados, desde a represen- metro vertical instalado no topo da caixa
tatividade da amostra de solo retirada até de ensaio.
as condições de manipulação da amostra Considerando h 0 a espessura inicial do
até a realização do ensaio, principalmente corpo de prova, a deformação angular (y)
no caso de amostras indeformadas. pode ser definida por Af/ h 0 e a deforma-
No laboratório, o corpo de prova ção volumétrica (ev), por ~h/ h 0 . A tensão
é confinado em um caixa metálica de normal (cr) será definida pela divisão da
seção transversal quadrada ou circular, força normal (N ) pela área de aplicação
que se acha partida horizontalmente a dessa carga, da mesma forma que a tensão
meia altura. Na base e no topo do corpo cisalhante (r) é definida pela divisão da
de prova serão colocadas placas porosas, força tangencial (T) pela área de sua apli-
a fim de facilitar a drenagem da água cação no corpo de prova.
eventualmente contida no solo. É então A tensão -r pode ser representada
aplicada uma força normal (N ) ao corpo em função do deslocamento no sen-
de prova e, em seguida, uma força tangen- tido do cisalhamento, como mostrado
cial (T) é aplicada gradualmente no plano na Fig. 7.41, em que é identificada a
horizontal (Fig. 7.40). tensão 'trnáx correspondente à ruptura e a

Defletômetro
vertical N

Defletômetro
horizontal

Placas
porosas
-Dreno

FIG. 7.40 Esquema do ensaio de cisalhamento direto


=-ante: modifzcado de Craig (2007).
214 1 Geologia de Barragens

tensão residual (tres) mantida pelo corpo '·


de prova após atingir a ruptura. Nessa
mesma figura, observa-se o deslocamento
vert ical registrado pelo extensôrnetro
vertical, denotando se houve diminui-
ção ou aumento de volume durante o 1t res
1
cisalharnento. Ao se realizar ensaios com 1
1
diversas tensões normais, obtém-se a
E (mm)
Envoltória de Cisalharnento, ou Reta de
Coulomb, no gráfico 't x cr (Fig. 7.42). Nessa
figura, podem-se obter os parâmetros Ê
E
.e
de resistência ao cisalharnento (c e ~) e, <l
E(mm)
consequentemente, definir a equação
dessa resistência corno segue:

r = e + cr . tgcp
FIG. 7.41 Deslocamentos horizontal e vertical no
ensaio de cisalhamento direto
Embora esse ensaio apresente corno
Fonte: modifzcado de Pinto (2000).
vantagem a simplicidade de operação e a
facilidade de preparo do corpo de prova,
principalmente no caso de areias, ofe-
rece várias desvantagens, e a principal é
a impossibilidade de medir a poropressão.
Assim, as tensões medidas são sempre as
totais, embora seja igual à tensão efetiva
se a poropressão for nula, como mostrado
na envoltória B da Fig. 7.42, onde cp = cp'
e
por se tratar de uma areia sem coesão.

j) Ensaio triaxial
o
O ensaio de compressão triaxial é o
método mais confiável para a determi- FIG. 7.42 Gráfzco, x cr no ensaio de cisalhamento
direto: A - solo coesivo; B - solo não
nação dos parâmetros de resistência dos
coesivo (areia)
solos, pois permite medir a influência
da poropressão ou pressão neutra (µ) na urna tensão hidrostática, ou pressão confi-
ruptura por cisalharnento. Esse ensaio nante (crJ, que corresponde, num sistema
baseia-se no pressuposto de que a ruptura triaxial, às tensões cr2 = cr3, e uma pres-
por cisalharnento ocorre pela diferença de são axial correspondente nesse estado
tensões compressivas entre duas posições à tensão cr1. A intensidade da diferença
ortogonais, conforme discutido no Cap. 4. cr1 - cr3, denominada tensão desviadora, é
Assim, um corpo de prova do solo recebe que determinará a ruptura desejada.
7 - Ensaios e testes 1 215

Em laboratório, o corpo de prova de gráfico de Mohr. A tangente aos diversos


:arma cilíndrica nas dimensões de 76 mm círculos permitirá definir os parâmetros e
:.e comprimento por 36 mm de diâme- e ~. conforme indicado na Fig. 7.44.
:ro é envolvido por uma fina membrana Esse ensaio pode ser realizado de três
~e borracha e colocado dentro de uma diferentes maneiras: ensaio adensado
::âmara cilíndrica (Fig. 7.43). A câmara é drenado; ensaio adensado não drenado; e
cheia de água ou glicerina, à qual se aplica ensaio não adensado e não drenado.
;.una pressão CJc, que se distribui homo-
eneamente sobre todo o corpo de prova, Ensaio adensado e drenado (CD ou S)
mclusive na vertical, pois este ficará su- A sigla CD vem de consolidated-
·eito a um estado hidrostático de tensões. -drained e S vem de slow, por ser também
- seguir, aplica-se uma tensão axial (cr1) esse ensaio denominado lento, uma vez
através de uma haste de carregamento que pode levar mais de 20 dias para serre-
·ertical, e a carga é registrada em um anel alizado, no caso de solos argilosos. Nesse
dinamométrico, enquanto as deformações ensaio, aplica-se a pressão confinante
verticais que precedem a ruptura são me- e aguarda-se o adensamento do solo, o
didas por um extensômetro ligado à haste. que ocorrerá com a expulsão da água e a
Para cada pressão confinante (cr3), consequente dissipação da poropressão.
haverá uma tensão axial (cri) que pro- A seguir, a pressão axial é aplicada len-
•ocará a ruptura. A diferença cr1 - cr3 tamente para que a água sob a nova
definirá um estado de tensões de rup- pressão possa sair, mantendo sempre nula
tura representado por um semicírculo no a pressão neutra. Dessa forma, as ten-

Membrana

Drenagem ou
mediçaoda~ Entrada de água
pressao neutra > l=::::::::::;::::::=•- e medição da
~ ~ ~~ - - - - - ~ - - ~ pressão confinante
Pedra porosa

FIG. 7.43 Esquema do ensaio triaxial


Fonte: modificado de Pinto (2000).
216 1 Geologia de Barragens

ensaio, o corpo de prova é submetido


à pressão confinante e, a seguir, ao
confinamento axial, sem que se permita
qualquer drenagem. Pelo fato de o tempo
de drenagem não ser necessário em qual-
quer carregamento, esse é o tipo de ensaio
mais rápido. Em consequência, é possível
medir apenas as tensões totais, ou seja:
1 =e + cr . t gcp
FIG. 7.44 Gráfico , x a no ensaio triaxial
O importante para o projeto de uma
sões aplicadas corresponderão às tensões barragem é definir, para cada caso, o
efetivas e no gráfico de Mohr serão deter- tipo de ensaio triaxial a realizar. O_
minados e' e ~•, possibilitando definir a parâmetros de resistência determinados
equação de cisalhamento como no ensaio pelo ensaio CD são úteis para a determi-
de cisalhamento direto, ou seja: nação da estabilidade de longo prazo
tanto em solos compactados nos aterr _
, =e'+ cr'tgcp' como em solos in situ nos cortes reali~-
dos em canais e ombreiras. Por sua vez, _
Ensaio adensado e não drenado (CU) parâmetros de resistência determinad _
A sigla CU vem de consolidated- nos ensaios CU podem ser utilizados par:-
-undrained. Embora não seja o tipo de estudar a estabilidade do talude das ba.
ensaio mais rápido, ele o é em relação ragens de terra, sobretudo o de montan-=-
ao CD. Nesse ensaio, aplica-se a pressão nos casos em que o solo é totalme -.
confinante até dissipar a pressão neutra adensado de início e submetido a um e.a:
correspondente. Mantendo-se a pres- regamento rápido. Esse fato geralme-·
são confinante, carrega-se axialmente o ocorre após um rápido esvaziamento -
corpo de prova sem permitir a dissipação reservatório nesse tipo de barragem. ?
da pressão neutra gerada por esse carre- fim, o ensaio UU é útil para deter:rru:-
gamento. Dessa forma, é possível medir os parâmetros de resistência do mate
a poropressão, o que permite definir a re- argiloso contido nas fundações da ba:
sistência ao cisalhamento em termos de gem (terra ou enrocamento), uma vez _
tensões totais e de tensões efetivas, ou seja: a carga imposta pela obra pode ser
, = e + cr. tgcp (t ensões totais) cada rapidamente sem dar tempo para
, = e' + cr ' . tgcp'(t ensões efetivas)
ocorra a drenagem desse material arg:

7.2.2 Ensaios de laboratório


Ensaio não adensado e não drenado
materiais consolidado
(UU ou Q)
A sigla UU vem de unconsolidated- Em laboratório, podem-se realiz-
-undrained e Q, de quick (rápido). Nesse saios em materiais consolidados (r
7 - Ensaios e testes 1 217

?<Jr meio de uma amostra íntegra, ge- então é pesado, e o peso específico apa-
almente de forma geométrica, ou com rente (y) é resultante da divisão do peso
:ragmentos dessa rocha. Os principais en- da amostra pelo seu volume. Como na
-aios são: maioria das rochas o volume de vazios é
• Peso específico desprezível (com exceção das lavas vulcâ-
• Porosidade e permeabilidade nicas e de algumas rochas sedimentares),
• Compressão uniaxial o peso específico aparente, ou natural,
• Esmagamento é praticamente igual ao peso específico
• Resistência ao cisalhamento não do sólido. O peso específico aparente
confinado das rochas varia de 2,0 g/cm 3 (rochas
• Resistência ao cisalhamento triaxial sedimentares como arenitos e folhelhos) a
• Resistência à tração 3,0 g/cm 3 (rochas ígneas básicas).
• Resistência à flexão
b) Porosidade e permeabilidade
• Constantes elásticas
• Resistência ao desgaste A porosidade retrata a relação entre o
• Resistência ao intemperismo volume de vazios e o volume total de um
• Reatividade química potencial corpo rochoso. Nas rochas, a porosidade
• Adesividade pode ser granular ou intersticial. A porosi-
• Outros ensaios dade granular decorre dos vazios existentes
entre as partículas sólidas em uma rocha
a) Peso específico
sedimentar e a intersticial, dos vazios exis-
O peso específico aparente das rochas tentes entre os minerais que compõem uma
é determinado em laboratório por meio rocha ígnea ou metamórfica. Considerando
de um corpo de prova cilíndrico, que pode que o peso específico da água é 1 g/cm 3 , o
resultar da sondagem rotativa de campo, ensaio para porosidade consiste em pesar
quando são selecionados na caixa de tes- um corpo de prova rochoso primeiramente
temunhos os trechos de rocha a ensaiar, em seu estado saturado e depois seco. A
ou obtidos através de pequenas sondas diferença entre o peso saturado e o seco
de laboratório, que podem confeccionar corresponde ao peso da água contida nos
testemunhos a partir de blocos rochosos vazios e, consequentemente, ao volume
coletados em bom estado de sanidade. dos vazios. Dividindo esse volume pelo
O testemunho selecionado deve ter suas volume total de corpo de prova, tem-se o
extremidades cortadas por serra diaman- valor da porosidade, em percentagem. Para
tada, a fim de conferir ao corpo de prova rochas sedimentares, a porosidade gra-
uma perfeita forma geométrica e, assim, nular pode variar entre 5% e 30%, porém
facilitar a determinação de seu volume. nas rochas ígneas e metamórficas, a po-
Outra forma de facilitar essa determina- rosidade intersticial fica geralmente entre
ção é cortar o corpo de prova em forma 0,1% e 1,0%.
prismática por meio de serra diamantada. A permeabilidade retrata a facilidade
Definido o volume do corpo de prova, ele de escoamento da água ou outro fluido
218 1 Geologia de Barrage ns

através dos vazios da rocha. Deduz-se onde:


logo que essa permeabilidade é maior Se - resistência à compressão (kgf/cm 2
nas rochas sedimentares, nas quais ou MPa);
atinge até 10- 3 cm/s. Nas rochas ígneas Se - resistência à compressão para L = D
o
e metamórficas, a permeabilidade varia (kgf/cm 2 ou MPa).
entre 10- 5 e 10- 7 cm/s. A metodologia do
ensaio é a mesma citada para os solos no Em nenhum caso L/D deverá sair da
item 7.2.lf. seguinte relação: 2 > L/D > 1/ 3.
A resistência à compressão em rochas
e) Compressão uniaxial
ígneas e metamórficas varia entre 100 e
A compressão uniaxial visa definir a 300 MPa e em rochas sedimentares, entre
resistência à compressão da rocha e pode 30 e 200 MPa. Outra influência nessa resis-
ser realizada de duas formas: compressão tência é a relação entre a direção da carga
simples e compressão pontual. aplicada e as descontinuidades geomecâ-
nicas da rocha (xistosidade, estratificação
Compressão simples etc.). A maior resistência à compressão
Nesse ensaio, o corpo de prova ci- ocorre quando a carga é aplicada perpen-
líndrico é submetido a uma pressão dicularmente a essas descontinuidades e
uniaxial aplicada no seu topo (Fig. 7.45) o inverso ocorre quando aplicada paralela-
até provocar a ruptura por esmagamento, mente. Assim, o ensaio deve reproduzir em
resultante da ocorrência de ruptura por laboratório a maior semelhança possível
tração e por cisalhamento. com a situação em que a rocha será solici-
A resistência à compressão é dada por: tada nas fundações de uma barragem ou
como suporte de estruturas concentradas,
S = Fc
e A como na casa de força, embora, na maior
onde: parte dos casos, o maciço rochoso esteja
Se - resistência à compressão (kgf/cm 2 confinado, o que torna pouco representa-
ouMPa);
Fc - força compressiva (kgf ou KN) ;
A- área do corpo de prova (cm 2).

As dimensões do corpo de prova


influem nessa resistência. Assim, a resis-
t ência Se é válida para um corpo de prova Corpo
de prova - --t,-""-='!:'T+.1',
Placas
com L (comprimento) = D (diâmetro). metálicas
Para outra relação L/D, é válida a seguinte
equação:
Sco
Se = D
O, 778 + 0,22 - FIG. 7.45 Esquema do ensaio de compressão
L
uniaxial
7 - Ensaios e testes 1 219

o o resultado do ensaio de compressão F

-Diaxial em laboratório.

: mpressão pontual
Na compressão pontual, um corpo
?Uchoso cilíndrico, em que L > 1,SD, é
~olocado em uma prensa e pressionado
- ·ametralmente por meio de duas peças
ele aço pontiagudas (Fig. 7.46).
A carga que provocará a ruptura de-
:inirá o Índice de Carga Pontual (Is), dado
?Or:
FIG. 7.46 Esquema do ensaio de compressão
F pontual
Is=-
D2
onde: tado dessa resistência é dado em função
Is - índice de carga pontual (kgf/cm 2 do percentual de material desagregado,
ou MPa); em função da massa original dos frag-
? - força pontual aplicada (kgf/cm 2 ou mentos (M 1) , conforme a expressão:
MPa);
D - diâmetro do corpo de prova (cm).
A resistência à compressão pontual
será dada pela expressão:
Esse percentual deve situar-se entre
Se= (14 + 0,175D) Is
15% e 30% para a maior parte das rochas
de maior resistência.
d) Esmagamento
e) Resistência ao cisalhamento não
O ensaio de esmagamento corresponde
confinado
a uma compressão exercida sobre frag-
mentos rochosos , o que permite definir a Existem vários métodos para a me-
resistência da rocha carregada de forma dição da resistência ao cisalhamento
fragmentada. não confinado de rochas em laboratório,
Nesse ensaio, são compactados porém o mais empregado é o que utiliza
fragmentos de rocha de uma dada um corpo de prova prismático tabular,
granulometria em um cilindro de aço preso em duas extremidades e carregado
rígido, que é submetido à compressão em sua porção média conforme indicado
por meio de um êmbulo até alcançar uma na Fig. 7.47.
determinada carga, a uma velocidade pré- A resistência ao cisalhamento (Ss) será
-fixada. Concluído o ensaio, determina-se dada por:
Fc
a massa M 2 dos fragmentos que passam Ss
2A
em uma malha pré-especificada. O resul-
220 1 Geologia de Barragens

onde: cr1. Como na maioria das rochas ensaia-


Ss - resistência ao cisalhamento (kgf/cm 2 das (ígneas e metamórficas) a porosidade
ou MPa); intersticial é desprezível, não é necessário
Fc - força compressiva (kgf ou KN); drenar o corpo de prova nesse ensaio, e
A - área do corpo de prova no sentido da muito menos adensá-lo, pois esse tipo de
ruptura (cm 2). rocha já é completamente densa. Assim,
esse ensaio corresponde ao ensaio UU dos
Esse ensaio tem pouca aplicação para solos, com a diferença de que as pressões
projetos de barragem, pois o maciço ro- totais correspondem às pressões efetivas,
choso encontra-se geralmente confinado o mesmo acontecendo com os parâmetros
nas fundações desse tipo de obra. de resistência (c' e ~').
A única diferença entre esses ensaios
f) Resistência ao cisalhamento
e o realizado em solos é a configuração do
confinado (triaxial)
gráfico-r x cr. Nos solos, a tangente aos semi-
O ensaio triaxial para determina- círculos de tensões é representada por uma
ção dos parâmetros de resistência ao reta, ao passo que nas rochas essa tangente
cisalhamento das rochas (c e <p) é seme- é ligeiramente encurvada e denominada
lhante ao realizado para solos (item 7.2.lj) envoltória de ruptura, como se observa nc
no que diz respeito à aparelhagem utili- gráfico da Fig. 7.48, no qual pode ser deter-
zada. O corpo de prova corresponde a um minada uma coesão e um ângulo de atrit
cilindro de rocha que obedece às mesmas para cada par de tensões cr1, cr3.
especificações do ensaio de compressão
g) Resistência à tração
simples em relação às dimensões L e D.
Da mesma forma que para solos, o corpo A resistência à tração das rochas poà
de prova é envolvido em uma membrana ser medida em laboratório de duas formas
de borracha fina, aplicada a pressão confi- tração direta e tração indireta.
nante (cr2 = cr3) e posteriormente a pressão
Tração direta
Nesse tipo de ensaio, o corpo rocho_
de forma cilíndrica com L = 10 cm e D en ~
4 cm e 5 cm é fixado com cimento epóX! ·
dois cabeçotes que são tracionados co-
a força FT, como visto esquematicame --
Corpo de prova
na Fig. 7.49. A resistência à tração (ST
dada por:
ST = Fr
2 onde: A
ST- resistência à tração (kgf/cm 2 ou MP-
2
FT - força traciona! (kgf ou KN);
FIG. 7.47 Esquema do ensaio de cisalhamento não
A - área do corpo de prova (cm 2).
confznado
7 - Ensaios e testes 1 221

t
,
f l 1 l l 1 J

l
1 1
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()"3 cr, cr

FIG. 7.48 Gráfico, x cr para rochas

-:ração indireta e 300 kgf/cm 2 , ou 10 a 30 MPa, e para


Esse ensaio foi concebido pelo brasileiro as rochas sedimentares, entre 20 e
:..oba Carneiro, razão pela qual é conhecido 200 kgf/cm 2 , ou 2 a 20 MPa.
mternacionalmente pelo nome de Ensaio As relações entre as diversas resistên-
3rasileiro. Nele, o corpo de prova cilín- cias à ruptura são, aproximadamente:
drico é comprimido axialmente ao longo Se = K.ST (K varia entre 4 e 10);
o comprimento do corpo (Fig. 7.50). Essa S5 = 2 ST;
;:ompressão gera tensões de tração CTT per- ss= ½ s e
?€ndiculares ao plano vertical comprimido
h) Resistência à flexão
ABCD na figura), o que vai produzir a rup-
ctUa por tração ao longo desse plano. A resistência flexural da rocha é
A resistência à tração (ST) será dada medida em laboratório utilizando
r: corpos de prova cilíndricos ou prismáti-
6Fc
ST = - - cos. Em qualquer caso, o corpo de prova
rc·D·L
n de: é colocado sobre uma base contendo dois
- - resistência à tração (kgf/cm 2 ou MPa); suportes distanciados de L. A seguir é
=e - força de compressão aplicada; aplicada uma força de compressão (Fc)
. . ., - diâmetro do corpo de prova (cm); sobre uma placa contendo um suporte
_ - comprimento do CP (cm). central, colocada sobre o corpo de prova
de maneira a ficar o suporte da placa
A resistência à tração das rochas situado no centro do corpo de prova
m eas e metamórficas varia entre 100 (Fig. 7.51).
222 1 Geologia de Barragens

F,

f
0

Corpo de prova

FI G. 7. 5 1 Esquema do ensaio f/.exural


Fonte: modificado de Obert e Duva l (1967).

Se o corpo de prova for cilíndrico, a re-


sistência à flexão é definida por:

B·F ·L
Sp =--c-3_
rc.D
onde:
Sp - resistência flexural (kgf/cm 2 ou MPa
F,
Fe - força compressiva aplicada até a rup-
FIG. 7.49 Esquema do ensaio de tração direta tura (kgf/cm 2 ou MPa);
Fonte: modificado de Obert e Duval (1967). L - distância entre os suportes da base (cm
D - diâmetro do corpo de prova (cm).

Se o corpo de prova for prismático co


espessura a e largura b, a resistência fle-
xural será dada por:

3-F · L
Sp = e 2
2-b ·a

A resistência flexural é importan-


para definir a estabilidade do teto de e_
cavações em túneis e para a instalaç -
de usinas subterrâneas em projetos
barragens.
FIG. 7.5 0 Esquema do ensaio de tração indireta
Fonce: modificado de Obert e Duval (1967).
7 - Ensaios e testes 1 223

i) Con stantes elásticas curva (Et); e módulo E secante (E J . Os va-


lores desses módulos são:
Das cinco constantes elásticas - módulo Ei = tg a1;
de deformabilidade, coeficiente de Poisson, Et = tg a 2;
módulo de rigidez, módulo de compressibi- E5 = tg a 3 .
ºdade volumétrica e constante de Lame -, De acordo com o módulo Ei, as rochas
apenas as duas primeiras são determinadas são classificadas em: quase elásticas,
em laboratório, já que as demais são calcu- semielásticas e inelásticas. As quase elás-
das a partir dos resultados obtidos. ticas são as rochas ígneas de textura fina ,
que apresentam um Ei entre 60 e 110 GPa;
_ Iódulo de deformabilidade (E) as semielásticas são as ígneas de textura
O módulo de deformabilidade pode grossa e as metamórficas mais resistentes,
er determinado em laboratório de duas com Ei entre 50 e 70 GPa; e as inelásticas
:ormas: estático e dinâmico. O primeiro são as metamórficas menos resistentes e as
envolve a aplicação de pressões com anota- sedimentares, com Ei menor que 50 GPa.
::ão das respectivas deformações (módulo Qualquer que seja o módulo Eest escolhido,
e deformação estático - Eest), e o segundo deve-se observar que este não deve ser cal-
seia-se na velocidade de propagação de culado sobre a curva do 1° ciclo de carga e
ndas, conforme detalhado no item 6.2.2a descarga feito no laboratório. Da mesma
módulo de deformabilidade dinâmico - forma como indicado para os ensaios in
:::d.in). No laboratório, o ensaio mais comum situ, o módulo E, indepen dentemente
_ o que determina Eest· Esse ensaio é do tipo escolhido, será medido no 2° e 3°
- ecutado com a mesma aparelhagem des- ciclos, adotando-se a média dessas duas
:rita para o ensaio de compressão simples, medições como o módulo E definitivo.
: m a diferença de que as cargas não são
a
crementadas até a ruptura do corpo de
_ ova, mas apenas a pressões que superem
· m certa folga a carga prevista para ser
,_ ·cada na obra sobre a rocha ensaiada.
:nedida que a carga axial é aplicada, ex-
;
- ômetros colocados no corpo de prova I
I
I
sentido da aplicação da carga e per- I
-· dicularmente a essa aplicação medem
eformação nesses dois sentidos, en-
...anto o corpo de prova é carregado.
O gráfico CJ x E resultante dos incremen-
de carga (Fig. 7.52) mostra que pelo
nos três tipos de módulo E podem ser
=<lidos: módulo E tangente inicial (Ei);
ulo E tangente em qualquer ponto da FIG. 7.52 Grá fz co a x E no ensaio para o módulo E
224 1 Geologia de Barragens

Coeficiente de Poisson (u) Quanto maior o valor da ALA, mais


O Coeficiente de Poisson é obtido com desgastável será a rocha. As rochas ígneas
as medições de deformações t z (mesmo e os calcários apresentam abrasão variá-
sentido da aplicação da carga O"z) e Ex ou Ey vel entre 15% e 40%, e o basalto é a rocha
(sentidos perpendiculares a crz). Esse coe- que apresenta menor valor.
ficiente é determinado por:
k) Resistência ao intemperismo

Os ensaios de resistência ao intempe-


rismo consistem em promover, natural
Para a maior parte das rochas , u não ou artificialmente, a alteração química de
varia muito de 0,25, aproximadamente. uma rocha, por meio de processos acelera-
dos no laboratório, ou quase naturais em
j) Resistência ao desgaste
campo, quando as condições são próximas
O teste que determina a resistência da realidade. Esses ensaios visam avaliar
ao desgaste , ou à abrasão das rochas que a alterabilidade das rochas que ficarão
serão utilizadas em uma barragem, seja expostas às intempéries em uma obra.
no concreto ou como enrocamento, é de - como é o caso de enrocamentos e rip-rap
terminado pelo "Ensaio Los Angeles", de barragens .
padronizado pela norma NBR NM 51
da ABNT. Esse ensaio consiste em fazer Ensaios acelerados (em laboratório)
rolar no interior de um tambor giratório Para realizar um ensaio acelerado no
certa quantidade de fragmentos de rocha, laboratório, submete-se uma amostra de
com granulometria e massa específica 5 kg da rocha britada aos seguintes pro-
predefinidas . Os fragmentos são rolados cedimentos:
juntamente com esferas metálicas, ge- i) seleciona-se uma determina&
rando atrito entre eles, as paredes do faixa granulométrica;
tambor e as esferas m et álicas, além do im- ii) pesa-se a amostra selecionada;
pacto sofrido por esses fragmentos entre iii) submete-se a amostra a um ensai
si e pela queda das esferas de aço. Após um Los Angeles;
número de rotações estabelecido por essa iv) pesa-se a fração resistente mantid2.
norma, medem-se os fragmentos que per- na faixa granulométrica selecio-
maneceram com a mesma granulometria nada;
(M 2). Sendo M 1 a massa inicial, a abrasão v) expõem-se os fragmentos resis-
Los Angeles (ALA) corresponderá ao per- tentes a um processo de alteraçàc
centual entre a massa perdida (M 1 - M 2) e acelerada;
a massa inicial, ou seja: vi) submetem-se os fragmentos pa!"
cialmente alterados a um ensa.
Los Angeles;
vii) pesa-se a fração mantida na fa .
granulométrica selecionada.
7 - Ensaios e testes 1 225

om esse processo, podem-se definir lamento a -15ºC (recomenda-se o


parâmetros em um mesmo ensaio, número mínimo de 25 dias de 6/ 6
er: horas).
• perda de massa por desgaste físico;
• perda de massa por desgaste quí- Ensaios quase naturais
mico (intemperismo simulado). Esses ensaios são realizados nas pro-
ximidades da obra. Fragmenta-se a rocha
Os processos de aceleração da alteração nas dimensões que serão utilizadas na
- -eridos no item (v) podem ser de várias obra (enrocamento, p.ex.), formando um
- =airezas, procurando sempre adequar as depósito ao ar livre que ficará sujeito às
_dições de laboratório ao tipo de rocha intempéries naturais durante o tempo de
~ ada e às condições esperadas para a execução das obras que precederem a uti-
_-emperização natural. Os principais mé- lização dessa rocha. A cada semana deverá
- os empregados para essa aceleração são: ser realizado um exame minucioso, com
• imersão em água e secagem em registro fotográfico, em que serão ins-
estufa a ll0 º C, por meio de ciclos pecionadas as eventuais mudanças de
de 24/ 24 horas (recomenda-se um coloração, fissuração, ocorrência de desin-
mínimo de 30 ciclos);
tegração etc. Trata-se, pois, de um ensaio
• lixiviação contínua em extratores
qualitativo, no qual não se mede o efeito
Soxhlet, onde as amostras são sub-
da alteração, mas apenas observa-se o
metidas à percolação de uma água
seu efeito de forma natural, progressiva e
acidificada por gás carbônico (pH =
lenta, podendo levar meses para se obter
4,0) a uma temperatura de 60-70°C,
alguma evidência do fenômeno.
em um número mínimo de 30 ciclos;
• imersão em solução de sulfato de 1) Reatividade química potencial
sódio ou de magnésio durante 24
Os ensaios para detectar a reati-
horas e aquecimento em estufa a
vidade química potencial podem ser
llOºC (número mínimo de 10 ciclos);
realizados em agregados graúdos (brita)
• imersão em etileno-glicol durante
ou miúdos (areia) e visam caracterizar as
15 dias, com acompanhamento do
possibilidades de reação entre os compo-
efeito desse ensaio a cada três dias;
nentes mineralógicos desses agregados e
• imersão em solução de ácido acético
os componentes do cimento. Por isso, esses
0,1 M, pH = 2,2, durante 20 dias,
ensaios podem ser realizados nos agrega-
com troca diária da solução;
• imersão em solução de ácido nítrico dos puros, na argamassa proveniente da
+ ácido sulfúrico diluídos na propor- mistura dos agregados com o cimento ou,
ção 1:2:1000.000, em volume, com ainda, em corpos de provas do concreto.
pH = 3,0, durante 20 dias, com troca Entre as metodologias de ensaios nacio-
diária da solução; nais e internacionais, são conhecidos pelo
• imersão em água nas condições menos 22 tipos de ensaios, porém apenas
ambientais do laboratório e conge- quatro métodos são realizados nos agrega-
226 1 Geologia de Barragens

dos utilizados para concreto em barragens mineralógicos da rocha ou da areia, será


no Brasil: o método de análise petrográfica, indicada a necessidade de realizar os
o método químico, o método de barra e o testes químicos específicos.
método de prismas de concreto.
Método químico
Análise petrográfica Por meio desse método, uma amostra de
A análise petrográfica utiliza dife- rocha pulverizada ou de areia é submetida
rentes técnicas, desde as observações à ação do hidróxido de sódio, medindo-se
macroscópicas e microscop1cas (mi- o teor de sílica dissolvida, bem como a re-
croscopia estereoscópica - luz refletida; dução de alcalinidade da solução.
microscopia óptica - luz transmitida; e A potencialidade de reações expansi-
microscopia eletrônica) realizadas por vas é avaliada pelo par de valores obtidos,
um petrógrafo experiente, até técnicas utilizando um ábaco como mostrado n a
analíticas, como difração de raios X e Fig. 7.53, no qual são lançadas essas coor-
espectroscopia de infravermelho. Essa denadas . Nesse ábaco estão delimitadas as
análise não define aspectos quantitati- áreas em que se situarão os agregados dele-
vos da expansão causada por minerais térios , potencialmente deletérios e inócuos.
deletérios, mas apenas caracteriza a po- Esse método, por ser rápido, apresenta a
tencialidade de reação de alguns minerais desvantagem de não identificar os agrega-
contidos nos agregados, quando em pre- dos lentamente reativos, bem como não e
sença dos álcalis do cimento. Assim, essa aplicável para avaliar agregados oriundos
análise considera potencialmente reativos de rochas calcárias . Assim, é específic
os agregados que, em relação a diversos de para avaliar a reação álcali-sílica (RAS).
seus constituintes, contenham quantida-
des superiores às indicadas na Tab. 7.3. Método de barras
A análise petrográfica é normatizada Esses ensaios são realizados em corp _
pela NBR 7389 da ABNT. Uma vez iden- de prova de argamassa em forma c:-
tificada nessa análise a possibilidade de barras, confeccionados com o agregado:
expansões causadas pelos constituintes ser testado (graúdo ou miúdo) e cimen~ -

TAB . 7.3 Agregados potencialmente reativos


Constituinte Quantidade restritiva
Sílica
• O pala - M ais qu e 0,5%
• Chert ou calcedônia - Mais qu e 3,0 %
• Trid imit a ou crist obal ita - Mais qu e 1,0%
• Quart zo microcrist alino ou deformado - M ais qu e 5,0% (gran itos, gnaisses e arei as)
• Vidros vul cânicos natu rais - Mais que 3,0%
Carbonatos
• Teor de argila ou de resídu o inso lúvel - Entre 5% e 25 %
• Percent agem de dolomit a - Entre 40 % e 60 %
• Cristais de dolomi ta - Prese nça
7 - Ensaios e testes 1 227

700

~ 600

'o
V,
QJ

E
sQJ
500
"D
"'
:,;,
e
~
400
u
cii
QJ
"D
o
'"'-"'
:J
"D
300
Agregados considerados /
J
Agre_gados
-

QJ inócuos considerados
a:: potencialmente -
-à )
a:: 200
deletérios -
/
QJ
"D
"'
"D
:;:;
~
e
"'a
:J 100 ~
V)~ --
-- -
o
10 r '
Agregados considerados
deletérios

2,5 5,0 10 25 50 100 250 500 1.000 2.500


Quantidade de Sd-Sílica dissolvida (mmoles/litro)

FI G. 7.53 Ábaco para identificação da reatividade química potencial de agregados pelo método químico,
segundo a norma NBR 9784 da ABNT

com teor de álcalis geralmente superior a trográfica. A exemplo do método químico,


0,8%. Os corpos de prova são deixados em encontra maior aplicabilidade para as rea-
câmara úmida, onde são observadas e ano- ções álcali-sílica (RAS).
tadas diariamente eventuais expansões
causadas por reações decorrentes da pre- Método de prisma de concreto
sença de minerais deletérios. Embora esse Esse método é semelhante ao método
ensaio leve geralmente de 12 a 15 meses, de barras, mas feito em blocos prismáticos
considera-se suspeito o agregado que apre- de concreto, incluindo todos os seus cons-
senta expansão da barra superior a 0,05% tituintes (cimento + brita + areia). Serve
em três meses ou 0,10% em seis meses. Ge- para dar maior representatividade às re-
ralmente a expansão tende a estabilizar a ações que ocorrem no concreto, porém
partir do oitavo mês. Esse ensaio baseia-se apresenta a mesma desvantagem do
na norma NBR 15577-4 da ABNT e apre- ensaio de barras no que se refere ao tempo
senta como principal desvantagem o longo de ensaio. É mais utilizado para as reações
tempo requerido para obtenção de bons álcali-carbonato (RAC), em função das re-
resultados, que pode levar mais de dois ações que ocorrem entre a dolomita e os
anos para o caso de minerais que apresen- álcalis do cimento. Esse ensaio não é nor-
tem reações expansivas muito lentas e que matizado pela ABNT, mas realizado com
tenham sido identificados na avaliação pe- base na norma americana ASTM C-1293,
228 1 Geologia de Barragens

razão pela qual é pouco aplicado nos pro- estado seco são misturados com o ligante
jetos de barragens no Brasil. a ser utilizado no projeto e submetidos
No Cap. 9 serão detalhadas as apli- a imersão primeiramente em água des-
cações desses ensaios para os agregados tilada fervente e depois em soluções
empregados nos projetos de barragens. aquosas de carbonato de sódio com con-
centrações sucessivamente mais elevadas.
m) Adesividade
A cada imersão observa-se a possibilidade
A adesividade do agregado graúdo é de descolamento da película do ligante,
determinada por três processos: aná- sendo atribuído um índice de O a 9 para
lise petrográfica, método Riedel-Weber cada concentração da solução (o índice O é
e método RRL. A norma NBR 12583 da atribuído à água destilada). A adesividade
ABNT regula essas metodologias. será avaliada pelo número em que ocor-
reu o descolamento do ligante. Ela será
Análise petrográfica considerada má se o número for O, e na
Essa avaliação é simplesmente quali- pontuação entre 1 e 9, a adesividade va-
tativa, servindo apenas como definição riará de satisfatória a ótima.
sobre a necessidade de proceder a uma
n) Outros ensaios
investigação quantitativa pelos métodos
mais específicos . Na análise petrográfica, Muitos outros ensaios podem ser
caracteriza-se a constituição mineraló- realizados em material rochoso em labora-
gica do agregado, uma vez que o caráter tório, mas para finalidades outras que n.;
ácido desses minerais afeta a adesividade aquela aplicada a projetos de barrage -
do agregado aos ligantes. como pavimento de rodovias e lastro fe·
roviário. A principal dessas finalidades e ·
Método Riedel-Weber revestimento de pisos e paredes, quan
Por meio desse método, os agregados ensaios como absorção, dilatação térmi-
são preaquecidos a uma dada temperatura e tenacidade são, entre outros, impres -
e envolvidos pelo ligante a ser utilizado no díveis para a caracterização dos mate ·::
projeto, o qual também se encontra prea- rochosos. Considerando, todavia,
quecido. Após resfriamento, os agregados algumas obras anexas a uma barra
envolvidos pelo ligante são submersos em (como a usina hidrelétrica, p.ex.) poss
água destilada a 40°C, durante 72 horas. acabamento que inclui revestimento
A adesividade será considerada satisfatória pisos e paredes com placas rocho-
se não houver descolamento da película serão identificados aqui esses três t ipo_
do ligante, e não satisfatória se houver ensaio.
o descolamento.
Absorção
Método RRL A absorção representa a relação en
Esse método apresenta um aspecto peso da água contida nos poros da r -
mais quantitativo. Os agregados no o peso da rocha seca. Para tanto, pesa-
7 - Ensaios e testes 1 229

stra de rocha com saturação de 100%, agregado como lastro ferroviário ou para
-=-..-,ndo-se o peso P1 . Seca-se a amostra pista de aeronaves, o que não é objetivo
estufa a 110°C, pesando-a depois para do presente texto. No segundo caso, essa
=-a.ir o peso P 2 . A absorção (A) será dada propriedade aplica-se para a caracteriza-
:;:>ercentagem por: ção da resistência da rocha ao impacto,
quando utilizada como revestimento de
A= P1 - P2 ·100 (%) pisos. Nesse caso, o ensaio consiste em
P2
submeter uma placa rochosa com dimen-
~sse ensaio é normatizado pela NBR sões de 20 x 20 cm e 3 cm de espessura,
_:-45 da ABNT. As rochas silicáticas colocada sobre um colchão de areia com
_resentam absorção variável entre 0,1% 10 cm de espessura, a golpes com esfera
- ,5%, embora seja maior a frequência de aço de 1 kg, caindo em queda livre de
-0,2% . alturas crescentes, até provocar a rup-
tura da placa. A resistência é dada em
- ~atação térmica kg.cm/cm 3 , onde kg refere-se ao peso da
. esse ensaio, submete-se uma amos- esfera, cm à altura de queda que provoca a
r::-a prismática de rocha a ciclos de imersão ruptura e cm 3 ao volume da placa testada.
água com temperatura variando entre Em ensaios realizados em rochas silicáti-
e 50°C. Um dispositivo de precisão cas, essa resistência foi menor que 0,3 .
ede, num tempo pré-fixado, a dilatação
contração da rocha para cada ciclo com
-2.IIlperatura variável. Sendo L1 o com-
_?rimento inicial do prisma submetido a
.:ma variação de temperatura (T 1 - T 2),
:. dilatação apresentada (L 1 - L2) definirá
coeficiente de dilatação (~) em mm/ mº C
::orno segue:

B = L2 - L1 . 1 t.L
11 T2 - T1 L1t.T

O coeficiente de dilatação varia muito


entre minerais diferentes e até em um
mesmo mineral.

-:'enacidade
A tenacidade, ou resistência ao im-
pacto, pode ser caracterizada de duas
formas: sobre agregados e sobre placa
rochosa. No primeiro caso, essa proprie-
dade aplica-se para a qualificação do
8 Tratamento de maciços naturais

Como maciços naturais são considera- com a construção de uma obra de barra-
dos os solos, as rochas e os materiais de mento, principalmente pela imposição de
transição, ou saprólitos. Esses materiais novas tensões, sejam efetivas, pelo peso
podem exigir tratamento para melhorar da barragem construída, sejam neutras,
suas características independentemente pela água armazenada no reservatório for-
do local em que se encontrem em relação a mado. Como nem sempre as características
uma obra de barramento, incluindo aque- originais desse maciço natural são suficien-
las que lhe são associadas. A situação mais tes para suportar as modificações a serem
presente com relação à localização desses impostas pela obra projetada, é necessário
materiais relaciona-se com as fundações melhorar ou reforçar essas característi-
da barragem, que serão analisadas prio- cas por meio de técnicas e procedimentos
ritariamente, com considerações sobre visando a uma melhor adequação das fun-
o tratamento eventualmente necessário dações à obra projetada. Nisso consiste o
desses materiais quando localizados em tratamento das fundações.
uma encosta, no entorno de um canal, Os tipos de tratamento das fundações
de um túnel ou de outro tipo de escava- têm experimentado um sucessivo apri-
ção subterrânea. moramento ao longo dos últimos anos ,
No item 4.1, foi considerado como seja em função da presença de condições
fundação de uma barragem todo o geológicas cada vez mais desfavoráveis
embasamento geológico existente no em decorrência de aproveitamentos prio-
local em que será assentada a barragem e ritários anteriores, seja pela necessidade
suas obras complementares (vertedouro, de conciliar cada vez mais os aspectos
canais, ensecadeira, usina etc.), indepen- econômicos, sociais e ambientais. Assim,
dentemente de sua constituição geológica, é comum o confronto entre o nível de se-
se formado por rocha ou pelo solo de co- gurança alcançado por um determinado
bertura. Também ficou claro que o local método de tratamento e o elevado custo
referido como fundação da barragem que este representa para a obra, ou até
propriamente dita não se restringe à área mesmo em relação às dificuldades técnicas
geralmente aplainada do fundo do vale, de sua implantação. A escolha do melhor
mas estende-se para as ombreiras laterais método de tratamento de uma fundação
que receberão parte da obra de barra- depende de uma série de fatores ; porém,
mento ou de obras complementares. duas condicionantes são fundamentais
O maciço natural que constitui essa nessa escolha: a caracterização geológica
fundação sofrerá intensas modificações das fundações e o objetivo do tratamento.
232 1 Geologia de Barragens

De acordo com as características geoló- a relação H/ B (altura/comprimento da


gicas, as fundações de uma barragem são base) é alta, os problemas de elevada sub-
agrupadas em três classes: pressão hidrostática na base da barragem
• fundações em rocha; podem exigir tratamento das fundações
• fundações em material granular para reduzir essas pressões.
grosseiro (areia e cascalho);
• fundações em material granular fino
8.1 MÉTODOS DE TRATAMENTO
(silte e argila).
Os diversos métodos de tratamento
Quanto aos objetivos, sempre se resu- de uma fundação de barragem podem
mem nos seguintes: ser agrupados em três tipos: substitui-
• melhorar a resistência dos materiais ção dos materiais da fundação, injeção e
de fundações; drenagem.
• reduzir a percolação excessiva da
8.1.1 Substituição dos materiais
água através das fundações;
da fundação
• reduzir a subpressão na base da bar-
ragem.
a) Retirada do material superficial

A necessidade de tratamento para Independentemente do tipo de trata-


atender a esses objetivos é uma decor- mento a ser aplicado em uma fundação
rência dos problemas suscitados nas três de barragem, se permanecer qualquer
classes de material geológico referidas. tipo de regolito em algum trecho dessa
Dessa forma, se a fundação é constitu- fundação, é necessária a retirada do
ída por rocha sã, os problemas são mais trecho mais superficial do solo. Nesse
relacionados ao controle da percolação. trecho está incluído o top soil ou solo or-
Se essa rocha encontra-se decomposta a gânico e o trecho imediatamente abaixo,
ponto de se transformar em um saprólito, onde existem canalículos resultantes do
é possível que sua resistência às cargas im- apodrecimento de raízes mais profundas
postas pela obra exija algum tratamento. ou da ação de organismos, escoament
Se as fundações são constituídas por solos subsuperficial ou qualquer outro agen e
grosseiros, os problemas maiores estarão redutor da densidade desse solo. A pro-
relacionados ao controle da percolação. fundidade de 3 m é suficiente, na mai
Finalmente, se existem solos finos nessa parte dos casos, para realizar essa re-
fundação (siltes e argilas), haverá, funda- tirada, porém há casos em que es- ·
mentalmente, problemas de estabilidade profundidade pode chegar localmente :
e deformabilidade desses materiais, que 5 m ou 6 m, principalmente quando e.xl:
poderão exigir um tratamento que me- tem formigueiros. O solo retirado p
lhore a sua resistência. ser substituído pelo próprio material
Há que considerar também a geometria construção da barragem.
do corpo barrável. Para barragem onde
8 - Tratamento de maciços naturais 1 233

b) Trincheira de vedação Açu, no Rio Grande do Norte, onde a trin-


cheira alcançou a profundidade de 25 m e
A trincheira de vedação, conhe- o nível freático era elevado .
...; a internacionalmente como cut-off, é Cruz (1996) recomenda uma cuidadosa
- nstruída nas fundações de barragens análise de três aspectos na construção de
granulares (terra ou enrocamento), ge- uma trincheira de vedação: largura da
ente na parte central dessa obra, base da trincheira; compatibilidade da de-
para montante, sobretudo quando o formação da trincheira com a deformação
- cleo da barragem se encontra inclinado do material adjacente; e estabilidade dos
esse sentido (Figs. 8.la e 8.lb). Por meio taludes de escavação.
..:essa metodologia, escava-se uma trin- Algumas especificações definem para a
eira ao longo de todo o eixo barrável, base da trincheira uma largura mínima de
-ubstituindo o material retirado por um 4 m a 6 m para possibilitar uma perfeita
:naciço de terra de baixa permeabilidade, compactação do solo. Embora exista uma
compactada de acordo com condições regra empírica que define a largura (b)
?reestabelecidas para o controle de com- como sendo igual a H - d, onde H re-
pactação. presenta o desnível máximo montante/
Embora essa substituição de um ma- jusante e d, a profundidade da trincheira
·erial de má qualidade da fundação por (ver Fig. 6.la), raramente essa largura ul-
um material de características melhores trapassa os 10 m.
possa apresentar excelente eficácia para o Segundo Cruz (1996, p. 361), "a com-
tratamento, pode constituir uma solução patibilidade das deformações visa a evitar
bastante onerosa, em razão da necessi- que a trincheira venha a sofrer um processo
dade de realizar essa substituição a seco. de arqueamento. Quanto mais íngremes
lsso porque o nível freático geralmente se as interfaces, e quanto mais compressível
encontra muito acima do fundo projetado for o núcleo em relação aos materiais ad-
para essa trincheira, o que exigirá um jacentes, maior o risco de arqueamento".
oneroso processo de rebaixamento desse Finalmente, a estabilidade deve ser
nível, como ocorreu com a barragem de bem projetada, sobretudo em solos are-

a
.__,/

"cut-off"

FIG. 8.1 Trincheiras de vedação: (a) central; (b) de montante


234 1 Geologia de Barragens

nosos, pois, segundo Cruz (1996, p. 361), cavação, mantendo-se sempre a mesma
"mesmo que não ocorra a ruptura, poderão metodologia descrita, o que é mostrado na
ocorrer deslocamentos que resultem numa fase final de escavação na Fig. 8 .2c.
redução da densidade (compacidade) do A calda a injetar dependerá do objetivo
solo da fundação, o que irá aumentar a sua a que se destinará o diafragma, mas geral-
compressibilidade e reduzir a sua resistên- mente é constituída por areia, cimento e
cia ao cisalhamento". água, na proporção 1:1:5 em volume.
Em geral, esse método é utilizado
c) Diafragma
para conter o excesso de percolação sob a
Os diafragmas rígidos ou plásticos barragem, e leva vantagem em relação à
são formados pela substituição de uma trincheira de vedação por poder ser reali-
estreita faixa da fundação por sucessivos zado abaixo do nível freático sem que seja
painéis de concreto, formando um muro, necessário rebaixá-lo.
geralmente localizado abaixo do eixo da
d) Tapetes
barragem. Esse diafragma pode prolongar-
-se por toda a extensão desse eixo ou O tapete constitui uma substituição do
contemplar apenas partes dessa extensão. trecho mais superficial da fundação po~
Para execução de um diafragma, faz- uma camada impermeável, que pode cor-
-se a escavação da fundação ao longo de responder a um prolongamento do núcleo
painéis ou trincheiras com extensão entre nas barragens zonadas, ou a um prolon-
5 m e 20 m e com largura entre 0,40 m e gamento do material argiloso do espalda!
1,50 m. A escavação é realizada com um de montante. É considerado um tapete in-
equipamento de percussão, e o material terno quando fica limitado à extensão &
triturado é aspirado por uma mangueira barragem (Fig. 8.3a) e um tapete extern
(Fig. 8.2a). Para evitar desmoronamen- quando extrapola os limites do espalda;
tos das paredes da escavação, usa-se uma de montante da barragem (Fig. 8.3'
lama de bentonita. Concluída a escavação Os tapetes internos são mais recome-
de um painel, procede-se ao seu enchi- dados que os externos, pois estes têm -
mento com concreto, ao mesmo tempo mostrado pouco eficientes em razão -
que se executa a abertura do painel se- fissuras originadas por ressecamento _
guinte, que deverá guardar uma distância por recalques diferenciais junto ao pé -
do primeiro equivalente à extensão de montante. A exemplo das trincheiras
um painel. Prosseguindo-se com essa vedação e dos diafragmas, esse mét
sistemática, chega-se à extensão total do visa conter o excesso de percolação so-
diafragma projetado, com painéis con- barragem em trechos isolados ou ao lon_
cretados alternando com painéis do solo de todo o eixo barrável.
original (Fig. 8.2b). Após secarem todos Para garantir uma melhor eficiên
os painéis, são escavados e concreta- do tapete, Cruz (1996) elenca os segui=
dos os painéis que permaneceram com o tes requisitos a serem cumpridos
material original na primeira fase de es- sua execução:
0 Perfuratriz

Painéis
injeção concretados

0 00
1
::;l
~
Pl
3
C'I)
:::J
,+
Trépano movido o
Caminhamento da à percussão no Q.
C'I)
escavação no sentido sentido vertica 1 .. . . .
horizontal graças -4-:c\t;;:_~_==_~;:-,_-_-_-_-_-_-,_-_
---i"\.h ' ' · 3
ao movimento ..- ~
da perfuratriz
..;:;·
o
sobre os trilhos "':::J
Pl
,+

...e
~-
FIG, 8.2 Execução de um diafragma por meio de painéis contínuos: (a) execução da escavação; (b) fase inicial da injeção; (c) fase final da injeção
"'
Fonte: modificado de Cambefort (1975). w
~

V,
236 1 Geologia de Barragens

a túneis e escavações subterrâneas. O pro-


duto cimentante injetado é denominado
calda de injeção.
Existem três tipos de injeções: de cola-
gem, de consolidação e cortina de injeções.
Tapete interno
As injeções de colagem objetivam elimin ar
os vazios existentes entre um maciço de
b
concreto e as fundações rochosas, po-
dendo ainda ser utilizadas para melhor
solidarizar as paredes de concreto de um
---.-----,~ túnel ou obra subterrânea ao maciço ro-
Tapete externo choso; as injeções de consolidação visam
melhorar as condições de resistência das
FIG. 8.3 Tip os de tapetes impermeáveis: (a) tapete
interno; (b) tapete externo fundações e obras subterrâneas, embora
tenham também uma função impermea-
• a permeabilidade do material do bilizante; e as cortinas de injeção têm como
tapete não deve ser superior a principal objetivo controlar a percolação
10-s cm/s; da água através das fundações ou no en-
• o comprimento do tapete deverá torno de obras subterrâneas. As injeções
ser de cinco a sete vezes o desnível podem ser realizadas em rochas, solos e
montante-jusante; materiais de transição (saprólitos).
• a espessura mínima do tapete ex-
a) Injeções em rocha
terno deve ser de 1 m de material
compactado, o qual deve ser re- A eficiência de um tratamento de inje-
coberto por, no mínimo, 0,7 m do ções em rocha depende, entre outros, dos
mesmo solo com compactação de- seguintes fatores: planejamento da perfu-
corrente apenas dos equipamentos e ração e da injeção; tipo de calda; pressão
do transporte e espalhamento, sem de injeção; cuidados operacionais; e con-
controle. trole da eficiência. Todos esses fatores
constarão de um relatório interpret ativo
8. 1. 2 Injeções
que analisará a eficiência e a eficácia do
O tratamento das fundações de uma tratamento executado.
barragem por meio de injeções consiste em
fazer penetrar nos vazios do maciço natu- Planejamento das perfurações
ral (solo ou rocha) um produto líquido que O planejamento das perfurações com-
tenha a propriedade de endurecer depois titui o primeiro e mais importante pas_
de certo tempo de aplicação. Esse trata- para o êxito do tratamento, pois um p -
mento pode ainda ser aplicado em obras nejamento malfeito pode redundar e-
complementares à barragem, como nas perda de tempo e de dinheiro, sem f -
paredes de uma encosta ou no entorno de na interferência sobre o cronograma gc::.
8 - Tratamento de maciços naturais 1 237

da obra. Para um perfeito planejamento, No caso de fundações, os aspectos a


uas condições são essenciais: definir são semelhantes aos da injeção de
• conhecer o objetivo do tratamento; colagem, exceto por não possuir o con-
• conhecer detalhadamente as condi- creto da obra a perfurar. Em geral, a rede
cionantes geológicas do local a tratar. de sondagens para consolidação tem espa-
çamento entre 4 m e 8 m e profundidade
Para as injeções de colagem, o proje- entre 6 me 9 m , com furos verticais, toda-
tista deve definir os seguintes aspectos: via, esses parâmetros devem adequar-se
• espaçamento entre as sondagens; às necessidades do projeto e ao conheci-
• profundidade das sondagens; mento das particularidades geológicas
• altura do concreto para início das das fundações. O equipamento de sonda-
perfurações (no caso de barragem); gem e o diâmetro dos furos são os mesmos
• equipamento de perfuração; referidos para a colagem.
• diâmetro dos furos; No caso de obras subterrâneas, se for
• inclinação dos furos. detectada previamente a dificuldade de
avanço em razão do excessivo estado de al-
Embora as injeções de colagem sejam teração ou de fraturamento da rocha,
?Ouco utilizadas, principalmente em razão recomenda-se planejar uma disposição
o aprimoramento das técnicas de concre- das sondagens em cones concêntricos
·agem, elas podem ser necessárias quando (Fig. 8.4), com profundidades variáveis de
o tipo de fundação rochosa for muito irre- 5 m no cone externo a 10 m no cone mais
gular e/ou fraturado. Nesse caso, pode-se interno.
adotar uma malha de furos verticais espa- Esse tipo de perfuração deve utili-
cados de 5 m, perfurados a partir da altura zar a sonda rotativa e pode também ser
de 3 m do concreto e prolongando-se por aplicado para escavações em solos. O di-
3 m em rocha. O equipamento de perfura- âmetro deve ser BX para permitir uma
cão mais utilizado é o de percussão do tipo melhor injetabilidade.
a awler, com diâmetro de 2 ½". Evidente- As cortinas de injeção exigem um
mente, esse planejamento não constitui maior conhecimento das condicionantes
uma regra geral, devendo adaptar-se a geológicas e hidrogeotécnicas das funda-
cada situação geológica e de projeto. Para ções, bem como das reais necessidades de
a colagem do concreto de obras subterrâ- tratamento, conforme será discutido nos
neas, a distribuição das sondagens será
função da geometria da obra.
As injeções de consolidação têm uma
dupla aplicação em projetos de barragens:
melhorar as características de resistência
das fundações e melhorar as condições de
escavação de obras subterrâneas associa-
FIG. 8.4 Sondagens em cones concêntricos
das à barragem.
Fonte: modifi.cado de Cambefort (1975).
238 1 Geologia de Barragens

itens 8.2 e 8.3. Em primeiro lugar, o geó- Quando o tratamento é realizado por
logo responsável pelo tratamento deverá meio de uma única linha de furos, estes
decidir se este será realizado ao longo de devem ser alinhados ao longo do eixo
todo o eixo barrável ou em trechos desse da barragem granular (terra ou enroca-
eixo. Em segundo lugar, deverá ser defi- mento) ou no trecho de montante, nas
nido se o tratamento será realizado por barragens de concreto. Nesse último caso,
meio de uma única linha de injeção ou os furos são geralmente situados no pé de
mais de uma - e, nesse caso, quantas. Há, montante, mas podem ser também rea-
ainda, a possibilidade de o tratamento ser lizados a partir da galeria de drenagem,
realizado por uma única linha ao longo de desde que executados antes dos furos de
todo o eixo e reforçado por uma ou mais drenagem, para não haver o risco de estes
linhas em trechos localizados. colmatarem.
Essas definições dependem muito do Ao longo da linha única de tratamento,
nível de detalhamento do projeto básico. os primeiros furos - denominados furos
Se as sondagens na fase de pesquisa para primários - são geralmente espaçados
a viabilidade, complementadas na fase de de 12 m. Em função dos seus resultados,
projeto básico, tiveram um adensamento após injetados, são intercalados os furos
ao longo do eixo capaz de oferecer um secundários, perfazendo um espaçamento
bom conhecimento dessas fundações, de 6 m entre as duas fases de perfuração.
isso facilitará todo o planejamento de A avaliação dos resultados dos testes de
sondagens para o tratamento, podendo- permeabilidade e de absorção de calda
-se programar de início um esquema que definirá pela necessidade de novas inter-
se aproxime do ideal, a fim de realizar um calações em uma terceira fase, onde os
eficiente tratamento dessa fundação. furos terciários distarão apenas 3 m dos
As sondagens poderão ser progra- primários e secundários. Eventuais neces-
madas na vertical ou inclinadas para sidades de complementação localizada de
montante (no máximo 30° com a vertical). tratamento poderão exigir a realização de
Essa definição deve ser tomada visando à furos quaternários, que são geralmente in-
interceptação do maior número possível clinados, buscando vedar melhor trechos
de descontinuidades abertas no maciço revelados mais problemáticos nas fases
rochoso. anteriores a diferentes profundidades. r1
Embora o número de linhas de trata- Fig. 8.5 mostra um exemplo dessa confi-
mento das fundações em barragens no guração.
Brasil tenha sido muito variável, che- Os furos primários são os mais impor-
gando a atingir sete linhas na barragem tantes para o conhecimento detalhad
de Emborcação (MG), as alternativas mais das fundações, motivo pelo qual dever::
empregadas são duas: linha única (cen- atingir maiores profundidades e ser aber-
trada ou a montante) e linha tripla (uma tos com sonda rotativa (diâmetro BX
no eixo, uma a montante e outra a jusante cujos testemunhos permitem caracteriza:-
desse eixo). º fraturamento no que diz respeito ao sa
8 - Tratamento de maciços naturais 1 239

225 ~ T-34 T-35


T-33 5-37 \ 5-3 5
T-32
S-32 5-33

sl"
N-
""-
N
M
o
220 sl"

IJ'I
r--.'
co
rn'

IJ'I
rn'

215

FIG. 8.5 Furos secundários, terciários e quaternários no tratamento de fundações da barragem de Bocaina-
-PI (projeto do autor)

espaçamento, profundidade, inclinação e <lendo das condições geológicas locais.


abertura. A profundidade dessas sonda- Recomenda-se perfurar e injetar uma
gens deve variar entre 2/3 H e H, sendo H linha de cada vez, começando pela linha de
a altura da coluna d' água prevista em cada jusante e terminando pela linha central.
local de sondagem. Essa definição é conse- O espaçamento entre os furos primários,
quente dos conhecimentos da fundação secundários e terciários em cada linha
decorrentes das pesquisas de projeto. Os pode ser o mesmo recomendado para uma
furos secundários, terciários e quaterná- única linha, e a disposição final dos furos
rios podem ser abertos com equipamento pode ser esquematizada como mostrado
de percussão ou rotopercussão, como cra- na Fig. 8.6.
wler e wagon drill, e suas profundidades Como a linha central é a última a ser
poderão variar em função das necessida- perfurada, alguns dos furos projetados
des definidas pelos furos primários. para ela podem prescindir de ser injetados,
Na linha tripla de furos, as linhas são conforme os resultados obtidos no trata-
espaçadas entre si de 2 m a 3 m, depen- mento das linhas externas e nos testes
240 1 Geologia de Barragens

3m

··· · · O · ···· ····· • ······· · ·- □ ··· · · ··· · ·O ···· ·· ···· O· ···· · ···· • · ·· · · ·lM

, 1,5 m 1
J I

- - - • - - - - - G - - - - - -0- - - - - - EJ- - - - - - • - - - - - -G - - - u
e Furo primário LM - linha de montante
O Furo secundário LC - linha central
D Furo terciário LJ - linha de jusante

FIG. 8.6 Esquema para disposição dos furos para tratamento das fundações em uma linha tripla

de perda d'água executados nesses furos. Na injeção ascendente, perfura-se o


Os furos da primeira linha (LJ) devem furo até a profundidade final prevista n o
ser abertos com sonda rotativa, e todos os planejamento da perfuração e, com o uso
demais furos podem ser abertos com equi- de um obturador, executa-se a injeção de
pamentos de percussão ou rotopercussão. baixo para cima (Fig. 8.7).
As profundidades dos furos devem obe- Assim, esse método comporta as se-
decer aos mesmos critérios recomendados guintes atividades:
para o planejamento da linha única. • perfuração de um trecho de 3 m de
Quanto ao critério para escolha entre profundidade com lavagem ao seu
as duas alternativas de planejamento, término;
Cruz (1996) recomenda o seguinte: • teste de perda d ' água utilizando urr::.
• para permeabilidade média da fun- obturador simples;
dação entre 5 x 10- 4 cm/s e 10- 3 cm/s, • continuação da perfuração até o
utilizar uma única linha; final do furo, realizando um teste de
• para permeabilidade média da fun- perda d'água a cada 3 m perfurados
dação superior a 10- 3 cm/s, utilizar sempre antecedido pela lavagem d
linha tripla. furo;
• lavagem de todo o furo com um;;.
Planejamento da injeção pressão de 8 kg/cm 2 ;
Após programado o esquema de perfu- • colocação do obturador a 3 m d
ração em um tratamento de fundação de fundo e injeção desse trecho;
uma barragem, o próximo passo será pla- • após 30 min, colocação do obtura-
nejar a forma de injeção. Em princípio, há dor 3 m acima do trecho injetad
dois métodos de injeção: ascendente e des- e injeção do segundo trecho com
cendente. mostrado na Fig. 8.7;
8 - Tratamento de maciços naturais 1 241

Entrada da • teste de perda d'água com obturador


calda de injeção simples localizado no topo do trecho;
Controle
da pressão
• injeção do trecho perfurado com ob-
de injeção turador simples no topo desse trecho;
• após três horas, reperfuração do
trecho injetado, continuando a per-
furação por mais um trecho de 3 m;
'l• • lavagem do novo trecho perfurado
seguida de teste de perda d'água;
• injeção do segundo trecho conforme
mostrado na Fig. 8 .8;
Obturador • continuação das sucessivas opera-
ções de perfuração e injeção até a
Trecho
sendo profundidade final prevista para
~ _-:----- injetado esse furo.

A injeção ascendente é mais rápida,


porém a descendente é mais segura e
eficaz, pois elimina o risco de comunica-
ção do produto injetado com os trechos
FIG. 8.7 Esquema da injeção ascendente ainda não injetados.
Fonte: modificado de Cambefort (1975).

• continuação da injeção a cada 3 m,


sempre esperando 30 min após cada Controle - -4
trecho ensaiado, até chegar à super- de pressão
da injeção
fície do furo.

Caso os testes de perda d'água revelem


a necessidade de injetar apenas alguns

~1/
trechos do furo, procede-se a tal operação
utilizando-se obturadores duplos nos tre- Zona
injetada'/
chos a injetar.

~
Obturador
Na injeção descendente, a injeção de
cada trecho é feita logo após a sua perfura-
ção. Assim, o tratamento inclui a seguinte
Trecho - - - - - •
sequência de atividades: sendo
injetado
• perfuração de um trecho de 3 m de
profundidade;
FIG. 8.8 Esquema da injeção descendente
• lavagem do trecho perfurado;
Fonte: modificado de Cambefort (1975).
242 j Geologia de Barragens

Para injeções de colagem, geralmente a de propriedades físicas e mecânicas das


injeção é feita pelo método descendente, possíveis alternativas recomendadas pelo
mas utilizando um único trecho de 6 m conhecimento das condições geológicas e
para a perfuração e injeção. hidrogeotécnicas do maciço a tratar.
Nas injeções de consolidação, onde a Como injetabilidade entende-se a ca-
profundidade varia entre 6 m e 9 m, ge- pacidade da calda de ser bombeada e
ralmente a injeção é feita pelo método penetrar nos vazios do maciço rochoso. A
descendente, com a perfuração dos três inj etabilidade depende não apenas das pro-
primeiros metros seguida de injeção, e priedades da própria calda, mas também
uma segunda perfuração com 3 m ou 6 m da abertura dos vazios no maciço rochoso.
de extensão seguida de injeção. As principais propriedades da calda são a
Para as cortinas de injeção, os proce- estabilidade e a viscosidade. A estabilidade
dimentos variam muito de acordo com refere-se ao tempo para que ocorra a sedi-
a geologia e com os projetistas. Uma mentação da fase sólida. Assim, uma calda
alternativa que tem sido muito empre- de baixa estabilidade é aquela em que a
gada é proceder à injeção pelo método fase sólida sedimenta muito rapidamente,
descendente até a profundidade de 6 m podendo provocar a obstrução prematura
(com dois trechos de 3 m cada um) e con- de uma fratura e evitando a completa
cluir a injeção do restante do furo pelo penetração da calda nesse vazio. A viscosi-
método ascendente. dade influi na ff.uidez da calda, dificultando
o seu escoamento no interior do maciço ro -
Caldas de injeção choso quando é mais elevada. Essas duas
As caldas de injeção representam o propriedades são conhecidas como caracte-
conjunto de produtos cimentantes que rísticas reológicas da calda.
poderão ser penetrados sob pressão nos A abertura dos vazios da rocha é mais
vazios dos solos e das rochas, para me- difícil de detectar, pois uma determinada
lhorar suas características de resistência permeabilidade definida pelo teste de perda
ou de permeabilidade. As caldas mais d 'água pode ser consequente de poucas
comuns utilizam apenas água e cimento; fraturas muito abertas ou de muitas
todavia, vários outros produtos podem fraturas pouco abertas. Ainda assim
ser adicionados à fase sólida, como ben- a correlação desses testes com as ob-
tonita, areia e pozolana. Existem ainda as servações litológicas dos testemunho_
caldas de natureza química, como as sili- de sondagem pode representar u:--
cáticas e as resinas orgânicas, empregadas indicativo para a pré-escolha de uma d
para consolidação dos solos muito finos. terminada calda. Dessa forma, abertura.:
Antes da escolha correta da melhor menores que 0,1 mm não são injetáve ;
calda a injetar em cada caso, devem-se pelo fato de a granulação do cimento se
realizar testes de campo e de laboratório superior a essa dimensão .
com a finalidade de determinar as melho- Entre as propriedades físicas e mecânicc.
res opções em termos de injetabilidade e da calda, as mais importantes são: res_
8 - Tratamento de maciços naturais 1 243

tência à compressão, resistência à erosão sólida não deve ultrapassar 5%, sendo
por lavagem, permeabilidade e índice de mais recomendável utilizar apenas 2%.
expansão. Dessas propriedades, as mais Cimento + pozolana/água: a pozolana
importantes são a permeabilidade e a re- reduz o custo do cimento e aumenta a
sistência à erosão por lavagem. resistência à erosão por lavagem, porém
Uma vez definidas em laboratório reduz a resistência à compressão. Assim,
todas as características de injetabilidade esse tipo de calda é mais recomen-
e as propriedades físicas e mecânicas das dado para injeções de impermeabilização
caldas, deve-se fazer um teste in situ com a do que para injeções de consolidação. A
calda escolhida. Esse teste consiste em in- proporção cimento/ pozolana pode ser 2:1.
jetar alguns furos com essa calda e depois Silicato de sódio/água: o silicato de sódio
avaliar a eficiência da injeção por meio de em contato com um reativo forma um
testes de perda d'água. gel duro que apresenta elevada resistên-
Nos testes de laboratório e de campo, cia à erosão por lavagem e muito baixa
um dos fatores mais importantes a definir permeabilidade, prestando-se para con-
é a proporção água/sólidos. Na literatura solidar e impermeabilizar materiais com
especializada são citadas variações de vazios diminutos, como solos siltosos e
água/cimento (A/ C) desde 10:1 até 0,5/ 1. argilosos. Apresenta inconvenientes na
Deve-se observar que as caldas muito aplicação, pois a rapidez da reação que
diluídas, como 10:1 apresentam maior forma o gel impede a penetração do pro-
injetabilidade, porém propriedades mecâ- duto a grandes distâncias, exigindo menor
nicas mais reduzidas, ocorrendo o inverso espaçamento entre as sondagens. Também
com caldas mais concentradas, como o elevado custo do produto constitui des-
0,5:1. Assim, deve-se adotar uma propor- vantagem na aplicação desse processo.
ção A/ C compatível com cada situação de Resina orgânica/água: essas caldas pos-
tratamento definida em função dos testes suem propriedades semelhantes às dos
realizados. As principais características silicatos, porém apresentam preços ainda
de cada calda são: mais elevados, razão pela qual são pouco
Cimento/água: são caldas pouco está- utilizadas.
veis, mas que apresentam boas condições Quanto aos objetivos das injeções,
de resistência e permeabilidade. As propor- podem-se fazer os seguintes comentários
ções mais usuais variam entre 4:1 e 0,7:1. para os diversos tipos de caldas:
Cimento + bentonita/água: são caldas Nas injeções de colagem, em que o prin-
mais estáveis, porém, se for elevada a par- cipal objetivo é melhorar a vedação de
ticipação da bentonita, podem apresentar eventuais vazios no contato concreto/
baixa resistência à erosão por lavagem. rocha, podem ser usadas todas as caldas
Pelo seu maior poder de penetração dos de cimento, seja puro ou adicionado com
vazios, podem admitir maior concentra- bentonita ou pozolana.
ção da calda, com variação A/ Centre 2:1 e Nas injeções de consolidação, a calda
0,5:1. A participação da bentonita na fase deverá adequar-se às condições geológicas.
244 1 Geologia de Barragens

Para maciços muito fraturados, porém tada. Em geral, utiliza-se como critério o
em estado são, onde for constatada ele- peso máximo de sólidos absorvidos por
vada permeabilidade, devem-se utilizar metro em cada trecho injetado. Assim,
as caldas estáveis de cimento + bentonita. caso os testes tenham recomendado ini-
Nos maciços alterados, todavia, pode ser ciar a injeção com uma proporção A/ C de
necessária a injeção com silicatos, princi- 4 :1, a cada absorção de 100 kg/ m de sóli-
palmente se a alteração for acentuada ao dos, essa proporção poderá ser aumentada
longo dos planos de fraturamento . progressivamente para 3:1, 2:1, 1:1, 0,75:1
Nas cortinas de injeção são geralmente e 0,5:1. Se nessa última proporção ainda
utilizadas todas as caldas de cimento, seja ocorrer a absorção de 100 kg/ m , pode-se
puro ou adicionado com bentonita ou po- adotar uma mistura de cimento + areia +
zolana. água na proporção 1:1:1 (em peso) e pros-
O importante na mJeção, caso sejam seguir o tratamento até haver rejeição da
definidas em laboratório possibilidades calda, ou seja, o seu retorno à boca do furo .
de variação da consistência da calda, é A Fig. 8 .9 mostra os equipamentos de
estabelecer os critérios de recusa para preparação, mistura e injeção da calda em
cada concentração adotada, ou seja, o um tratamento de fundação de barragem
momento em que se deve interromper o utilizando caldas à base de cimento.
bombeamento da calda com determinada
consistência para aumentar progressi- Pressão de injeção
vamente a concentração, reduzindo a A pressão de injeção é aquela que se faz
proporção A/ C. Esses critérios devem ser necessária para permitir a penetração da
definidos conforme a extensão a ser tra- calda injetada nos vazios do maciço ro-
tada, as características de injetabilidade choso. Quanto maior for a pressão, maior
da calda e a quantidade de calda já inje- será o raio de alcance da calda a partir

Tubulação de retorno

Linha
by-
t;==============-:zP'
Tubulação de suprimento

Superfície
Misturador do terreno

Furo~
injetado a
Sucção
da calda

Agitador

FIG. 8.9 Esquem a da injeção de caldas de cime nto em um fu ro de sondagem


Fonte: modif,. cado de USBR (1973).
8 - Tratamento de maciços naturais 1 245

do furo, bem como a possibilidade de injetado, o que equivale, em média, a


penetração nas fraturas de pequena aber- 0,25 kgf/cm 2 por metro de profundidade.
tura. Todavia, essas pressões não podem Essa pressão é medida a partir da superfí-
atingir valores muito altos, sob pena de cie até o ponto médio do trecho a injetar.
provocar maior fraturamento do maciço Ainda assim, há muitos exemplos de
rochoso, aumentar a abertura das fratu- grandes barragens brasileiras que ex-
ras, provocar o levantamento de partes do trapolaram esse valor: Salto Osório (PR)
maciço nas injeções mais superficiais e, adotou Pmáx = 0,7 kgf/cm 2 no trecho ini-
até mesmo, provocar a ruptura de fratu- cial, acrescentando 0,25 kgf/cm 2 à pressão
ras já injetadas, quando então aumentam máxima por metro perfurado; Foz do Areia
a permeabilidade do maciço rochoso ao (PR) utilizou Pmáx = 0,5 kgf/cm 2 logo
invés de reduzi-la. abaixo do plinto; Itumbiara (MG) utilizou
Assim, em cada caso, deve-se definir P máx = 0,10 kgf/cm 2 em um único trecho
a pressão de injeção de acordo com o co- de O ma 9 me Pmáx = 8 kgf/cm 2 no trecho
nhecimento das seguintes condicionantes de 9 ma 18 m; e Ilha Solteira (SP-MS) utili-
intervenientes nesse processo: zou Pmáx = 0,75 kgf/cm 2 .
• tipo de rocha;
• grau de fraturamento e relação entre Cuidados especiais
os sistemas de fraturas; Naturalmente, todas as operações
• estratificação da rocha e seu relacionadas com o tratamento de funda-
posicionamento nas fundações; ções aqui descritas exigem cuidados que
• profundidade da zona injetada; incluem a capacidade técnica do operador,
• localização do furo em relação à a escolha do método mais aplicável e o de-
morfologia do eixo barrável; senvolvimento das operações realizadas.
• peso do material de cobertura; Contudo, deve-se observar que a opera-
• tipo e densidade da calda; ção de campo em qualquer tipo de injeção
• posição do nível freático; inicia-se pela limpeza da área a tratar,
• perdas de cargas na tubulação de in- reduzindo as irregularidades propiciadas
jeção. pelas heterogeneidades e pelo fratura-
mento do maciço rochoso, e as impurezas
Nos Estados Unidos, o Bureau of Recla- resultantes do decapeamento do solo e,
mation define apenas a pressão mínima, eventualmente, do saprólito.
que é de 1 psi (0,07 kgf/cm 2) por pé de Assim, tão logo seja removido todo o
profundidade (33 cm), a qual é aumen- material incoerente que recobre o maciço
tada em cada trecho injetado em função rochoso, deve-se fazer uma limpeza su-
do conhecimento das condicionantes perficial com jatos d'água sob pressão de
locais anteriormente descritas. No Brasil, 5 kgf/cm 2 ao longo de toda a extensão
utiliza-se mais a pressão máxima como prevista para o tratamento subsuperfi-
norma, que corresponde àquela inferior cial. Após essa limpeza, recomendam-se
ao peso da rocha sobrejacente ao trecho dois tipos de regularização superficial,
246 1 Geologia de Barragens

em função do surgimento de saliências, início da injeção quando a água de retorno


protuberâncias e cavidades resultantes vier isenta de partículas sólidas ou em
de fraturamentos e da retirada do mate- suspensão.
rial decomposto. Em uma primeira fase , Finalmente, devem-se tomar cuidados
todas as fraturas abertas e bolsões es- com relação ao cimento a utilizar, entre
cavados devem ser preenchidos com os quais, não ter idade superior a 30 dias,
um concreto dental formado por água e não ser armazenado em pilhas maiores
cimento na proporção 0,7:1,0. Posterior- que sete sacos de altura e nem conter
mente, procede-se a uma suavização das torrões endurecidos. O tempo mínimo
discrepâncias formadas pelas referidas de homogeneização da calda deve ser de
irregularidades, por meio de uma cober- cinco minutos.
tura com argamassa de areia, cimento
e água, na proporção 1:1:3. Na barra- Controle da eficiência
gem de Estreito (MA), a área suavizada A eficiência do tratamento de uma
por argamassa foi de aproximadamente fundação deve ser controlada pari passu
20 .000 m 2 , tendo consumido um volume com a sua execução, pois todas as mo-
de 2.796 m 3 de concreto dental. dificações impostas a um planejamento
Outra alternativa para maciços ro- prévio dependem desse controle. Dessa
chosos muito estratificados e fraturados, forma, a adoção de furos terciários e
como o folhelho, é abrir no trecho mais quaternários dependerá sempre dos re-
fraturado uma trincheira com aproxima- sultados obtidos no tratamento dos furos
damente 1 m de profundidade por 1 m de primários e secundários . Por outro lado,
largura, e preenchê-la com concreto antes até mesmo alguns furos secundários po-
de proceder às injeções nas fundações. derão prescindir da injeção, em função
Esse procedimento propicia melhor ope- dos resultados da injeção dos primários,
racionalidade não apenas na execução dos confirmados pelos testes de perda d 'água
furos , mas também na definição da calda nos secundários. Esse controle é também
e das pressões de injeção. função do objetivo e do tipo de barragem.
Outro cuidado no tratamento por in- Assim, uma barragem onde as perdas
jeção refere-se à limpeza do furo antes d 'água não comprometam a sua finali-
de iniciar a injeção, pois na ausência dade nem a sua segurança poderá adotar
desse procedimento, o pó resultante da critérios menos rígidos de controle, ao
perfuração poderá obstruir as fraturas , contrário daquela obra onde o excesso de
impedindo a penetração da calda inje- percolação tem significado importante
tada, ou ainda, misturar-se com a própria para o seu funcionamento.
calda, alterando descontroladamente a Existem dois tipos de controle para efi-
relação água/sólidos . Essa limpeza pode ciência do tratamento: absorção d 'água e
ser feita com ar e jatos d 'água sob pres- consumo de cimento. A absorção d'água é
sões que podem variar de 5 a 10 kgf/cm 2 • definida pelo teste de perda d'água, exe-
O furo somente será considerado apto ao cutado conforme 7.1.2a. Sempre que esse
8 - Tratamento de maciços naturais 1 247

teste é realizado em uma fase secundá- Salto Osório (PR): após cada etapa de
ria ou terciária, seu resultado mostrará o injeção, foram executados furos de che-
comportamento do maciço rochoso em de- cagem que atingiram os trechos de maior
corrência do tratamento já executado nos consumo específico de cimento. A con-
furos mais próximos, respectivamente tinuidade da injeção era determinada
primários e secundários. Em função sempre que os testes de perda d'água
dessa análise, poderá ser dispensada ou nesses furos era superior a 0,2 Hv.
não a injeção nos furos já abertos. O cri- Itumbiara (MG): a definição da execu-
tério para considerar eficaz o tratamento ção de furos terciários e quaternários foi
já realizado segundo esse tipo de con- função do consumo específico de cimento
trole é muito variável, pois depende da nos furos primários e secundários, sendo
permeabilidade considerada satisfatória prescindida a sua execução quando esse
em função do objetivo e da segurança da consumo não excedia a 20 kg/ m de ci-
obra. Geralmente varia entre 0,3 Hv e mento.
0,5 Hv (hvorslevs) . Estreito (MA): um furo de checagem
O consumo de cimento considera a quan- era aberto no centro de um triângulo for-
tidade de cimento (em kg) por trecho mado por três furos injetados em seus
injetado ou por metro (consumo especí- vértices. A eficiência do tratamento era
fico - kg/ m) de um furo já injetado para definida quando o teste de perda d' água
definir sobre a necessidade de injetar furos nesses furos de checagem era igual ou in-
em outra etapa. O critério para definir o ferior a 0,05 Hv até 9 m de profundidade,
consumo específico que caracteriza um e igual ou inferior a 0,56 Hv para o trecho
bom comportamento do maciço rochoso de 9 ma 18 m.
é também variável pelos mesmos moti- Ilha Solteira (SP-MS): nessas fundações
vos comentados para a absorção d'água. foram injetadas três linhas de furos. Todos
Esse consumo específico tem variado de os furos primários, distanciados 12 m
20 kg/ m a 100 kg/ m. entre si, foram injetados nas três linhas.
O ideal é utilizar os dois critérios para Todos os furos secundários da linha de
controlar a eficiência de uma injeção e de- jusante foram injetados. Os furos secun-
finir sobre a necessidade de adensar a rede dários das linhas de montante e linha
de injeção. Assim, um furo secundário central somente foram injetados quando a
prescindirá de ser injetado se o consumo 12 m de distância ocorreu em algum furo
específico de cimento nos dois furos pri- uma das seguintes situações: consumo de
mários que lhe cercam e o ensaio de perda cimento maior que 300 kg em um trecho
d'água executado nesse furo secundário injetado (trecho de 3 m); K > 5 x 10- 4 cm/s.
satisfizerem aos critérios adotados para
considerar o maciço rochoso satisfatório. Os critérios para injetabilidade de uma
Seguem alguns exemplos de barragens fundação serão mais bem discutidos no
brasileiras em que foram bastante variados item 8.3.
os critérios de controle de injeção adotados:
248 1 Geologia de Barragens

Relatórios sobre injeções O relatório interpretativo tem como


O tratamento de fundações de barragem principal objetivo analisar a eficiência e
por meio de injeções de maciços rochosos a eficácia do tratamento realizado, e pode
deve comportar dois tipos de relatórios téc- utilizar o seguinte roteiro básico:
nicos: relatório de planejamento e relatório • localização da obra;
interpretativo. O relatório de planejamento • características do projeto;
objetiva apresentar um programa para exe- • caracterização das fundações;
cução de um tratamento que visa adequar • objetivos previstos para o trata-
as fundações da barragem às necessidades mento;
do projeto e deve, minimamente, abordar • empresas responsáveis pelo projeto,
os seguintes tópicos: execução e acompanhamento téc-
• localização da obra; nico do tratamento;
• tipo e objetivo da obra; • metodologia adotada:
• objeto e local do tratamento (eixo o sondagens;

barrável, vertedouro, tomada d'água o injeções;

etc.);
• caracterização geológica e hidrogeo- • estudos interpretativos:
técnica das fundações; o quantitativos de serviços - nesse

• programa de sondagens: item devem ser apresentados qua-


o número e espaçamento das linhas dros indicando, para cada sondagem
de sondagens; realizada nas sucessivas etapas de
o locação dos furos em planta e tratamento, o número de testes de
seção; perda d' água, os valores mínimos
o equipamento de sondagem e méto- e máximos de permeabilidade e
do de perfuração; o consumo total de cimento. Em
o diâmetro, profundidade e inclina- seção, devem ser mostradas todas
ção dos furos; as sondagens realizadas, indi-
o testes de permeabilidade: trechos, cando, em um dos lados do furo, a
métodos e pressões; absorção d'água específica (em Hv
e, no outro, o consumo específico
• programa de injeção: de cimento (Fig. 8.5);
o método de injeção; o análise da permeabilidade do maciço
0 caldas: composição e testes (labo- rochoso - deve ser feita com base na
ratório e campo); seção que indica todos os testes de
o pressões de injeção; perda d' água nas diversas fases de
o metodologia de injeção; tratamento (Fig. 8.5), bem como por
o controle de eficiência; meio de gráficos como o mostradc
na Fig. 8.10, em que a absorção
• prazos, quantitativos e custos pre- d' água específica varia percentual-
vistos. mente em cada etapa de injeção;
8 - Tratamento de maciços naturais 1 249

100
90
Etapa primária
80
"'
"'O
.!!!
Etapa secun dária
::, 70 Etapa terciária
E
::,
u
60
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b.O 50
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40
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e.. 30
20

---
10
o
0,1 0,5 1,0 5,0 10,0 50,0
Absorção d'água específica - Hv {1/min.m.atm)

FIG. 8 .10 Variação percentual da absorção d 'água especifzca nas sucessivas etapas de injeção na bar-
ragem de Bocaina, em projeto e acompanhamento do autor

o análise sobre o consumo de ci- ■ variação percentual do con-


mento - a exemplo da análise da sumo específico de cimento
permeabilidade, o consumo de em cada etapa de injeção
cimento pode ser analisado em (Fig. 8.11);
função das seguintes informações: ■ interação entre permeabilidade
■ consumo indicado em seção e consumo de cimento - a
(Fig. 8.5); interação entre a absorção

100

90

"'
"'O
.!!!
::,
E
::,
u
"'E
80
70
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..,
b.O
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,,
----- --
..,e 40
..,~
e.. 30
- Etapa primária
20 - - Etapa secundária
10 - - - • Etapa terciária

o
5 10 50 100 500
Consumo específico de cimento - kg/m

FIG. 8.11 Variação percentual do consumo específico de cimento nas sucessivas etapas de injeção na bar-
ragem de Bocaina (PI), em projeto e acompanhamento do autor
250 1 Geologia de Barragens

d'água específica (em Hv) e o Injeção comum


consumo específico de cimento Na injeção comum, o procedimento é
(em kg/ m) pode ser analisada análogo ao descrito para os maciços ro-
em um gráfico como o mos- chosos, e utiliza-se preferencialmente o
trado na Fig. 8.12; método descendente, com a fixação do
0 eficiência e eficácia do trata- obturador na extremidade do tubo de
mento - o resultado final dos revestimento provisório. Esse tipo de in-
serviços de tratamento poderão ter jeção é mais empregado para o tratamento
sua eficiência e eficácia analisadas de consolidação, em que as sondagens
com base nas informações obtidas geralmente possuem entre 6 m e 9 m de
sobre a absorção d'água e o con- profundidade. Para materiais granulares
sumo esp~cífico de cimento; grosseiros, a calda pode ser de cimento
0 conclusões e recomendações finais. puro na proporção A/ C de 1:1, e se houver
predomínio de cascalho, eventualmente
b) Injeções em solos
se pode usar argamassa com areia. Para
A injeção em solos, seja para aumentar a solos mais finos, como areia fina, pode-se
resistência destes como fundações de obras usar uma calda mais estável, com a utiliza-
de barramento, seja para reduzir a perco- ção da bentonita. Finalmente, para solos
lação ao longo dessas fundações, pode ser siltosos e argilosos, recomendam-se caldas
feita por meio de três processos: injeção à base de resinas e/ou gel de silicato. O es-
comum, tubo manchete e alta pressão. paçamento entre furos varia em função

10,0 1 - - - - - - - - + - - - ' ' - - - - - - - - - I - - - . . . I L I L - - - - • : . . . __ _--'--I


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Consumo específico de cimento - kg/m

FIG . 8.12 Interação entre a absorção d 'água especifica e o consumo especifico de cimento na barragem de
Bocaina (PI), em projeto e acompanhamento do autor
8 - Tratamento de maciços naturais 1 251

dos objetivos da injeção (consolidação ou - - Injeção

impermeabilização), da extensão a ser tra- XXXXXXXXI iXXXXXXXX


1
tada e das condições geológicas locais, mas 1
1
1
geralmente oscila entre 2 m e 3 m. 1
1
1
1
1
Tubo manchete 1
1
O tubo manchete consiste de um tubo 1
1 Tubo
1
de aço ou de PVC rígido, com um trecho 1 manchete
1
perfurado e envolvido por uma borracha 1

flexível (Fig. 8.13). Por esse método, é


possível abrir um furo até a profundidade .,._ Paredes
desejada e executar a injeção pelo método do furo

ascendente, com um obturador simples ou


duplo como mostrado nessa figura . Após
fixar os obturadores, a calda é injetada
sob pressão, rompendo a borracha e pene-
trando nos vazios do solo. Esse método é
bastante eficiente, tendo várias aplicações
em função da criação de bulbos resisten-
tes que podem provocar a consolidação de
maciços terrosos ou arenosos, tanto em
fundações de barragens como no entorno
de escavações subterrâneas, bem como ser
Obturadores ■---- Perfurações
usados como reforço de tirantes. A calda do tubo
duplos
injetada é constituída apenas de cimento
Membrana de
e água, na proporção de 1:1. A profundi- borracha
dade dessa injeção pode atingir de 20 m a
30 m e o espaçamento entre furos é idên-
tico ao da injeção comum.

Alta pressão
A injeção em solos sob elevada pressão FIG. 8.13 Tubo manchete
é conhecida como jet grouting, que con-
siste na introdução de uma haste de per- máxima que se deseja injetar (Fig. 8.14a),
furação com diâmetro entre 50 mm e 100 substitui-se a alimentação da água pela
mm, dotada de uma ponteira com bicos de injeção de uma calda de água/cimento na
jato onde a água é introduzida sob elevada proporção de 1 :1 sob alta pressão. O jato da
pressão. O avanço da perfuração é pro- calda com alta velocidade (entre 200 m /s e
piciado pela rotação da haste associada 300 m /s) desagrega o solo ao redor da per-
ao jateamento. Atingida a profundidade furação, produzindo uma argamassa pela
252 1 Geologia de Barragens

mistura dos grãos do solo com a calda. Ao são menos encontrados, uma vez que
se erguer gradativamente a composição, dependem da intemperização de rochas
faz-se subir a injeção (Fig. 8.14b) para predominantemente arenosas, como o
formar uma coluna de solo injetado com arenito. Os saprólitos siltoargilosos são
diâmetro entre 0,5 m e 2,0 m . Ao se rea- resultantes da decomposição química de
lizar outra sondagem ao lado da primeira, vários minerais, como feldspatos, micas,
constroem-se sucessivamente várias colu- anfibólios, piroxênios etc., que são encon-
nas de injeção (Fig. 8.14c). Com tal pro- trados em quase todas as rochas ígneas
cedimento, constrói-se uma cortina de e metamórficas, além de carbonatos de
injeção no solo que pode funcionar como rochas calcárias e dolomíticas. Por sua
impermeabilizante das fundações . Caso a vez, a espessura desses saprólitos argilo-
injeção tenha como objetivo consolidar o sos é dependente do clima, sendo tanto
material da fundação, várias linhas de in- mais espessos quanto maiores forem a
jeção deverão ser construídas, formando pluviosidade e a temperatura.
um grande bloco de solo consolidado, com Os saprólitos siltoargilosos caracteri-
extensão e profundidade que atendam às zam-se por apresentar um comportamento
exigências do projeto. mecânico intermediário entre a rocha sã e
o solo residual. Com isso, apresentam uma
c) Injeções em saprólitos
resistência adequada para funcionar como
O saprólito é um material de consti- fundação de barragens granulares (terra
tuição muito variada, de acordo com a ou enrocamento), mas não são recomen-
rocha que lhe deu origem. Apesar disso, dáveis como base de barragem de concreto
podem-se distinguir dois tipos predo- de gravidade. Com relação às característi-
minantes: de constituição arenosa e de cas de permeabilidade, geralmente são
constituição siltoargilosa. Os primeiros melhores que a rocha sã, uma vez que, a

Agua Água, ar
e ar e calda

/ /

i ~ Perfuração
1
ascen
na
1
1
,,--.._
a b e

FIG. 8.14 Injeção de solo com alta pressão: (a) perfuração; (b) injeção da primeira coluna; (e) injeção da
terceira coluna
Fonte: modif,.cado deABGE (1998).
8 - Tratamento de maciços naturais 1 253

se decomporem para argila, os minerais a) Direcionamento do fluxo das


tendem a obstruir as fraturas , reduzindo águas subterrâneas
significantemente a permeabilidade.
O problema maior na injetabilidade O fluxo das águas subterrâneas pode
desses materiais, no caso de algumas provocar elevadas pressões em talu-
fraturas permanecerem abertas, é a difi- des de encostas ou sobre os emboques
culdade de penetração da calda, por dois de um túnel, obras muito comuns em
motivos: impossibilidade de penetra- um projeto de barragem. Esse problema
ção na argila e carreamento da argila ao pode agravar-se se forem construídas
longo dos planos de fratura , aumentando estruturas de contenção impermeáveis,
a concentração da calda e impedindo a como cortinas de concreto, para melho-
sua penetração. Assim, quando o sapró- rar a estabilidade da encosta, pois o nível
lito é espesso e a sua permeabilidade não d'água subterrânea será elevado, aumen-
atende às necessidades do projeto, a única tando consideravelmente as pressões
forma de tratamento é por meio de resi- hidrostáticas sobre essa estrutura.
nas e silicato gel, o que torna bastante A solução mais empregada para o
oneroso esse tratamento. direcionamento desse fluxo é o dreno ho-
rizontal profundo, conhecido pela sigla
8.1.3 Drenagem subterrânea
DHP. Em sua execução, faz-se um furo
A drenagem subterrânea constitui com diâmetro de 10 cm, sub-horizontal,
uma forma de tratamento de um maciço inclinado de 5° a 10° com a horizontal
natural e tem dois objetivos principais: (Fig. 8 .15a). Nessa perfuração, feita com
direcionar o fluxo das águas subterrâneas equipamento rotativo, é introduzida uma
e aliviar a pressão hidrostática na base da tubulação de PVC rígido, preferencial-
barragem. mente de 5 cm de diâmetro, cuja maior

,
/
/

drenagem
superficial
drenagem no
superficial ertical (areia)

FIG. 8 .15 Direcionamento do fluxo das águas subterrâneas em uma encosta at ravés de drenas horizontais:
(a) encosta natu ral; (b) encosta com contenção
254 1 Geologia de Barragens

parte é filtrante. Para tanto, executam-se zação de equipamentos de rotopercussão,


furos ou ranhuras no tubo, revestindo-o geralmente com diâmetro de 75 mm. Na
com uma manta têxtil. A inclinação do sua maior parte, são executados a partir
dreno tem como finalidade facilitar o es- de uma galeria existente no corpo da bar-
coamento da água por gravidade para um ragem, localizada nas proximidades do pé
ponto externo, onde será direcionada atra- de montante dessa obra, embora alguns
vés de galerias superficiais ou bombeada. projetos incluam também uma galeria a
Esses drenos geralmente possuem de 10 m jusante (Fig. 8.16). A profundidade dos
a 20 m de extensão, e uma maior eficácia drenos deve ser suficiente para intercep-
será obtida por uma série de drenos dis- tar os principais veículos de percolação do
tanciados 3 m entre si, porém alinhados maciço rochoso, e o espaçamento entre os
ao longo da parte mais baixa da encosta a drenos geralmente varia entre 3 m e 5 m .
drenar, como mostrado nessa figura . Se a Caso seja projetada uma cortina de injeção
encosta contiver uma estrutura de conten- a partir da mesma galeria em que forem
ção, recomenda-se executar um colchão projetados os drenos , como mostrado
drenante a montante dessa estrutura, que na Fig. 8.16, a injeção deve preceder aos
auxiliará na drenagem interna propiciada drenos, para evitar a colmatação destes no
pelos drenos DHP (Fig. 8 .15b). caso de serem executados primeiramente.
A drenagem pode ainda ser feita em
fundações de barragens constituídas por
solo siltoargiloso, para retirar a água con-
tida nos poros desses materiais, a fim de
acelerar o seu adensamento. Nesses casos,
utilizam-se os drenos de areia verticais,
que são poços abertos nesses materiais e
preenchidos com areia.
Injeções
b) Alívio de pressões hidrostáticas

As pressões hidrostáticas que atuam


na base de uma barragem, também de-
nominadas subpressões, constituem um FIG . 8 .16 Drenas de alívio de montan te co m
injeção e de jusante em uma barragem
problema mais significativo nas barra-
de concreto
gens de concreto, onde a relação H/ B
(altura/comprimento da base) é muito
maior que nas barragens granulares (terra 8.1.4 Congelamento
e en rocamento). Por isso, a drenagem sub- O congelamento do solo consiste n.;.
terrânea das fundações é aplicada apenas redução da temperatura da água con-
às barragens de concreto e realizada por tida em seus poros até promover a s -
meio de drenos de alívio. Esses drenos consolidação, resultando no aumento --
são abertos no maciço rochoso com a utili- sua resistência e também em sua imp
8 - Tratamento de maciços naturais 1 255

meabilização. É, todavia, um tratamento é totalmente inócuo qualquer tipo de


oneroso e de duração discutível, mais tratamento.
empregado na iminência de um processo Assim, na condição de materiais pas-
degenerativo grave das fundações, como síveis de terem sua resistência mecânica
um severo recalque ou um pipping, ou para melhorada, restam os maciços de mate-
contenção desses problemas quando já ini- riais incoerentes , como é o caso de solos
ciados. Nesses casos, faz-se introduzir no e rochas inconsolidados, como siltitos
solo, através de poços, nitrogênio líquido e argilitos alterados. Nesses casos, a ca-
cuja temperatura é de -190 ºC ou salmoura racterização de suas resistências pode
resfriada a temperaturas variáveis entre ser feita por meio de ensaios in situ, que
-25ºC e -30ºC. variam desde o SPT e o vane test até as
provas de carga.
Definida a inadequabilidade da re-
8.2 APLICABILIDADE DE
sistência da fundação, pode-se avaliar
CADA MÉTODO
uma solução do ponto de vista técnico-
A aplicabilidade dos diversos tipos de -econômico em função da espessura do
tratamento dos materiais naturais em material incoerente em relação à exten-
que se apoiam as obras de barramento de- são da base da fundação , que geralmente
pende, primeiramente, dos objetivos do é muito grande, já que barragens de
tratamento. Assim, serão abordados sepa- concreto não são recomendáveis nessa
radamente os seguintes objetivos: situação. Dessa forma, se a espessura do
• melhoramento da resistência; material for reduzida, é possível que a
• redução da percolação. melhor solução seja retirar todo o material
de baixa resistência, substituindo-o por
8.2.1 Melhoramento da
outro de melhor qualidade. Se essa espes-
resistência
sura for grande (>3m), a melhor solução
A resistência dos materiais naturais será a consolidação por meio de injeções,
é mais solicitada quando esses materiais quando serão avaliadas as melhores
integram as fundações de uma barragem. opções entre as metodologias apresenta-
Essas resistências relacionam-se com a das no item 8.1.26. Em fundações muito
deformabilidade (resistência à compres- heterogêneas, se o problema de resistên-
são) e com a estabilidade (resistência ao cia for localizado, pode-se ainda optar
cisalhamento), como visto no item 4.2. pelo emprego de congelamento.
Para maciços rochosos, ambas as resis-
8.2.2 Redução da percolação
tências são compatíveis com os diferentes
tipos de barragens, excetuando quando
a) Percolação nas fundações da bar-
esse maciço se encontra decomposto, ou
ragem
quando o posicionamento das suas des-
continuidades lhe confere a condição Na análise sobre o tratamento das
de instabilidade. Em ambos os casos, fundações de uma barragem para redu-
256 1 Geologia de Barragens

ção da percolação, muitos fatores devem reduzido por meios mais econômicos
ser levados em conta, entre os quais serão que uma cortina de injeções";
analisados os seguintes: • "provavelmente a grande maio-
• Necessidade de tratamento ria das cortinas de injeção de linha
• Objetivos do tratamento única nas fundações rochosas e om-
• Custo x Eficiência breiras de barragens, construídas
• Aspectos técnicos no passado, foram relativamente
• Aspectos regionais ineficientes na redução das perdas
• Alternativas de tratamento de infiltração e não puderam ser de
muita confiança para os propósitos
Necessidade de tratamento das análises de estabilidade".
A polêmica sobre a necessidade de tra-
tamento das fundações de barragens para Sabarly (1968) apresentou um ex-
efeito de impermeabilização é bastante celente trabalho, no qual comparou as
antiga. Os primeiros tratamentos desse condições de aplicabilidade das técnicas
tipo foram realizados em 1900, e já em de impermeabilização e de drenagem, e
1932 o processo era contestado por Terza- apesar de revelar-se um adepto inconteste
ghi (apud Casagrande, 1961). Em uma das deste último método, mostrou muita sen-
aulas ministradas, esse professor assina- sibilidade para o problema ao comentar:
lou: "em muitos casos os proprietários são "a arte do projetista consiste em ter um
avarentos e perdulários pelo desperdício profundo conhecimento dos fenômenos
de muito dinheiro em injeções e pouco físicos em jogo e de saber adaptar a cada
ou nenhum nos meios de observação, os caso particular, e que é sempre complexo,
quais poderiam claramente esclarecer se os princípios gerais, sem subestimar uns
a cortina de injeções é eficiente ou não". em relação aos outros".
Casagrande também teceu severas críti- No 10° Congresso do ICOLD, Laa e
cas ao uso indiscriminado do tratamento Franco (1970) analisaram o comporta-
de impermeabilização de barragens. Ao mento de algumas barragens espanholas e
analisar casos em que engenheiros-chefes concluíram com a sugestão de que sempre se
adotaram tais técnicas em situações que deve examinar a possibilidade de subst ituir
eles mesmos reconheciam como inade- a cortina de injeções por trechos injetados
quadas, escreveu: "parece que temem isoladamente, onde a fundação revelar pro-
atacar algo que é tido como um dogma blemas mais críticos de percolação.
religioso pela maioria na profissão". São Como se observa, os resultados são
ainda de Casagrande as seguintes frases: muito contraditórios, acirrando a polê-
• "são necessários vários métodos mica que existe sobre o assunto e exigind
mais seguros para predeterminar se estudos e pesquisas a fim de evitar a.
e onde as injeções são necessárias"; continuidade na utilização de fórmula5
• "em alguns projetos, o valor de per- preconcebidas, baseadas em suposiçô~
colação poderia ser eficientemente empíricas . Infelizmente as discussô~
8 - Tratamento de maciços naturais 1 257

sobre o assunto têm evoluído muito pouco, • perdas d'água que podem compro-
e ainda hoje se nota uma completa falta meter o uso da água armazenada.
de critérios na maioria dos técnicos que
lidam com o problema. Em alguns casos, Numa análise mais acurada, pode-se
recomendam-se vultosos tratamentos de constatar que apenas o segundo problema,
impermeabilização quando esse método dos quatro anteriormente referidos, pode
não seria o mais indicado; em outros, justificar, na maioria das vezes, a exe-
omite-se esse tratamento quando seria a cução de uma cortina de injeções como
melhor solução para o problema. solução única e completa.
Com efeito, para o caso de subpressões,
Objetivos do tratamento podem-se citar os seguintes princípios
O tratamento de impermeabilização de (para escoamento em regime perma-
uma fundação de barragem tem como ob- nente):
jetivo central reduzir a permeabilidade do • em terreno homogêneo, a distribui-
material que embasará uma obra de bar- ção de subpressões independe do
ramento a níveis que tornem inócuo para coeficiente de permeabilidade do
a obra o efeito da percolação excessiva da terreno;
água nesse material. Assim, o maior erro • em terreno heterogêneo, apenas as
que geralmente se comete é desejar que relações de permeabilidade influen-
uma cortina de injeções seja absolutamente ciam na distribuição de subpressões.
estanque. Primeiro porque essa estanquei-
dade absoluta nunca é necessária e, segundo, Disso resulta que uma rede de dre-
porque as deficiências do próprio método nagem terá exatamente o mesmo efeito
construtivo impedem que isso aconteça. nas subpressões, independentemente da
Todavia, a maior discussão relacionada com permeabilidade do terreno, que influirá
o objetivo desse tipo de tratamento diz res- apenas na vazão da água percolada.
peito à própria necessidade de redução da Quanto ao risco de instabilidade das
percolação, em função de suas eventuais ombreiras a jusante da obra, a eficiência da
consequências para a obra. cortina de injeções também é discutível,
A percolação excessiva pelas fundações e isso porque, dependendo da geome-
de uma barragem pode acarretar os se- tria e abertura das descontinuidades no
guintes problemas: maciço rochoso, bem como da declividade
• subpressões elevadas, com maiores dessas ombreiras, a injeção poderá piorar
problemas para barragens de con- a situação de sua instabilidade, elevando
creto; o nível d 'água subterrânea com a cria-
• erosão do material de fundação ou ção de nefastas poropressões ao longo
da própria barragem, no caso de dessas descontinuidades.
obras de terra; Por fim , o problema com perdas d' água
• risco de instabilidade das ombreiras que podem comprometer o uso da água arma-
a jusante da obra; zenada é possível de ocorrer em algumas
258 1 Geologia de Barragens

regiões onde o volume de água que aflui ao percolação atingisse apenas 30%.
reservatório constitui um problema, em Muitas vezes a eficiência esperada da
função das condições climáticas. Contudo, cortina para um objetivo específico não é
deve-se observar que, em geral, vazões de atingida porque a expectativa de solução
percolação que cheguem a comprometer o do problema por esse tipo de tratamento
uso da água armazenada devem influir na é incorreta. Um exemplo desses é citado
segurança da própria obra, exigindo me- por Casagrande (1961) para a barragem
didas corretivas muito antes de reduzir de Hiwassee (EUA). Nessa barragem
substancialmente o volume armazenado. de concreto gravidade, a execução da
Conclui-se, assim, que apenas há con- cortina de injeções foi concebida para re-
senso nos objetivos da cortina de injeções duzir as subpressões em sua base, tend
quando se trata de reduzir a vazão da água sido constituída por uma única linha de
percolada, em função dos problemas de furos espaçados de 1,5 m . Ao se observar
erosão que podem, ao limite, acarretar a a variação de subpressões medidas ap ós
destruição da própria obra. enchimento do reservatório, constatou-se
que a cortina de injeções foi absoluta-
Custo x Eficiência mente ineficiente para os propósitos co,....
Um ponto que sempre gera polêmica que foi construída, representando pura
quando se discute a necessidade de trata- perda de dinheiro. Exemplos semelhantes
mento das fundações de uma barragem é a são citados por Vargas (1971) com relaçã
sua eficiência em relação ao elevado custo a três barragens construídas no rio Pardo
que representa para a obra. Embora esse
custo dificilmente ultrapasse 1% do valor Aspectos técnicos
da obra, pode alcançar valores absolutos Entre as várias causas responsáveis
bastante elevados, constituindo-se no pela ineficiência de algumas cortinas cie
maior prejuízo da obra se não for obtida injeção, podem ser citadas: a) qualidad
a eficiência esperada para esse tipo de tra- dos dados analisados para definição sobre
tamento. a necessidade de injeções; b) inadequaçã
Estudos têm sido realizados para ana- da posição dos furos de injeção em relaçã
lisar a eficiência da cortina de injeção. às condições geológicas locais; c) falha n -
Casagrande (1961) chegou a determinar dimensionamento das press?es de injeçã
em laboratório que, para cortina de in- ou consistência da calda; d) colmataçã_
jeções de uma linha única, a eficiência das fissuras por detritos da perfuração _
máxima obtida era de 29%, número bas- por grãos do próprio cimento; e) falta · _
tante coerente com as observações por controle ou avaliação da eficiência do t:rc-
ele realizadas na análise de dados piezo- tamento executado.
métricos de inúmeras barragens tratadas Quando se sabe que, em geral, o ún -
desse modo. Sua conclusão é que dificil- critério levado em conta para definir a n--
mente seria justificado o alto custo de cessidade de impermeabilização de
uma cortina cuja eficiência no controle da fundação de barragem é a permeabilida ~
8 - Tratamento de maciços naturais 1 259

do maciço rochoso, cresce muito a res- antes de ser injetado, porém, quando isso
ponsabilidade sobre a qualidade dos dados ocorre, não há meios de ser detectada a
considerados na caracterização desse sua influência no resultado do ensaio.
parâmetro. Apesar dessa responsabili- Mesmo quando se toma o máximo
dade, tem crescido muito a defasagem cuidado na execução do ensaio de perda
entre o nível dos dados coligidos e dos d' água, visando minimizar os efeitos do
métodos de processamento para a inter- falseamento de resultados anteriormente
pretação dos fenômenos de percolação mencionados, algumas inconveniências
baseados nesses dados, reduzindo sensi- são intrínsecas ao próprio método de
velmente a confiabilidade dos resultados ensaio. Um desses problemas é a deter-
obtidos desses estudos. minação das permeabilidades elevadas.
A maior incerteza nos resultados dos A limitação da vazão de injeção de água
ensaios de perda d' água, principalmente no ensaio e o crescimento exponencial da
se o ensaio não for muito bem executado, perda de carga na tubulação impingem
advém do fato de que os erros podem re- grandes dificuldades para determinar
sultar numa permeabilidade muito maior valores de permeabilidade superiores a
ou muito menor que a real. Entre os fato- 5 x 10- 3 cm/s.
res que podem falsear os resultados para Outro grande problema é que esse
mais, destacam-se três: abertura das fis- ensaio não esclarece sobre as condições
suras pela pressão de ensaio, fugas d'água de percolação nas fraturas existentes no
pela canalização ou pelos obturadores e trecho ensaiado. Por exemplo, a absorção
fugas d'água pelas fraturas para dentro de 100 L/min sob uma pressão de 10 atm
do furo. Destes, o mais importante é a num trecho de 5 m pode ser provocada por
abertura das fraturas, pois a vazão absor- uma única fratura de 0,25 mm de aber-
vida por uma descontinuidade aberta no tura, ou por 10 fraturas de 0,12 mm de
maciço rochoso é proporcional ao cubo abertura, ou ainda, por 100 fraturas de
da espessura dessa descontinuidade, con- 0,06 mm de abertura. Uma vez que as condi-
forme já referido em 7.l.2a. Os fatores que ções de injetabilidade dependem da abertura
podem falsear os resultados para menos do vazio a ser preenchido, nem sempre o
são, principalmente, a perda de carga na critério de elevada absorção de água nesses
tubulação e a colmatação de fraturas. A ensaios condiciona a eficiência na absorção
perda de carga guarda uma proporcio- da calda de cimento. É bem verdade que o
nalidade direta com o comprimento da efeito desse problema pode ser minimizado
tubulação e inversa com o seu diâmetro, com a redução do trecho ensaiado, mas é
e pode influir significantemente na redu- bom reconhecer que nem sempre tal prá-
ção do valor da permeabilidade medida tica é obedecida, principalmente quando o
se não forem feitas as devidas correções. ensaio não é acompanhado pari passu por
A colmatação das fissuras pelos próprios de- um projetista experiente.
tritos produzidos pela perfuração é menos Admitindo-se uma boa confiabilidade
comum, desde que o furo seja bem lavado para os dados obtidos com o ensaio de
260 1 Geologia de Barragens

permeabilidade, duas premissas básicas e sorções de calda nos furos primários e


conceituais, relacionadas com a geologia , secundários.
têm que ser definitivamente compreen- Outra condicionante geológica que
didas: a) o resultado do ensaio é apenas poderia ser considerada para definição
um valor pontual em relação ao meio da necessidade de impermeabilização é
analisado; b) o maciço rochoso é um meio a relação entre as direções das descon-
descontínuo, anisotrópico e heterogêneo. tinuidades abertas e do fluxo da água a
Nesse contexto, é muito perigoso falar armazenar. A Fig. 4 .18 mostra um exem-
em permeabilidade média de um maciço plo fictício apresentado pelo autor para
rochoso com base em ensaios de furos que enfatizar essa problemática. Pelo este-
atingiram situações geológicas as mais reograma polar dessa figura, a famíli a
diversas. E pior ainda é, com base nessa de fraturas que deve se encontrar aberta
permeabilidade média, programar a exe- nessas fundações é a de direção NW-S E,
cução de uma cortina ao longo de toda a por ser tipicamente de tração. Eviden-
extensão da barragem, como tem sido a temente, se forem executados furos de
prática comum de muitos projetistas . Na sondagens ao longo das alternativas I e
verdade, dificilmente um maciço rochoso II, os valores de permeabilidade deverão
é constituído exclusivamente de fraturas ser idênticos, desde que os furos intercep-
muito abertas ou pouco abertas, ou fratu- tem a mesma família de fraturas . Todavia,
ras injetáveis ou não injetáveis . Em geral, o se esses valores forem elevados, podem
que ocorre em uma fundação de barragem representar a necessidade de impermea-
é a presença de zonas mais permeáveis, bilizar as fundações no eixo I e dispensar
seja pelo maior número de fraturas , seja qualquer tratamento no eixo II, uma vez
pela maior abertura dessas descontinui- que as fraturas paralelas à barragem
dades, ou por ambos os motivos, que se mesmo abertas, não têm a mínima pos-
alternam com zonas praticamente imper- sibilidade de funcionar como veículo de
meáveis, com situações geológicas opostas percolação entre as áreas de montante -
às anteriormente citadas . jusante da barragem.
Ainda assim, nunca se observa um tra- Quanto ao controle ou avaliação da ef;-
tamento de impermeabilização restrito ciência, é realmente um problema muit
a zonas da fundação , conforme sugerido sério, pois o critério mais usado duran
por Laa e Franco (1970). Ao contrário, em a execução da injeção, que é a redução -
todas as barragens tratadas, programa- admissão da calda, pode ser muito falh
-se uma cortina sistemática com o mesmo Um maciço rochoso pode não absorve.
espaçamento de furos e, muitas vezes, a qualquer calda, seja por estarem as fiss -
mesma profundidade ao longo de toda a ras colmatadas, seja pela insuficiência · =
ex tensão do barramento. Apenas os furos pressão aplicada, seja pela abertura d2!
terciários e quaternários são condicio- fissuras , ou ainda, por não ter o furo inter-
nados pelas heterogeneidades do maciço ceptado qualquer fissura . Nem por isso
rochoso, geralmente reveladas pelas ab- maciço pode ser considerado estanque _
8 - Tratamento de maciços naturais 1 261

a cortina injetada considerada eficiente. rerá com a obra enquanto essa eficiência
Por outro lado, poucas são as barragens não for atingida.
que possuem uma rede de piezômetros
que possibilite analisar o efeito da cortina Aspectos regionais
de injeções, mesmo que o resultado seja Na análise sobre a necessidade de tra-
uma total decepção, como ocorreu nos tamento de uma fundação a fim de reduzir
casos citados por Casagrande (1961). a percolação d'água nessa região, deve-se
Assim, o controle da eficiência de um considerar não apenas o efeito pernicioso
t ratamento de impermeabilização deve dessa percolação, mas também os even-
estar alicerçado no conjunto de provi- tuais benefícios que ela possa propiciar.
dências tomadas para evitar os casos Evidentemente, só faz sentido pensar em
duvidosos já descritos e comentados em benefícios a partir do momento em que tal
outras seções do presente livro. É bom percolação não possa impingir qualquer
frisar que o controle da eficiência para tipo de prejuízo à obra.
o tratamento de impermeabilização tem Entre os aspetos a ser levados em
sido motivo de preocupação no mundo conta no contexto global da percolação
inteiro. pela fundação da barragem, visando a
Ao analisar os casos em que foi con- um eventual aproveitamento dessa per-
siderada boa a eficiência das cortinas colação ou simplesmente à economia nos
de injeção executadas como o único gastos com uma cortina desnecessária,
tratamento para reduzir a percolação, podem ser comentados os seguintes: situ-
Casagrande (1961) assinalou: "para cada ação climática, carência de água a jusante
caso desse tipo considerado na literatura da obra e pobreza regional.
como um sucesso, poderíamos citar diver- Em regiões de clima semiárido, como
sos exemplos em que as injeções falharam é o caso de parte do nordeste brasileiro,
da complementação dos seus objetivos e as chuvas são muito concentradas, sendo
que, por tal razão, não chegaram a ser pu- muito comum ocorrerem anos com índice
blicados". pluviométrico muito abaixo do normal.
Por fim , deve-se lembrar que a efici- Tal fato, aliado à excessiva evaporação
ência de uma cortina pode não alcançar em quase todos os meses do ano, pro-
de imediato os níveis desejáveis, mas voca depleções exageradas em todos os
criar condições para atingi-los com o de- reservatórios, chegando muitos deles a
correr do tempo. Isso ocorre quando a secar completamente. Ocorrem ainda
redução do fluxo subterrâneo, embora casos em que a lixiviação dos produtos de
insuficiente para as necessidades de segu- intemperização das rochas provoca a sa-
rança da obra, possibilita a sedimentação linização das águas que vão alimentar o
do material fino transportado pela água, reservatório, fazendo o teor de salinização
colmatando progressivamente as fissuras do reservatório tornar-se mais concen-
e conduzindo a redução do fluxo a níveis trado a cada ano, pr incipalmente em suas
desejáveis. O problema é saber o que ocor- águas de fundo , que nunca são renova-
262 1 Geologia de Barragens

das. Nesses casos, uma percolação dessas objetivo do tratamento e permeabilidade


águas pelas fundações poderia minimizar do maciço rochoso.
os efeitos da concentração de sais, embora Na abordagem sobre os objetivos do tra-
contribuísse com o rebaixamento do nível tamento, foram feitas considerações que
de armazenamento. envolvem a distribuição de subpressões
Ainda nessas regiões semiáridas, tão e a permeabilidade das fundações. Dessa
logo cessa a vertedura das águas que efluem análise, pode-se concluir que a drenagem
das obras de barramento, seca-se todo o terá o mesmo efeito nas subpressões, in-
leito do curso do rio situado a jusante de dependentemente da permeabilidade do
cada barragem. Quando subsiste uma maciço rochoso, que influirá apenas na
percolação pelas fundações, formam-se vazão da água percolada.
"oásis" em longos trechos do rio, graças à Por outro lado, é notória a deficiên-
manutenção de um elevado under-ff.ow nas cia da injeção clássica em um terreno de
aluviões, que são intensamente aproveita- baixa permeabilidade, o que levou Sabarly
das para lavouras ou para pasto, ajudando (1968) a tirar as seguintes conclusões
um grande número de moradores a sobre- sobre o assunto:
viver à inclemência da seca prolongada. • "em terreno pouco permeável, a cor-
Por fim , deve-se levar em conta a di- tina de injeção não terá qualquer
ficuldade de captação de recursos para a efeito, sendo, portanto, inútil. Mas
construção de obras de barramento nas as subpressões irão se desenvolver
regiões mais pobres. Exemplo desse tipo exatamente como num terreno mais
de situação pode ser evocado no acidente permeável e a drenagem será, por-
que ocorreu com a barragem de Orós (CE), tanto, indispensável";
considerada a maior em volume armaze- • "em terreno muito permeável, so-
nado construída pelo DNOCS . Essa obra mente a drenagem, tendo em vista as
teve o seu cronograma atrasado por falta subpressões, teria a mesma eficácia
de recursos financeiros, resultando no que em terrenos pouco permeáveis,
transbordamento da barragem em 1960, mas a vazão dos drenas poderia ser
antes da construção do vertedouro, quase considerável e inadmissível para a
provocando a sua destruição. Em regiões economia do projeto".
como essa, não se pode dar ao luxo de Naturalmente, mais importante q e
desperdiçar extensas somas na execução comprometer a economia do projeto e
de uma cortina de injeção que não seja re- conter as elevadas velocidades de percola-
almente necessária, ou que não apresente ção através dos drenas e de outras partes
uma eficiência condizente com o objetivo da barragem e de suas fundações. Para ,;,
para o qual foi planejada. casos intermediários, ou seja, para ter
renos cuja permeabilidade situa-se
Alternativas de tratamento intervalo entre pouco e muito permeáv&
As alternativas de injeção e de dre- pode-se concluir que a segurança quanto
nagem dependem de dois aspectos: subpressões seria sempre assegurada pc'!"
8 - Tratamento de maci ços naturais 1 263

meio da drenagem, enquanto os estudos escavadas, quer localizadas a montante de


sobre os efeitos da vazão da água perco- obras, como usinas, ou ao longo de canais
ada deverão nortear a conveniência em de adução ou derivação de águas, ou ainda,
adotar a cortina de injeção. nos emboques de túneis . Em todos esses
Em função do exposto, podem-se re- casos, o único tratamento recomendável é
sumir as seguintes conclusões sobre as a drenagem subterrânea, de acordo com as
opções de tratamento das fundações de soluções indicadas em 8 .1.3 .
uma barragem:
• nas zonas de baixa permeabilidade
8.3 CRITÉRIOS PARA DEFINIR A
de uma fundação de barragem, as
NECESSIDADE DE TRATAMENTO
injeções não surtem qualquer efeito
positivo, independentemente do obje- A necessidade de tratamento dos
tivo para o qual foram programadas; materiais naturais é facilmente detectá-
• nas zonas muito permeáveis, as in- vel quando os aspectos envolvidos são
jeções devem reduzir as infiltrações, claros e o objetivo do tratamento conduz
porém, somente a drenagem aliviará a alternativas indiscutíveis. É o caso, por
as subpressões, razão pela qual a exemplo, do direcionamento do fluxo sub-
melhor solução parece ser a utiliza- terrâneo nas encostas e em alguns casos
ção simultânea desses dois processos de elevadas subpressões na base de bar-
de tratamento; ragens de concreto. Há, contudo, muita
• nas zonas de permeabilidade in- polêmica quanto aos critérios a adotar
termediária, a drenagem deve ser quando se trata de injetar uma fundação
suficiente para barragens de con- de barragem para reduzir a percolação de
creto, enquanto para barragens de água nessas fundações. Diversos autores
terra ou enrocamento com núcleo reconhecem que são inúmeros os fatores
argiloso, a injeção dependerá da ne- intervenientes na decisão sobre a necessi-
cessidade de reduzir a vazão da água dade de injetar uma fundação de barragem
percolada, em função do risco de para reduzir sua permeabilidade.
pipping; Bourdeaux (1979) descreve os seguin-
• nas zonas de ombreiras, o risco tes fatores como principais:
de instabilidade a jusante da obra • Natureza do maciço rochoso, suas
poderá ser reduzido pela aplicação fraturas e sua permeabilidade;
conjunta da cortina de injeções e de • Valor da água: a quantidade de água
um sistema eficiente de drenagem. perdida por percolação representa
um valor tal que justifica despesas
b) Percolação ao longo de obras
de injeções para eliminar ou reduzir
complementares
tal percolação?
As principais obras complementares de • Erosão interna: existem riscos de
uma barragem sujeitas a elevadas percola- pipping pela fundação e/ ou pelo ma-
ções de água são as encostas naturais ou terial do núcleo em contato com o
264 1 Geologia de Barragens

maciço da fundação, os quais devem • barragem de concreto: 5 a 7 Lu-


ser eliminados? geons
• No caso de a barragem ser de terra e
enrocamento, qual será o efeito das Ao se comparar esses critérios com os
injeções sobre as pressões intersti- fatores intervenientes anteriormente re-
ciais dentro do núcleo argiloso? lacionados, constata-se que a maior parte
• Se existe a probabilidade de ocorrên- desses fatores não se acha contemplada,
cia de eventuais defeitos construtivos deixando a critério do responsável técnico
dentro do núcleo e/ou dos filtros de definir os parâmetros que deverão nortear
transição, devem-se prever injeções a aplicabilidade desses fatores.
na fundação para compensar tais de- Visando conciliar a maioria dos as-
ficiências? pectos discutidos no item 8.2.2a., o autor
• Quais são as precauções a serem apresentou no XIX Congresso do CBGB,
tomadas para impedir o eventual realizado em Aracaju em 1991, um quadro
carreamento dos finos do núcleo orientativo (Fig. 8.17), no qual sumariza
através de fissuras do maciço de fun- uma proposição para definir sobre a ne-
dação? cessidade de tratamento das fundações de
• No caso de uma barragem de concreto, uma barragem.
as injeções deverão desempenhar Como se observa nessa figura, o cerne
o papel de aliviar o sistema de dre- da questão, sob o ponto de vista de de-
nagem profunda a fim de reduzir as cisão, é definir quando uma percolação
subpressões no maciço de fundação? subsuperficial passa da categoria de admis-
• Para uma barragem de enrocamento sível para excessiva, pois os outros fatores
com face de concreto, o caminho embora objeto de infindáveis discussões
de percolação reduzido sob o plinto são facilmente determináveis.
exige cuidados especiais? Muitos autores já definiram esse
quando em função da permeabilidade
Nesse mesmo trabalho, Bourdeaux média do maciço rochoso, embora não
apresenta vários valores-limite de permea- levem em conta todos os inúmeros fato-
bilidade que condicionariam a necessidade res que influem nessa permeabilidade
de impermeabilização, como segue: conforme discutido no item 8.2.2a . .-
• perdas d ' água por percolação con- Tab. 8 .1 mostra os sete critérios mais
sideradas preciosas: 1 Lugeon adotados pelos projetistas brasileiro_
(1 L/min/ m / 10 atm) Como se pode notar, apenas dois crite-
• perdas d'água que valem o custo de rios levam em consideração a geomet · -
injeções: 2 Lugeons da barragem, ficando todos os dem
• perdas d' água consideradas despre- restritos unicamente à caracterizaçã
zíveis: da permeabilidade do maciço rochos
• barragem de terra ou enroca- Disso resulta a tremenda disparida · -
mento: 5 a 10 Lugeons entre os parâmetros que definem a n-
8 - Tratamento de maciços naturais 1 265

Percolação sub-superficial - Fator determinante

Admissível Excessiva - Grau de influência

Consequência Sem consequências Com consequências negativas - Consequência


positiva negativas
Fundação pouco Fundação permeável - Tipo de fundação
permeável a muito permeável

Elevadas
Suprimento de jusante

Instabilidade Aspectos
de ombreiras Elevadas vazões
considerados
1 Perdas
1
L ____ --+-, comprometedoras
1
1

Não tratar Drenagem Tratar - Solução

FIG. 8.17 Quadro orientativo para definição da necessidade de tratar por impermeabilização ou drenagem
as fundações de uma barragem

TAB. 8.1 Principais critérios para definir a injetabilidade de fundações de barragens


Critério adotado Absorção
Autor Ano K (cm/seg)
Condicionante Absorção máxima em HV

Redlich-Kampe-
1929 0,05 L/min/m/19 atm 0,5 5,0 X 10-5
-Terzaghi
Barragem c/H > 30 m 1,0 L/min/m/1 O atm 0,1 1,0x10-5
Lugeon 1933
Barragem c/H < 30 m 3,0 L/min/m/10 atm 0,3 3,0 X 10-5
Jaehder 1953 0,1 L/min/m/3 atm 0,033 3,3 X 10-6
Maciços permeáveis > 1,0 L/min/m/atm > 1,0 > 1,0 X 10-4
Adamovitch- 1,0 X 10-4 a
1953 Maciços pouco permeáveis 1,0 a 0,2 L/min/m/atm 1,0 a 2,0
-Koltunov 2,0x10-5
Maciços pratic. impermeáveis < 0,2 L/min/m/atm < 0,2 < 2,0 X 1Q-5
4,0 X 10-5 a
Geotécnica 1956 0,4 a 0,1 L/min/m/atm 0,4 a 0,1
1,0x10-5
Portugal 1957 0,2 L/min/m/atm 0,2 2,0 X 10-5
Barragem com B < 0,2 H:
0,3 L/min/m/atm 0,3 3,0 X 10-5
H <30 m
30 < H < 100 m 0,2 L/min/m/atm 0,2 2,0 X 10-5
Vitor de Melo 1969 H > 100 m 0,1 L/m in /m/atm 0,1 1,0 X 10-5
Barragem com B > 0,2 H:
Proporcionalmente ao aumento < 1,0 L/min/m/atm < 1,0 < 1,0 X 10-4
de B
266 1 Geologia de Barragens

cessidade de injetabilidade de uma quando a permeabilidade média variasse


fundação de barragem, uma vez que a entre 1,5 x 10-s e 2,7 x 10- 5 cm/s, ou entre
permeabilidade considerada crítica varia 0,15 Hv e 0,27 Hv, dependendo da relação
entre 3,3 x 10- 6 cm/s e 1,0 x 10- 4 cm/ s entre as direções das descontinuidades
(em torno de 30 vezes de diferença). mais abertas e o eixo da barragem. Para
No trabalho apresentado no referido as barragens de terra ou enrocamento,
seminário do CBGB em Aracajú, o autor os limites críticos de permeabilidade que
propõe um ábaco para definir a necessi- definiriam a necessidade de impermea-
dade de tratamento por injeção (Fig. 8.18), bilização do maciço rochoso variariam
que leva em conta os fatores geológicos e entre 4,5 x 10-5 e 7,7 x 10- 5 cm/s, ou entre
hidrogeotécnicos, além da geometria da 0,45 Hv e 0,77 Hv, dependendo da relação
barragem. Como exemplo da aplicação anteriormente especificada.
desse ábaco, pode-se avaliar a necessidade Constata-se assim, por meio desse
de impermeabilização de uma barragem de ábaco, que a necessidade de injeção de
50 m de altura, considerando a alternativa uma fundação de barragem é diretamente
de construção em concreto, quando a re- proporcional à altura da barragem, ao gra-
lação B/ H (base/altura da barragem) for diente hidráulico (é tanto maior quanto
menor ou igual a 0,3, ou a alternativa de menor for a relação B/ H), à permeabilidade
construção em maciço granular (terra ou média do maciço rochoso e à proximidade
enrocamento), quando B/ H > 0,3 . Com entre a direção das descontinuidades mais
base nesse ábaco, para a barragem de con- abertas e a direção do fluxo sob a barra-
creto seria necessária a cortina de injeção gem.
H(m) 2 3 4 5 6 7 8 9 10-3 2 3 4 5 6 7 8 9 1 p· 4
2 Permeabilidade - K
100

I\
~ (cm/seg.)

i\..\
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- • - Paraa ~ 20º

- + - Para a > 20°

30
1\\_ º\ \ \
1\
\ a Ângulo entre o eixo barrável e a
00
1

1\. \
descontinuidade estrutural aberta

20
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\\ H Altura da barragem -~
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B Largura da base da barragem ::J

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0,05 0,1
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(1/ min /m/atm)
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FIG. 8.18 Ábaco proposto pelo autor para def,.nir a necessidade de injetabilidade de uma funda ção em funç ão da s condicionantes geológicas
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--.J
9 Materiais naturais de construção

9 .1 TIPOS DE MATERIAIS E FONTES empréstimo, o que t ambém sign ifica


DE OBTENÇÃO impactos ambientais significat ivos;
• elimina os custos de desapropriação
Como mat erial natural passível de ser das áreas de empréstimo;
utilizado em uma obra de barramento, • elimina os custos com a construção,
podem ser dist inguidos: material pétreo, manutenção e desapropriação de
material arenoso e material terroso. acessos para as áreas de empréstimo;
As fontes de obtenção desses mate- • elimina os custos de transporte dos
riais são basicamente duas: escavações materiais provenientes de áreas de
da própria obra e áreas de empréstimo. empréstimo.
Muitos projetos de barragens exigem es-
cavações consideráveis, sejam no solo ou É muito comum os materiais rocho-
em rocha, ora com o propósito de atingir sos apresentarem trechos alt erados e
uma fundação mais resistente, ora para trechos de excelente sanidade. Nesses
alcançar níveis mais profundos para o casos, pode-se perfeitamente utilizar
escoamento da água, como ao longo de o material alterado no corpo da barra-
canais. A abertura de túneis também pro- gem "envelopado" pelo material de boa
picia a obtenção de um grande volume de sanidade, constituindo as chamadas
materiais, principalmente pétreos. Em "zonas random", que podem assumir va-
todos esses casos, é necessário, ainda riadas posições no interior do maciço
em fase de projeto, realizar os ensaios barrável. Quando, porém, a quantidade
de campo e de laboratório adequados a ou a qualidade dos materiais escavados
cada tipo de material que será escavado não atenderem de forma alguma as ne-
durante a construção, a fim de pesquisar cessidades previstas para a obra, apela-se
a possível aplicabilidade desses materiais para as áreas de empréstimo, seja para
na construção da obra projetada. Essa suprir todas essas necessidades, seja para
prática encontra, entre outras, as seguin- complementar a utilização dos materiais
tes justificativas: escavados . Nesse caso, as áreas de emprés-
• elimina ou reduz a formação de de- timo incluem as pedreiras para materiais
pósitos ou bota-fora dos materiais pétreos ou as jazidas para materiais terro-
escavados, que representam sérios sos e arenosos.
impactos ambient ais; Na pesquisa das áreas de empréstimo,
• elimina a recuperação de áreas de- deve-se ter em mente que o transporte do
gradadas pela escavação de áreas de material é o fator que mais onera a sua
270 1 Geologia de Barragens

utilização, razão pela qual deve-se inicial- gem: como enrocamento, como elemento
mente concentrar todos os esforços para filtrante e como agregado graúdo no con-
não ultrapassar o raio de 2 km da obra creto.
na localização dessas áreas. Dentro desse Como enrocamento em barragens
raio, a pesquisa desses materiais deve mistas ou de enrocamento, a rocha é pro-
observar atentamente as seguintes condi- veniente de pedreiras e, dependendo do
cionantes: plano de fogo, pode dispensar qualquer
• distância da obra; tratamento ou beneficiamento secundá-
• geologia local; rio. Os fragmentos rochosos utilizados
• topografia; no enrocamento ou no rip-rap de barra-
• condições de explorabilidade; gens incluem os blocos (maior dimensão
• condições de acesso; entre 6,4 cm e 25,6 cm) e matacões (maior
• características do material; dimensão superior a 25,6 cm). São ge-
• volumes disponíveis; ralmente angulosos e em bom estado de
• custos de desapropriação; sanidade.
• aspectos ambientais. Como elemento filtrante, a rocha é
utilizada nas faixas de transição entre
Somente após verificada a impossi- os materiais finos (argila, silte e areia) e
bilidade de atender às necessidades da o enrocamento. Nesse caso, utilizam-se
obra com empréstimos situados nesse a rocha britada e os cascalhos naturais,
raio de influência, deve-se partir para sendo aquela predominantemente an-
pesquisar áreas mais distantes, usando gulosa e estes, arredondados. Diferem
os mesmos critérios de pesquisa para res- também na forma de jazimento, pois
tringir a localização dessas áreas ao raio enquanto a rocha britada resulta da comi-
de 5 km. Finalmente, na impossibilidade nuição da rocha escavada em pedreiras, os
do atendimento des sa última condição, cascalhos são encontrados em jazidas de
extrapola-se a pesquisa com base em uma origem fluvial ou marinha, podendo ou
fotointerpretação geológica a áreas mais não sofrer cominuição de acordo com a
distantes. Nos itens que se seguirão, para dimensão dos seixos encontrados na cas-
cada tipo de material analisado serão calheira e as necessidades do projeto.
abordadas todas as condicionantes de Como agregado graúdo empregado no
estudo anteriormente relacionadas. concreto, são também utilizados os casca-
lhos e a rocha britada.

9.2 MATERIAIS PÉTREOS


9.2.2 Pesquisa, explotação e
9.2.1 Utilização do material beneficiamento do
pétreo material pétreo

Os materiais pétreos podem ser usados A metodologia a aplicar tanto na pes-


de três formas diferentes em uma barra- quisa quanto na explotação e no benefi-
9 - Materiais naturais de construção 1 271

ciamente do material pétreo varia muito possível e, nesse caso, deve-se cotejar as
para os casos de pedreira e de cascalheira. localizações passíveis de definir e optar
Aqui não serão analisadas as metodolo- por aquela que produz um menor impacto
gias aplicadas para a obtenção do material ambiental, o que será motivo de maior
pétreo produzido nas próprias escava- discussão no Cap. 11.
ções realizadas na obra, principalmente As condições de explorabilidade devem
ao longo de canais e obras subterrâneas, considerar como mais importantes os se-
pois apenas a cominuição da rocha nessas guintes aspectos: decapeamento do estéril
escavações é semelhante ao que será des- e acesso. O primeiro refere-se à remoção
crito para as pedreiras. As escavações são de todo o regolito que recobre a rocha sã,
realizadas segundo critérios específicos incluindo o solo e o saprólito. Como o
para tais obras . custo dessa remoção pode inviabilizar a
explotação num cotejo entre diferentes
a) Pedreira
alternativas, é imprescindível nessa fase
Pesquisa quantificar o volume desse decapeamento,
A pesquisa de uma pedreira, indepen- como descrito nos itens 6.2 e 6.3. O acesso
dentemente do fim a que se destinará o também é de grande importância na ava-
material pesquisado, deve, em princípio, liação da explorabilidade de uma pedreira,
satisfazer às condicionantes relacionadas pois a travessia de rios, córregos e áreas
em 9.1. Nessa fase, porém, as principais pantanosas pode representar um custo que
preocupações do projetista devem ser: inviabilize a utilização de uma pedreira.
localização, condições de explorabili- Nessa fase, uma boa investigação iniciada
dade, volume disponível e características com fotointerpretação e concluída com
do material. geologia de campo poderá caracterizar a
A localização deve levar em conta dois viabilidade dos acessos escolhidos.
aspectos fundamentais: custo de trans- O volume disponível é importante mas
porte e meio ambiente. Como já citado não restritivo, e isso porque, se o volume
anteriormente, a grande influência do de uma determinada pedreira não for
transporte no custo da utilização desses suficiente para as necessidades da obra,
materiais exige a maior aproximação pode-se complementá-lo com outra(s) pe-
possível da pedreira em relação à obra a dreira(s). É, todavia, importante definir
construir. Por outro lado, a redução do qual o volume a explotar, no caso mais
impacto ambiental provocado pela explo- comum em que a pedreira possui uma di-
ração dessas pedreiras recomenda como mensão muito superior às necessidades da
preferencial a sua localização a montante obra. Nesses casos, deve-se pesquisar para
da barragem, em cota inferior ao nível explotação um volume correspondente
máximo do reservatório, pois a escavação a 1,5 do volume previsto para utilização
realizada seria totalmente encoberta após na obra, considerando as perdas no be-
conclusão da obra e enchimento do reser- neficiamento e as eventuais deficiências
vatório. Obviamente, nem sempre isso é geológicas da pedreira.
272 1 Geologia de Barragens

Por fim, a caracterização do mate- uma boa definição da malha de furos e de


rial a explotar deve ser bem definida na uma locação desses furos detalhada com
pesquisa de uma pedreira, através da topógrafo. A escolha da malha de furos
realização de ensaios laboratoriais em depende de inúmeros fatores, como: grau
amostras coletadas por meio de fogachos de fraturamento da rocha, direção das
na rocha sã ou de testemunhos das son- descontinuidades do maciço rochoso,
dagens realizadas. No item 9.2.3 serão padrão de fragmentação desejado, risco
definidos os ensaios necessários a essa ca- de acidentes em razão de ultralançamen-
racterização. tos , explosivo utilizado etc. A Fig. 9.1
mostra um exemplo de plano de fogo para
Explotação explotação de uma pedreira, sendo com-
As operações envolvidas na explotação plementada por uma planilha (Tab. 9.1)
de uma pedreira incluem duas etapas: de- na qual se acham definidos os símbolos
senvolvimento e desmonte. apresentados na figura . Observa-se nessa
No desenvolvimento é efetuada apre- planilha que o volume desmontado é uma
paração para a explotação, que envolve função da razão de carregamento e da
as seguintes atividades: remoção do es- perfuração específica, que, por sua vez,
téril, construção de acesso às bancadas e dependem da carga aplicada por explo-
frentes de escavação, abertura de praças sivo no furo e da geometria da malha de
de operações, instalação da unidade de furos.
processamento, instalação do sistema de No desmonte secundário, os blocos
captação de água, instalação de subesta- podem ser reduzidos com a utilização de
ção elétrica e rede de energia, instalação fogachos , mediante o uso de rompedor hi-
do sistema de ar comprimido e instalação dráulico ou de martelete.
de sistema de drenagem superficial.
O desmonte pode ser primário e se- Beneficiamento
cundário. No desmonte primário, faz-se O beneficiamento dos blocos resul-
a escavação do maciço rochoso in situ, tantes do desmonte em uma pedreira
resultando em blocos de dimensões varia- somente será necessário se esse material
das. Caso ocorram blocos com dimensões for utilizado na barragem como elemento
superiores ao requerido, procede-se ao filtrante ou como agregado graúdo no con-
desmonte secundário desses blocos. creto. Como enrocamento ou no rip-rap, os
O desmonte primário deve ser feito em blocos serão aplicados nas suas dimensões
bancadas, que , além de propiciar maior naturais e variadas. O beneficiamento
segurança aos operários, possibilitam a consiste na fragmentação ou cominui-
utilização de perfuratrizes sobre carre- ção da rocha desmontada e na seleção
tas. As perfuratrizes usadas são do tipo granulométrica dos fragmentos obtidos.
pneumático ou hidráulico, esmagando a A fragmentação é realizada por meio de
rocha por percussão. A eficiência do des- britadores - daí o processo ser denomi-
monte depende fundamentalmente de nado britagem - e em estágios sucessivos.
9 - Materiais naturais de construção 1 273

_________________ ___ __ Pé do talude superior___________________ _

Retardo de 20 MS
I
A' Retardo
de 30 MS

\uro inicial
\Retardo de 20 MS E
A

Topo do talude inferior


Malha do tipo pé de galinha
A

T Tampão

Banana
Coluna
Banana
Granulado

Carregamento do furo

ao transversal

FIG. 9 .1 Plano de fogo para desmonte de uma pedreira (projeto do autor)

cada um com equipamentos adequados à lantes, para as pilhas de estoque, de onde


granulometria pretendida. serão encaminhadas para a obra.
Em um primeiro estágio, denominado Os fragmentos selecionados pela pe-
britagem primária, o equipamento utili- neira vibratória formam os seguintes tipos
zado é um britador de mandíbulas (mais de brita, em função de sua granulometria:
comum) ou giratório. Os fragmentos resul-
Brita O: 4,8a 9,5 mm
tantes dessa britagem são encaminhados
por esteiras rolantes aos britadores secun- Brita 1: 9,5 a 19,0 mm
dários (geralmente cônicos ou giratórios), Brita 2: 19,0 a 25,0 mm
num processo denominado rebritagem. Brita 3: 25,0 a 50,0 mm
Os fragmentos resultantes da rebritagem Brita 4: 50,0 a 76,0 mm
são encaminhados por esteira rolante até Brita 5: 76,0 a 100,0 mm
uma peneira vibratória, onde as diferentes
granulometrias da brita são produzidas O produto que passa na peneira de
e encaminhadas, ainda por esteiras ro- 4,8 mm é denominado pó de pedra ou
274 1 Geologia de Barragens

TAB. 9 .1 Planilha do plano de fogo da Fig. 9.1


Parâmetro Símbolo Cálculo Unidade Valo r Obs .
Altura da bancada H m 12 ,50 Input
Nº de fileiras F um 2,0 Input
Nº de furos por fileira um 10,0 Input
Nº total de furos Ff F.f um 20,0 Calculado
Diâmetro do furo d d(") = H(m)/ 4 pol. 3,0 Calculado
Inclinação do furo com a vertical a grau 1O Input
Afastamento da frente de bancada A A(m) = d( " ) m 3 ,0 Calculado
Afastamento entre linhas A' A / cosa m 3,0 Calculado
Espaçamento entre furos E m 8,0 Input
Largura da frente de fogo Ef E.f m 80,0 Calculado
Densidade do explosivo granulado Yg g/cm3 0,85 Determin.
Densidade do explosivo encartuchado Ye g / cm3 1,40 Determin.
Densidade da rocha Y, g / cm 3 2 ,50 Determin.
Profundidade do furo na bancada H / cos a m 12 ,70 Calculado
Sobrefuração s 0 ,3A' m 0,9 Calculado
Profundidade do furo total m 13 ,60 Calculado
Tampão T m 3 ,0 Calculado
Comprimento da carga de coluna Lc m 6,70 Calculado
Comprimento da carga de fundo Lf 1,3A' m 3,90 Calculado
Razão linear da carga de coluna qc Yg.Vg/ Lc (* ) kg/m 3,75 Calculado
Razão linear da carga de fundo qf kg/ m 4,50 Calculado
Carga de coluna Qc Lc .qc kg 25 ,12 Calculado
Carga de fundo Qf Lf.qf kg 17,55 Calculado
Carga total do furo Q Qc+ Qf kg 42,67 Calculado
Volume de rocha desmontado p/ furo V A.E .H m3 / furo 300 ,0 750 t/furo
Razão de carregamento RC Q/V kg/ m3 0,14 56 g/t
Perfuração específica PE m/m 3 0,042 1,7 cm/t
Volume desmontado mensalmente Vm m3 / mês 24.000 Determin.
Volume desmontado por frente Vd V.Ff m3 6 .000 Calculado
Nº de desmontes por mês por frente Dm Vm/Vd um 4 Calculado
Consumo de explosivo por mês Qm Q .Ff.Dm kg 3.413 Calculado
(* ) Vg - volume preenchido pelo explosivo granulado; Ve - volume preenchido pelo explosivo encartuchado

areia artifzcial, sendo utilizado como agre- b) Cascalheiras


gado miúdo.
Em barragens, as britas mais utilizadas Pesquisa
no concreto são as de número 1 e 2, embora As cascalheiras são resultantes da se-
a brita Oseja usada em alguns concretos es- dimentação fluvial ou marinha de seixos
peciais como acabamento. As britas 3, 4 e de granulação variada. No Brasil, são
5 são utilizadas como elementos filtrantes. mais encontradas as de origem fluvial,
9 - Materiais naturais de construção 1 275

que geralmente se localizam nas bacias de Beneficiamento


inundação dos grandes rios ou ao longo A maior parte das cascalheiras possui
de paleocanais. Em função dessa origem, seixos com granulometria correspondente
deve-se iniciar a pesquisa por um estudo à variação da brita, desde O até 4. Assim,
geológico e geomorfológico, inicialmente dependendo da utilização desse material,
por meio da fotointerpretação e con- se como agregado graúdo no concreto ou
cluindo com investigações de campo. como elemento filtrante, podem ser neces-
Uma vez detectada a possibilidade de sárias uma cominuição dos seixos maiores
existência de um depósito de cascalho, e uma seleção granulométrica conforme
as investigações podem ser detalhadas a especificado para o caso das pedreiras. Evi-
partir de uma prospecção geofísica, como dentemente, antes de proceder à seleção
indicado no item 6.2 . Essa investigação granulométrica, será sempre necessário
poderá ser concluída com sondagens separar em uma cascalheira a matriz are-
rotativas ou com a abertura de poços, de- nosa ou arenoargilosa que geralmente
pendendo da profundidade do jazimento envolve os seixos . Essa separação é geral-
revelado pela geofísica e pela presença do mente feita por meio de lavagem.
nível freático . O importante nessa pes-
9.2.3 Caracterização do
quisa é avaliar o volume disponível do
material pétreo
cascalho e as condições de sua explora-
ção, a fim de que se possa viabilizar a sua A caracterização do material pétreo
explotação. deve adequar-se à finalidade para a qual
esse material se destina, sob pena de rea-
Explotação lizar ensaios desnecessários em alguns
Uma vez que as jazidas de cascalho ge- casos ou deixar de executar ensaios
ralmente se situam nas proximidades de importantes em outros. Serão, assim,
cursos d' água, o maior empecilho para a abordados separadamente os critérios de
sua explotação é o elevado nível freático caracterização para uso da rocha como
comum a essa situação. O rebaixamento enrocamento, elemento filtrante ou agre-
desse nível pode representar um custo gado graúdo para concreto.
que leve ao cotejo com outras soluções
a) Enrocamento
para a obtenção do material pétreo. Caso
haja viabilidade econômica para tal ex- As principais propriedades exigi-
plotação, a escavação deverá ser realizada das de uma rocha a ser utilizada como
com equipamentos adequados às dimen- enrocamento ou rip-rap de barragem
sões da cava a ser aberta, dos manuais até são: resistência mecânica e resistência à
os mais mecanizados. Especial atenção alteração.
deve ser dada à estabilidade dos taludes
abertos no solo, o que exigirá uma análise Resistência mecânica
detalhada, em função das características Pelo fato de a maior parte dos blocos
geotécnicas desse material. empregados em um enrocamento ser bas-
276 1 Geologia de Barragens

tante angulosa, é muito comum ocorrer a A resistência ao cisalhamento é dada pela


fragmentação das bordas desses blocos, coesão (e) e pelo ângulo de atrito (cp), sendo
não apenas no processo construtivo, a rocha tanto mais resistente quanto menor
mas também pelas solicitações sofri- for a influência dos planos de descontinui-
das quando em serviço. Essa quebra de dade (estratificação, xistosidade e fraturas
partículas modifica a distribuição granu- regeladas) sobre esses parâmetros. Assim,
lométrica e pode afetar consideravelmente são mais utilizadas as rochas ígneas, tanto
as características de deformabilidade do ácidas como básicas, nas quais a resistên-
material, podendo influir na sua resistên- cia ao cisalhamento (Ss) oscila entre 150 e
cia ao cisalhamento. 600 kgf/cm 2 , com ângulo de atrito entre
Está comprovado que a resistência me- 45° e 60°. Entre as rochas metamórficas,
cânica de um enrocamento depende de apenas o gnaisse, o quartzito e o metare-
vários fatores, quer ligados ao material nito são indicados.
rochoso, quer ligados ao estado de tensões
triaxial reinante em um enrocamento. - Forma e dist ribuição granulométrica
Entre os fatores relacionados ao material A fo rma dos blocos rochosos depende
pétreo, destacam-se: da estrutura original da rocha. Assim,
as rochas ígneas produzem blocos que se
- Resistência à compressão e ao aproximam da forma cúbica, nos quais
cisalh amento da rocha não há grande diferença entre as dimen-
A resistência à compressão de uma rocha sões comprimento, altura e largura. Essa
depende não apenas da resistência intrín- é a forma ideal para utilização no enro-
seca dos minerais que a compõem, mas camento. Por sua vez, algumas rochas
também de outras propriedades fís icas, metamórficas, como ardósias e xistos, e
como densidade e porosidade. Assim, as sedimentares, como argilitos e folhelhos,
rochas mais densas e menos porosas apre- produzem blocos lamelares ou alonga-
sentam maior resistência à compressão, dos, formas que não apresentam boa
prestando-se melhor para enrocamento. performance como enrocamento. O ideal
Destacam-se para esse fim, por ordem é que , além da forma cúbica, os blocos se
decrescente: as rochas ígneas básicas (ba- apresentem arredondados, pois seriam
salto, anfibolito, gabro, dolerito etc.), com menos expostos à quebra de suas bordas,
resistência à compressão (Se) entre 1.500 porém os blocos arredondados são resul-
e 3.500 kgf/cm 2 ; as rochas ígneas ácidas tantes de transporte fluvial ou glacial e,
(granito, diorito, riolito, sienito etc.), com nesses casos, podem ter afetada a sua ca-
Se entre 1.000 e 2.500 kgf/cm 2 ; e algumas racterização química.
rochas metamórficas, como quartzito, Quanto à distribuição granulométrica, é
gnaisse e metarenito, com Se entre 800 e importante haver uma boa gradação nas
2.000 kgf/cm 2 (nesse caso, deve-se obser- dimensões dos blocos, pois os de menor
var a influência de planos de xistosidade tamanho propiciam um maior embrica-
sobre a resistência à compressão). mento dos maiores, assegurando uma
9 - Materiais naturais de construção 1 277

melhor estabilidade estrutural do enroca- materiais angulosos e uniforme-


mento. Se a granulometria for uniforme, mente graduados.
os blocos de menor dimensão apresenta- • Para um dado tamanho de partícula,
rão maior resistência. o ângulo de atrito diminui quando
Com relação ao estado de tensões aumenta a pressão de confinamento.
existente no enrocamento, está provado
que o aumento das tensões confinantes Os ensaios recomendados para deter-
nas grandes barragens reduz o ângulo minar a resistência dos blocos quanto à
de atrito dos blocos que o constituem. quebra no enrocamento são:
Marachi et al. (apud USBR, 1973, p. 306- • Esmagamento
-309) fizeram experiências com blocos • Cisalhamento direto
de argilitos, basaltos e anfibolitos em • Abrasão Los Angeles
condições variadas de arredondamento,
distribuição granulométrica e tensões de Todos esses ensaios acham-se descri-
confinamento, e chegaram a resultados tos no item 7.2.2 .
semelhantes para essas três rochas , sin-
tetizados na Fig. 9.2. Dessas pesquisas, Resistência à alteração
podem-se t irar as seguintes conclusões: A resistência à alteração, que reflete a
• Para uma dada pressão de durabilidade de uma rocha, depende de
confinamento, o ângulo de atrito é fatores intrínsecos à própria rocha e
reduzido com o aumento do tama- de fatores externos ou ambientais. Entre
nho das partículas do bloco. os fatores internos, destacam-se dois: na-
• Mater iais compostos de partícu- tureza mineralógica e descontinuidades
las bem graduadas e arredondadas do maciço rochoso. Os diferentes minerais
apresentam resistência maior que que constituem os vários tipos de rocha

55
V,
::,
~ ......... o

-- -----
b.O
1
o ~

-----
E
~ ........ o -+
.!: □ ---=- cr, = 3 O kgf/cm'
.8 45 ..- 1
·c 1 1
-:;; -o - + _ - cr, = 140 kgf/cm'
<1.)
.::, -o- 1
.2
::,
- +- 1 1
b.O n- cr, = 420 kgf/cm'
e □ - cr, = 6 50 kgf/cm 2
,<(

35 1
0 ,3 0,5 1,0 2,0 3,0 6, 0 10,0

Tamanho máxi mo das partículas - po legadas

Efeito do tamanho das partículas e da pressão de confinamento sobre o ângulo de atrito interno
FIG . 9 . 2
em blocos de enrocamen to
Fonte: modificado de Marachi et ai. (apud USBR , 1973).
278 1 Geologia de Barragens

passíveis de ser utilizados em um enro- A alteração de uma rocha afeta todas as


camento possuem propriedades muito suas propriedades, mas as ações sobre
distintas com relação à alteração física ou as seguintes propriedades podem ser con-
química. Como exemplo, pode-se compa- sideradas mais significativas para um
rar o quartzo, um dos mais resistentes à enrocamento: coerência, massa específica
alteração química, com o piroxênio, um aparente, porosidade aparente, absorção
dos menos resistentes a esse tipo de altera- d ' água e resistência mecânica.
ção. As descontinuidades funcionam como A avaliação da adequação de uma
meio de infiltração da água, um dos agen- rocha para enrocamento, em função
tes externos que favorecem a alteração da alteração já ocorrida, pode ser feita
dos minerais. Entre os fatores externos, por meios táteis e visuais, ou através de
destaca-se o clima, por meio das variações índices resultantes de ensaios laborato-
de umidade e temperatura, responsáveis riais. No primeiro caso, foram citadas
pela intemperização das rochas. no item 4.1.2 as classificações do estado
Os mecanismos de alteração de uma de alteração de uma rocha, desde sã (Al)
rocha por intemperismo podem ocorrer até muito alterada (A4), e do grau de coe-
por meio da desagregação ou da decom- rência, desde coerente (Cl) até incoerente
posição. A desagregação é um mecanismo (C4). Os principais índices resultantes de
físico que resulta na progressiva indivi- ensaios laboratoriais abordados no Cap. 7
dualização dos constituintes minerais e descritos por Frazão (2002) são:
da rocha, embora sem necessariamente
Índice de massa específica aparente
modificar a sua natureza. Nesse processo
(Ia)
é mais comum a incidência dos seguin-
tes fenômenos: dilatação e contração dos
minerais em função da variação de tempe-
ratura; e expansão de sais por cristalização onde:
ou por absorção d' água por argilominerais. 80 - massa específica aparente da rocha sã
A decomposição é um mecanismo químico 8x - massa específica aparente da rocha
que resulta na modificação progressiva da alterada
natureza dos minerais, sem implicar a sua
Índice de porosidade aparente (111)
individualização. Dominam nesse pro-
cesso os seguintes fenômenos: dissolução, = 11x -110
111
hidratação, hidrólise e reações de oxirre- 11x
dução. Pode ainda ocorrer a superposição onde:
dos dois mecanismos, quando a alteração 17 0 - porosidade aparente da rocha sã
se dará por um processo físico-químico 11x - porosidade aparente da rocha alterada
de intensidade mais acentuada. Em
Índice de absorção d'água (Ia,)
climas áridos e semiáridos, predomina a
desagregação, e nos climas tropicais e sub-
tropicais, a decomposição.
9 - Materiais naturais de construção 1 279

onde: tos no item 7.2.2k. Esses ensaios devem


a0- absorção d'água da rocha sã ser precedidos de uma minuciosa carac-
nx - absorção d'água da rocha alterada terização mineralógica, inclusive ao nível
microscópico, para avaliar a presença
Índice de resistência mecânica (IR)
de minerais facilmente decomponíveis
quando submetidos ao rigor das ações
intempéricas e das variações contínuas
onde: artificiais de umidade.
R0 - resistência à compressão da rocha sã
b) Elemento filtrante
Rx - resistência à compressão da rocha al-
terada Como elemento filtrante, o material
pétreo pode ser utilizado através do cas-
Para todos esses índices, a variação calho ou do agregado graúdo proveniente
vai de O (rocha sã) a 1 (rocha alterada). da cominuição do material desmontado
Com base nas equações apresentadas, de uma pedreira. Em ambos os casos, são
observa-se que a alteração reduz a massa aplicáveis as mesmas exigências citadas
específica aparente e a resistência mecâ- para o uso em enrocamento, embora algu-
nica da rocha, e aumenta a porosidade e mas considerações se façam necessárias,
a capacidade de absorção d'água da rocha. em função dos seguintes aspectos dife-
Todas essas metodologias de avaliação renciados:
da alteração referem-se ao estado atual da • enquanto no enrocamento os frag-
rocha. Quando, todavia, se avalia a poten- mentos podem ultrapassar os
cialidade de uma determinada rocha ser 250 mm de diâmetro máximo, como
alterada no futuro, em consequência de elemento filtrante esse diâmetro
sua exposição às intempéries naturais e varia entre 25 e 100 mm;
das condições de funcionamento do enro- • pelo menor tamanho dos fragmen-
camento, principalmente as decorrentes tos, podem ser utilizados seixos
das alternâncias de molhagem e secagem arredondados (cascalho) como ele-
do enrocamento, define-se a alterabili- mento filtrante;
dade da rocha. • as pressões de confinamento são
Para caracterizar a alterabilidade de maiores na zona intermediária do
uma rocha ao ser usada como enroca- maciço enrocado, onde se situa a
mento, é necessário conhecer muito bem, zona filtrante;
além do seu atual grau de alteração, todos • a zona filtrante não está sujeita às
os efeitos que poderão ser sofridos por variações de umidade impostas ao
essa rocha ao ser submetida às condições talude de montante de um enroca-
ambientais impostas pela obra em que mento;
será empregada. O conhecimento dessas • quando utilizado o cascalho como
condições permitirá a escolha do melhor elemento filtrante, o quartzo que
tipo de ensaio de sanidade entre os descri- constitui os seus seixos apresenta
280 1 Geologia de Barragens

maior resistência mecânica e à alte- material grosseiro constituinte das faces


ração do que qualquer outro tipo de de montante e jusante dessa barragem.
material pétreo. Logo, a curva granulométrica da zona fil-
trante deve situar-se rigorosamente entre
Nota-se, assim, que apenas um fator as curvas granulométricas do material
atua mais desfavoravelmente na zona grosseiro e do material mais fino que lhe
filtrante em relação ao restante do en- servem de contato imediato. A Fig. 9.3
rocamento, que é a pressão confinante, mostra como devem situar-se essas curvas
a qual poderá reduzir o ângulo de atrito granulométricas.
interno desses materiais . Todavia, essa
c) Agregado graúdo para concreto
diminuição teria reduzida influência na
estabilidade da zona filtrante , pelo fato Como agregado graúdo a ser utilizado
de esta se achar protegida contra ruptura no concreto, o material pétreo está sujeito
por cisalhamento, pelo envolvimento do a maiores exigências do que nas utili-
enrocamento restante. Deve-se levar em zações já descritas. Em princípio, essas
conta também que a redução do tamanho exigências podem ser agrupadas em três
das partículas aumentaria o ângulo de classes de propriedades : físicas, mecâni-
atrito interno, como mostrado na Fig. 9.2, cas e químicas . O Quadro 9.1 relaciona as
o que compensaria a sua redução pelo au- propriedades de cada uma dessas classes,
mento da pressão confinante. Esse fator bem como a norma da ABNT que regula
é ainda mais positivo quando o cascalho essas propriedades, conforme já descrito
é utilizado na zona filtrante, em função no item 7.2.
do arredondamento de seus seixos. Fi-
Propriedades físicas
nalmente, esse fator deve ser considerado
positivo com relação à alterabilidade do Petrografia
material rochoso, pois na zona filtrante é O estudo petrográfico inclui dois
menor a variação de umidade, fator este diferentes aspectos: constituição mine-
mais significativo se o cascalho for uti- ralógica e estrutura. Na constituição
lizado nessa zona. Assim, as exigências mineralógica, devem-se observar os
mencionadas para enrocamento poderão seguintes aspectos: composição minera-
ser um pouco minimizadas para a sua lógica (minerais essenciais, secundários e
zona filtrante. suas devidas proporções); textura (forma e
Deve-se, contudo, observar uma exi- arranjo dos minerais); planos de fraqueza
gência específica para a zona filtrante , (clivagem e microfissuração); e estado de
que é a granulometria. O elemento fil- alteração. A composição mineralógica é
trante (agregado graúdo ou cascalho) muito importante por três razões: cada
ficará localizado entre um material mais mineral possui uma resistência mecânica
fino situado no núcleo da barragem - que diferente; alguns minerais apresentam
geralmente inclui um material arenoar- elevada alterabilidade, ao contrário de
giloso e um agregado fino (areia) - , e um outros; alguns minerais, chamados de de-
9 - Materiais naturais de construção 1 281

Tamanho das peneiras


200 100 50 30 166 4 3/8" 3/4" 1 ½" 3" 6" 12" 24 "
100 ~ ~ ~-- - /
/ /
/
/

80
/
/
l
/
lJ1 /
V) I
/
"'a. I
/
I
(l)
:::, 60 l
o- /
/
1 /
E
(l) I
I
b.O I
I
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I
(l) I
~ I
I
(l) I
CL I I
20
,, ,,'
- ,.
- - - -.:----.:.:..J. _::_ - - -
...........
,, ~ /

---
o 0 ,005 0,01 0,05 0,1 0 ,5 1,0 5 10
Tamanho das partículas - polegadas

- - Material arena-argiloso - - - Agregado graúdo


- - Agregado miúdo - - - Enrocamento

FIG. 9 .3 Dimensionamento da curva granulom ét rica da zo na filt rante (agregado graúdo ou cascalho) em
uma barrage m de enrocamento

letérios, podem interagir com os fatores


QUADRO 9 .1 Propriedades do agregado
climáticos ou com substâncias presentes graúdo para concreto
no cimento, com risco de deterioração do Classe Propri edade Norma ABNT
concreto. A forma e o arranjo dos minerais Petrografia NBR 7389
podem influir na resist ência do concreto, Granu lometria NBR 7217
quando a grande maioria dos minerais Físicas Massa específi ca,
NBR 6458
possui forma alongada e dispõe-se arran- absorção e porosidad e
Forma NBR 7809
jada em uma mesma direção. Os planos de
Abrasão NBR NM 51
fraqueza podem comprometer seriamente Mecânicas
Esmagamento NBR 9938
a resistência do concreto, quando tais
Reatividade NBR 15577-4
planos se dispõem em uma determinada
Qu ímicas Sais solúveis NBR 991 7
posição no interior da massa rochosa. Fi-
Alterabil idade NBR 12696
nalmente, a alteração de alguns minerais
reduz a resistência do agregado, influindo específicos. Na macroescala, observações
decisivamente na própria resistência do visuais da rocha, auxiliadas com o uso
concreto. do canivete, da lupa e, eventualmente, de
O estudo de todas essas caracterís- ácido clorídico, já proporcionam uma boa
ticas mineralógicas deve abranger a informação sobre essas características. Na
macroescala, a microescala e, eventual- microescala, utilizam-se os recursos da
mente, ser complementado por ensaios microscopia ótica em lâminas delgadas da
282 1 Geologia de Barragen s

rocha. Se restar alguma dúvida, pode-se entre a massa das partículas sólida (M) e
ainda recorrer a ensaios como o raio X e o volume aparente da rocha (Va), ou seja:
às análises térmica diferencial e química.
Com relação às estruturas, devem-se M 3
Pa =-(g / cm )
observar as orientações mineralógicas que Va
conferem à rocha formas tabulares, sejam
consequentes da estratificação ou da xis- A porosidade exprime a relação entre o
tosidade. Tais estruturas constituem volume de vazios (Vv) e o volume aparente
planos de fraqueza no agregado graúdo, da rocha (Va), expressa em porcentagem,
além de influenciar sua forma, como será ou seja:
discutido mais adiante.

Granulometria
No item 9.2.2a foi mencionado que A absorção (aA) representa a capaci-
o agregado graúdo utilizado no concreto dade da rocha em absorver e reter água
possui granulometria variável desde nos seus poros, e é obtida pela diferença
9,5 mm até 25,0 mm. Dentro dessa entre o peso da rocha saturada (M2) e o
variação granulométrica, há a possibili- peso da rocha seca (M1), relacionada ao
dade de utilizar um agregado uniforme, peso da rocha seca (M1), sendo expressa
com estreita variação granulométrica, em percentagem, como segue:
ou um agregado heterogêneo, com larga
variação granulométrica. Essa última al-
ternativa deve ser a escolhida, pois uma
granulometria variada reduz o índice de Os ensaios para definição dessas pro-
vazios, aumentando a compacidade do priedades foram descritos no item 7.2.2.
concreto e sua consequente resistência, É importante ressaltar que a densidade
além de representar uma economia de ci- influi diretamente na resistência da rocha,
mento. A análise granulométrica descrita razão pela qual as rochas mais densas são
no item 7.2.la permite definir a melhor mais recomendáveis como agregado para
gradação para esses agregados . concreto. Nesse aspecto, as rochas ígneas
mais alcalinas (2,9 < Pa < 3,5 g/cm 3) pro-
Massa específica, porosidade e absorção piciam melhores agregados que as ácidas
A relação entre a massa dos minerais e (2,6 < Pa < 2,8 g/cm 3). Por outro lado,
o volume que ocupam em uma rocha defi- deve-se observar que as primeiras pos-
nirá a massa específica real, ou absoluta, suem minerais com maior potencialidade
conceito de pouca aplicabilidade prática, de alteração e, quando isso ocorre, reduz a
pois considera que a rocha não possui densidade da rocha e, consequentemente
vazios. Assim, emprega-se na prática o sua resistência.
conceito de massa específica aparente Como a porosidade é inversamente pro-
(pa), ou densidade, que exprime a relação porcional à densidade, rochas com elevada
9 - Materiais naturais de construção 1 283

porosidade devem ser evitadas no em- de números (Tab. 9.2) e graficamente


prego para concreto, pois propiciam maior (Fig. 9.5).
absorção d'água e de cimento na confec-
ção do concreto. Em geral, a porosidade TAB. 9.2 Classificação da forma
dos agregados
das rochas ígneas varia entre 0,4% e 0,8%,
Relações entre as dimensões Classificação
propiciando absorções entre 0,1% e 0,4%,
B/A C/B da forma
o que é plenamente aceitável para uso no
> 0,5 > 0,5 Cúbica
concreto. Esses números podem ser muito
< 0,5 > 0,5 Alongada
aumentados se a rocha encontrar-se alte-
> 0,5 < 0,5 Lamelar
rada, quando então se deve evitá-la para
Alongada-
< 0,5 < 0,5
uso no concreto. As rochas sedimentares, -lamelar
como o calcário, podem apresentar poro-
1,0
sidade muito variável, o que resultará em

o
elevadas absorções d'água e perda de re-
sistência do agregado. Obviamente essa
situação mudará sensivelmente se o calcá-
rio encontrar-se metamorfizado.

Lamelar Cúbica
~ 0,5

~ ~
Forma
Quando a rocha é fragmentada para
formar o agregado graúdo, seus fragmen-
tos podem assumir formas e dimensões
variadas, em função da textura dos mi- Alongada-lamelar Alongada
o
nerais e da estrutura da rocha. A maneira o 0,5 1,0
C/8
mais simples de classificar os fragmentos
com relação à forma é avaliar as dimen- FIG. 9.5 Esquema gráfico das formas dos agregados
sões médias do seu comprimento, altura e Fonte: modificado de Frazão (2002).
largura (Fig. 9.4).
As relações B/ A e C/ B permitem clas- As rochas maciças, como as ígneas,
sificar a forma dos agregados por meio tendem a apresentar fragmentos com
forma próxima à cúbica, e as rochas es-
tratificadas ou bandadas, como alguns
gnaisses, xistos, quartzitos, ardósias e
alguns arenitos, tendem a formar agrega-
dos lamelares ou alongados. O tamanho
do agregado também influi em sua forma;
assim, mesmo as rochas maciças tendem a
apresentar formas lamelares e alongadas
com a diminuição do fragmento produ-
FrG. 9.4 Dimensões de um fragmento de agregado zido.
graúdo
284 1 Geologia de Barragens

Pode-se ainda utilizar para essa clas- da resistência dos fragmentos rochosos,
sificação o índice de forma, que expressa ou agregados graúdos, que o constituem.
a relação comprimento/espessura do Como a rocha atua em fragmentos, será
fragmento. Se esse índice for próximo inócuo realizar o ensaio de compressão
de 1,0, considera-se o fragmento como na própria rocha, pois os resultados não
cúbico; caso contrário, o fragmento tende refletiriam o comportamento dos frag-
a ser achatado. mentos que seriam utilizados no concreto.
Para uso como agregado no concreto, a Assim, considerou-se mais representativo,
forma cúbica é a recomendada, pois dará em termos de resistência desses agrega-
uma maior uniformidade à resistência do dos, definir a porcentagem de material
concreto. Formas lamelares ou alongadas desagregado quando um certo volume de
podem formar planos de fraqueza, redu- agregado fosse solicitado por um esforço
zindo assim a resistência do concreto. compressivo. Daí a padronização do ensaio
de esmagamento, descrito no item 7.2.2d,
Propriedades mecânicas
para definir essa resistência. Para uso como
Abrasão agregado graúdo no concreto, recomenda-
A abrasividade é a propriedade que -se que a rocha possua uma porcentagem
uma rocha possui de resistir à remoção de esmagamento inferio_r a 30%.
progressiva de constituintes de sua su-
Propriedades químicas
perfície quando em contato com outros
materiais . No concreto, o agregado graúdo Reatividade
geralmente fica bem protegido contra a Reatividade química é a propriedade
abrasão ou o desgaste que esses contatos apresentada por alguns minerais de reagir
podem favorecer; porém, o contato contí- com certas substâncias do meio que os
nuo, por exemplo, causado pela passagem envolve. A maior parte das reações que
de materiais de natureza variada, carre- ocorrem entre esses minerais, quando
ados pelas águas que vertem sobre uma presentes no agregado, e o cimento
estrutura de concreto (vertedouro), pode são deletérias, podendo causar inúme-
expor esses agregados e promover even- ros prejuízos ao concreto. Como essas
tuais riscos de abrasão e desgaste. Assim, reações sempre envolvem substâncias alca-
recomenda-se a realização de ensaios "Los linas do cimento, são denominadas reações
Angeles" na rocha que fornecerá agregados álcali-agregados (RAA), e os tipos mais
para uma barragem, conforme descrito no frequentes são: reação álcali-sílica, reaçã
item 7.2.2j, devendo ser evitados os agre- álcali-silicato e reação álcali-carbonato.
gados que propiciem perdas superiores a A reação álcali-sílica ocorre quana
50% nesses ensaios. um agregado que contém minerais de-
letér ios à base de sílica livre entra e
Esmagamento contato com cimento com teor de álc.,__-
A resistência à compressão de um con- lis superior a 0,6% de Na 2 0 . Essa reaÇ
creto não armado dependerá basicamente forma silicatos alcalinos com grane:::
9 - Materiais naturais de construção 1 285

volume molecular, o que pode provocar barragem principal. Esse tipo de deterio-
expansões significativas no interior do ração tem sido vulgarmente denominado
concreto, com possibilidade de causar sua "osteoporose do concreto", por analogia à
ruptura ou deformar estruturas metáli- patologia que acomete os ossos humanos.
cas que estejam em seu contato. A sílica A reação álcali-silicato é causada
nem sempre se apresenta potencialmente por minerais silicáticos encontrados em
ativa, o que depende do grau de cristali- rochas metamórficas, como gnaisses, gra-
zação em que se formou . Assim, enquanto nulitos e quartzitos, e em rochas ígneas,
o quartzo, formado a menores profun- como o granito. São reações mais lentas e
didades, não é reativo, outras formas mais complexas que as álcali-sílicas, e são
cristalizadas a altas temperaturas, como responsáveis pela deterioração do con-
a tridimita e a cristobalita, são geralmente creto, porém sem provocar expansões que
reativas . Outras formas de sílica que não possam causar sua ruptura. As formas de
apresentam nenhum grau de cristalização detecção e prevenção são as mesmas cita-
identificável, como a opala e a calcedônia, das para a reação álcali-sílica.
são também passíveis de apresentar essas A reação álcali-carbonato somente
reações expansivas. Para evitar tais re- ocorre quando os álcalis do cimento
ações, deve-se usar uma das seguintes entram em contato com agregados de cal-
alternativas: cário contendo dolomita, por menor que
• evitar rochas que contenham mine- seja a participação desse mineral. Essas
rais reativos; reações são muito expansivas, razão pela
• utilizar cimento com menos de 0,6% qual representam grande risco para o
de álcalis; concreto. As maiores expansões ocorrem
• utilizar pozolanas, que são materiais quando a calcita e a dolomita se encontram
inibidores da reação. na mesma proporção. Nesse caso, não
adianta usar a pozolana, mas apenas re-
Os ensaios de reatividade química duzir o teor de álcalis do cimento. O uso
potencial descritos no item 7.2.21 são im- do calcário como agregado deve, portanto,
portantes para caracterizar a presença ser precedido de uma análise química para
desses minerais reativos, pois já são co- determinar a presença da dolomita.
nhecidos inúmeros casos de deterioração
do concreto em barragens brasileiras, Sais solúveis
como na hidrelétrica de Moxotó, no rio Alguns minerais presentes nos agre-
São Francisco, onde a expansão do con- gados podem liberar sais quando em
creto ovalizou uma seção circular do presença de água, os quais podem promo-
túnel de acesso às turbinas , danificando ver mudanças na pega e no endurecimento
as hélices desse mecanismo. Também a do cimento, além de provocar a deteriora-
barragem de Tapacurá, para controle de ção do concreto. Essa deterioração pode
enchentes em Pernambuco, acusou dete- ocorrer por meio de reações indesejáveis
rioração do concreto em vários blocos da com o cimento e por ataque às ferragens
286 1 Geologia de Barragens

do cimento. Os principais compostos res- ocorrido a reação entre o sulfato da pirita


ponsáveis pela formação desses sais são: e os carbonatos existentes na própria
chumbo, zinco, óxidos de ferro, sulfetos, rocha. Tal fato levou a desconsiderar as al-
sulfatos e cloretos. Sais de chumbo e de ternativas de barragens de enrocamento
zinco solúveis retardam a pega. Os com- com face de concreto e de concreto com-
postos ferrosos podem provocar variação pactado, que foram desenvolvidas como
volumétrica excessiva, enquanto os férri- mais viáveis nessa fase de pesquisa, para
cos reagem com a cal, mas sem produzir optar por barragem de terra, cujo projeto
efeitos prejudicais. Sulfetos como a pirita foi desenvolvido na fase de projeto básico
e a marcassita provocam expansões, prin- e levado à construção em seguida. Essa
cipalmente na ocorrência de umidade mudança evitou sérios problemas futuros,
e temperatura elevadas. Esses sulfetos caso fosse desenvolvida uma das alterna-
também podem, em meio de alta alcali- tivas pré-selecionadas na viabilidade, pois
nidade, produzir o ácido sulfídrico, que certamente os carbonatos do cimento
ataca o aço das armaduras, tornando-o reagiriam com o sulfato do agregado, pro-
frágil. O sulfato ferroso se decompõe vocando a deterioração do concreto.
em hidróxido, que reage com a alumina Para evitar a presença de sais indese-
do cimento, causando reações expansivas jáveis, torna-se necessária uma pesquisa
com deterioração do concreto. Os cloretos micropetrográfica muito detalhada, como
provocam alteração na pega e na veloci- anteriormente descrita.
dade de endurecimento, mas não reagem
com os componentes do cimento, razão Alterabilidade
pela qual não provocam degradação do A alterabilidade, definida como a po-
concreto. Todavia, esses cloretos podem tencialidade maior ou menor da rocha
atacar a ferragem do concreto armado, o em se alterar física ou quimicamente,
que reduz a seção do aço e provoca expan- já foi abordada no item 9.2.3a, com re-
sões localizadas no concreto. lação ao enrocamento, inclusive com a
Uma das evidências da presença de indicação dos ensaios necessários à sua
sais no concreto é o surgimento de eflo- determinação.
rescências dos seguintes tipos: carbonato Para os agregados graúdos para con-
de cálcio, sulfato de cálcio e carbonatos creto, são válidas todas as consideraçõe_
e sulfatos alcalinos. Um exemplo desse ali feitas, pois à medida que a rocha Sê

tipo de eflorescência ocorreu na barragem altera, vai perdendo resistência meci-


de Irapé (MG). Ao final da fase de viabi- nica, o que, consequentemente, reduz .;;.
lidade, foram constatadas eflorescências resistência do próprio concreto. Como re-
sobre os testemunhos de sondagens, cuja ferência de sanidade do agregado graúc.
análise revelou tratar-se de sulfato de para concreto, recomenda-se rejeitar agre
cálcio. Ocorre que a rocha das fundações, gados que propiciem perdas maiores q ::
onde foram executadas essas sondagens, 10% em peso no teste de sanidade co-
era um micaxisto contendo pirita, daí ter sulfato de sódio.
9 - Materiais naturais de construção 1 287

9. 2.4 Apresentação dos mente ao eixo barrável. Nas indicações


resultados gerais são apresentadas informações que
facilitam a análise ambiental, bem como
Deve-se concluir a pesquisa de ma- elementos importantes para a negociação
-erial pétreo com a apresentação dos com o proprietário do local em que será
resultados obtidos, de forma a fornecer as instalada a pedreira. Nos resultados de
informações necessárias para que o pro- ensaios são apresentados valores médios
;etista avalie as possibilidades técnicas e para cada ensaio, uma vez que a rocha sã
econômicas de utilização dos materiais não apresenta muita variação nesses re-
pesquisados. Assim, o texto técnico deve sultados.
incluir um resumo dos resultados médios Para cascalheira, é necessário apre-
de cada local estudado, seja pedreira ou sentar as curvas granulomét ricas de cada
cascalheira, em forma de ficha, e no anexo jazida estudada, conforme o exemplo
do relatório apresentar em detalhes os apresentado na Fig. 9.7.
resultados de cada ensaio, por meio de As características físicas desses mate-
formulários específicos do laboratório. riais devem ser resumidas em quadros,
Na Fig. 9.6 apresenta-se um exemplo de como exemplificado nas Tabs. 9.3 e 9.4.
uma ficha-resumo para a pesquisa de Da mesma forma, para cada cascalheira,
uma pedreira. os elementos quantitativos devem ser sin-
Observe-se que o afloramento acha-se tetizados em um quadro, como indicado
esquematizado e amarrado topografica- na Tab. 9.5.

1
Indicações gerais
Material Topografia
Localização 1
Escala: 1:500
Distância do eixo
Proprietário
Endereço
~ Benfeitorias
-~ Tipo de vegetação
-o o
<l) Area
Q_
<l) ""u, Volume do expurgo
-o "'
.S
Volume utilizável
~
E
"'u
·1: -;;; o
u e Espes . média utilizável
u
•<!) .3 6 Utilizacão do material
õ
<l) Ensaios Resultados
OfJ
~ Índice de forma
',e Massa esoecífica real
-~ Abra são " Los Angeles" 1
~
u Absorção
"';;;u Esmae:amento 1

1
<l) Reatividade potencial
o o
e Sais solúveis 1.800 m do V-3
""u, ~ Alterabilidade 1
no eixo barrável
-~"' Observações:
-;;;
u
~ e!
-o
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o <l)
o..
1

FIG. 9.6 Ficha-resumo para pesquisa de materiais pétreos


288 1 Geologia de Barragens

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00
cr,"m·
ô oô ô ô .-- N sr· .--N
o o
Diâmetro dos grãos - mm
Areia Pedregulho Pedregulho
Argila + silte Areia fina Areia média
grossa fino grosso
sues

FIG . 9 .7 Curvas granulométricas de uma cascalheira (projeto do autor)

TAB. 9.3 Características físicas da cascalheira da Fig. 9.7


Granulometria em % (Sues)
Amostragem Class ificação
Si lte + Areia Pedregulho
sues
Tipo Nº Prof. Argil a Fina Méd ia Grossa Fino Grosso
01 0-30 6 13 4 5 17 55 GM
02 0-40 4 6 2 25 62 GW
Poço com
03 0-40 4 10 3 9 31 43 GW
2,0m x1, 5m
04 0-50 2 5 2 4 30 57 GW
05 0-40 6 9 3 21 56 GM

9.3 MATERIAL ARENOSO elemento filtrante e como agregado miúdo


no concreto. Como elemento filtrante,
esse material pode ser utilizado como
9.3.1 Utilização do material
transição entre um núcleo argiloso e fra-
arenoso
ções grosseiras (brita e enrocamento) ou
O material arenoso pode ser utilizado como filtro em barragem de terra homogê-
de duas formas em uma barragem: como nea (Fig.1.3a-c-d). Como agregado miúdo
9 - Materiais naturais de construção 1 289

TAB. 9.4 Características do material grosseiro da cascalheira representada na Fig. 9.7


Amostragem Material retido na peneira de 2"

% do Peso esp. g/cm 3 Absor. L. ang. Sanid. Reat.


Tipo Nº Prof.
total Real Apar. % % % Pot.

01 0,30 47 2,60 1,18 1,0 45 9,4 Inócuo


02 0,40 52 2,65 1,1 8 0,6 45 8,7 lnocuo
Poço com
03 0,40 40 2,62 1,232 0,8 40 9,0 Inócuo
2,0 m x 1,5 m - - - - - - - - - - - - - - - - -- -- - - - - - - - - - - - - -
04 0,50 45 2,65 1, 20 0,3 38 Inócuo
05 0,40 44 2,64 1,18 0,4 35 8,0 Inócuo

TAB. 9.5 Elementos quantitativos da


um processo de beneficiamento do mate-
cascalheira da Fig. 9.7 rial pétreo, serão analisadas aqui apenas
Descrição Unidade Quantidade as características de pesquisa e explotação
Área total m2 675.200 da areia natural. Assim, serão abordadas as

Profundidade média m 0,40 duas situações diferentes em que esse ma-


terial pode ser encontrado: como depósito
Volume total m3 270.080
aluvial e como solo de alteração do arenito.
Percentagem média
% 44,27
> 2" a) Depósito aluvial
Volume de agregado m3 119.572 A areia resultante da deposição ao
com <j>> 2"
longo dos cursos d'água pode aparecer
constitui a parte fina a ser misturada com de duas formas: emersa e submersa. De
o cimento e o agregado graúdo na confec- forma emersa, esses depósitos aparecem
ção do concreto. Em ambos os casos, esse como bancos de areia nas margens dos
material pode ter uma origem natural ou rios ou nas bacias de inundação, enquanto
artificial. Na sua forma natural, resulta os depósitos submersos localizam-se no
da deposição aluvionar nos cursos d'água, fundo desses cursos d'água.
podendo seus depósitos estar emersos A pesquisa, a exemplo do mencionado
ou submersos nesses corpos d' água, e para os materiais pétreos, deve-se iniciar
também pode ser encontrado como ma- com a localização desses depósitos, bem
terial de alteração in situ de arenitos. Na como sempre levar em conta os fatores
forma artificial, esse material resulta da distância da obra e impactos ambientais.
cominuição da rocha, quando as frações No que se refere às condições de explora-
mais finas possuem uma granulometria bilidade, devem-se priorizar, sempre que
que pode ser classificada como areia. possível, os depósitos emersos, pois dis-
pensariam a utilização de bombas para
9.3.2 Pesquisa, explotação e
a sua retirada. Como os volumes de cada
beneficiamento do
areal geralmente são insuficientes para
material arenoso
atender às necessidades da obra, é sempre
Uma vez que a areia artificial resulta de necessário pesquisar mais de uma jazida
290 1 Geologia de Barragens

até que o volume pesquisado total corres- Assim, a pesquisa é iniciada pela investi-
ponda a 1,5 vez o volume previsto para a gação geológica de áreas sedimentares,
obra. A pesquisa é feita com a utilização preferencialmente naquelas em que já
de varejão, como descrito em 6.3.1, seja ao é conhecida a presença de arenitos. Por
longo das areias marginais ou por meio de meio de uma malha de furos a trado,
barco, para as areias submersas. complementada com poços de inspeção,
A explotação é feita de forma diferente pode-se detectar a espessura da zona de
para esses dois tipos de depósitos. Nas alteração, bem como a eventual presença
areias aflorantes, a escavação é feita de de solos alóctones de cobertura, geral-
forma manual ou mecanizada, desde que mente coluvionares. Esse tipo de pesquisa
o nível freático possibilite escavações com permite não apenas cubar o volume da
tais equipamentos. Pode-se, ainda, proce- jazida pesquisada, como também coletar
der ao rebaixamento desse nível por meio amostras para análises laboratoriais.
de poços tubulares, se a potencialidade A explotação desse tipo de jazida
da jazida justificar esse oneroso método depende da topografia envolvida. Se a
exploratório. Para as jazidas submersas, ocorrência encontrar-se a meia encosta,
a sua extração será feita por meio de será aberta uma frente de escavação que
bombas de sucção apropriadas para suc- avançará no sentido da inclinação do ter-
cionar uma mistura de areia com água. reno, produzindo uma superfície escavada
Com relação ao benefzciamento, o (Fig. 9.8). Caso a topografia local tenda
único tratamento aplicado aos materiais para uma superfície aplainada, a escava-
arenosos aluviais é a eventual seleção ção será feita em cava (Fig. 9.9).
granulométrica, no caso de a areia estar Nessas explotações, deve-se assegurar
impregnada de finos (silte e argila), o que a total estabilidade dos taludes de esca-
raramente acontece, já que a sua própria vação, levando-se em conta as diferenças
sedimentação é um processo seletivo na- na resistência dos seguintes materiais:
tural, quando a velocidade de escoamento colúvio arenoargiloso, areia, saprólito e
das águas é insuficiente para continuar arenito são.
transportando seus grãos, mas suficiente Alguns arenitos foram sedimentados
para continuar transportando o material em ambientes de grande variação de
mais fino. competência do agente transportador,
propiciando a intercalação de pelitos
b) Solo de alteração de arenito
nessa rocha, representados por lentes de
Inúmeras regiões brasileiras possuem siltitos e de argilitos, como ocorre com o
extensas áreas sedimentares que incluem Grupo Mata da Corda, no Estado de Minas
a ocorrência de arenitos. Quando essas Gerais. Nesses casos, é necessário um pro-
rochas se alteram, sofrem desagregação cesso de benefzciamento que consiste na
de seus grãos, formando depósitos autóc- seleção granulométrica do material esca-
tones de areia que podem funcionar como vado para separar as frações grosseiras
excelentes jazidas desse tipo de material. das finas.
9 - Materiais naturais de construção 1 291

.. ··· Arenito são

FIG. 9.8 Explota ção de areia a meia encosta

FIG. 9.9 Explotação em cava de areia resultante da alteração de arenito (projeto do autor)

9.3.3 Caracterização do sadas as propriedades físicas e químicas


material arenoso necessárias a esse material, destacando-
-se, quando for o caso, as especificidades
A caracterização do material arenoso do uso e origem.
não difere muito em função da forma em
a) Granulometria
que esse material é utilizado em uma bar-
ragem, nem em função de sua origem, se Como elemento filtrante, a curva gra-
natural ou artificial. Assim, serão anali- nulométrica do material arenoso deve
292 1 Geologia de Barragens

situar-se rigorosamente entre o material variação possível dentro dos limites reco-
mais fino, geralmente arenoargiloso, e o mendados, de forma a enquadrar a areia
material mais grosseiro (brita ou agre- no tipo SW da classificação unificada
gado graúdo), como mostrado na Fig. 9.3. (SUCS). Para tanto, o coefzciente de unifor-
Para utilização no concreto, o ma- midade (CU), que expressa a relação entre
terial arenoso deve satisfazer três as granulometrias passantes a 60%, de-
condições: limites de granulometria, gra- nominada D 60 , e a 10%, denominada D10 ,
dação e diâmetro dos grãos. Os limites de conforme indicado na Fig. 9.10, deve ser
granulometria definem as frações que são superior a 6.
indesejáveis para uso no concreto, sejam O diâmetro dos grãos é definido pelo
muito grosseiras ou muito finas. Embora módulo de fznura (MF). Esse módulo é
a ABNT não estabeleça esses limites, obtido pela soma dos percentuais reti-
é comum usar a delimitação recomen- dos nas peneiras com aberturas 19 mm,
dada pela ASTM (Fig. 9.10). A gradação 9,5 mm, 4,8 mm, 2,4 mm, 1,2 mm,
refere-se à variação granulométrica mais 0,6 mm, 0,3 mm e 0,15 mm, dividida por
satisfatória, que é a que inclui a maior 100, e permite classificar as areias em

Peneiras
o
o
o
o 00 o o o o 00 'SI'
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ºº
D60 D60
r-i 'SI'. ,.- N

Diâmetro dos grãos - mm

Areia Pedregulho Pedregulho


Argila + Silte Areia fina Areia média Sues
grossa Fino Grosso

FIG . 9 . 10 Limites da curva granulométrica para areia a ser usada no concreto, recomendados pela ASTM
9 - Materiais naturais de construção 1 293

grossa (MF > 3,9), média (3,9 > MF > 2,4) cimento sobre esses grãos. Se as argilas
e fi na (MF < 2,4). A areia mais recomen- forem expansivas, podem reduzir a resis-
dada para concreto é a de granulação tência à compressão uniaxial do concreto
média, tendo a ASTM recomendado como em até 30%. Quando o material pulveru-
ideal para concreto estrutural a areia que lento é o silte, embora em geral prejudique
tem um MF em torno de 2,75 . No Brasil, o concreto, pode apresentar uma função
não há recomendação específica para esse benéfica ao corrigir a granulometria da
módulo, porém, evita-se utilizar areias areia no concreto. Se o material pulve-
com MF < 2,4 por exigirem maior volume rulento for originado do calcário, terá
de cimento. sempre uma função benéfica no concreto,
pois aumenta a tensão da ruptura na com-
b) Impurezas orgânicas
pressão em até 10%, desde que o pó não
A matéria orgânica presente nos represente mais que 7% em relação ao
materiais arenosos é constituída princi- peso do cimento.
palmente de ácidos húmicos resultantes As areias artificiais são mais pro-
da decomposição de vegetais, razão pela blemáticas com relação a materiais
qual praticamente inexiste nas areias ar- pulverulentos, pois muitos dos minerais
tificiais . Quando em presença do cimento, facilmente decomponíveis podem já apre -
esses ácidos combinam-se com o hidró- sentar a argila como produto final dessa
xido de cálcio liberado na hidratação, alteração. A norma da ABNT que regula
baixando o pH e dificultando as hidra- a presença de materiais pulverulentos na
tações subsequentes. Essa ação retarda a areia é a NBR 7219 da ABNT. Essa norma
pega e o endurecimento do concreto, re- não especifica limite para a presença de
duzindo sua resistência. O ensaio para a materiais pulverulentos, mas as normas
determinação das impurezas orgânicas, internacionais geralmente o fazem , a
normatizado pela NBR NM 49 da ABNT, exemplo da ASTM, que limita em 3% a
acha-se descrito no item 7.2.le. presença desses materiais para concretos
sujeitos a desgaste.
c) Materiais pulverulentos
d) Minerais reativos
Os particulados considerados como
pulverulentos incluem o silte (0,002 mm - Para agregado miúdo (areia) são vá-
0,074 mm) e a argila (< 0,002 mm). lidas as mesmas considerações feitas
Quando presentes na areia, esses mate- para o agregado graúdo usado no con-
riais aumentam a quantidade de água de creto, com relação a minerais reativos
amassamento, influindo na trabalhabili- (item 9.2 .3c). Os minerais deletérios que
dade e na resistência do concreto. A pior podem reagir com os álcalis do cimento
situação ocorre quando esse material é podem estar presentes na areia, seja como
constituído por argila, pois revestirá os sílica livre nas areias naturais, seja como
grãos de areia, impedindo a cristalização silicatos nas areias artificiais. Assim,
regular e homogênea dos compostos do quando recomendados para os agregados
294 1 Geologia de Barragens

graúdos, recomenda-se fazer para esses 9 .3 .4 Apresentação dos


materiais os mesmos ensaios descritos no resultados
item 9.2.3c.
Deve-se concluir a pesquisa de mate-
e) Sais solúveis
rial arenoso com a apresentação sintética
Em princípio, a presença de sais so- dos resultados obtidos, por meio de uma
lúveis nos materiais arenosos constitui ficha, complementada por um anexo com
problema somente para as areias artifi- os resultados detalhados. A ficha-resumo
ciais, quando nestas eventualmente há deve conter, a exemplo do que foi apre-
minerais que, ao serem atacados pela sentado para os materiais pétreos, uma
água, propiciam a formação desses sais. síntese das condições locais, incluindo
Há, contudo, uma possibilidade de areias sua demarcação topográfica, complemen-
quartzosas apresentarem esse risco em tada pelo resumo das suas características
climas áridos e semiáridos, quando é geotécnicas médias. A Fig. 9.11 mostra
frequente a presença de águas pouco sa- um exemplo dessa ficha-resumo. É im-
linizadas em rios e córregos na época de portante apresentar também as curvas
estiagem, como ocorre no nordeste do granulométricas das amostras coletadas.
Brasil. Ao serem evaporadas, essas águas
deixam as aluviões ricas em sais precipi-
9.4 MATE RIAL TERROSO
tados, originando o que popularmente se
denomina de "areia salgada". O uso dessas
9 .4 .1 Tipos de m at eriais t errosos
areias pode comprometer a integridade
e suas aplicações
do concreto nas obras de barramento
executadas nesses cursos d'água, daí ser Os materiais denominados terrosos
recomendável, nas regiões sujeitas a tais podem ser agrupados em duas classes:
climas, proceder a análises químicas das com a participação da fração arenosa e
areias aluvionares antes de empregá-las sem essa participação. A primeira classe
no concreto. inclui os materiais arenossiltosos classi-
ficados como SM pelo sues, os materiais
f) Alterabilidade
arenoargilosos classificados como se pelo
A alterabilidade do material arenoso sues e os materiais areno-siltoargilosos
somente constitui problema quando se classificados como SM-Se pelo sues. A
usa a areia artificial, pois alguns minerais segunda classe inclui os siltes, que podem
existentes nessa areia podem apresentar ser de baixa plasticidade (ML pelo SUeS)
elevada alterabilidade, o que não ocorre ou de alta plasticidade (MH pelo SUeS);
com as areias aluvionares, cujo principal e as argilas, que também podem ser de
constituinte é o quartzo, mineral alta- baixa plasticidade (eL pelo sues) ou de
mente resistente à alteração química. alta plasticidade (eH pelo sues).
Em princípio, as jazidas de materiais
terrosos podem ter uma origem autóctone
9 - Materiai s natu rais de construção 1 295

- - l
Indicações gerais Topografia
1 Escala: 1 :2.500
Material
"t:ocalização 1
Distância do eixo
Proprietário 1
1
j,
~ er. d~roQrietário
Benfeitorias ----r- '
'""'l!: o Tipo de vegetação
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Volume do expurgo
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00 Ensaios Resultados
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Sais solúveis 1
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u .o
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Observações:

FIG . 9.11 Ficha-resumo para a pesquisa de areal

ou alóctone. Nas jazidas de origem autóc- alóctones, apresentam textura relacionada


tone, esse material resulta da alteração in ao agente transportador. Quando esse
situ de qualquer tipo de rocha, enquanto agente é a força da gravidade, os colú-
nas de origem alóctone, esses materiais vios formados apresentam textura muito
são depositados pelos rios em suas bacias variada, em função da distância de trans-
de inundação, ou pelo efeito da gravidade, porte e do tipo de material transportado.
ao longo de encostas, na forma de colú- Quando esse agente é a água, ocorre uma
vios. Os materiais autóctones apresentam seleção granulométrica natural, deposi-
textura compatível com as rochas que tando materiais de textura homogênea e
lhes deram origem. Assim, uma rocha com granulações diferentes, em função da
ácida, como o granito, apresenta cristais distância do fluxo principal do rio. Dessa
de quartzo que resistem à intemperização forma, são originados a partir do rio, em
e que vão formar os grãos de areia no direção à bacia de inundação, depósitos de
solo resultante da decomposição química areia, silte e argila.
dessa rocha, formando solos com forte Os materiais com participação arenosa
participação arenosa. Já as rochas bási- são geralmente utilizados na construção
cas, como o basalto, por não possuírem de barragens de terra homogênea, por
quartzo, apresentam como produto final apresentarem maior estabilidade em seus
de sua intemperização finos constituídos taludes, enquanto os materiais sem par-
por silte e argila. Quanto aos materiais ticipação arenosa são empregados como
296 1 Geologia de Barragens

núcleos de barragens de terra zonada ou aquelas de menor declividade. Quanto às


de enrocamento. Esses materiais ofere- jazidas de material depositado pelos rios,
cem menor estabilidade de seus taludes, que geralmente atendem mais às neces-
porém possuem baixa permeabilidade. sidades de material fino (silte ou argila),
devem-se priorizar as áreas mais afasta-
9.4.2 Pesquisa e explotação dos
das do rio, onde há maior chance de evitar
materiais terrosos
a escavação em presença do nível freático .
Qualquer que seja o tipo de jazida
a) Pesquisa
a pesquisar, é importante programar a
A exemplo do que foi exposto para os forma dessa pesquisa de acordo com as
materiais pétreos e arenosos, a pesquisa especificidades de cada local. Em geral,
de materiais terrosos deve priorizar os recomenda-se programar uma malha de
seguintes aspectos: localização, con- furos a trado ou com poços, distanciados
dições de explorabilidade, forma de 100 m entre si. Sugere-se ainda que, num
pesquisa, volume disponível e caracterís- quadrado de 200 m de lado, com furos de
ticas do material. trado a cada 100 m, o furo central desse
A localização deve considerar o custo quadrado seja aberto em poço, a fim de
do transporte e os impactos ambientais permitir uma melhor análise do perfil do
como parâmetros imprescindíveis. No solo. Outra prática muito usada é abrir um
caso de materiais terrosos, os impactos poço até 3 m de profundidade e, a partir
diferem dos materiais pétreos, pois são de seu fundo, pesquisar com trado por
quantitativamente maiores, porém quali- mais 2 m ou 3 m . Os poços com mais de
tativamente menores. Isso porque, como 2 m de profundidade devem ser escorados
os solos variam muito em profundidade, com madeira para evitar acidentes com os
geralmente é necessário explotar uma operários que o estão abrindo. Indepen-
jazida com pequena profundidade (em dentemente do tipo de pesquisa (trado ou
torno de 3 m), o que acaba por exigir uma poço), as amostras devem ser coletadas
extensa área de escavação, ao contrário de a cada metro perfurado, acondicionadas
uma pedreira. Todavia, pela facilidade em em sacos de 30 kg e encaminhadas ao
recuperar uma área em solo, torna-se mais laboratório para ensaios. Sempre que pos-
fácil minimizar o impacto produzido. sível, é recomendável proceder no campo
As condições de explorabilidade a ensaios de massa específica, conforme
variam muito com o relevo em que se descrito no Cap. 7.
situará a jazida pesquisada. Nos solos O volume a pesquisar deve ser sempre
residuais, devem-se priorizar as áreas equivalente a duas vezes aquele neces-
mais aplainadas, pois, além de facilitar a sário para a obra projetada, o que não
explotação mecanizada, propiciam melho- significa que todo esse volume seja obtido
res condições para a abertura de acessos. em uma única jazida, principalmente
Os colúvios, por se situarem ao longo de porque o volume utilizável em cada jazida
encostas, somente permitem escolher pode ser bem menor que o pesquisado,
9 - Materiais naturais de construção 1 297

em função dos resultados obtidos nos en- dos taludes, não apenas durante a escava-
saios laboratoriais. ção, mas também com relação aos taludes
Finalmente, as características do que serão considerados como finais ao tér-
material devem ser conhecidas preliminar- mino da explotação, os quais deverão ser
mente com as observações tátil-visuais de tratados (drenagem e proteção vegetal)
campo, não apenas com relação às varia- para minimizar o impacto produzido.
ções na horizontal, mas principalmente Por fim , deve-s e observar a conveniên-
na vertical. Isso porque não adianta cia ou não de explotar jazidas argilosas na
aprofundar uma pesquisa a partir da bacia de inundação fluvial, caso a pesquisa
constatação de uma mudança radical tenha revelado a presença do nível freá-
em profundidade, quando, por exemplo, tico a pequena profundidade.
se passa de um solo maduro para um
9.4.3 Caracterização técnica dos
solo saprolítico e as características deste
materiais terrosos
não atendem às necessidades do projeto.
O mesmo ocorre no sentido horizontal, Os materiais terrosos são caracte-
em função da mudança da rocha que deu rizados por meio de seus índices
origem ao solo pesquisado. físicos e parâmetros de resistência,
complementados pelas características de
b) Explotação
compactação e de per meabilidade. Assim,
Desde que a pesquisa leve em conta as podem-se indicar os seguintes ensaios
melhores condições de explorabilidade, laboratoriais a proceder nas amostras co-
não deverá constituir qualquer problema letadas nas jazidas prospectadas:
a explotação de material terroso de uma • Análise granulométrica
jazida, o que geralmente é feito de forma • Limites de consistência (LL e
mecanizada, por meio de retroescava- IP)
deira, trator, pá-carregadeira etc. Apenas • Umidade natural
deverão ser levadas em conta as reco- • Peso específico real
mendações feitas na pesquisa para essa • Densidade máxima seca (Proc-
explotação, de acordo com os resultados tor normal)
obtidos nos ensaios laboratoriais, nos • Umidade ótima (Proctor
casos em que a jazida apresente variações normal)
significativas de materiais, quer na hori- • Permeabilidade
zontal ou na vertical. Nesses casos, pode • Parâmetros de resistência ao
haver a necessidade de excluir a escavação cisalhamento (coesão e ângulo
de áreas localizadas ou, ainda, de mistu- de atrito interno)
rar materiais de locais diferentes, a fim de
se obter um material mais adequado para Para solos puramente argilosos, reco-
os objetivos da construção. menda-se realizar também o ensaio de
Em qualquer tipo de jazida, devem-se adensamento. Todos esses ensaios foram
considerar as condições de estabilidade descritos no Cap. 7. Os ensaios de resis-
298 1 Geologia de Barragens

tência ao cisalhamento podem ser feitos Caso seja utilizado solo saprolítico no
pelos métodos de cisalhamento direto ou aterro barrável, deve-se observar a pre-
triaxial, dependendo das especificidades e sença de estruturas reliquiares que podem
necessidades de cada projeto. influir na resistência ao cisalhamento
Deve-se considerar nesses ensaios o desses solos. Pastore (1992 apud Cruz,
principal objetivo para o qual será des- 1996) realizou uma pesquisa, reprodu-
tinado o solo ensaiado. Por exemplo, se zida na Tab. 9.7, em que essa influência é
o solo será empregado no núcleo da bar- muito nítida, mostrando que os ensaios
ragem, as principais características são a realizados com aplicação de tensões pa-
permeabilidade e o adensamento, mas se ralelamente às estruturas reliquiares
o solo for empregado nos espaldares da apresentam resultados de resistência
barragem, a principal característica será muito inferiores aos ensaios em que essa
a resistência ao cisalhamento. Nesse caso, tensão é aplicada perpendicularmente a
será recomendável definir os parâmetros essas estruturas.
de resistência para deformações rápidas e
9-4.4 Apresentação dos resultados
lentas, por meio dos ensaios triaxiais des-
critos no item 7.2.lj. A pesquisa de materiais terrosos deve
Também é importante definir a va- ser consubstanciada em um relatório
riação desses parâmetros em função das que apresente um resumo de cada jazida
tensões que serão aplicadas e da presença estudada, com os resultados detalhados
ou não da água. Cruz (1996) apresenta de cada ensaio, incluindo gráficos e dese-
valores que mostram essas variações para nhos, apresentados em anexo. O resumo
diferentes tipos de solo, conforme mos- deve incluir uma ficha e uma tabela com
trado na Tab. 9.6. os resultados dos ensaios . A Fig. 9.12 apre-

TAB. 9.6 Resistência ao cisalhamento de solos compactados


Parâmetros de resistência - Pressões efetivas
Não saturados Saturados
Rocha de Tensões baixas Tensões interm. Tensões elevadas Tensões baixas Tensões interm.
origem
<Do
co cf)o c' CC c'e Sat c'c sat $e Sat
cf)' (º) cf)'e (º) Sat
kg/cm 2 (º) kg/cm 2 kg/cm 2 kg/cm 2 kg/cm 2 (º)
(º)

0,40 a 35 a 0,40 a 24 a 0,20 a 25 a


Basalto O a 0,20 29 a 35 0,37
0,65 44,5 0,70 25 0,50 33
0,12 a 32 a 0,10 a 26 a
Arenito O a 0,05 31 a 35 0,37 0,05 33
0,30 47 0,50 31
0,26 a 28 a 0,20 a 26 a
Gnaisse O a 0,20 29 a 34 0,27 32 0,27 32
0,36 41 0,50 29
Quartzoxisto 0 ,1 5 33 0,15 35
Fonte: modificado de Cruz (1996).
9 - Materiais naturais de construção 1 299

TAB. 9 .7 Parâmetros de resistência de solos saprolíticos em função de estruturas


reliquiares
Resistência ao cisalhamento direto
Rocha de origem Estrutura reliquiar Tipo de solo Paralelo Perpendicular
c' (kPa) cD' (º) c' (kPa) cD ' (º)
Quartzito Micáceo Xistosa Areia micácea 40 22 45 27
M igmatito Bandada Si/te arenoso 40 20 52 23
Xisto Lamelar Si/te arenoso 78 28 100 28
Fil ito Lamelar Si/te o 18 o 24
Gnaisse Bandada Si/te arenoso 45 34 38 35
Fonte: modificado de Cruz (1996).

senta um exemplo de ficha-resumo nos solos não compatíveis com a necessidade


m esmos moldes apresentados para os ma- do projeto. A Tab. 9.8 mostra parte dos re-
teriais pétreos e arenosos. sultados obtidos na pesquisa apresentada
Observa-se nesse exemplo que um na Fig. 9.12, realizada pelo autor em obra
trecho marginal dessa jazida foi despre- do nordeste brasileiro.
zado para a sua explotação, por apresentar
TAB . 9.8 Resultados de parte dos ensaios realizados na pesquisa de m ateriais terrosos mostrada na Fig. 9.12
Amostra Análise Granulométrica Consist. Proctor Cisalhamento
Peso
Umid. Umid. Dens . Perm. Direto Triaxial Classif.
Furo Prof. Argila Silte Areia Pedr. LL IP Esp. Real
Nat. ót ima máx. (cm/s) Sues
nº (cm ) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (g/cm 3 ) e (() e ( ()

(%) (g/cm 3 ) (kg/cm 2 ) grau (kg/cm 2 ) grau


0 -50 13 24 61 2 25 5 2,4 10,2 1,870 2,62 SM-Se
2 0 -40 18 65 3 24 6 3,1 SM -Se
3 0-40 8 21 69 2 26 7 2,7 10,1 1,898 2,63 SM-Se
4 0 -50 18 68 2 21 NP 1,8 SM
5 0-60 8 15 65 12 30 5 3,3 11,0 1,780 2,59 4,22x10-5 0,29 42 SM -Se
6 0-50 10 58 6 28 5 3,1 SM-Se
7 0-70 16 21 60 3 27 9 3,1 10,6 1,815 2,62 eL
8 0-50 13 18 60 4 26 8 2,9 se
9 0 - 60 7 50 7 22 NP 2,7 9,6 1,833 2,61 SM
10 0 -8 0 12 58 5 19 NP 2,2 SM
11 0-70 11 22 56 10 25 7 1,8 9,5 1,908 2,63 2,82x10-5 0, 31 39 SM -Se
12 0-60 15 54 3 23 4 2,7 SM-Se
13 0-50 10 21 62 5 24 4 2,6 9,9 1,878 2,63 SM-Se
14 0-40 5 12 58 3 24 6 2,5 SM-Se
15 0-80 18 19 60 2 28 8 2,2 12,1 1,837 2,62 eL
16 0 -5 0 12 65 4 22 NP 3,1 SM
17 0-70 7 20 66 7 23 4 1,8 10,1 1,879 2,62 SM -Se
18 0 -50 10 18 58 2 26 8 2,2 se
19 0-60 11 22 60 4 27 9 1,7 12,5 1,825 2,60 8,47x10 -6 0,3 9 43 se
20 0-50 18 60 3 26 7 2,9 SM -Se
9 - Materiais naturais de construção 1 3 01

---
Indicações gerais Características físicas e mecânicas
---
Material
---
-., Areia fina e média silt. - arg. Ensaio ou determinação Média

1 Localização a 1,8 km do marco M.4 Argila 11,0


1
Proprietário Manoel Isaías Análise Silte 20,0
granu lométrica -~
Endereço Vila de São Vicente (%)
1 Areias 62,0
-
Benfeitorias Cerca de arame Pedregu lho 7,0
~ ·• ~ - _j
npo de vegetação Arbustiva rala Limites de Liquidez 25,0

Área 200.000 m' consistência lnd. de plasticidade 6,0


~ 4
Volu me de expurgo 13.600 m' Umidade natural (%) 3,0
--- 7
Volu me utilizado ( ) 72.000 m 3 ~ ns. máx. seca (gim' ) 2,0
Proctor
Esp. méd. utilizável 0,40 m normal Umid . ótima(%) 11,0
3
M alhas 100x100m Peso espec. real (glm 2,62
r---

Utilização
- Corpo da barragem Permeabilidade k (cmlseg)
)

'-2,36 X 10- 5
1

7
Observações:
.8
c =kg . cm' 0,33
e: Direito 1---- --
- Os furos F. 4, F.9, F. 10, F.16, F.22, F.28, F.29, "'E 1 0 = graus 41°
·; - -
f
~

F.30, F.31, F.32 e F. 33, foram excluídos da ~"' C=kg.cm


""Bi Triaxial
o
área utilizável
Classificação unificada
L 0 = graus
-
SM/SC

•~;~ JA Z
Locação topográfica
1
I __ _ __ _ Escala: 1:20.000
F.1!1 ru I F: :J:J
,, ....
,1;2~ : ✓ F.$2
//
/
,' ,: F.J I

-,. /. r~
~
' •, ::-._

· /;r ~ ~~
• -6
M.4

Localização e características geotécnicas de material terroso

Obra: Município:
o
..,-
><
.°'.
O<

Jazida nº Denominação:

FIG . 9 .12 Exe mplo de um a ficha · resumo para uma pesquisa de materiais terrosos
10 Monitoramento

O monitoramento de uma obra re- ter muitos significados . As principais ob-


presenta o conjunto de atividades que servações a ser feitas nessas trincas são:
permitem o controle da segurança e da direção em relação ao eixo da barragem
eficácia de sua construção. Em uma obra (paralelas, perpendiculares ou inclina-
de barramento, deve-se exercer esse mo- das), extensão, retilinidade e abertura.
nitoramento durante a fase construtiva e A seguir, deve-se fazer um acompanha-
na operacionalização da obra, e poderá in- mento sistemático e detalhado, uma vez
cluir o corpo da barragem, suas fundações por semana, sobre a evolução da trinca,
e as obras complementares superficiais e principalmente com relação à sua ex-
subterrâneas. tensão e abertura. A interpretação dos
Deve o monitoramento garantir a se- resultados desse monitoramento permi-
gurança de uma obra barrável por toda a tirá ao projetista caracterizar as causas
sua vida útil e pode ser feito por meio dos do fissuramento, bem como a forma de
seguintes processos: estancá-lo.
• Inspeção visual
b) Abatimentos localizados
• Topografia
• Instrumentação Os abatimentos são mais comuns
no centro da barragem, embora possam
ocorrer também em seus espaldares .
10.1 INSPEÇÃO VISUAL
As principais observações a fazer são:
A inspeção visual é o método mais dimensões (comprimento, largura e pro-
simples, porém exige certa experiência fundidade) e forma (circular, oval ou
do observador para detectar indícios, outra). Como esse tipo de deformação
muitas vezes imperceptíveis, de anorma- pode ser grave, devem-se tomar medidas
lidades que possam denotar o início de urgentes para caracterizar suas causas,
um problema significativo no futuro, com por meio de sondagens e escavações, per-
risco de afetar a segurança da obra. Entre mitindo a imediata aplicação de técnicas
essas anormalidades, podem ser detecta- que corrijam o problema.
das as seguintes:
c) Surgência d'água
a) Trinca no corpo da barragem
A surgência d'água, quer pelo corpo
Essas trincas geralmente ocorrem na da barragem (geralmente no pé de ju-
crista da barragem de terra, mas podem sante), quer pelas fundações, deve ser
aparecer também nos seus espaldares e monitorada tanto na fase de construção
304 1 Geologia de Barragens

como na operacionalização da obra. As 10.2 TOPOGRAFIA


principais observações a ser feitas nesse
monitoramento são: medição da vazão de Embora a topografia utilize instrumen-
surgência e medição da carga sólida trans- tos de medição como níveis, teodolitos,
portada. Um progressivo aumento de um estação de GPS, extensômetros móveis
desses valores pode significar a iminência etc., não foi incluída na modalidade de
de pipping no corpo da barragem ou nas instrumentação por não ter nenhum de
fundações, o que exigirá medidas urgen- seus instrumentos instalados no local da
tes para evitar o colapso de toda a obra. A obra, como aqueles que serão discutidos
frequência dessas medições deve ser quin- no próximo item.
zenal. A topografia garante muito maior
precisão que as observações visuais, prin-
d) Deslocamentos do rip-rap
cipalmente quando as anormalidades
O deslocamento de blocos no rip-rap são de pequena magnitude ou se acham
merece um monitoramento que deve ini- impedidas de ser visualizadas. As princi-
ciar pela observação da extensão e da pais formas de monitoramento por esse
profundidade da área afetada. Se esse des- método são as seguintes:
locamento for pouco significativo, deve-se
a) Deslocamentos no corpo da
monitorar semanalmente a sua evolução,
barragem
se rápida, lenta ou nula. Em função desses
resultados, podem ser necessárias pro- Esses deslocamentos podem ocorrer no
vidências para caracterizar e sanar suas sentido horizontal ou vertical. Para tanto,
causas, pois a possibilidade de ruptura do instalam-se pinos metálicos fixados em
material que lhe serve de base no espaldar marcos de concreto ao longo da crista da
de montante pode exigir soluções rápidas barragem e em alguns pontos do espal-
para evitar um mal maior. dar de jusante. Periodicamente são feitas
medições topográficas de precisão, refe-
e) Deslizamentos localizados no
renciando esses pinos a marcos instalados
espaldar de jusante
nas ombreiras da barragem, em locais
Esses deslizamentos podem ter início não sujeitos a qualquer deslocamento.
pelo deslocamento da camada de solo Essas medições permitem definir qual-
vegetal e da vegetação que protege esse quer deslocamento ocorrido nos pinos
talude contra a erosão. A sua investigação medidos, tanto na vertical como na ho-
visa constatar se o fenômeno decorreu de rizontal, ensejando uma pesquisa mais
falhas na construção dessa camada ou se detalhada para investigar as causas de
tem relação com alguma instabilidade do tal deslocamento. Essas medições devem
espaldar de jusante, quando então exigirá ter a seguinte frequência: semanal nos
soluções urgentes para evitar o colapso seis primeiros meses após o enchimento
da obra. do reservatório; quinzenal do 7° ao 12°
mês após esse enchimento; mensal nos
10- Monitoramento 1 305

primeiros três anos de funcionamento da


obra; semestral após o 3° ano de funciona-
mento da obra.

b) Assoreamento do reservatório

O assoreamento do reservatório deve


ser monitorado por meio de uma ba-
timetria da bacia hidráulica, visando
evitar os malefícios que tal assoreamento
pode representar para as diversas fina-
lidades da obra construída, conforme
descrito no Cap. 3. Deve-se executar esse
monitoramento anualmente nos três pri-
meiros anos de funcionamento da obra e, FIG. 10.1 Medidor de convergência em um túnel
Fonte: modificado de Hoek e Brown (1980).
conforme os seus resultados, ter sua fre-
quência reduzida ou ampliada nos anos deslocamento na área abrangida por esses
seguintes. pinos.
A frequência desse monitoramento
e) Deslocamentos das paredes em
deve ser mensal durante o período que
escavações subterrâneas
anteceder ao revestimento das paredes
A exemplo dos deslocamentos medidos de escavação. Se o túnel não for revestido
no corpo da barragem, podem-se realizar ou se esse revestimento for executado a
medições sobre deslocamentos ocorridos longo prazo, deve-se monitorá-lo durante
nas paredes da escavação de obras sub- os seis meses imediatos após a escavação
terrâneas, principalmente de túneis. Para e, conforme os resultados, suspender ou
tanto, é comum usar o método de medidor reprogramar o monitoramento.
de convergência, por meio do qual são ins-
talados pinos metálicos na parede rochosa
10.3 INSTRUMENTAÇÃO
da escavação, como mostrado na Fig. 10.1.
Um fio metálico não deformável teria A instrumentação de uma barragem
uma de suas extremidades fixada em um é realizada por meio de diversos tipos
desses pinos e esticada a outra, em cuja de instrumentos que são instalados
extremidade seria fixado um extensôme- concomitantemente com a construção
tro que permite a medição da extensão da obra, seja nas fundações ou no corpo
entre os dois pinos com uma precisão de da própria barragem. Além de assegu-
0,08 mm para uma extensão de medição rar um controle da segurança da obra,
de 30 m. Nessa instalação, como indicado esses instrumentos permitem verificar
nessa figura (5 pinos), são medidas as as hipóteses, os critérios e os parâmetros
distâncias de cada pino para os outros 4 adotados no projeto, adequando-os aos
pinos, permitindo a detecção de qualquer métodos construtivos de forma a asse-
306 1 Geologia de Barragens

gurar sempre condições mais econômicas Respondidas a contento todas essas


sem comprometer a segurança da obra. perguntas, será a h ora de escolher o ins-
Para que a instrumentação constitua trumento mais adequado, e Cruz (1996)
um instrumento importante no moni- elenca as seguintes características como
t oramento de uma obra e justifique seu imprescindíveis para essa escolha:
elevado custo de instalação, deve atender • confiabilidade;
aos seguintes requisitos: • alta durabilidade;
• programação das instalações efetuada • não provocar, durante ou após a
por técnico muito experiente, assegu- instalação, alterações no valor da
rando os melhores locais de instalação grandeza que se pretende medir;
para cada instrumento, segundo o ob- • robustez;
jetivo para o qual será instalado; • alta precisão;
• instalação cuidadosa de todos os • alta sensibilidade;
instrumentos, evitando danificá-los • não ser influenciável por outras
durante essa operação ou deixá-los grandezas que não a de interesse;
expostos a situações que possam • instalação simples;
representar riscos futuros de sua de- • não causar interferência na praça de
terioração; trabalho;
• extremo cuidado nas medições • baixo custo.
desses instrumentos, inclusive com Uma vez concluído o projeto de
relação à frequência de cada medi- instrumentação de forma satisfatória,
ção; deverão ser concentrados esforços para
• interpretação dos resultados obtidos garantir uma boa instalação dos instru-
nas medições por uma equipe multi- mentos programados. A instalação pode
disciplinar altamente experiente no não danificar o instrumento mas ser
assunto. conduzida de tal forma que altere signi-
ficantemente as condições prevalecentes
Na programação, Cruz (1996) re- no local, levando a resultados falsos na
comenda que o seu responsável esteja medição. Por outro lado, determinados
perfeitamente consciente das respostas às tipos de instrumentos são suscetíveis de
seguintes perguntas: sofrer danos irreparáveis se atravessarem
• Por que instrumentar? zonas sujeitas a deslizamentos de certa
• O que instrumentar? magnitude, podendo, eventualmente, ser
• Onde instrumentar? cisalhados.
• Como instrumentar? Qualquer falha na instalação de um
• Quais os n íveis e os critérios previs- instrumento pode levar a erros na medi-
tos em projeto? ção ou à obtenção de valores discrepantes
• Que providências adotar se os n íveis que podem acarretar dois riscos diferen-
estabelecidos forem ultrapassados? tes: assumi-lo como defeituoso e descartar
as informações por ele fornecidas , com
10 - Monitoramento 1 307

eventuais consequências negativas; ou -se um tubo PVC de 1" a 1 ½", tendo um


aceitar as informações como verdadeiras, tampão em sua extremidade inferior e os
o que modifica totalmente a interpretação 2 m mais inferiores perfurados e revesti-
sobre o comportamento da obra. dos com uma manta geotêxtil (Fig. 10.2).
A interpretação periódica e sistemática No entorno dos 3 m inferiores, o furo deve
dos valores medidos nesses instrumentos ser preenchido com areia e daí para cima
é fundamental para o êxito do moni- com um selo de argila. O tubo deve ficar
toramento, e sua ausência pode tornar com 0,50 m acima do solo e protegido
até mesmo nocivo todo o procedimento, por uma pequena caixa de concreto, com
pois poderá causar uma falsa sensação tampa metálica provida de cadeado.
de segurança em relação à obra, quando A leitura do nível d 'água é feita com a
nem sempre isso está acontecendo. O introdução nesse tubo de um fio graduado
importante é haver consciência de que a a cada metro, em cuja extremidade há um
segurança de uma barragem depende fun- sensor constituído por dois eletrodos dis-
damentalmente de seu projeto e de sua postos concentricamente, porém isolados
construção. O monitoramento constitui eletricamente entre si. Ao atingir o nível
um método de observação que apenas freático, a água fecha o circuito formado
diagnostica a tempo eventuais problemas pelos dois eletrodos antes isolados, o que
decorrentes de falhas de projeto ou de provocará o deslocamento do ponteiro de
construção, mas que não aumenta intrin-
Tampa do t ubo
secamente a segurança da obra.
A diversidade de instrumentos utili-
zados é função da grandeza que se deseja Caixa de
proteção
medir no monitoramento, e as mais
comuns são:
• nível d' água;
• pressão neutra;
• tensão total;
• deslocamentos;
• vazão; Tubo de PVC ---t-'.~.>i
perfurado
• aceleração sismológica.

10.3.1 Medição do nível d'água

A medição do nível d'água tem como


objetivo definir a cota do nível freá-
tico, seja no corpo da barragem ou nas
suas fundações, e utiliza-se de uma
metodologia muito simples. A partir de Tampão

um furo de trado de 4" que ultrapasse com


FIG. 10.2 Medidor de nível d ' água
certa folga o nível a ser medido, instala-
Fon te: modificado de Cruz (1996).
308 1 Geologia de Barragens

um galvanômetro mantido na superfície, de concreto ou sobre os cut-offs. O instru-


e esse contato ainda pode ser acusado mento é representado por uma almofada
por um dispositivo sonoro, daí ser esse metálica, geralmente na forma circular,
instrumento de medição popularmente constituída por duas placas de aço inoxi-
chamado de "pio". dável soldadas hermeticamente em suas
De posse da cota da boca do furo, bordas, criando uma cavidade que é pre-
subtrai-se a profundidade medida por enchida com óleo mineral previamente
esse instrumento, a fim de se obter a cota desgaseificado a um nível inferior a 2 ppm,
do nível freático no ponto medido. garantindo dessa forma um deslocamento
mínimo. A pressão criada no interior da
10.3.2 Medição da pressão neutra
célula é medida por meio de um sensor de
A medição da pressão neutra é realizada pressão elétrica (que converte o sinal
por meio do piezômetro e visa determinar de pressão em sinal elétrico) ligado por
essa pressão nos maciços de terra ou na um cabo de quatro condutores ao equipa-
rocha, bem como as subpressões em con- mento de leitura. A célula de tensão pode
tato com estruturas de concreto. medir pressões desde 1,0 até 20,0 MPa.
Alguns piezômetros são muito pareci-
10.3.4Medição de deslocamento
dos com o medidor de nível, como é o caso
do piezômetro de tubo aberto; porém há O deslocamento passível de ocorrer em
muitos outros que são mais sofisticados. um maciço granular pode ser medido na
A sua escolha depende das especificações horizontal ou na vertical.
de cada projeto, razão pela qual para cada
a) Deslocamento horizontal
caso devem ser analisadas as vantagens e
as desvantagens de cada tipo. Os princi- O deslocamento horizontal é medido
pais tipos são: por meio do inclinômetro, instrumento
• piezômetro de tubo aberto; constituído por uma haste cilíndrica, cha-
• piezômetro pneumático; mada de torpedo, que possui embutido
• piezômetro hidráulico; um sensor de inclinação. Esse torpedo
• piezômetro elétrico (que pode ser de desliza no interior de um tubo especial
resistência ou de corda vibrante). por meio de quatro rodinhas que se en-
caixam nas ranhuras existentes nesse
Cruz (1996) descreve o funcionamento tubo, que se acha cravado no maciço da
de cada um desses tipos, bem como suas barragem. A Fig. 10.3 mostra esse torpedo
vantagens e desvantagens. ainda embalado e a caixa de leitura dos
deslocamentos medidos.
10.3.3 Medição da tensão
Mede-se a inclinação sofrida por
total
esse tubo em consequência de eventu-
O objetivo dessa medição é determinar ais deslocamentos horizontais do maciço
os esforços que os maciços de terra ou de monitorado, a partir do ângulo de incli-
enrocamento exercem sobre as estruturas nação acusado pelo sensor do torpedo e
10 - Monitoramento 1 309

um esquema da penetração do inclinôme-


tro no furo vertical.
Deve-se medir o deslocamento hori-
zontal de montante para jusante.

b) Deslocamento vertical

O deslocamento vertical, denominado


recalque, pode ocorrer no corpo da bar-
ragem ou nas suas fundações. Entre os
vários medidores de recalque, o mais utili-
FIG. 10.3 Inclin ômetro zado é o de tubos telescópicos, que consiste
Fonte: cortesia da empresa Damasco Pena .
de um tubo galvanizado com diâmetro
lido em uma caixa de leitura externa. A de 25 mm, chumbado em rocha sã, e de
cada intervalo da descida do inclinômetro várias placas solidárias a tubos também
mede-se o ângulo de inclinação corres- galvanizados, de diâmetros crescentes de
pondente a esse intervalo, conforme baixo para cima (Fig. 10.6). À medida que
mostrado na Fig. 10.4a. Somadas as in- o aterro da barragem sobe, vai sendo ins-
clinações dos intervalos medidos, tem-se talada uma nova placa com tubo que se
a inclinação de toda a extensão do tubo encaixa coaxialmente ao tubo original.
cravado, o que permite definir a curva de Na extremidade superior de cada tubo
deslocamento horizontal total, conforme é feito um puncionamento e, a cada lei-
indicado na Fig. 10.4b. A Fig. 10.5 mostra tura, ajusta-se um compasso metálico com

Deslocamento Total
( b) i
, - -- - - - L L sen O - - - - - - - i

FIG. 10.4 Esquema dos deslocamentos medidos pelo inclinômetro: (a) deslocamento por t recho;
(b) deslocamento total
Fonte: modificado de <http://www.geotecnia.ufba.br> .
310 1 Geologia de Barragens

Tu bo galvan izado
de <p = 100 mm
Placa nº3 -

1111 i - - - Tubo galvanizado


de <p = 75 mm

na---- Tu bo galvanizado
de <p = 50 mm

Tu bo galvan izado
de <p = 25 mm
""""'=- _ Superfície
da rocha
Chumbado em

FIG. 10.6 Tu bos t elescópicos pa ra medição de


recalques
Fon t e: modificado de Cruz (1996).

ragern, principalmente no pé de jusante.


As primeiras medições visam apenas con-
FIG. 10.5 Introdução do in clinômet ro no fu ro
trolar o efeito dos drenos, porém é nas
Fonte: modificado de <http://www.geot ecnia.ufba.br>.
surgências que essa medição deve ser mais
pontas secas nas punções do tubo original cuidadosa, pois o aumento da vazão nesses
de referência e do tubo correspondente à locais pode ser muito perigoso para a in-
placa medida. tegridade do maciço barrável. Os métodos
A distância entre as pontas do com- variam em função das condições locais de
passo, medida em escala rnilirnétrica, medição, sendo mais utilizados os verte-
determinará o recalque ocorrido na profun- douros triangulares e retangulares, bem
didade em que se encontra a placa medida. corno recipientes de volume conhecido,
para que possam ser cheios em um inter-
10.3.5 Medição da vazão
valo de tempo não inferior a 30 segundos .
A medição da vazão pode ser realizada
10.3.6 Medição de aceleração
em drenos da fundação, em canaletas de
sismológica
galerias de drenagem, em pequenos barra-
mentos construídos para essa finalidade e O Brasil é um país de reduzida m a-
nas surgências ao longo do talude da bar- nifestação sismológica, e os eventuais
10 - Monitoramento 1 311

sismos são detectados pelos sismógrafos possam produzir nas obras associadas ao
instalados em Brasília. Ainda assim, exis- barramento a ser projetado nesses locais.
tem algumas regiões onde são frequentes
10.3.7 Frequência das medições
pequenos abalos sísmicos, que podem
ser ou não associados a barramentos Embora, em função das especificidades
existentes nas proximidades . Por isso, é de cada projeto, a frequência das medições
recomendável reduzir a extensão das es- seja muito variável, Cruz (1996) apre-
truturas rígidas quando for projetada uma senta, a título de ilustração, uma tabela
barragem nessas regiões, que já são do co- para a frequência de medição dos vários
nhecimento geológico brasileiro. Todavia, tipos de instrumentação instalados, com
como é impossível a ausência total dessas base na sua experiência profissional. Essa
estruturas, recomenda-se, nesses casos, recomendação acha-se reproduzida no
instalar sismógrafos para monitoramento Quadro 10.1.
de possíveis danos que os eventuais abalos

QUADRO 10.1 Frequências usuais de medição


Enchimento 4º ao 7° ao 13º ao 37° mês
Instrumento Construção
+ 3 meses 6° mês 12º mês 36º mês em diante
Medidor de nível d'água Semanal 2/semana 2/semana Semanal Semanal Qu inzenal
Medidor de vazão Semanal 3/semana 3/semana 2/semana Semanal Qu inzenal
Piezômetro de fundação Semanal 2/semana 2/semana Semanal Semanal Qu inzenal
Piezômetro de maciço Semanal Semanal Semanal Semanal Quinzenal Qu inzenal
Medidor de recalque Semanal 2/semana Semanal Quinzenal Mensal Bimestral
lnclinômetro Quinzenal Semanal Quinzenal Quinzenal Mensal Trimestral
Célula de tensão Semanal 2/semana Semanal Semanal Qu inzenal Quinzenal
Fonte: modificado de Cruz (1996).
11 Meio ambiente

1 1.1 CRITÉRIOS DE ESTUDO b] Incidência: os aspectos ambientais


podem ser direta ou indiretamente rela-
O estudo das condições ambientais cionados ou controlados pela empresa, de
reinantes em uma região em que se pre- acordo com as seguintes condições:
tende projetar uma barragem, bem como • Direta: a empresa exerce in-
o prognóstico dos impactos que tal obra fluência e controle sobre ati-
exercerá sobre o meio ambiente local e vidades realizadas dentro das
regional, devem ser fundamentados em suas instalações, inclusive
normas e preceitos ambientais regula- aquelas executadas por tercei-
dos tanto no nível federal como no nível ros;
estadual. Assim, a norma ISO 14000 • Indireta: a empresa exerce in-
considera fundamental, na interação fluência mas não controla as
meio ambiente/empreendimento, a ca- atividades realizadas fora de
racterização dos aspect os ambientais, e suas instalações por vizinhos,
explicita no seu item 4.3 .1: "A organização fornecedores, prestadores de
deve estabelecer e manter procedimentos serviços e clientes.
para identificar os aspectos ambientais
de suas atividades, produtos e serviços c] Classe: indica se o aspecto gerará um
que possam por ela ser controlados e impacto benéfico (B) ou adverso (A). No
sobre os quais se presume que ela tenha primeiro caso, o impacto será positivo e
influência, a fim de determinar aque - no segundo, negativo.
les que tenham ou possam ter impactos d] Reversibilidade: indica se o aspecto
significativos sobre o meio ambiente. A gerará um impacto que poderá ex-
organização deve assegurar que os as- tinguir-se uma vez cessada a causa
pectos relacionados a esses impactos impactante (impacto reversível - R) ou
significativos sejam considerados na de - se não há essa possibilidade (impacto
finição de seus objetivos ambientais". Na irreversível - I).
valoração dos aspectos ambientais, serão e] Interferência: indica a extensão do
considerados os seguintes fatores: impacto, que pode ser local ou regional.
a] Escopo: indica se o aspecto poderá f] Duração: indica a forma de atuação do
gerar impacto ao meio ambiente, se impacto com relação ao tempo, o qual
constitui um problema de saúde ocu- pode ser classificado de temporário, cí-
pacional e segurança do trabalho, ou se clico ou permanente.
atinge simultaneamente as duas áreas .
314 1 Geologia de Barragens

Em função das características dos EP - Extremamente prejudicial


aspectos anteriormente explicitados, P - Prejudicial
será analisado o risco de ocorrer impacto, LP - Levemente prejudicial
o qual depende de duas características: A interação desses dois fatores pode
probabilidade de ocorrência de impacto e ser expressa por meio de uma matriz que
gravidade do impacto. definirá o risco de impacto, conforme o
Quadro 11.1.
Probabilidade de ocorrência do im- As ações propostas para mitigação
pacto - considera-se essa possibilidade dos impactos diagnosticados por meio do
levando-se em conta a implantação das Quadro 11.1 podem ser esquematizadas
medidas mitigadoras recomendadas. no Quadro 11.2.
Podem ocorrer os seguintes casos: Deve-se realizar a análise ambiental
considerando os impactos que poderão
I - Improvável ocorrer nas seguintes fases do empreen-
PP - Pouco provável dimento:
P - Provável • projeto;
• instalação do canteiro, acampamento
Gravidade do Impacto - segundo a e acessos;
gravidade, o impacto pode ser: • construção e preparação do reserva-
tório;

QUADRO 11.1 Matriz para definir o risco de impacto


Gravidade
Lev. prejudic. Prejudicial Extr. prejudic.
Improvável Risco trivial Risco tolerável Risco moderado
Ocorrência Pouco provável Risco tolerável Risco moderado Risco substancial
Provável Risco moderado Risco substancial Risco intolerável

QUADRO 11.2 Ações para cada nível de risco de impacto


Tipo de risco Ações
! -Trivial Não é requerida nenhuma ação
Devem ser feitas considerações sobre uma solução de ação mais eficaz, ou melhorias
li - Tolerável que não imponham uma carga de custos adicionais. Requer-se monitoramento para
assegurar que os controles sejam mantidos
Devem-se envidar esforços para reduzir riscos, mas os custos da prevenção devem ser
Ili - Moderado cuidadosamente medidos e discutidos . As medidas para a redução do risco devem ser
implementadas dentro de um período de tempo definido
O trabalho não deve ser iniciado até que o risco tenha sido reduzido. Recursos
IV - Substancial
consideráveis poderão ter que ser alocados
O trabalho não deve ser iniciado até que o risco tenha sido reduzido. Se não for possível
V - Intolerável reduzir o risco com a implantação de medidas mitigadoras, o trabalho terá que ser
proibido
11 - Meio ambiente 1 315

• enchimento do reservatório; lidade de taludes, tanto do corte como


• desmobilização do canteiro e do do aterro, representando impactos am-
acampamento; bientais significativos.
• operação. d] Erosão e assoreamento: o decapea-
mento da camada vegetal que protege
o solo contra a erosão pluvial pode
11.2 FASE DE PROJETO
resultar na exposição desse solo à
Nessa fase, a região será "invadida" erosão, impacto este que pode ser bas-
por uma equipe multidisciplinar com má- tante aumentado se o material erodido
quinas e equipamentos para sondagens, for carreado para a drenagem natural
prospecção de materiais de construção e local, com risco de promover o seu as-
ensaios in situ. A seguir, serão discutidos soreamento.
os impactos que deverão ser valorados
11.2.2 Execução de sondagens
nessa fase .
As sondagens que deverão ser execu-
11.2.1Abertura de acessos
tadas nos locais associados às obras de
Nas investigações de campo que serão barramento e ao longo das áreas de em-
realizadas no local das obras associadas à préstimos poderão gerar os seguintes
barragem e às áreas de empréstimo para impactos ambientais:
materiais naturais de construção, será a] Abertura de praças de trabalho: na
necessária a abertura de acessos. Essa ati- preparação das praças de trabalho
vidade deverá gerar os seguintes impactos para as sondagens poderão ser gerados
ambientais: os mesmos impactos descritos para
a] Retirada da vegetação: dependendo a abertura de acessos, com maior ou
do tipo de vegetação existente nas menor intensidade, dependendo da lo-
áreas estudadas, esse impacto poderá calização de cada uma das sondagens
ser muito significativo. projetadas.
b] Compactação do solo: a passagem de b] Geração de pó e poeira: nas sondagens
veículos leves e pesados promoverá a realizadas com ar comprimido, como
compactação do solo, impondo mo- aquelas indicadas para a prospecção de
dificações na sua estrutura original, pedreiras, o pó e a poeira gerados pela
o que impedirá o rejuvenescimento perfuratriz poderão representar um im-
das plantas e a sobrevivência de mi- pacto localizado para a flora e a fauna.
cro-organismos responsáveis pela c] Geração de ruído: qualquer que seja o
manutenção do equilíbrio ecológico. tipo de sondagem, haverá sempre a ge-
c] Instabilidade de taludes: quando o ração de ruídos que poderão afugentar
acesso é aberto em áreas declivosas, os animais das áreas próximas, sendo
muitas vezes é necessário abrir cortes bastante significativo esse impacto nos
ou formar aterros para horizontalizar casos em que não há alternativa de fuga
esse acesso, o que pode levar à instabi- para esses animais.
316 1 Geologia de Barragens

d] Geração de fluxos d'água concentra- d] Depósito de agregados: o material


dos: as sondagens rotativas realizadas resultante da detonação da rocha na
com o afluxo de água poderão criar abertura do túnel deverá ser transpor-
fluxos superficiais das águas utiliza- tado para o seu exterior e depositado
das, com risco de erosões localizadas. em local previamente preparado, a fim
Esse risco será maior quando as sonda- de ser reutilizado na construção da bar-
gens se localizam ao longo das encostas ragem. Urna boa parte desse material
desprovidas de vegetação de grande pode não ser utilizada e permanecer
porte. estocada indefinidamente, provocando
impacto visual e, eventualmente, alte-
11.2.3Abertura de túneis
rando a drenagem natural original.
Em grandes obras de barramento,
11.2.4Expectativas sociais
como já ocorreu no Brasil, a pesquisa
inclui a abertura de túneis para a reali- A circulação de homens, máquinas e
zação de ensaios de mecânica das rochas. equipamentos ao longo de urna extensa
Nesses casos, devem ser valorados os se- área que inclui as bacias hidrográfica
guintes impactos: e hidráulica, além dos locais de
a] Desmate e decapeamento de solos: barramento, obras auxiliares e de emprés-
ao longo dos emboques do túnel, uma timos de materiais de construção, cria
grande área deve ser desmatada e ter o expectativas sociais que poderão gerar os
seu solo decapeado, o que implicará a seguintes impactos:
utilização de máquinas e equipamentos a] Valoração das propriedades: visando
que irão gerar impactos na vegetação e obter vantagens na desapropriação de
no solo orgânico, além da possibilidade seus imóveis, alguns proprietários po-
de gerar instabilidade no talude criado derão criar artificialmente melhorias,
pela escavação em solo. seja na infraestrutura local, seja nas
b] Geração de ruído: embora as máquinas plantações, com endividamentos que
que escavarão o solo possam produ- podem criar situações desesperadoras
zir ruídos elevados, espera-se maior no caso de não ser viabilizado o empre-
impacto por meio do ruído provocado endimento.
pela detonação da rocha sã para a aber- b] Incremento do desmatamento: vi-
tura do túnel. sando apropriar-se da madeira que
c] Geração de pó e poeira: as detona- ficaria submersa no reservatório,
ções ao longo do túnel expelirão para alguns proprietários podem desrnatar
o seu exterior urna grande quan- áreas de proteção ambiental e de re-
tidade de particulados finos, que serva legal, criando sérios problemas
poderão ser transportados para dis- ambientais, principalmente se o em-
tâncias variadas, em função da direção preendimento for inviabilizado.
e da intensidade dos ventos, impac- c] Invasões de propriedades: movi-
tando principalmente a flora local. mentos de sem-terra podem invadir
11 - Meio ambiente 1 317

propriedades para forçar sua desapro- b] Contaminação das águas por óleos,
priação vantajosa quando for realizada graxas e combustíveis: nas instalações
a desocupação dos terrenos que serão de oficina e na lavagem de máquinas e
alagados pelo reservatório. veículos, os materiais oleosos e gra-
d] Lavras clandestinas: a lavra clandes- xosos podem fluir para a drenagem
tina na área da bacia hidráulica poderá fluvial local ou se infiltrar nos solos
ser intensificada, principalmente por e contaminar as águas subterrâneas.
garimpeiros no leito do rio, criando Nos tanques de combustíveis (óleo
sérios problemas ambientais. diesel e gasolina), geralmente enter-
e] Caça predatória: a caça predatória nas rados , podem ocorrer vazamentos não
áreas florestadas que serão inundadas observáveis que também irão contami-
pode ser intensificada aos primeiros nar os solos e as águas subterrâneas.
sinais de implantação de uma obra de c] Pátio de sucatas: sucatas provenien-
barramento na região. tes da construção, como madeira,
ferragens, latas de tinta, pneus etc., se
expostas em áreas descobertas, podem
11.3 FASE DE INSTALAÇÃO DO
gerar produtos contaminantes ao ser
CANTEIRO, ACAMPAMENTO
carreadas pelas águas pluviais, conta-
E ACESSOS
minando o solo e os rios locais.
Nessa fase, muitos dos impactos re- d] Geração de lixo: o lixo de natureza
lacionados para a fase de projeto serão química e orgânica gerado durante a
intensificados e outros serão criados, prin- instalação do canteiro de obras poderá
cipalmente levando em conta a grande ser direcionado aos rios pelas águas
extensão da área a ser ocupada com as in- pluviais, causando a sua contamina-
tervenções antrópicas. ção.

11.3.1 Impactos gerados pelo 11.3.2 Impactos gerados


canteiro de obras pelo acampamento

O canteiro de obras geralmente fica O acampamento geralmente é insta-


restrito à parte mais baixa do vale, razão lado na parte mais elevada do vale, em
pela qual seu impacto visual é mais redu- regiões mais aplainadas, de preferência
zido. Assim, seus principais impactos são: nas proximidades das estradas principais .
a] Intensificação dos impactos já descri- Para obras barráveis de médio a grande
tos: desmate e decapeamento dos solos; porte, o acampamento inclui as seguintes
compactação do solo; criação de cortes construções:
e aterros com risco de instabilidade de • escritório;
taludes; erosão e assoreamento; gera- • almoxarifado;
ção de pó e poeira; geração de ruídos; • restaurante;
formação de depósitos de materiais es- • casas para engenheiros;
cavados; caça predatória. • casas para operários;
318 1 Geologia de Barragens

• posto médico e ambulatorial e, em completam ente esse fluxo, orientando-


alguns casos, hospital; -o através de direções preferenciais,
• distribuição de água encanada; passando o fluxo concentrado a predo-
• distribuição de rede de esgotos; minar ao longo dessas direções.
• saneamento básico; d] Erosão e assoreamento: retirada a
• escolas; camada vegetativa que protege o solo,
• eventualmente, clubes para enge- este fica exposto às erosões aceleradas
n h eiros e para operários. de origem pluvial. Essas erosões são
potencializadas pelos fluxos concen-
Trat a-se, pois, em alguns casos, de trados, quando criam condições para
autênticos povoados, com todos os pro- a formação de voçorocas, que muitos
blemas ambientais inerentes a esse tipo danos causam aos solos locais e às obras
de ocupação. Os principais impactos de- implantadas sobre eles. O produto
correntes não apenas da instalação, mas dessas erosões ainda cria condições de
também da ocupação desses acampamen- assoreamento para a drenagem local,
tos , são os seguintes: inclusive para o reservatório que será
a] Impacto visual ou paisagístico: con- criado com a obra projetada.
siderando a grande extensão da área e] Instabilidade de taludes: a implan-
ocupada pela infraestrutura anterior- tação do acampamento exige sempre
mente descrita, tem-se uma abrupta serviços de terraplenagem para elimi-
substituição da paisagem natural por nar as perturbações topográficas, o que
uma estrutura antrópica que, se não resulta na criação de taludes de cortes
for bem planejada, poderá dar ao local e aterros. Esses taludes precisam ser
o aspecto de uma grande favela. projetados visando eliminar qualquer
b] Desmatamento e decapeamento do situação de instabilidade, o que poderá
solo: geralmente é desmatada toda a ser agravado no período chuvoso.
extensão da grande área em que será f] Geração de lixo: o acampamento
implantado o acampamento, sendo gerará lixo de toda natureza, repre-
ainda, em alguns locais, retirada sentado por matéria orgânica, papel,
também a camada de solo orgânico papelão, plástico, borracha, latas dos
(top-soil), onde residem todos os mi- mais variados produtos orgânicos
cro-organismos e elementos mais ricos e químicos, sucatas metálicas e até
para o desencadeamento da vida vege- mesmo lixo hospitalar, o que cau-
tal e animal. sará impactos de natureza variada,
c] Alteração da drenagem: a drena- principalmente pela disseminação
gem natural dos terrenos em que de algumas doenças parasit árias
são implantados os acampamentos é pela proliferação de insetos, ratos e
comandada por um fluxo laminar uni- baratas .
forme que se dirige aos vales locais. A g] Geração de efluentes líquidos e de-
implantação do acampamento alterará jetos: os efluentes líquidos dos mais
11 - Meio ambiente 1 319

variados tipos e origens representam antrópico: introduz doenças transmis-


o principal problema de saneamento síveis e modifica um pouco os costumes
básico, com impactos significativos locais, com a introdução de novos cos-
para as águas superficiais e subterrâ- tumes. Evidentemente, a introdução
neas. de novas tecnologias trazidas por essa
h] Geração de pó e poeira: os serviços de mão de obra representa um impacto
terraplenagem para a implantação do benéfico para a região.
empreendimento geram sempre muito
11.3.3 Impactos causados pela
pó e poeira, que impactam toda a ve-
abertura de acessos
getação remanescente no entorno da
área prevista para o acampamento. Os impactos gerados pela abertura
i] Geração de ruídos: os ruídos serão de acessos, que incluem o percurso entre
produzidos durante toda a implanta- a estrada principal e o acampamento e
ção do acampamento, principalmente deste para o canteiro de obras, são idênti-
pelas máquinas de terraplenagem. cos aos citados no item 11.2.1, referentes
Esses ruídos assustam os animais que aos acessos previstos na fase de projeto.
habitam as áreas vegetadas das proxi- Entretanto, a magnitude desses impac-
midades, e nem sempre esses animais tos é sensivelmente maior no presente
possuem alternativas de desloca- caso, pelos seguintes motivos: esses
mento, o que os leva ao estresse. acessos vigorarão por toda a vida útil do
j] Caça predatória: é comum ocorrer empreendimento; o fluxo de veículos pe-
uma caça predatória por parte dos sados é muito mais elevado; e a dimensão
operários que estão construindo o e o porte dos veículos são consideravel-
acampamento. mente maiores.
k] Contaminação do ar: o fluxo de má-
quinas e veículos leves e pesados
11.4 FASE DE CONSTRUÇÃO E
durante a instalação do acampamento
PREPARAÇÃO DO RESERVATÓRIO
e ao longo de sua ocupação liberará
uma grande quantidade de monóxido
11.4.1 Impactos gerados
de carbono, que deteriorará sensivel-
pela construção
mente a qualidade do ar nesse local,
principalmente quando não houver A construção das obras de barramento
uma boa regulagem dos motores dos incluirá o próprio maciço barrável e todas
veículos mais pesados. as suas obras auxiliares, como vertedouro,
1] Problemas relacionados com a mão tomadas d' água, desvio (canal ou túnel),
de obra: a implantação de um empre- ensecadeiras e, eventualmente, a usina,
endimento barrável sempre implica a no caso de a barragem ter a finalidade de
contratação de mão de obra externa, gerar energia elétrica. Nessa construção,
que contribui com dois aspectos am- devem ser valorados os seguintes impac-
bientais adversos ligados ao meio tos:
320 J Geologia de Barragens

a] Intensificação de impactos já des- 11.4.1; porém, os mais significativos são


critos: em função do porte e da dois, a saber:
extensão da obra, serão significante- a] Impacto visual: a escavação dessas
mente maiores os seguintes impactos: áreas de empréstimo deixa pare-
desmatamento; decapeamento do solo; dões rochosos ou terrosos que muito
compactação dos solos; instabilidade agridem o meio ambiente, sendo tal
de taludes; afugentamento de animais; degradação minimizada ou até evitada
caça predatória; problemas com mão quando tais áreas se situam a mon-
de obra; erosão e assoreamento; gera- tante da barragem em cota inferior
ção de ruídos; geração de pó e poeira; à do nível máximo do reservatório.
alteração da drenagem; contaminação Nesses casos, deve-se observar, com
do ar; geração de lixo; depósitos de ma- especial cuidado, a possibilidade de
teriais sólidos; e impacto visual. instabilidade dos taludes submersos
b] Redução do fluxo de jusante: até se a área degradada for constituída por
que a ensecadeira de montante esteja solo.
atuando em sua plena capacidade b] Criação de acessos: os acessos a cons-
de retenção, será mínimo o fluxo de truir entre a área de obras e as áreas
água a jusante da obra, principalmente de empréstimo deverão comportar
se essa ensecadeira for muito alta e a o tráfego de veículos pesados, razão
vazão do rio for reduzida. Nesse caso, pela qual deverão ocorrer os mesmos
os impactos poderão incluir a mortan- impactos relacionados no item 11.3.3
dade de peixes e prejuízos para todos para o acesso entre o acampamento e o
os que se utilizam da água do rio a ju- canteiro de obras, embora no presente
sante do empreendimento. caso esses acessos tenham um caráter
c] Impedimento da desova de peixes : os temporário.
peixes se dirigem para as cabeceiras
11.4.3 Impactos gerados na
dos rios, nadando em direção contrá-
preparação do
ria ao fluxo das águas, com o objetivo
reservatório
de depositar seus ovos nesses locais. A
construção da barragem constitui um A preparação do reservatório impõe os
obstáculo a esse processo natural de impactos de maior magnitude em um pro-
desova. jeto de barragem, uma vez que a limpeza
de toda a área que será inundada implica
11.4.2 Impactos gerados pela
elevados danos físicos , bióticos e econô-
explotação de materiais
micos. Os principais impactos decorrentes
naturais de construção
dessa atividade são os seguintes:
A explotação de material pétreo nas a] Destruição de extensas áreas de ve-
pedreiras, de material terroso nas jazi- getação arbórea: além da mata ciliar,
das de empréstimo e de areia nos areais presente em quase todas as margens dos
impõe os mesmos impactos descritos em principais rios, muitas áreas de mata de
11 - Meio ambiente 1 321

galeria, reserva legal e outras áreas de táveis, elevando substancialmente o


preservação ambiental podem ser des- custo dessas desapropriações .
truídas para evitar o apodrecimento
da madeira que ficará submersa. Sob o
11.5 FASE DE ENCHIMENTO
ponto de vista biótico, esse é um dos
DO RESERVATÓRIO
maiores impactos nesse tipo de empre-
endimento. Para o enchimento do reservatório, que
b] Instabilidade de taludes: desprovi- poderá levar meses, são fechados os dis-
das do manto vegetativo que fixa o positivos de desvio e toda a água que aflui
solo, muitas encostas poderão tornar- à obra é retida até o completo enchimento
-se instáveis, principalmente ao ficar do reservatório. Nessa fase , esperam-se os
submersas. seguintes impactos:
c] Erosão e assoreamento: ainda em
11.5.1 Inundação das áreas
função do desmatamento, os solos fica-
marginais
rão expostos à erosão, e se o enchimento
do reservatório for postergado, muito Essa inundação gerará os seguintes im-
solo erodido poderá dirigir-se ao leito pactos:
do rio, contribuindo para o assorea- • destruição da vegetação de grande
mento do futuro reservatório. porte, com redução do extrativismo
d] Desapropriação de terras: esse é o vegetal;
impacto que mais tem criado proble- • destruição de propriedades rurais,
mas para as obras de barramento nos com redução da economia agrícola;
últimos tempos. O reservatório a ser • inundação de eventuais jazimentos
criado inundará, indiferentemente, minerais, com redução da economia
áreas agrícolas, culturas de subsis- mineral;
tência, áreas de pastagens, além de • inundação de estradas de diferentes
propriedades rurais com diversificadas níveis, dificultando e onerando aces-
infraestruturas. Somando-se a todas sos entre núcleos populacionais;
essas benfeitorias o valor estimativo • inundação de povoados e até de
das terras e a insuflação de ONGs pequenas cidades, com prejuízos
rurais, esses impactos têm alcançado incalculáveis na vida de seus habi-
custos proibitivos em algumas regiões tantes.
brasileiras. Muitas áreas de condições
11.5.2 Redução de água a jusante
adversas, seja pela natureza do solo,
seja pelas fortes declividades, possuem Durante todo o período de enchi-
proprietários que não aceitam uma mento, o fluxo de água a jusante da obra
simples indenização de suas terras, será bastante reduzido, impedindo a vida
pois sabem muito bem que pouco piscosa, além de comprometer todos os
valem, mas exigem ser realocados para usuários que se utilizam das águas desse
áreas de excelentes condições agricul- rio para diversas finalidades.
322 1 Geologia de Barragens

11.5.3 Modificação da qualidade solos. Retiradas as construções, muitas


das águas áreas ficarão expostas à erosão do solo,
com riscos de assoreamento dos rios, e
O grande acúmulo de águas à deposição indiscriminada de restos de
provenientes de tributários com ca- construção.
racterísticas bem diversificadas pode
11.6.2 Desmobilização do
comprometer a qualidade das águas ar-
acampamento
mazenadas, em detrimento da utilização
para a qual se destina a obra projetada. A desmobilização do acampamento
Também o apodrecimento da vegetação varia muito em função de seu porte. Para
que não foi retirada da bacia hidráulica pequenas obras, geralmente o acam-
antes do enchimento poderá contribuir pamento é quase todo desmobilizado,
para a criação de algas que produzam a permanecendo apenas uma infraestrutura
eutrofização das águas armazenadas, para acompanhamento da operação da
comprometendo a qualidade dessas águas . obra, geralmente constituído por um pe-
Essa condição será exacerbada se houver queno escritório e uma ou duas casas.
afluxo de esgotos sanitários para o inte- Para as obras de médio a grande porte,
rior desse reservatório. em que a estrutura comporta todas as
construções relacionadas em 11.3.2, a
exemplo de um povoado, é comum perma-
11.6 FASE DE DESMOBILIZAÇÃO
necer todo o acampamento após concluída
DO CANTEIRO E DO
a obra, dando-lhe uma outra finalidade,
ACAMPAMENTO
desde uma área urbana com vida própria
até finalidades específicas, como para um
11.6.1 Desmobilização do
presídio. Os impactos gerados nos dois
canteiro de obras
diferentes casos são extremamente dife-
Independentemente do porte da obra rentes, como será comentado a seguir.
barrável, o canteiro de obras será total- a] Acampamento de pequeno porte: a
mente desmobilizado após a construção da desmobilização quase completa desse
barragem, uma vez que o monitoramento tipo de acampamento gerará os se-
e o gerenciamento da operação contarão guintes impactos:
com o suporte de uma infraestrutura im- • Impacto visual: a destruição de
plantada especificamente para esse fim. edificações provisórias que são
Assim, devem ser desmontadas todas as construídas nesse tipo de acam-
estruturas provisórias construídas para pamento, muitas delas feitas de
dar suporte à construção, incluindo ofi- madeira, deixará uma área arrasada,
cina, lavadora de máquinas e veículos, que agride significantemente a pai-
bombas de combustíveis, galpão de suca- sagem local.
tas etc. O principal impacto gerado nessa • Exposição do solo: retirada a pro-
desmobilização refere-se à exposição dos teção que as construções ofereciam,
11 - Meio ambiente 1 323

os solos ficarão expostos às erosões, cados, encontra outro meio de vida


com risco de aumentar o assorea- no acampamento remanescente,
mento do reservatório formado. será menos intenso o desemprego
• Deposição de lixo e sucatas: inva- em comparação ao caso em que o
riavelmente essa desmobilização acampamento é praticamente ex-
deixa resíduos de natureza variada tinto. Ainda assim, será significativo
espalhados por toda a área do antigo o desemprego para a mão de obra
acampamento, o que não apenas au- qualificada, a menos que consiga ser
menta o impacto visual, como ainda realocada para outra obra semelhante
cria a possibilidade de serem tais à concluída.
resíduos transportados pelas águas
pluviais para o interior do reservató-
11.7 FASE DE OPERAÇÃO
rio formado.
• Desemprego: qualquer que seja Na fase de operação, há duas atividades
a intensidade da desmobilização que podem gerar impactos ambientais: a
em uma obra, sempre terá como variação do nível do reservatório e a ma-
um dos maiores impactos o de- nutenção da infraestrutura remanescente.
semprego dos operários que ali
11.7.1 Variação do nível
trabalhavam. Esse desemprego
do reservatório
é inversamente proporcional ao
porte do acampamento, pois os Com as mudanças climáticas que são a
acampamentos reduzidos são quase cada dia mais frequentes e mais intensas,
totalmente desmobilizados, o que não há mais região nem clima que garanta
significa também o desemprego de uma fixação constante ao longo do ano
praticamente todo o efetivo de mão do nível máximo do reservatório criado
de obra existente. pela construção de uma barragem. Assim,
é comum ocorrerem elevadas deple-
b] Acampamento de médio a grande ções desse nível nas épocas de estiagem,
porte: a desmobilização desse tipo de quando voltam a ficar emersas extensas
acampamento implica os seguintes im- áreas que circundam todo o reservatório,
pactos: inclusive em seu trecho terminal. Essa ex-
• Impactos já descritos: caso o acam- posição cria os seguintes impactos:
pamento seja mantido para outra
a) Erosão das margens
finalidade após a construção da bar-
ragem, serão passíveis de ocorrer os Nas áreas emersas, o solo fica exposto
mesmos impactos prognosticados à erosão, pois já não conta mais com a
no item 11.3.2. proteção do manto vegetativo. Assim, nas
• Desemprego: considerando que primeiras chuvas após o período de estia-
uma grande quantidade de operários, gem, podem ocorrer fluxos concentrados
principalmente braçais não qualifi- ao longo das encostas desprotegidas, pro-
324 1 Geologia de Barragens

vocando a sua erosão e, por consequência, • infiltração de águas residuárias;


o assoreamento da bacia hidráulica. • instabilidade de taludes localizados;
• mudanças na qualidade da água do
b) Assoreamento no final do reser-
reservatório;
vatório
• surgências nos espaldares de jusante
Todo o trecho marginal do reservató- da barragem.
rio que fica desprotegido após uma forte
depleção pode tornar-se instável, prin-
11.8 ESTUDOS AMBIENTAIS
cipalmente quando suas declividades
já lhe conferem uma situação de critici- Embora no item anterior tenham sido
dade com relação à estabilidade. Outra citados alguns dos impactos passíveis
situação que pode levar à instabilidade de ocorrer na fase de operação de uma
nos reservatórios ocorre quando, du- barragem, consideram-se como estudos
rante uma enchente, a administração da ambientais apenas aqueles necessários ao
obra resolve abrir comportas para evitar licenciamento ambiental do empreendi-
o risco de um galgamento da barragem mento. Esse licenciamento é realizado em
que possa comprometer a sua integri- três diferentes etapas, quando são libera-
dade. Nesse caso, o nível do reservatório das, pela ordem cronológica, as seguintes
pode descer rapidamente e provocar nas licenças: prévia, de instalação e de operação.
encostas marginais um desequilíbrio nas
11.8.1 Documentação
tensões hidrostáticas que propiciem des-
locamentos de solos, conforme explicado Para formalizar o processo de qualquer
e ilustrado na Fig. 3.3e. uma das licenças referidas, é necessário
realizar o seguinte procedimento:
11.7.2 Manutenção da
infraestrutura a) Formulário Integrado de
remanescente Caracterização do Empreendi-
mento (FCEI)
Qualquer que seja o nível de gerencia-
mento na operacionalização de uma obra Será preenchido um formulário expe-
de barramento, é necessário manter uma dido pelo órgão ambiental, em que serão
infraestrutura local, que inclui, mini- detalhadas todas as características do
mamente, um escritório, uma residência empreendimento e a licença pretendida,
para o técnico responsável pelo gerencia- protocolando-o no órgão ambiental.
mento, as estradas de acesso à barragem
b) Formulário de Orientação
e as obras propriamente ditas. Toda essa
Básica Integrada (FOBI)
infraestrutura sempre gera impactos ao
longo da vida útil da obra, entre os quais Ao receber o FCEI, o órgão ambiental
podem ser citados: expedirá o FOBI, no qual fará exigências
• geração de lixo; para a apresentação de documentos rela-
• erosões localizadas; tivos a:
11 - Meio ambiente 1 325

• formalização do processo de licen- pingir alguma degradação ao ambiente em


ciamento; que será inserido. Concomitantemente,
• formalização do processo de APEF deverá ser diagnosticado o meio ambiente
(autorização para desmate); local e regional em todos os aspectos li-
• formalização do processo para o gados aos diferentes componentes desse
IGAM (utilização de águas superfi- meio, ou seja, relacionados aos meios
ciais e subterrâneas). físico, biótico, socioeconômico e cultural.
A interação dessas duas diferentes
c) Elaboração dos estudos relativos
componentes do novo sistema criado
a cada tipo de licenciamento
- empreendimento e meio ambiente -
d) Requerimento da licença pre- permitirá que sejam prognosticados os
tendida, com a protocolização dos impactos associados aos diferentes as-
documentos e estudos exigidos no FOBI. pectos ambientais consequentes dessa
interação. As medidas mitigadoras e com-
11.8.2Licença Prévia (LP)
pensatórias recomendadas resultarão da
Para requerer uma Licença Prévia valoração dos impactos prognosticados e
(LP) no órgão ambiental, é necessário têm como objetivo eliminar, retardar ou
formalizar nesse órgão um processo de reduzir os efeitos da degradação prevista.
licenciamento ambiental por meio da Para efeito ilustrativo, o Quadro 11.3
apresentação de um Estudo de Impacto apresenta um modelo de contextualização
Ambiental (EIA) . O principal objetivo desse de um relatório de EIA/ RIMA.
estudo é avaliar as possíveis formas de de -
11.8.3 Licença de Instalação (LI)
gradação ambiental, como consequência
da implantação de um empreendimento. Para a obtenção da Licença de Insta-
O resumo desse estudo, em linguagem lação (LI), é necessário formalizar esse
acessível ao público interessado, acha-se licenciamento no órgão ambiental por
apresentado na forma de RIMA (Relatório meio da protocolização de um Plano de
de Impacto Ambiental), permitindo que Controle Ambiental (PCA), o qual, indepen-
seu principal conteúdo possa ser ampla- dentemente do tipo de empreendimento,
mente debatido. Subsidiariamente, esse tem sempre os seguintes objetivos:
estudo define normas e procedimentos • Definir normas e metodologias para
que propiciem uma harmoniosa convi- pôr em prática as recomendações
vência entre o desenvolvimento da ação apresentadas no EIA/ RIMA para
antrópica conjeturada e a preservação do atenuar os impactos prognosticados;
ambiente original. • Elaborar os projetos necessários ao
Para atingir esses objetivos, é necessá- perfeito dimensionamento das obras
rio explicitar com o máximo de detalhes ambientais previstas no EIA/ RIMA;
as características do empreendimento a • Embasar a solicitação ao COPAM da
ser implantado, principalmente naqueles Licença de Instalação do empreendi-
aspectos que possam eventualmente im- mento analisado.
326 1 Geologia de Barragens

QUADRO 11.3 Modelo de contextualização de um relatório de EIA/ RIMA

1- Introdu ção o Qualidade do ar


Objetivos , localização e acessos , responsabilidade o Ruídos
técnica, empresa contratante e empresa o Sism icidade
contratada. o Espeleologia (se em áreas cársticas)
o Arqueologia
li - Características do emp reendimento
• Meio biótico
• Histórico do empreendimento
• Organização da empresa o Flora
• Cartografia básica o Fauna
• Características das obras • Meio socioeconômico e cultural
o Finalidades e capacidade da obra o Situação histórica e política
o Tipo e concepção do projeto da barragem o Aspectos populacionais
o Obras auxiliares o Indicadores sociais
• ensecadeiras o Atividades econômicas
• canais o Povoados que serão inundados
• túneis o Propriedades rurais que serão inundadas
• vertedouros V - Prognósticos e aval iação de impactos
• tomadas d 'água
• Definição das áreas de influência direta (AID)
• usina (se for uma hidrelétrica)
e indireta (AII)
o Efluentes gerados • Prognósticos sem implantação do
• Materiais naturais de construção empreendimento
• Infraestrutura de apoio • Inserção do empreendimento no meio
o Acampamento • Aspectos ambientais e impactos associados
o Canteiro de obras • Identificação dos aspectos e valoração dos
o Estradas de acesso impactos
o Energia o Impactos relacionados com a fase de
o Abastecimento d'água projeto
o Saneamento o Impactos relacionados com a fase de
o Comunicação instalação
o Impactos relacionados com a fase de
• Equipamentos utilizados
• Mão de obra construção
• Superficiários o Impactos relacionados com a fase de
enchimento do reservatório
Il i - Legislação e interven ções o Impactos relacionados com a fase de
• Legislações pertinentes desmobilização
• Planos e programas governamentais para a o Impactos relacionados com a fase de
região operação
IV - Diagnóstico amb iental VI - Medidas atenuadoras
• Meio físico • Síntese dos impactos gerados
o Clima • Planejamento ambiental
o Geologia e geomorfologia • Medidas mitigadoras
o Pedologia • Medidas de recuperação
o Hidrografia e hidrogeologia • Medidas compensatórias
11 - Meio ambiente 1 327

Para efeito ilustrativo, o Quadro 11.4 no órgão ambiental um relat ório ilus-
apresenta um modelo de contextualização trativo que demonstre, por meio de um
de um relatório de PCA. documentário fotográfico, a realização de
todas as obras ambient ais projet adas no
11.8.4Licença de Operação (LO)
PCA.
Para a obtenção da Licença de Opera-
ção (LO), é necessário apenas protocolizar

QUADRO 11.4 Modelo de contextualização de um relatório de PCA

1- Introdução o Estabilização de cortes e aterros nas


Objetivos , localização e acessos , estudos fundações
o Estabilização de cortes e aterros nos canais
anteriores, empresa contratante e empresa
contratada. e emboques de túneis
o Depósitos de materiais granulares
li - Impactos prognosticados
• Projetos para explotação de materiais
Ili - Medidas mitigadoras naturais de construção
Detalhamento das medidas recomendadas no
EI A / RIMA. o Depósitos de matéria orgânica
o Depósitos de solos de cobertura das
IV - Projetos de obras amb ientais
pedreiras
• Projeto de reassentamento da população o Estabilização de cortes em solos
atingida o Paiol para explosivos na abertura da
• Projetos para o acampamento pedreira
o Esgotamento sanitário • Projetos e Recuperação de Áreas
o Drenagem superficial Degradadas (PRAD)
0 Armazenamento e destinação do lixo
V - Prevenção de acidentes
0 Estabilização de taludes naturais e artifi-

ciais • Acidentes na construção


• Acidentes nas estradas
• Projetos para as estradas de acesso
• Acidentes nas jazidas de empréstimo
o Estabilização de taludes de cortes e aterros • Normas de segurança do trabalho
o Drenagem marginal e de encostas • Placas de sinalização
o Bacias de decantação
V I - Monitoramento
• Projetos para o canteiro de obras
• Controle do funcionamento de todas as
o Depósitos de materiais granulares (rocha obras ambientais projetadas
e solo)
VII - Cronograma de obras
o Armazenamento de sucatas
o Posto de combustíveis VIII - Responsab ili ade técn ica pelos projetos
o Caixa de separação de óleos e graxas e execução das obras amb ientais

• Projetos para a construção da barragem e


obras auxiliares
12 Critérios para escolha dos tipos de obras

A escolha dos tipos de obras que in- lar, sejam de terra, de enrocamento, ou
tegram um complexo de barramento mistas, com trechos em terra e trechos em
depende de uma série de fatores, mas é enrocamento. Obviamente, as estruturas
sempre da responsabilidade do geólogo de de tomada d'água, vertedouro e adução
engenharia a análise desses fatores e as para usinas, no caso de hidrelétricas,
primeiras recomendações sobre os tipos serão construídas em concreto, na posição
de obras mais adequados para atender aos que mais se adequar na relação topogra-
objetivos do projeto em uma determinada fia/concepção de obras e em atendimento
área. às condições geológicas das fundações.
Nas considerações que se seguem, não Nas áreas de declividades acentua-
serão abordadas especificidades do pro- das, a topografia favorece a concepção
jeto, como taludes, seção tipo, drenagem de maciço em concreto, estrutural ou
etc., por serem tais atributos objeto do compactado, e a decisão acerca do tipo de
detalhamento de cada obra e de respon- seção, em gravidade ou em contrafortes, é
sabilidade do engenheiro projetista, além feita em função da geologia das fundações.
de não interferirem na escolha do tipo de Em áreas em cânions, quando a extensão
barragem e obras auxiliares . Os fatores da barragem for inferior ao triplo de sua
que realmente pesam na escolha dos tipos altura, a topografia favorecerá o projeto
de obras de barramento são: topografia, de barragem delgada em concreto com
geologia das fundações, materiais natu- dupla curvatura.
rais de construção e meio ambiente.
12.1.2 Vertedouro

Sempre que houver pontos de fuga na


12 .1 TOPOGRAFIA
bacia hidráulica nas proximidades do eixo
As configurações morfológicas regio- barrável, haverá a possibilidade de proje-
nal e local poderão fornecer importantes tar um vertedouro nesse local, isolando-o
subsídios para a concepção das obras, não totalmente do maciço barrável, o que
apenas com relação ao corpo da barragem, constitui uma boa alternativa de projeto,
mas também para as obras auxiliares e principalmente em vales estreitos onde
desvio do rio. a melhor solução para o maciço barrável
recaia no maciço granular (terra ou enro-
12 .1.1 Corpo da barragem
camento).
Nas áreas de topografia suave são mais Quando há mais de uma depressão
indicadas as barragens de maciço granu- lateral, ou ponto de fuga da bacia hidráu-
330 1 Geologia de Barragens

lica, é comum o projeto de vertedouro 12. 2 .1 Corpo da barragem


fusível em um desses locais, ou o simples
fechamento com diques de terra ou enro- As fundações do corpo da barragem
camento. Na ausência dessas depressões, o podem ter várias origens geológicas,
vertedouro t eria que ser projetado no vale sendo possível agrupá-las nos seguintes
principal, p odendo ficar junto ao corpo da tipos:
barragem, em uma das ombreiras, através
a) Fundações em rocha
de túneis ou, ainda, do tipo tulipa.
Como visto no Cap. 4, as fundações
12 . 1.3 Desvio do rio
de uma barragem podem apresentar
Nos relevos mais suaves, o desvio problemas que interfiram no comporta-
do rio pode ser feito por meio de túneis, mento da obra sob três diferentes formas:
mas geralmente é possível executá-lo por deformabilidade, est abilidade e estanquei-
meio de canais. Já nos relevos com fortes dade. Quando a fundação é constituída por
declividades das ombreiras, o desvio é rocha sã, esses aspectos podem ser assim
sempre realizado por meio de túneis. analisados:

12.1.4 Obras auxiliares


Deformabilidade
A topografia pode ainda influir quanto Praticamente todas as rochas em bom
à localização de estruturas complementa- estado de sanidade oferecem boa resistên-
res, como, por exemplo, a casa de força nas cia à deformação, razão pela qual admitem
hidrelét ricas. Nos relevos suaves, essas qualquer tipo de barragem, até mesmo as
estrut uras se localizam no próprio vale, de concreto. Nas rochas sedimentares de
a jusante da barragem, porém nos vales natureza argilosa, como argilitos e fo-
muito estreitos, essas estruturas ou ficam lhelhos, seria prudente aliviar o peso da
à meia encosta, abrigadas ou em poço, ou barragem de concreto por meio da alter-
são subterrâneas. nativa de contrafortes .

Estabilidade
12.2 GEOLOGIA DAS FU NDAÇÕES
As rochas em si não apresentam pro-
A caracterização da geologia que com- blemas de estabilidade das fundações;
porá as fundações do corpo da barragem porém, como maciço rochoso, é possível
e das obras auxiliares (vertedouro, que a relação entre as descontinuidades
canais e túneis) é fundamental para a (estratificação, xistosidade e fraturas) e as
escolha do melhor tipo de barragem a tensões hidrostáticas possa induzir ins-
projetar, pois algumas situações geo- tabilidade na fundação, como analisado
lógicas podem impor sérias restrições no Cap. 4 . Na ausência do risco de insta-
para alguns tipos, como será exposto a bilidade, pode-se projetar qualquer tipo
seguir. de barragem; todavia, se forem previstos
tais riscos, devem-se evitar as barragens
12 - Critérios para escolha dos t ipos de obras 1 331

de concreto de gravidade e contraforte, a versal. Ao longo do perfil longitudinal,


menos que uma curvatura no plano hori- predomina a fração grosseira (cascalho e
zontal descarregue nas ombreiras parte areia grossa) nas partes mais elevadas de
das tensões hidrostáticas, o que seria um rio, e a fração fina (areia fina, silte e
motivo de estudos durante o projeto. argila) nas áreas de baixada, próximas à
sua confluência com os oceanos. Ao longo
Estanqueidade da seção transversal, predomina a fração
Os maciços rochosos, por serem ma- grosseira no leito do rio e a fração fina nas
teriais competentes, reagem aos esforços suas áreas marginais de inundação.
tectônicos por meio de fraturamentos , O ritmo de sedimentação corresponde
que podem apresentar magnitude, exten- à capacidade de transporte da carga sólida
são, frequência, direção e abertura muito pelos rios. No início do período chuvoso,
variáveis em relação ao fluxo das águas quando aumenta a velocidade das águas,
que irão percolar pelas fundações . Assim, somente a carga sólida constituída pela
esse tipo de fundação não restringe fração mais grosseira é depositada em um
qualquer tipo de barragem, mas exige pes- determinado trecho do rio. Uma vez que
quisas para avaliar se a permeabilidade essa velocidade é reduzida no final do
média da fundação é compatível com a período chuvoso, reduz a capacidade de
segurança da barragem, no caso de obra transporte da carga sólida, e muitos finos
de terra, e com o objetivo para o qual será são depositados sobre o material grosseiro
projetada a obra. Em caso negativo, terão já depositado. A cada ano esse ciclo de se-
que ser projetadas soluções para a redução dimentação se repete, podendo, em alguns
dessa permeabilidade, conforme descrito locais, formar-se pacotes de aluviões de
no Cap. 8. textura variada, constituindo camadas ou
leitos alternados.
b) Fundações em aluviões
Em função do exposto, uma funda-
Em princípio, as fundações consti- ção aluvionar de uma barragem pode
tuídas por aluviões excluem qualquer apresentar problemas variados em
possibilidade de barragem de concreto função da textura do(s) material(is) que
e, em geral, também de enrocamento. a constitui(em). Quando predominam
Mesmo para barragens de terra, pode o cascalho e a areia grossa, não ocor-
haver restrições que exijam adaptações rem problemas de deformabilidade e
aos projetos convencionais, e isso por estabilidade para essas fundações, pois
causa da extrema variação de textura que a consolidação desses materiais ocorrerá
pode ocorrer nos solos aluvionares, prin- logo nos carregamentos iniciais da obra.
cipalmente em função de dois aspectos: Todavia, esses materiais induzirão pro-
localização e ritmo de sedimentação. blemas de estanqueidade que deverão ser
A localização interfere de duas solucionados. Se a areia das fundações for
formas: em relação ao perfil longitudinal pura, fina e uniforme, pode apresentar
do rio e em relação à sua seção trans- problemas de deformabilidade e estabi-
332 1 Geologia de Barragens

lidade por estar sujeita ao fenômeno da eles, sendo recomendável a barragem de


liquefação. Quando predominam os mate- enrocamento ou de terra, ambas com um
riais argilosos, podem ocorrer problemas cut-off bem compactado.
de deformabilidade e estabilidade não
d) Fundação em solo residual
somente nas fundações, mas também no
corpo da barragem. Uma alternativa para Na análise do solo residual, que é for-
esse caso seria reduzir as declividades mado in situ pela intemperização física e
dos espaldares da barragem, interca- química da rocha, será analisado apenas
lando bermas que aumentem a base da o solo maduro, ou totalmente formado,
barragem. que inclui os horizontes A e B. Em qual-
Por todos os problemas previstos para quer circunstância, deve-se retirar
fundações em aluviões, o ideal mesmo inteiramente o horizonte A (solo orgânico
é retirar esse material em parte ou ou top-soil), que geralmente se aprofunda
totalmente, desde que isso seja economi- até os 30 cm ou 40 cm. Se a espessura do
camente viável. horizonte B for grande, o que é comum
nos latossolos em clima tropical, são
e) Fundação em solo coluvionar e
excluídas todas as alternativas de bar-
tálus
ragens de concreto, e a sua manutenção
O colúvio é um material que recobre deverá admitir barragens de terra se o
algumas encostas, proveniente do trans- SPT for superior a 7, e barragens de en-
porte por gravidade de solos de natureza rocamento se o SPT for superior a 20. A
variável existentes nas partes mais ele- deformabilidade desses solos geralmente
vadas. Em consequência dessa origem, não ultrapassa os 2% de sua espessura,
esses solos possuem uma textura extre- o que será contido na fase construtiva.
mamente variável, são porosos e pouco Embora não apresentem, em princípio,
compactados. Os tálus possuem a mesma risco de instabilidade nas condições ante-
origem dos colúvios e se distinguem destes riormente referidas, recomenda-se uma
por dois aspectos: localizam-se sempre no análise de estabilidade na fase de pro-
pé das encostas e possuem blocos e ma- jeto. Quanto à estanqueidade, os solos
tacões de tamanhos variados imersos em residuais geralmente possuem um forte
uma matriz arenoargilosa. componente argiloso, que lhes confere
A extrema heterogeneidade física e uma baixa permeabilidade, embora isso
mecânica desses materiais pode induzir não os isente de ser submetidos a testes
graves problemas de deformabilidade, es- de infiltração na fase de projeto.
tabilidade e estanqueidade das fundações Um solo residual que pode apresentar
e do próprio corpo da barragem. Assim, problemas como fundação é aquele resul-
sempre que economicamente viável, re- tante da alteração de arenitos de textura
comenda-se a retirada desses materiais. muito fina, quando a areia resultante, se
Na impossibilidade de fazê-lo, sugere- for fina e uniforme, pode propiciar proble-
-se não projetar estruturas rígidas sobre mas de liquefação quando saturada.
12 - Critérios para escolha dos tipos de obras 1 333

e) Fundação em solo saprolítico e penderá da velocidade prevista para esse


em saprólito fluxo, e no caso da rocha sã, não será ne-
cessário qualquer revestimento, embora
Os solos saprolíticos e os saprólitos seja necessário analisar a possibilidade de
possuem propriedades semelhantes no desmonte de blocos formados pelo fratu-
que tange à influência das estruturas ramento, conforme descrito no item 5.1.3 .
reliquiares sobre a estabilidade das fun-
c) Túneis
dações. Ainda assim, os solos saprolíticos
são mais problemáticos, pois a hetero- A geologia interfere na abertura de
geneidade representada pela mistura de túneis de duas formas: nos emboques e ao
solo mais maduro com blocos e mata- longo do seu traçado. No item 5.4.2 foram
cões do saprólito pode influir também analisadas todas essas influências e previs-
na deformabilidade diferencial das fun- tas as formas de evitar problemas na sua
dações. Dessa forma, recomenda-se construção.
apenas a barragem de terra para os solos
saprolíticos se o SPT for superior a 10, en-
12.3 MATERIAIS NATURAIS
quanto para os saprólitos pode-se antever
DE CONSTRUÇÃO
também a possibilidade de barragem de
enrocamento. Os tipos de materiais naturais de
construção poderão limitar a concepção
12.2.2 Obras auxiliares
do projeto de uma obra de barramento,
principalmente em função dos seguintes
a) Vertedouro e tomadas d'água
fatores: localização, quantidade e caracte-
As estruturas em concreto devem ser rísticas técnicas.
projetadas somente sobre rocha sã. Caso o
12.3.1 Localização
vale possua cobertura espessa de aluvião,
essas estruturas devem ser deslocadas No Cap. 9 discutiu-se a importância
para as ombreiras, onde as espessuras do de minimizar o transporte dos materiais
solo residual ou coluvionar geralmente naturais construtivos, por representar a
não são muito elevadas, o que reduz os maior parcela no custo desses materiais.
custos de sua remoção. Por isso, é de total importância utilizar
para a construção da obra todo o material
b) Canais
resultante de escavações, o que implica
Dependendo da cota do fundo do uma estreita relação entre o tipo de obra e
canal, poderá ser necessária a escavação a aquisição de materiais naturais de cons-
de solo, saprólito e rocha. Em solo, deve- trução. Como nem sempre essa relação
-se revestir a escavação com concreto, existe, é imperativo que os empréstimos
independentemente da velocidade pre- estejam localizados o mais próximo pos-
vista para as águas que percolarão sobre o sível da obra, muitas vezes privilegiando
canal. No saprólito, esse revestimento de- um material de pior qualidade sobre outro
334 1 Geologia de Barragens

de melhor qualidade, em função das dis - função de dois aspectos: materiais natu-
tâncias entre esses materiais e a obra. rais de construção e áreas inundadas.

12.3.2 Quantidade 12.4.1 Materiais naturais


de construção
A definição do melhor tipo de obra
pode ser condicionada pelo material que A influência do meio ambiente sobre os
apresentar um volume compatível com a materiais naturais de construção ocorre
necessidade da obra, a distâncias de explo- quando o cotejo entre materiais terrosos
tação economicamente viáveis. Da mesma e pétreos resulta em grande diferença de
forma que não adianta pensar em barra- impacto ambiental. Já se mencionou, com
gem de concreto se não houver volumes de relação aos impactos ambientais, que o ideal
rocha e areia que atendam ao projeto con- na localização de empréstimos seria que se
cebido, não adianta pensar em barragem localizassem a montante da barragem e em
de terra se os solos locais forem muito cota inferior à prevista para o nível máximo
rasos ou inexistentes, como em regiões do reservatório, pois, ao ser completado
de clima árido a semiárido. Evidente- o seu enchimento, todas as escavações fi-
mente, um volume mínimo de materiais cariam submersas. Essa condição nem
pétreos e arenosos precisa ser encontrado, sempre pode ser atendida e, nesse caso, a
independentemente do tipo de obra con- extensão da degradação resultante da ex-
cebido, uma vez que qualquer barragem plotação desses materiais e a dificuldade
terá alguma estrutura em concreto, como na sua recuperação podem representar im-
vertedouro, tomada d'água etc. pactos ambientais significativos.
As pedreiras possuem extensão menor
12.3.3 Características técnicas
que as áreas de empréstimo de materiais
do material
terrosos, porém a sua recuperação é bem
Os materiais que compõem uma barra- mais complexa. Por outro lado, quando
gem precisam atender a três propriedades: os solos são pouco espessos e o volume
estabilidade, deformabilidade e estanquei- do maciço terroso a construir é elevado,
dade. É pensando nessas propriedades que torna-se muito extensa a área a ser recu-
se deve analisar a disponibilidade de ma- perada. Assim, o cotejo dessas situações
teriais naturais nas proximidades da obra pode ser determinante na escolha do
a projetar, a fim de que esse item possa ser melhor tipo de barragem.
considerado um critério importante na es-
12.4.2 Áreas inundadas
colha do tipo de barragem que melhor se
adapte à região considerada. Embora o impacto causado pela
inundação de áreas ocupadas antropica-
mente não interfira na escolha do tipo
12.4 MEIO AMBIENTE
de barragem, pode influir na sua altura,
O meio ambiente pode influir na deci- dependendo do porte das ocupações a ser
são sobre o melhor tipo de barragem em inundadas, como cidades, estradas etc.
12 - Critérios para escolha dos tipos de obras 1 335

12 .5 FASE DE DEFINIÇÃO DO TIPO reagiram com os carbonatos dessa rocha


DE BARRAGEM para formar o sulfato de cálcio. Em razão
do temor de que os carbonatos do cimento
A escolha do tipo de barragem pode pudessem reagir de forma semelh ante,
ter início na fase de reconhecimento e abandonaram-se as duas alternativas
ser aprimorada nas sucessivas fases de indicadas para o tipo de barragem e foi
estudo. Podem-se citar dois casos distin- desenvolvida, na fase de projeto básico, a
tos em que ocorreram diferentes situações alternativa de maciço homogêneo de terra.
de escolha do tipo de barragem, e nos Essa alternativa havia sido inicialmente
quais o autor teve part icipação direta. desprezada por questões ambientais, já
No projeto da barragem de ]aguarão, que os solos da região eram muito rasos,
na divisa entre Brasil e Uruguai, o consór- demandando extensas áreas de degrada-
cio responsável pelo projeto era formado ção ambiental para se obter um volume
por uma empresa brasileira (estudos ge- para uma barragem com 200 m de altura,
otecnológicos), uma empresa uruguaia o que acarretaria um elevado custo para a
(estudos hidrológicos) e uma empresa recuperação dessas áreas.
americana (projeto da obra). Na viagem de Esses são apenas dois exemplos,
reconhecimento, os representantes dessas entre tantos outros de obras já construídas
empresas percorreram a área de interesse no Brasil, que demonstram que, em qual-
do projeto e, ao final do dia, o projetista quer fase de estudo de uma barragem, a
fez a seguinte pergunta ao geólogo brasi- escolha do melhor tipo de obra pode ser
leiro: "Qual o tipo de barragem que devo definida e, eventualmente, modificada,
projetar?". Em função das características sempre condicionada pelos quatro fatores
topográficas, geológicas (superficiais), aqui abordados.
ambientais e de materiais naturais de
construção, o geólogo respondeu: "Bar-
ragem de enrocamento". Evidentemente,
tratava-se de uma escolha preliminar, que
poderia tornar-se definitiva com base nos
estudos detalhados que se sucederiam.
Na barragem de Irapé, construída pela
Cemig no rio Jequitinhonha, no Estado
de Minas Gerais, os estudos realizados na
etapa de viabilidade conduziram a escolha
do tipo de barragem para duas alternati-
vas: enrocamento com face de concreto e
concreto rolado ou compactado. Ao final
dessa fase de estudos, constatou-se que a
pirita encontrada no micaxisto da funda-
ção, ao se decompor, liberou sulfatos que
Apêndice 1 - Glossário de termos técnicos

Acidente estrutural (structural damage) - ou imediatament e a jusante da saída de um


acidente resultante de rupt ura da barragem ou t únel ou conduto, com a finalidade de am or-
de suas feições complementares. tecer a velocidade da água e o seu pot en cial de
Adufa ou Conduto de desvio (slui- erosão.
ceway) - conduto provisório para desvio do Barragen (dam) - est rutura para conten-
rio em barragens de concreto. ção e/ ou armazenamento da água con struída
Água restituída (tail water) - água que flui em um rio.
a jusante da barragem através de condutos, Barragem de t erra (earthfill dam) - barra-
túneis ou vertedouros. gem construída por solo compact ado.
Agregado (agregate) - material natural Barragem de enrocamento (rockfill dam) -
usado no fabrico do concreto. barragem const ruída preponderant emen te
Área de empréstimo (borrow area) - área por enrocamento.
em que podem ser retirados os materiais na- Barragem de concreto (concrete dam) -
turais usados na construção de barragens. barragem construída por concreto armado.
Arranjo geral (lay out) - disposição em Bloco (block) - seção em que se divide uma
planta dos vários componentes de uma bar- barragem de concreto de gravidade.
ragem. Borda livre (freeboard) - porção da bar-
At erro compactado (compacted fill) - ma- ragem acima do nível máximo de água do
terial compactado com auxílio de rolo ou reservatório.
vibrador no corpo da barragem de terra ou de Bota-fora ou depósito de estéreis (spoil
enrocamento. area) - área usada para deposição do material
Bacia h idráulica (hidraulic basin) - bacia que não é usado na barragem, geralme n te re-
formada pelo reservatório criado pela barra- sultante do estéril das áreas de empréstimo
gem. e/ ou das escavações para implantação das
Bacia hidrográfica (hidrographic basin) - obras .
bacia de contribuição hidráulica para o Calda (g rout) - mistura de água, cimento
reservatório criado pela barragem. e, event ualmente, argila, pozolanas ou pro-
Bacia ativa (active basin) - porção superior dutos químicos , que é injetada nas fundações
da bacia hidráulica, acima de uma determi- para reduzir a percolação de água ou melhorar
nada cota, que pode ser usada para o objetivo a resistência do maciço.
da barragem. Câmara de válvula (valve chamber) -
Bacia inativa (inactive basin) - porção in- câmara onde são instaladas as válvulas para
ferior da bacia hidráulica cuja água não pode controle do fluxo da água.
ser usada para o objetivo da barragem. Canal de adução (inlet channel) - canal
Bacia de dissipação (stilling basin) - estru- através do qual a água é descarregada de mon-
tura localizada na parte inferior do vertedouro tante para jusante.
338 1 Geologia de Barragens

Canal de aproximação (approach channel)- Contraforte (buttress) - mu ro delgado em


canal que recebe as águas para encami- concreto, usado como reforço perpendicular
nhamento ao vertedouro ou à estrutura de a outro muro ou suportando uma laje de con-
adução. creto em uma barragem.
Canal de fuga ou de restituição (tailrace Crista (crest) - linha de topo de uma bar-
channel) - canal que restitui para o leito de ju- ragem.
san te as águas procedentes da casa de força. Cortina (curtain) - zona da fundação
Canal de descarga (chute) - o mesmo que injetada ou preenchida com material imper-
canal de adução. meável, para reduzir a percolação da água.
Carga hidráulica (head) - carga res ultante Depleção (drawdown) - redução do nível
da pressão hidrostática gerada pela altura da d'água no reservatório.
água no reservatório . Descarga de fundo (bottom outlet) - tu-
Casa de força (powerhouse) - usina de ge- bulação na base da barragem para limpeza do
ração de energia associada às barragens para reservatório.
fins hidrelét ricos . Dique (dike) pequena barragem
Chaminé de equilíbrio (surge tank ou construída em qualquer situação morfológica,
shaft) - túnel vertical acima do túnel de pres- independentemente da existência de algum
são, cujo objetivo é manter estável a pressão no curso d'água para barrar.
túnel em função das variações causadas pelo Dique selante (saddle dike) - dique
aumento ou redução do fluxo da água. construído em um rebaixamento da topogra-
Cimentação de regularização (blanket fia na borda de um reservatório.
grouting) - injeção sistemática de pouca pro- Dreno (drain) - estrutura geralmente tu-
fundidade, com cimento, água ou soluções bular para coletar água de alguns trechos da
químicas, para regularizar a fundação ro- barragem ou das fundações, a fim de reduzir
chosa de uma barragem. as pressões hidrostáticas .
Comporta (gate) - estrutura móvel para Eclusa de navegação (navigation lock) -
controlar o fluxo de água em uma barragem. estrutura construída em uma barragem para
Comporta auxiliar (s top log) - estrutura possibilitar a travessia de embarcações entre
para obstrução provisória do fluxo da água o trecho de montant e e o de ju sante.
para manutenção de comportas permanentes. Eixo da barragem (axis of dam) - linha de
Concreto asfáltico (asp haltic concrete) - referência correspondente à projeção da crista
mistura de agregado e betume usada para e usada durante a locação e construção da bar-
impermeabilização de núcleos ou da face de ragem .
montante de barragens. Embasamento (bedrock) - maciço rochoso
Concreto rolado (rolled concrete) - con- praticamente são que integra a fundação de
creto espalhado e compactado com auxílio do uma barragem.
trator. Enrocament o (rock fzll) - agregado de
Conduto forçado (headrace tunnel ou pens- rocha de grandes dimensões colocado em uma
tock) - túnel ou tubulação de aço que conduz barragem.
água sob pressão do reservatório para a casa Ensecadeira (cofferdam) - barragem tem-
de força. porária construída a montante e a jusante da
Apêndice 1 - Glossário de termos técnicos 1 339

barragem definitiva a fim de construir a obra Maciço (embankment) - corpo de u ma bar-


em terreno seco. Eventualmente pode ser in- ragem de terra ou de enrocamento.
corporada à barragem definitiva. Material permeável (pervious material) -
Escada de peixe (fi.sh ladder) - estrutu ra material predominantemente arenoso, através
construída ao lado ou na face de jusante da do qual a água flui com relat iva facilidade.
barragem, permit indo a migração de peixes Material impermeável (impervious ma-
para montante ou para jusante. terial) - material rico em argila e que opõe
Escoadouro (outlet) - estrutura para faci- resistência à passagem da água.
litar a saída das águas restituídas. Muro de transição (transition block) - muro
Filtro (fi.lter) - camada de material perme- de concreto que penetra parcialmente na bar-
ável disposta na vertical ou na horizontal para ragem de terra ou de enrocamento.
direcionar o fluxo interno das águas em uma Núcleo (core) - porção central de uma
barragem de terra ou de enrocamento. barragem de terra ou de enrocamento, cons-
Fundação (foundation) - material sobre o tituída por material impermeável.
qual serão assentadas a barragem e suas obras Ombreira (abutment) - t recho da fun da-
complementares.
ção correspondente às encost as do vale, sobre
Furo de drenagem (drainage hole) - furo
o qual se assentará a barragem.
aberto na barragem ou em sua fundação para
Ombreira direita (right abutment) - om-
interceptar a água de percolação.
breira direita vista de montante para jusante.
Galeria (gallery) - passagem estreita
Ombreira esquerda (left abutment) -
construída na base de uma barragem e para-
ombreira esquerda vista de montante para
lelamente ao seu eixo, usada para inspeção,
jusante.
injeção ou controle de drenagem .
Paramento (face) - face de uma barragem
Galeria de adução (inlet gallery) - galeria
de concreto.
construída transversalmente ao eixo da bar-
Parapeito (parapet) - muro de concreto ou
ragem para abrigar tubulações de adução ou
alvenaria construído ao longo das bordas da
para funcionar como descarga de fundo .
crista de uma barragem.
Grade (trash rack) - tela reforçada
Pé de montante (heel) - contato de mon-
construída na entrad a de condutos ou túneis
tante da barragem com a fundação.
para evitar a penetração de materiais trans-
Pé de jusante (toe) - contato de jusante da
portados pela água .
Injeção (grouting) - operação em que a barragem com a fundação.

calda é infiltrada sob pressão através de furos Plant a geral (general plan) - o mesmo que

abertos na barragem e em suas fundações . arranjo geral.


Instrument ação (instrumentation) - equi- Plinto (plynth) - estrutura de concreto
pamentos instalados no corpo da barragem e construída em uma pequena trincheira aberta
em suas fundações para controlar o comporta- no pé de montante da barragem de enro-
mento da obra com o enchimento e operação camento, na qual se apoia a laje de concreto
do reservatório. construída na face de montante desse tipo de
Junta de construção (construction joint) - barragem.
junta entre dois blocos de concreto adjacentes Poço de alív io (relief we/1) - poço esca-
em uma barragem de concreto. vado nas proximidades do pé de jusante da
340 1 Geologia de Barragens

barragem para coletar água de percolação na tecimento (humano, irrigação etc.) ou à casa
fundação. de força.
Poço de observação (observation well) - Tirante (rock bolt) - cabo de aço colocado
poço usado para observar variações no fluxo em um furo e, eventualmente, t ensionado
de água através da barragem ou em suas para aumentar a resistência do maciço ro-
fundações, durante as variações do nível do choso.
reservatório. Trincheira (cut-off) - prolongamento do
Poço de pêndulo (pendulum shaft) - poço núcleo dentro das fundações para reduzir a
construído em barragens de concreto para con- percolação da água nas fundações.
trolar as defleções da barragem sob carga. Trincheira cimentada (grout trench) -
Protensão (prestressing) - tensionamento trincheira escavada e preenchida com calda
dado no concreto através de cabo de aço para de argila-cimento.
aumentar a sua resistência . Túnel adutor (inlet tunnel) - túnel para
Quebra-ondas (rip-rap) - enrocamento adução de água para abastecimento ou para
colocado na parte mais superior do talude de encaminhamento à casa de força.
montante de uma barragem de terra para eli- Túnel de desvio (diversion tunnel) - túnel
minar o efeito erosivo das ondas criadas no para desvio das águas do rio durant e a cons-
reservatório. trução da barragem.
Rebaixamento (drawdown) - o mesmo que Tún el de pressão (pressure tunnel) - túnel
depleção. que transmite água sob moderada a alta pres-
Reservatório (reservoir) - bacia de acu- são.
mulação ou armazenamento de água criada Tulipa (glory hole) - tipo de vertedouro em
pela barragem. A superfície do reservatório que a água penetra em um tubo vertical de
corresponde à bacia hidráulica. concreto a montante da barragem, escoando
Salto de esqui (bucket) - porção encur- sob o corpo desta e saindo a jusante.
vada da base do vertedouro que força o fluxo Vertedouro (spillway) - estrutura através
da água vertida a subir antes de sair da bacia da qual escoa o fluxo excedente do reserva-
de dissipação, amortecendo o seu poder de tório. Também chamado de sangradouro ou
erosão ao cair sobre a rocha. extravasar.
Talude (slope) - inclinação de montante ou Volume morto (dead storage) - volume de
de jusante de um maciço terroso ou de enro- água do reservatório situado abaixo de uma
camento. determinada cota, cuja utilização é inviabi-
Tapete imperm eável (impervious blan- lizada por questões técnicas relacionadas ao
ket) - tapete delgado de material impermeável, projeto.
que se inicia no núcleo e dirige-se para montante Zona de filtro (filter zone) - zona porosa
da barragem, objetivando aumentar o caminho no interior da barragem ou abaixo dela, des-
de percolação da água pela fundação, reduzindo tinada a interceptar e direcionar o fluxo de
o seu gradiente hidráulico. águas de percolação.
Tomada d'água (in take) - abertura por
onde entram as águas direcionadas ao abas-
Apêndice 2 - Principais normas técnicas
da ABNT aplicadas a solos e agregados

Ref. NBR Outra reter. Ano Descrição


2395 NM-ISO 1997 Peneira de ensaio e ensaio de peneiramento
Grãos de pedregulho retidos na peneira de 4,8 mm - Determinação
6458 MB 29 1984 da massa específica, da massa específica aparente e da absorção
de água
6459 1984 Solo - Determ inação do limite de liquidez
Agregados - Determinação do inchamento de agregado miúdo -
6467 MB 215 1987
Método de ensaio
Reconhecimento e amostragem para fin s de caracterização de
6490 NB 28 1985
ocorrência de rochas
Reconhecimento e amostragem para fins de caracterização de
6491 NB 29 1985
pedregulho e areia
6502 TB 3 1995 Rochas e solos
7180 1984 Solo - Determinação do limite de plasticidade
7181 1984 Solo - Análise gran ulom étrica
7182 1986 Solo - Ensaio de compactação
7183 1982 Determinação do limite e relação de contração de solos
Solo - Determinação da massa específica aparente in situ com
7185 MB 238 1986
emprego do frasco de areia
7211 EB 4 1993 Agregados para concreto - Especificação
7217 MB7 1987 Determinação da composição granulométrica dos agregados
Agregados - Determinação do t eor de argila em torrõe s e materi ais
7218 MB 8 1987
friáveis
7219 MB9 1987 Agregados - Determinação do teor de materiais pulverulentos
7221 MB 95 1987 Ensaio de qualidade de agregado miúdo
7389 NB 47 2009 Agregados: An álise petrográfica de agregado para concreto
7809 MB 1776 1983 Determinação do índice de forma pel o método do paquímetro
Agregados - Determ inação da umidade superficial em agregado
9775 MB 2642 1986
miúdo por meio do frasco de Chapman - Método de ensaio
Agregado - Verificação da reatividade potencial pelo método
9784 1987
químico
Agregado para concreto - Determinação de sais, cloreto s e su lfatos
9917 MB 2686 1987
solúveis
9935 TB 309 1987 Agregados - Term inologia
Agregados - Determinação do teor de partículas leves - Método
9936 MB 2697 1987
de ensaio
Agregados - Determinação da absorção e da massa específica de
9937 MB 2698 1987
agregado graúdo - Método de ensaio
342 1 Geologia de Barragens

Ref. NBR Outra refer. Ano Descrição


Agregados - Determinação da resistência ao esmagamento de
9938 MB 2699 1987
agregados graúdos - Método de ensaio
Agregados - Determinação do teor de umidade total por secagem
9939 MB 2700 1987
em agregado graúdo - Método de ensaio
Agregado graúdo para concreto - Determinação do módulo de
10341 MB 2818 2006 deformação estático e do diagrama tensão-deformação em rocha
matriz - Método de ensaio
Agregado graúdo - Verificação da adesividade a ligante
12583 MB 3534 1992
betuminoso
Agregados - Verificação do comportamento mediante ciclagem
12695 MB 3560 1992
natural - Método de ensaio
Agregados - Verificação do comportamento mediante ciclagem
12696 MB 3561 1992
artificial água-estufa
Agregados - Avaliação do Comportamento Mediante Ciclagem
12697 MB 3562 1992
Acelerada com Etilenoglicol - Método de ensaio
15577-4
Agregados - Reatividade álcali-agregado - Parte 4: Determinação
(e/correção 2008
da expansão em barras de argamassa pelo método acelerado
2:2009)
15845 2010 Rochas para revestimento - Métodos de ensaio
Agregados - Redução da amostra de campo para ensaios de
NM27 2001
laboratório
NM30 2001 Agregado miúdo - Determinação da absorção de água
Agregados - Determinação da massa unitária e do volume de
NM45 2006
vazios
Agregados - Determinação das impurezas orgânicas húmicas em
NM49 MB 10 2001
agregado miúdo
NM 51 MB 170 2001 Agregado graúdo - Ensaio de abrasão " Los Angeles"
Agregados - Constituintes mineralógicos dos agregados naturais -
NM66 1998
Terminologia
Apêndice 3 - Conversão de unidades do Sistema
Internacional de Unidades (SI) para as principais
unidades (Frazão, 2002; lnmetro, 1989)
Prefixos do Sistema Internacional de Unidades (SI)
Nome Símbolo Fator pelo qual a unidade é multiplicada
exa E 1018 = 1 000 000 000 000 000 000
peta p 1015 = 1 000 000 000 000 000
tera T 1012 = 1 000 000 000 000
giga G 109 = 1 000 000 000
mega M 106 = 1 000 000
quilo k 103 = 1 000
hecto h 102 = 100
deca da 10
deci d 10-1 = 0,1
centi c 10-2 = 0 ,01
mili m 10-3 = 0,001
micro µ 10-6 = 0 ,000 .001
nano n 10-9 = 0 ,000 .000.001
pico p 10-1 2 = 0 ,000 .000.000.001
fecto f 10-15 = 0 ,000.000.000.000.001
atto a 10-1s = 0 ,000.000.000.000.000.001

Algumas unidades de base


Grandeza Unidade Símbolo
Comprimento (L) metro m
Massa (M) quilograma kg
Tempo (T) segundo
Temperatura (T) kelvin K (1 K = 1º C)

Algumas unidades suplement ares


Grandeza Unidade Símbolo
Superfície metro quadrado m2
Volume metro cúbico
Velocidade metro por segundo m/ s
Aceleração metro por segundo ao quadrado m/ s2
Massa específica quilograma por metro cúbico kg/ m 3

Algumas unidades derivadas


Grandeza Unidade Símbolo
Frequência hertz Hz
Força newton N
Tensão, Pressão pascal Pa
Trabalho joule
Momento newton-metro N.m
344 1 Geologia de Barragens

Principais conversões de unidades


Massa específica
g/cm 3 kg/m 3 lb/in 3 UKton/yd 3 USton/yd 3 lb/ft 3
1 1.000 0,03613 0,75247 0,8428 62,423
10-3 1 3,613 X 10-5 7,525 X 10-4 8,428 X 10-4 6,253 X 10-2
27,680 27.680 20,828 23,328 1,728 X 103
1,3289 1,3289 X 103 4,801 X 10-2 1 1,12 82,955
1,1865 1,186 X 103 4,287 X 10-2 0,8929 1 74,074
1,602 X 10-2 16,019 5,787 X 10-4 1,205 X 10-2 1,35 x 10-2 1

Força e peso
MN kN N kgf tonf lbf
1 1.000 106 1,0196 x 105 100,4 2,248 X 105
10-3 1 103 101 ,96 0,1004 224,82
10-6 10-3 1 0,10196 1,004 X 10-4 0,2248
9,807 X 10-6 9,807 X 10-3 9,807 9,842 X 10-4 2,2048
9,964 X 10-3 9,964 9,964 1.016 1 2.240
4,448 X 10-6 4,448 X 10-3 4,448 0,45355 4,464 X 10-4

Pressão, deformação e módulo de deformabilidade


MN/m 2
kN/m 2 kp Psi
bar atm lbf/ft 2
MPa kPa kgf/cm 2 lbf/in 2
1.000 10,197 10.000 9,869 102 ,2 335 ,2 7.500,6 9,320 145,04 20.886
1,019 X 9 87
0,001 0,0100 • X 0 ,1 022 0,3352 7,5005 0,0093 0,14504 20.866
10-2 10-3
9,807 X
98 ,07 0,9807 0,9678 10,017 32 ,966 735,56 0,9139 14,223 2.048 ,1
10-2
0,100 100,0 1,0197 1 0,9869 10,215 33 ,515 750,06 0,9320 14,504 2.088 ,6
0,1013 101 ,33 1,0332 1,0132 10,351 33 ,959 760,06 0,9444 14,696 2.116,2
9,78 X 9,983 X 9,789 X 9,661 X 9,124 X
9,7885 1 3,2808 73 ,424 1,41 98 204,45
10-3 10-2 10-2 10-2 10-2
2,983 X 3,043 X 2,98 1 X 2,945 2,781 X
2,9836 0,3048 22,377 10-2 0,43275 62 ,316
10-3 10-2 10-2 X 10-2
1,33 X 1,359 x 1,333 x 1,315 x 1,362x 4,469 x 1,243 X 1,934 X
0,1333 1 2,7845
10-4 10-3 10-3 10-3 10-2 10-3 10-2 10-2
0,1073 107,3 1,0942 1,0730 1,0589 10,960 35 ,960 804,78 15,562 2.240,0
6,895 X 7,031 X 6, 896 6,895 6,426 X
6,895 0,7043 2,3108 51,714 144,00
10-3 10- 2 X 10-2 X 10-2 10-2
4,788 X 4,78 X 4, 883 X 4,788 X 4,725 4 ,891 X 4,891 X 0, 4, 464 X 6,944 X
3591 1
10-5 10-2 10-4 10-4 X 10-4 10-4 10-2 10-4 10-3

Permeabilidade
m/s cm/s m/ano Darcy ft/ano ft/dia
1 100 3,156 x 107 1,04 x 105 1,035 x 108 2,835 X 105
0,01 1 3,156 X 105 1,04 X 103 1,035 x 106 2,834 X 103
3,169 X 10-3 3,189 X 10-6 1 3,28 x 103 3,281 8,982 X 10-3
9,860 X 10-6 9,860 X 10-4 304 1 1.000 2,74
9,658 X 10-9 9,659 X 10-7 0,3048 10-3 2,738 X 10-3
3,527 X 10-6 3,527 X 10-4 111 ,33 0,365 365 ,25 1
Apêndice 4 - Barragens que tiveram a
participação do autor

N º de Empresa Fase da
Ano Ob ra ou local Estado Cliente Serviço prestado
barr. contratante obra
Passo de Estudos geológicos e
1970 RS So n d otécn i ca Eletrosul Proj. Básico
Mendonça geotécnicos
Salto de
1971 RO 7 Sondotécnica Eletronorte Inventário Estudos geológicos
Teotônio
Cachoeira de
1971 RO 7 Sondotécnica Eletronorte Inventário Estudos geológicos
Samuel
Estudos geológicos e
1971 Jaguarão BR/UR Sondotécnica ONU Viabilidade
geotécnicos
Estudos geológicos e
1972 ltabuna BA Sondotécnica Proj. Básico
geotécnicos
Água Ensaios de mecânica
1972 SP Sondotécnica Cetesb (?) Proj. Básico
Vermelha das rochas in situ
Ensaios de mecânica
1972 São Simão MG Sondotécnica Cemig Proj. Básico
das rochas in situ
Controle de injeções
1973 lnhumas PE Geotecnia Compesa Construção
nas fundações
Controle de injeções
1975 Brotas PE Geotecnia Compesa Construção
nas fundações
Porto de Estudos geológicos e
1975 Bita e Utinga PE Geotecnia Proj. Básico
Suape geotécnicos
Controle de injeções
1975 Carpina PE Geotecnia Compesa Construção
nas fundações
Beberibe e Estudos geológicos e
1975 PE 2 Geotecnia Compesa Viabilidade
Manso geotécnicos
Estudos geológicos e
1975 Riacho Morno PE Geotecnia Compesa Viabilidade
geotécnicos
Estudos geológicos e
1977 lpojuca PE Geotecnia Compesa Viabilidade
geotécnicos
Secret. de Estudos geológicos e
1978 Acauã PB Geotecnia Proj. Básico
Estado geotécnicos
Estudos geológicos e
1978 Orobó e Siriji PE 2 Geotecnia Com pesa Viabilidade
geotécnicos
Secret. de
1979 João Pessoa PB 8 Geotecnia Inventário Estudos geológicos
Estado
1980 Rio Salitre BA 10 Geotecnia Embasa Inventário Estudos geológicos
Estudos geológicos e
1980 Poço Fundo PE Geotecnia Compesa Proj. Básico
geotécnicos
346 1
Geologia de Barragens

Nº de Empresa Fase da
Ano Obra ou local Estado Cl iente Se rviço prestado
barr. contratante obra
Rios Tourão,
1980 Curaçá e BA 17 Geotecnia Embasa Inventário Estudos geológicos
Poção
Proj . Estudos geológicos e
1980 lpaneminha PE Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
1981 Rio Ipanema PE 9 Geotecnia Cisagro Inventário Estudos geológicos
1981 Rio Pajeú PE 12 Geotecnia Cisagro Inventário Estudos geológicos
Estudos geológicos e
1981 Boacica AL Geotecnia DNOCS Proj. Básico
geotécnicos
Pimenta
Estudos geológicos e
1981 Bueno e RO 2 Geotecnia Proj . Básico
geotécnicos
Vilhena
Estudos geológicos e
1981 Goiana PE Geotecnia Compesa Proj. Básico
geotécnicos
Proj . Estudos geológicos e
1981 Bocaina PI Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Consultoria
1981 lpaneminha PE Geotecnia DNOCS Construção
geotécnica
Estudos geológicos e
1982 Serrinha PE Geotecnia Compesa Proj . Básico
geotécnicos
São Raimundo Proj. Estudos geológicos e
1982 PI Geotecnia DNOCS
Nonato Executivo geotécnicos
Proj. Estudos geológicos e
1982 Joana PI Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Estudos geológicos e
1982 Poços PI Geotecnia DNOCS Proj . Básico
geotécnicos
Consultoria
1982 Palmeirinha PE Geotecnia Compesa Construção
geotécnica
Consultoria
1982 Pontal PE Geotecnia Compesa Construção
geotécnica
Proj. Estudos geológicos e
1982 Mulungu RN Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Proj. Estudos geológicos e
1983 Parelhas RN Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Consultoria
1983 Brejão PE Geotecnia Compesa Construção
geotécnica
Consultoria
1983 Bocaina PI Geotecnia Exército Construção
geotécnica
Secr. de Consultoria
1983 Acauã PB Geotecnia Construção
Estado geotécnica
Jaberi, Lagarto Secr. de Estudos geológicos e
1983 SE 3 Geotecnia Viabilidade
e Jacarecica Estado geotécnicos
Sitio dos Estudos geológicos e
1983 RN Geotecnia DNOCS Viabilidade
Padres geotécnicos
Proj. Estudos geológicos e
1984 Cachimbo PE Geotecnia Compesa
Executivo geotécnicos
Apêndice 4 - Barragens que tiveram a participação do autor 1 347

N°de Empresa Fase da


Ano Obra ou local Estado Cliente Serviço prestado
barr. contratante obra
1984 Rio Ipanema PE 14 Geotecnia Cisagro Inventário Estudos geológicos
Secr. de Estudos geológicos e
1984 Carneiro PB Geotecnia Proj . Básico
Estado geotécnicos
Secr. de Estudos geológicos e
1984 Bom Jesus PB Geotecnia Viabilidade
Estado geotécnicos
Consultoria
1984 Botafogo PE Geotecnia Compesa Construção
geotécnica
Estudos geológicos e
1984 Várzea do Una PE Geotecnia Compesa Proj. Básico
geotécnicos
Rio Estudos geológicos e
1984/88 MG 15 Enerconsult Cemig Inventário
Jequitinhonha geotécnicos
Estudos geológicos e
1987 Acauã MG Enerconsult Cemig Viabilidade
geotécn icos
Estudos geológicos e
1988 Grão Mogol MG Enerconsult Cemig Viabilidade
geotécnicos
Estudos geológicos e
1989/92 lrapé MG Enerconsult Cemig Viabilidade
geotécnicos
Estudos geológicos e
1992 Santo Antônio PE Ecogeo Com pesa Viabilidade
geotécnicos
Estudos geológicos e
1992 Canhoto PE Ecogeo Compesa Viabilidade
geotécnicos
2003 Rio Urucuia MG 12 Ecogeo Codevasf Inventário Estudos geológicos
2003 Rio Paracatu MG 10 Ecogeo Codevasf Inventário Estudos geológicos
171
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