A depressão é um transtorno mental que se caracteriza por sentimento
de tristeza e/ou perda de interesse em atividades que em anteriormente eram
prazerosas. Esse transtorno pode resultar em uma série de problemas emocionais e físicos e também pode levar a diminuição da capacidade de uma pessoa manter suas atividades rotineiras normais no trabalho e em casa.
No Brasil, 5,8% da população sofre com a depressão, afetando um total de
11,5 milhões de brasileiros. É o país com maior prevalência de depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
A depressão é uma das doenças que mais afasta pessoas do mercado de
trabalho. No ano de 2016, 75,3 mil trabalhadores brasileiros foram afastados de suas atividades por causa da depressão e representaram 37,8% de todas as licenças ocasionadas por transtornos mentais e comportamentais, incluindo também o estresse, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo de álcool e cocaína.
A depressão maior é conhecida por ser acompanhada de uma ativação das
respostas imunoinflamatórias. Pacientes com depressão maior apresentam aumento no número de leucócitos sangüíneos periféricos, incremento da razão CD4 + /CD8 +, elevação na concentração plasmática de proteínas de fase aguda, como a haptoglobina e a proteína C reativa, diminuição na resposta celular a mitógenos, redução do número de linfócitos e da atividade de células NK, alteração na expressão de antígenos, além de um aumento nos níveis sangüíneos de citocinas pró-inflamatórias e seus receptores, tais como IL-6 e IL-23,6. Devido á esses parâmetros, tem-se sugerido que o aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias e um desbalanço na resposta Th1 /Th2 poderiam desempenhar um papel significativo na fisiopatologia da depressão. Por causa desses achados, diversas teorias têm implicado a depressão como um fenômeno psiconeuroimunológico.
O termo depressão é utilizado para descrever vários transtornos relacionados,
como, o transtorno depressivo maior, transtorno depressivo persistente e transtorno disfórico pré-menstrual.
O transtorno depressivo maior ou grave é caracterizado pela fase em que a
pessoa fica deprimida na maior parte do dia por, no mínimo, duas semanas, podendo dar a impressão de extrema infelicidade, com olhos cheios de lágrimas, sobrancelhas franzidas e os cantos da boca voltados para baixo. É possível que ela se sinta extremamente desanimada, evite contato visual e praticamente não se mova, mostrando pouca expressão facial e conversando de forma monotônica. Durante o transtorno depressivo persistente, a pessoa fica deprimida a maior parte do tempo por dois anos ou mais. Ela pode apresentar tristeza, pessimismo, descrença, perda do senso de humor e incapacidade de se divertir. Algumas são passivas, sem energia e introvertidas. Os sintomas normalmente acontecem durante a adolescência, podendo durar anos ou décadas. A quantidade de sintomas varia e, às vezes, os sintomas são mais leves que os da depressão grave ou maior.
Existe também o transtorno disfórico pré-menstrual. Os sintomas graves
normalmente acontecem antes da maioria dos períodos menstruais e desaparecem quando terminam. São semelhantes aos da síndrome pré- menstrual, mas a gravidade é maior, causando grande angústia e interferindo no desempenho de funções no trabalho e interações sociais e assim como acontece em outros tipos de depressão, mulheres com esse transtorno podem perder o interesse em suas atividades normais, ter dificuldade para se concentrar e se sentir cansadas e sem energia, comer em excesso ou ter compulsão por certos alimentos e também podem dormir pouco ou muito.
Os médicos usam alguns termos especificadores para descrever sintomas
específicos que podem ocorrer em pessoas com depressão, podendo ser classificados em: Angústia ansiosa – quando a pessoa se sente tensa e, normalmente, inquieta, podendo apresentar dificuldade de concentração; Mista – quando a pessoa apresenta três ou mais sintomas de mania que incluem sentimentos de exuberância e/ou extrema autoconfiança, falar mais que o normal, dormir pouco e pensamentos acelerados; Melancólica – quando a pessoa não sente mais prazer em nenhuma das atividades de que gostava anteriormente, parecendo vagarosa, triste e desanimada, fala pouco, para de comer e perde peso, sentindo-se culpada e geralmente acorda cedo e não consegue voltar a dormir; Atípica – quando a pessoa se anima temporariamente, tem aumento do apetite, que resulta em ganho de peso, pode dormir longos períodos e é excessivamente sensível à crítica ou rejeição, podendo se sentir oprimida; Psicótica – quando a pessoa tem delírios e crenças errôneas, geralmente de ter cometido pecados ou crimes imperdoáveis, de sofrer de doenças incuráveis ou constrangedoras ou de estar sendo observada ou perseguida. Podem acontecer alucinações, como, vozes de acusação de delitos ou de condenação à morte; Catatônica – quando pessoa fica muito isolada, atos de pensar e falar se tornam mais lento até o ponto de todas as ações voluntárias serem reprimidas; Sazonal – quando acontece episódios de depressão todos os anos em um período específico, normalmente com início no outono ou inverno e término na primavera. A pessoa fica vagarosa, perdendo o interesse nas atividades cotidianas, dorme e come em excesso. O diagnóstico consiste basicamente na avaliação de um médico e em exames para identificar doenças que podem causar a depressão.
É possível que o médico faça o diagnóstico de uma depressão a partir dos
sintomas. É utilizado listas específicas de sintomas e critérios para diagnosticar os diferentes tipos de transtornos depressivos. Histórico familiar ou antecedentes de depressão ajudam na confirmação do diagnóstico.
A depressão pode ser confundida com transtorno de ansiedade ou demência,
por isso são utilizados questionários padronizados para ajudar a identificar a depressão e determinar a sua gravidade, mas não podem ser usados isoladamente. Alguns exemplos desses questionários são a Escala de Avaliação da Depressão de Hamilton (entrevistador faz as questões em voz alta), e o Inventário da Depressão de Beck (questionário auto administrado). Também existe o questionário da Escala de Depressão Geriátrica que é aplicado aos idosos. O médico também pergunta existe qualquer pensamento ou plano de causar lesões a si mesma. Esses pensamentos indicam a gravidade da depressão.
O tratamento consiste basicamente em apoio, psicoterapia, medicamentos,
principalmente antidepressivos que incluem inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRSs), antidepressivos mais modernos (Inibidores de recaptação de noradrenalina- dopamina (bupropiona), moduladores de serotonina (como mirtazapina e trazodona), inibidores de recaptação de serotonina- noradrenalina (como venlafaxina e duloxetina)), antidepressivos heterocíclicos, inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) e em alguns casos também pode ser feito eletroconvulsoterapia, em que são colocados eletrodos na cabeça do paciente e é aplicada uma corrente elétrica para induzir uma convulsão no cérebro e por razões desconhecidas, a convulsão alivia a depressão.
Conclusão
A depressão é uma doença que começa silenciosamente e aos poucos afeta
toda a vida do indivíduo, psicologicamente, fisicamente, emocionalmente e socialmente. Hoje já existem várias formas eficazes de tratamento, como os fármacos e a terapia, que ensina competências de resolução de problemas para situações de stress e ansiedade e são essenciais no processo de cura. Ter um estilo de vida saudável, realizando exercícios físicos regularmente, aprendendo técnicas de relaxamento, como Yoga e meditação e mantendo uma alimentação saudável pode evitar a depressão e também contribuir positivamente durante o processo de cura. REFERÊNCIAS
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