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Unidade II
5 SERVIÇO SOCIAL, QUESTÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO
A luta pela educação constitui uma das expressões da questão social, visando ao atendimento de uma
necessidade social, reconhecendo-a como um direito social. Assim, torna-se importante compreender
a relação estabelecida entre o serviço social e a política de educação, interpretando o ordenamento
jurídico que fundamenta essa política social sob óptica do serviço social, assim como sua interlocução
com o exercício profissional, objetivado na realidade vivenciada por seus protagonistas.
Por esse motivo, o significado político da inserção do serviço social na política de educação vincula‑se
à trajetória histórica dessa profissão e a seu acúmulo teórico e político em relação ao campo das políticas
sociais, podendo contribuir para a necessária articulação de forças sociais na luta pela educação pública,
de qualidade e como direito social.
Entendemos que o papel educativo do assistente social no ambiente escolar deve ser o de elucidar
e desvelar a realidade social em todos os seus meandros, socializando informações que possibilitem à
população ter uma visão crítica que contribua com sua mobilização social visando à conquista de seus
direitos. Se os assistentes sociais conseguirem levar essa proposta para a sua atuação no âmbito da
educação, a escola poderá dar início à discussão sobre novas formas de organização da vida social e,
principalmente, de identificação de diferentes sujeitos políticos no âmbito das instituições e, também,
da comunidade.
Por essas razões, precisamos pensar cada vez mais em formas que permitam realizar a articulação
de políticas sociais, entre elas, especialmente, a assistência social com o intuito de minimizar as
desigualdades sociais e contribuir para o acesso e a permanência das crianças e adolescentes na escola,
sendo essa uma das atribuições, por excelência, do assistente social na política de educação.
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Unidade II
Não podemos negar que a educação para todos é uma meta dos governos, prevista há várias
décadas, mas para que essa meta seja alcançada é necessária a previsão de que incidam sobre o processo
de desenvolvimento dos sujeitos, pois somente por intermédio de uma educação de qualidade é que
o país ofertará condições que garantam o acesso e a permanência das crianças e adolescentes na
escola pública, com provisão de suportes físicos e sociais, imprescindíveis para que a educação seja um
diferencial na vida dessas pessoas.
Saiba mais
De uma forma geral, quando nos referimos à função da escola, precisamos compreender que ela
é complexa, ampla, diversificada, pois a função social está relacionada à necessidade de dedicação
exclusiva por parte do professor e de acompanhar as mudanças que se processam no campo de trabalho,
atualizando o seu currículo e sua metodologia.
Visando acompanhar todas essas mudanças, a escola precisa fornecer um ensino que forme uma
relação entre o que o aluno está aprendendo na escola e o que ele está fazendo quando está fora dela,
principalmente no que se refere ao ensino formal e o mundo do trabalho, ou seja, entre o conhecimento
adquirido e a vida cotidiana do sujeito.
Observação
Por esse motivo, entre as várias atribuições que são elencadas como função da educação está a
de promover novas estratégias que efetivem a formação do cidadão, para que ele tenha condições de
exercer a prática da cidadania. Dessa forma, a instituição escolar precisa adquirir competências que lhe
permitam formar cidadãos que possam inserir-se na sociedade de modo a modificá-la de forma positiva.
É preciso reconhecer que a escola é uma das poucas instituições que possui condições de formar
sujeitos que irão ocupar espaços na sociedade, porém, para que isso ocorra é necessário que o ambiente
escolar e o meio social mantenham uma relação de reciprocidade. Assim, é necessário que exista uma
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mútua colaboração entre a esfera social e a dimensão escolar, principalmente em relação ao entorno do
local onde as unidades escolares estão inseridas.
Saiba mais
Para que possamos pensar na função social da escola e da sua integração com a comunidade, é
necessário tratarmos da questão da gestão democrática da escola, pois a gestão escolar é o meio pelo
qual as instituições educacionais são conduzidas e organizadas, tendo em vista os fatores econômicos,
políticos, estruturais, pedagógicos, sociais, entre outros. Uma gestão democrática poderá proporcionar a
oportunidade de se obter avanços de significativa relevância para a educação.
Observação
Porém, a expressão gestão democrática também tem sido usada para identificar as mais
variadas práticas sociais de diferentes atores não apenas governamentais, mas de organizações não
governamentais, associações, fundações e escolas.
A gestão democrática é um tema recente, que se introduz na sociedade brasileira na década de 1990
em meio à tensão entre dois processos que marcam a realidade contemporânea. Um desses processos
diz respeito à globalização da economia, que mercantiliza e amplia os segmentos de atuação no social.
O outro trata da regulação social tardia, através das conquistas de cidadania, do Estado democrático
de direitos e dos desafios da participação da sociedade civil. Assim, a gestão democrática tem sido
definida como a construção de diversos espaços para a interação social, inclusive na escola. Trata-se
de um processo que é levado a cabo numa determinada comunidade e que se baseia na aprendizagem
coletiva, contínua e aberta para a concepção e a execução de projetos que respondam a necessidades e
problemas do foro social.
Exemplo de aplicação
Trabalhar em equipe é uma necessidade. Ninguém parece ter dúvidas quanto a isso, mas a execução
de qualquer realização, contando com o apoio de todos os envolvidos num projeto, depende de uma
série de fatores, nem sempre levados em consideração pelos participantes.
FORMIGUINHAZ. Direção: Eric Darnell; Tim Johnson. EUA: Dreamworks, 1998. 83 min.
Assista ao filme e, a partir das principais mensagens relativas ao trabalho em equipe, procure
identificar possibilidades que podem fazer parte das transformações que permitam aos estudantes se
relacionar melhor na escola e também com o mundo em que vivem.
No processo de gestão democrática, as pessoas passam a ser reconhecidas por suas capacidades de
coordenação e de negociação tanto dentro da sua própria organização como fora dela.
Uma das principais características da gestão democrática está relacionada com as preocupações e
princípios relativos à postura ética da conduta, à valorização da transparência na gestão dos recursos e à
ênfase sobre a democratização das decisões e das relações na organização. Diante dessas explicações,
podemos entender a gestão democrática como o processo gerencial dialógico em que a autoridade
decisória é compartilhada entre os participantes da ação, o que pode ocorrer perfeitamente dentro do
espaço escolar.
Na escola, a perspectiva é que a cidadania deliberativa contribua para que se desenvolva plenamente
um pluralismo cultural atuante conforme a sua própria lógica, por meio da possibilidade de participação.
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Saiba mais
A participação integra o cotidiano de todos os indivíduos, dado que atuamos sob relações sociais. Por
desejo próprio ou não, somos, ao longo da vida, levados a participar de grupos e atividades. Esse ato nos
revela a necessidade que temos de nos associar para buscar objetivos que seriam de difícil consecução
ou mesmo inatingíveis se procurássemos alcançá-los individualmente.
Por esses motivos, é importante que as escolas adotem um processo de gestão democrática e de
cidadania deliberativa nas suas relações com a sociedade, buscando assim uma maior proximidade com
os problemas e demandas do cidadão. Na construção desse processo, a escola precisa reconhecer que o
núcleo da sociedade civil forma uma espécie de associação que institucionaliza os discursos capazes de
solucionar problemas, transformando-os em questões de interesse geral no quadro de esferas públicas.
Visando alcançar esses objetivos, a descentralização do ensino constitui um dos fatores essenciais
para o movimento de democratização das escolas brasileiras e da construção de autonomia da gestão
escolar. Descentralização pressupõe participação, entendida por Lück (2009, p. 29) da seguinte maneira:
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Assim, entende-se que propiciar espaços para a participação da comunidade escolar na dinâmica,
nas atividades e nas decisões escolares constitui um dos papéis da escola, pois integrar e possibilitar
que os membros da escola possam interagir com ela, tomando consciência do seu papel na gestão e
no envolvimento, é necessário à abertura de espaços democráticos e de voz à comunidade. Porém,
para que essa participação se torne realidade, são necessários meios e condições favoráveis, ou seja, é
preciso repensar a cultura escolar e os processos, normalmente autoritários, de distribuição do poder
no seu interior.
Uma das principais ferramentas da gestão democrática é o planejamento participativo, uma vez que
ele pode envolver os mais diferentes segmentos da comunidade local e escolar que têm representação
no Conselho Escolar.
Observação
Porém, para que o planejamento participativo possa cumprir o seu papel, ele deve ser gerenciado
com ampla participação da comunidade, envolvendo a equipe gestora da escola, o conselho escolar, o
grêmio estudantil e outros.
Para os autores que pesquisam o ambiente escolar, a democratização da gestão da escola constitui‑se
numa das tendências atuais mais fortes do sistema educacional, apesar da resistência oferecida pelo
corporativismo das organizações de educadores e pela burocracia instalada nos aparelhos de Estado,
muitas vezes associados na luta contra a inovação educacional.
Um dos maiores desafios da educação brasileira na atualidade não é somente garantir o acesso da
grande maioria das crianças e jovens à escola, mas permitir a sua permanência numa escola feita para
eles e por eles. Para que isso se concretize, é necessário que a escola coloque todos os saberes a serviço
do aluno, capacitando-o para a participação plena na vida social, política, cultural e profissional na
sociedade. Nesse sentido, o objetivo da gestão democrática é buscar a efetivação de uma educação
de qualidade, de modo que todos se reconheçam como atores corresponsáveis por sua promoção.
Entendemos que para a escola cumprir a sua função social é necessário que tenha uma visão do
que está ocorrendo na sociedade, conseguindo assim estabelecer uma conexão do que é ensinado com
a prática cotidiana do aluno, preparando-o para o exercício profissional. No entanto, isso somente
será possível se a sociedade for chamada para participar das decisões que irão ditar os rumos a serem
seguidos pela escola.
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Saiba mais
Sobre o tema, leia o texto a seguir:
GIL, R. M. O papel do gestor escolar na melhoria da qualidade da
educação. Paranavaí: Secretaria da Educação, 2013. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/
producoes_pde/2013/2013_uem_gestao_pdp_raquel_mattos_gil.pdf.
Acesso em: 28 ago. 2019.
Diante da realidade sobre as desigualdades educacionais existentes no Brasil, problema que possui
uma relação direta com o modelo socioeconômico adotado pelo país, o Estado tem colocado como um
dos objetivos da gestão pública o enfrentamento dessa questão social.
Por esse motivo, o enfrentamento das desigualdades sociais e educacionais e a pobreza são temas
inseridos nos Planos Nacionais de Educação (PNEs) de 2014 a 2024, apresentando as formas que deverão
ser utilizadas para o enfrentamento do problema visando reduzir o seu impacto social. O tema também
foi inserido nos Planos Plurianuais (PPAs) dos demais entes da federação.
Exemplo de aplicação
O ciclo orçamentário é um processo dinâmico e contínuo, com várias etapas articuladas entre si, por meio
das quais sucessivos orçamentos são discutidos, elaborados, aprovados, executados, avaliados e julgados.
Esse ciclo tem início com a elaboração do Plano Plurianual (PPA) e se encerra com o julgamento da
última prestação de contas do Poder Executivo pelo Poder Legislativo. O Plano Plurianual (PPA), a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), que são as três leis que regem o ciclo
orçamentário, são estreitamente ligadas entre si, compatíveis e harmônicas. Elas formam um sistema
integrado de planejamento e orçamento, reconhecido na Constituição Federal, que deve ser adotado
pelos municípios, pelos estados e pela União. A elaboração dos projetos de lei do PPA, da LDO e da LOA
cabe exclusivamente ao Executivo. Em nenhuma esfera o Poder Legislativo pode propor tais leis.
No âmbito municipal, por exemplo, apenas o prefeito pode apresentar à Câmara Municipal os
projetos de PPA, LDO e LOA. Os vereadores não apresentam tais projetos, mas podem modificá-los por
meio de emendas quando são enviados ao Legislativo para discussão e votação.
Já o Ministério Público não discute, não vota, nem aprova o orçamento público.
Procure saber quando o Ministério Público é chamado para ter algum tipo de participação no
ciclo orçamentário.
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Em relação às políticas orçamentárias, é importante destacar que o PNE é o instrumento que define
as diretrizes e as metas para a gestão e o financiamento da educação. Já o PPA é um instrumento
previsto no art. 165 da Constituição de 1988, sendo que o documento deve contemplar as políticas
públicas do governo para um período de quatro anos, tendo a função de organizar e de viabilizar a ação
pública por meio de diretrizes, objetivos e metas que devem balizar a elaboração das Leis Orçamentárias
Anuais (LOA). Ele apresenta a visão de futuro para o país e permite, também, que a sociedade possa ter
um maior controle sobre as ações governamentais.
Um elemento a destacar nos últimos PPAs elaborados pelo Governo Federal é a centralidade
dada à educação, pois o Plano de Desenvolvimento da Educação tem sido colocado como elemento
essencial para o desenvolvimento do país, principalmente no sentido da qualificação da educação. É
importante destacar, ainda, que a pobreza e a desigualdade social são tratadas, nos PNEs e nos PPAs,
como “problemas” centrais a serem atacados, sendo a educação considerada como uma mediação
fundamental para o seu enfrentamento.
Outra questão importante que podemos notar nos textos do PNE e do PPA é a apresentação de
propostas com o objetivo da ampliação das políticas sociais voltadas para o combate à pobreza e à
diminuição das desigualdades sociais e educacionais, a partir de diversos programas sociais, especialmente
do Programa Bolsa Família.
Observação
Uma das principais preocupações que aparecem nos PNEs é a necessidade de expansão da cobertura
educacional, dando prioridade aos segmentos mais pobres, ou seja, para aqueles que são considerados
em situação de vulnerabilidade social.
Outra questão que tem sido levantada nos planos é a importância da educação como fator para
a superação das condições de pobreza, porém, atuando de forma articulada com as demais políticas
sociais, como saúde, assistência social, moradia, trabalho e emprego.
Essa proposta de articulação entre as políticas sociais consta no PNE 2014-2024 como uma
importante estratégia para o enfrentamento da pobreza. Nele destaca-se a defesa de ações que possam
garantir, especialmente, o acesso e a permanência na educação de estudantes oriundos das famílias
beneficiárias dos programas de transferência de renda (BRASIL, 2014b).
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Saiba mais
Diante do que estamos estudando, percebemos que a escola pode ser considerada uma das instituições
sociais em que ocorre o maior encontro das diferenças existentes na sociedade. O espaço escolar possui
uma característica sociocultural marcada por símbolos, rituais e crenças, culturas e valores diversos. Por
esse motivo, as questões relacionadas com a diversidade cultural precisam ser respeitadas no processo
pedagógico dessas instituições.
Foi com a finalidade de tratar de forma mais abrangente a questão da diversidade que, também,
se iniciou a discussão sobre a educação inclusiva, que tem a sua história oriunda dos eventos e
documentos internacionais, nos quais governos mundiais assinaram acordos, sobretudo relacionados à
universalização da educação básica ofertada com qualidade, sem restrição de acesso.
O momento mais importante dessa discussão, sobre o processo de inclusão escolar, teve como marco
inicial a década de 1990, com o discurso em defesa da escola para todos, surgido na Conferência de
Jomtein, na Tailândia. A partir dos compromissos que foram firmados pelos representantes dos países
que participaram dessa conferência, foram realizados outros encontros com essa mesma finalidade, como
a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais (Salamanca, Espanha, 1994) e o Fórum
Consultivo Mundial – Educação para Todos: o Compromisso de Dakar (Dakar, Senegal, 2000). As discussões
realizadas nesses eventos foram importantes para se expandir os propósitos da educação inclusiva.
Lembrete
No Brasil, tais princípios balizaram as políticas que passaram a ser implementadas nas escolas
como princípios condutores da inclusão escolar. O principal objetivo dessas políticas é o de assegurar o
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direito de todas as crianças, jovens e adultos à educação, independentemente de suas condições físicas,
intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas e outras (BRASIL, 1997).
Dessa forma, todos os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados, de
modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades, sendo que,
principalmente as pessoas com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas comuns,
que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades.
O entendimento formado é que essa orientação integradora representa o meio mais eficaz de
combater atitudes discriminatórias, criar comunidades acolhedoras, construir uma sociedade integradora
e dar educação para todos. Além disso, proporcionam uma educação efetiva à maioria das crianças
e ainda melhoram a eficiência e, certamente, a relação custo-benefício de todo o sistema educativo
(BRASIL, 1997, p. 10).
Visando alcançar esses objetivos, os Parâmetros Curriculares Nacionais referentes às quatro primeiras
séries do Ensino Fundamental trouxe princípios que auxiliam os educadores a fazer com que as crianças
dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos
e conscientes de seu papel em nossa sociedade. Porém, os próprios organizadores do documento
reconhecem que esses objetivos somente serão alcançados se for oferecido aos alunos pleno acesso
aos recursos culturais relevantes para a conquista de sua cidadania, sendo que tais recursos incluem
tanto os domínios do saber tradicionalmente presentes no trabalho escolar quanto as preocupações
contemporâneas com o meio ambiente, com a saúde, com a sexualidade e com as questões éticas
relativas à igualdade de direitos, à dignidade do ser humano e à solidariedade.
• compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e
deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e
repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
• posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais,
utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;
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• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como
meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento
de pertinência ao país;
• conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos
aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à
saúde coletiva;
• utilizar as diferentes linguagens (verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal) como meio para
produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em
contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;
Saiba mais
Todo esse movimento também tem por fundamento a questão de que a inclusão deve estar
apoiada no princípio de que a escola inclusiva deve assegurar a igualdade entre os alunos diferentes,
e esse posicionamento lhes garante o direito à diferença na igualdade de direito à educação, sendo
que esse posicionamento do sistema escolar deve estar em consonância com o princípio da isonomia,
previsto no Artigo 5º da Constituição Federal.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade (BRASIL, 1988).
Observação
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica,
desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem
nenhum tipo de discriminação. Dessa forma, a educação inclusiva constitui um paradigma educacional
fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores
indissociáveis e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias
históricas da produção da exclusão dentro da escola.
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
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A partir das informações que apresentamos, verificamos que o grande desafio colocado para o Brasil
é a erradicação da pobreza extrema e diminuir as desigualdades educacionais. A universalização dos
níveis educacionais compreendidos entre a Educação Infantil e o Ensino Médio é uma proposta que
tem sido posta em prática com vistas a diminuir as desigualdades educacionais. Da mesma forma,
as desigualdades educacionais no âmbito da educação superior também precisam ser enfrentadas, e
isso tem sido feito por meio de políticas inclusivas e de assistência estudantil direcionadas para os
estudantes das instituições públicas, estudantes bolsistas das instituições privadas e beneficiários do
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Todas essas ações são vistas como fundamentais para a redução das desigualdades étnico-raciais,
bem como para ampliar o acesso e a permanência, nas universidades, dos estudantes pobres oriundos
das escolas públicas, afrodescendentes, indígenas, com deficiência, entre outros.
Além dessas ações, para que as desigualdades educacionais apontadas no PNE sejam enfrentadas, é
necessária a ampliação dos investimentos públicos em educação pública. Assim, podemos perceber que
muitos são os desafios para garantir a cidadania da juventude, sendo necessário investir no aumento da
permanência na escola, na elevação do nível de escolaridade, na ampliação do número de matrículas no
Ensino Superior e na educação técnica e profissional, na contenção da inserção precoce no mercado de
trabalho, entre outros aspectos, reforçando a continuidade da persistência de um quadro de desigualdades
educacionais no país. Por esses motivos, a qualidade da educação nacional é tomada como estratégica
e urgente, com o objetivo de preparar, especialmente, crianças e jovens para os desafios da vida em
sociedade, para a inclusão cidadã e a inserção no mundo do trabalho.
Podemos definir cidadania como o conjunto de direitos e deveres que são exercidos por uma
determinada pessoa que vive em uma sociedade. Ela também diz respeito ao poder e grau de
intervenção que o indivíduo dispõe no usufruto dos espaços que ocupa e, principalmente, na sua
posição e no poder que possui de interferir e transformar esses locais.
Já a palavra emancipação está relacionada com o ato de tornar livre ou independente. Porém, o
mesmo termo também pode ser aplicado para exemplificar a luta das minorias pelos seus direitos de
igualdade ou pelos seus direitos políticos enquanto cidadãos.
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Escola pública nos remete ao conceito de serviço público que precisa ser oferecido pelo Estado aos
cidadãos, devendo possuir um caráter universal, ou seja, para todas as crianças em idade escolar, sendo
que oferecer a oportunidade para que todas as crianças tenham acesso à escola pública representa a
igualdade de oportunidades.
Este tópico será dedicado à compreensão do processo que a escola pública deve desempenhar como
garantidora do processo de construção da cidadania do sujeito e, consequentemente, do seu processo
de emancipação.
Na década de 1950, Anísio Teixeira escreveu o livro Educação não é privilégio a partir de suas
conferências em que defendia a escola pública, laica e gratuita, e, por isso, sofreu profunda contestação,
tendo sido atacado por lideranças católicas brasileiras.
Saiba mais
Trazemos esse exemplo pelo fato de que muitos dos problemas apresentados por Anísio Teixeira
permanecem na agenda de discussão e na pauta de reivindicações das políticas públicas de educação
em nosso país.
Atualmente, muito se diz e muito se pode dizer acerca da escola pública contemporânea, pois essa
instituição tornou-se alvo de disputas e manifestações que praticamente envolvem todos os segmentos
sociais da complexa sociedade capitalista atual. Nesse sentido, a instituição escola está sob intensa
disputa, quer pela função que ela realmente exerce no tipo de sociedade que se vem configurando, quer
pelas funções que os homens pensam que ela exerce ou poderia exercer.
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Para que a educação consiga ensejar formas de emancipação social, tem, necessariamente, que
começar desvelando os princípios políticos subjacentes às práticas pedagógicas. Isso ocorre pelo fato
de que toda prática educativa é ao mesmo tempo uma prática política, não existindo nenhum tipo de
neutralidade nesse processo. Porém, nas relações de poder existentes na sociedade, muitas vezes vamos
encontrar discursos que são utilizados para esconder a dimensão política da educação.
Mas é sempre importante encontrar formas para que a educação possa articular-se e consiga, de fato,
contribuir para a construção do desenvolvimento de um projeto que seja ao mesmo tempo educativo e
emancipador. Assim, torna-se imprescindível pensar numa escola pública que consiga realizar práticas
pedagógicas que possam atender às demandas sociais e políticas dos indivíduos que buscam os seus
serviços, embora o processo de emancipação social deva ser objetivo de todas as políticas públicas, e
não somente da escola pública.
Para iniciarmos este tópico, podemos partir da afirmação de que não há política social desligada das
lutas sociais, pois somente a partir da luta dos trabalhadores por mais direitos é que o Estado assumiu
algumas das reivindicações populares ao longo de sua existência histórica. Assim, os direitos sociais
dizem respeito inicialmente à consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores.
Já mencionamos os direitos sociais, pois são eles os que obrigam o Estado a criar as políticas sociais.
Os direitos sociais são os chamados direitos de segunda geração. Ao contrário dos direitos de primeira
geração, em que o Estado não deve intervir, nos direitos de segunda geração o Estado passa a ter
responsabilidade para a concretização de um ideal de vida digno na sociedade.
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Assim, as políticas sociais têm uma relação direta com a política econômica e com conceitos
relacionados ao custo de oportunidade, pois quando o Estado decide investir mais recursos para valorizar
o capital, consequentemente haverá menos recursos para investir em políticas sociais.
Observação
Saiba mais
As políticas sociais estão relacionadas com as ações voltadas para a formação de um sistema
de proteção social que deve ser implantado pelo Estado, com o objetivo de diminuir a desigualdade
socioeconômica, através da redistribuição dos benefícios sociais. O principal objetivo das políticas sociais
é reduzir a desigualdade social e promover a inclusão das pessoas mais vulneráveis.
Agora que já temos uma compreensão sobre os direitos sociais e sobre as políticas sociais, podemos
tratar da política de assistência social e da política de educação.
A assistência social é uma das políticas sociais, sendo considerada um direito do cidadão e dever do
Estado instituído pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência
Social (Loas) em 1993. A assistência social é também uma política de seguridade social, formando o
chamado tripé da seguridade social, juntamente com a saúde e a previdência social.
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Unidade II
A obrigação do Estado em se responsabilizar pelas políticas sociais tem uma relação direta com
o conceito de direitos sociais que, apesar de não poderem ser exigidos subjetivamente, obrigam
uma atitude positiva, constante e diligente do Estado, no intuito de promover a transformação das
estruturas sociais.
No Brasil, os direitos sociais foram alcançados ou construídos por meio das relações estabelecidas
entre os deveres do Estado e as relações deste com a sociedade civil, sendo que a Constituição Federal
de 1988 colocou esses direitos como um assunto prioritário para a gestão pública. Os princípios
constitucionais dos direitos sociais estão elencados no artigo 6º da nossa Constituição Federal.
Exemplo de aplicação
Ouça a música a seguir. Na sequência, faça uma reflexão sobre a letra da música e os direitos
previstos no artigo 6º da Constituição Federal.
ANTUNES, A.; FROMER, M.; BRITTO, S. Comida. Intérprete: Titãs. In: TITÃS. Jesus não tem dentes no
país dos banguelas. Rio de Janeiro: WEA, 1987. LP. Faixa 2.
Para que se forme uma interface entre os direitos sociais e as políticas sociais é que existe a gestão
social, que deve ser constituída no foco do social em complementariedade ao econômico e no foco do
espaço público, como lócus de interface entre a sociedade civil e o Estado.
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POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
Na atualidade, para termos parâmetros que permitam discutir o tema políticas sociais, é necessária
uma reflexão situando o significado das políticas sociais, seus novos desenhos, tendências e a busca
por novas propostas de gestão pública do social no Brasil, uma vez que o país passou por significativas
mudanças sociais após a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Nesse sentido, os novos desafios postos ao trabalho social são resultados de mudanças maiores na
conjuntura brasileira e no cenário internacional, imposta principalmente pela adoção de um modelo
econômico neoliberal adotado pelas políticas públicas pós-1990. As conjunturas mudaram, a sociedade
tornou-se mais urbana e complexa e, nesse contexto, a própria configuração da questão social alterou‑se
num mundo globalizado e os desenhos e os arranjos da política social ganharam maior complexidade.
Observação
Porém, o trabalho social continua sendo a mediação necessária a toda política pública que se
comprometa com a busca da equidade e o enfrentamento das desigualdades sociais.
Compreendemos como trabalho social as atividades que pretendem melhorar as condições materiais,
de salubridade, culturais ou educativas da população, considerando que os assistentes sociais são por
essência os trabalhadores sociais. Assim, a produtividade das políticas públicas agora depende de um
processo de articulação política, de enraizamento comunitário, de informação e de comunicação.
Apesar dessas considerações, é inegável que no Brasil, a partir da Constituição de 1988, foram
abertos espaços para a implementação de políticas públicas mais democráticas, descentralizadas e
participativas, sem, contudo, alcançar os resultados almejados.
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Unidade II
Nesse novo cenário constitucional, as políticas públicas são concebidas como um conjunto de
iniciativas articuladas, focando o acesso ao mercado de trabalho, a segmentação urbana, as desigualdades
de gênero, os desequilíbrios regionais e outras demandas proeminentes. Porém, as demandas dos
cidadãos e territórios estão postas de forma interconectada; quem as separa são as políticas setoriais, ao
ofertar de forma fragmentada e desconexa os seus serviços, programas e benefícios. Assim, as políticas
integradas precisam se materializar em iniciativas articuladas e diferenciadas em territórios concretos.
Diante dessa realidade, o trabalho social torna-se essencial para o próprio sucesso das políticas
públicas, ao gerar melhor capacidade local de absorvê-las de maneira interativa.
O que se percebe é que a garantia do usufruto e a permanência dos adolescentes e jovens nas escolas
também dependem da qualidade da relação que os serviços e operadores das políticas estabelecem com
eles. Os dados demonstram que a mera existência de equipamentos e serviços não garante a apropriação
e o usufruto efetivo da população. Por esses motivos, o trabalho social tornou-se estratégico para
promover a efetivação da ação política pública, sua articulação e protagonismo do cidadão. Assim, o
trabalho social deve incorporar uma agenda de desenvolvimento do território, integrado e sustentável.
Agir no território e
com o território
Figura 7
96
POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
Tal tipo de cooperação também está previsto nas normativas do Sistema Único de Assistência
Social (Suas). Entre os princípios que devem regular a chamada Gestão Territorial da Proteção Social
Básica (tarefa a cargo das Secretarias de Assistência Social) estão a promoção da articulação
intersetorial e a busca ativa.
Além disso, um dos serviços previstos na Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais é
o Serviço Especializado em Abordagem Social. Segundo a normativa do Suas, esse serviço deve ser
ofertado nos municípios pelas Secretarias de Assistência Social de forma continuada e programada,
envolvendo um trabalho de abordagem e busca ativa que identifique nos territórios a incidência de
problemas que atingem crianças e adolescentes, tais como trabalho infantojuvenil ilegal, exploração
sexual e situação de rua, que geram, entre outras consequências negativas, limitações na trajetória
escolar ou evasão escolar.
Se for operado em sintonia com as escolas públicas, esse serviço socioassistencial pode contribuir
de forma significativa não apenas para interromper violências, mas também para promover o
encaminhamento de crianças e adolescentes às demais políticas setoriais, entre as quais a educação.
Raciocínio semelhante pode ser feito para o Programa Saúde da Família, cujos agentes podem atuar
em sintonia com as escolas e os serviços socioassistenciais para identificar e promover ações protetivas
contra problemas que afetam a saúde dos adolescentes e limitam sua trajetória escolar, tais como o uso
de substâncias psicoativas por parte de familiares ou dos próprios adolescentes.
Lembrete
Outro desafio para a melhoria da educação brasileira, cujo enfrentamento depende da existência de
uma adequada articulação entre as escolas e os serviços socioassistenciais, é a criação de condições que
viabilizem a oferta da educação integral (e em tempo integral) para crianças e adolescentes.
Nesse sentido, o Plano Nacional de Educação, em sua meta 6, afirma a necessidade da oferta de
educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos,
25% dos alunos da educação básica.
Antes do Plano Nacional de Educação, o Programa Mais Educação (instituído pela Portaria
Interministerial n. 17/2007 e detalhado pelo Decreto n. 7.083/2010) já havia definido a educação em
tempo integral como a jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, durante todo
o período letivo, compreendendo o tempo total em que o aluno permanece na escola ou em atividades
escolares oferecidas em outros espaços educacionais.
97
Unidade II
O Programa Mais Educação estimula a adoção da educação integral sob a forma de jornada
ampliada. Busca promover a melhoria da aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens matriculados
no Ensino Fundamental de escolas públicas, por meio da multiplicação da oferta de atividades de
acompanhamento pedagógico, experimentação e investigação científica, cultura e artes, esporte e lazer,
cultura digital, educação econômica, comunicação e uso de mídias, meio ambiente, direitos humanos,
práticas de prevenção aos agravos à saúde, promoção da saúde e da alimentação saudável, entre outras.
Segundo o Decreto que detalhou o programa, essas atividades poderão ser desenvolvidas dentro do
espaço escolar, de acordo com a disponibilidade de cada escola, ou fora dele, sob orientação pedagógica
da escola, mediante o uso dos equipamentos públicos e do estabelecimento de parcerias com órgãos ou
instituições locais.
Buscando promover a concretização dessas parcerias e, desta forma, ampliar a oferta de educação
integral, o Ministério do Desenvolvimento Social e o Ministério da Educação lançaram, em dezembro de
2014, a Instrução Operacional n. 01, que orienta gestores e profissionais das áreas da assistência social
e da educação a efetivar a integração entre os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
(SCFV), que são oferecidos pelas Secretarias Municipais de Assistência Social, e as escolas públicas, cuja
atuação deve ser orientada pelo Programa Mais Educação.
A Instrução Operacional afirma que as parcerias entre as escolas e os SCFV não devem se limitar
à simples inclusão de estudantes beneficiários do Programa Bolsa Família nos espaços que oferecem
atividades no contraturno escolar, mas devem ser desenvolvidas de modo a promover o fortalecimento
das relações intersetoriais entre educação e assistência social.
Cumpre agora verificar em que medida essas normas estarão sendo concretizadas na prática,
acompanhar o processo de sua implantação e identificar dificuldades e caminhos que precisem ser
considerados para que os avanços desejados se concretizem.
Diante do exposto, podemos concluir que na atualidade os assistentes sociais possuem atribuições
que se inserem no âmbito da elaboração, execução e avaliação de políticas públicas, inclusive na área da
educação. E, como profissional inserido na política de educação, o assistente social tem a possibilidade
de contribuir para que o direito de acesso a essa política social alcance um maior número de indivíduos,
98
POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
Para iniciar o nosso estudo sobre educação e neoliberalismo, é necessário fazer algumas indagações:
A educação é livre para todos? Qual é a proposta liberal e neoliberal para a educação no Brasil?
Com certeza não temos uma resposta definitiva para essas questões, e durante a leitura do texto o
aluno observará que os autores que tratam do tema defendem ou criticam o liberalismo que cada um
deles concebe a partir de determinadas referências teóricas clássicas e contemporâneas de que se utilizam.
Nosso objetivo não é dizer se o modelo de educação neoliberal adotado no Brasil obteve resultados
satisfatórios ou não. O que buscamos é trazer informações sobre o liberalismo e sobre o modelo de
educação neoliberal para que o próprio aluno tenha condições de formar a sua opinião sobre esse tema
importante e que está diretamente relacionado com o desenvolvimento do país. Acreditamos ser essa
a melhor forma de tratar o assunto pelo fato de que, no Brasil, ainda não temos uma definição exata
do melhor modelo de educação a ser adotado, ou, ainda, se podemos ter somente um modelo para um
país de proporções continentais como o nosso e com significativas diferenças culturais, econômicas e
sociais que devem ser levadas em conta no momento de se pensar um projeto educacional. Assim, para
que possamos discutir educação e neoliberalismo, precisamos conhecer o movimento liberal e as suas
principais propostas para a organização das políticas do Estado.
Falar de liberalismo significa falar de algo que está presente em nossa vida, nas relações sociais.
Ele está tão incorporado à nossa vida que às vezes, apesar de não admitirmos, na prática, somos mais
liberais do que pensamos.
facilitar os projetos ou a felicidade de seus membros (LOMBARDI; SANFELICE, 2007). Já numa forma
mais genérica, o liberalismo é uma referência à toda moderna tradição ocidental de pensamento e
comportamento em contraste com as tradicionais formas de ordem encontradas na Ásia e na África.
Para a crítica marxista, o liberalismo é o aspecto doutrinário do capitalismo.
Outra questão importante é que o significado de liberalismo muda não apenas com o seu nível
de abstração e com o passar do tempo, mas também de país a país. Por esse motivo, os mais variados
autores defendem ou criticam certo liberalismo que, à sua maneira, cada um deles concebe a partir de
determinadas referências teóricas clássicas e contemporâneas que se utilizam.
Diante dessas observações, verifiquemos o que podemos apreender sobre liberalismos ao consultarmos
o dicionário, assim poderemos continuar os nossos estudos partindo de uma referência prévia, tomando
por base a seguinte indicação:
Toda esta discussão preliminar tem por objetivo nos aproximar do tema “educação e neoliberalismo”,
pois o liberalismo como uma filosofia política tem como princípio fundamental a liberdade como bem
supremo do indivíduo e que não pode ser transgredido por outros indivíduos.
Para impedir que um indivíduo tenha seus direitos limitados por outrem, criou-se o Estado, cujo
papel é de, por meio do governo, criar condições para que nenhum indivíduo seja coagido por terceiros.
O Estado moderno como conhecemos hoje é constituído de três elementos originários e indissociáveis,
como veremos a seguir:
• Governo soberano: o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de
autodeterminação e auto-organização emanado do povo.
O Estado, portanto, é a única entidade que tem o poder de coagir na sociedade, podendo fazer isso
inclusive pelo uso da força. Para frear a tendência do Estado em acrescentar e assumir outras funções, é
fundamental o cumprimento de uma Constituição Liberal. Nesse sentido, para os pensadores liberais, na
área educacional, bem como em outras esferas da vida social, o Estado deve se abster de toda e qualquer
tentativa de atuar diretamente, ministrando educação, ou de regular ou de intervir na educação.
Para o pensamento liberal, a educação somente dever ser regulada pelo mercado, sendo um bem pago
e não obrigatório, pois ninguém deve ser obrigado a buscá-lo, nem mesmo para o seu próprio bem.
100
POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
Diante desse posicionamento sobre a educação, torna-se imperioso para o liberalismo a valorização
do ensino privado, pois é uma ideologia que justifica e racionaliza os interesses do capital, em diferentes
etapas do seu desenvolvimento. E nessas diferentes etapas, a privatização foi uma estratégia de
recomposição e manutenção da ordem capitalista, não por uma determinação política, mas por um
imperativo do desenvolvimento econômico.
Adam Smith, um dos criadores do pensamento liberal clássico, já defendia que as instituições
educacionais públicas deveriam ser pagas de modo a cobrir seus gastos.
Observação
Para Smith, o ensino seria mais bem desenvolvido e obteria melhores resultados se ocorresse sem a
interferência do Estado, a partir da relação livre e natural entre os indivíduos, isto é, por meio do mercado.
A análise desse clássico evidencia que a defesa de um ensino privado e dual, sob controle do mercado,
nada tem de novo. Porém, este tópico trata de “educação e neoliberalismo”, e até agora escrevemos
somente sobre o liberalismo; assim, faz-se necessária a seguinte consideração: neoliberalismo nada mais
é do que o liberalismo apresentado com uma nova “roupagem”, de certa forma mais fácil de ser aceito
pela sociedade. Vejamos a definição encontrada no dicionário.
Para desvelar o momento atual do capitalismo é necessário fazer uma análise da produção teórica
de Friedrich Hayek e Milton Friedman, os quais estabeleceram os fundamentos para a redução do Estado,
a mercantilização dos direitos sociais, a ausência de sensibilidade com o social e uma reacionalidade
101
Unidade II
instrumental, em benefício do capital. É importante essa colocação para podermos compreender em que
momento houve a transição do liberalismo clássico para o neoliberalismo moderno.
Para se compreender o neoliberalismo, é preciso analisá-lo numa perspectiva histórica que permita
ver o que há de novo no liberalismo, já que, por um lado, o termo indica que há uma ruptura e, por
outro, que ocorre uma continuidade no liberalismo.
Sem dúvida alguma, Friedrich Hayek (1899-1992) e Milton Friedman (1912-2006) destacam-se entre
os principais ideólogos da versão do liberalismo que tomou corpo, principalmente, a partir da segunda
metade da década de 1970 e que se estende até o século XXI.
Segundo Hayek, já que o Estado não pode ser abolido totalmente, deve ser reduzido ao mínimo.
Observação
Para Friedman, compete ao Estado proteger a liberdade dos indivíduos, preservar a lei e a ordem,
reforçar os contratos privados e promover mercados competitivos. No mais, a mão invisível do mercado
constitui-se na melhor alternativa para resolver os problemas do bem-estar e das desigualdades.
Observação
De modo geral, nenhum liberal se autodenomina neoliberal. Isso, porém, não é o fundamental, uma
vez que diante dos fatos não resta dúvida de que o que existe é o liberalismo, o que constitui uma ideologia
(de justificação do capitalismo) que assume características de acordo com o desenvolvimento do capital
e submete-se às suas necessidades.
Um dos primeiros países do mundo a adotar os princípios neoliberais em sua economia foi a Inglaterra,
no governo de Margaret Thatcher, primeira-ministra entre 1979 e 1990. Ela adotou políticas direitistas
radicais que, embora vistas como modernizadoras por muitos, foram consideradas destruidoras de
empregos e de setores econômicos tradicionais por outros.
102
POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
Saiba mais
A DAMA de ferro. Direção: Phyllida Lloyd. Reino Unido: Pathé, 2011. 104 min.
• Valorização do magistério.
Mas o projeto neoliberal de sociedade e de educação consolida-se como hegemônico no Brasil dos
anos de 1990, na óptica do capital, realizando mudanças nas nossas políticas educacionais e provocando
uma dissociação cada vez mais profunda entre uma educação voltada para a cidadania e a formação
científico-tecnológica voltada para o trabalho.
De uma forma hegemônica, a política educacional neoliberal segue as mesmas diretrizes neoliberais
das políticas sociais em seu conjunto, ou seja: redução dos gastos públicos, focalização das ações
governamentais, descentralização dos encargos e participação da sociedade na sua operacionalização.
As principais críticas sobre esse modelo estão na perspectiva que a política educacional neoliberal
focaliza a ação direta do Estado na universalização da escolaridade obrigatória para a população de
103
Unidade II
faixa etária requerida pela lei, na expansão do Ensino Médio e no aumento de sua participação nos
programas de formação profissional, ou seja, essa política destina-se prioritariamente à formação do
trabalho simples.
Por outro lado, os que defendem o modelo apresentam dados que demonstram a evolução do sistema
educacional brasileiro na década de 1990, especialmente os da educação básica. Afirmam, ainda, que ao
compararmos os dados brasileiros com os indicadores das demais nações que assinaram a Declaração
de Jomtien, também chamada de Declaração Mundial de Educação para Todos, o Brasil se destaca como
um dos países que mais avançaram na década.
Assim, o que se evidencia é que no Brasil ainda existe uma disputa no campo educacional, tendo de
um lado a proposta neoliberal acreditando que a competição produz o efeito pedagógico de estimular
o crescimento do sistema. No sentido inverso, outros se apoiam no princípio da centralidade que o
Estado deve ter para orientar uma política pública da educação, ou seja, que o governo assuma seu
compromisso indelegável para com os excluídos. Porém, o que observamos na prática é que o ensino
no Brasil não tem apresentado índices satisfatórios de qualidade, sendo necessário repensar o sistema
e o modelo de ensino. Uma das sugestões que constantemente surge nos debates é a necessidade de se
manter os jovens na escola e de se elevar o salário de professor.
Exemplo de aplicação
No site a seguir é possível ter acesso ao relatório “Educação para Todos: avaliação da década”,
produzido pelo MEC/Inep em 2000. Conhecer esse documento é importante para podermos avaliar se
o discurso oficial era condizente com as práticas de ensino existentes na realidade concreta. Os atores
que participaram do projeto de educação neoliberal implementado no Brasil fizeram essa avaliação, que
abrange a década de 1990 a 2000.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Educação para Todos: avaliação da década. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: http://
portal.inep.gov.br/documents/186968/485564/Educa%C3%A7%C3%A3o+para+todos+avalia%C3%A7%C3%A3o+da+d%C3%A9cad
a+S%C3%ADntese+do+I+Semin%C3%A1rio+Nacional+sobre+Educa%C3%A7%C3%A3o+para+Todos+%28Bras%C3%ADlia%2C+1
0+e+11-6-1999%29/a698194e-feab-4117-9088-53c1297b315b?version=1.0. Acesso: 10 ago. 2019.
Reflita sobre a seguinte questão: Será que conseguimos uma evolução na qualidade e no acesso
à educação?
104
POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
Resumo
105
Unidade II
Existe outra função básica da escola que deve ser garantida no espaço
escolar: o de propiciar a aprendizagem de conhecimento, habilidades
e valores necessários à socialização do indivíduo. Para que isso ocorra, é
necessário que a escola proporcione o domínio dos conteúdos culturais
básicos da leitura, da escrita, da ciência das artes e das letras, pois sem
essas aprendizagens dificilmente o aluno poderá exercer seus direitos de
cidadania. Mas, infelizmente, muitas vezes constatamos que nem mesmo
esse direito básico de alfabetização tem sido assegurado ao público escolar.
Assim, cabe à escola desenvolver novas habilidades para se tornar capaz de
formar alunos com senso crítico, reflexivos, autônomos e conscientes de
seus direitos e deveres, com compreensão da realidade econômica, social
e política do país e, principalmente, que saibam ler, escrever e tenham
conhecimentos de matemática.
106
POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
Exercícios
Figura 8
107
Unidade II
Educação inclusiva
Apesar dos esforços internacionais [...], a inclusão educacional ainda é um desafio presente em
escolas o mundo inteiro, pois existem divergências na forma como a inclusão é percebida, impedindo,
assim, que práticas e políticas inclusivas avancem.
II – A charge apresenta discurso antagônico ao texto, pois mostra uma situação de sala de aula
efetivamente inclusiva.
B) I e III.
C) I e IV.
D) I, III e IV.
108
POLÍTICA SETORIAL – EDUCAÇÃO
E) II e III.
Análise da questão
A charge e o texto mostram que faltam adaptações no ensino para que a educação seja, de fato,
inclusiva. O texto não critica a ação de escolas especializadas, apenas relata que atualmente a educação
de pessoas com deficiência é pensada de forma mais inclusiva.
Questão 2. Considere a conhecida frase do educador Paulo Freire e o capítulo “O vergalho”, do livro
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
(Paulo Freire)
O vergalho
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a
casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se
atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — “Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!“
Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque
Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a
bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim, nhonhô.
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, em quanto eu ia lá
embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!
109
Unidade II
Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjecturas. Segui caminho, a desfiar
uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom
capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o
episódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei‑lhe
um miolo gaiato, fino, e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas
recebidas, — transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e
desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos
braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se
desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera.
Vejam as sutilezas do maroto!
I – O episódio narrado no livro ilustra, por meio de elementos concretos, o desejo do oprimido se
tornar opressor.
Porque
Análise da questão
O episódio narra que o ex-escravo comprou um escravo para si e o castiga, da mesma forma como
fora castigado. Isso ilustra, com elementos concretos, a ideia de que o oprimido pode desejar tornar-se
opressor, e não acabar com a opressão.
110