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Capítulo 4

Fotointerpretação de Relevo Aplicada à


Cartografia Geológica
Rubens José Nadalin1

A fotointerpretação geológica utiliza-se de dois métodos distintos: Método Comparativo (ou


das Chaves) e Método Dedutivo (ou da Análise Lógica).
O Método das Chaves foi o primeiro a ser utilizado e baseia-se na elaboração de padrões com-
parativos, ou seja, no conhecimento prévio de estruturas ou feições geológicas em imagens aéreas
e na busca por feições similares. O Método Dedutivo tem como parâmetro a análise e separação de
faixas com posterior interpretação de seus significados geológicos.
O Método Dedutivo ou da Análise Lógica segue ideias e conceitos básicos introduzidos por
Guy (1966), Riverau (1970) e sistematizados por Soares e Fiori (1976), com algumas modificações e
adaptações.
O princípio básico da argumentação analítica e interpretativa, segundo esses autores, deriva
da geomorfologia: rochas e estruturas implicam necessariamente feições e formas com representação
especial nas imagens. Como corolário, uma análise apropriada das imagens permite sua interpretação
geológica.
1 Professor do Departamento de Geologia – UFPR.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Neste capítulo prioriza-se a utilização deste método, aplicando-o à análise e interpretação do


relevo2, com o objetivo de apresentar elementos que conduzam à elaboração de um mapa fotogeoló-
gico, conforme a sistematização de Soares e Fiori (1976)3.

4.1 Clima
O fator climático é um dos fatores a ser considerado quando se interpreta uma imagem, pois
exerce influência significativa no aspecto morfológico de como os maciços rochosos se dispõem em
uma fotografia aérea.
Em regiões de clima tropical úmido, por exemplo, o intemperismo químico atua de forma mais
acentuada do que nas regiões de clima seco, onde predomina o intemperismo físico. Assim, as formas
de relevo se mostram mais arredondadas em clima úmido, devido à maior espessura de solo, e com
cortes abruptos e angulares em clima seco.

maior intemperismo químico maior intemperismo físico

maior espessura do solo menor espessura do solo


Clima Clima
menor quantidade de
predominantemente maior quantidade de vegetação predominantemente
vegetação
úmido seco
menor exposição de rochas maior exposição de rochas

formas arredondadas formas abruptas e angulares

Em regiões de climas áridos e semiáridos, o trabalho de fotointerpretação é significativamente


facilitado, pois os menores contrastes geológicos são ressaltados devido à reduzida espessura do solo
e, consequentemente, a pouca ou escassa cobertura vegetal (figuras 4.1 e 4.2).

Figura 4.1 Arredores da cidade de Diamantina (MG). Figura 4.2 Imagem parcial de uma fotografia
O clima da região é tropical, modificado pela altitude aérea (Uruguai), clima predominantemente seco
entre 900 e 1600 m (fotografia Marcell Besser). (semiúmido), com espessura de solo reduzida e pouca
vegetação. Escala aproximada 1:25.000.

2 O Método Lógico aplicado à análise e interpretação da drenagem não é foco principal deste capítulo. Detalhes podem
ser encontrados no apêndice ao final deste capítulo ou em Soares e Fiori (1976).
3 Diversos fragmentos textuais e exemplos são retirados dessa publicação, com autorização dos autores.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Essa situação não é muito frequente no Brasil, pois a maior parte do território nacional possui
clima tropical e subtropical úmido, originando solos espessos e vegetação abundante (figuras 4.3 e
4.4), com exceções, como a região Nordeste4.
Figura 4.3
Região de clima
predominantemente
úmido (município de
Rio Branco do Sul -
PR), onde a atuação
do intemperismo é
acentuada, originando
solos espessos e,
consequentemente,
densa cobertura
vegetal.

Figura 4.4
Imagem parcial
de uma fotografia
aérea (ampliada) em
região de clima
úmido (município
de Cerro Azul – PR),
com acentuada
espessura do solo
e vegetação.
Escala aproximada
1:20.000.

4.2 Relevo
As diferentes formas do relevo constituem basicamente o resultado da resistência diferencial
à erosão diante do intemperismo, nos diferentes tipos litológicos, mas também dependem da combi-
nação de diversos elementos como estrutura e condições climáticas atuais e pré-atuais.
Uma mesma litologia poderá dar origem a diferentes formas de relevo, caso esteja em contato
com rochas mais ou menos resistentes. Na seção geológica esquematizada na figura 4.5, estão repre-
sentadas algumas rochas com diferentes resistências à erosão física e química (clima úmido5).
4 Região denominada de Tropical Semiárido Brasileiro (1.000.000 km²).
5 Essa relação não é válida para climas secos. As rochas carbonáticas, por exemplo, são bem mais resistentes aos
processos erosivos devido à ausência de água no ambiente.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.5
Feições esquemáticas de relevo
resultante da presença de litologias com
diferentes resistências aos processos
de intemperismo em regiões de clima
predominantemente úmido (A –
mármore; B – quartzito;
C – filito; D – diabásio).

Nesta situação, a rocha intrusiva (diabásio) normalmente irá formar crista ou vale caso as
encaixantes, por exemplo, sejam, respectivamente, mármores, geralmente menos resistentes ao in-
temperismo, ou quartzitos e filitos, geralmente mais resistentes.
Situação semelhante pode ser visualizada na figura 4.6. Na imagem aérea destaca-se uma ro-
cha intrusiva (dique de diabásio), com direção NW, cortando litologias diversas, onde predominam
filitos e quartzitos (canto superior esquerdo) e mármores (canto inferior direito).
Esta intrusiva, em contato com litologias encaixantes menos e mais resistentes, originou, res-
pectivamente no relevo, uma crista (delimitada na imagem pela cor verde) e um vale (cor azul).
Figura 4.6
(a) imagem parcial de uma fotografia aérea (município
de Rio Branco do Sul – PR) onde predominam rochas
metamórficas direcionadas para nordeste (N65E),
cortadas por diques de direção noroeste (N45W); (b) na
imagem foi destacado um desses diques onde pode-se
observar que essa intrusiva originou, respectivamente,
uma crista (indicada pela cor verde) e um vale
(indicado pela cor azul), quando em contato com
litologias menos ou mais resistentes.

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4.3 Fotointerpretação Geológica


A fotointerpretação geológica é uma atividade indispensável nos trabalhos de cartografia geo-
lógica, permitindo inferências e hipóteses razoáveis.
Apesar de não substituir os trabalhos de campo, visto que somente as observações diretas de
afloramentos podem avaliar o real significado geológico das feições separadas nas imagens, é de
fundamental importância principalmente em regiões de difícil acesso e de intemperismo acentuado.
De modo geral, o procedimento para elaboração de um mapa fotogeológico consiste no traçado
de lineações, de alinhamentos, de quebras topográficas, na verificação das assimetrias, na delimitação
de zonas fotolitológicas e finalmente na interpretação de seu significado geológico e geomorfológico.

4.3.1 Elementos de Fotoanálise e Fotointerpretação


Para melhor compreensão do tema, são listados a seguir diversos conceitos6 e propriedades
inerentes à fotoanálise que irão fornecer subsídios à fotointerpretação:

Elemento textural
É a menor superfície contínua e homogênea distinguível na imagem fotográfica. Deve ter for-
mas e dimensões definidas e ser passível de repetição.
Uma mudança de direção ou de forma, na linha de drenagem ou na superfície do relevo, cons-
titui uma mudança do elemento de textura ou textural.
Exemplo: um elemento textural pode ser a imagem de uma árvore ou de parte da árvore, de-
pendendo da escala da foto; ou a imagem de parte de uma drenagem ou do relevo (figura 4.7).

Figura 4.7 Imagem parcial de uma fotografia aérea (município de Ponta Grossa – PR) onde estão indicados diferentes
elementos texturais: (a) de vegetação – árvore; (b) de drenagem – segmento de rio; (c) de relevo – micro feição de
relevo. Escala aproximada das imagens 1:20.000.

6 O trabalho Lógica e Sistemática na Análise e Interpretação de Fotografias Aéreas, de Soares e Fiori (1976), contempla
esses e outros conceitos sobre o tema abordado neste capítulo.

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Textura
É o padrão de arranjo dos elementos texturais e representa a imagem de conjunto dada pela
disposição das menores feições que conservam sua identidade na escala da fotografia (figura 4.8).

Figura 4.8 Imagem parcial de uma fotografia aérea (município de Ponta Grossa – PR) onde estão representadas dife-
rentes texturas: (a) de vegetação; (b) de drenagem; (c) de relevo. Escala aproximada das imagens 1:20.000.

A textura depende de diversos fatores como porosidade e permeabilidade das rochas, forma
das encostas, clima, entre outros (figuras 4.9 e 4.10).

Figura 4.9
Parte de uma fotografia aérea ampliada
(município de Balsa Nova – PR) onde
pode-se observar a presença de duas
texturas de relevo distintas, uma lisa (A) e
outra rugosa (B). A presença de vegetação
não deve ser considerada nesta análise.
Escala original da fotografia aérea 1:25.000,
escala aproximada da imagem ampliada
1:15.000.

Figura 4.10
Parte de uma fotografia aérea ampliada
(município de Apiaí – SP), mostrando texturas
de relevo distintas, uma mais lisa (A), uma
intermediária (B) e outras mais rugosas (C e D).
Observar que a textura do relevo nas faixas D e
D1 é a mesma, o que as “diferenciam” é a presença
mais acentuada da vegetação (D1), que não deve
ser considerada na análise desta propriedade.
Escala aproximada 1:50.000.

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Estrutura
É o padrão de organização no espaço dos elementos texturais. O grau de estruturação refere-se
à regularidade de organização desses elementos, podendo ser fracamente estruturada, quando a lei
de ordenação é mal definida, pouco regular ou pouco precisa; ou fortemente estruturada, em caso de
disposição regularmente ordenada.
Exemplo: se uma árvore for um elemento textural, por analogia pode-se considerar uma flo-
resta como textura. A organização das árvores em um reflorestamento, por exemplo, representa a
estrutura desses elementos (figura 4.11).

Figura 4.11 Representação não geológica de alguns elementos de fotoleitura, fotoanálise e fotointerpretação.

Tonalidade
Refere-se ao brilho relativo ou a cor de objetos presentes em uma imagem aérea. A tonalidade
pode mudar de uma fotografia aérea para outra em função de diversos fatores como o material foto-
gráfico utilizado (filme, filtro, papel, etc.), o método de revelação, entre outros. Dessa forma, deve-se
confiar, sobretudo, nas variações das tonalidades dentro da mesma foto e esta, de preferência, com
pouca vegetação. É uma propriedade de difícil caracterização e que deve ser utilizada com cautela,
porém, em determinadas situações, pode auxiliar na separação das zonas fotolitológicas (figura 4.12).

Figura 4.12
(a) imagem parcial de uma fotografia
aérea ampliada (região andina chilena);
(b) nessa imagem foram selecionadas
diversas faixas (A, B, C, D, E, F) com
diferentes tonalidades. A vegetação
rala ou ausente possibilita uma melhor
verificação desses contrastes. Escala
aproximada da imagem 1:35.000.

Nas fotografias aéreas pancromáticas, a tonalidade pode variar do branco até o preto. Essa dife-
rença, além do efeito da sombra, é consequência de diversos fatores, entre os quais a composição
mineralógica e a quantidade de água presente nas rochas. Minerais como o quartzo e o feldspato,
quando presentes, refletem mais a luz incidente, enquanto outros, como os anfibólios e os piro-
xênios, têm comportamento oposto. As rochas e as argilas que absorvem ou retêm mais a água em
seu interior geralmente se tornam mais escuras, enquanto as rochas mais permeáveis tendem a
refletir tons mais claros. Na maior parte das vezes, a tonalidade reflete as propriedades do solo de-
senvolvido sobre a rocha: mais arenosos, mais claros; mais argilosos ou ferruginosos, mais escuros.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Lineação
É um elemento da imagem, com forma retilínea ou levemente curva (em arco), contida em um
único plano no espaço.
Salienta-se positivamente na visão estereoscópica e no terreno, com a forma de uma pequena
crista (lente), ou negativamente, como uma ranhura, sulco ou depressão (figura 4.13).

Figura 4.13
(a) parte de uma fotografia aérea, escala
1:60.000 (município de Tunas – PR); (b) na
imagem ampliada, estão marcadas algumas
das diversas lineações existentes no relevo.
As lineações positivas (em marrom) foram
identificadas como P1 (lineação retilínea) e
P2 (lineação em arco). As lineações negativas
foram identificadas (em azul ou vermelho)
como N1 (lineação retilínea) e N2 (lineação
em arco).

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

As lineações positivas normalmente são traçadas na imagem (transparência ou overlay), com


cor marrom e as lineações negativas nas cores azul e (ou) vermelha, conforme a sua classificação. No
conjunto são importantes porque indicam a direção de camadas, foliações, entre outras, e, em deter-
minadas situações (lineações em arco), indicam o rumo de mergulho das mesmas (Regra dos Vs7). São
divididas em feixe ou em série e um dos critérios de reconhecimento é a disposição delas na imagem.
As lineações em feixe se caracterizam por uma disposição paralela e de continuidade longitu-
dinal, comumente associadas ao acamamento ou foliação das rochas. A figura 4.14.a mostra um rele-
vo com pouca vegetação e solo, onde foi possível identificar e traçar com mais facilidade na imagem,
diversas lineações que ilustram esse conceito (figura 4.14.b e 4.14.c).

Figura 4.14
Lineações em feixe: (a) imagem parcial e
ampliada de uma fotografia aérea (município
de Cáceres – MT); (b) traçado em parte da
imagem das lineações positivas (em marrom) e
negativas (em azul) identificadas como feixe; (c)
representação do traçado dessas lineações. Pode-
se observar o paralelismo marcante entre elas,
onde a sua distribuição ocorre ao longo de uma
faixa (A) direcionada para nordeste, ou seja, a
mesma direção das lineações, o que caracteriza o
conceito de feixe. Escala aproximada da imagem
1: 20.000.

7 Para mais informações, ver capítulo Construindo e Interpretando Mapas Geológicos: item – Informações Necessárias à
Construção de Mapas e Seções Geológicas – Regra dos Vs.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

As lineações em série, também denominadas de transversais, são irregulares, mal distribuídas


e com variações no comprimento. Geralmente estão associadas a falhas e (ou) fraturas, normalmente
com uma ou duas direções preferenciais (figura 4.15).

Figura 4.15 Lineações em série: (a) imagem parcial e ampliada de uma fotografia aérea no município de Cáceres –
MT; (b) traçado das lineações negativas mais evidentes (em vermelho) na fotografia aérea, interpretadas como em
série, transversais ou paralelas, associadas a eventos tectônicos regionais; (c) quadro representando essas lineações;
(d) afloramento na Serra do Rio do Rasto, município de Lauro Mueller (SC), contendo arenitos (A) intercalados com
siltitos (B). Pode-se observar que os arenitos, por serem litologias mais competentes evidenciam, de maneira mais
clara, o tectonismo a que foram submetidos (faixa A1), ao contrário dos siltitos que ocorrem, por exemplo, na faixa
B1, onde esse registro fica pouco ou nada evidente (fotografia Fernando Mancini); (e) com base na distribuição das
lineações traçadas na fotografia aérea, foram individualizadas três faixas prováveis (A, B, e C), onde predominam
rochas mais competentes em relação às demais. A direção principal dessas faixas é para nordeste, enquanto que a
direção das lineações é preferencialmente para noroeste.
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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

As lineações positivas normalmente representam traços de acamamento ou camadas rochosas


mais resistentes. As lineações negativas, quando paralelas às positivas representam traços de aca-
mamento, porém, em determinadas situações, podem indicar, por exemplo, uma foliação.
As lineações negativas, parcialmente oblíquas às positivas, normalmente representam traços de
foliação ou de fratura. As lineações negativas, transversais às positivas e aos limites das zonas
homólogas ou fotolitológicas, indicam fraturas, pequenos diques menos resistentes à encaixante,
entre outras.

As lineações, por representarem acamamentos, foliações, fraturas, entre outras, podem ser
observadas em amostras de mão, em escala de afloramentos ou em imagens aéreas (figura 4.16). O
que difere nestes casos é a escala de observação e o grau de intemperismo (afloramentos e imagens).

Figura 4.16 Pode-se observar a presença do acamamento nas diferentes situações: (a) escala pontual; (b) escala de
afloramento (fotografias Marcell Besser); (c) escala regional (fotografia aérea).

Tropia
A tropia é a propriedade das lineações em feixe (positivas e negativas) se orientarem segundo
uma determinada direção. Uma quantidade elevada desses elementos ao longo de uma faixa indicará
uma tropia alta (A), como representada na figura 4.14.c.
À medida que esses elementos diminuem ou se tornam ausentes, a tropia diminui na mesma
proporção, ou seja, é classificada respectivamente como moderada (M), baixa ou nula (B) (figura
4.17).

A tropia reflete a propriedade dos elementos de relevo se orientarem segundo tendências ou


direções. Essa propriedade auxilia na definição de zonas fotolitológicas e tem como base as dife-
rentes quantidades e graus de orientação das lineações8.

8 Outras informações podem ser encontradas em Soares e Fiori (1976).

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.17
Tropia: (a) parte de uma fotografia aérea,
escala 1:25.000 (município de Colombo – PR);
(b) traçado das lineações em feixe (positivas e
negativas). Com base nesses elementos foram
individualizadas diversas faixas, limitadas pelos
traçados na cor verde, correspondentes às tropias
alta (A); moderada (M) e baixa (B).

Alinhamento

É uma estrutura retilínea ou levemente curva que se salienta no terreno, sob a forma de
crista ou vale, contido em um único plano (figura 4.18). Difere do conceito de lineação devido a
sua maior extensão longitudinal, podendo ser formado por um arranjo linear de várias lineações.
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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.18
Alinhamentos: (a) parte de uma
fotografia aérea, escala 1:60.000
(municípios de Colombo e
Almirante Tamandaré – PR);
(b) traçado de alguns alinhamentos
positivos retilíneos ou em arco (em
marrom) e negativos retilíneos ou
em arco (em azul e vermelho).

Da mesma forma que as lineações, os alinhamentos são traçados nas cores marrom (crista),
azul (vale - paralelo às lineações em feixe) ou vermelho (vale - oblíquo ou perpendicular às lineações
em feixe).

Os alinhamentos mais comuns são reflexos das estruturas das rochas. Essas estruturas são geral-
mente ocasionadas por processos tectônicos (diaclasamento, falhamento, gnaissificação), eventu-
almente podem ser atectônicas, como no caso de lineamentos originados pelo contato de rochas
com diferentes resistências.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Quando se identifica um determinado elemento fotointerpretativo (lineação, alinhamento,


falha, etc.) e o seu traçado na imagem aérea for retilíneo, é possível interpretar de início que o plano
deve possuir alto ângulo de mergulho (o que nem sempre é verdade), ao contrário de traçados sinu-
osos, que podem representar planos com ângulo de mergulho baixo.
Quanto mais ondulado for esse traçado, mais suave deverá ser o mergulho, portanto, pelo for-
mato do elemento traçado na imagem (Regra dos Vs9), é possível identificar o sentido do mergulho
de um plano (figura 4.19).

Figura 4.19
(a) imagem parcial de uma fotografia
aérea ampliada (região andina
chilena); (b) na imagem foi destacada
uma camada de pequena espessura
(pontilhada em verde) onde pode-se
observar a forma de um “V” (círculo
preto) na região do vale; (c) essa
situação, representada no bloco
diagrama, mostra o vértice do “V”
indicando o mergulho das camadas
para NW. Escala aproximada da
imagem 1: 25.000.

Quebra de relevo
Refere-se a uma mudança estruturada de declive do relevo, seguindo uma linha sinuosa que
liga sucessivas rupturas. Diferencia-se do alinhamento devido à sinuosidade. As quebras negativas
são formadas pelas rupturas de declive côncavas e as quebras positivas, pelas rupturas de declive
convexas. Desenvolvem-se por resistência diferencial à erosão e (ou) intemperismo, revelando dife-
rentes propriedades físicas e químicas do maciço rochoso (figura 4.20).
9 Para mais informações, ver capítulo Construindo e Interpretando Mapas Geológicos: item - Informações necessárias à
Construção de Mapas e Seções Geológicas (Regra dos Vs).

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.20
(a) imagem parcial de uma
fotografia aérea (município de
Balsa Nova – PR); (b) na imagem
foram traçadas duas quebras
topográficas, uma positiva (P),
bem definida (em marrom) e
outra negativa (N), não tão bem
definida (em azul) em função da
presença da vegetação, que a está
camuflando. Escala aproximada
da imagem maior 1:15.000.

As quebras negativas representam o limite entre as camadas mais e menos resistentes à erosão
podendo ser interpretadas como contatos fotolitológicos (figura 4.21).
O seu valor e significado geológico é tanto maior quanto mais contínuas estiverem e também
quanto maior for o seu paralelismo com uma quebra positiva.
As quebras positivas representam níveis de maior resistência à erosão dentro da mesma unida-
de fotolitológica e auxiliam em estudos estruturais.
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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.21
Quebras de relevo:
(a) fotografia aérea
ampliada, escala
aproximada 1:18.000
mostrando um
relevo tabular
(município de
Cândido Abreu – PR);
(b) identificação
das principais quebras
topográficas. Quando
bem definidas na
imagem, foram
identificadas com
um traço contínuo
em marrom (positivas)
ou azul (negativas) e,
quando não estão bem
definidas, a sua
identificação foi
feita com elementos
tracejados;
(c) seção geológica
esquemática
mostrando a relação
das quebras
topográficas
com os contatos ou
limites das zonas
fotolitológicas.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

As quebras de relevo podem ser definidas ou suaves (pouco ou mal definidas), como se ob-
serva na figura 4.22. A representação de qualquer quebra de relevo é marcada por traços contínuos,
tracejados ou pontilhados, quando bem, moderadamente ou mal definidas (figura 4.23).

Figura 4.22 Seções geológicas esquemáticas representando diferentes tipos de quebras de relevo: (a) linha de ruptura
é definida ( ); (b) linha de ruptura é mais suave ( ).

Figura 4.23
(a) imagem parcial de uma
fotografia aérea, escala 1:25.000
(município de Palmeira – PR); (b)
na imagem ampliada foram traçadas
algumas quebras topográficas
positivas e negativas bem definidas
(Q1), moderadamente definidas
(Q2) e mal definidas (Q3).

Em fotografias aéreas ou imagens de satélites normalmente podemos identificar inúmeras


quebras negativas de relevo. As mais importantes são aquelas que separam texturas ou formas de
encostas diferentes, indicando, assim, prováveis contatos entre litologias ou unidades geológicas dis-
tintas (figuras 4.24 e 4.25).

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.24 Parte de uma fotografia aérea (município de Cândido de Abreu – PR). Na imagem da direita foram
traçadas algumas quebras topográficas negativas (em azul) individualizando unidades geológicas diferentes (A e B).
Escala aproximada da imagem 1:25.000.

Figura 4.25 Visão geomorfológica das unidades A e B (município de Cândido Abreu - PR), correspondentes à ima-
gem aérea (figura anterior) onde se pode observar o contato entre elas (fotografia Ronile Hoeflich).

Zona homóloga
A zona homóloga representa uma área de agrupamento de elementos texturais e estruturais
com propriedades semelhantes. Os limites de uma zona homóloga normalmente coincidem com
uma quebra de relevo positiva e outra negativa, ou com um alinhamento (figuras 4.26 e 4.27).
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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.26 Representação de diferentes zonas homólogas de relevo, limitadas por quebras topográficas positivas (em
marrom) e uma negativas (em azul).

Figura 4.27 Fotografia aérea ampliada (município de Cáceres – MT) onde estão indicadas zonas homólogas de rele-
vo diferentes (A e B), limitadas pelas quebras de relevo positiva (marrom) e negativa (azul). Escala aproximada da
imagem 1:15.000.

Zona fotolitológica
Um dos principais objetivos na fotointerpretação geológica é a identificação e a correta separa-
ção das zonas fotolitológicas, pois elas devem representar as diversas unidades geológicas existentes.
Os limites de uma zona fotolitológica normalmente coincidem com uma quebra de relevo
negativa (figura 4.28), porém, em determinados casos, essa situação pode não ocorrer, como nos
contatos transicionais ou encobertos.

Figura 4.28 Representação de uma zona fotolitológica de relevo, limitadas por quebras negativas (em azul).
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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

De maneira geral, a separação entre zonas fotolitológicas, como também acontece com as
zonas homólogas, pode ser definida (representada com um traço contínuo), aproximada (tracejado
maior) ou inferida (tracejado menor ou pontilhado), separadas de acordo com uma maior ou menor
exposição dos elementos fotointerpretativos, como se pode observar na figura 4.29.
Figura 4.29
Zona fotolitológica: (a) parte de
uma fotografia aérea (município
de Cáceres – MT); (b) imagem
ampliada mostrando quatro zonas
fotolitológicas (A, B, C, D) e seus
respectivos limites (em verde)
definidos (traço contínuo) e
aproximados (tracejados).
Escala aproximada 1:30.000.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Para auxiliar na definição de uma zona fotolitológica, um dos objetivos principais da fotoin-
terpretação, deve-se levar em conta os diferentes elementos observados na imagem tais como:
lineações, alinhamentos, quebras topográficas, formas das encostas, tropia, textura e tonalidade.
Com essas faixas identificadas e, consequentemente traçadas, o passo seguinte é a interpretação
estrutural, em que são inseridos na transparência os possíveis dobramentos e (ou) falhamentos
encontrados.

Em determinadas situações, os limites de uma zona homóloga podem coincidir com os limites
de uma zona fotolitológica, ou seja, duas quebras negativas consecutivas (figura 4.30).

Figura 4.30 Limites de zonas homólogas (ZH) e fotolitológicas (ZF).

A forma como o relevo se apresenta em determinada região está diretamente ligada à resis-
tência das rochas. Relevos mais acentuados implicam litologias mais resistentes aos processos intem-
péricos/erosivos e relevos mais planos, o contrário. Essa propriedade é bastante útil no processo de
separação das zonas fotolitológicas (figura 4.31).
Figura 4.31
Representação de
um perfil topográfico
esquemático. Foram
individualizadas cinco
zonas fotolitológicas
principais (a-e).

A resistência das rochas à erosão depende da composição mineral, granulometria, compactação,


estrutura, entre outros. Com isso, rochas diferentes vão se comportar de modo distinto perante os
processos erosionais, proporcionando relevos com diferentes alturas, formas e perfis de encostas.

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Em determinadas situações, quando uma zona homóloga e (ou) fotolitológica e seus limites
são interrompidos bruscamente por um limite de outra zona homóloga e (ou) fotolitológica ou por
um alinhamento que a torna descontínua; é possível que se trate, em termos de fotointerpretação, de
discordâncias, intrusões ou falhas (figura 4.32).
Figura 4.32
Zona fotolitológica: (a) parte de uma fotografia
aérea (município de Cáceres – MT); (b) imagem
ampliada onde foram identificadas lineações
(feixe e série), alinhamentos, quebras de relevo e
as principais zonas fotolitológicas (A-J). Observar
o truncamento abrupto da zona fotolitológica
C (leste –oeste) pela zona fotolitológica F
(nordeste). Essa interrupção, indicada na imagem
com um traço vermelho, pode representar a
presença de uma possível falha ou discordância.
Escala aproximada 1:30.000.

Assimetria de relevo
A assimetria do relevo é definida em função do ângulo de declividade entre duas zonas homó-
logas consecutivas (A e B), cujo vértice é a quebra de relevo positiva.
Essa propriedade fornece informações importantes, principalmente sobre a atitude dos planos
estruturais das rochas.
132
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

A disposição das cristas (lineações e alinhamentos positivos) possibilita verificar a direção da


camada (figura 4.33). A encosta de menor declividade (α1) indica o sentido de mergulho do plano
(perpendicular à direção).
Dessa forma, quanto maior for a diferença entre as declividades das encostas adjacentes, mais
assimétrico será o relevo e, consequentemente, menor será o ângulo do mergulho e, de forma con-
trária, quanto mais simétricas forem as encostas mais verticalizados serão os mergulhos (figura 4.33).
Figura 4.33
O plano representado pela
zona homóloga A, tem
baixo ângulo de mergulho
(α1), ao contrário da zona
homóloga B, onde o ângulo
de mergulho é elevado (α2),
caracterizando um relevo
moderadamente assimétrico.

É possível classificar o grau de assimetria de quatro maneiras:


●●Assimetria forte: quando uma zona homóloga horizontal a sub-horizontal se opõe a uma zona ho-
móloga fortemente inclinada (figura 4.34).

Figura 4.34 Assimetria forte. Camadas horizontais a sub-horizontais (de 0 – 5°). A representação à direita fornece
uma ideia da disposição das camadas na imagem aérea. Escala aproximada da imagem 1:20.000.

133
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

●●Assimetria moderada: quando duas zonas homólogas justapostas possuem declives elevados e são
visivelmente diferentes em relação à densidade de elementos textura de relevo (figura 4.35).

Figura 4.35 Assimetria moderada. Camadas pouco inclinadas (em torno de 10 a 30°). O desenho à direita nos fornece
uma noção da disposição das camadas na imagem aérea. Escala aproximada da imagem 1:15.000.

●●Assimetria baixa: quando as duas zonas homólogas justapostas apresentam declives aproximada-
mente iguais, mas se diferenciam na densidade de elementos texturais (figura 4.36).

Figura 4.36 Assimetria fraca. Camadas mais inclinadas (em torno de 40 a 65°). O desenho representa a disposição das
camadas na imagem aérea. A quantidade de elementos de relevo normalmente é mais acentuada na zona homóloga
B do que na zona homóloga A. Escala da imagem 1:15.000.

134
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

●●Assimetria nula (simétrica): quando as duas zonas homólogas possuem declives similares e não se
diferenciam na textura de relevo (figura 4.37). Quanto mais verticalizada estiver a camada, mais
difícil é identificar a direção de mergulho dela, como no caso de hogbacks fortemente inclinados
ou verticais.

Figura 4.37 Assimetria nula. Camadas muito inclinada ou verticais (em torno de 70 a 90°). O desenho nos dá uma
noção da disposição das camadas na imagem aérea. Escala aproximada da imagem 1:15.000.

4.3.2 Mapa Fotogeológico


Uma vez caracterizados os principais elementos de fotoanálise e caracterizadas as zonas fotoli-
tológicas de relevo e seus limites, a etapa seguinte é a interpretação da imagem e, consequentemente,
a elaboração do mapa fotolitológico.
Durante o processo de análise e interpretação, é importante ressaltar que quanto maior o grau
ou intensidade de determinada feição ou estrutura, maior a possibilidade de ela não ser casual. A
integração das diversas feições e propriedades, analisadas em conjunto, fornece informações mais
precisas sobre as diferenças litológicas e feições estruturais existentes na imagem aérea.

A metodologia a ser adotada para elaboração de um mapa fotogeológico consiste no traçado das
lineações em feixe e em série, dos alinhamentos e quebras topográficas positivas e negativas, na
verificação das assimetrias, na delimitação das zonas fotolitológicas e na interpretação.

Na sequência, estão representadas três imagens aéreas interpretadas. Foram traçados os princi-
pais elementos fotointerpretativos como lineações, alinhamentos, quebras topográficas, entre outros.
A partir dessas informações foram construídos os mapas fotogeológicos com as respectivas seções.
A primeira imagem é uma região de rochas horizontalizadas, medianamente fraturadas (figura
4.38). A segunda imagem é um relevo contendo uma sequência de dobramentos anticlinais e sin-
clinais (figuras 4.39 e 4.40). A terceira imagem é uma região de uma tectônica mais complexa, onde
foi identificado um dobramento sinclinal (com algumas falhas de baixo ângulo em seu interior). Na
135
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

mesma foto foi interpretada uma falha transcorrente truncando o flanco direito da dobra (figuras
4.41 e 4.42). Posteriormente, trabalhos de campo irão verificar as relações entre o mapa fotolitoló-
gico e a geologia da área.

Figura 4.38 Mapa fotogeológico: (a) parte de uma fotografia aérea (município de Palmeira – PR) contendo rochas se-
dimentares horizontalizadas (escala 1:25.000); (b) principais elementos fotolitológicos: alinhamentos negativos (em
vermelho) e quebras topográficas, negativas (em azul) e positivas (em marrom), traçadas de forma contínua quando
bem definidas e tracejadas quando aproximadas; (c) mapa fotolitológico. As cores são aleatórias e representam dife-
rentes zonas fotolitológicas; (d) seção geológica esquemática.
136
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.39
Fotoanálise e
fotointerpretação: (a) parte
de uma fotografia aérea
(escala aproximada 1:80.000)
mostrando uma sequência
de camadas inclinadas e
dobradas (município de
Cáceres – MT); (b) principais
elementos fotolitológicos
traçados: lineações positivas
(em marrom), lineações
negativas em feixe (em azul)
e em série (em vermelho)
e quebras topográficas
negativas (em azul). O
traçado dessas quebras
levou em consideração as
diferenças existentes entre
a textura e (ou) forma de
encosta; (c) interpretação
dos elementos fotolitológicos
identificados. As lineações e
alinhamentos em arco, tanto
positivas como negativas,
mostram as atitudes
aproximadas das camadas
(Regra dos Vs). As quebras
topográficas negativas
representam os limites entre
unidades fotolitológicas
distintas (em verde).
Com essas informações,
foi possível interpretar
a presença de diferentes
unidades litológicas e uma
sequência de dobramentos
anticlinais e sinclinais (eixo
das dobras em laranja).

137
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.40
Mapa fotogeológico: (a) imagem
parcial de uma fotografia aérea; (b)
mapa fotogeológico elaborado a partir
da análise e interpretação da imagem.
As feições em arco representadas
no mapa indicam as atitudes das
camadas; as cores correspondem
às diferentes zonas fotolitológicas
e os eixos, aos diferentes tipos de
dobramentos; (c) seção geológica
esquemática A-B.

138
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.41
Fotoanálise e fotointerpretação: (a) parte
de uma fotografia aérea (escala 1:60.000)
mostrando uma sequência de camadas
dobradas e falhadas (município de Cáceres –
MT); (b) principais elementos fotogeológicos
traçados: lineações em feixe positivas (em
marrom) e negativas (em azul), lineações
em série negativas (em vermelho), quebras
topográficas de relevo positivas (em marrom)
e negativas (em azul); (c) os arcos marcados
na imagem indicam as atitudes das camadas
(regra dos Vs). As quebras negativas, as
mudanças bruscas na direção das lineações
em feixe e das texturas presentes na imagem,
auxiliaram na definição dos limites (em
verde) das diferentes zonas fotolitológicas. O
truncamento de algumas dessas zonas, bem
como a mudança no sentido de mergulho e
(ou) direção das lineações em feixe, indicam
a presença de tectonismo no local.

139
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.42
Mapa fotogeológico: (a) parte
da imagem de uma fotografia
aérea; (b) mapa fotogeológico
elaborado a partir da análise e
interpretação da imagem. As
feições em arco representadas
no mapa indicam as atitudes
das camadas; as cores
correspondem às diferentes
zonas fotolitológicas. Essas
informações embasaram a
interpretação e traçado das
falhas (em vermelho) e do
dobramento (eixo da dobra em
marrom); (c) seção geológica
esquemática A-B.

140
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Apêndice

Conceitos de fotoanálise aplicados à drenagem


Na metodologia de extração de uma rede de drenagem a partir de imagens aéreas, devem ser
traçados todos os elementos, desde os de primeira ordem. Entende-se como de primeira ordem, os
primeiros e menores sulcos de escoamento superficial, perenes ou não.

“O simples fato do aluno de geologia ou profissional da área traçar a rede de drenagem a partir
de uma fotografia aérea, já se torna importante, na medida em que os elementos vão sendo iden-
tificados, principalmente cristas e vales, criando uma imagem tridimensional do relevo para o
fotointerprete” (Alberto Pio Fiori10).

Esse procedimento poderá fornecer informações relevantes, principalmente no auxílio da


identificação das variações litológicas e estilo estrutural de uma área, especialmente em regiões onde
a presença de vegetação seja acentuada, dificultando a visualização do relevo.
Um elemento importante é o padrão ou textura da drenagem11, ou seja, a forma ou arranjo de
como os elementos texturais estão dispostos.
Para realçar as propriedades mais importantes a serem analisadas e (ou) diminuir eventuais
erros no traçado, aconselha-se reduzir o calque (transparência) da drenagem originalmente traçada
em até 70%. Esse procedimento normalmente é feito com auxílio de cópia reduzida (xerox).
Sobre essa redução, normalmente apresentada em papel branco, são feitos os procedimentos
inerentes à análise e interpretação.

Sistemática
A sistemática deste método consiste no traçado das lineações e alinhamentos, da análise das
assimetrias12, na identificação, separação e classificação das zonas homólogas, e, posteriormente, na
atribuição do significado geológico.
Essa sistematização segue principalmente as ideias de Soares e Fiori13 (1976), com adaptações.
Para exemplificar esses conceitos foi selecionado um conjunto de fotografias aéreas em uma
região onde predominam rochas metamórficas de baixo grau.

10 Professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná.


11 Esses e outros conceitos relativos à fotointerpretação estão relacionados no início deste capítulo.
12 As assimetrias de drenagem, quando possíveis de serem analisadas, são mais bem verificadas em terrenos pouco dobrados.
13 Diversos fragmentos textuais e exemplos são retirados dessa publicação, com autorização dos autores.

141
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

A partir dessas imagens foi traçada a rede de drenagem na porção central da fotografia aérea
(figura 4.43).

Figura 4.43
Rede de drenagem
elaborada a partir
de fotografias
aéreas na
escala 1:25.000
(município de
Colombo – PR).
Este desenho
foi reduzido
em relação à
transparência
original em torno
de 40%.

●●Lineações
Os segmentos menores de drenagem, retilíneos, normalmente variando entre três e dez milí-
metros de comprimento na escala adotada, são caracterizados como lineações, podendo ser classifi-
cados como lineações em feixe ou em série.
As lineações em feixe14, normalmente mais importantes, porém nem sempre evidentes, se
caracterizam por uma disposição mais paralela e de continuidade longitudinal.
Por serem elementos normalmente mais curtos, direcionados e paralelos entre si, estão rela-
cionados ao acamamento ou foliação das rochas, dessa forma, costumam estar posicionados paralela-
mente à direção das principais zonas homólogas de drenagem (figura 4.44).
As lineações em série15, também denominadas transversais, são normalmente multidirecio-
nais, espaçadas e irregulares e, quase sempre, dispostas em ângulo em relação à direção das lineações
em feixe ou das zonas homólogas. Estão relacionadas com fraturas e (ou) falhas (figura 4.45).

14 Para representar uma lineação em feixe é indicado que ela tenha no mínimo três milímetros na escala adotada.
15 Para representar uma lineação em série é indicado que ela tenha no mínimo cinco milímetros na escala adotada.

142
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.44
Lineações em
feixe: (a) desenho
esquematizando
o conceito dessas
lineações (em azul).
Observar que elas estão
estruturadas ao longo
de uma determinada
direção (NE) e com
paralelismo marcante;
(b) subdivisão da
rede de drenagem em
seis faixas distintas
com base na maior
ou menor exposição
dessas lineações.
Todas as lineações
em feixe, marcadas
em azul, encontram-
se direcionadas para
nordeste.

Figura 4.45
Lineações em
série: (a) desenho
esquematizando o
conceito das lineações
em série, que, ao
contrário das lineações
em feixe, normalmente
estão presentes em
maior quantidade, são
irregulares, dispostas
nas mais diversas
direções (normalmente
com uma ou duas
direções preferenciais);
(b) representação dos
principais segmentos
de drenagem em série
(em vermelho), com
uma tendência de
direção para noroeste,
principalmente na faixa
central do traçado (A).

143
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

●●Alinhamentos
Os segmentos de maior extensão longitudinal, retilíneos ou em arco, constituem os alinha-
mentos de drenagem, que, da mesma forma, podem ser definidos como em feixe, quando paralelos
às lineações em feixe, ou em série (figura 4.46.a). Outros alinhamentos são importantes e, caso ocor-
ram, devem ser marcados, como por exemplo, os alinhamentos de nascentes de primeira ordem16
(figura 4.46.b) e (ou) de cotovelos de drenagem (figuras 4.47).

Figura 4.46
Exemplos de
alinhamentos: (a) em
feixe (azul) e em série
(vermelho); (b) de
nascentes de primeira
ordem (marrom).
Calque ou transparência
original reduzido 50%
em relação ao tamanho
original.

16 Nascente é o lugar onde o canal se inicia e, para ser de primeira ordem, não deve correr nenhuma junção de outro rio
ou tributário.

144
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Na análise de uma rede de drenagem deve-se utilizar as cores apropriadas para representar todos
os elementos identificados, como por exemplo, azul para as lineações e alinhamentos em feixe;
vermelho para as lineações e alinhamentos em série ou transversais; marrom para os alinhamen-
tos de nascentes e (ou) de cotovelos e o verde para os limites das zonas homólogas.

●●Zonas homólogas
As zonas homólogas de drenagem são constituídas por elementos texturais, com formas e pro-
priedades semelhantes, e que se repetem ao longo de uma determinada faixa17 (figuras 4.47 e 4.48).
Nesse processo, são importantes os alinhamentos de drenagem, de nascentes e (ou) de cotovelos,
que normalmente constituem limites entre diferentes zonas homólogas.

Figura 4.47 Rede de drenagem: (a) traçado esquemático de uma drenagem; (b) representação dos alinhamentos de
nascentes (1), de cotovelos (2) e de drenagem (3); (c) indicação das zonas homólogas de drenagem (A,B,C) e seus
respectivos limites (em verde).

Figura 4.48
Identificação
das principais
zonas homólogas
de drenagem,
considerando as
repetições e (ou)
semelhanças dos
elementos texturais
ao longo de uma faixa.
Os limites foram
traçados em verde
(traço contínuo quando
melhor definido e
tracejado quando
menos evidente).

17 Para caracterizar uma zona homóloga de drenagem é aconselhável que ela contenha um mínimo de quatro elementos
texturais.

145
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

As zonas homólogas podem ser classificadas conforme a densidade, a forma, a tropia e, por
último, pela densidade das lineações transversais ou em série (nessa ordem), onde, cada uma dessas
propriedades é classificada com as letras A, M, B, que significam, respectivamente: A – alta; M – mo-
derada; B – baixa.
A densidade de drenagem é dada pelo maior ou menor número de elementos de drenagem em
uma determinada área. É um parâmetro relativo a cada área de estudo (figura 4.49).

Figura 4.49
Diferentes
densidades de
drenagem.

densidade alta – A densidade moderada – M densidade baixa – B

A segunda propriedade utilizada na classificação está diretamente relacionada com a forma


de como os elementos de drenagem se encontram. Conforme a geometria dessa junção, podemos
classificar as zonas homólogas como alta (α1 = ângulos superiores a 90 graus), moderada (α2 = ângulos
próximos a 90 graus) ou baixa (α3 = ângulos inferiores a 90 graus), conforme pode ser observado na
figura 4.50.

Figura 4.50
Classificação das
diferentes formas
de drenagem.

Alta – A Moderada – M Baixa – B

A tropia reflete a propriedade dos elementos de drenagem orientarem-se segundo tendências


ou direções. Ela é considerada alta quando existe uma forte orientação das lineações em feixe em
uma determinada direção. À medida que essa orientação fica menos evidente e (ou) em menor nú-
mero, a tropia, da mesma maneira, se classifica, respectivamente, como moderada ou baixa (figura
4.51).
Figura 4.51
Classificação das
diferentes tropias
de drenagem
levando em
consideração a
quantidade e,
principalmente,
a orientação das
tropia alta – A tropia moderada – M tropia baixa – B lineações em feixe.

146
Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

A última classificação leva em conta somente a densidade das lineações em série ou transver-
sais (figura 4.52) e, a exemplo das outras propriedades, também são classificadas como alta, moderada
ou baixa.

Figura 4.52
Classificação da
densidade das
lineações em série.

densidade alta – A densidade moderada – M densidade baixa – B

Dessa forma, com base nessas propriedades e nos diferentes padrões texturais, podemos indivi-
dualizar e classificar as diferentes zonas homólogas existentes em um traçado da rede de drenagem,
como pode ser observado na figura 4.53.

Figura 4.53
Exemplo de classificação de
zonas homólogas:
A = AMAA (A = densidade
alta; M = forma moderada;
A = tropia alta; A =
densidade de lineações
tranversais alta);
B = BMBB (B = densidade
baixa; M = forma moderada;
B = tropia baixa; B =
densidade de lineações
tranversais baixa);
C = AMAM (A = densidade
alta; M = forma moderada;
A = tropia moderada; M
= densidade de lineações
moderada alta);
D = MAMM (M =
densidade moderada; A
= forma alta; M = tropia
moderada; M = densidade
de lineações tranversais
moderada).

As assimetrias de drenagem, principalmente em regiões onde o caimento das camadas é baixo,


podem indicar os mergulhos das camadas. Essa propriedade é verificada pela diferença de densidade,
extensão e angularidade dos afluentes, entre os dois lados de um alinhamento negativo e que para
ele convirjam.
Podem ser classificadas como forte, quando as três características se diferenciarem; modera-
da, quando a drenagem se diferenciar por apenas duas características e fraca quando se diferenciar
somente com uma característica. Quando as drenagens forem simétricas, a assimetria é nula (figura
4.54).

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Fotointerpretação de Relevo Aplicada à Cartografia Geológica

Figura 4.54 Assimetrias de drenagem ao longo de um alinhamento negativo. (a) assimetria forte (densidade, extensão
e angularidade diferentes); (b) assimetria moderada (densidade e extensão diferentes); (c) assimetria baixa (extensão
diferente); (d) assimetria nula ou simétrica (densidade, extensão e formas similares).

A representação da assimetria (indicação do mergulho da camada) é marcada próximo ao ali-


nhamento negativo, no sentido do fluxo das drenagens mais longas (figuras 4.54 e 4.55). A análise
de simetria só deve ser feita quando houver drenagem em ambos os lados de um determinado ali-
nhamento.

Figura 4.55 Relação entre camadas dobradas e suas respectivas assimetrias de drenagem. A direção do mergulho das
camadas (a) é indicada pelo sentido de escoamento dos rios maiores (b).

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