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Geologia de Barragens
Geologia de Barragens
Barragens-
Walter Duarte Costa
© Copyright 2012 Oficina de Textos
1ª reimpressão 2014 \ 2ª reimpressão 2018
Conselho editorial Cylon Gonçalves da Silva; José Galizia Tundisi; Luis Enrique Sánchez;
Paulo Helene; Rozely Ferreira dos Santos; Teresa Gallotti Florenzano
Bibliografia
ISBN 978-85-7975-296-4
LEME
Mário Bittencourt Mário Guedes barragens em que
de participar, seja 1
construção, pôde e
ENGENHARIA
Prefácio
RESPONSÁVEL TÉCNICO
Geólogo Doutor Walter Duarte Costa (forma
do em 1962 e doutorado em 2002)
ENDEREÇO ADMINISTRATIVO
Rua Volta Grande, 581 - CEP 31.030-340
Belo Horizonte - MG
ENDEREÇO TÉCNICO
Rua Washington, 886 apto. 1201 - Bairro Sion
CEP 30.315-540 - Belo Horizonte - MG
Telefones: (31) 3241.3925 - (31) 85005813
(31) 99738407 BARRAGEM DE IRAPÉ - Estudos geotécnicos da etapa
e-mail: wa1ter1938@gmail.com de viabilidade executados por Walter Duarte Costa
dos materiais naturais de construção; e de um relatório técnico nas diversas etapas
impactos ao meio ambiente passíveis de em que se divide uma pesquisa para projeto
ocorrer com a implantação da obra. de uma barragem, desde a sua construção
Por outro lado, é fundamental a esses até sua operacionalização.
profissionais conhecer bem os objetivos Seguem-se os capítulos que abordam, da
para os quais a obra será projetada, pois forma mais compreensível possível, os se
é comum constatar-se a realização de guintes aspectos ligados ao projeto de uma
processos investigativos ou construtivos barragem: bacias hidrográfica e hidráulica;
inadequados para a finalidade com que será eixo barrável e obras complementares;
construída a barragem, como, por exemplo, investigações de campo e laboratório; tra
impermeabilizar as fundações de uma bar tamento das fundações; materiais naturais
ragem prevista para controle de enchentes, de construção; monitoramento; meio am
mesmo que a percolação pelas fundações biente; e critérios para a escolha do tipo de
não comprometa a segurança da obra. barragem.
Outra deficiência constatada em inú Dessa forma, o presente livro representa
meros profissionais que lidam com as uma modesta contribuição no sentido de
obras de barragens reside na elaboração aprimorar cada vez mais os conceitos de
dos relatórios técnicos. Às dificuldades uma obra de barramento segura, econô
de redação consequentes do mau apren mica e minimamente impactante.
dizado da língua pátria somam-se a falta Finalizando, o autor deseja expressar
de objetividade e um melhor conheci sua profunda gratidão ao professor Edézio
mento dos aspectos a abordar, resultando Teixeira de Car valho, pela revisão final
em documentos imprecisos, inelegíveis e do presente trabalho; ao professor Paulo
incompletos, desprovidos de um roteiro Roberto Aranha, pela revisão e pelas suges
conciso, bem explicativo e com boas ilus tões no capítulo de geofísica; e às entidades
trações. Por esse motivo, o presente livro Cemig, Sondotécnica e ABGE, pela autori
dedica um de seus capítulos iniciais à ex zação para uso de algumas figuras.
planação de conteúdos para a elaboração
O Autor
' 'i'iõs!_ . - . . . ��
�
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Apresentação
, ...... /
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Tapete
impermeável
Plinto
porém é ainda mais leve (Fig. 1.4c). a curvatura ocorre em duplo sentido, ou
Por concentrar em pequena área da seja, na horizontal, ao longo de seu tra-
fundação os esforços causados pela çado, e na vertical (Fig. 1.4e). São, por
pressão hidrostática, apresenta maiores isso, chamadas de barragens de dupla
tensões de contato, exigindo uma maior curvatura, e os arcos formados podem
armação. Das três barragens de con- ser simples (Fig. 1.4f) ou múltiplos
creto, é a que apresenta menor volume (Fig. 1.4g). Nesse tipo de obra, parte
de concreto. das pressões hidráulicas é transmitida
• de concreto rolado ou compactado: às ombreiras pelo efeito de arco. Por ser
trata-se de uma barragem de gravidade um obra esbelta, é a que consome menor
em que o concreto é espalhado com volume de concreto por metro quadrado
trator de esteira e depois compactado. de superfície represada.
Como o concreto não é vibrado, a sua es-
Barragens mistas
tanqueidade é garantida por uma camada
de concreto convencional construída n o A barragem pode ser considerada mista
paramento de montante (Fig. 1.4d). em sua seção ou em seu traçado. A barra-
• abóbada: as barragens de concreto gem de seção mista é aquela constituída por
abóbadas ou em arco são aquelas em que diferentes materiais ao longo de uma seção
·convencional
-- -- ·-
FIG. 1.4 Barragens de concreto
1 - Conceitos introdutórios 1 27
G) Terra/enrocamento (B Terra/concreto
/2 11
1
Í
8 Gabião (D Madeira
Manta de gabião Chapa de aço
V: \
Gabião (gaiola
de arame)
\ Tora de madeira
Enchimento
· com pedra
Barragens de madeira
1.4 CONCEITOS , NOMENC LATURA
Essa barragem exige madeira de boa E TERMINOLOGIA
qualidade e deve ser revestida com uma
A conceituação relacionada com o pro-
chapa de aço que garantirá a sua vedação.
jeto e a construção de barragens, incluindo
As caixas formadas pela armação de ma-
a nomenclatura e a terminologia adotadas
deira devem ser preenchidas com rocha
nessa área da engenharia, implicaria a ela-
para evitar o seu deslocamento pelas pres-
boração de um autêntico dicionário técnico,
sões hidrostáticas (Fig. l .Sf) .
·~
1~~ :::.: ~
construção dessas obras. Uma vez que esse 2.3 INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO-
projeto é fundamental para a licitação das -GEOTÉCNICAS EM BARRAGENS
obras, é imprescindível que as investigações
realizadas conduzam a custos realísticos. 2.3.1 Fase de inventário ou
Para isso, não apenas serão necessários es- plano diretor
tudos geotécnicos criteriosos, mas também
I - Objetivos do estudo
uma acurada análise dos problemas so-
ciopolíticos, econômicos e ambientais. A a] selecionar os melhores locais barráveis
postergação de questões fundamentais para em função da geologia e da topografia;
a fase executiva, com o objetivo de minimi- b] caracterizar superficialmente os eixos
zar os custos para viabilizar o projeto, pode barráveis selecionados sob o ponto de
acabar onerando posteriormente a obra e, vista geológico e geotecnológico;
com isso, inviabilizando-a. Muitas vezes, fa- c] definir as macrocaracterísticas dos re-
tores aparentemente pouco representativos servatórios formados em cada eixo;
para o cômputo dos custos, como a esco- d] definir superficialmente as característi-
lha do melhor equipamento ou da melhor cas do materiais naturais de construção.
metodologia, podem significar a diferença
II - Atividades a desenvolver
entre um projeto economicamente viável e
um inviável. a] levantamento de todos os elementos geo-
lógicos e cartográficos existentes (mapas,
2.2.4 Projeto executivo
aerofotos, relatórios, projetos etc.);
Essa fase é realizada durante a cons- b] escolha da base geológica para caracte-
trução da obra e tem um duplo objetivo: rizar a geologia regional (escala entre
complementar o projeto básico com as in- 1:100.000 e 1:250.000 para grandes
formações obtidas por meio das escavações bacias, e entre 1:25.000 e 1:50.000 para
e possibilitar a modificação de algumas pequenas áreas);
feições do projeto em decorrência de pro- c] fotointerpretação geológica de uma faixa
blemas surgidos na construção. Além dos que cubra com folga todos os reservató-
estudos relacionados com o projeto da rios estudados, usando, de preferência,
barragem, são ainda desenvolvidos estu- as seguintes escalas: 1:40.000 a 1:25.000
dos para acompanhar o comportamento (aerofotos) e 1:100.000 (mapa resul-
da obra durante a operação. Esses estudos tante). Nessa fotointerpretação devem
são geralmente desenvolvidos nos cinco ser contemplados os seguintes aspectos:
primeiros anos de funcionamento da obra, • litologia com contatos entre as diferen-
período em que costumam ocorrer os tes rochas e coberturas incoerentes;
principais problemas relacionados com a • macroestruturas geológicas;
operação do sistema. Nessa fase, só devem • evidências de instabilidade de taludes
ser criadas novas alternativas se surgirem e/ou erosão; .
novos dados que não foram conhecidos na • análise geomorfológica dos divisores
fase anterior. das bacias hidráulicas;
2 - Fases e métodos de investigação geológico - geotécnica em barragens 1 33
• acessos; pelaABGE;
0 coberturas de materiais incoerentes
• atividades antrópicas;
• explorações mineiras; (elúvio, colúvio e alúvio);
• focos de erosão; o estruturas com plotação em estereo-
2 .3 .2-II.b); dados;
c] mapa fotogeológico da ADA (escala e • situação da pesquisa e lavra no DNPM;
conteúdo definidos em 2.3 .2-II.c);
d] mapa geológico da AEB (1:5.000). h] geologia dos eixos barráveis:
• síntese das características de todos os
IV - Itemização do Relatório Final
eixos barráveis:
a] introdução (conforme 2.3.1-IV.a); o critérios geológicos influentes na se-
o caracterização: com base nos resul- • ADA- área diretamente afetada (bacia
tados dos ensaios de laboratório; hidráulica): 1:20.000 a 1:50.000;
o condições de exploração: com base • AEB - área do eixo barrável: 1:500 a
nas características morfológicas, 1:2.000;
acesso à obra, localização e condi-
ções relacionadas com eventuais c] fotointerpretação na ADA (pref. na
impactos ambientais; escala 1:20.000), procurando definir:
• detalhamentos geológicos relevantes;
k] meio ambiente: • detalhamentos de geologia aplicada
• impactos gerados pela obra nas fases mais importantes, a saber:
de implantação e operação; o erosão;
Esse problema varia muito segundo a desses afluentes. A pior situação é vista
con formação da bacia hidrográfica. O caso na Fig. 3.lf, em que o reservatório recebe
mais favorável é aquele em que predomina grandes tributários nas vizinhanças da
o rio principal com afluentes curtos e de barragem, o que proporcionará o assorea-
pouca competência. Essa bacia é t ípica mento mais rápido de todo o reservatório.
de rios acanalados, formando extensos A forma de evolução do assoreamento
cânions, que resultam em reservatórios pode ser observada n a sucessão apre-
estreitos e alongados (Fig. 3.ld). Nesse sentada na Fig. 3.lg-j. Nesse esquema,
caso, o assoreamento do rio principal mostra-se a penetração progressiva do as-
levará muito tempo para ameaçar a vida soreamento provocado pelo rio principal e
útil da barragem, principalmente porque dois tributár ios, além da carga sólida pro-
essa topografia geralmente favorece a edi- veniente de três pontos situados ao longo
ficação de barragens de grande altura. Na das encostas. Na Fig. 3.lj , o reservatório
Fig. 3.le, a drenagem dendrítica é pouco acha-se já quase totalmente assoreado.
h ierarquizada, propiciando reservatórios
3 .1. 3 Riscos de erosão
espraiados, barragens baixas e a conse-
e assoreamento
quente contribuição do assoreamento de
vários locais diferentes, embora de pe- Na análise de riscos, algumas das
quena intensidade, por causa da extensão condicionantes da erosão não são conside-
0 0
FIG. 3.1 Assoreamento em um reservatório: (a), (b) e (e) fases de assoreamento; (d), (e) e (f) infl.uência da
co nfiguração do reservatório; (g), (h), (i) e (j) evolução de um assoreamento
46 1 Geologia de Barragens
radas, pois tal análise visa fornecer dados fatores acham-se divididos em sete clas-
para um eventual zoneamento de áreas ses, de acordo com a variação considerada
problemáticas nesse aspecto, e alguns para cada fator, em termos de influência
fatores, como o clima, são geralmente relativa média. O risco de erosão foi de-
uniformes ao longo de toda a área de uma finido em função da combinação desses
bacia hidrográfica. Outros fatores, como fatores, conforme indicado na Tab. 3.lb,
a ação antrópica, são muito localizados e na qual foram consideradas cinco classes
dinâmicos, de sorte que dificilmente as de risco, do nulo ao muito alto.
condições no início dos estudos serão as
3.1.4 Medidas preventivas
mesmas à época em que forem tomadas as
contra a erosão e o
medidas preventivas ou corretivas.
assoreamento
Assim, serão considerados como fatores
variáveis e ponderáveis de risco de erosão No estudo de um reservatório, deve-
apenas a declividade, a natureza do solo -se proceder ao levantamento de todas as
e a cobertura vegetal. Na Tab. 3.la, esses condições que favorecem a erosão e carac-
terizar as potencialidades morfológicas
de assoreamento do futuro lago formado
TAB. 3.1 Hipóteses de agrupamento pela barragem. As medidas preventivas,
de risco
(a) Fatores influentes na erosão
estabelecidas a partir de um diagnóstico
Fator Variação Número preciso dessas potencialidades, variam
< 20 % 1 desde o ataque das causas da erosão até a
Declividade 20%-50 % 2 medida extrema de deslocar a barragem
> 50 % 3 para um local melhor, pois o assorea-
coesivo 4 mento pode constituir-se num fator que
Solo
não coesivo 5 inviabilize a construção da obra.
eficiente 6
Vegetação O ataque às causas da erosão resume-
ineficiente 7
-se ao eficaz controle de áreas desmatadas
(b) Classificação do risco de erosão
e à proteção de pilhas de materiais soltos
Combinação de
Grau Risco provenientes de rejeitas e estéreis de mi-
fatores (N° 5)
1+4+6 nulo neração ou da construção civil. Devem-se
1+4+7 evitar os cortes e aterros que fiquem des-
li 1+5+6 reduzido protegidos contra a erosão, bem como a
2+4+6 exposição demorada de solos entre o des-
1+5+7
matamento e o plantio agrícola.
2+4+7
Ili médio Reduzidos os focos de erosão e plane-
2+5+6
3+4+6
jada a localização da barragem de forma
2+5+7 a evitar situações como a mostrada na
IV 3+4+7 alto Fig. 3.lf, pode-se conviver com o assorea-
3+5+6 mento sem grandes traumas, desde que se
V 3+5+7 muito alto adotem as seguintes medidas:
3 - Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hidráulica 1 47
Métodos de
~ Comporta-
Classificação Perfil de intemperismo ~
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u Escavação Perfuração
mento
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Solo vegetal
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FIG . 3 .2 Perfil de intemperismo para regiões tropicais
Fonte: Vaz (1996).
normais impostas pelo peso próprio instabilidade de uma encosta, dos quais
do solo ou da rocha (N na Fig. 3.3a); destacam-se:
• provocar pressões neutras ao longo • quando o peso das árvores não é
de fendas e fraturas verticais ou compensado por uma eficiente fixa-
perpendiculares à encosta (V na ção de suas raízes;
Fig. 3.3a), aumentando as tensões • quando a vegetação forma barrei-
cisalhantes (T na Fig. 3.3a). ras contínuas à passagem do vento,
transmitindo ao solo todo o impacto
A atuação da água da forma descrita recebido durante as fortes ventanias;
anteriormente reduz o fator de segurança • quando a vegetação possui rizomas
mostrado na Fig. 3.3a, deixando-o bem facilmente decomponíveis, como a
próximo à unidade, o que configura um bananeira, pois, ao apodrecerem,
estado de equilíbrio crítico entre as forças criam caminhos de infiltração exces-
que induzem o cisalhamento e a resistên- siva da água para o interior do solo.
cia do material envolvido. Nessa situação,
e) Complexo antrópico
qualquer incremento nas condições des-
favoráveis constitui o agente efetivo que Inclui todas as ações exercidas pelo
provocará a ruptura do maciço, podendo homem e que podem contribuir para a
ser a própria água. criação de condições de instabilidade nas
encostas. Basicamente, essas ações podem
d) Complexo biótico
ser agrupadas em duas classes de proble-
A influência do complexo biótico é re- mas: descompressão na base e compressão
presentada pela atuação da vegetação, no topo.
pois é mínima a contribuição de micro- A descompressão na base da encosta é
-organismos animais na instabilidade de representada por todos os tipos de esca-
uma encosta. Na maior parte, a influência vações realizadas ao longo ou no sopé de
da vegetação é positiva, ou seja, tende a uma encosta (Fig. 3.3b), seja para mine-
melhorar as condições de estabilidade das ração, construção civil ou qualquer outra
encostas por meio de duas formas diferen- finalidade. Dependendo das característi-
tes de atuação: cas de resistência do maciço que constitui
• redução da infiltração das águas plu- a encosta e da altura do corte realizado,
viais, eliminando a sua perniciosa poderá ser gerada uma situação de insta-
influência na instabilidade; bilidade potencial passível de desencadear
• aumento da resistência do solo pelo o processo de ruptura a qualquer incre-
poder de fixação de suas raízes, mento de tal situação.
principalmente as pivotantes, que A compressão no topo da encosta é
alcançam maiores profundidades. consequente do depósito de materiais
(Fig. 3.3c) ou da construção de edifícios
Há, todavia, casos em que a vege- com deficiências de fundações. Os de-
tação pode influir negativamente na pósitos mais comuns são decorrentes do
52 1 Geologia de Barragens
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F. S. = cA + (Pcosi
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FIG. 3 .3 Influências na instabilida de de taludes: (a) poropressão; (b) corte em pé de ta lude; (c) sobrecarga
no topo; (d) enchimento de reservatório; (e) de pleção em reservatório
0 ---
0 0 0
FIG. 3 .4 Fugas em reservatórios: (a) visão em planta; (b) fuga por camadas de calcário; (e) fuga por camada
permeável; (d) fuga pelo solo residual
4.1.1 Caracterização
4.1 IDENTIFICAÇÃO GEOLÓGICO -
A caracterização corresponde à etapa
- GEOTÉCNICA DAS FUNDAÇÕES
mais importante do processo identificató-
Como fundação será considerado todo rio, pois, nessa etapa, deverão ser definidos
o embasamento geológico existente no todos os parâmetros que permitam dis-
local onde será assentada a barragem ou tinguir os diferentes materiais envolvidos
suas obras complementares (vertedouro, em uma fundação. É baseada em todos
canais, tubulações para adução, usina etc.), os meios de investigação geológica e
independentemente se tal material será geotécnica, a saber: fotointerpretação,
conservado ou retirado para a construção geologia de campo, sondagens diretas e
da obra em projeto. Assim, a fundação in- indiretas, ensaios in situ e de laboratório.
cluirá não apenas o maciço rochoso, mas Por meio dessas investigações, deverão ser
todo o material incoerente - ou regolito - buscadas, para cada material existente, as
que o recobre, seja produzido in situ, como seguintes caracterizações:
os diversos estágios de material intempe-
Geologia:
rizado, cuja gradação vai da rocha sã até o
solo residual maduro, seja transportado • Materiais incoerentes: composição
(aluvião, coluvião, tálus etc.). granulométrica, coloração, espessura,
A completa identificação desses mate- estrutura, grau de compacidade e con-
riais constitui um processo evolutivo com sistência.
as etapas de estudo de uma barragem . To- • Materiais coerentes: tipo litológico,
davia, deve-se sempre levar em conta que composição mineralógica, estruturas,
o objetivo final é chegar ao modelo geo- estágios de alteração, estados de con-
58 1 Geologia de Barragens
Ili
...
Quando houver matéria orgânica, deve-se indicar Q.
0,00 /5,50 Aluvião li>
sua maior ou menor ocorrência. Sugere-se a seguinte Ili
Quando ocorrer cascalho, a porcentagem em relação gradação: Areia fina e média, cinza e
:::J
• Cascalho 4: diâmetro maior que 76 mm - turfosa (c/ muita matéria orgânica); Ili
(cascalho quartzítico) Q.
espessura deve ser conhecida mais acu- Nos colúvios, podem ocorrer níveis de
radamente por meio da intensificação tálus que constituem planos de elevada
dos processos de investigação. descontinuidade, principalmente se
• Estrutura: deve-se descrever toda os blocos forem tabulares e estiverem
estrutura existente no solo e que orientados paralelamente à encosta.
possa constituir um eventual plano • Compacidade, consistência e resistên-
de descontinuidade. Nos solos resi- cia à compressão: esses dados são todos
duais, podem-se encontrar estruturas relacionados com a sondagem a per-
reliquiares da rocha-mãe, planos de cussão (SPT), que permite caracterizar,
concentração de minerais por iluvia- para cada grau de compacidade de uma
ção ou por delimitação de antigos areia ou consistência de uma argila, a
blocos alterados diferencialmente. respectiva resistência à compressão.
Nas aluviões, as estratificações cruza- Essa caracterização é feita segundo a
das e as intercalações de materiais de classificação dos diferentes graus de
granulometria diferenciadas podem compacidade, consistência e resistência
constituir importantes estruturas à compressão apresentada na Tab. 4.1 .
influidoras na deformabilidade, estabi- Esse tipo de identificação deve ser
lidade ou estanqueidade das fundações. bastante intensificado na fase de viabi-
TAB. 4 . 1 Classificação dos solos pela consistência das argilas e compacidade das areias
Amostrador padrão Terzaghi-Peck (SPT)
Material Coesão aproximada Pressão admissível
Nº de golpes Classificação
c (kg/cm 2 ) qa (kg/cm 2 )
<2 muito mole < 0 ,1 25 < 0 ,3 - 0,22
0 ,3 - 0 ,6
2-4 mole 0,125 - 0 ,25
0 ,22 - 0,45
0,6-1 ,2
4-8 média 0,25 - 0 ,5
0,45 - 0,9
Argila 1,2 - 2,4
8 - 15 rija 0,5 - 1
0 ,9 -1,8
2,4 - 4,8
15 - 30 muito rija 1-2
1,8 - 3,6
> 4,8
> 30 du ra >2
> 3,6
O -4 mu ito fofa é necessári o
4 - 10 fofa compactação
0
Sistema
subpersistente
Sistema
Direção do plano: p não persistente
Direção do mergulho: e = p + 90º Sistema
persistente
Ângulo de mergulho: a
Vetor do mergulho: 0/a
D ECOMPOSIÇÃO C ONSIST!NCIA
A rocha apresenta seus minerais Rocha com som metálico, quebra com
Rocha muito
D1 Rocha sã constituintes sem decomposição. C1 dificuldade ao golpe do martelo.
consistente
Eventual me nte apresenta juntas oxidadas. Sua superfície é riscada pelo aço.
A rocha apresenta decomposição Rocha com som fraco, quebra com relativa
Rocha po uco Rocha
D2 incipiente em sua matriz e ao longo dos C2 faci lidade ao golpe de martelo. Ao ser
decomposta consis tente
planos de fraturas. riscada pelo aço deixa sulcos superfi ciais.
Rocha A rocha apresenta cerca de 1/ 3 de sua Rocha com som oco, quebra com facilidade
Rocha
D3 med ianamente matriz decomposta. A decomposição ao ao golpe de martelo com fragmentos
C3 medianamente
decomposta longo das fraturas é acentuada . quebradiços à pressão dos dedos.
consistente
Sulco leve ao risco do aço .
A roc ha apresenta cerca de 2/3 de sua
Rocha mui to matriz ou de seus minerais totalmente Rocha quebra com muita facilidade com
D4 Rocha pouco martelo, bordas dos fragmentos facilmente
decomposta decompostos. Todas as fraturas C4
estão decompostas. consistente quebradas manualmente. Sulcos profundos
ao risco do aço.
Rocha
A ro cha a presenta todo o seu corp o
D5 extre ma mente Rocha esfarela-se ao golpe de martelo,
totalmente decomposto. Rocha sem
decomposta desagregando-se com a pressão dos dedos.
C5 consistência
Pode ser cortada com aço, sendo riscada
(friável)
FRATURAMENTO com a unha.
Espaçamento entre
Grau Denominação Fraturas/metro
fraturas (m)
C ONDUTIVIDADE HIDRÁULICA
Ocasionalmente
F1 $1 2:1 ,0
fraturada Grau Denominação Perda d'água específica (1/mín . m.kg/cm 2)
F2 Pouco fraturada 1,1 a 5 0,20 a 0,50 H1 Muito baixa CH <0,1
Solos
r--:7 Areia
t...::...:.'... seixos
f"777A
tLLLLi Silte
1===1Argila ~ Fragmentos
~ de rocha 1':•••; •I Concreções
• • • lateríticas ll1 1l 1 11Raízes 1.:-:-:--j Mica
Rochas
1->~>~] Quartzo micaxisto 1/L.// 1carbonoso/
Quartzo micaxisto
grafitoso E2a
Quartzo micaxisto
caulinizado
(:-;:;1Pegmatito
~ ~~:J Quartzo - sericita xisto 1-ç:-;.1lateritizado
Quartzo micaxisto
□ \ Ve io de quartzo
Abreviaturas
OX Oxidado SE Sericita Ba Biotita CA Carbonatada MI M icácea
SI Silicificada
OFE Óx ido de ferro TC Talco C Cau linizada SU Sulfetada MN Manganês
Normal : Porcentagem do material recuperado em relação ao trecho perfurado. em função das características geológicas,
disponibilidade de equipamento e habilidade operacional
M odificada: (ROD) - porcentagem do so matório de peças de testeminho de tamanho su perior a 10 cm, em relação ao trecho
perfurado, em função das descontinuidades do maciço rochoso.
FIG. 4.3 Classifi.cações do maciço rochoso de acordo com a decomposição, consistência, fraturamento e con-
du tividade hidráulica
Fonte: ABGE (1983).
Ê o SPT o V,
Ensaio de perda d'água E
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°'
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Carnonoso cinza escuro
Rocha mesocrática de
Trecho
não ensaiado
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V,
2.:. 1347. 5XF.22L.SH f/eio de quartzo textura lamelar xistosa,
3.:
-
-
~
83 xA.22L.sH
JA - - I
7 Pouco carbonoso
formada por minerais de
quartzo de granulometria
0,13 0,45
3,20 0,70
5
Q-Í/
/ -?,~/
-,\:>/ ..,. :
N
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oN 16/06 ç,· 1-
~
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=-- 1 // cinza claro muito fina e mica em -
9,90 0,71 7 /
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61 t 3/ li
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3XF .QlL_SH r'
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5XA ........... SH
,,
minúsculas palheras,
princi palmente seri cita e a
muscovita, com biotita
em menor quantidade.
rn
:, 8,30 0.47
3,13 0.45
7,17 0,25
I
1/
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-
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(10 ~ (2~
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...
45 ,, ,, formação
Sericítico com
de talco Rocha de resistência 17/06 8.87 0,74
5 :t I 0~/ -
6-: 2JA ~ SV SE e/ -,\:>/ o >--
- NVI
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3XF...QLSH
,, ,, nas juntas
decompostas
à co mpressão média
e cond utividade 12.2C 1,22 3 / /
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,, ,,
N
7.: cinza claro hidráulica alta . 8,83 0,74 I / li
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: 49 JA....s.__l -"
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1341,' hOO
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Estanque PE (máx .)
2,100 kg/cm 2
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- 3XFJ;6._SH
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cinza claro com o 1,25 7
I -
...,__
12..:
69 ox níveis escuros :ti
...
JF - I
ox
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,,;; M esma resistência
à compressão e .s 19/06
0,30 2,55
5
§/
I -,\:>/
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1-
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JF - - I cond utividade HI ~ -=- 1-
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0.92 3.95 / li
._ 30/06 13 / / -"
J,, -=- i / //
.::: , 5,
- \:
su ,. - . 0,47 2,55
Parâmetros de cisalhamento
Classe de rocha Módulo de deformabilidade (kg/cm 2 )
de projeto (kg/cm 2 )
"' 200.000
li 125.000 , = 7,8 + crtg 56° (*)
Ili 35 .000 , = 6 ,1 + crtg 48º
Ili *
, = crtg 34º (O< cr < 6 kg/cm 2)
1: = 1,6 + crtg 24° (6 < cr < 16 kg/cm2)
IV 9.000 , = 1,0 + crtg 35°
V 4.000 1: = 0,5 + crtg 30°
(*) Nota: usado , = 8,0 + crtg 45° para o projeto das fundações.
Fonte: Monticeli (1986).
68 1 Geologia de Barragens
dados pontuais. Para tanto, utilizam-se sificação, ou mesmo uma seção para cada
os dados da caracterização ou da clas- compartimentação, conforme mostram as
sificação e são estabelecidas unidades Figs. 4.6 e 4.7. Além dos dados geológicos e
geológico-geotécnicas de forma bi ou tridi- geomecânicos que embasarão essas compar-
mensional, de sorte que se possa ter uma timentações, devem ser explorados todos
visão ampla de todo o maciço da funda- os elementos topográficos e hidrogeotécni-
ção, com suas variações geomecânicas na cos. Na compartimentação tridimensional,
horizontal e na vertical. Na forma bidimen- procura-se integrar as três principais di-
sional, a compartimentação é apresentada reções relacionadas com a obra. Pode-se
por meio de seções, geralmente paralelas realizá-la por meio de blocos diagramas ou
ao eixo barrável, embora possam ser com- de diagrama de cerca, em que várias seções
plementadas por outras direções. Nessas serão entrelaçadas (Fig. 4.5).
seções, devem-se plotar todas as infor-
4.1.4 Modelagem
mações obtidas nas investigações, sejam
diretas (poços, galerias e sondagens) ou in - Nessa etapa, procura-se estabelecer pro-
diretas (geofísicas). Em uma mesma seção, tótipos para as condicionantes geológicas
pode-se apresentar mais de um tipo de elas- e geotécnicas, com base em todas as fases
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~;, J
~.:.r., )
'água/verted , .. ' /'
/alte .~Canal de adução
,4é-L--- --<~~;,. tomada d'água/
\-• vertedour
.----- \'- (Alter
------------ \ ...-\
Tonada d'água
(Alternativa E
c...c...<f:i
SR-03
Túneis de desvio
FIG. 4.5 Diagrama de cerca mostrando quatro seções geológicas de uma obra de barramento (barragem de
Irapé-MG)
Fon te: cortesia da Cemig.
Cota
(m)
5
SR-49 SP-48
Condições geológicas
5
:25
~º~ T T SP-73
T
SP-52
T
SR-46
TT
SP-59
SP-54 SP-63 SR-42
tI l~ ~ T T
23 ,... Linha de referênci
~
Basalto compacto j · · - - - ·- - - - - - . .::~-- . -:r~ni~) :~~~:;• :,. f tl= i 5~1
T
ct~i~~~[~ç. -
Limon it1co e
5 echa basált~Js:ffo"g~
Basaltolcompacto l:.
Bas. Ves . amigoaloidal 1 _ 1
Basalto com pacto "'ti
SR-48
Fu ndação o
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SP-73 SP-52
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5
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Linha de
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referência o,
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5 ,--SP-49 "'e.
r--.._ jP-94
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2601 ,-r SP-48 Permeabilidade "'
5 T SP-73
T SPj52
SR-46
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SP-59
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SP-63 SR-42 li>
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0 _ _5..___ _.
10- -1-'-5- -2....0-~25.___3_,_0....,[., 165 170 175 180 185 190 195 200 'v 445 450 455 460 465 470 475 480 ~
3
FIG. 4.6 Compartimentação geológico-geotécnica da Usina Porto Primavera
Fonte: Monticeli (1986). '°°'
70 1 Geologia de Barragens
~ PE ;;:: 100 0
[? ~'(,:~>:{:] Solo com ín dice de resistência menor que 1O golpes de
\ {5!f ~.\ penetração para os últimos 30 cm do barrilete amostrador SPT
o
~ 10$ PE < 100 v, { ::•;:::••:::
:-;.::••=_:;.
Solo com índice de resistência maior que 10 golpes de
penetração para os últimos 30 cm do barrilete amostrador SPT
Cimento limonítico
1 $ PE < 5 Arenito resisten te - [
Cim ento limonítico e calcífero
CONDIÇÕES GEOLÓGICAS
D ~
.li.
"
'<§5>
dlo
Turfa/presença
de matéria orgânica
Cascalho
______J
Contato de unidades geológicas
S3
~ Nível d'água
E Local de ocorrência de estrias de fricção
EH: em fratura sub-horizontal ROC Trecho de ocorrência de rocha quebrada caoticamente
Ev: em fratura subvertical
200
150 - --- - - -
5 ·-== · - - --·
------ ----- -- ------------------ 7-------11 -- --
100 3 : 1
.-;;:-- -----=--,-;:::-- 4 ~- :F
- ---- - - - - 5 __ <ii:>____ 5 --------------
-50
Parâmetros geomecânicos
c 0 E Kn Kt y K,q
Unidades geomecânicas µ
(kg/cm 2) (graus) (10 3 kg/cm 2 ) kg/cm .cm (1/m 3) (cm/5)
Modelo geomecânico
Solo resid ual + colúvio 2 Xisto alterado (03/04) - zona de descompressão 3 Xisto são a pouco alterado (01 / 02)
TL J Alterado
Descomprimido são
Fechado sâo
,,L-Seca
/ - Saturada
uma barragem ao longo de uma área pas-
sível de receber uma obra de barramento e
de acordo com os princípios formulados no
item anterior. Os principais aspectos a ca-
FIG. 4.10 Modelo geo-hidrológico para a barragem
racterizar para uma fundação de barragem
deirapé-MG
Fonte: cortesia da Cemig. são, na área geomecânica, a deformabilidade
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 73
a) Deformabilidade em solos
onde:
(*r ªvYw
(4.1)
ser bem caracterizado na fase de investi- A Tab. 4.3 mostra alguns exemplos desses
gações, conforme já mencionado. Nos solos dois parâmetros em alguns solos brasileiros.
residuais, a presença de planos reliquiares Como se pode observar, os valores do módulo
da rocha-mãe pode significar a ocorrência E decrescem à medida que aumentam as pres-
de argilas de preenchimento de fraturas ou sões. Isso se deve à quebra do embricamento
de alteração de concentrados em feldspatos entre blocos ou à ruptura da cimentação
(veios aplíticos e pegmatíticos), que podem entre os grãos. Com a redução progressiva da
aumentar a compressibilidade do solo como porosidade, o material torna-se mais rígido e
um todo. Nos solos coluviais, a seleção gra- esse módulo voltará a crescer com a continui-
nulométrica imposta pelo transporte pode dade do aumento das pressões.
levar à individualização de leitos mais
b) Deformabilidade em rochas
argilosos, com fracas características de
compressibilidade. Embora o efeito da deformação de
A compressibilidade dos solos pode um maciço rochoso seja o mesmo veri-
ainda ser medida por meio do módulo de ficado para o solo, ou seja, resulta em
deformabilidade (E), consequente da relação recalque para a obra que lhe está assentada,
entre a carga aplicada (o) e a deformação podem-se observar duas grandes diferen-
sofrida pelo solo (E): ças entre esses dois tipos de materiais, na
relação entre deformação da fundação e de-
(4.4) formação da obra, a saber:
• no caso de solos, os recalques são mais
No item seguinte serão detalhados os significativos que em rochas; todavia, as
procedimentos para essa determinação. A barragens construídas em solo são dos
compressibilidade pode ainda ser expressa tipos de terra ou de enrocamento, cuja
pelo coeficiente de compressibilidade flexibilidade pode admitir um acomo-
volumétrica (Cc), conforme a equação: damento aos pequenos recalques das
fundações, mesmo diferenciais, sem
(4.5) grandes danos para a obra;
• no caso de rochas, os recalques são, em partir de ensaios in situ (ver item 7.1) ou de
geral, pouco significativos; porém, se a laboratório (ver item 7.2). Nesses ensaios, o
obra construída for de concreto, sua ele- maciço rochoso é carregado e descarregado
vada rigidez poderá ser comprometida três vezes, devendo o módulo E ser medido
pelos pequenos recalques diferenciais, nos dois últimos carregamentos (Fig. 4.11a),
provocando o aparecimento de trincas que pois o primeiro carregamento é afetado pelo
poderão causar grandes prejuízos à obra. fechamento das descontinuidades abertas.
O parâmetro que define a resistên- O módulo E pode ser obtido pela apli-
cia à deformação das rochas é o módulo de cação de uma carga de compressão ou de
deformabilidade (E), já definido no item an- tração, e pode ainda ser uniaxial ou triaxial.
terior. Esse módulo deve ser medido numa Em todos os casos, é denominado módulo de
curva tensão x deformação construída a deformabilidade estático (Eest)·
CJ
E1 = tga1
E2 = tga2 l l l
□□□
E1+ E2
E= - -
2
2 3
0 E
r
Ruptura
0 J
r -------- 1 2
1
1
Eo
1 1
, _ _ _ _ _ _ _ _ .J
Creep
___ ,,
X Ôx
primário
2 2
Õy = Õy + Õy Õx Õx
2 2 Õx = 2 + 2
Õy Õx
Ey = - Ex = -
Óy Óx
a= ~Ey
FIG. 4.11 Parâmetros de deformabilidade: (a) curvas de deformação; (b) inf/.uência das descontinuidades; (e) coe-
fi.cien te de Poisson; (d) deformação lenta ou creep
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 77
TAB. 4.4 Valores médios do Módulo E e do Coeficiente de Poisson para algumas rochas
Módulo de Young
Grupo de rocha Rocha
E x 10- 5 kg/cm 2
Coeficiente de Poisson o
Basalto e gabro 6,0 - 12,0 0,15 - 0,20
Anfibolito 6,0 - 7,0 0,25 - 0,30
Granito e granodiorito 5,0- 9,0 0,10 - 0,30
Ígneas
Di abásio 3,0 - 9,0 0,15 - 0,20
Andesito 1,2 - 3,5 0,11 - 0,20
Riolito e fonolito 1,0-2,0 0,1O - 0,20
Mármore 6,0 - 9,0 0,11 - 0,20
Quartzit o 4,0 - 10,0 0,15 - 0,20
Metamórficas Gnaisse 2,5 - 6,0 0,08 - 0,20
Quartzoxisto 1,2 - 3,0 0,15 - 0,20
Micaxisto 1,0-2 ,5 0,10 - 0,15
Calcário 4,0 - 8,0 0,10 - 0,20
Arenito 1,5 - 5,0 0,07 - 0,15
Sedimentares
Dolomito 2,0 - 3,0 0,08 - 0,20
Argil it o 1,5 - 3,0 0,1 0 - 0,25
Fonte: Legget (1962); Novik e Rzh evsky (1971).
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0 0
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2
/? '--- Cisalhamento linear
FIG. 4.12 Dist ribuição das cargas impostas por uma: (a) e (b) barragem de terra ou enroca mento; (e), (d) e (g)
barragem de gravidade; (e) e (f) barragem em arco de dupla curvatura
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 81
podem ocorrer rupturas por tração e por o plano de ruptura em função da variação
cisalhamento. A ruptura por tração ocorre do ângulo de atrito interno, que varia nas
quando a tensão de tração (crt) gerada pela rochas entre 30° e 60°. O último círculo de
compressão uniaxial (cr1 ) supera a resis- Mohr mostra a condição para que 0 fosse
tência à tração do maciço rochoso (St), igual a 45°, o que não ocorre na prática, já
antes de mobilizar tensões cisalhantes que nenhuma rocha possui um ângulo de
(Fig. 4.13c). Nesse caso, a envoltória de rup- atrito interno nulo.
tura tangencia o semicírculo das tensões Quando uma rocha é comprimida unia-
cr1 crt no ponto correspondente a crt, no cír- xialmente, pode ocorrer um esmagamento
culo de Mohr, como mostrado nessa figura. decorrente da conjuminância das ruptu-
Quando a resistência à tração supera a ras por tração e por cisalhamento, e, nesse
tensão de tração gerada pela compres- caso, utiliza-se a resistência à compres-
são uniaxial, são mobilizadas tensões de são (Se) como parâmetro de resistência do
cisalhamento ('r) que provocam a ruptura maciço rochoso. A Tab. 4.6 mostra os valo-
por cisalhamento, desde que essas tensões res médios das resistências à compressão,
superem a resistência ao cisalhamento ao cisalhamento e à tração das princi-
do maciço rochoso (S5), como mostrado na pais rochas.
Fig. 4.13d, com respectiva demonstração
da ruptura no círculo de Mohr ao lado. • Aplicação da carga imposta pela obra
O estado triaxial é mostrado na Dada a maior resistência da rocha,
Fig. 4.136. Nesse estado, a ruptura ocorre somente as barragens de concreto, que
por tração quando a tensão de tração crt impõem elevadas cargas concentradas,
gerada por cr1 encontra uma tensão de podem influir na estabilidade de suas fun-
confinamento também de tração (cr3), e a dações.
soma dessas duas tensões tem a possibi- Em princípio, são previsíveis dois casos
lidade de ser tangenciada pela envoltória distintos: cargas impostas na base das fun-
de ruptura do maciço rochoso, como mos- dações e cargas impostas às ombreiras.
trado no círculo de Mohr da Fig. 4.13e. Esse As cargas impostas na base das funda-
caso é incomum, pois geralmente as ten- ções são aquelas indicadas nas Figs. 4.12d
sões confinantes são compressivas, e não e 4.12f, em que o peso da barragem forma
tracionais, a não ser quando movimentos uma resultante com a pressão hidrostática,
epirogenéticos alçam blocos dantes compri- atuando a partir do centro de gravidade
midos orogeneticamente, criando trações da obra, no sentido do seu pé de jusante.
horizontais em consequência do maior O peso da barragem representa a principal
raio externo da crosta terrestre (teoria de componente dos esforços impostos à funda-
Price, 1966). Assim, os casos de ruptura ção e o esquema de distribuição das tensões
no estado triaxial são predominantemente geradas pode ser visualizado na Fig. 4.12g.
por cisalhamento (Fig. 4.13f). Os círculos Inicialmente, desenvolve-se uma cunha cuja
de Mohr indicados nessa figura mostram declividade é função do ângulo de atrito do
a variação que sofre o ângulo 0 entre cr1 e material da fundação; essa cunha, indicada
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 83
<J
8 uniaxial
Ruptura
0 por tração
<J
Ruptura por
0 cisalhamento
<J
cr, <J
3 Triaxial cr,
- --...
0 Ruptura
por tração - -- <J3
e= 60º
0 = 15°
Ruptura por
0 cisalhamento <J3
,:
e= 30°
0 = 30°
<J3
,:
e= 45º - 0 12
0 = 0°
0 = 45°
cr, cr
por I nessa figura, produz duas zonas de mobilizada a tensão de cisalhamento linear
cisalhamento, cada uma delas constituída na Fig. 4 .12g.
por duas partes: uma de cisalhamento radial, A influência da direção do plano de
indicada por II e limitada por um arco de es- descontinuidade sobre a ruptura por
piral logarítmica; e outra de cisalhamento cisalhamento pode ser observada no gráfico
linear, indicado por III e definida pelo ângulo da Fig. 4.14b. Verifica-se essa influência até
de 45° - ~/ 2 com a horizontal, explicado 45° entre as direções de descontinuidade
pelo esquema da Fig. 4 .14a. A capacidade de e de aplicação dos esforços, e ela se reduz
suporte da fundação, que define a sua con- para ângulos inferiores a 45° e se anula to-
dição de estabilidade, é igual à resistência talmente a partir dos 60°. Assim, pode-se
oferecida ao deslocamento pelas zonas de prever que as descontinuidades do maciço
cisalhamento radial e linear. rochoso que possuem ângulos de 0° até 60°
Uma vez que a resistência ao no sentido de montante são passíveis de in-
cisalhamento de um maciço rochoso é con- fluenciar a estabilidade das fundações de
dicionada pelas suas descontinuidades, que barragens de peso (Fig. 4.14c). A situação
constituem planos de fraqueza do maciço, mais crítica de instabilidade é aquela em que
pode-se constatar que as piores condições ocorrem descontinuidades mergulhando
de estabilidade de uma fundação em rocha para jusante e para montante (Fig. 4.14d),
correspondem à situação em que a direção pois a intersecção desses planos favorecerá
de u ma ou mais descontinuidades coincide a formação de cunhas instáveis que tendem
ou está próxima à direção em que se acha a se deslocar para jusante, a exemplo do
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 85
20 = 90 - q>
e=45 - .!.
2
(J Logo:
15º<q>< 30º
60°
0
- .~ - - L - -
...____ ,L.- .:,e;.,-"""":-- ~
----........
FIG. 4.14 Rupt uras por cisalh am ento: (a) esquema no circulo de Mohr; (b) infl_uência do s planos de desconti-
nuidade; (e) e (d) cunha de deslizamen to na fundação de uma barrage m; (e) condições criticas de ruptura nas
ombreiras
86 1 Geologia de Barragens
na resistência em função de possíveis des- vez que nem sempre são visíveis as des-
continuidades não localizadas. continuidades desses maciços, que podem
A resistência ao cisalhamento depende ser representadas por dissoluções cársticas
não apenas dos parâmetros intrínsecos caóticas, de dimensões e aberturas imprevisí-
do material envolvido, mas também das veis. Essas descontinuidades podem reduzir
componentes de tensões que são mobiliza- sensivelmente a resistência desses maciços,
das pela carga induzida, conforme mostra provocando o seu colapso ao receberem
a equação da resistência ao cisalhamento cargas concentradas. Nesses casos, deve-se
indicada para os solos (4.9). adensar a investigação de subsuperfície, com
Os parâmetros e e ~ não são constantes a utilização de sondagens rotativas e geofí-
para um mesmo maciço rochoso, pois estão sica, conforme será abordado no Cap. 6.
intimamente relacionados com o estado As cargas impostas às ombreiras são aque-
de tensões a que esse maciço está sujeito. las indicadas nas Figs. 4.12c e 4.12e. Para
Ainda assim, são relacionados valores as cargas resultantes do peso da barragem,
médios para tais parâmetros na Tab. 4.7, indicadas na primeira figura, os efeitos em
para diversos tipos de rochas. uma eventual ruptura são os mesmos já
Nos estudos mais detalhados, devem- analisados para a base das fundações.
-se realizar ensaios de cisalhamento direto, Para as cargas hidráulicas direcionadas
preferencialmente in situ. Caso sejam rea- pelo efeito de arco, a geometria das desconti-
lizados em laboratório, as amostras devem nuidades passíveis de influir na ruptura por
ser orientadas, a fim de que as pressões apli- cisalhamento é diferente (Fig. 4.14e). Nesse
cadas no laboratório guardem as mesmas caso, descontinuidades verticais, como fra-
relações com as descontinuidades das turas, porém com direções dispostas como
cargas aplicadas pelas obras. indicado nessa figura, são extremamente
Em termos de maciço rochoso, merece perigosas para a estabilidade do maciço
atenção especial o caso de calcários, uma rochoso, que poderá formar cunhas com
deslocamentos no plano horizontal, as
quais poderão levar à ruptura da barragem.
TAB. 4.7 Valores de coesão e ângulo de
atrito para diversos tipos de Assim, constitui objeto das investigações
rochas detalhadas o arranjo das descontinuidades
Coesão - e Ângulo de do maciço rochoso ao longo das ombreiras,
Rocha
(kgf/cm 2 ) atrito - ~ (º)
para o caso de uma barragem em arco.
Granito 140 - 500 45 - 60
A resistência do maciço isento de des-
Dolerito 250 - 600 55 - 60
continuidades nessas direções também
Basalto 200 - 600 50 - 55
deve ser investigada, no caso em que são
Arenito 80 - 400 35 - 50
esperadas menores resistências da própria
Folhelho 30 - 300 15 - 30
rocha, como em arenitos, calcários não
Calcário 100 - 500 35 - 50
200 - 600 50 - 60
metamorfizados etc. É que, em geral, a des-
Quartzito
Mármore 150 - 300 35 - 50
compressão por erosão induz tensões de
Fonte: Farmer (1968). tração ao longo das encostas, o que favorece
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 87
H
H
Última equipotencial
as medidas horizontais (eixo X) devem ser O gradiente hidráulico iBc será, então:
mudadas de x para xt, de acordo com a se-
guinte equação: . 25,4-21,94 O 692
lBC = 5 = '
(4.22)
b) Percolação em meio fissurado
O valor de k a entrar na Eq. (4.21) pas- Nos maciços rochosos constituídos por
sará a ser k', a saber: rochas ígneas e metamórficas e algumas
sedimentares, os interstícios entre os mi-
k' = .jky · kx (4-23) nerais correspondem aos poros das rochas
sedimentares granulares e dos solos incon-
A rede de fluxo possibilita, ainda, de- sistentes que formam os meios porosos já
terminar as pressões neutras em qualquer discutidos. Ocorre que tais interstícios são
ponto da fundação, bem como o gradiente tão fechados que a porosidade denominada
h idráulico entre dois pontos. intersticial é insignificante, sendo, por-
tanto, praticamente nula a permeabilidade
• Cálculo da pressão neutra
ao longo desses interstícios (geralmente da
Da Eq. (4.11) e considerando Ya = 1, tem-
ordem de 10- 10 cm/s). Assim, em hidráulica
-se:
de rochas admite-se que o fissuramento
h =u + z (4.24)
representa um papel preponderante, pois
oferece caminhos privilegiados ao fluxo das
u =h - z (4.25)
águas subterrâneas.
Exemplo: O termo fissura, que caracteriza o meio
fissurado , é considerado no sentido amplo,
Com base na Fig. 4.15, em que z = 15 m,
englobando todas as descontinuidades
calcular a pressão neutra no ponto B, que está
abertas do maciço rochoso, independen-
a uma altura de 8 m do nível de referência.
temente de sua gênese geológica. Inclui,
O potencial hidráulico da equipotencial
assim, as juntas de estratificação, de xis-
em que se situa o ponto B é:
tosidade e demais planos de fraturas e
h = (45 + 15) -10x3,46 falhas. Por meio de um cálculo muito
simples, pode-se concluir que algumas
h = 25,4m = 2,54kg/cm 2 fissuras, mesmo muito finas, propiciam
u = 25,4 - 8 = 17, 4m = 1,74kg / cm 2 permeabilidade muito elevada ao maciço
rochoso, quando comparada àquela propi-
• Cálculo do gradiente hidráulico ciada pela matriz rochosa, ou resultante da
No mesmo exemplo da Fig. 4.15, calcular porosidade intersticial.
o gradiente hidráulico entre os pontos B e C. Em consequência, os fenômenos de
O potencial hidráulico em B, como já percolação nos maciços rochosos são ca-
visto anteriormente, é 25,4 m, enquanto racterizados por anisotropias hidráulicas
em C, esse potencial será de 21,94 m. resultantes de uma ou mais orientações
92 1 Geologia de Barragens
privilegiadas do fluxo das águas percoladas qual não será desenvolvido no presente
através das fissuras . A orientação desses texto. O importante é definir o significado
planos de anisotropia nunca é arbitrária da permeabilidade fissural e identificar as
ou aleatória, mas obedece a padrões rigida- famílias de fissuras que realmente sejam
mente controlados pela gênese geológica. mais significativas para a estanqueidade de
Em função dessa gênese, tais planos podem uma fundação de barragem.
ser agrupados em uma ou mais famílias de O escoamento através de uma fissura
fissuras planas paralelas. obedece à Lei de Darcy, definida por:
A densidade desse fissuramento é funda-
mental na caracterização da condutividade (4.26)
hidráulica de um meio rochoso. Como se
pode observar na Fig. 4.16a, se a densidade onde:
do fissuramento é suficiente para indivi- v - velocidade média de escoamento;
dualizar blocos centimétricos, o meio pode kf - permeabilidade ou condutividade hi-
ser considerado hidraulicamente contínuo, a dráulica da fissura;
exemplo de um meio poroso, já tratado no Jf - projeção ortogonal do gradiente hi-
item anterior. Caso essa densidade indi- dráulico.
vidualize blocos decimétricos a métricos,
como mostrado na Fig. 4.16b, o meio já pode A condutividade hidráulica de uma fis-
ser considerado hidraulicamente descontínuo, sura é definida pela expressão:
sendo o fluxo comandado pela interação
tridimensional de todos os sistemas de fis- S·g•e 2 (4.27)
kt=---
suras. No caso mostrado na Fig. 4.16c, as 12 -u -C
famílias de fissuras possuem espaçamen- onde:
tos decamétricos e, nesse caso, além de kf- condutividade hidráulica da fissura;
ser o meio hidraulicamente descontínuo, S - grau de abertura da fissura;
devem-se tratar as diferentes famílias iso- g - aceleração da gravidade;
ladamente e verificar posteriormente a e - abertura da fissura;
influência entre os diferentes sistemas. u - viscosidade cinemática do fluido;
O caso b é o mais comum nos maciços C - coeficiente relacionado com a rugosi-
rochosos estudados como fundação de dade relativa da fissura.
barragens. Nesse modelo geo-hidrológico,
é possível analisar a distribuição do po- Nas condições mais comuns de rugo-
tencial hidráulico definido na Eq. (4.11), sidade e temperatura, a relação g/12 uC
a partir de um modelo matemático que aproxima-se da unidade. Considera-se,
integre as condições de fluxo nas varia- assim, que apenas dois elementos exercem
das direções impostas pelas diferentes grande influência na permeabilidade da fis-
famílias de fissuras . Esse estudo, além de sura: Se e.
complexo, encontra pouca aplicabilidade O grau de abertura de uma fissura é im-
no projeto de uma barragem, motivo pelo portante, pois representa a relação entre a
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 93
0
/ .
/ /
/
/
0
Área fechada (SF)
Sr= SA + SF
5= ~
Sr
Família
de fissuras
2
3
FIG. 4 .16 Meio f,.ssurado: (a), (b) e (e) densidade do f,.ssuramento; (d) áreas abertas e fechadas de uma f,.ssura;
e) permeabilidade de diferentes sistemas de f,.ssuras
Fonte: Louis (1974).
area aberta de uma fissura e sua área total, e com 1,0 mm de abertura, para a mesma fre-
conforme mostrado na Fig. 4.16d. Embora quência, corresponde ao valor de 10-1 cm/s.
-eja muito difícil definir essa relação na prá- Na prática, esses valores são muito menores,
.ca, pode-se atestar a sua influência quando o que mostra que a abertura da fissura não
se compara o coeficiente de permeabilidade somente pode variar muito, mas também se
obtido em ensaios in situ com os resultados torna nula em vários trechos.
teóricos esperados para a abertura da fissura A importância da abertura é óbvia,
conhecida. Assim é que, uma fissura por já que o coeficiente de permeabilidade
metro, de 0,1 mm de abertura, corresponde da fissura é diretamente proporcional ao
a uma condutividade da ordem de 10- 4 cm/s, seu quadrado.
94 1 Geologia de Barragens
~ação que podem estar presentes em uma comprimidos orogeneticamente, são alça-
fundação de barragem. dos à superfície da crosta por movimentos
A Fig. 4 .17 mostra as principais situações epirogenéticos. Como o raio externo da
em que pode estar presente uma fratura crosta é cada vez maior que o interno, ocor-
de tração. Em 4.17a é mostrado o esquema rem folgas laterais no bloco soerguido, com
eórico da ruptura por tração gerada por a consequente descompressão das tensões
compressão uniaxial. No círculo de Mohr, acumuladas e segundo a mesma direção, ou
constata-se que não houve mobilização de seja, aproximadamente horizontal (Price,
ensões cisalhantes na ruptura, que ocorreu 1966). Gerada a tração, o bloco se rompe so-
por ter a tensão trativa gerada superado a frendo colapso (fraturas e falhas) pelo efeito
resistência à tração. Em 4 .17b apresenta- da gravidade, que passará a funcionar como a
-se a relação entre blocos que, depois de tensão máxima (compressiva) nessa ruptura.
Fraturas de tração
~ Juntas de contração
b
A.
f
A Fig. 4.17c refere-se ao alívio de tensões de estanqueidade para o eixo I e não ter
pelo efeito da erosão, ocorrida aproxima- a menor importância para o eixo II. Isso
damente na horizontal, embora possam porque, a fratura aberta, segundo o este-
tais fissuras ocorrer subverticalmente nas reograma dessa mesma figura (B), está na
encostas abruptas causadas pela erosão direção NW-SE, paralela à direção do fluxo
fluvial. Essas fraturas são também cha- no caso da barragem I, possibilitando uma
madas de fraturas de relaxação do maciço elevada percolação da água armazenada
e são responsáveis pelo aumento de sua através das fundações. No eixo II, por sua
intemperização por propiciarem o maior vez, essa fratura aberta encontra-se para-
afluxo das águas pluviais infiltradas. As lela ao eixo, impedindo qualquer fluxo de
fraturas de tração mostradas em 4 .17d são montante para jusante.
consequentes do mesmo esquema de rup- A permeabilidade dos maciços rochosos,
tura mostrado em a, porém ocorrente em também denominada de condutividade
estratos dobrados. O plano ac nessa figura hidráulica, pode ser classificada em dife-
corresponde à tração primária, relacionada rentes graus em função da variação de seus
com o esforço compressivo crc, ao passo que valores (ver Fig. 4.16).
o plano bc corresponde à tração secundá- No Cap. 8 será analisada a necessidade
ria, relacionada com os esforços de tração de melhorar as características de estan-
crt, gerados na parte externa da dobra pelo queidade de um maciço rochoso.
efeito do arqueamento. Finalmente, em
4 .2.4 Classificação geomecânica
4 .17e é apresentada a fissura de contração
das fundações de uma
resultante do resfriamento do magma.
barragem
Caracterizada a fratura de tração em
uma fundação, deve-se estabelecer o plano Ao longo do tempo, a mecânica das rochas
de sondagens para interceptar o maior tem se desenvolvido predominantemente
número dessas fraturas. O procedimento em função das obras subterrâneas, notada-
do ensaio de permeabilidade ao longo das mente no campo da mineração, onde grandes
sondagens em maciços rochosos será deta- nomes se destacaram por suas classificações
lhado no item 7.1.2. geomecânicas dos maciços rochosos, como
Como no meio fissurado a percolação Laufer, Bieniawski e Laubscher. Eviden-
deverá ocorrer prioritariamente ao longo temente, tais classificações foram muito
de planos de descontinuidade abertos, é utilizadas em outros tipos de obras subter-
muito importante observar a relação entre râneas, como túneis viários, dutos e galerias
as direções das descontinuidades abertas para os mais variados objetivos.
e a direção do fluxo natural das águas de Uma obra de barramento, entendida
montante para jusante na base de uma bar- como um todo, é das mais complexas em
ragem. Dessa forma, na Fig. 4.18, a mesma relação à participação do maciço rochoso.
permeabilidade encontrada em furos de Isso porque, além de funcionar como fun-
sondagens executados nos eixos I e II em dação da barragem, esse maciço pode ser
A pode representar um grande problema solicitado de várias outras formas, como
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 97
da obra, quando as cargas ainda são pouco ragem corresponde à resistência imposta
significativas. Quando a barragem atinge pelo maciço rochoso que integra tal funda-
alturas maiores, com consequentes cargas ção aos fatores que induzem à ruptura.
mais elevadas, já se encontram fechados No item 4 .2.2, definiu-se que essa resis-
todos esses planos, e a deformação passa a tência depende dos parâmetros e (coesão)
ser comandada pelos parâmetros geomecâ- e <p (ângulo de atrito interno) do maciço
nicos inerentes à própria rocha. rochoso. Esses parâmetros são muito reduzi-
Os principais parâmetros que m- dos ao longo dos planos de descontinuidade
fluem na deformabilidade são: módulo de desse maciço, daí ser muito importante
deformabilidade, resistência à compressão uma perfeita caracterização dessas desconti-
e estado de alteração da rocha. nuidades no estudo da estabilidade de uma
O módulo de deformabilidade, também fundação de barragem. À medida que a
conhecido como módulo de elasticidade, rocha vai se alterando, também caem muito
módulo de Young ou módulo E, é definido pela os valores desses parâmetros, razão pela
relação entre a carga aplicada pela obra (crz) qual constitui importante parâmetro para
e a deformação sofrida pela rocha no avaliação da estabilidade das fundações de
mesmo sentido da aplicação da carga (sz). uma barragem a caracterização do estado de
Esse módulo varia proporcionalmente à alteração do maciço rochoso, principalmente
participação volumétrica de cada mineral ao longo dos planos de descontinuidade.
e à sua variada resistência à decomposição. Nesses planos é mais acentuada a alteração
A resistência à compressão deveria ser da rocha, por causa da percolação da água ao
definida pelo ensaio triaxial, que reconsti- longo deles, pois, como já citado, possuem
tuiria as condições reais de campo; todavia, menor resistência ao cisalhamento, inde-
esse ensaio somente é recomendado na pendentemente de estar alterada a rocha em
etapa de projeto básico, razão pela qual seu entorno. Finalmente, a resistência à com-
será considerada a resistência à compres- pressão da rocha também influi na ruptura e,
são simples para dar uma ideia a favor da consequentemente, na estabilidade das fun-
segurança das condições de ruptura. Esta dações de uma barragem, pelo que também
resultaria, assim, da relação entre a carga deve ser considerada nessa análise.
aplicada na ruptura (F em kgf) e a seção da
amostra (A em cm 2). • Estanqueidade
O estado de alteração da rocha é fun- A propriedade de estanqueidade de uma
damental, pois à medida que os vários fundação de barragem relaciona-se com o
minerais vão se alterando, a resistência à impedimento da percolação da água através
compressão vai diminuindo, atingindo os dela. Evidentemente, não se pode esperar
valores mínimos quando a rocha chega à que uma fundação seja totalmente estan-
condição de saprólito. que, pois os custos para tornar o maciço
rochoso impermeável seriam incompatíveis
• Estabilidade com os efeitos esperados para tal estanquei-
A estabilidade de uma fundação de bar- dade. Assim, com a estanqueidade parcial
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 99
N w E
t
o s
FIG. 4.18 Relações entre as direções de descontinuidades abertas e o sentido de f/.uxo das águas sob uma
barragem: (a) mapa com indicação de dois eixos barráveis; (b) estereograma de fraturas dessa área
100 1 Geologia de Barragens
!
Deformabilidade
Módulo E (GPa)
> 200
10
100 - 200
8
50 - 100
6
10 - 50
4
<10
2
Resist. à compr. > 100 50 - 100 20 - 50 5 - 20 <5
! uniaxial (MPa)
Alteração da rocha
10
D1
8
D2
6
D3
4
D4
2
D5
t (Quadro 4.2) 16 12 8 4 2
Sistemas de descont. A B c D E
(Quadro 4.3) 8 6 4 2 o
Estabilidade Relação de direções a b c d e
(Tab. 4.9) 8 6 4 2 o
Condição da a' b' c' d' e'
descont. (Quadro
44)
8 6 4 2 o
t Espaçam. Entre
descont. (m)
> 3,0
10
1,0 - 3,0
8
0,3 - 1,0
6
0,05 - 0,3
4
< 0,05
2
Condutividade H1 H2 H3 H4 H5
Estanqueidade
hidráulica (Tab. 4.10) 15 10 7 4 o
a b c d e
t Relação de direções
(Tab. 4.9) 15 10 7 4 o
Somatório de índices 81 - 100 61 - 80 41 - 60 21 - 40 < 20
Classe do maciço rochoso 1 li Ili IV V
Descrição do maciço rochoso M. Bom Bom Reg. Ruim M. Ruim
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem 1 101
TAB. 4.9 Influência entre as direções das descontinuidades e do eixo barrável com
relação à estabilidade e à estanqueidade das fundações
Ângulo entre a descontinu idade e o eixo da barragem (º)
Classe Tipo de infl uência
Com relação à estabilidade Com relação à estanqueidade
a Nula 71 - 90 O - 10
b Reduzida 51 - 70 11 - 30
e Regular 31 - 50 31 - 50
d Elevada 11 - 30 51 - 70
e Muito elevada O - 10 71 - 90
çamento, contribui decisivamente para se não fosse possível aplicar na prática tais
aumentar a permeabilidade do maciço conceitos. Na verdade, uma classificação
rochoso, chegando a conferir ao maciço ro- genérica e abrangente, que aten de a três
choso, nos casos mais extremos, a condição importantes e distintos aspectos de uma
de aquífero granular (Fig. 4.16a). fundação de barragem, serve tão somente
A condutividade hidráulica é definida para que se tenha ideia da qualidade do
pelos ensaios de perda d'água (ver Cap. 5). maciço rochoso na forma mais abrangent e.
A classificação do maciço em relação a esse Isso porque, na prát ica, é possível que um
parâmetro é apresentada na Tab. 4.10. maciço rochoso considerado bom na clas-
A classificação geral apresentada na sificação geral possa ser muito bom em
Tab. 4.8 resulta do somatório de todos os termos de deformabilidade, regular em
índices atribuídos aos diversos parâmetros termos de estabilidade e ruim em termos de
para cada uma das cinco classes em que foi estanqueidade. Nesse caso, seria necessário
dividido o maciço rochoso. concentrar as atenções apenas na estabili-
dade e na estanqueidade dessas fundações.
c) Aplicabilidade do modelo de clas-
Para avaliar separadamente a influên-
sificação do maciço rochoso para
cia dos parâmetros escolhidos nos três
barragens
aspectos enfocados, foram elaboradas as
O simples fato de classificar um maciço Tabs. 4 .11, 4.12 e 4.13, respectivamente
rochoso em função de sua finalidade e de para deformabilidade, estabilidade e
critérios eleitos como supostamente mais estanqueidade. Nas duas primeiras são re-
importantes não teria muito significado comendados diferentes tipos de barragens
4 - Problemas geotecnológicos das fundações de uma barragem j 103
r
1
1
1
12
1
1
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--- _.,.
N
1
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1
1
,2
1
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1
1
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1
1
'
1
__ .J._
FIG. 5.1 Estabilidade de taludes em canais - barragem de Irapé-MG: (a) situação de instabilidade das
pa redes com relação ao arrancam ento de blocos; (b) sit uação de estabilidade das paredes com relação ao arran -
camento de blocos
Fo nte: cortesia da Cemig.
não será discutido aqui. O vertedouro em o caso em que essa obra é localizada fora da
túnel, por sua vez, será abordado no item própria barragem , ou utilizando uma sela
correspondente a obras subterrâneas (5.4). topográfica, ou escavando um canal na en-
Os vertedouros em calhas incorporadas à costa. No primeiro caso, geralmente não
própria barragem são, a exemplo da tulipa, há necessidade de canal de aproximação e
um problema meramente construtivo da a estrutura do vertedouro é constituída de
engenharia, e a única relação com a geolo- três partes: ogiva, canal rápido e restituidor
gia refere-se à erosão das águas restituídas, (Fig. 5.3a).
o que será comentado no próximo item. A ogiva é uma estrutura de concreto
Resta, assim, como vertedouro a analisar, onde se situa a comporta para controle do
108 1 Geologia de Barragens
Canal rápido
Bacia de dissipação
,, Comporta
Stop L _ ..
;!'
Salto de esqui
r. _~ ·· !·•·······s.\
--~ ~u
o · · ·- n~
Comporta
Bacia de dissipação
Draina
galle
1Furo de dren agem
ln]eçoes Drenagem Holes drainage
Grouting Drainage
d' água existente no rio a jusante diminuirá borda de jusante (Fig. 5.4), formando bar-
o poder erosivo dessas águas efluentes. reiras ao fluxo de jusante, que passa, com o
No caso de vertedouro, há duas espécies decorrer do tempo, a funcionar como uma
de efluxo, conforme o tipo de vertedouro: barragem. À medida que essa barragem vai
calha com bacia de dissipação e calha com crescendo com o acúmulo de materiais,
salto de esqui. No primeiro caso, o poder o nível do rio a montante dela poderá ser
erosivo das águas é amortecido na bacia elevado, comprometendo eventuais estru-
de dissipação, porém o grande volume das turas da obra, como casa de força, pé da
águas restituídas pode criar correntes com barragem etc.
altas velocidades a jusante dessa bacia,
gerando os mesmos problemas de erosão
citados para os canais. Nesse caso, somente
um modelo hidráulico poderá caracterizar
as direções dessas correntes e prever a velo-
cidade do fluxo da água nessas direções . Aí,
então, deverá ser feita uma análise das in-
fluências das descontinuidades do maciço
rochoso e de suas relações com os fluxos
previstos, visando diagnosticar problemas
relacionados com a sua erosão. Também
é importante caracterizar para esses ma- FIG. 5 .4 Fossa de erosão a jusante de vertedouro
ciços todas as eventuais variações no seu
estado de alteração, desde as mais unifor- Para evitar tais problemas, a fossa
mes em relação à profundidade até as mais deverá ser pré-escavada, reduzindo, assim,
heterogêneas em consequência das descon- o transporte do material resultante da
tinuidades existentes. erosão natural das águas efluentes. A pro-
No caso de vertedouro que termina fundidade de escavação da fossa deve ser
em salto de esqui, uma nova componente prevista em função das características ine-
é adicionada ao poder erosivo das águas rentes ao projeto e ao maciço rochoso. A
restituídas: o impacto causado pela queda equação utilizada pela maioria dos projetis-
d'água sobre o maciço rochoso. Nesse caso, tas para calcular a profundidade da erosão
o poder de erosão das águas restituídas na fossa é:
poderá escavar fossas muito profundas no
maciço rochoso, trazendo alguns proble- de = K. q 0,54 . H0,225
mas se o mecanismo da erosão e transporte
do material erodido não for previsto antes onde:
da operação da obra. de - profundidade de erosão medida a
Ocorre que, à medida que a fossa vai partir do NA de jusante;
se aprofundando, os blocos resultantes da K - coeficiente de resistência à erosão do
erosão podem ir se acumulando em sua maciço rochoso;
5 - Geotecnia das obras complementares 1 111
/2
.. . . .
..
/
/ttttlff111
I
/
FIG. 5.6 Emboques em túneis: (a) talude suave em solo; (b) talude íngreme em solo; (c) emboque em rocha
com descontinuidade mergulhando no mesmo sentido da encosta; (d) emboque em rocha com descontinuidade
mergulhando no sentido contrário ao da encosta; (e) intersecção de descontinuidades sobre o emboque
oblemas de estabilidade, em função das Para 70° < a < 90°, a situação de esta-
:3acterísticas de resistência de cada leito, bilidade da escavação dependerá do estado
que será discutido mais adiante. de tensões do maciço rochoso. Se as tensões
horizontais forem superiores a 1 / 3 das ten-
• Caso 2: descontinuidade inclinada sões verticais, o maciço rochoso pode ser
e paralela ao traçado do túnel (Fig. considerado isotrópico e alguma caída de
5.7c). blocos do teto e das paredes pode eventual-
Se a= 0°, a situação é idêntica ao caso 1. mente ocorrer. Para evitá-la, utilizam-se
Para 0° < a < 20°, não haverá problema chumbadores . Caso crh < 1 /3 crv, as tensões
::.e estabilidade nas paredes, mas a situação de tração criarão grandes problemas de ins-
:io teto será crítica e, geralmente, a forma tabilidade no teto da escavação.
::o teto do túnel será condicionada pela la- Para 20° < a < 70°, a situação de ins-
;ninação (Fig. 5.7d). tabilidade no teto é semelhante ao caso
-u
- -----
--- - y....__
...__
0
.
z
''
r1/'
Y, _J
...__ .... x
CD
/
1
1
z
z
FIG. 5.7 Diferentes situações do traçado de um túnel: (a) decomposição diferencial das rochas; (b) desconti-
nuidade horizontal; (c) e (d) descontinuidade paralela ao túnel com inclinação para um de seus lados; (e) e (f)
descontinuidade perpendicular ao túnel; (g) descontinuidade vertical com inclinação qualquer em relação ao
tú nel
116 1 Geologia de Barragens
entada no item anterior, não exacerba problemas de rock bursts ou explosões na-
-?Oblema criado pelas tensões de tração. turais de rocha, quando grandes blocos
: casos mais críticos, devem-se executar podem ser destacados violentamente para
·os de flexão, deformabilidade e tração o interior da escavação.
rochas que compõem o teto. O problema das paredes laterais deve ser
_ o caso de laminações horizontais observado com mais atenção quando dois
m aciço no teto, os valores de deflexão, ou mais túneis são abertos em paralelo,
- ão de cisalhamento e tensão de tração muito próximos entre si. Nesse caso, o es-
-~e atuam em uma lâmina de rocha no teto paçamento entre os túneis funciona como
:o dados pelas seguintes expressões: um pilar, o qual receberá o efeito do arque-
amento das tensões verticais provenientes
y· L4 3y· L y- L2
32E · t 2
' max
, =-- cr max
, =--
t das duas escavações atuando simultanea-
;nãx - 4 2
mente. Assim, enquanto no caso de uma só
abertura a tensão cre - que assume o maior
n de: valor quando atua perpendicularmente
áx = deflexão máxima; no eixo horizontal (Fig. 5.8a) - decresce
-=roáx = tensão de cisalhamento máxima; rapidamente para o interior do maciço,
m áx = tensão de tração máxima; tornando nulo o efeito da abertura a uma
:, = vão da lâmina no teto; distância igual ao diâmetro da abertura
- = espessura da lâmina; (Fig. 5.8b), esse efeito é somado quando
· = peso específico da rocha; duas aberturas são feitas muito próximas
E = módulo de deformabilidade da rocha . (Fig. 5 .8c).
Nesse caso, a tensão no "pilar" é calcu-
Para as paredes laterais, as consequências lada pelo valor médio <Jp, que depende da
do esforço compressivo não são as mais de- relação entre o diâmetro da escavação (w0 )
sastrosas, a não ser que o estado de tensões e o espaçamento entre escavações (wp).
n aturais ou virgens seja muito elevado, em Por exemplo, para uma relação w 0 / wp = 5,
função da tectônica local, podendo levar a a tensão vertical que atua no "pilar" (crp)
cro
Cl"y
A+B
cro = -
p- crp = (1 + WofWr)cry
FIG. 5.8 Distribuição de tensões no en torno de túneis: relação entre cre e cry nas paredes do t únel (a) e no
entorno do t únel (b); tensões sobre o pilar formado por dois túneis próximos (e)
118 1 Geologia de Barragens
existente entre as escavações é igual a 6cry, parede podem ser calculadas para diversas
o que pode ser suficiente para provocar a formas de escavação, a partir do conhe-
ruptura do pilar. cimento do estado de tensões virgens do
Em função das descontinuidades exis- maciço rochoso (segundo Hoek e Brown,
tentes, torna-se necessário, nesses casos, 1980). A título de exemplo, considere-se
calcular a resistência do maciço rochoso que O"x = cry e que Pz = 2,70 MPa. Analise-
que integra o pilar e dividir essa resistência -se as tensões que atuam no teto (crr) e na
pela tensão calculada pela equação de <Jp, parede lateral (cr5) para os seguintes tipos
na Fig. 5.8c. Essa relação constitui o fator de abertura: a) circular; b) elíptica com o
de segurança do pilar contra a ruptura. maior eixo na vertical; c) elíptica com
o maior eixo na horizontal.
5.4.4 Influência da geometria
Observa-se que cada tipo de abertura
do túnel
apresenta um estado de tensões diferente.
A forma do túnel induz variações muito Assim, quando for possível variar a forma
significativas no estado de tensões gerado da escavação, deve-se conciliar a forma es-
no entorno da cavidade, ou, mais precisa- colhida com as consequências que o estado
mente, no teto e nas paredes. de tensões impuser à escavação, principal-
Na Fig. 5.9 são mostrados gráficos com mente levando em conta a geometria das
base nos quais as tensões no teto e na descontinuidades do maciço rochoso.
12
Valores das contantes A e B
~ = (Ak - 1)
'""' ººººººººº
11
Pz
10 A 5,0 4,0 3,9 3,2 3,1 3,0 2,0 1,9 1,8
-1 -30
o 2 3 4 2 3 4
Razão = Tensões horizontais "in situ" = k Razão = Tensões horizontais "in situ " = k
Tensões verticais "in situ" Tensões verticais " in situ"
FIG. 5 .9 Inf/.uências da forma do túnel sobre as tensões que atuam em seu entorno
Fonte: Hoek e Brown (1980).
5 - Geotecnia das obras complementares 1 119
f-----,
Mão única
- ------ -
Mão dupla
FIG. 5 .1 0 Infl.uência da topografia nas estradas de acesso: (a) configuração em dua s vias de mão única;
(b) construção de nichos para ultrapassagens ou para atender à quebra de veículos
:-reviamente secado por meio de bombea- desvio do rio (Fig. 5.12). Essa alternativa
ento da água que aí ficará retida. Nessa é a mais empregada quando o curso do rio
e~pa, o rio continua fluindo no trecho não apresenta uma largura que não permite o
:::nsecado (Fig. 5.lla). A obra construída seu barramento parcial para a constru-
essa etapa deve incluir as estruturas de ção da barragem. O exemplo dessa figura
:oncreto necessárias (vertedouro, toma- corresponde à barragem de Foz do Areia,
.ias d' água etc.), devidamente providas de no Paraná.
adufas para permitir o fluxo das águas na
5.7.2 Construção da ensecadeira
segunda etapa. Concluída a primeira etapa,
..:estroem-se as ensecadeiras em forma
a) Ensecadeira fundada em rocha
e U, permitindo que o fluxo do rio passe
-ambém pelas adufas. Inicia-se a segunda A ensecadeira fundada em rocha é
etapa pela construção de duas novas en- construída em duas etapas: pré-ensecadeira
ecadeiras que irão abraçar a estrutura e alteamento. A pré-ensecadeira é executada
de concreto já existente, direcionando o com material lançado sem compactação,
à uxo do rio para as adufas construídas preferencialmente na época em que a vazão
Fig. 5.llb). Secando-se o novo trecho do rio encontra-se mais reduzida. Em geral,
ensecado, completa-se a construção da bar- a pré-ensecadeira é construída de forma
ragem conforme mostrado nessa figura . submersa, por um trecho em enrocamento,
Findo o processo, eliminam-se as enseca- seguindo-se em direção de montante,
deiras, fecham-se as adufas e inicia-se o por um material de transição (pedrisco e
enchimento do reservatório formado . A areia) e por um material vedante (argiloso),
grande vantagem dessa alternativa é dis- como indicado na Fig. 5.13. O alteamento,
pensar o desvio do rio. por sua vez, é executado com uma parte
No barramento total, são construídas submersa (enrocamento), porém a maior
duas ensecadeiras e um dispositivo de parte é construída a seco, com compacta-
~1
o
·;::
0 CD Ensecadeira
de montante
o
"D
oX
Ensecadeira :::,
ü:
l
o o
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o
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o o
o o
·;:: Adufas "D o "D
"D "D
....,"' o -e"' .is -e"'
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111111
111111
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111111
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V, '6 ~
Q)
11111, Q)
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Q) E Q) E
!:_ll Q) t>O Q)
~
~"' !{ ;, . !:_ll
"' ~
!:_ll
"'
~ CM
~
Ensecadeira
de jusante
FIG. 5.11 Ensecadeira por barramento parcial do rio: (a) primeira etapa; (b) segunda etapa
124 1 Geologia de Barragens
Alteamento
Material
vedante
Enrocamento
Pré-ensecadeira
Ensecadeira
de montante
Barragem principal
oase prevista para a ensecadeira, em todo <leira ao corpo da barragem, pelos motivos
o trecho submerso, formando uma pré- já explicitados no item anterior.
-ensecadeira (Fig. 5.15). O alteamento será
b) Materiais de construção
eito na parte emersa por meio da compac-
~ação do material vedante, como mostrado Antes de construir as ensecadeiras, é
nessa figura, e pode, eventualmente, contar necessário ter um bom conhecimento das
com uma proteção de enrocamento no es- disponibilidades de materiais naturais
paldar de jusante. de construção, para evitar que o seu uso
nessas obras comprometa a sua utilização
5.7.3 Aspectos geotécnicos
na barragem principal. Como exemplos da
nefasta interferência entre a ensecadeira e
a) Fundações
a obra, no que tange à utilização de mate-
Dada a dificuldade de coletar amostras riais de construção, podem ser citadas as
indeformadas de materiais inconsolidados barragens de Passaúna e de Rosana. No pri-
submersos, a caracterização das fundações meiro caso, a utilização de solo argiloso nas
nos locais previstos para ensecadeiras deve ensecadeiras comprometeu o volume ne-
ser feita por meio de sondagens a percus- cessário desse material para a construção
são sobre plataforma fixa ou flutuante , do núcleo da barragem. No segundo caso,
definindo, por meio do SPT e da coleta com foi necessário utilizar solo-cimento para
amostradores especiais, o tipo de material construir o rip-rap da barragem porque as
que recobre a rocha, bem como a sua espes- ensecadeiras consumiram os poucos blocos
sura. Esse estudo deve ser mais detalhado de rocha não desagregável que poderiam
quando se tenciona incorporar a enseca- ser utilizados como rip-rap.
Solo
Compactado
Aluvião
:-riedades físicas. Essa identificação é elétricas, entre as quais podem ser citadas:
.ealizada por meio da Geofísica, e as prin- potencial elétrico, condutividade elé-
apais propriedades físicas investigadas trica (ou o inverso, resistividade elétrica),
são: velocidade de propagação de ondas constante dielétrica e permeabilidade
sísmica), condutividade elétrica (ele- magnética. Dessas propriedades, a condu-
orresistividade), propriedade dielétrica tividade elétrica é a mais importante para
radar), densidade (gravimetria) e susceti- a prospecção elétrica; as demais têm uma
ilidade magnética (magnetometria) . No significância bastante reduzida.
. resente texto, serão abordados apenas os O método de eletrorresistividade
rrês primeiros métodos geofísicos citados, baseia-se, fundamentalmente, na Lei de
:>ar serem aqueles que encontram maior Ohm, descoberta experimentalmente
aplicação nos projetos de barragem. pelo alemão Georg Simon Ohm (Feitosa
A prospecção semidireta não leva o et al., 2008). Essa lei expressa a proporcio-
::nvestigador até a profundidade em que nalidade entre a intensidade de corrente
o material (solo ou rocha) se encontra, elétrica que percorre um condutor me-
;nas permite o seu contato direto por meio tálico e a diferença de potencial entre os
e amostras colhidas pelos diversos tipos terminais desse condutor (Fig. 6.1).
e sondagens. A prospecção direta, por
-ua vez, permite ao investigador um con-
Condutor de comprimento t.L, resistência t.R e
~ato direto com o material investigado,
seção transversal t.A
?ºr meio de escavações como poços, trin-
m n
cheiras e túneis .
A seguir, serão comentados esses dife-
rentes tipos de prospecção, sempre com
_é'_ )l l'>R
l'> L
)
_____;_
l'>i
M
Vm · Vn = -l'>V
a indicação de suas vantagens e desvan-
~agens, não apenas operacionais, mas i - intensidade da corrente elétrica (amperes)
R - resistência do material à passagem da corrente
também em função da relação custo/ be-
elétrica (ohms)
efício. V - potencial nos terminais M e N (volts)
L - comprimento do tubo condutor (m)
A - seção do tubo condutor (m 2)
6. 2 .1 Eletrorresistividade
Pela Lei de Ohm:
A Tab. 6.2 most ra exemplos do au- na condutividade elétrica, uma vez que
mento da condutividade de algumas a maior retenção da água ocorre nesses
rochas em presença da água, segundo Tel- planos de estratificação, conferindo maior
ord, Geldart e Sheriff (1990). condutividade ao longo desses planos do
Isso explica porque a argila é muito que no sentido perpendicular a eles. O
melhor condutor que a areia. Em primeiro mesmo não ocorre com o arenito, cujas
lugar, os grãos da argila são infinitamente propriedades elétricas se aproximam mais
menores que os da areia, propiciando uma de um meio isotrópico.
maior superfície específica para adesão
b) Medição da resistividade
da água em suas partículas; em segundo
ugar, porque, como os poros da argila são A medição da resistividade p do
muito reduzidos, propiciam a entrada da subsolo é feita com a utilização de um sis-
água pelo efeito da capilaridade. Assim, tema quadripolo (Fig. 6.2).
pode-se dizer que a condutividade elétrica Por meio desse quadripolo, o circuito
das rochas depende dos seguintes fatores : elétrico é fechado através de dois eletro-
• litologia e composição mineralógica; dos (A e B) cravados no solo, permitindo
• porosidade total da rocha; a medição da corrente I no amperímetro.
• geometria dos poros e extensão de A diferença de potencial (tN ) resultante
seu preenchimento; dessa corrente é medida entre dois outros
• geometria das fraturas e fissuras e eletrodos (M e N) cravados no solo, no
respectivos grau s de abertura; domínio de influência da corrent e I, por
• resistividade da água de saturação meio de um potenciômetro.
(parcial ou total). Caso a separação dos eletrodos A e
B seja pequena e suficiente para deter-
Por outro lado, a laminação de rochas minar com segurança a resistividade
de origem argilosa, como o folhelho e a de uma única camada (AB 1 na Fig. 6.3),
ardósia, propicia uma elevada anisotropia cujas características se aproximem da
homogeneidade e isotropia, pode-se con-
TAB. 6.2 Variação da resistividade das siderar como real a resistividade obtida,
rochas na presença da água embora, na prática, essa possibilidade seja
Rocha % H20 p (ohm .m)
remota.
0,54 1,5x1O 4
Siltito O que geralmente ocorre é que a se-
0,38 5,6 X 108
paração entre os eletrodos "capta" a
1,00 4,2 X 103
Arenito resistividade de duas camadas (AB 2 na
0,10 1,4 X 108
1,30 6,0 X 103 Fig. 6.3), ou heterogeneidades e/ou ani-
Calcário
0,96 8,0 X 104 sotropias dentro de uma mesma camada.
0,31 4,4 X 103 Nesse caso, considera-se como resistividade
Granito 0,19 1,8 X 106
aparente aquela obtida na investigação.
o 1010
Dependendo da separação entre A e
0,95 4,0 X 104
Basalto B na Fig. 6.3, poderão predominar na re-
o 1,3x1O8
1 32 1 Geologia de Barragens
Amperímetro Fonte •
r·•--····.. ··········••U• " '·····-··-········ .. ········+ 11·•······••U••·······?_circuito AB.............
• ,•• •• •n•• ••• .. •••• ................. ... • .. ••• .. ••• • .. • • •• •••\,
i i Circuito MN (tN) i
l ! r........ p ••• • ..i
A i ;M N ; Potenciômetro 8
E ~
E E
.L .L
º
2
e
º
2
e
<l)
e!
~
o.. g_ 1.---'
"' "'
e
"'
·u
Horizonte Cóndutivo
"'
·u
e Horizonte Cóndutivo
~
~
=
~ "
e,::
AB/2 (m ) AB /2 (m )
-, P,
I
__./ --------,_'.
\\
/
AB/ 2
.-1<----'
A
i _ ~f7,-, -
...... ,
M N
~..
...Bi P,
,. ,- -· ...... __,,,,, -~
.... ---"'
[!,. \
\
1
I
' _ ,.
t--------------------- x
200
100
50
30
25
20
+ - -- - - - - + - - - - - - - t - - -- - + - - - - - - + (500)
Areia argilosa
saturada
Areia saturada
FIG. 6.9 Espessuras (e) variadas de diferentes situações geológicas acusando uma mesma resistividade
aparente
6 - Investigações para obras de barragens 1 137
Leste
Topo rochoso
(bed rock)
Distância (pés)
• Oeste
1.300
1.200
1.100
O 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 280
20 1.000
900
800
700
<il 600
u
Eu 500
--
O
Escala em pés
20 40 60 80
"'
LÜ
400
300
200
100
ao longo de fraturas, e dos materiais que equações que regem essas proporcionali-
podem preencher total ou parcialmente dades são:
esses vazios, sejam sólidos ou líquidos. Ao 112
E(l - u)g ]
produto da densidade e da velocidade de VP = [ p(l + u)(l - 2u) (6.5)
propagação de ondas acústicas denomina-
-se impedância acústica .
Quando um impulso é gerado na su- (6.6)
perfície do terreno, ou próximo a ela, há onde:
geração de dois tipos de ondas: de corpo e VP - velocidade das ondas primárias;
superficiais. V5 - velocidade das ondas secundárias;
As ondas de corpo propagam-se para E - módulo de elasticidade;
o interior do maciço terroso ou rochoso, G - módulo de rigidez;
como se uma tensão fosse aplicada a essa u - coeficiente de Poisson;
superfície por esse impulso. Essa tensão, g - aceleração de gravidade;
independentemente do ângulo que faça p - densidade.
com a superfície, será decomposta em
duas tensões: uma normal à superfície (o) Considerando a relação entre os
e outra tangencial ('r). Da mesma forma módulos de elasticidade e rigidez, pode-
como incidem no momento do impulso, -se apresentar a equação para as ondas S
essas tensões são introduzidas no interior como segue:
do corpo impactado, movimentando-se
Eg ]1/2
sempre nas mesmas direções em que in- (6.7)
Vs = [ 2p(l +u)
cidiram, ou seja, as tensões normais se
interiorizam por meio de uma propagação No caso de um meio com u = 0,25 e
longitudinal em relação ao seu traçado, p = 2,6 g/cm 3 , chega-se às seguintes ex-
enquanto as tensões tangenciais se propa- pressões:
gam no sentido transversal em relação ao
seu traçado. As tensões normais, ao serem
introduzidas em um maciço terroso ou
rochoso, correspondem às ondas primá-
rias (P) ou longitudinais, ou compressivas, A relação V/V5 será de 1,74, o que rati-
enquanto as tensões tangenciais geram as fica a maior velocidade da onda P. Por t a:
ondas secundárias (S), também chamadas motivo, as prospecções sísmicas normal-
de transversais ou cisalhantes. As veloci- mente utilizam a chegada da onda P em
dades de propagação das ondas P e S são suas investigações. Uma vez que o módulo
muito diferentes, pois enquanto as ondas de rigidez é nulo nos fluidos, conclui-se
P se propagam com velocidades proporcio- que nesse meio não há propagação das
nais ao módulo de elasticidade do meio, ondas S, conforme comprova a Eq. (6 .6).
as ondas S se propagam com velocidades As ondas superficiais são geradas
proporcionais ao módulo de rigidez. As pelo fato de o subsolo ser um meio he-
6 - Investigações para obras de barragens 1 139
f
superfície plana ou curva. Em termos físi-
cos, essa interface constitui um plano de
descontinuidade entre meios com veloci- V,
dades diferentes de propagação das ondas. V,
x/2
A prospecção sísmica baseia-se no fato
de que um impulso gerado num ponto FIG. 6.12 Ondas ref/.etidas e refratadas
próximo à superfície gerará ondas que,
ao encontrar uma interface, terão parte Nessa figura, a linha I representa uma
da energia original retornada à super- interface entre dois meios geológicos
fície, enquanto outra parte atravessará de velocidades V1 e V 2 , situada na pro-
140 1 Geologia de Barragens
O G, G G G
...---or--------------------------...--------,,.--- 2 3 4
X
,::,
• fundações;
Como: V2 = ____1_ , tem-se que: • canais;
senac
• túneis e obras subterrâneas;
• pedreiras e jazidas de materiais ter-
rosos e arenosos;
• determinação do assoreamento do
reservatório.
e) Aplicações da prospecção sísmica
em barragens
A caracterização das fundações inclui
as seguintes definições:
No projeto de uma barragem, a pros-
• tipos de estratos em rochas
pecção sísmica com o uso do martelo só é
sedimentares;
recomendada para a prospecção de jazidas
• espessura do regolito, incluindo alú-
de materiais terrosos em áreas com espessa
vios e elúvios;
camada de solo maduro, a fim de evitar as
• estruturas como falhas e fraturas
imprecisões decorrentes da presença de (método de reflexão);
matacões. Ainda assim, deve haver uma • propriedades elásticas das rochas.
aferição de seus resultados por meio de
prospecções diretas, além de o método ser A exemplo da recomendação feita para
utilizado apenas na etapa de viabilidade. o método elétrico, não se recomenda esse
O método sísmico com a utilização de método para as ombreiras, em razão das
explosivos pode ser empregado na caracte- heterogeneidades presentes nos colúvios,
rização das seguintes feições relacionadas principalmente nos sopés de seus flancos,
com o projeto de uma barragem: onde é comum a presença de blocos e
Tl - - - - - - - - - - - - - - = : .L__ _ _ _ _ _ _ _ ___,_,T
(C)
-- -
Vap __
matacões nos tálus, que mascaram total- priedades elásticas, é possível estender
mente esse tipo de investigação. Também essa prospecção até o projeto executivo,
na parte aplainada do vale é comum a pre- quando muitas dessas obras já se encon-
sença de grandes matacões resultantes da tram parcialmente abertas. Nesses casos,
intemperização diferencial das rochas. ultimamente tem sido muito empregada a
Nesses casos, a detecção do contato com sísmica por meio de furos de sondagens,
a rocha sã pode ser totalmente falsa, pelo denominada de método crosshole, cujo
que se recomenda sempre aliar a prospec- esquema de funcionamento pode ser ob-
ção sísmica a sondagens mecânicas que servado na Fig. 6.21. Com esse método,
possam aferir seus resultados. Em se tra- torna-se fácil fazer correlações entre os
tando de fundações, deve-se utilizar esse parâmetros geotécnicos estáticos, obtidos
tipo de prospecção na etapa de viabilidade. por meio de ensaios convencionais (com-
Para canais projetados, como desvios pressão simples, ensaios triaxiais, módulo
do rio, adução e aproximações do ver- de deformabilidade estático etc.), e os
edouro, a prospecção sísmica objetiva módulos dinâmicos, em que não ocorre
definir a espessura do recobrimento in- qualquer perturbação no maciço rochoso.
consolidado e inconsistente, a fim de que Em pedreiras, a prospecção sísmica
sejam projetados os taludes de escavação. pode definir a espessura do material es-
Os cuidados a tomar nessa prospecção são téril a decapear, condição imprescindível
os mesmos referidos para as fundações , para definir a viabilidade econômica de
principalmente em função das heterogenei- sua utilização. Para jazidas de materiais
dades propiciadas pela presença de blocos terrosos e arenosos, dependendo de sua
e matacões. Assim, essas investigações extensão, essa prospecção poderá reduzir
devem ser sempre aferidas por sondagens, os custos da prospecção direta, definindo
limitando-se à etapa de viabilidade. a espessura do material a utilizar. Em
Para túneis e obras subterrâneas, a ambos os tipos de estudo, deve-se utilizar
prospecção sísmica poderá prestar as se- essa forma de prospecção na etapa de via-
guintes informações: bilidade, devidamente aferida.
• espessura e irregularidades do solo O assoreamento de reservatório pode
de alteração, principalmente em ser determinado com o uso do método de
função da intemperização dife- perfilagem sísmica contínua . Por meio desse
rencial ao longo de fraturas, como método, desloca-se todo o sistema de emis-
mostrado na Fig. 5.7a; são e captação do som através de um barco
• fraturamento (método de reflexão); sobre a água do reservatório, conforme
• propriedades elásticas do maciço ro - mostrado por Souza et al. em ABGE (1988).
choso.
6.2.3 Georradar (GPR)
Para as duas primeiras aplicações,
eve-se empregar a prospecção sísmica a) Princípio do método
a etapa de viabilidade, sempre aferidas O método de georradar ou GPR
?Or sondagens mecânicas. Para as pro- (Ground Penetration Radar) guarda re-
146 1 Geologi a de Barragens
➔
lações com os dois métodos geofísicos A corrente por condução (Jc) é definida
anteriores. Com o método elétrico porque como:
se baseia em propriedades elétricas como Jc = cr · Ê (6.10)
a condutividade, e com a sísmica porque
➔
está relacionada com a reflexão de ondas onde cr é a condutividade elétrica e E é o
eletromagnéticas. campo aplicado no material.
Campos eletromagnéticos (EM) são Na corrente por deslocamento, a separa-
➔
constituídos por campos elétricos (E) e ção de cargas que ocorre em um dipolo no
➔ ➔
campos magnéticos (H). Como as varia- qual se aplica um campo (E) é dada pela
ções magnéticas nas rochas são, na sua densidade D, assim expressa:
maioria, muito fracas , podem ser consi-
deradas desprezíveis (Daniels; Gunton; D= c·Ê (6.11)
Scott, 1988), daí que as propriedades elé- onde E é a permissividade dielétrica.
tricas constituem os fatores dominantes
que controlam a resposta do subsolo ao Quando a condutividade e a permissi-
campo EM. vidade dielétrica são constantes em um
As movimentações de cargas elétricas meio, existe uma frequência de transição
(correntes elétricas) no subsolo, resultan- em que as duas formas de cargas elétricas
tes da ação de um campo eletromagnético, se equivalem. Acima dessa frequência pre-
podem ocorrer de duas formas : corrente domina o deslocamento, quando a energia
por condução e corrente por desloca- se propaga como onda sem nenhuma ou
mento. com pouca dispersão. Abaixo dessa fre -
. .....
.. ... .... . . .... ..... . . . . ..... . (longitudinais)
...,. .. ..... ......
li: ....
. . ' .... .... ..
11 .. • • • .. . .. . ..
.. ... ,. . . . S = chegada das ondas secundárias
(transversais)
Deslocamento ~
Rocha
FIG. 6.23 M odelo geológico simplif,.cado com posicionamento do GPR ao longo de um a linha
Fonte: m odif,. cado de Davis e A nnan (1989).
6 - Investigações para obras de barragens 149
Distâncias - m
b
0,00 25,00 50,00 75,00 100,00
0,00
__. . .. __ _
FIG. 6.25 Pesquisa de assoreamento em um reservatório de barragem: (a) imagem do procedimento geofísico
sobre um barco; (b) radargrama que mostra, na parte superior mais clara, o contorno do material arenoso
responsável pelo assoreamento
Fonte: co rtesia do Prof Paulo Aranha (UFMG).
6 - Investigações para obras de barragens 1 151
Haste
- Trado
Concha Helicoidal
- ---=t,._i,,,_ .
~-
- iros e saturados e a impossibilidade de -
--==- --~-=- ·-
- __ ·-
rapassar blocos e matacões . -:' ' .
·. A
• • ,,.. t
:
\ rnostra. 2
:ada metro perfurado e dispostas em Separação das pilhas por \
diferença de material /
:!ilhas sobre uma lona, para impedir seu
-ontato com o solo de superfície. As pilhas
FIG. 6.28 Amostragem de uma t radagem
rão separadas a cada mudança de mate-
Fonte: modifi.cado de USB R (1973).
ial (Fig. 6.28).
O acondicionamento da amostra varia pode ser obtida por meio do golpeamento
:om o objetivo da sua coleta. Quando se de peças cortantes ou por lavagem combi-
:.estina a ensaios geotécnicos, devem ser nada com a percussão. Os dois principais
-oletadas duas amostras: uma com 100 g objetivos dessa sondagem são caracterizar
:: acondicionada em um frasco, parafi- o material perfurado e definir a resis-
:nzado ou selado com fita colante, para tência à penetração desses materiais.
-=eterminação da umidade natural; outra Subsidiariamente, esse tipo de sondagem
: m cerca de 14 kg, em saco de lona ou presta-se à realização de inúmeros ensaios
-.: ástico transparente, para determina- in situ. Para conhecimento do material
:ão dos demais ensaios geotécnicos. Toda perfurado, pode-se empregar o método de
~ostra coletada deverá receber duas lavagem, e para definir a resistência à pe-
:: ·quetas: uma interna, devidamente netração com as diferentes interpretações
?TOtegida, e outra externa. Em ambas as de seus resultados, emprega-se o método
.:1 ·quetas devem constar: nome da obra e de percussão, também chamado SPT
-o cliente; nome do local; número do furo; (Standard Penetration Test). A Fig. 6.29
.:ata de coleta; intervalo de profundidade mostra o esquema de montagem dos
:.a amostra; e nome do coletor. equipamentos necessários a esse tipo de
sondagem.
6.3.3 Sondagem a percussão (SP)
a) Perfuração por lavagem
A sondagem a percussão é um método
"'Vestigatório de materiais inconsolida- Execução da sondagem
:.os e incoerentes em que a perfuração A sondagem por lavagem é sempre
154 1 Geologia de Barragens
Seção A-A
736,60 mm
Percussão Infiltração
_._;
-- - 30 cm iniciais !Golpes 30 cm V,
! 4 5 0 87
-·- . cinza escura (aluvião) ê
' t _:/.Areia fina silto-argilosa pouco ~
2,00- 1,90
V ::-; compacta.cinza (aluvião)
_ _ _...:___ __ _ _ _--J ' - -
_ :..i.
1<.:.-...:....L
5 5
-
1
', 3 5 - -
.. Areia fina e média siltosa,
-
'\ 9 11 4,00
3,65 ·,-:---=-:-:-
NA "
com lente argilosas pouco
a median. compacta,
'r\ - ·-
·-
cinza escu ra (aluvião)
't1
16 17
- .-.
1
)>
19 22 6,00 5,98
I
1
I 17 19 6,87 ...
/; Argila arenosa dura,
cinza escura (aluvião)
\
. . . . - Areia fina e média compacta,
'[\ ·· cinza clara (aluvião)
\ 22 25 · + - --
8,00 8,00 i:,..:..·~- .:.... ---------1
1 ✓-·.
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I
20 23 Areia fina e média argilosa,
compacta cinza
clara (aluvião)
1
.-'-_.L.• - -- - -- - - - - - 1
0,00 10831<-y"-· c
. j...
Observações:
- Impenetrável a percussão (alter. de rocha)
Localização: Sondagem nº
Estaca 16 + 0,00 - montante 20 m SP.07 1
Coordejnadas !Cota: !Operador: Data JVisto:
N= E= 604,794 1 Assis 1 = 30/12/92 TT = 04/12/92
A quantidade de sondagens SPT para deve utilizar essa amostra como amostra
uma fundação de barragem varia em indeformada para efeito de testes labo-
:unção das seguintes condicionantes: ratoriais. Para os demais usos, a amostra
atureza do solo, altura da barragem, coletada no barrilete de percussão pode
extensão do eixo e área da base da barra- ser acondicionada segundo as recomen-
gem. Em função dessas condicionantes, o dações feitas em 6.4.2b.
espaçamento entre furos pode variar de Para os solos argilosos ou siltosos
10 m a 50 m. O ideal é combinar o uso de de baixa consistência, é possível coletar
algumas dessas sondagens com a sonda- amostras praticamente indeformadas com
oem rotativa, produzindo uma sondagem o uso do amostrador de solo de cravação
mista (ver item 6.4.5). com paredes finas, também denominado
Além dos objetivos anteriormente refe- de Shelby, por ter sido a marca registrada
ridos para esse tipo de sondagem, podem com essa utilidade. Como se pode ver na
ainda ser feitas inúmeras correlações Fig. 6.33, esse amostrador é composto por
entre a resistência à penetração e diversos um tubo metálico de paredes finas, em
mdices dos solos. Para os solos arenosos, geral com 50 cm de comprimento e diâ-
por exemplo, é possível estimar o módulo metro de 2 ½" ou 4", ligado a uma cabeça
de deformabilidade, o ângulo de atrito e a provida de uma válvula de alívio.
compacidade da areia, e para os solos argi- O amostrador é introduzido no solo por
losos, estimar o módulo de deformabilidade, meio de cravação contínua e constante, e a
a coesão e a consistência da argila. válvula permite o escape do ar e da água à
medida que o solo penetra nele. Concluída
Amostragem na sondagem a percussão a coleta, o tubo é desconectado da cabeça,
A sondagem a percussão com SPT sendo raspados levemente cerca de 2 cm
utiliza o amostrador padronizado tipo do solo em cada extremidade, quantidade
Raymond (Fig. 6.31). Como se pode ob- substituída por parafina a fim de conser-
servar no corte A-A dessa figura, o corpo var a umidade natural da amostra. Em
principal, com extensão de 55,88 cm, laboratório, a amostra é retirada através
é bipartido, formando, quando des- de um extrator e submetida a todos os
montado, duas calhas em que se pode testes aplicados a amostras indeformadas.
analisar e coletar a amostra de solo que
6.3.4 Sondagens rotativas (SR)
aí fica retida. A espessura desse barrilete
é de 0,795 cm, o que equivale a uma in- Esse é um tipo de sondagem larga-
t rodução no solo pesquisado de 1,59 cm mente utilizado em obras de engenharia
de espessura total da ferramenta de que envolvem o conhecimento das rochas
escavação que penetra sob impacto de sondadas, uma vez que permite a perfura-
batidas . Obviamente que essa penetra- ção e a extração de qualquer tipo de rocha.
ção dinâmica causa forte compressão da Por meio desse método prospectivo, o
amostra produzida, deformando sua es- material rochoso é perfurado pela ação
t rutura original, motivo pelo qual não se conjugada de rotação e força de penetra-
158 1 Geologia de Barragens
,, ·
/ ,,,..,...,.,../
~ Furo de sondagem
.✓
_ . alargado e limpo
/ . . ·· . .,....,...-Tubo amostrador
/ _,;- (cam isa fina de latão)
/ / ,•
/ . / /
/
/
/ /
/ /
Mangueira para
sucção de uma
fonte de água
Revestimento
® ®~
®
y V
V V
y \I
Barrilete
b
Batente
Saída Face
d'água Seção calibradora externa
a
Corpo
Corpo
Rolamento
Tubo externo
Tubo externo
Tubo interno
Tubo do barrilete
1
r
1
Calibrador
Calibrador
Mola
Mola
da seguinte por tacos de madeira em que de barramento, aplicável não apenas para
serão anotados com tinta indelével a pro- o conhecimento das rochas das fundações,
fundidade do início e do final da manobra. mas de todas as obras relacionadas com o
Na tampa e num dos lados menores da barramento. Assim, podem-se distinguir
caixa, deverão ser anotados com tinta in- as aplicações da sondagem rotativa nas
delével os seguintes dados: nome da obra seguintes obras e feições de um projeto de
e do cliente; número do furo; e localização barragem: fundações, vertedouros, canais,
do furo. A Fig. 6.41 mostra um exemplo túneis, usinas hidrelétricas e pedreiras.
de caixa com testemunhos em uma obra
supervisionada pelo autor. Sondagens rotativas para as fundações
da barragem
e) Aplicações da sondagem rotativa
As sondagens ao longo das fundações
em projetos de barragens
da barragem objetivam fornecer as se-
A sondagem rotativa constitui ferra- guintes informações:
menta indispensável para qualquer obra • caracterização litológica;
2 3 4 5
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FIG. 6.40 Detalhe da amostragem integral e um testemunho com 2,20 m dessa amostragem
:::ante: cortesia da Sondotécnica.
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I /· ./
SP-17
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o -
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.· . . o ·- .
/ ' ',
/· SR:5, · ·Eix0 barrável . · SR-4 .
30° .
SP-14
o . , ·
SP-12
.,o .
Qal
m SR-11
25 30 35 40 45
FIG. 6.44 Seção no eixo da barragem de Contrato (PI), vendo-se o leito do rio entre as sondagens SM-9 e SM-1
Note-se que, além das sondagens mistas (SM-7 a SM-10), localizadas na bacia de inundação, também a son-
dagem rotativa (SR-11), localizada na ombreira esquerda, foi executada na vertical
6 - Investigações para obras de barragens 1 169
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+
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+-
8,Õ
2,
·50
-IG. 6.45 Seção no eixo da barragem de Serrinha (PE), mostrando todas as sondagens rotativas inclinadas
NA em 20/02/1974
25
20
15
10
o ._________________________________________,
FIG. 6.46 Seção ao longo do eixo da barragem de Ma tapagipe (PE), em projeto coordenado pelo autor.
Observe-se que as sondagens inclinadas na fase de viabilidade resolveram o problema da lâmina d'água no rio
cortes a proceder no canal, como mos- No item 5.4 ficou clara a distinção no
trado na Fig. 5.2 . tratamento de duas porções de um túnel:
Caso o canal não seja muito extenso, emboques e traçado. Nos emboques, a
três sondagens são necessárias: uma no caracterização das descontinuidades do
seu trecho inicial, outra nas proximi- maciço rochoso e de seu regolito é fun-
dades da obra a que se destina (ogiva do damental para avaliar a melhor solução
vertedouro, tomada d 'água etc.) e uma in- do projeto, como mostrado na Fig. 5.6.
termediária. Todas as sondagens deverão Assim, deverão ser executadas duas a
atingir a cota prevista para o piso do canal. três sondagens no sentido contrário à de-
Se o canal for muito extenso, recomenda- clividade do terreno sobre os emboques,
-se interpolar a prospecção geofísica entre a fim de caracterizar todas as feições geo-
essas três sondagens. lógicas necessárias ao projeto . Quanto ao
traçado, o mapeamento geológico e uma
Sondagens rotativas para túneis topografia de detalhe deverão indicar os
Entre as finalidades de obras subterrâ- principais pontos a ser investigados por
neas passíveis de ocorrer em um projeto sondagens rotativas . Assim, no túnel
de barragem, enumeradas no item 5.4 .1, mostrado na Fig. 5.7a seriam imprescin-
apenas a casa de força não pode ser consi- díveis as sondagens nos pontos B e C,
derada um túnel. Assim, pelo menos sete com profundidades que ultrapassassem a
utilizações de túnel foram ali previstas, o cota prevista para o piso do túnel. Caso
que dá uma ideia da importância da investi- essas sondagens revelassem situações
gação por sondagem para esse tipo de obra. desfavoráveis à escavação desse túnel,
6 - Investigações para obras de barragens 1 171
55
50
.!{)
f
30
25 f.
· 20
..f
FIG. 6.47 Sondagens rotativas executadas para a ogiva do vertedouro da barragem de Orobó (PE)
?ante: pesquisa do autor.
pelo próprio projeto, como acesso à usina na vertical, a sua continuidade por meio
ou para restituição das águas turbinadas, da sondagem rotativa não pode ter qual-
e a partir desse túnel executar sondagens quer inclinação com a vertical. Esse tipo
rotativas horizontais que poderão subsi- de sondagem é largamente utilizado para
diar a elaboração de alguns testes in situ. pesquisar as fundações de uma barragem,
como exemplificam as Figs. 6.43 e 6.44.
Sondagens rotativas para pedreiras
6.3.6 Sondagem com rotopercussão
Como será discutido no Cap. 9, um dos
objetivos da pesquisa de material pétreo
a) Equipamentos e metodologia
para as obras de engenharia é a defini-
ção do expurgo das pedreiras, ou seja, A sondagem rotopercussora utiliza
a caracterização de todos os materiais conjuntamente a percussão e a rotação,
que recobrem a rocha sã, bem como sua visando à trituração da rocha. O sistema
espessura. Para tanto, é necessário utili- de perfuração pode ser de três tipos:
zar a sondagem rotativa. Dependendo da manual, mantido sobre vagão e jumbo. O
extensão da pedreira, podem-se progra- tipo manual é também chamado marte-
mar duas a três sondagens localizadas de lete (Figs . 6.48 e 6.49) .
forma a propiciar uma boa representação Esse equipamento é constituído de três
de toda a pedreira investigada. Para pe- partes: cabeça, haste e broca. Na cabeça
dreiras muito extensas, essas sondagens (ver Fig. 6.49), são imprimidas as ações de
poderão ser interpoladas e extrapoladas percussão e de rotação. Os impactos pro-
com a prospecção geofísica. As sondagens duzidos por um pistão originam ondas de
deverão ser concluídas ao se atingir duas choque que se transmitem à broca através
manobras de 3 m cada uma, com boa recu- da haste. Com o movimento de rotação,
peração (acima de 90%). faz-se girar a broca para que os impactos se
Movimento de
Percussão
Movimento
Haste De rotação
Avanço Corpo
Detritos
/ '
1
a b
FIG. 6.50 Tipos de broca para a sondagem rotopercussora: (a) pastilhas; (b) botões
Fonte: modificado de ITGE (1994).
174 1 Geologia de Barragens
6 .4.1 Poços
Para completa segurança da escavação,
devem-se tomar os seguintes cuidados:
a) Abertura do poço
• depositar os materiais escavados
Pode-se abrir o poço em solo ou em a uma distância mínima de 1 m da
rocha. Em solo, utilizam-se ferramentas borda do poço, para não sobrecarre-
manuais, como pá, enxada, enxadeco, pica- gar o topo do talude;
reta, barra-mina etc. A seção do poço pode • caso não seja necessário deixar
ser quadrada ou circular, e a dimensão o poço aberto para investigações
varia em função do material a escavar e das posteriores, deve-se retirar o seu es-
necessidades de observação e amostragem, coramento e preencher o poço com o
;:>0rém não deverá ter menos de 2 m de material que dele foi retirado;
diâmetro ou de lado, dependendo do tipo • a operação de fechamento do poço
de seção. A profundidade varia em função deve obedecer às seguintes etapas:
do objetivo da investigação, porém dificil- (i) retirar o escoramento do trecho
mente ultrapassa os 15 m. mais inferior, mantendo sempre os
O avanço da escavação deve ser cui- operários acima desse trecho e sa-
dadoso a fim de evitar riscos à segurança cando as tábuas e escoras por meio
dos operários que realizam a escavação e de cordas; (ii) retirado o escoramento
do técnico que irá analisar e/ ou amostrar do trecho mais profundo, deve-se
o material escavado. Recomendam-se os preencher esse trecho com o material
seguintes procedimentos nessa escavação: depositado nas proximidades do furo,
i) escavar até a profundidade de em camadas de 0,30 m de espessura,
1,5m; compactadas por sepos manuais;
ii) analisar detalhadamente as ca- (iii) preenchido e compactado o trecho
racterísticas de cada material mais inferior, procede-se com a
176 1 Geologia de Barragens
Parede do poço
A amostra de rocha poderá ser coletada abertura manual utiliza as mesmas ferra-
dos blocos resultantes da dinamitação no mentas citadas para a escavação de poços,
ato da escavação. e os cuidados a tomar nesse processo são
os mesmos referidos para os poços. A
c) Utilização do poço em barragens
Fig. 6.55 mostra duas trincheiras abertas
O poço é utilizado em projetos de bar- em projetos de PCH (pequenas centrais
ragem com os seguintes objetivos: hidrelétricas) desenvolvidos pelo autor.
• caracterizar e amostrar os materiais Como cuidados adicionais para esse
incoerentes nas fundações da barra- tipo de escavação, recomendam-se os se-
gem, nos canais e em emboques de guintes:
túneis; • em trincheiras com profundidade
• aferir a geofísica; superior a 1,5 m, deverão ser insta-
• caracterizar e amostrar os solos que ladas escadas de acesso espaçadas
serão utilizados nas jazidas de mate- entre si, no máximo, 15 m;
riais terrosos; • os trabalhadores dentro da trin-
• acessar os túneis de investigação nas cheira devem manter entre si uma
fundações da barragem. distância mínima de 3 m;
• devem-se manter caminhos de cir-
6.4.2 Trincheira
culação no entorno da trincheira,
a) Abertura da trincheira livres de depósitos de materiais de
escavação. Para tanto, recomenda-
A trincheira, por ser uma escavação
-se fazer essa deposição somente em
geralmente muito extensa e estreita, é
um dos lados externos da trincheira
sempre aberta em solo, e pode ser escavada
(Fig. 6.55).
manualmente ou de forma mecanizada. A
178 1 Geologia de Barragens
b) Amostragem
Frasco
Funil
FIG. 7 .1 Frasco para medição in situ do peso FIG. 7.2 Placa ou bandeja para suporte do f1'.
específico aparente segundo a norma NBR 7185 da segundo a norma NBR 7185 da ABNT (medidas
ABNT (medidas em mm) emmm)
7 - Ensaios e testes 1 183
nível pode ser feita pela adição contro- feito ensa10 de rebaixamento quando a
lada da água no interior do poço (ensaio carga hidráulica no trecho ensaiado for
de infiltração) ou pela retirada dessa água superior a 0,02 MPa (2 m) e, por avaliação
(ensaio de bombeamento). visual, o rebaixamento da água no tubo de
O ensaio a nível variável é realizado com revestimento for inferior a 10 cm/ min".
a alteração do nível natural do poço para No trabalho da ABGE (1990b) indicam-se
um nível denominado inicial, medindo-se gráficos, tabelas e equações para o cálculo
o tempo que esse nível leva para voltar à da permeabilidade in situ em todas as al-
posição natural ou próximo a ela. O esta- ternativas apresentadas no Quadro 7.1.
belecimento do nível inicial pode também A título de exemplo, a Fig. 7.3 mostra
ser feito de duas formas: pela adição de dois ensaios in situ de permeabilidade,
água de uma fonte externa ou pela re- executados pelo autor para um projeto de
tirada dessa água por bombeamento. barragem no nordeste brasileiro. Ambos
No primeiro caso, será medido o tempo foram realizados pelo método de infil-
para que o nível acrescido volte ao nível tração, um acima do nível freático (zona
original (ensaio de rebaixamento), e no vadosa) e outro abaixo (zona saturada).
segundo caso, será medido o tempo para As leituras indicadas nas tabelas da
que o nível inicial, rebaixado pelo bom- Fig. 7.3 correspondem ao rebaixamento da
beamento, retorne por ascensão ao nível água no tambor que alimenta o poço para
original (ensaio de recuperação). garantir a fixação do nível inicial na boca do
Na prática, é muito mais comum re- revestimento. A diferença entre a primeira
alizar os ensaios por carga, seja por e a última leitura representa a altura h cor-
infiltração ou por rebaixamento, uma vez respondente à descida da água no tambor
que os ensaios por descarga implicam no tempo do teste (30 min). Conhecendo-
operações mais complexas e onerosas, -se o raio do tambor (cilíndrico), pode-se
a começar pela abertura do poço, que determinar o volume de água adicionada ao
necessitará de filtros e pré-filtros para poço para garantir a permanência do nível
evitar o carreamento de finos do solo, os no tempo de teste (V= rc.r 2 .h). Dividindo-se
quais poderão danificar a bomba, asso- esse valor pelo tempo de ensaio, tem-se a
rear o poço e reduzir a eficácia do teste. vazão (L/min). A coluna d'água representa
Complementaria essas dificuldades a ins- a carga (kg/cm 2), e a absorção corresponde
talação de bombas e de rede elétrica ou à divisão da vazão pela extensão do trecho
geradores para acioná-las . ensaiado [(L/min)/ m].
Uma vez considerados os ensaios por A perda d' água específica (PE), que cons-
carga como alternativa mais viável para titui um dos valores hidrogeotécnicos
os projetos de barragens, restaria defi- obtidos nesse teste, representa a divisão da
nir qual o método a adotar: infiltração absorção pela carga [(L/min)/ m] / (kg/cm 2).
ou rebaixamento. As diretrizes da ABGE Para obter-se a permeabilidade fin al
a sugerem como opção na escolha (K) (cm/s), multiplica-se a perda d'água
os o seguinte critério: "será específica por um fator de conversão (Fc)
7 - Ensaios e testes 1 185
1
Boca do revest. Hora 8:20 8:21 8:23 8:25 8:30 8:35
1 1 8:40
1
l?m
0,73 m
1 ..
t
1
1
Superfície
do terreno 1
,.,, Leitura
lnfiltr.
L
o
34,6
1
33,3
3
30,2
5
27,5
10
22,1
15
19,6
1-
20
16,4
8:45 8:50
! 1,73 m l 1---,.,,.H,,,, 1 -----1
o-=-ra=-i---- + - - - - - r
1empo
; - - - - + -- - - t -- - --rl_ _--;
Lençol acum. 25 30
/min\
freático ,
!2' mt.tubo6~n,
Sapata,
_rI__ lnfiltr.
L
15,5
1
Leitura
15,2
19,5
1
1 !
( ' --.-- Ensaio realizado Tipo de ensaio ! Condições de medidas
1 0 furo 6 cm 11 l - .--□
1 1,00 m l t--A-:-b-ai-xo--:d-o-N-.A -,,r-:-cNc-ív'el-c~on-s.,..t.""(N7.""C),-----+.,,,Ta-m'b-o~r"'(T,.,.)------1
Fundo do furo 1 d •
Acima do N.A. Q Rebaixam. (R8) @
Proveta (P) [o
Com artesian. · ci 1 ~~~~~~-~R~t ~fJ;i~ (~)
Trecho Coluna d'água Vazão Absorção Carga efet. Perda d_-agua j K
ensaiado (m) l
(kg/cm 1 )) j (1/min) (l/min x min) (kg/cm>) rltm ,esrr\'i~c~fi~!trm> Fator F.C. (cm/s)
Observações:
3,00 - 4,00 0,300 1 0,966 0,966 0,300 1 3,219 0,99 3,19 X 10·4
Observações:
retirado de ábacos que são apresentados Test , realizado a partir da mudança ins-
na Fig. 7.4. tantânea no nível d' água em um poço,
Outra alternativa para medição da provocado pela rápida introdução ou
?ermeabilidade in situ de solos é o Slug retirada de um cilindro metálico no m -
186 1 Geologia de Barragens
0 =2 'li' 1
0 =2 t"
2
L,----'
~ .......
---~ ------
---
,._... - - 0 =4 "
- ~
//
/ /
-----
~
0 =4" h
"/ //
K = PE · FC (cm/s) / / K = PE · FC (cm/s)
PE = _Q_ ( 1/ min
I PE = _Q_ ( 1/ mi n )
Lh m.kg/c m2
Lh m.kg/cm
1
2 3 L(m) 2 3 L(m)
Para trechos de ensaio situados acima do N.A. Para trechos de ensaio situados abaixo do N .A.
FIG. 7.4 Ábacos para conversão de perda d'água especifica (PE) em permeabilidade (K)
Fonte: ABGE (199Gb).
terior desse poço. O ensaio consiste em netration Test), que visa correlacionar a
medir a recuperação do nível a partir de resistência à penetração com diversos
sua mudança instantânea até o nível an- índices físicos dos solos, conforme já des-
terior a essa mudança. crito em 6.3.3b.
A permeabilidade ou condutividade Para reduzir o efeito do atrito lateral
hidráulica nesse ensaio é calculada das paredes do furo ao longo da exten-
pela equação: são de 73,66 cm do arnostrador do SPT,
foi concebido o penetrôrnetro de cone,
2 onde um cone metálico é fixado a urna
K= r -ln(L / r)
2L•To haste que é introduzida no furo de duas
onde: formas: estática ou dinâmica. Embora
r - raio do poço (rn); reduza o efeito do atrito lateral, esse
L - comprimento do trecho ensaiado ou método não despertou muito interesse
do filtro do poço (rn); por não permitir a obtenção de amos-
T O - tempo de recuperação de 67% no tras do solo penetrado, razão pela qual
nível d'água (s); teve seu emprego abandonado nos Esta-
K - permeabilidade (crn/s). dos Unidos desde 1955. Na Bélgica e na
O valor TO pode ser obtido em um grá- Holanda, onde as condições do solo são
fico rnonolog com [(H-h)/ (H-H 0)] x t, onde: particularmente favoráveis a esse tipo
H - nível d'água original; de investigação, esses ensaios são reali-
H 0 - nível d 'água após a mudança instan- zados em conjunto com o SPT. No Brasil
tânea; também não houve boa aceitação para
H - nível d'água no tempo t; esse tipo de ensaio.
t- tempo.
d) Resistência ao cisalhamento
c) Resistência à penetração
Para solos argilosos, há um equi-
O ensaio de resistência à penetração pamento que permite definir, com boa
mais conhecido é o SPT (Standard Pe- aproximação, a resistência ao cisalharnento
7 - Ensaios e testes 1 187
Segundo Tschebotarioff (1978), esse teste trecho ensaiado, pode mostrar-se ele-
só apresenta eficácia para argilas com IP vada para os trechos mais superiores de
igual ou maior que 12. investigação, provocando a abertura de
fraturas e o falseamento dos resultados
7.1.2 Ensaios in situ em
obtidos. Num desses estudos, Sabarly
materiais consolidados
(1968) demonstrou que essa pressão apli-
Os ensaios in situ em materiais conso- cada num círculo de raio de 1,0 m, em
lidados - maciços rochosos - realizados uma fratura de um maciço rochoso com
em projetos de barragens são: E = 10 5 kgf/cm 2 e u = 0,5, provocaria um
• Permeabilidade acréscimo de abertura nessa fratura igual
• Módulo de deformabilidade a 0,3 mm no centro do círculo e a 0,2 mm
• Resistência ao cisalhamento nas bordas . Em consequência, se a fratura
• Tensões virgens estivesse quase fechada, incapaz de pro-
vocar qualquer percolação d' água, poderia
a) Permeabilidade
absorver de 50 a 150 L/min num ensaio
O ensaio de permeabilidade execu- com pressão de 10 kgf/cm 2 , considerando
tado em maciços rochosos é denominado que a vazão absorvida varia com a quarta
ensaio de perda d'água sob pressão, que potência da abertura da fratura. Para
permite a caracterização hidrogeotécnica evitar tais problemas, a escola americana
de um maciço através da condutividade implementou um sistema de ensaio com
hidráulica do meio, incluindo os poros, no pressões crescentes com a profundidade
caso de rochas granulares (arenito, conglo- (1 psi/pé de profundidade), o que corres-
merado etc.) e as fraturas. Nesse ensaio, ponderia a 0,23 kgf/cm 2 .
podem-se definir dois parâmetros hidro- No Brasil, o ensaio de perda d'água fo .
geotécnicos: absorção específica (ou perda regulamentado pela Associação Paulista
d 'água específica) e permeabilidade. de Geologia Aplicada (APGA) em 1971
Esse ensaio é internacionalmente co- e seus critérios foram definitivamente
nhecido como Ensaio Lugeon, por ter sido estabelecidos pela ABGE (1975). Por t a.is
proposto por Maurice Lugeon (Lugeon, critérios, o ensaio é realizado em cinc
1933). Por esse critério, a unidade Lugeon estágios de pressão, com a seguin ::
corresponde à absorção de 1 litro por sequência:
minuto por metro de trecho ensaiado, sob
1° estágio: pressão mínima
10 quilogramas força por centímetro qua-
2° estágio: pressão intermediária
drado, ou seja:
3° estágio: pressão máxima
4° estágio: pressão intermediária
1 Lugeon = 1 L / min.m / 10 kgf / cm 2 5° estágio: pressão mínima
Estudos posteriores demonstraram
que a pressão de 10 kgf/cm 2 , empregada As pressões a serem lidas no manôm
ependentemente da profundidade do tro têm os seguintes valores:
7 - Ensaios e testes 1 1 9
Estabilizadores
de ressão
Piezômetro
Conjunto
motor-bomba
Manômetro
~ ,_....___.____
Canalização
- p/ alimentação de injeçao
Canalização
de retorno Obturador
Alimentação
I
1 (acima do N.A .) = prof . do obturador m + Trecho de ensa io.,. 2 m + altura doI Funil ___ m x 0,1 %_ kg/cm 2
Coluna d'água 2 (abaixo do N .A .) x adotado _ _ _ _ _ _ m + altura doI Funi l _ _ _ _ ,m x 0,1% _ _ _~ g/cm 2 M anôm. _ m x 0,1 %_ kg/cm 2
(medidas na vertical) M anôm . ___ m x 0,1% _ _ _~ ,g/cm 2
3 Cartesianismo) x altura do manômetro _ _ _ m + altura do nível estático __ m x _ _ _ _ m x 0,1% _ _ _ _ kg /cm 2
Pressões
Estágios Abso rções em litros a cada minuto L/ min L/ min x m
kgf/cm 2
. 2
5
'-1
1
Namômetro Coluna Perd a de Perda d' água m
Pressão efetiva Abso rção k (cm/s)
Estágios ou funil d'água ca rga específica ::i
kgf/cm2 L/min x m fator F x 10·4
kgf/cm2 kgf/cm 2 kgf/cm 2 L/ min x m x (kgf/cm 2) "'!!!.
o
1 "'n,
2 ,+
n,
3
4
"'n,
,+
5 "'
FIG. 7.8 Boletim para ensaio de perda d'ág ua sob pressão padronizado pelaABGE ...
Fonte: ABGE (1975).
'°...
192 1 Geologia de Barragen s
N. A . (artesianismo)
----=-,- -
-= '
'
N.A.
e e
Pob Pob
,, li
li 11
L/2
li
li
1; L/2
11
L 1) L li
(1 11
li
li
"
"11li
"
d d
N.A.
Abaixo do N.A. (2)
Aci ma do N.A. (1) e com art esianismo (3)
(1) H = h + Pob + L/2 (2) H = h + N (3) H =-N
3
+h
---
-
- ~ - n
1,1
1,0
0 ,9
0,8 1.......--- e::::=
--
-:::::: --
e-::::: ~ --:::::
e--
--
~~
~ ~e---
FIG. 7.10 Gráfico para determinação do Fator F para cálculo da permeabilidade no ensaio de perda d'água
b pressão
=onte: ABGE (1975).
Pab (m)
de 1,30 a 8,36
1 Trecho I Diâm d
·
Cana~zação
d1am 3/
-c I Alt. h I N.A. N
manam . 1,30
.li
Acima 1
Ens. Abaixo 2
d Coluna H/ 1Q Fator F
N ~ b.J'á~ua ~ 1 09 ,o•
3,08 m 0 ,06 m _-~ comR .. ,~Ôm 9
~
..,
:i
X
- -
=Pressão
manom.
Absorção a cada minuto - 1
1) _4 m __ad_otado _ _ _ _Ar~-~- - ~
T
tempo
Q Pc
vazão perda-de carga
Ce Qe 1 l
.. ~- -·_....:..2. ~l:m___· _ x , =
vazão . perda
Pe K
coefic.
o kg/cm> Parcial Total decorr. I/ min carga efetiva especif. "á~ua esp.permeab.
o
oX
- mirr-- - - - kg/cmL -kg/cm>- I/min/m -1 mini --~cm/s -
0,5 0,5 0,5 0,5 0 ,5 kg/cm>
,:;·.; 0,10 6,5 10 0,65 0,00 0,31 0,211 0,74
-= o 0,5 1,0 1,0 1,0 0,5 0,681
~o - -··-· - --
o 1,0 1,0 1,0 1,0 1,5
30 0+ 1,10 12,0 10 1,20 0,00 1, 31 0,390 0,35
1,5 1,5 1,5 1,0 1,0 0,325
-:- r-1 --- -- - •----
(1j 2,0 2,0 2,0 2,0 2,5
--:: "'u
;!>+-'
UJ
V,
2,20 2,5 2,5 2,5 2,0 2,0
22,0 10 2,20 0,01 2.40
· -- - - - -- --
0,714
0,298
0,32
f -
1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
1,10 7,5 10 0,75 0,00 1,31 0,244 0,20
0,5 0 ,5 0,5 0,5 0,5 0 ,186
. -
0,5 0,5 0,0 0 ,0 0,0
~ 0,10 1,0 10 0,10 0,00 0,31 0,032 0,11
0,0 0 ,0 0 ,0 0,0 0,0 0,104
;:~ Observações:
•a:=-=--=-=- -
~ ci
-ô V1 ·--
5
..:'.!..__ 1
i::: t 2 ,o - ·-
1.g:: ~ -
i!i ...."'
lia: .s - - ·-
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st '"~~'
1,0
-
-
-
~
.,,. col!'I. a.. - --
.. -
~"o "" º -
DA
-
0,8 (Q e) vazão - I/ min, m
-
tes, que podem ser colocados na vertical, paredes rochosas no sentido da aplica-
na horizontal ou inclinados (Fig. 7.13). ção da carga. Para a realização do ensaio,
A instalação de extensômetros junto aos aplicam-se cargas crescentes, medindo,
macacos permite medir a deformação das para cada acréscimo de carga, a deforma-
ção correspondente. Definida previamente
.,__
.
<ti
e:
E
<ti
...J
/] /13/ l
Sem alte ração
15
4
Com fechamento
5 1
2
1
Com abertu ra
5
4
a carga máxima a aplicar, geralmente um
pouco superior àquela prevista para a obra,
tão logo essa carga seja atingida, inicia-se
um processo decrescente de aplicação da
carga até atingir o estágio inicial do ensaio,
quando então fica concluído o 1° ciclo de
~o
~
e: carga e descarga do maciço rochoso.
..2' ~ ~ ]
:::, ~2 4] 2] 4 Repete-se o mesmo processo por mais
~
:::,
#] V]
,- dois ciclos completos, o que permite a
35 5 1 5
. construção de um gráfico como o mos-
o
e) t rado na Fig. 7.14. Uma vez que o 1° ciclo
<ti
E provoca maiores deformações residuais
.g ~
24 ] 2 4
~
(1)
por corresponder ao fechamento de des-
LU 15 5 1 5
o continuidades abertas , utilizam-se apenas
- aq !?
'ro ~~~ vo
~ ;;,_
1 os dois últimos ciclos para determinar o
.8 " )em alte racao c..om tPch;, mento
Vd2
e om ahert11r"
o ~ módulo E (também chamado de módulc
Hl) ,Q
-~ ✓2
N cn
<ti '"'
> t; V//2 de elasticidade), por meio da relação:
~ ~" ª P
1 3 1 1 3 E =-= tga
E
Os gráficos foram elaborados tomando pressões nas
ordenadas e vazões nas abcissas. onde:
E - m ódulo de deformabilidade (kgf/cm-
FIG . 7.12 Tipos de comportamento do t recho ensaiado
ou MPa);
Fonte: A BGE (1975) .
u
/ a
ttt .------- - - , - , . - - ------, )"/ '
a
Ensaio vertical Ensaio horizontal Ensaio inclinado
FIG. 7 .13 Posicionamento dos macacos gigantes para ensaios de módulo de deformabilidade in s itu (a=
tensão aplicada)
7 - Ensaios e testes 1 195
Cilindro de aço
Transdutores steef cylinder
Tubo de ar comprimido liner differential Tubo de ar comprimido ,
dir compressed pipe Admissão transformers air com ressed pipe Valvula de descarga
d'água
Camisa de '\ re/ief valve
,~bo elétrico water inlet Apalpador , borracha
I /efetric cable ,-- contact head rubber jacket
Mangue,ira d'água _ _ _ _
~terp1pe . 32 32~ 32
Hast~ de posicionamento 545 ~
pos1t1onmg _________ _ _ _ __ _ _ __
869
acionada por ar comprimido. A Fig. 7.19 (76 mm), executado com o máximo cui-
mostra os círculos na camisa de borracha, dado para evitar o estreitamento do furo
representados pelos t ransdutores. As de- por desgaste da coroa, ou o seu desvio.
ormações da rocha pela inflação causada O furo deve exceder, no mínimo, 2 m em
pela água sob pressão são transmitidas a relação ao trecho definido para ensaio.
partir dos transdutores, através de fios, Finalizado o furo, introduz-se o dilatô-
até uma caixa de leitura (Fig. 7.20). metro cuidadosamente até o ponto em
O dilatômetro deve ser introduzido que se deseja ensaiar e, então, aplica-se
em furo de sondagem de diâmetro NX água sob pressão, ajustando o zero para
FIG. 7.19 Dilatômetro pronto para ser inserido deformações e à direita, bomba d' água para
em um furo vertical introdução da pressão
::ante: cortesia da Sondotécnica. Fonte: cortesia da Sondotécnica.
198 1 Geologia de Barragens
p
(kgt/cm2)
Ciclo Carga Descarga
1 2 3 4
60
/;,! rt
,. 2
3
1
-
cycle up dow n
- - -0-- - -
/j
50 I I
k /
1
1
40
30
;l
I T
/
/
20 .
/•
J,
10
o 160 O 160 O 160 O 240 õ (µ)
_ · izado com o macaco plano de grande do piso é isolado por meio do corte da rocha
~ea, e então comparados os seus result a- com serra diamantada (Fig. 7.23), for-
:. s (Fig. 7.22). Os ensaios exemplificados mando um bloco com seção de 1,0 x 1,0 m
-essa figura foram realizados em um e altura de 0,4 m (Fig. 7.24).
esmo local (barragem de São Simão, em Cortado o bloco, constrói-se sobre ele,
.:;oiás), tendo a comparação desses ensaios no topo e nos lados, uma carapaça de con-
.:onstit uído o objetivo principal da disser- creto para garantir que as cargas aplicadas
:ação de mestrado do autor. serão distribuídas de forma igual por toda
c) Resistência ao cisalhamento a superfície aplicada. Instalam-se então
os macacos na vertical, para imprimir a
O ensaio de resistência ao cisalhamento
tensão normal ao plano de ruptura e ligei-
.::.e maciços rochosos realizado in situ é de-
ramente inclinado em um dos lados, a fim
senvolvido pelo método de cisalhamento
de imprimir a tensão tangencial a 30° da
di reto, em que é aplicada sobre um bloco
superfície de ruptura (Fig. 7.25). Obtida a
rochoso de 1,0 x 1,0 x 0,4 m de dimensões,
ruptura, consegue-se um par de valores
ma tensão normal e uma tensão tangen-
T x 0 para o gráfico de ruptura.
à al, esta última responsável pelo corte
Repete-se o ensaio com mais dois
segundo uma dada superfície plana. Pelas
dimensões do ensaio, que envolve pesada blocos esculpidos na mesma feição geoló-
mstrumentação, ele também tem sido gica, obtendo-se para duas outras tensões
desenvolvido no Brasil por meio da coope- normais, duas tensões tangenciais respon-
ração técnica LNEC/ Sondotécnica. sáveis pelas rupturas . Constrói-se, assim,
Realiza-se o ensaio de resistência ao uma envoltória de ruptura para o maciço
cisalhamento em galeria, onde um trecho rochoso, como indicado na Fig. 7.26.
Como se pode observar da sistemática pela extensão da área de ruptura, tem sido
desse ensaio, trata-se de um ensaio muito pouco aplicado em projetos de barragens
oneroso e de longa duração, em função no Brasil.
das etapas operacionais envolvidas.
d) Tensões virgens
Assim, embora forneça bons resultados,
A determinação das tensões virgens,
ou seja, do estado de tensões iniciais de
um maciço rochoso em que será edificada
uma obra, é extremamente importante
para projetos que envolvem obras subter-
râneas (túneis, usinas subterrâneas etc.),
bem como para fundações de barragens
em vales estreitos ou em encostas abrup-
tas. O LNEC desenvolveu dois métodos
que são realizados no Brasil em coopera-
ção técnica com a Sondotécnica: cilindro
sensível e macaco plano de pequena área.
Cilindro sensível
O cilindro sensível (STT - Stress Ten sor
FIG. 7.24 Bloco rochoso cortado in situ para ensaio de
Tube) é um cilindro que contém em seu
cisalhamento direto
Fonte: cortesia da Sondotécnica. interior vários defórmetros dispostos em
posições variadas e que são capazes de
, (kgfcm2) Gráfico, x a
60 graph
Ruptura
-(rupture)
45
30 • Deslizamento
• (slip)
o~-----
,s - - -
30
----
45
- --
a (kg/crTl"
FIG. 7.25 Montagem dos equipamentos para o ensaio FIG. 7.2 6 Envoltória de ruptura em um gráfzco
T x CT no ensaio de corte in situ no
de cisalhamento direto in situ no maciço
maciço rochoso
rochoso
Fonte: cortesia da Sondotécnica.
·e- cortesia da Sondotécnica .
7 - Ensaios e testes 1 201
Amostra
recovered
Para unidade de leitura rock core
- for reding unit
0 = 53 mm
1<11
o
-e
l1l
-e
'õ
§ -s
e 2-
c.. l::l
D
:1..:_:__
0 =47 mm
D+ 0,9
D++-- ---- \
Deformetro
• Define-se a direção em que será feito e cont ínua, medindo-se a dist ân cia
o rasgo para introdução do macaco entre os dois pinos a cada incremento
plano, que deverá ser perpendicular de pressão.
à direção na qual se pretende medir • Quando a leitura entre os pinos cor-
as tensões virgens. responder à leitura inicial ant es do
• Chumbam-se dois pinos na rocha, rasgo, finaliza-se o ensaio.
no trecho correspondente à metade • A pressão injetada para que a leit ura
do futuro rasgo, em direções opos- entre os pinos seja igual à leitura ini-
tas em relação ao rasgo, medindo-se cial corresponderá à tensão de alívio
com instrumento de precisão a dis- que deformou o maciço em função
tância entre os dois pinos. do corte realizado.
• Procede-se à abertura do rasgo com a
serra diamantada vista na Fig. 7.16. Para determin ar a tensão virgem em
• Concluído o rasgo, mede-se a distân- outra direção, repete-se toda a sequência
cia entre os dois pinos, que deverá de atividades para um novo rasgo,
ser menor que a leitura feita antes do localizado perpendicularmente à nova di-
rasgo, em consequência da deforma- reção em que se pretende calcular a tensão
ção do maciço rochoso causada pelo virgem. A exemplo do cilindro sensível,
alívio de tensões na ruptura. esse método também já foi utilizado em
• Introduz-se o macaco plano de pe- algumas barragens brasileiras.
quena área e procede-se à injeção
de óleo sob pressão, de forma lenta
7. 2 ENSAIOS DE LABORATÓRIO
20
1O ····-··-······--··-··········-······-· ••••••••••• ,
5 2 ,i. 5 3 4: 6 s 1: 3 :s 7 9 3
4 3 D,Ji .b·.ºs .i9 . 2 ' 4 5'/{10 2
novamente. Subtraindo-se o peso inicial Sólido Semissól ido Plástico Líquido Aumento
- - - - + - - - t - - -1 - - ~ do teor de
do peso final, tem-se o peso da água con- Lim it e de Limite de Limite de umidade
cont ração - LC plasticidade - LP liquid ez - LL
tida no solo. Dividindo esse peso pelo peso
final, que corresponde ao peso do solo FIG. 7.30 Evolução do co mportamento do solo com
seco, e multiplicando o resultado por 100, o au mento do teor de umidade
obtém-se o teor de umidade em percenta-
na mecânica dos solos, o Índice de
gem. Os teores de umidade dependem do
Plasticidade (IP), definido como:
tipo de solo, mas geralmente se situam
IP = LL - LP
entre 10% e 40%; podem, porém, ultra-
passar os 100% em solos turfosos. Limite de liquidez (LL)
d) Limites de consistência Esse limite é determinado em labora-
tório com base na norma NBR 6459 da
Os solos de granulação fina contendo
ABNT, segundo a qual o ensaio é reali-
minerais de argila podem ser moldados na
zado em um equipamento denominado
presença de alguma umidade sem chegar
Casagrande, que consiste em uma concha
a esfarelar, graças à natureza coesiva cau-
de latão e uma base de borracha rígida,
sada pela água adsorvida que circunda as
sendo a concha golpeada sobre a base por
partículas argilosas. A consistência desses
um excêntrico operado por uma manivela.
solos com teor de umidade variável foi
Para realizar o ensaio, coloca-se uma
desenvolvida pelo cientista sueco Atte-
pasta resultante do solo umedecido o
berg no início do século XX. Segundo esse
bastante que admita ser cortado sem pro-
cientista, o comportamento desses solos
vocar desabamento da parede do corte
com a variação do teor de umidade admite
Em seguida, provoca-se um sulco na parte
quatro estados básicos a partir da menor
central com uma ferramenta padrão, dei-
umidade, a saber: sólido, semissólido,
xando o solo no interior da concha como
plástico e líquido.
visto em seção na Fig. 7.31a. Com o uso da
O teor de umidade, em percentagem,
manivela, a concha é levantada até uma
para o qual ocorre a transição de um de-
altura de 1,0 cm, caindo em seguida sobre
terminado estado para o imediatamente
a base. O limite de liquidez é definido pelo
seguinte é denominado limite. Assim, o
teor de umidade necessário para fecha!
teor de umidade entre o estado sólido e
com 25 golpes uma distância de 1,27 cr::
o semissólido é denominado limite de
ao longo da parte inferior do sulco, d=
contração; entre o estado semissólido e
forma a ser vista em seção na Fig. 7.31b.
o plástico, limite de plasticidade; e entre
o estado plástico e o líquido, limite de
Limite de plasticidade (LP)
liquidez. A Fig. 7.30 mostra a evolução do
Esse limite é determinado com bas-
comportamento dos solos finos argilosos
na norma NBR 7180 da ABNT. O ensa:
com o aumento da umidade. é muito primitivo, baseando-se na rol
Esses limites são conhecidos como
gem manual sobre uma placa de vidr-
Limites de Atteberg. Utiliza-se ainda,
despolido, de uma massa de solo umed
7 - Ensaios e testes 1 207
ciclo com uma determinada umidade, até V. ·---·- - - - - - -----·- - - - -·- ---- -·-·-·-
=armar filamentos . O LP é definido como
o teor de umidade no qual o filamento de o
o
V>
60
w 50
~
V
-o
<U CH /
-o
:~ 40
/
~
<U
V
a.. \
~ 30
(IJ
-~
-o
.E 20
CL
/
/ MH
OH
/
10
/
/ ML
1 - OL
o 10
ML
20
V 30 40 50 60 70 80 90 100
Lim it e de liqu idez
FIG . 7.33 Gráf,.co de plasticidade com indicação dos símbolos da c/assif,.cação SUCS
7 - Ensaios e testes 1 209
K = VL
Aht
onde: FIG. 7.34 Permeâmet ro de carga constante
Fonte: modifzca do de Das (2007).
K - permeabilidade em cm/s;
V - volume de água coletada em cm 3 ;
L - comprimento do corpo de prova; J_
dh
A - seção do corpo de prova; T
h - diferença de carga hidráulica; Piezô metro
- tempo de medição.
aL h
t
K = 2,303-logrn - 1
At h2
Água
Cada carga é aplicada por 24 horas e após o e0 , pois somente o Hv varia durante o
esse período é geralmente dobrada. ensaio. Assim, !le = er - e0 .
A deformação sofrida pelo corpo Com os valores de !le para cada carga
de prova adensado, para uma determi- aplicada, pode-se construir o gráfico ex cr'
nada carga aplicada, inclui três estágios (Fig. 7.39), que permite calcular a pressão
(Fig. 7.38), a saber: de pré-adensamento (crc'), como indicado
nessa figura.
- Estágio I: compressão inicial, predomi-
nantemente por pré-carrega-
mento;
- Estágio II: adensamento primário re- Estágio 1
sultante da transferência
gradual da poropressão ex-
cessiva para a tensão efetiva o
'"'<>"' Estágio li
em função da expulsão da §
água dos poros; .!:?
Q)
o
- Estágio III: compressão secundária
ocorrida após a dissipação
do excesso de poropressão,
1
consequente do reajuste Estágio Ili
onde:
ô
·;;;
a -f=--=-,- - a - - b
~ 19 ' , a '-.--... d
e0 - índice de vazios inicial; Q)
-o 1
QI 1
Vv - volume de vazios; u
'õ 1
V5 - volume de sólidos; ..f 1
1
A - área do corpo de prova; 1
1
Hv - altura de vazios no início da carga 1
h
1
aplicada; 1
H 5 - altura de sólidos no início da carga 1
1 cr',
aplicada. Pressão - cr' (esc. log .)
O ercorrespondente ao índice de vazios
FIG. 7.39 Gráfico ex cr'
no final da aplicação da carga é m enor que
Fonte: modificado de Das (2007).
7 - Ensaios e testes 1 213
Defletômetro
vertical N
Defletômetro
horizontal
Placas
porosas
-Dreno
r = e + cr . tgcp
FIG. 7.41 Deslocamentos horizontal e vertical no
ensaio de cisalhamento direto
Embora esse ensaio apresente corno
Fonte: modifzcado de Pinto (2000).
vantagem a simplicidade de operação e a
facilidade de preparo do corpo de prova,
principalmente no caso de areias, ofe-
rece várias desvantagens, e a principal é
a impossibilidade de medir a poropressão.
Assim, as tensões medidas são sempre as
totais, embora seja igual à tensão efetiva
se a poropressão for nula, como mostrado
na envoltória B da Fig. 7.42, onde cp = cp'
e
por se tratar de uma areia sem coesão.
j) Ensaio triaxial
o
O ensaio de compressão triaxial é o
método mais confiável para a determi- FIG. 7.42 Gráfzco, x cr no ensaio de cisalhamento
direto: A - solo coesivo; B - solo não
nação dos parâmetros de resistência dos
coesivo (areia)
solos, pois permite medir a influência
da poropressão ou pressão neutra (µ) na urna tensão hidrostática, ou pressão confi-
ruptura por cisalharnento. Esse ensaio nante (crJ, que corresponde, num sistema
baseia-se no pressuposto de que a ruptura triaxial, às tensões cr2 = cr3, e uma pres-
por cisalharnento ocorre pela diferença de são axial correspondente nesse estado
tensões compressivas entre duas posições à tensão cr1. A intensidade da diferença
ortogonais, conforme discutido no Cap. 4. cr1 - cr3, denominada tensão desviadora, é
Assim, um corpo de prova do solo recebe que determinará a ruptura desejada.
7 - Ensaios e testes 1 215
Membrana
Drenagem ou
mediçaoda~ Entrada de água
pressao neutra > l=::::::::::;::::::=•- e medição da
~ ~ ~~ - - - - - ~ - - ~ pressão confinante
Pedra porosa
?<Jr meio de uma amostra íntegra, ge- então é pesado, e o peso específico apa-
almente de forma geométrica, ou com rente (y) é resultante da divisão do peso
:ragmentos dessa rocha. Os principais en- da amostra pelo seu volume. Como na
-aios são: maioria das rochas o volume de vazios é
• Peso específico desprezível (com exceção das lavas vulcâ-
• Porosidade e permeabilidade nicas e de algumas rochas sedimentares),
• Compressão uniaxial o peso específico aparente, ou natural,
• Esmagamento é praticamente igual ao peso específico
• Resistência ao cisalhamento não do sólido. O peso específico aparente
confinado das rochas varia de 2,0 g/cm 3 (rochas
• Resistência ao cisalhamento triaxial sedimentares como arenitos e folhelhos) a
• Resistência à tração 3,0 g/cm 3 (rochas ígneas básicas).
• Resistência à flexão
b) Porosidade e permeabilidade
• Constantes elásticas
• Resistência ao desgaste A porosidade retrata a relação entre o
• Resistência ao intemperismo volume de vazios e o volume total de um
• Reatividade química potencial corpo rochoso. Nas rochas, a porosidade
• Adesividade pode ser granular ou intersticial. A porosi-
• Outros ensaios dade granular decorre dos vazios existentes
entre as partículas sólidas em uma rocha
a) Peso específico
sedimentar e a intersticial, dos vazios exis-
O peso específico aparente das rochas tentes entre os minerais que compõem uma
é determinado em laboratório por meio rocha ígnea ou metamórfica. Considerando
de um corpo de prova cilíndrico, que pode que o peso específico da água é 1 g/cm 3 , o
resultar da sondagem rotativa de campo, ensaio para porosidade consiste em pesar
quando são selecionados na caixa de tes- um corpo de prova rochoso primeiramente
temunhos os trechos de rocha a ensaiar, em seu estado saturado e depois seco. A
ou obtidos através de pequenas sondas diferença entre o peso saturado e o seco
de laboratório, que podem confeccionar corresponde ao peso da água contida nos
testemunhos a partir de blocos rochosos vazios e, consequentemente, ao volume
coletados em bom estado de sanidade. dos vazios. Dividindo esse volume pelo
O testemunho selecionado deve ter suas volume total de corpo de prova, tem-se o
extremidades cortadas por serra diaman- valor da porosidade, em percentagem. Para
tada, a fim de conferir ao corpo de prova rochas sedimentares, a porosidade gra-
uma perfeita forma geométrica e, assim, nular pode variar entre 5% e 30%, porém
facilitar a determinação de seu volume. nas rochas ígneas e metamórficas, a po-
Outra forma de facilitar essa determina- rosidade intersticial fica geralmente entre
ção é cortar o corpo de prova em forma 0,1% e 1,0%.
prismática por meio de serra diamantada. A permeabilidade retrata a facilidade
Definido o volume do corpo de prova, ele de escoamento da água ou outro fluido
218 1 Geologia de Barrage ns
-Diaxial em laboratório.
: mpressão pontual
Na compressão pontual, um corpo
?Uchoso cilíndrico, em que L > 1,SD, é
~olocado em uma prensa e pressionado
- ·ametralmente por meio de duas peças
ele aço pontiagudas (Fig. 7.46).
A carga que provocará a ruptura de-
:inirá o Índice de Carga Pontual (Is), dado
?Or:
FIG. 7.46 Esquema do ensaio de compressão
F pontual
Is=-
D2
onde: tado dessa resistência é dado em função
Is - índice de carga pontual (kgf/cm 2 do percentual de material desagregado,
ou MPa); em função da massa original dos frag-
? - força pontual aplicada (kgf/cm 2 ou mentos (M 1) , conforme a expressão:
MPa);
D - diâmetro do corpo de prova (cm).
A resistência à compressão pontual
será dada pela expressão:
Esse percentual deve situar-se entre
Se= (14 + 0,175D) Is
15% e 30% para a maior parte das rochas
de maior resistência.
d) Esmagamento
e) Resistência ao cisalhamento não
O ensaio de esmagamento corresponde
confinado
a uma compressão exercida sobre frag-
mentos rochosos , o que permite definir a Existem vários métodos para a me-
resistência da rocha carregada de forma dição da resistência ao cisalhamento
fragmentada. não confinado de rochas em laboratório,
Nesse ensaio, são compactados porém o mais empregado é o que utiliza
fragmentos de rocha de uma dada um corpo de prova prismático tabular,
granulometria em um cilindro de aço preso em duas extremidades e carregado
rígido, que é submetido à compressão em sua porção média conforme indicado
por meio de um êmbulo até alcançar uma na Fig. 7.47.
determinada carga, a uma velocidade pré- A resistência ao cisalhamento (Ss) será
-fixada. Concluído o ensaio, determina-se dada por:
Fc
a massa M 2 dos fragmentos que passam Ss
2A
em uma malha pré-especificada. O resul-
220 1 Geologia de Barragens
t
,
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\\
F,
f
0
Corpo de prova
B·F ·L
Sp =--c-3_
rc.D
onde:
Sp - resistência flexural (kgf/cm 2 ou MPa
F,
Fe - força compressiva aplicada até a rup-
FIG. 7.49 Esquema do ensaio de tração direta tura (kgf/cm 2 ou MPa);
Fonte: modificado de Obert e Duval (1967). L - distância entre os suportes da base (cm
D - diâmetro do corpo de prova (cm).
3-F · L
Sp = e 2
2-b ·a
700
~ 600
'o
V,
QJ
E
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500
"D
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~
400
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300
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J
Agre_gados
-
QJ inócuos considerados
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-à )
a:: 200
deletérios -
/
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~
e
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:J 100 ~
V)~ --
-- -
o
10 r '
Agregados considerados
deletérios
FI G. 7.53 Ábaco para identificação da reatividade química potencial de agregados pelo método químico,
segundo a norma NBR 9784 da ABNT
razão pela qual é pouco aplicado nos pro- estado seco são misturados com o ligante
jetos de barragens no Brasil. a ser utilizado no projeto e submetidos
No Cap. 9 serão detalhadas as apli- a imersão primeiramente em água des-
cações desses ensaios para os agregados tilada fervente e depois em soluções
empregados nos projetos de barragens. aquosas de carbonato de sódio com con-
centrações sucessivamente mais elevadas.
m) Adesividade
A cada imersão observa-se a possibilidade
A adesividade do agregado graúdo é de descolamento da película do ligante,
determinada por três processos: aná- sendo atribuído um índice de O a 9 para
lise petrográfica, método Riedel-Weber cada concentração da solução (o índice O é
e método RRL. A norma NBR 12583 da atribuído à água destilada). A adesividade
ABNT regula essas metodologias. será avaliada pelo número em que ocor-
reu o descolamento do ligante. Ela será
Análise petrográfica considerada má se o número for O, e na
Essa avaliação é simplesmente quali- pontuação entre 1 e 9, a adesividade va-
tativa, servindo apenas como definição riará de satisfatória a ótima.
sobre a necessidade de proceder a uma
n) Outros ensaios
investigação quantitativa pelos métodos
mais específicos . Na análise petrográfica, Muitos outros ensaios podem ser
caracteriza-se a constituição mineraló- realizados em material rochoso em labora-
gica do agregado, uma vez que o caráter tório, mas para finalidades outras que n.;
ácido desses minerais afeta a adesividade aquela aplicada a projetos de barrage -
do agregado aos ligantes. como pavimento de rodovias e lastro fe·
roviário. A principal dessas finalidades e ·
Método Riedel-Weber revestimento de pisos e paredes, quan
Por meio desse método, os agregados ensaios como absorção, dilatação térmi-
são preaquecidos a uma dada temperatura e tenacidade são, entre outros, impres -
e envolvidos pelo ligante a ser utilizado no díveis para a caracterização dos mate ·::
projeto, o qual também se encontra prea- rochosos. Considerando, todavia,
quecido. Após resfriamento, os agregados algumas obras anexas a uma barra
envolvidos pelo ligante são submersos em (como a usina hidrelétrica, p.ex.) poss
água destilada a 40°C, durante 72 horas. acabamento que inclui revestimento
A adesividade será considerada satisfatória pisos e paredes com placas rocho-
se não houver descolamento da película serão identificados aqui esses três t ipo_
do ligante, e não satisfatória se houver ensaio.
o descolamento.
Absorção
Método RRL A absorção representa a relação en
Esse método apresenta um aspecto peso da água contida nos poros da r -
mais quantitativo. Os agregados no o peso da rocha seca. Para tanto, pesa-
7 - Ensaios e testes 1 229
stra de rocha com saturação de 100%, agregado como lastro ferroviário ou para
-=-..-,ndo-se o peso P1 . Seca-se a amostra pista de aeronaves, o que não é objetivo
estufa a 110°C, pesando-a depois para do presente texto. No segundo caso, essa
=-a.ir o peso P 2 . A absorção (A) será dada propriedade aplica-se para a caracteriza-
:;:>ercentagem por: ção da resistência da rocha ao impacto,
quando utilizada como revestimento de
A= P1 - P2 ·100 (%) pisos. Nesse caso, o ensaio consiste em
P2
submeter uma placa rochosa com dimen-
~sse ensaio é normatizado pela NBR sões de 20 x 20 cm e 3 cm de espessura,
_:-45 da ABNT. As rochas silicáticas colocada sobre um colchão de areia com
_resentam absorção variável entre 0,1% 10 cm de espessura, a golpes com esfera
- ,5%, embora seja maior a frequência de aço de 1 kg, caindo em queda livre de
-0,2% . alturas crescentes, até provocar a rup-
tura da placa. A resistência é dada em
- ~atação térmica kg.cm/cm 3 , onde kg refere-se ao peso da
. esse ensaio, submete-se uma amos- esfera, cm à altura de queda que provoca a
r::-a prismática de rocha a ciclos de imersão ruptura e cm 3 ao volume da placa testada.
água com temperatura variando entre Em ensaios realizados em rochas silicáti-
e 50°C. Um dispositivo de precisão cas, essa resistência foi menor que 0,3 .
ede, num tempo pré-fixado, a dilatação
contração da rocha para cada ciclo com
-2.IIlperatura variável. Sendo L1 o com-
_?rimento inicial do prisma submetido a
.:ma variação de temperatura (T 1 - T 2),
:. dilatação apresentada (L 1 - L2) definirá
coeficiente de dilatação (~) em mm/ mº C
::orno segue:
B = L2 - L1 . 1 t.L
11 T2 - T1 L1t.T
-:'enacidade
A tenacidade, ou resistência ao im-
pacto, pode ser caracterizada de duas
formas: sobre agregados e sobre placa
rochosa. No primeiro caso, essa proprie-
dade aplica-se para a qualificação do
8 Tratamento de maciços naturais
Como maciços naturais são considera- com a construção de uma obra de barra-
dos os solos, as rochas e os materiais de mento, principalmente pela imposição de
transição, ou saprólitos. Esses materiais novas tensões, sejam efetivas, pelo peso
podem exigir tratamento para melhorar da barragem construída, sejam neutras,
suas características independentemente pela água armazenada no reservatório for-
do local em que se encontrem em relação a mado. Como nem sempre as características
uma obra de barramento, incluindo aque- originais desse maciço natural são suficien-
las que lhe são associadas. A situação mais tes para suportar as modificações a serem
presente com relação à localização desses impostas pela obra projetada, é necessário
materiais relaciona-se com as fundações melhorar ou reforçar essas característi-
da barragem, que serão analisadas prio- cas por meio de técnicas e procedimentos
ritariamente, com considerações sobre visando a uma melhor adequação das fun-
o tratamento eventualmente necessário dações à obra projetada. Nisso consiste o
desses materiais quando localizados em tratamento das fundações.
uma encosta, no entorno de um canal, Os tipos de tratamento das fundações
de um túnel ou de outro tipo de escava- têm experimentado um sucessivo apri-
ção subterrânea. moramento ao longo dos últimos anos ,
No item 4.1, foi considerado como seja em função da presença de condições
fundação de uma barragem todo o geológicas cada vez mais desfavoráveis
embasamento geológico existente no em decorrência de aproveitamentos prio-
local em que será assentada a barragem e ritários anteriores, seja pela necessidade
suas obras complementares (vertedouro, de conciliar cada vez mais os aspectos
canais, ensecadeira, usina etc.), indepen- econômicos, sociais e ambientais. Assim,
dentemente de sua constituição geológica, é comum o confronto entre o nível de se-
se formado por rocha ou pelo solo de co- gurança alcançado por um determinado
bertura. Também ficou claro que o local método de tratamento e o elevado custo
referido como fundação da barragem que este representa para a obra, ou até
propriamente dita não se restringe à área mesmo em relação às dificuldades técnicas
geralmente aplainada do fundo do vale, de sua implantação. A escolha do melhor
mas estende-se para as ombreiras laterais método de tratamento de uma fundação
que receberão parte da obra de barra- depende de uma série de fatores ; porém,
mento ou de obras complementares. duas condicionantes são fundamentais
O maciço natural que constitui essa nessa escolha: a caracterização geológica
fundação sofrerá intensas modificações das fundações e o objetivo do tratamento.
232 1 Geologia de Barragens
a
.__,/
"cut-off"
nosos, pois, segundo Cruz (1996, p. 361), cavação, mantendo-se sempre a mesma
"mesmo que não ocorra a ruptura, poderão metodologia descrita, o que é mostrado na
ocorrer deslocamentos que resultem numa fase final de escavação na Fig. 8 .2c.
redução da densidade (compacidade) do A calda a injetar dependerá do objetivo
solo da fundação, o que irá aumentar a sua a que se destinará o diafragma, mas geral-
compressibilidade e reduzir a sua resistên- mente é constituída por areia, cimento e
cia ao cisalhamento". água, na proporção 1:1:5 em volume.
Em geral, esse método é utilizado
c) Diafragma
para conter o excesso de percolação sob a
Os diafragmas rígidos ou plásticos barragem, e leva vantagem em relação à
são formados pela substituição de uma trincheira de vedação por poder ser reali-
estreita faixa da fundação por sucessivos zado abaixo do nível freático sem que seja
painéis de concreto, formando um muro, necessário rebaixá-lo.
geralmente localizado abaixo do eixo da
d) Tapetes
barragem. Esse diafragma pode prolongar-
-se por toda a extensão desse eixo ou O tapete constitui uma substituição do
contemplar apenas partes dessa extensão. trecho mais superficial da fundação po~
Para execução de um diafragma, faz- uma camada impermeável, que pode cor-
-se a escavação da fundação ao longo de responder a um prolongamento do núcleo
painéis ou trincheiras com extensão entre nas barragens zonadas, ou a um prolon-
5 m e 20 m e com largura entre 0,40 m e gamento do material argiloso do espalda!
1,50 m. A escavação é realizada com um de montante. É considerado um tapete in-
equipamento de percussão, e o material terno quando fica limitado à extensão &
triturado é aspirado por uma mangueira barragem (Fig. 8.3a) e um tapete extern
(Fig. 8.2a). Para evitar desmoronamen- quando extrapola os limites do espalda;
tos das paredes da escavação, usa-se uma de montante da barragem (Fig. 8.3'
lama de bentonita. Concluída a escavação Os tapetes internos são mais recome-
de um painel, procede-se ao seu enchi- dados que os externos, pois estes têm -
mento com concreto, ao mesmo tempo mostrado pouco eficientes em razão -
que se executa a abertura do painel se- fissuras originadas por ressecamento _
guinte, que deverá guardar uma distância por recalques diferenciais junto ao pé -
do primeiro equivalente à extensão de montante. A exemplo das trincheiras
um painel. Prosseguindo-se com essa vedação e dos diafragmas, esse mét
sistemática, chega-se à extensão total do visa conter o excesso de percolação so-
diafragma projetado, com painéis con- barragem em trechos isolados ou ao lon_
cretados alternando com painéis do solo de todo o eixo barrável.
original (Fig. 8.2b). Após secarem todos Para garantir uma melhor eficiên
os painéis, são escavados e concreta- do tapete, Cruz (1996) elenca os segui=
dos os painéis que permaneceram com o tes requisitos a serem cumpridos
material original na primeira fase de es- sua execução:
0 Perfuratriz
Painéis
injeção concretados
0 00
1
::;l
~
Pl
3
C'I)
:::J
,+
Trépano movido o
Caminhamento da à percussão no Q.
C'I)
escavação no sentido sentido vertica 1 .. . . .
horizontal graças -4-:c\t;;:_~_==_~;:-,_-_-_-_-_-_-,_-_
---i"\.h ' ' · 3
ao movimento ..- ~
da perfuratriz
..;:;·
o
sobre os trilhos "':::J
Pl
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~-
FIG, 8.2 Execução de um diafragma por meio de painéis contínuos: (a) execução da escavação; (b) fase inicial da injeção; (c) fase final da injeção
"'
Fonte: modificado de Cambefort (1975). w
~
V,
236 1 Geologia de Barragens
itens 8.2 e 8.3. Em primeiro lugar, o geó- Quando o tratamento é realizado por
logo responsável pelo tratamento deverá meio de uma única linha de furos, estes
decidir se este será realizado ao longo de devem ser alinhados ao longo do eixo
todo o eixo barrável ou em trechos desse da barragem granular (terra ou enroca-
eixo. Em segundo lugar, deverá ser defi- mento) ou no trecho de montante, nas
nido se o tratamento será realizado por barragens de concreto. Nesse último caso,
meio de uma única linha de injeção ou os furos são geralmente situados no pé de
mais de uma - e, nesse caso, quantas. Há, montante, mas podem ser também rea-
ainda, a possibilidade de o tratamento ser lizados a partir da galeria de drenagem,
realizado por uma única linha ao longo de desde que executados antes dos furos de
todo o eixo e reforçado por uma ou mais drenagem, para não haver o risco de estes
linhas em trechos localizados. colmatarem.
Essas definições dependem muito do Ao longo da linha única de tratamento,
nível de detalhamento do projeto básico. os primeiros furos - denominados furos
Se as sondagens na fase de pesquisa para primários - são geralmente espaçados
a viabilidade, complementadas na fase de de 12 m. Em função dos seus resultados,
projeto básico, tiveram um adensamento após injetados, são intercalados os furos
ao longo do eixo capaz de oferecer um secundários, perfazendo um espaçamento
bom conhecimento dessas fundações, de 6 m entre as duas fases de perfuração.
isso facilitará todo o planejamento de A avaliação dos resultados dos testes de
sondagens para o tratamento, podendo- permeabilidade e de absorção de calda
-se programar de início um esquema que definirá pela necessidade de novas inter-
se aproxime do ideal, a fim de realizar um calações em uma terceira fase, onde os
eficiente tratamento dessa fundação. furos terciários distarão apenas 3 m dos
As sondagens poderão ser progra- primários e secundários. Eventuais neces-
madas na vertical ou inclinadas para sidades de complementação localizada de
montante (no máximo 30° com a vertical). tratamento poderão exigir a realização de
Essa definição deve ser tomada visando à furos quaternários, que são geralmente in-
interceptação do maior número possível clinados, buscando vedar melhor trechos
de descontinuidades abertas no maciço revelados mais problemáticos nas fases
rochoso. anteriores a diferentes profundidades. r1
Embora o número de linhas de trata- Fig. 8.5 mostra um exemplo dessa confi-
mento das fundações em barragens no guração.
Brasil tenha sido muito variável, che- Os furos primários são os mais impor-
gando a atingir sete linhas na barragem tantes para o conhecimento detalhad
de Emborcação (MG), as alternativas mais das fundações, motivo pelo qual dever::
empregadas são duas: linha única (cen- atingir maiores profundidades e ser aber-
trada ou a montante) e linha tripla (uma tos com sonda rotativa (diâmetro BX
no eixo, uma a montante e outra a jusante cujos testemunhos permitem caracteriza:-
desse eixo). º fraturamento no que diz respeito ao sa
8 - Tratamento de maciços naturais 1 239
sl"
N-
""-
N
M
o
220 sl"
IJ'I
r--.'
co
rn'
IJ'I
rn'
215
FIG. 8.5 Furos secundários, terciários e quaternários no tratamento de fundações da barragem de Bocaina-
-PI (projeto do autor)
3m
··· · · O · ···· ····· • ······· · ·- □ ··· · · ··· · ·O ···· ·· ···· O· ···· · ···· • · ·· · · ·lM
, 1,5 m 1
J I
- - - • - - - - - G - - - - - -0- - - - - - EJ- - - - - - • - - - - - -G - - - u
e Furo primário LM - linha de montante
O Furo secundário LC - linha central
D Furo terciário LJ - linha de jusante
FIG. 8.6 Esquema para disposição dos furos para tratamento das fundações em uma linha tripla
~1/
trechos do furo, procede-se a tal operação
utilizando-se obturadores duplos nos tre- Zona
injetada'/
chos a injetar.
~
Obturador
Na injeção descendente, a injeção de
cada trecho é feita logo após a sua perfura-
ção. Assim, o tratamento inclui a seguinte
Trecho - - - - - •
sequência de atividades: sendo
injetado
• perfuração de um trecho de 3 m de
profundidade;
FIG. 8.8 Esquema da injeção descendente
• lavagem do trecho perfurado;
Fonte: modificado de Cambefort (1975).
242 j Geologia de Barragens
tência à compressão, resistência à erosão sólida não deve ultrapassar 5%, sendo
por lavagem, permeabilidade e índice de mais recomendável utilizar apenas 2%.
expansão. Dessas propriedades, as mais Cimento + pozolana/água: a pozolana
importantes são a permeabilidade e a re- reduz o custo do cimento e aumenta a
sistência à erosão por lavagem. resistência à erosão por lavagem, porém
Uma vez definidas em laboratório reduz a resistência à compressão. Assim,
todas as características de injetabilidade esse tipo de calda é mais recomen-
e as propriedades físicas e mecânicas das dado para injeções de impermeabilização
caldas, deve-se fazer um teste in situ com a do que para injeções de consolidação. A
calda escolhida. Esse teste consiste em in- proporção cimento/ pozolana pode ser 2:1.
jetar alguns furos com essa calda e depois Silicato de sódio/água: o silicato de sódio
avaliar a eficiência da injeção por meio de em contato com um reativo forma um
testes de perda d'água. gel duro que apresenta elevada resistên-
Nos testes de laboratório e de campo, cia à erosão por lavagem e muito baixa
um dos fatores mais importantes a definir permeabilidade, prestando-se para con-
é a proporção água/sólidos. Na literatura solidar e impermeabilizar materiais com
especializada são citadas variações de vazios diminutos, como solos siltosos e
água/cimento (A/ C) desde 10:1 até 0,5/ 1. argilosos. Apresenta inconvenientes na
Deve-se observar que as caldas muito aplicação, pois a rapidez da reação que
diluídas, como 10:1 apresentam maior forma o gel impede a penetração do pro-
injetabilidade, porém propriedades mecâ- duto a grandes distâncias, exigindo menor
nicas mais reduzidas, ocorrendo o inverso espaçamento entre as sondagens. Também
com caldas mais concentradas, como o elevado custo do produto constitui des-
0,5:1. Assim, deve-se adotar uma propor- vantagem na aplicação desse processo.
ção A/ C compatível com cada situação de Resina orgânica/água: essas caldas pos-
tratamento definida em função dos testes suem propriedades semelhantes às dos
realizados. As principais características silicatos, porém apresentam preços ainda
de cada calda são: mais elevados, razão pela qual são pouco
Cimento/água: são caldas pouco está- utilizadas.
veis, mas que apresentam boas condições Quanto aos objetivos das injeções,
de resistência e permeabilidade. As propor- podem-se fazer os seguintes comentários
ções mais usuais variam entre 4:1 e 0,7:1. para os diversos tipos de caldas:
Cimento + bentonita/água: são caldas Nas injeções de colagem, em que o prin-
mais estáveis, porém, se for elevada a par- cipal objetivo é melhorar a vedação de
ticipação da bentonita, podem apresentar eventuais vazios no contato concreto/
baixa resistência à erosão por lavagem. rocha, podem ser usadas todas as caldas
Pelo seu maior poder de penetração dos de cimento, seja puro ou adicionado com
vazios, podem admitir maior concentra- bentonita ou pozolana.
ção da calda, com variação A/ Centre 2:1 e Nas injeções de consolidação, a calda
0,5:1. A participação da bentonita na fase deverá adequar-se às condições geológicas.
244 1 Geologia de Barragens
Para maciços muito fraturados, porém tada. Em geral, utiliza-se como critério o
em estado são, onde for constatada ele- peso máximo de sólidos absorvidos por
vada permeabilidade, devem-se utilizar metro em cada trecho injetado. Assim,
as caldas estáveis de cimento + bentonita. caso os testes tenham recomendado ini-
Nos maciços alterados, todavia, pode ser ciar a injeção com uma proporção A/ C de
necessária a injeção com silicatos, princi- 4 :1, a cada absorção de 100 kg/ m de sóli-
palmente se a alteração for acentuada ao dos, essa proporção poderá ser aumentada
longo dos planos de fraturamento . progressivamente para 3:1, 2:1, 1:1, 0,75:1
Nas cortinas de injeção são geralmente e 0,5:1. Se nessa última proporção ainda
utilizadas todas as caldas de cimento, seja ocorrer a absorção de 100 kg/ m , pode-se
puro ou adicionado com bentonita ou po- adotar uma mistura de cimento + areia +
zolana. água na proporção 1:1:1 (em peso) e pros-
O importante na mJeção, caso sejam seguir o tratamento até haver rejeição da
definidas em laboratório possibilidades calda, ou seja, o seu retorno à boca do furo .
de variação da consistência da calda, é A Fig. 8 .9 mostra os equipamentos de
estabelecer os critérios de recusa para preparação, mistura e injeção da calda em
cada concentração adotada, ou seja, o um tratamento de fundação de barragem
momento em que se deve interromper o utilizando caldas à base de cimento.
bombeamento da calda com determinada
consistência para aumentar progressi- Pressão de injeção
vamente a concentração, reduzindo a A pressão de injeção é aquela que se faz
proporção A/ C. Esses critérios devem ser necessária para permitir a penetração da
definidos conforme a extensão a ser tra- calda injetada nos vazios do maciço ro-
tada, as características de injetabilidade choso. Quanto maior for a pressão, maior
da calda e a quantidade de calda já inje- será o raio de alcance da calda a partir
Tubulação de retorno
Linha
by-
t;==============-:zP'
Tubulação de suprimento
Superfície
Misturador do terreno
Furo~
injetado a
Sucção
da calda
Agitador
teste é realizado em uma fase secundá- Salto Osório (PR): após cada etapa de
ria ou terciária, seu resultado mostrará o injeção, foram executados furos de che-
comportamento do maciço rochoso em de- cagem que atingiram os trechos de maior
corrência do tratamento já executado nos consumo específico de cimento. A con-
furos mais próximos, respectivamente tinuidade da injeção era determinada
primários e secundários. Em função sempre que os testes de perda d'água
dessa análise, poderá ser dispensada ou nesses furos era superior a 0,2 Hv.
não a injeção nos furos já abertos. O cri- Itumbiara (MG): a definição da execu-
tério para considerar eficaz o tratamento ção de furos terciários e quaternários foi
já realizado segundo esse tipo de con- função do consumo específico de cimento
trole é muito variável, pois depende da nos furos primários e secundários, sendo
permeabilidade considerada satisfatória prescindida a sua execução quando esse
em função do objetivo e da segurança da consumo não excedia a 20 kg/ m de ci-
obra. Geralmente varia entre 0,3 Hv e mento.
0,5 Hv (hvorslevs) . Estreito (MA): um furo de checagem
O consumo de cimento considera a quan- era aberto no centro de um triângulo for-
tidade de cimento (em kg) por trecho mado por três furos injetados em seus
injetado ou por metro (consumo especí- vértices. A eficiência do tratamento era
fico - kg/ m) de um furo já injetado para definida quando o teste de perda d' água
definir sobre a necessidade de injetar furos nesses furos de checagem era igual ou in-
em outra etapa. O critério para definir o ferior a 0,05 Hv até 9 m de profundidade,
consumo específico que caracteriza um e igual ou inferior a 0,56 Hv para o trecho
bom comportamento do maciço rochoso de 9 ma 18 m.
é também variável pelos mesmos moti- Ilha Solteira (SP-MS): nessas fundações
vos comentados para a absorção d'água. foram injetadas três linhas de furos. Todos
Esse consumo específico tem variado de os furos primários, distanciados 12 m
20 kg/ m a 100 kg/ m. entre si, foram injetados nas três linhas.
O ideal é utilizar os dois critérios para Todos os furos secundários da linha de
controlar a eficiência de uma injeção e de- jusante foram injetados. Os furos secun-
finir sobre a necessidade de adensar a rede dários das linhas de montante e linha
de injeção. Assim, um furo secundário central somente foram injetados quando a
prescindirá de ser injetado se o consumo 12 m de distância ocorreu em algum furo
específico de cimento nos dois furos pri- uma das seguintes situações: consumo de
mários que lhe cercam e o ensaio de perda cimento maior que 300 kg em um trecho
d'água executado nesse furo secundário injetado (trecho de 3 m); K > 5 x 10- 4 cm/s.
satisfizerem aos critérios adotados para
considerar o maciço rochoso satisfatório. Os critérios para injetabilidade de uma
Seguem alguns exemplos de barragens fundação serão mais bem discutidos no
brasileiras em que foram bastante variados item 8.3.
os critérios de controle de injeção adotados:
248 1 Geologia de Barragens
etc.);
• caracterização geológica e hidrogeo- • estudos interpretativos:
técnica das fundações; o quantitativos de serviços - nesse
100
90
Etapa primária
80
"'
"'O
.!!!
Etapa secun dária
::, 70 Etapa terciária
E
::,
u
60
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Absorção d'água específica - Hv {1/min.m.atm)
FIG. 8 .10 Variação percentual da absorção d 'água especifzca nas sucessivas etapas de injeção na bar-
ragem de Bocaina, em projeto e acompanhamento do autor
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Consumo específico de cimento - kg/m
FIG. 8.11 Variação percentual do consumo específico de cimento nas sucessivas etapas de injeção na bar-
ragem de Bocaina (PI), em projeto e acompanhamento do autor
250 1 Geologia de Barragens
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Consumo específico de cimento - kg/m
FIG . 8.12 Interação entre a absorção d 'água especifica e o consumo especifico de cimento na barragem de
Bocaina (PI), em projeto e acompanhamento do autor
8 - Tratamento de maciços naturais 1 251
Alta pressão
A injeção em solos sob elevada pressão FIG. 8.13 Tubo manchete
é conhecida como jet grouting, que con-
siste na introdução de uma haste de per- máxima que se deseja injetar (Fig. 8.14a),
furação com diâmetro entre 50 mm e 100 substitui-se a alimentação da água pela
mm, dotada de uma ponteira com bicos de injeção de uma calda de água/cimento na
jato onde a água é introduzida sob elevada proporção de 1 :1 sob alta pressão. O jato da
pressão. O avanço da perfuração é pro- calda com alta velocidade (entre 200 m /s e
piciado pela rotação da haste associada 300 m /s) desagrega o solo ao redor da per-
ao jateamento. Atingida a profundidade furação, produzindo uma argamassa pela
252 1 Geologia de Barragens
mistura dos grãos do solo com a calda. Ao são menos encontrados, uma vez que
se erguer gradativamente a composição, dependem da intemperização de rochas
faz-se subir a injeção (Fig. 8.14b) para predominantemente arenosas, como o
formar uma coluna de solo injetado com arenito. Os saprólitos siltoargilosos são
diâmetro entre 0,5 m e 2,0 m . Ao se rea- resultantes da decomposição química de
lizar outra sondagem ao lado da primeira, vários minerais, como feldspatos, micas,
constroem-se sucessivamente várias colu- anfibólios, piroxênios etc., que são encon-
nas de injeção (Fig. 8.14c). Com tal pro- trados em quase todas as rochas ígneas
cedimento, constrói-se uma cortina de e metamórficas, além de carbonatos de
injeção no solo que pode funcionar como rochas calcárias e dolomíticas. Por sua
impermeabilizante das fundações . Caso a vez, a espessura desses saprólitos argilo-
injeção tenha como objetivo consolidar o sos é dependente do clima, sendo tanto
material da fundação, várias linhas de in- mais espessos quanto maiores forem a
jeção deverão ser construídas, formando pluviosidade e a temperatura.
um grande bloco de solo consolidado, com Os saprólitos siltoargilosos caracteri-
extensão e profundidade que atendam às zam-se por apresentar um comportamento
exigências do projeto. mecânico intermediário entre a rocha sã e
o solo residual. Com isso, apresentam uma
c) Injeções em saprólitos
resistência adequada para funcionar como
O saprólito é um material de consti- fundação de barragens granulares (terra
tuição muito variada, de acordo com a ou enrocamento), mas não são recomen-
rocha que lhe deu origem. Apesar disso, dáveis como base de barragem de concreto
podem-se distinguir dois tipos predo- de gravidade. Com relação às característi-
minantes: de constituição arenosa e de cas de permeabilidade, geralmente são
constituição siltoargilosa. Os primeiros melhores que a rocha sã, uma vez que, a
Agua Água, ar
e ar e calda
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FIG. 8.14 Injeção de solo com alta pressão: (a) perfuração; (b) injeção da primeira coluna; (e) injeção da
terceira coluna
Fonte: modif,.cado deABGE (1998).
8 - Tratamento de maciços naturais 1 253
,
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drenagem
superficial
drenagem no
superficial ertical (areia)
FIG. 8 .15 Direcionamento do fluxo das águas subterrâneas em uma encosta at ravés de drenas horizontais:
(a) encosta natu ral; (b) encosta com contenção
254 1 Geologia de Barragens
ção da percolação, muitos fatores devem reduzido por meios mais econômicos
ser levados em conta, entre os quais serão que uma cortina de injeções";
analisados os seguintes: • "provavelmente a grande maio-
• Necessidade de tratamento ria das cortinas de injeção de linha
• Objetivos do tratamento única nas fundações rochosas e om-
• Custo x Eficiência breiras de barragens, construídas
• Aspectos técnicos no passado, foram relativamente
• Aspectos regionais ineficientes na redução das perdas
• Alternativas de tratamento de infiltração e não puderam ser de
muita confiança para os propósitos
Necessidade de tratamento das análises de estabilidade".
A polêmica sobre a necessidade de tra-
tamento das fundações de barragens para Sabarly (1968) apresentou um ex-
efeito de impermeabilização é bastante celente trabalho, no qual comparou as
antiga. Os primeiros tratamentos desse condições de aplicabilidade das técnicas
tipo foram realizados em 1900, e já em de impermeabilização e de drenagem, e
1932 o processo era contestado por Terza- apesar de revelar-se um adepto inconteste
ghi (apud Casagrande, 1961). Em uma das deste último método, mostrou muita sen-
aulas ministradas, esse professor assina- sibilidade para o problema ao comentar:
lou: "em muitos casos os proprietários são "a arte do projetista consiste em ter um
avarentos e perdulários pelo desperdício profundo conhecimento dos fenômenos
de muito dinheiro em injeções e pouco físicos em jogo e de saber adaptar a cada
ou nenhum nos meios de observação, os caso particular, e que é sempre complexo,
quais poderiam claramente esclarecer se os princípios gerais, sem subestimar uns
a cortina de injeções é eficiente ou não". em relação aos outros".
Casagrande também teceu severas críti- No 10° Congresso do ICOLD, Laa e
cas ao uso indiscriminado do tratamento Franco (1970) analisaram o comporta-
de impermeabilização de barragens. Ao mento de algumas barragens espanholas e
analisar casos em que engenheiros-chefes concluíram com a sugestão de que sempre se
adotaram tais técnicas em situações que deve examinar a possibilidade de subst ituir
eles mesmos reconheciam como inade- a cortina de injeções por trechos injetados
quadas, escreveu: "parece que temem isoladamente, onde a fundação revelar pro-
atacar algo que é tido como um dogma blemas mais críticos de percolação.
religioso pela maioria na profissão". São Como se observa, os resultados são
ainda de Casagrande as seguintes frases: muito contraditórios, acirrando a polê-
• "são necessários vários métodos mica que existe sobre o assunto e exigind
mais seguros para predeterminar se estudos e pesquisas a fim de evitar a.
e onde as injeções são necessárias"; continuidade na utilização de fórmula5
• "em alguns projetos, o valor de per- preconcebidas, baseadas em suposiçô~
colação poderia ser eficientemente empíricas . Infelizmente as discussô~
8 - Tratamento de maciços naturais 1 257
sobre o assunto têm evoluído muito pouco, • perdas d'água que podem compro-
e ainda hoje se nota uma completa falta meter o uso da água armazenada.
de critérios na maioria dos técnicos que
lidam com o problema. Em alguns casos, Numa análise mais acurada, pode-se
recomendam-se vultosos tratamentos de constatar que apenas o segundo problema,
impermeabilização quando esse método dos quatro anteriormente referidos, pode
não seria o mais indicado; em outros, justificar, na maioria das vezes, a exe-
omite-se esse tratamento quando seria a cução de uma cortina de injeções como
melhor solução para o problema. solução única e completa.
Com efeito, para o caso de subpressões,
Objetivos do tratamento podem-se citar os seguintes princípios
O tratamento de impermeabilização de (para escoamento em regime perma-
uma fundação de barragem tem como ob- nente):
jetivo central reduzir a permeabilidade do • em terreno homogêneo, a distribui-
material que embasará uma obra de bar- ção de subpressões independe do
ramento a níveis que tornem inócuo para coeficiente de permeabilidade do
a obra o efeito da percolação excessiva da terreno;
água nesse material. Assim, o maior erro • em terreno heterogêneo, apenas as
que geralmente se comete é desejar que relações de permeabilidade influen-
uma cortina de injeções seja absolutamente ciam na distribuição de subpressões.
estanque. Primeiro porque essa estanquei-
dade absoluta nunca é necessária e, segundo, Disso resulta que uma rede de dre-
porque as deficiências do próprio método nagem terá exatamente o mesmo efeito
construtivo impedem que isso aconteça. nas subpressões, independentemente da
Todavia, a maior discussão relacionada com permeabilidade do terreno, que influirá
o objetivo desse tipo de tratamento diz res- apenas na vazão da água percolada.
peito à própria necessidade de redução da Quanto ao risco de instabilidade das
percolação, em função de suas eventuais ombreiras a jusante da obra, a eficiência da
consequências para a obra. cortina de injeções também é discutível,
A percolação excessiva pelas fundações e isso porque, dependendo da geome-
de uma barragem pode acarretar os se- tria e abertura das descontinuidades no
guintes problemas: maciço rochoso, bem como da declividade
• subpressões elevadas, com maiores dessas ombreiras, a injeção poderá piorar
problemas para barragens de con- a situação de sua instabilidade, elevando
creto; o nível d 'água subterrânea com a cria-
• erosão do material de fundação ou ção de nefastas poropressões ao longo
da própria barragem, no caso de dessas descontinuidades.
obras de terra; Por fim , o problema com perdas d' água
• risco de instabilidade das ombreiras que podem comprometer o uso da água arma-
a jusante da obra; zenada é possível de ocorrer em algumas
258 1 Geologia de Barragens
regiões onde o volume de água que aflui ao percolação atingisse apenas 30%.
reservatório constitui um problema, em Muitas vezes a eficiência esperada da
função das condições climáticas. Contudo, cortina para um objetivo específico não é
deve-se observar que, em geral, vazões de atingida porque a expectativa de solução
percolação que cheguem a comprometer o do problema por esse tipo de tratamento
uso da água armazenada devem influir na é incorreta. Um exemplo desses é citado
segurança da própria obra, exigindo me- por Casagrande (1961) para a barragem
didas corretivas muito antes de reduzir de Hiwassee (EUA). Nessa barragem
substancialmente o volume armazenado. de concreto gravidade, a execução da
Conclui-se, assim, que apenas há con- cortina de injeções foi concebida para re-
senso nos objetivos da cortina de injeções duzir as subpressões em sua base, tend
quando se trata de reduzir a vazão da água sido constituída por uma única linha de
percolada, em função dos problemas de furos espaçados de 1,5 m . Ao se observar
erosão que podem, ao limite, acarretar a a variação de subpressões medidas ap ós
destruição da própria obra. enchimento do reservatório, constatou-se
que a cortina de injeções foi absoluta-
Custo x Eficiência mente ineficiente para os propósitos co,....
Um ponto que sempre gera polêmica que foi construída, representando pura
quando se discute a necessidade de trata- perda de dinheiro. Exemplos semelhantes
mento das fundações de uma barragem é a são citados por Vargas (1971) com relaçã
sua eficiência em relação ao elevado custo a três barragens construídas no rio Pardo
que representa para a obra. Embora esse
custo dificilmente ultrapasse 1% do valor Aspectos técnicos
da obra, pode alcançar valores absolutos Entre as várias causas responsáveis
bastante elevados, constituindo-se no pela ineficiência de algumas cortinas cie
maior prejuízo da obra se não for obtida injeção, podem ser citadas: a) qualidad
a eficiência esperada para esse tipo de tra- dos dados analisados para definição sobre
tamento. a necessidade de injeções; b) inadequaçã
Estudos têm sido realizados para ana- da posição dos furos de injeção em relaçã
lisar a eficiência da cortina de injeção. às condições geológicas locais; c) falha n -
Casagrande (1961) chegou a determinar dimensionamento das press?es de injeçã
em laboratório que, para cortina de in- ou consistência da calda; d) colmataçã_
jeções de uma linha única, a eficiência das fissuras por detritos da perfuração _
máxima obtida era de 29%, número bas- por grãos do próprio cimento; e) falta · _
tante coerente com as observações por controle ou avaliação da eficiência do t:rc-
ele realizadas na análise de dados piezo- tamento executado.
métricos de inúmeras barragens tratadas Quando se sabe que, em geral, o ún -
desse modo. Sua conclusão é que dificil- critério levado em conta para definir a n--
mente seria justificado o alto custo de cessidade de impermeabilização de
uma cortina cuja eficiência no controle da fundação de barragem é a permeabilida ~
8 - Tratamento de maciços naturais 1 259
do maciço rochoso, cresce muito a res- antes de ser injetado, porém, quando isso
ponsabilidade sobre a qualidade dos dados ocorre, não há meios de ser detectada a
considerados na caracterização desse sua influência no resultado do ensaio.
parâmetro. Apesar dessa responsabili- Mesmo quando se toma o máximo
dade, tem crescido muito a defasagem cuidado na execução do ensaio de perda
entre o nível dos dados coligidos e dos d' água, visando minimizar os efeitos do
métodos de processamento para a inter- falseamento de resultados anteriormente
pretação dos fenômenos de percolação mencionados, algumas inconveniências
baseados nesses dados, reduzindo sensi- são intrínsecas ao próprio método de
velmente a confiabilidade dos resultados ensaio. Um desses problemas é a deter-
obtidos desses estudos. minação das permeabilidades elevadas.
A maior incerteza nos resultados dos A limitação da vazão de injeção de água
ensaios de perda d' água, principalmente no ensaio e o crescimento exponencial da
se o ensaio não for muito bem executado, perda de carga na tubulação impingem
advém do fato de que os erros podem re- grandes dificuldades para determinar
sultar numa permeabilidade muito maior valores de permeabilidade superiores a
ou muito menor que a real. Entre os fato- 5 x 10- 3 cm/s.
res que podem falsear os resultados para Outro grande problema é que esse
mais, destacam-se três: abertura das fis- ensaio não esclarece sobre as condições
suras pela pressão de ensaio, fugas d'água de percolação nas fraturas existentes no
pela canalização ou pelos obturadores e trecho ensaiado. Por exemplo, a absorção
fugas d'água pelas fraturas para dentro de 100 L/min sob uma pressão de 10 atm
do furo. Destes, o mais importante é a num trecho de 5 m pode ser provocada por
abertura das fraturas, pois a vazão absor- uma única fratura de 0,25 mm de aber-
vida por uma descontinuidade aberta no tura, ou por 10 fraturas de 0,12 mm de
maciço rochoso é proporcional ao cubo abertura, ou ainda, por 100 fraturas de
da espessura dessa descontinuidade, con- 0,06 mm de abertura. Uma vez que as condi-
forme já referido em 7.l.2a. Os fatores que ções de injetabilidade dependem da abertura
podem falsear os resultados para menos do vazio a ser preenchido, nem sempre o
são, principalmente, a perda de carga na critério de elevada absorção de água nesses
tubulação e a colmatação de fraturas. A ensaios condiciona a eficiência na absorção
perda de carga guarda uma proporcio- da calda de cimento. É bem verdade que o
nalidade direta com o comprimento da efeito desse problema pode ser minimizado
tubulação e inversa com o seu diâmetro, com a redução do trecho ensaiado, mas é
e pode influir significantemente na redu- bom reconhecer que nem sempre tal prá-
ção do valor da permeabilidade medida tica é obedecida, principalmente quando o
se não forem feitas as devidas correções. ensaio não é acompanhado pari passu por
A colmatação das fissuras pelos próprios de- um projetista experiente.
tritos produzidos pela perfuração é menos Admitindo-se uma boa confiabilidade
comum, desde que o furo seja bem lavado para os dados obtidos com o ensaio de
260 1 Geologia de Barragens
a cortina injetada considerada eficiente. rerá com a obra enquanto essa eficiência
Por outro lado, poucas são as barragens não for atingida.
que possuem uma rede de piezômetros
que possibilite analisar o efeito da cortina Aspectos regionais
de injeções, mesmo que o resultado seja Na análise sobre a necessidade de tra-
uma total decepção, como ocorreu nos tamento de uma fundação a fim de reduzir
casos citados por Casagrande (1961). a percolação d'água nessa região, deve-se
Assim, o controle da eficiência de um considerar não apenas o efeito pernicioso
t ratamento de impermeabilização deve dessa percolação, mas também os even-
estar alicerçado no conjunto de provi- tuais benefícios que ela possa propiciar.
dências tomadas para evitar os casos Evidentemente, só faz sentido pensar em
duvidosos já descritos e comentados em benefícios a partir do momento em que tal
outras seções do presente livro. É bom percolação não possa impingir qualquer
frisar que o controle da eficiência para tipo de prejuízo à obra.
o tratamento de impermeabilização tem Entre os aspetos a ser levados em
sido motivo de preocupação no mundo conta no contexto global da percolação
inteiro. pela fundação da barragem, visando a
Ao analisar os casos em que foi con- um eventual aproveitamento dessa per-
siderada boa a eficiência das cortinas colação ou simplesmente à economia nos
de injeção executadas como o único gastos com uma cortina desnecessária,
tratamento para reduzir a percolação, podem ser comentados os seguintes: situ-
Casagrande (1961) assinalou: "para cada ação climática, carência de água a jusante
caso desse tipo considerado na literatura da obra e pobreza regional.
como um sucesso, poderíamos citar diver- Em regiões de clima semiárido, como
sos exemplos em que as injeções falharam é o caso de parte do nordeste brasileiro,
da complementação dos seus objetivos e as chuvas são muito concentradas, sendo
que, por tal razão, não chegaram a ser pu- muito comum ocorrerem anos com índice
blicados". pluviométrico muito abaixo do normal.
Por fim , deve-se lembrar que a efici- Tal fato, aliado à excessiva evaporação
ência de uma cortina pode não alcançar em quase todos os meses do ano, pro-
de imediato os níveis desejáveis, mas voca depleções exageradas em todos os
criar condições para atingi-los com o de- reservatórios, chegando muitos deles a
correr do tempo. Isso ocorre quando a secar completamente. Ocorrem ainda
redução do fluxo subterrâneo, embora casos em que a lixiviação dos produtos de
insuficiente para as necessidades de segu- intemperização das rochas provoca a sa-
rança da obra, possibilita a sedimentação linização das águas que vão alimentar o
do material fino transportado pela água, reservatório, fazendo o teor de salinização
colmatando progressivamente as fissuras do reservatório tornar-se mais concen-
e conduzindo a redução do fluxo a níveis trado a cada ano, pr incipalmente em suas
desejáveis. O problema é saber o que ocor- águas de fundo , que nunca são renova-
262 1 Geologia de Barragens
Elevadas
Suprimento de jusante
Instabilidade Aspectos
de ombreiras Elevadas vazões
considerados
1 Perdas
1
L ____ --+-, comprometedoras
1
1
FIG. 8.17 Quadro orientativo para definição da necessidade de tratar por impermeabilização ou drenagem
as fundações de uma barragem
Redlich-Kampe-
1929 0,05 L/min/m/19 atm 0,5 5,0 X 10-5
-Terzaghi
Barragem c/H > 30 m 1,0 L/min/m/1 O atm 0,1 1,0x10-5
Lugeon 1933
Barragem c/H < 30 m 3,0 L/min/m/10 atm 0,3 3,0 X 10-5
Jaehder 1953 0,1 L/min/m/3 atm 0,033 3,3 X 10-6
Maciços permeáveis > 1,0 L/min/m/atm > 1,0 > 1,0 X 10-4
Adamovitch- 1,0 X 10-4 a
1953 Maciços pouco permeáveis 1,0 a 0,2 L/min/m/atm 1,0 a 2,0
-Koltunov 2,0x10-5
Maciços pratic. impermeáveis < 0,2 L/min/m/atm < 0,2 < 2,0 X 1Q-5
4,0 X 10-5 a
Geotécnica 1956 0,4 a 0,1 L/min/m/atm 0,4 a 0,1
1,0x10-5
Portugal 1957 0,2 L/min/m/atm 0,2 2,0 X 10-5
Barragem com B < 0,2 H:
0,3 L/min/m/atm 0,3 3,0 X 10-5
H <30 m
30 < H < 100 m 0,2 L/min/m/atm 0,2 2,0 X 10-5
Vitor de Melo 1969 H > 100 m 0,1 L/m in /m/atm 0,1 1,0 X 10-5
Barragem com B > 0,2 H:
Proporcionalmente ao aumento < 1,0 L/min/m/atm < 1,0 < 1,0 X 10-4
de B
266 1 Geologia de Barragens
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FIG. 8.18 Ábaco proposto pelo autor para def,.nir a necessidade de injetabilidade de uma funda ção em funç ão da s condicionantes geológicas
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9 Materiais naturais de construção
utilização, razão pela qual deve-se inicial- gem: como enrocamento, como elemento
mente concentrar todos os esforços para filtrante e como agregado graúdo no con-
não ultrapassar o raio de 2 km da obra creto.
na localização dessas áreas. Dentro desse Como enrocamento em barragens
raio, a pesquisa desses materiais deve mistas ou de enrocamento, a rocha é pro-
observar atentamente as seguintes condi- veniente de pedreiras e, dependendo do
cionantes: plano de fogo, pode dispensar qualquer
• distância da obra; tratamento ou beneficiamento secundá-
• geologia local; rio. Os fragmentos rochosos utilizados
• topografia; no enrocamento ou no rip-rap de barra-
• condições de explorabilidade; gens incluem os blocos (maior dimensão
• condições de acesso; entre 6,4 cm e 25,6 cm) e matacões (maior
• características do material; dimensão superior a 25,6 cm). São ge-
• volumes disponíveis; ralmente angulosos e em bom estado de
• custos de desapropriação; sanidade.
• aspectos ambientais. Como elemento filtrante, a rocha é
utilizada nas faixas de transição entre
Somente após verificada a impossi- os materiais finos (argila, silte e areia) e
bilidade de atender às necessidades da o enrocamento. Nesse caso, utilizam-se
obra com empréstimos situados nesse a rocha britada e os cascalhos naturais,
raio de influência, deve-se partir para sendo aquela predominantemente an-
pesquisar áreas mais distantes, usando gulosa e estes, arredondados. Diferem
os mesmos critérios de pesquisa para res- também na forma de jazimento, pois
tringir a localização dessas áreas ao raio enquanto a rocha britada resulta da comi-
de 5 km. Finalmente, na impossibilidade nuição da rocha escavada em pedreiras, os
do atendimento des sa última condição, cascalhos são encontrados em jazidas de
extrapola-se a pesquisa com base em uma origem fluvial ou marinha, podendo ou
fotointerpretação geológica a áreas mais não sofrer cominuição de acordo com a
distantes. Nos itens que se seguirão, para dimensão dos seixos encontrados na cas-
cada tipo de material analisado serão calheira e as necessidades do projeto.
abordadas todas as condicionantes de Como agregado graúdo empregado no
estudo anteriormente relacionadas. concreto, são também utilizados os casca-
lhos e a rocha britada.
ciamente do material pétreo varia muito possível e, nesse caso, deve-se cotejar as
para os casos de pedreira e de cascalheira. localizações passíveis de definir e optar
Aqui não serão analisadas as metodolo- por aquela que produz um menor impacto
gias aplicadas para a obtenção do material ambiental, o que será motivo de maior
pétreo produzido nas próprias escava- discussão no Cap. 11.
ções realizadas na obra, principalmente As condições de explorabilidade devem
ao longo de canais e obras subterrâneas, considerar como mais importantes os se-
pois apenas a cominuição da rocha nessas guintes aspectos: decapeamento do estéril
escavações é semelhante ao que será des- e acesso. O primeiro refere-se à remoção
crito para as pedreiras. As escavações são de todo o regolito que recobre a rocha sã,
realizadas segundo critérios específicos incluindo o solo e o saprólito. Como o
para tais obras . custo dessa remoção pode inviabilizar a
explotação num cotejo entre diferentes
a) Pedreira
alternativas, é imprescindível nessa fase
Pesquisa quantificar o volume desse decapeamento,
A pesquisa de uma pedreira, indepen- como descrito nos itens 6.2 e 6.3. O acesso
dentemente do fim a que se destinará o também é de grande importância na ava-
material pesquisado, deve, em princípio, liação da explorabilidade de uma pedreira,
satisfazer às condicionantes relacionadas pois a travessia de rios, córregos e áreas
em 9.1. Nessa fase, porém, as principais pantanosas pode representar um custo que
preocupações do projetista devem ser: inviabilize a utilização de uma pedreira.
localização, condições de explorabili- Nessa fase, uma boa investigação iniciada
dade, volume disponível e características com fotointerpretação e concluída com
do material. geologia de campo poderá caracterizar a
A localização deve levar em conta dois viabilidade dos acessos escolhidos.
aspectos fundamentais: custo de trans- O volume disponível é importante mas
porte e meio ambiente. Como já citado não restritivo, e isso porque, se o volume
anteriormente, a grande influência do de uma determinada pedreira não for
transporte no custo da utilização desses suficiente para as necessidades da obra,
materiais exige a maior aproximação pode-se complementá-lo com outra(s) pe-
possível da pedreira em relação à obra a dreira(s). É, todavia, importante definir
construir. Por outro lado, a redução do qual o volume a explotar, no caso mais
impacto ambiental provocado pela explo- comum em que a pedreira possui uma di-
ração dessas pedreiras recomenda como mensão muito superior às necessidades da
preferencial a sua localização a montante obra. Nesses casos, deve-se pesquisar para
da barragem, em cota inferior ao nível explotação um volume correspondente
máximo do reservatório, pois a escavação a 1,5 do volume previsto para utilização
realizada seria totalmente encoberta após na obra, considerando as perdas no be-
conclusão da obra e enchimento do reser- neficiamento e as eventuais deficiências
vatório. Obviamente, nem sempre isso é geológicas da pedreira.
272 1 Geologia de Barragens
Retardo de 20 MS
I
A' Retardo
de 30 MS
\uro inicial
\Retardo de 20 MS E
A
T Tampão
Banana
Coluna
Banana
Granulado
Carregamento do furo
ao transversal
55
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- +- 1 1
b.O n- cr, = 420 kgf/cm'
e □ - cr, = 6 50 kgf/cm 2
,<(
35 1
0 ,3 0,5 1,0 2,0 3,0 6, 0 10,0
Efeito do tamanho das partículas e da pressão de confinamento sobre o ângulo de atrito interno
FIG . 9 . 2
em blocos de enrocamen to
Fonte: modificado de Marachi et ai. (apud USBR , 1973).
278 1 Geologia de Barragens
80
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o 0 ,005 0,01 0,05 0,1 0 ,5 1,0 5 10
Tamanho das partículas - polegadas
FIG. 9 .3 Dimensionamento da curva granulom ét rica da zo na filt rante (agregado graúdo ou cascalho) em
uma barrage m de enrocamento
rocha. Se restar alguma dúvida, pode-se entre a massa das partículas sólida (M) e
ainda recorrer a ensaios como o raio X e o volume aparente da rocha (Va), ou seja:
às análises térmica diferencial e química.
Com relação às estruturas, devem-se M 3
Pa =-(g / cm )
observar as orientações mineralógicas que Va
conferem à rocha formas tabulares, sejam
consequentes da estratificação ou da xis- A porosidade exprime a relação entre o
tosidade. Tais estruturas constituem volume de vazios (Vv) e o volume aparente
planos de fraqueza no agregado graúdo, da rocha (Va), expressa em porcentagem,
além de influenciar sua forma, como será ou seja:
discutido mais adiante.
Granulometria
No item 9.2.2a foi mencionado que A absorção (aA) representa a capaci-
o agregado graúdo utilizado no concreto dade da rocha em absorver e reter água
possui granulometria variável desde nos seus poros, e é obtida pela diferença
9,5 mm até 25,0 mm. Dentro dessa entre o peso da rocha saturada (M2) e o
variação granulométrica, há a possibili- peso da rocha seca (M1), relacionada ao
dade de utilizar um agregado uniforme, peso da rocha seca (M1), sendo expressa
com estreita variação granulométrica, em percentagem, como segue:
ou um agregado heterogêneo, com larga
variação granulométrica. Essa última al-
ternativa deve ser a escolhida, pois uma
granulometria variada reduz o índice de Os ensaios para definição dessas pro-
vazios, aumentando a compacidade do priedades foram descritos no item 7.2.2.
concreto e sua consequente resistência, É importante ressaltar que a densidade
além de representar uma economia de ci- influi diretamente na resistência da rocha,
mento. A análise granulométrica descrita razão pela qual as rochas mais densas são
no item 7.2.la permite definir a melhor mais recomendáveis como agregado para
gradação para esses agregados . concreto. Nesse aspecto, as rochas ígneas
mais alcalinas (2,9 < Pa < 3,5 g/cm 3) pro-
Massa específica, porosidade e absorção piciam melhores agregados que as ácidas
A relação entre a massa dos minerais e (2,6 < Pa < 2,8 g/cm 3). Por outro lado,
o volume que ocupam em uma rocha defi- deve-se observar que as primeiras pos-
nirá a massa específica real, ou absoluta, suem minerais com maior potencialidade
conceito de pouca aplicabilidade prática, de alteração e, quando isso ocorre, reduz a
pois considera que a rocha não possui densidade da rocha e, consequentemente
vazios. Assim, emprega-se na prática o sua resistência.
conceito de massa específica aparente Como a porosidade é inversamente pro-
(pa), ou densidade, que exprime a relação porcional à densidade, rochas com elevada
9 - Materiais naturais de construção 1 283
o
elevadas absorções d'água e perda de re-
sistência do agregado. Obviamente essa
situação mudará sensivelmente se o calcá-
rio encontrar-se metamorfizado.
(â
Lamelar Cúbica
~ 0,5
~ ~
Forma
Quando a rocha é fragmentada para
formar o agregado graúdo, seus fragmen-
tos podem assumir formas e dimensões
variadas, em função da textura dos mi- Alongada-lamelar Alongada
o
nerais e da estrutura da rocha. A maneira o 0,5 1,0
C/8
mais simples de classificar os fragmentos
com relação à forma é avaliar as dimen- FIG. 9.5 Esquema gráfico das formas dos agregados
sões médias do seu comprimento, altura e Fonte: modificado de Frazão (2002).
largura (Fig. 9.4).
As relações B/ A e C/ B permitem clas- As rochas maciças, como as ígneas,
sificar a forma dos agregados por meio tendem a apresentar fragmentos com
forma próxima à cúbica, e as rochas es-
tratificadas ou bandadas, como alguns
gnaisses, xistos, quartzitos, ardósias e
alguns arenitos, tendem a formar agrega-
dos lamelares ou alongados. O tamanho
do agregado também influi em sua forma;
assim, mesmo as rochas maciças tendem a
apresentar formas lamelares e alongadas
com a diminuição do fragmento produ-
FrG. 9.4 Dimensões de um fragmento de agregado zido.
graúdo
284 1 Geologia de Barragens
Pode-se ainda utilizar para essa clas- da resistência dos fragmentos rochosos,
sificação o índice de forma, que expressa ou agregados graúdos, que o constituem.
a relação comprimento/espessura do Como a rocha atua em fragmentos, será
fragmento. Se esse índice for próximo inócuo realizar o ensaio de compressão
de 1,0, considera-se o fragmento como na própria rocha, pois os resultados não
cúbico; caso contrário, o fragmento tende refletiriam o comportamento dos frag-
a ser achatado. mentos que seriam utilizados no concreto.
Para uso como agregado no concreto, a Assim, considerou-se mais representativo,
forma cúbica é a recomendada, pois dará em termos de resistência desses agrega-
uma maior uniformidade à resistência do dos, definir a porcentagem de material
concreto. Formas lamelares ou alongadas desagregado quando um certo volume de
podem formar planos de fraqueza, redu- agregado fosse solicitado por um esforço
zindo assim a resistência do concreto. compressivo. Daí a padronização do ensaio
de esmagamento, descrito no item 7.2.2d,
Propriedades mecânicas
para definir essa resistência. Para uso como
Abrasão agregado graúdo no concreto, recomenda-
A abrasividade é a propriedade que -se que a rocha possua uma porcentagem
uma rocha possui de resistir à remoção de esmagamento inferio_r a 30%.
progressiva de constituintes de sua su-
Propriedades químicas
perfície quando em contato com outros
materiais . No concreto, o agregado graúdo Reatividade
geralmente fica bem protegido contra a Reatividade química é a propriedade
abrasão ou o desgaste que esses contatos apresentada por alguns minerais de reagir
podem favorecer; porém, o contato contí- com certas substâncias do meio que os
nuo, por exemplo, causado pela passagem envolve. A maior parte das reações que
de materiais de natureza variada, carre- ocorrem entre esses minerais, quando
ados pelas águas que vertem sobre uma presentes no agregado, e o cimento
estrutura de concreto (vertedouro), pode são deletérias, podendo causar inúme-
expor esses agregados e promover even- ros prejuízos ao concreto. Como essas
tuais riscos de abrasão e desgaste. Assim, reações sempre envolvem substâncias alca-
recomenda-se a realização de ensaios "Los linas do cimento, são denominadas reações
Angeles" na rocha que fornecerá agregados álcali-agregados (RAA), e os tipos mais
para uma barragem, conforme descrito no frequentes são: reação álcali-sílica, reaçã
item 7.2.2j, devendo ser evitados os agre- álcali-silicato e reação álcali-carbonato.
gados que propiciem perdas superiores a A reação álcali-sílica ocorre quana
50% nesses ensaios. um agregado que contém minerais de-
letér ios à base de sílica livre entra e
Esmagamento contato com cimento com teor de álc.,__-
A resistência à compressão de um con- lis superior a 0,6% de Na 2 0 . Essa reaÇ
creto não armado dependerá basicamente forma silicatos alcalinos com grane:::
9 - Materiais naturais de construção 1 285
volume molecular, o que pode provocar barragem principal. Esse tipo de deterio-
expansões significativas no interior do ração tem sido vulgarmente denominado
concreto, com possibilidade de causar sua "osteoporose do concreto", por analogia à
ruptura ou deformar estruturas metáli- patologia que acomete os ossos humanos.
cas que estejam em seu contato. A sílica A reação álcali-silicato é causada
nem sempre se apresenta potencialmente por minerais silicáticos encontrados em
ativa, o que depende do grau de cristali- rochas metamórficas, como gnaisses, gra-
zação em que se formou . Assim, enquanto nulitos e quartzitos, e em rochas ígneas,
o quartzo, formado a menores profun- como o granito. São reações mais lentas e
didades, não é reativo, outras formas mais complexas que as álcali-sílicas, e são
cristalizadas a altas temperaturas, como responsáveis pela deterioração do con-
a tridimita e a cristobalita, são geralmente creto, porém sem provocar expansões que
reativas . Outras formas de sílica que não possam causar sua ruptura. As formas de
apresentam nenhum grau de cristalização detecção e prevenção são as mesmas cita-
identificável, como a opala e a calcedônia, das para a reação álcali-sílica.
são também passíveis de apresentar essas A reação álcali-carbonato somente
reações expansivas. Para evitar tais re- ocorre quando os álcalis do cimento
ações, deve-se usar uma das seguintes entram em contato com agregados de cal-
alternativas: cário contendo dolomita, por menor que
• evitar rochas que contenham mine- seja a participação desse mineral. Essas
rais reativos; reações são muito expansivas, razão pela
• utilizar cimento com menos de 0,6% qual representam grande risco para o
de álcalis; concreto. As maiores expansões ocorrem
• utilizar pozolanas, que são materiais quando a calcita e a dolomita se encontram
inibidores da reação. na mesma proporção. Nesse caso, não
adianta usar a pozolana, mas apenas re-
Os ensaios de reatividade química duzir o teor de álcalis do cimento. O uso
potencial descritos no item 7.2.21 são im- do calcário como agregado deve, portanto,
portantes para caracterizar a presença ser precedido de uma análise química para
desses minerais reativos, pois já são co- determinar a presença da dolomita.
nhecidos inúmeros casos de deterioração
do concreto em barragens brasileiras, Sais solúveis
como na hidrelétrica de Moxotó, no rio Alguns minerais presentes nos agre-
São Francisco, onde a expansão do con- gados podem liberar sais quando em
creto ovalizou uma seção circular do presença de água, os quais podem promo-
túnel de acesso às turbinas , danificando ver mudanças na pega e no endurecimento
as hélices desse mecanismo. Também a do cimento, além de provocar a deteriora-
barragem de Tapacurá, para controle de ção do concreto. Essa deterioração pode
enchentes em Pernambuco, acusou dete- ocorrer por meio de reações indesejáveis
rioração do concreto em vários blocos da com o cimento e por ataque às ferragens
286 1 Geologia de Barragens
1
Indicações gerais
Material Topografia
Localização 1
Escala: 1:500
Distância do eixo
Proprietário
Endereço
~ Benfeitorias
-~ Tipo de vegetação
-o o
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no eixo barrável
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Diâmetro dos grãos - mm
Areia Pedregulho Pedregulho
Argila + silte Areia fina Areia média
grossa fino grosso
sues
até que o volume pesquisado total corres- Assim, a pesquisa é iniciada pela investi-
ponda a 1,5 vez o volume previsto para a gação geológica de áreas sedimentares,
obra. A pesquisa é feita com a utilização preferencialmente naquelas em que já
de varejão, como descrito em 6.3.1, seja ao é conhecida a presença de arenitos. Por
longo das areias marginais ou por meio de meio de uma malha de furos a trado,
barco, para as areias submersas. complementada com poços de inspeção,
A explotação é feita de forma diferente pode-se detectar a espessura da zona de
para esses dois tipos de depósitos. Nas alteração, bem como a eventual presença
areias aflorantes, a escavação é feita de de solos alóctones de cobertura, geral-
forma manual ou mecanizada, desde que mente coluvionares. Esse tipo de pesquisa
o nível freático possibilite escavações com permite não apenas cubar o volume da
tais equipamentos. Pode-se, ainda, proce- jazida pesquisada, como também coletar
der ao rebaixamento desse nível por meio amostras para análises laboratoriais.
de poços tubulares, se a potencialidade A explotação desse tipo de jazida
da jazida justificar esse oneroso método depende da topografia envolvida. Se a
exploratório. Para as jazidas submersas, ocorrência encontrar-se a meia encosta,
a sua extração será feita por meio de será aberta uma frente de escavação que
bombas de sucção apropriadas para suc- avançará no sentido da inclinação do ter-
cionar uma mistura de areia com água. reno, produzindo uma superfície escavada
Com relação ao benefzciamento, o (Fig. 9.8). Caso a topografia local tenda
único tratamento aplicado aos materiais para uma superfície aplainada, a escava-
arenosos aluviais é a eventual seleção ção será feita em cava (Fig. 9.9).
granulométrica, no caso de a areia estar Nessas explotações, deve-se assegurar
impregnada de finos (silte e argila), o que a total estabilidade dos taludes de esca-
raramente acontece, já que a sua própria vação, levando-se em conta as diferenças
sedimentação é um processo seletivo na- na resistência dos seguintes materiais:
tural, quando a velocidade de escoamento colúvio arenoargiloso, areia, saprólito e
das águas é insuficiente para continuar arenito são.
transportando seus grãos, mas suficiente Alguns arenitos foram sedimentados
para continuar transportando o material em ambientes de grande variação de
mais fino. competência do agente transportador,
propiciando a intercalação de pelitos
b) Solo de alteração de arenito
nessa rocha, representados por lentes de
Inúmeras regiões brasileiras possuem siltitos e de argilitos, como ocorre com o
extensas áreas sedimentares que incluem Grupo Mata da Corda, no Estado de Minas
a ocorrência de arenitos. Quando essas Gerais. Nesses casos, é necessário um pro-
rochas se alteram, sofrem desagregação cesso de benefzciamento que consiste na
de seus grãos, formando depósitos autóc- seleção granulométrica do material esca-
tones de areia que podem funcionar como vado para separar as frações grosseiras
excelentes jazidas desse tipo de material. das finas.
9 - Materiais naturais de construção 1 291
FIG. 9.9 Explotação em cava de areia resultante da alteração de arenito (projeto do autor)
situar-se rigorosamente entre o material variação possível dentro dos limites reco-
mais fino, geralmente arenoargiloso, e o mendados, de forma a enquadrar a areia
material mais grosseiro (brita ou agre- no tipo SW da classificação unificada
gado graúdo), como mostrado na Fig. 9.3. (SUCS). Para tanto, o coefzciente de unifor-
Para utilização no concreto, o ma- midade (CU), que expressa a relação entre
terial arenoso deve satisfazer três as granulometrias passantes a 60%, de-
condições: limites de granulometria, gra- nominada D 60 , e a 10%, denominada D10 ,
dação e diâmetro dos grãos. Os limites de conforme indicado na Fig. 9.10, deve ser
granulometria definem as frações que são superior a 6.
indesejáveis para uso no concreto, sejam O diâmetro dos grãos é definido pelo
muito grosseiras ou muito finas. Embora módulo de fznura (MF). Esse módulo é
a ABNT não estabeleça esses limites, obtido pela soma dos percentuais reti-
é comum usar a delimitação recomen- dos nas peneiras com aberturas 19 mm,
dada pela ASTM (Fig. 9.10). A gradação 9,5 mm, 4,8 mm, 2,4 mm, 1,2 mm,
refere-se à variação granulométrica mais 0,6 mm, 0,3 mm e 0,15 mm, dividida por
satisfatória, que é a que inclui a maior 100, e permite classificar as areias em
Peneiras
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FIG . 9 . 10 Limites da curva granulométrica para areia a ser usada no concreto, recomendados pela ASTM
9 - Materiais naturais de construção 1 293
grossa (MF > 3,9), média (3,9 > MF > 2,4) cimento sobre esses grãos. Se as argilas
e fi na (MF < 2,4). A areia mais recomen- forem expansivas, podem reduzir a resis-
dada para concreto é a de granulação tência à compressão uniaxial do concreto
média, tendo a ASTM recomendado como em até 30%. Quando o material pulveru-
ideal para concreto estrutural a areia que lento é o silte, embora em geral prejudique
tem um MF em torno de 2,75 . No Brasil, o concreto, pode apresentar uma função
não há recomendação específica para esse benéfica ao corrigir a granulometria da
módulo, porém, evita-se utilizar areias areia no concreto. Se o material pulve-
com MF < 2,4 por exigirem maior volume rulento for originado do calcário, terá
de cimento. sempre uma função benéfica no concreto,
pois aumenta a tensão da ruptura na com-
b) Impurezas orgânicas
pressão em até 10%, desde que o pó não
A matéria orgânica presente nos represente mais que 7% em relação ao
materiais arenosos é constituída princi- peso do cimento.
palmente de ácidos húmicos resultantes As areias artificiais são mais pro-
da decomposição de vegetais, razão pela blemáticas com relação a materiais
qual praticamente inexiste nas areias ar- pulverulentos, pois muitos dos minerais
tificiais . Quando em presença do cimento, facilmente decomponíveis podem já apre -
esses ácidos combinam-se com o hidró- sentar a argila como produto final dessa
xido de cálcio liberado na hidratação, alteração. A norma da ABNT que regula
baixando o pH e dificultando as hidra- a presença de materiais pulverulentos na
tações subsequentes. Essa ação retarda a areia é a NBR 7219 da ABNT. Essa norma
pega e o endurecimento do concreto, re- não especifica limite para a presença de
duzindo sua resistência. O ensaio para a materiais pulverulentos, mas as normas
determinação das impurezas orgânicas, internacionais geralmente o fazem , a
normatizado pela NBR NM 49 da ABNT, exemplo da ASTM, que limita em 3% a
acha-se descrito no item 7.2.le. presença desses materiais para concretos
sujeitos a desgaste.
c) Materiais pulverulentos
d) Minerais reativos
Os particulados considerados como
pulverulentos incluem o silte (0,002 mm - Para agregado miúdo (areia) são vá-
0,074 mm) e a argila (< 0,002 mm). lidas as mesmas considerações feitas
Quando presentes na areia, esses mate- para o agregado graúdo usado no con-
riais aumentam a quantidade de água de creto, com relação a minerais reativos
amassamento, influindo na trabalhabili- (item 9.2 .3c). Os minerais deletérios que
dade e na resistência do concreto. A pior podem reagir com os álcalis do cimento
situação ocorre quando esse material é podem estar presentes na areia, seja como
constituído por argila, pois revestirá os sílica livre nas areias naturais, seja como
grãos de areia, impedindo a cristalização silicatos nas areias artificiais. Assim,
regular e homogênea dos compostos do quando recomendados para os agregados
294 1 Geologia de Barragens
- - l
Indicações gerais Topografia
1 Escala: 1 :2.500
Material
"t:ocalização 1
Distância do eixo
Proprietário 1
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~ er. d~roQrietário
Benfeitorias ----r- '
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Sais solúveis 1
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Observações:
em função dos resultados obtidos nos en- dos taludes, não apenas durante a escava-
saios laboratoriais. ção, mas também com relação aos taludes
Finalmente, as características do que serão considerados como finais ao tér-
material devem ser conhecidas preliminar- mino da explotação, os quais deverão ser
mente com as observações tátil-visuais de tratados (drenagem e proteção vegetal)
campo, não apenas com relação às varia- para minimizar o impacto produzido.
ções na horizontal, mas principalmente Por fim , deve-s e observar a conveniên-
na vertical. Isso porque não adianta cia ou não de explotar jazidas argilosas na
aprofundar uma pesquisa a partir da bacia de inundação fluvial, caso a pesquisa
constatação de uma mudança radical tenha revelado a presença do nível freá-
em profundidade, quando, por exemplo, tico a pequena profundidade.
se passa de um solo maduro para um
9.4.3 Caracterização técnica dos
solo saprolítico e as características deste
materiais terrosos
não atendem às necessidades do projeto.
O mesmo ocorre no sentido horizontal, Os materiais terrosos são caracte-
em função da mudança da rocha que deu rizados por meio de seus índices
origem ao solo pesquisado. físicos e parâmetros de resistência,
complementados pelas características de
b) Explotação
compactação e de per meabilidade. Assim,
Desde que a pesquisa leve em conta as podem-se indicar os seguintes ensaios
melhores condições de explorabilidade, laboratoriais a proceder nas amostras co-
não deverá constituir qualquer problema letadas nas jazidas prospectadas:
a explotação de material terroso de uma • Análise granulométrica
jazida, o que geralmente é feito de forma • Limites de consistência (LL e
mecanizada, por meio de retroescava- IP)
deira, trator, pá-carregadeira etc. Apenas • Umidade natural
deverão ser levadas em conta as reco- • Peso específico real
mendações feitas na pesquisa para essa • Densidade máxima seca (Proc-
explotação, de acordo com os resultados tor normal)
obtidos nos ensaios laboratoriais, nos • Umidade ótima (Proctor
casos em que a jazida apresente variações normal)
significativas de materiais, quer na hori- • Permeabilidade
zontal ou na vertical. Nesses casos, pode • Parâmetros de resistência ao
haver a necessidade de excluir a escavação cisalhamento (coesão e ângulo
de áreas localizadas ou, ainda, de mistu- de atrito interno)
rar materiais de locais diferentes, a fim de
se obter um material mais adequado para Para solos puramente argilosos, reco-
os objetivos da construção. menda-se realizar também o ensaio de
Em qualquer tipo de jazida, devem-se adensamento. Todos esses ensaios foram
considerar as condições de estabilidade descritos no Cap. 7. Os ensaios de resis-
298 1 Geologia de Barragens
tência ao cisalhamento podem ser feitos Caso seja utilizado solo saprolítico no
pelos métodos de cisalhamento direto ou aterro barrável, deve-se observar a pre-
triaxial, dependendo das especificidades e sença de estruturas reliquiares que podem
necessidades de cada projeto. influir na resistência ao cisalhamento
Deve-se considerar nesses ensaios o desses solos. Pastore (1992 apud Cruz,
principal objetivo para o qual será des- 1996) realizou uma pesquisa, reprodu-
tinado o solo ensaiado. Por exemplo, se zida na Tab. 9.7, em que essa influência é
o solo será empregado no núcleo da bar- muito nítida, mostrando que os ensaios
ragem, as principais características são a realizados com aplicação de tensões pa-
permeabilidade e o adensamento, mas se ralelamente às estruturas reliquiares
o solo for empregado nos espaldares da apresentam resultados de resistência
barragem, a principal característica será muito inferiores aos ensaios em que essa
a resistência ao cisalhamento. Nesse caso, tensão é aplicada perpendicularmente a
será recomendável definir os parâmetros essas estruturas.
de resistência para deformações rápidas e
9-4.4 Apresentação dos resultados
lentas, por meio dos ensaios triaxiais des-
critos no item 7.2.lj. A pesquisa de materiais terrosos deve
Também é importante definir a va- ser consubstanciada em um relatório
riação desses parâmetros em função das que apresente um resumo de cada jazida
tensões que serão aplicadas e da presença estudada, com os resultados detalhados
ou não da água. Cruz (1996) apresenta de cada ensaio, incluindo gráficos e dese-
valores que mostram essas variações para nhos, apresentados em anexo. O resumo
diferentes tipos de solo, conforme mos- deve incluir uma ficha e uma tabela com
trado na Tab. 9.6. os resultados dos ensaios . A Fig. 9.12 apre-
---
Indicações gerais Características físicas e mecânicas
---
Material
---
-., Areia fina e média silt. - arg. Ensaio ou determinação Média
Utilização
- Corpo da barragem Permeabilidade k (cmlseg)
)
'-2,36 X 10- 5
1
7
Observações:
.8
c =kg . cm' 0,33
e: Direito 1---- --
- Os furos F. 4, F.9, F. 10, F.16, F.22, F.28, F.29, "'E 1 0 = graus 41°
·; - -
f
~
•~;~ JA Z
Locação topográfica
1
I __ _ __ _ Escala: 1:20.000
F.1!1 ru I F: :J:J
,, ....
,1;2~ : ✓ F.$2
//
/
,' ,: F.J I
-,. /. r~
~
' •, ::-._
· /;r ~ ~~
• -6
M.4
Obra: Município:
o
..,-
><
.°'.
O<
Jazida nº Denominação:
FIG . 9 .12 Exe mplo de um a ficha · resumo para uma pesquisa de materiais terrosos
10 Monitoramento
b) Assoreamento do reservatório
b) Deslocamento vertical
Deslocamento Total
( b) i
, - -- - - - L L sen O - - - - - - - i
FIG. 10.4 Esquema dos deslocamentos medidos pelo inclinômetro: (a) deslocamento por t recho;
(b) deslocamento total
Fonte: modificado de <http://www.geotecnia.ufba.br> .
310 1 Geologia de Barragens
Tu bo galvan izado
de <p = 100 mm
Placa nº3 -
na---- Tu bo galvanizado
de <p = 50 mm
Tu bo galvan izado
de <p = 25 mm
""""'=- _ Superfície
da rocha
Chumbado em
sismos são detectados pelos sismógrafos possam produzir nas obras associadas ao
instalados em Brasília. Ainda assim, exis- barramento a ser projetado nesses locais.
tem algumas regiões onde são frequentes
10.3.7 Frequência das medições
pequenos abalos sísmicos, que podem
ser ou não associados a barramentos Embora, em função das especificidades
existentes nas proximidades . Por isso, é de cada projeto, a frequência das medições
recomendável reduzir a extensão das es- seja muito variável, Cruz (1996) apre-
truturas rígidas quando for projetada uma senta, a título de ilustração, uma tabela
barragem nessas regiões, que já são do co- para a frequência de medição dos vários
nhecimento geológico brasileiro. Todavia, tipos de instrumentação instalados, com
como é impossível a ausência total dessas base na sua experiência profissional. Essa
estruturas, recomenda-se, nesses casos, recomendação acha-se reproduzida no
instalar sismógrafos para monitoramento Quadro 10.1.
de possíveis danos que os eventuais abalos
propriedades para forçar sua desapro- b] Contaminação das águas por óleos,
priação vantajosa quando for realizada graxas e combustíveis: nas instalações
a desocupação dos terrenos que serão de oficina e na lavagem de máquinas e
alagados pelo reservatório. veículos, os materiais oleosos e gra-
d] Lavras clandestinas: a lavra clandes- xosos podem fluir para a drenagem
tina na área da bacia hidráulica poderá fluvial local ou se infiltrar nos solos
ser intensificada, principalmente por e contaminar as águas subterrâneas.
garimpeiros no leito do rio, criando Nos tanques de combustíveis (óleo
sérios problemas ambientais. diesel e gasolina), geralmente enter-
e] Caça predatória: a caça predatória nas rados , podem ocorrer vazamentos não
áreas florestadas que serão inundadas observáveis que também irão contami-
pode ser intensificada aos primeiros nar os solos e as águas subterrâneas.
sinais de implantação de uma obra de c] Pátio de sucatas: sucatas provenien-
barramento na região. tes da construção, como madeira,
ferragens, latas de tinta, pneus etc., se
expostas em áreas descobertas, podem
11.3 FASE DE INSTALAÇÃO DO
gerar produtos contaminantes ao ser
CANTEIRO, ACAMPAMENTO
carreadas pelas águas pluviais, conta-
E ACESSOS
minando o solo e os rios locais.
Nessa fase, muitos dos impactos re- d] Geração de lixo: o lixo de natureza
lacionados para a fase de projeto serão química e orgânica gerado durante a
intensificados e outros serão criados, prin- instalação do canteiro de obras poderá
cipalmente levando em conta a grande ser direcionado aos rios pelas águas
extensão da área a ser ocupada com as in- pluviais, causando a sua contamina-
tervenções antrópicas. ção.
Para efeito ilustrativo, o Quadro 11.4 no órgão ambiental um relat ório ilus-
apresenta um modelo de contextualização trativo que demonstre, por meio de um
de um relatório de PCA. documentário fotográfico, a realização de
todas as obras ambient ais projet adas no
11.8.4Licença de Operação (LO)
PCA.
Para a obtenção da Licença de Opera-
ção (LO), é necessário apenas protocolizar
A escolha dos tipos de obras que in- lar, sejam de terra, de enrocamento, ou
tegram um complexo de barramento mistas, com trechos em terra e trechos em
depende de uma série de fatores, mas é enrocamento. Obviamente, as estruturas
sempre da responsabilidade do geólogo de de tomada d'água, vertedouro e adução
engenharia a análise desses fatores e as para usinas, no caso de hidrelétricas,
primeiras recomendações sobre os tipos serão construídas em concreto, na posição
de obras mais adequados para atender aos que mais se adequar na relação topogra-
objetivos do projeto em uma determinada fia/concepção de obras e em atendimento
área. às condições geológicas das fundações.
Nas considerações que se seguem, não Nas áreas de declividades acentua-
serão abordadas especificidades do pro- das, a topografia favorece a concepção
jeto, como taludes, seção tipo, drenagem de maciço em concreto, estrutural ou
etc., por serem tais atributos objeto do compactado, e a decisão acerca do tipo de
detalhamento de cada obra e de respon- seção, em gravidade ou em contrafortes, é
sabilidade do engenheiro projetista, além feita em função da geologia das fundações.
de não interferirem na escolha do tipo de Em áreas em cânions, quando a extensão
barragem e obras auxiliares . Os fatores da barragem for inferior ao triplo de sua
que realmente pesam na escolha dos tipos altura, a topografia favorecerá o projeto
de obras de barramento são: topografia, de barragem delgada em concreto com
geologia das fundações, materiais natu- dupla curvatura.
rais de construção e meio ambiente.
12.1.2 Vertedouro
Estabilidade
12.2 GEOLOGIA DAS FU NDAÇÕES
As rochas em si não apresentam pro-
A caracterização da geologia que com- blemas de estabilidade das fundações;
porá as fundações do corpo da barragem porém, como maciço rochoso, é possível
e das obras auxiliares (vertedouro, que a relação entre as descontinuidades
canais e túneis) é fundamental para a (estratificação, xistosidade e fraturas) e as
escolha do melhor tipo de barragem a tensões hidrostáticas possa induzir ins-
projetar, pois algumas situações geo- tabilidade na fundação, como analisado
lógicas podem impor sérias restrições no Cap. 4 . Na ausência do risco de insta-
para alguns tipos, como será exposto a bilidade, pode-se projetar qualquer tipo
seguir. de barragem; todavia, se forem previstos
tais riscos, devem-se evitar as barragens
12 - Critérios para escolha dos t ipos de obras 1 331
de melhor qualidade, em função das dis - função de dois aspectos: materiais natu-
tâncias entre esses materiais e a obra. rais de construção e áreas inundadas.
calda é infiltrada sob pressão através de furos Plant a geral (general plan) - o mesmo que
barragem para coletar água de percolação na tecimento (humano, irrigação etc.) ou à casa
fundação. de força.
Poço de observação (observation well) - Tirante (rock bolt) - cabo de aço colocado
poço usado para observar variações no fluxo em um furo e, eventualmente, t ensionado
de água através da barragem ou em suas para aumentar a resistência do maciço ro-
fundações, durante as variações do nível do choso.
reservatório. Trincheira (cut-off) - prolongamento do
Poço de pêndulo (pendulum shaft) - poço núcleo dentro das fundações para reduzir a
construído em barragens de concreto para con- percolação da água nas fundações.
trolar as defleções da barragem sob carga. Trincheira cimentada (grout trench) -
Protensão (prestressing) - tensionamento trincheira escavada e preenchida com calda
dado no concreto através de cabo de aço para de argila-cimento.
aumentar a sua resistência . Túnel adutor (inlet tunnel) - túnel para
Quebra-ondas (rip-rap) - enrocamento adução de água para abastecimento ou para
colocado na parte mais superior do talude de encaminhamento à casa de força.
montante de uma barragem de terra para eli- Túnel de desvio (diversion tunnel) - túnel
minar o efeito erosivo das ondas criadas no para desvio das águas do rio durant e a cons-
reservatório. trução da barragem.
Rebaixamento (drawdown) - o mesmo que Tún el de pressão (pressure tunnel) - túnel
depleção. que transmite água sob moderada a alta pres-
Reservatório (reservoir) - bacia de acu- são.
mulação ou armazenamento de água criada Tulipa (glory hole) - tipo de vertedouro em
pela barragem. A superfície do reservatório que a água penetra em um tubo vertical de
corresponde à bacia hidráulica. concreto a montante da barragem, escoando
Salto de esqui (bucket) - porção encur- sob o corpo desta e saindo a jusante.
vada da base do vertedouro que força o fluxo Vertedouro (spillway) - estrutura através
da água vertida a subir antes de sair da bacia da qual escoa o fluxo excedente do reserva-
de dissipação, amortecendo o seu poder de tório. Também chamado de sangradouro ou
erosão ao cair sobre a rocha. extravasar.
Talude (slope) - inclinação de montante ou Volume morto (dead storage) - volume de
de jusante de um maciço terroso ou de enro- água do reservatório situado abaixo de uma
camento. determinada cota, cuja utilização é inviabi-
Tapete imperm eável (impervious blan- lizada por questões técnicas relacionadas ao
ket) - tapete delgado de material impermeável, projeto.
que se inicia no núcleo e dirige-se para montante Zona de filtro (filter zone) - zona porosa
da barragem, objetivando aumentar o caminho no interior da barragem ou abaixo dela, des-
de percolação da água pela fundação, reduzindo tinada a interceptar e direcionar o fluxo de
o seu gradiente hidráulico. águas de percolação.
Tomada d'água (in take) - abertura por
onde entram as águas direcionadas ao abas-
Apêndice 2 - Principais normas técnicas
da ABNT aplicadas a solos e agregados
Força e peso
MN kN N kgf tonf lbf
1 1.000 106 1,0196 x 105 100,4 2,248 X 105
10-3 1 103 101 ,96 0,1004 224,82
10-6 10-3 1 0,10196 1,004 X 10-4 0,2248
9,807 X 10-6 9,807 X 10-3 9,807 9,842 X 10-4 2,2048
9,964 X 10-3 9,964 9,964 1.016 1 2.240
4,448 X 10-6 4,448 X 10-3 4,448 0,45355 4,464 X 10-4
Permeabilidade
m/s cm/s m/ano Darcy ft/ano ft/dia
1 100 3,156 x 107 1,04 x 105 1,035 x 108 2,835 X 105
0,01 1 3,156 X 105 1,04 X 103 1,035 x 106 2,834 X 103
3,169 X 10-3 3,189 X 10-6 1 3,28 x 103 3,281 8,982 X 10-3
9,860 X 10-6 9,860 X 10-4 304 1 1.000 2,74
9,658 X 10-9 9,659 X 10-7 0,3048 10-3 2,738 X 10-3
3,527 X 10-6 3,527 X 10-4 111 ,33 0,365 365 ,25 1
Apêndice 4 - Barragens que tiveram a
participação do autor
N º de Empresa Fase da
Ano Ob ra ou local Estado Cliente Serviço prestado
barr. contratante obra
Passo de Estudos geológicos e
1970 RS So n d otécn i ca Eletrosul Proj. Básico
Mendonça geotécnicos
Salto de
1971 RO 7 Sondotécnica Eletronorte Inventário Estudos geológicos
Teotônio
Cachoeira de
1971 RO 7 Sondotécnica Eletronorte Inventário Estudos geológicos
Samuel
Estudos geológicos e
1971 Jaguarão BR/UR Sondotécnica ONU Viabilidade
geotécnicos
Estudos geológicos e
1972 ltabuna BA Sondotécnica Proj. Básico
geotécnicos
Água Ensaios de mecânica
1972 SP Sondotécnica Cetesb (?) Proj. Básico
Vermelha das rochas in situ
Ensaios de mecânica
1972 São Simão MG Sondotécnica Cemig Proj. Básico
das rochas in situ
Controle de injeções
1973 lnhumas PE Geotecnia Compesa Construção
nas fundações
Controle de injeções
1975 Brotas PE Geotecnia Compesa Construção
nas fundações
Porto de Estudos geológicos e
1975 Bita e Utinga PE Geotecnia Proj. Básico
Suape geotécnicos
Controle de injeções
1975 Carpina PE Geotecnia Compesa Construção
nas fundações
Beberibe e Estudos geológicos e
1975 PE 2 Geotecnia Compesa Viabilidade
Manso geotécnicos
Estudos geológicos e
1975 Riacho Morno PE Geotecnia Compesa Viabilidade
geotécnicos
Estudos geológicos e
1977 lpojuca PE Geotecnia Compesa Viabilidade
geotécnicos
Secret. de Estudos geológicos e
1978 Acauã PB Geotecnia Proj. Básico
Estado geotécnicos
Estudos geológicos e
1978 Orobó e Siriji PE 2 Geotecnia Com pesa Viabilidade
geotécnicos
Secret. de
1979 João Pessoa PB 8 Geotecnia Inventário Estudos geológicos
Estado
1980 Rio Salitre BA 10 Geotecnia Embasa Inventário Estudos geológicos
Estudos geológicos e
1980 Poço Fundo PE Geotecnia Compesa Proj. Básico
geotécnicos
346 1
Geologia de Barragens
Nº de Empresa Fase da
Ano Obra ou local Estado Cl iente Se rviço prestado
barr. contratante obra
Rios Tourão,
1980 Curaçá e BA 17 Geotecnia Embasa Inventário Estudos geológicos
Poção
Proj . Estudos geológicos e
1980 lpaneminha PE Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
1981 Rio Ipanema PE 9 Geotecnia Cisagro Inventário Estudos geológicos
1981 Rio Pajeú PE 12 Geotecnia Cisagro Inventário Estudos geológicos
Estudos geológicos e
1981 Boacica AL Geotecnia DNOCS Proj. Básico
geotécnicos
Pimenta
Estudos geológicos e
1981 Bueno e RO 2 Geotecnia Proj . Básico
geotécnicos
Vilhena
Estudos geológicos e
1981 Goiana PE Geotecnia Compesa Proj. Básico
geotécnicos
Proj . Estudos geológicos e
1981 Bocaina PI Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Consultoria
1981 lpaneminha PE Geotecnia DNOCS Construção
geotécnica
Estudos geológicos e
1982 Serrinha PE Geotecnia Compesa Proj . Básico
geotécnicos
São Raimundo Proj. Estudos geológicos e
1982 PI Geotecnia DNOCS
Nonato Executivo geotécnicos
Proj. Estudos geológicos e
1982 Joana PI Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Estudos geológicos e
1982 Poços PI Geotecnia DNOCS Proj . Básico
geotécnicos
Consultoria
1982 Palmeirinha PE Geotecnia Compesa Construção
geotécnica
Consultoria
1982 Pontal PE Geotecnia Compesa Construção
geotécnica
Proj. Estudos geológicos e
1982 Mulungu RN Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Proj. Estudos geológicos e
1983 Parelhas RN Geotecnia DNOCS
Executivo geotécnicos
Consultoria
1983 Brejão PE Geotecnia Compesa Construção
geotécnica
Consultoria
1983 Bocaina PI Geotecnia Exército Construção
geotécnica
Secr. de Consultoria
1983 Acauã PB Geotecnia Construção
Estado geotécnica
Jaberi, Lagarto Secr. de Estudos geológicos e
1983 SE 3 Geotecnia Viabilidade
e Jacarecica Estado geotécnicos
Sitio dos Estudos geológicos e
1983 RN Geotecnia DNOCS Viabilidade
Padres geotécnicos
Proj. Estudos geológicos e
1984 Cachimbo PE Geotecnia Compesa
Executivo geotécnicos
Apêndice 4 - Barragens que tiveram a participação do autor 1 347
STAGG, K. G.; ZIENKIEWICZ, O. C. Rock mechanics in engineering practice. Londres: John Wiley & Sons,
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