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ABERTURA DE SÉRIE.
APRESENTAÇÃO DE ELENCO
(Ouve-se o sinal.)
“Absurdo, fim da picada, etc...”. Clima tenso. Whitaker muta todos os microfones.
Pausa. Professores param de falar.
Os professores na tela apoiam. “Boa, Alvaro! Não tá fácil, experimenta pra ver o que
é, etc...”
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O Incômodo dos professores
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Novos protestos na tela dessa vez censurando a grosseria. “Pega leve, vai começar
de novo, etc...”. Whitaker muta todos os microfones. Pausa. Professores param de
falar.
Amigos ou colegas?
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ALVARO – Ótimo. Vamos perguntar também por que não recebemos o dissídio da
categoria estabelecido pelo sindicato depois que a Sociedade Mantenedora
aumentou a mensalidade dos alunos.
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ALVARO – Ótimo! Se a Sociedade Mantenedora sabe tanto sobre a inflação
acumulada, então ela sabe que o nosso salário está defasado!
Protestos gerais. “Eu disse, era só o que faltava, etc...”. Whitaker muta todos os
microfones. Pausa. Professores param de falar.
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OLIVÉRIO – Essa aqui, até onde eu sei, é uma reunião extraordinária, Whitaker.
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OLIVÉRIO – Nunca as nossas reuniões foram tão bem definidas.
Reuniões (extra)ordinárias?
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FERNANDA – Claro que tem! O Danilo levantou, o Olivério deu a cortada! O humor
é uma ciência matemática!
(Todos protestam de novo. “Essas duas não param, pelo amor de Deus, etc.”)
Whitaker muta todos os microfones. Pausa. Professores param de falar.
Round 1 F x M: Alfinetada
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WHITAKER – Por favor! Como é que vocês querem falar do bem comum se não
existe uma convivência harmoniosa aqui dentro?
MARIANA – Vamo todo mundo calar a boca e deixar o Whitaker falar sobre a falta
de diálogo?
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WHITAKER – Eu quero repetir a pergunta pra cada um individualmente, começando
pela Magda e depois passando pela Mariana e assim por diante...
desarmonizados.com
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WHITAKER – Então, vamos lá: Magda, o que mais te incomoda nesse momento?
Protestos gerais: “não é disso que ele está falando, de novo esse assunto, etc”.
Whitaker muta todos os microfones. Pausa. Professores param de falar.
MAGDA – Os dois estavam trancados no quarto e minha filha ainda está na oitava
série.
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ALVARO – Um minuto! Podemos retomar o foco? Porque o que tá claro é o
seguinte: nós somos professores! Não estamos falando de infelicidade e sim de
exaustão! Não dá pra confundir uma coisa com a outra!
Protestos. “De novo, Magda? Porra, obsessão, etc...” Whitaker muta todos os
microfones. Pausa. Professores param de falar.
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FERNANDA – Tá errado.
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FERNANDA – De que vida pessoal você tá falando? Aqui ninguém pára em casa!
WHITAKER – Nós temos que pensar nessa escola como uma grande embarcação.
Se eu sou uma vela, cada um de vocês é um remo! Tá na hora de vestir a camisa e
entender que o coletivo se sobrepõe!
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ALVARO – Mas é que esse teu linguajar de mundo corporativo é insuportável! Isso
aqui é uma instituição de ensino e não uma corretora de seguros, porra!
WHITAKER – E estão putos, por quê? Vocês ganharam uma máquina de café
importada da Itália!
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MAGDA – Eu fiz as contas! Se eu tomo três cafezinhos, que é o mínimo que eu
preciso por período de trabalho, isso tudo no fim do mês representa mais de
duzentos reais no meu orçamento!
OLIVÉRIO – Ai!
ALVARO – Whitaker, você avise a Sociedade Mantenedora que nós vamos boicotar
essa máquina de café até devolverem o nosso café coado!
WHITAKER – Você fala isso porque não provou o café com essência de canela que
é o meu preferido: Fratello Capuchim!
Não quero pagar pelo café! OU Me devolve meu café aguado, porra!!!
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WHITAKER - Inclusive, por isso, a Dona Silvana irá falar com todos vocês daqui a
pouco.
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MAGDA - Os rumores estavam certos!
MAGDA - A Dona Silvana só aparece nessa escola quando um de nós vai ser
demitido!
A predadora capitalista: Dona Silvana.
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MARIANA - Deve ter sido mesmo, já que ela tentou se matar depois disso.
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“Um brinde a Teresa: A professora demitida por ser bêbada
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WHITAKER - A Dona Silvana vem porque hoje é uma data especial, ou vocês se
esqueceram?
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(INSERTE CLOSE DE ROSTO DE PROFESSORES)
WHITAKER - Claro que eu disse, mas, como sempre, ninguém deu a mínima pro
palhaço aqui!
ALVARO - Ninguém deu a mínima porque esse tipo de evento comemorativo é uma
bobagem!
WHITAKER - A Sociedade Mantenedora não concorda com você e quer que essa
data seja reverenciada a partir de hoje conforme manda a tradição!
WHITAKER - Aliás, Magda, eu quero que você faça a introdução do hino nacional.
MAGDA - Oi?
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WHITAKER - Nunca! Isso aqui é uma escola de tradição e a gente vai cantar o hino
de fio a pavio. E não se preocupem que eu vou mandar a secretária puxar a letra do
hino completa na internet pra gente ler aquela parte do "lábaro que ostentas" que
ninguém nunca sabe de cor, mesmo.
MAGDA - Pelo amor de Deus, Whitaker! A única coisa que eu sei tocar na flauta
doce é ''Asa Branca"!
ALVARO (indignado.) - Calma, nada, Fernanda! A Magda tem todo direito de ficar
nervosa porque é o que eu estou falando faz tempo! Além das aulas, nós somos
obrigados a assumir funções que não nos dizem respeito! Ou não é um absurdo que
a Magda tenha sido escalada pra ensaiar um número musical sem formação na
área?
MAGDA - Pra tocar o hino na frente dos alunos eu preciso de um tempo pra praticar,
Whitaker!
WHITAKER - Ok, boa piada! Agora vamo finalizar essa conversa que a gente tem
muito o que fazer ainda! Fechando a programação, depois do hino, a Dona Silvana
vai dizer algumas palavras e a cantina vai servir cachorro quente de graça pra todo
mundo, inclusive pra vocês! Olha só que mordomia! Vai ser uma farra! Alguém tem
mais alguma proposta?
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ALVARO - Whitaker. Você começou essa reunião querendo discutir as relações
dentro da equipe e agora tá finalizando com a programação de um evento
mequetrefe?
WHITAKER- Mundo moderno, meu querido! São muitas pautas dentro de uma
mesma reunião.
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WHITE BOARD – DO ZOOM – JÁ COM A FRASE MODIFICADA - "Por quê que eu
vim?"
WHITAKER (lendo.) - "Por quê que eu vim?" Quem escreveu essa bobagem no
lugar da minha frase?
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DANILO - Todos vocês são testemunhas do meu drama! A Suely desabafa com a
minha colega de trabalho que agora fica me tratando mal, achando que eu sou um
canalha!
MARIANA - Quem sou eu pra julgar, não é mesmo? Eu só dou bons conselhos pra
Suely, como, por exemplo, ficar de olho em você!
Fiscal do casamento alheio.
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TODOS VÃO SE LEVANTANDO PARA ARRUMAR A SALA PARA A CHEGADA
DOS ALUNOS.
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ALVARO (ENCARANDO A CAMERA E SE APROXIMANDO) - A lista é grande,
Whitaker! A Silvana vai ter que nos ouvir! Nós somos professores brasileiros e
temos todos os motivos do mundo pra reclamar!
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ENTRA OLIVÉRIO NO ZOOM
OLIVÉRIO - Vai começar de novo...
FERNANDA - Tudo bem, Alvaro! Enquanto não vem esse aumento, eu vou te pagar
um café da máquina nova.
ALVARO - Não, não, não, não, não e não! Nós temos que boicotar essa máquina,
Fernanda! Você acha isso justo? Antes, nós tínhamos uma cafeteira aqui à nossa
disposição! Agora, somos obrigados a pagar dois reais pra beber um cafezinho
miserável nessa máquina nojenta! Pagar pelo nosso café é uma indignidade! Isso
também tem que ser dito pra Dona Silvana!
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OLIVÉRIO - Eu estou me aprimorando como professor! Eu não tenho alternativa a
não ser me aprimorar como professor se eu pretendo ser um professor até o final da
minha vida!
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ENTRA DANILO
MARIANA - O que que você estava fazendo que demorou tanto para entrar na
reunião, Danilo?
FERNANDA - Também.
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OLIVÉRIO (impaciente, mostrando o livro na câmera.) - Silêncio, por favor! Esse
tópico é complicado!
ALVARO - Tópico complicado? Você tá lendo "Biologia Básica, Volume 2", Olivério!
“Um tópico complicado” Vol. I
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Entra Magda, nervosíssima no Zoom.
MAGDA - Porque ela me deixa louca! O celular tocou duas vezes no meio da
aula! Eu tava me segurando, mas aí ela se recusou a copiar as fórmulas que
eu coloquei na lousa porque disse que depois tirava uma foto! Aí eu disse:
“então, fotografa agora, Olívia”! Peguei o celular e taquei no meu copo d'água!
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Todos aplaudem.
DANILO - Eu sempre sonhei em fazer isso com aquela folgada, mas nunca tive
coragem.
MAGDA - Foi quando a Olívia disse que ia fazer um vodú contra mim.
MAGDA - Brincando onde? (TIK TOK OLIVIA) Aquele cabelo azul! Aquela acne
disseminada naquela pele albina! A Olívia é uma bruxa!
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FERNANDA - Eu vou levar uma água pra você...
MAGDA – Não precisa. Não tô reclamando, não! Acho bom que eles fiquem
revoltados! Eu prefiro a Olívia Bertholini possessa comigo do que dormindo na
carteira!
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MARIANA - Eu não pego metrô porque eu tenho carro!
MAGDA (num berro) - Será que não existe um pingo de coleguismo aqui dentro?
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OLIVÉRIO - Daqui a pouco chega! Quando o ano começa, eu sei que o ano vai ser
longo. Ao mesmo tempo, todos os anos que eu passei lecionando passaram
voando. Desde que virei professor, minha vida tem sido assim: longa e rápida.
Vida longa, férias curtas.
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ALVARO - Opa! Cadê a Dona Silvana, Whitaker? Você disse que ela iria falar com
a gente no intervalo!
WHITAKER - A Dona Silvana não pode vir porque ela está num compromisso
profissional.
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WHITAKER - Ela conseguiu um encaixe pra retocar a escova no cabelereiro.
OLIVÉRIO - Seria ótimo conversar com ela na hora do almoço, se a gente não
almoçasse nessa hora.
ALVARO - Acho que não, Whitaker, porque eu andei conversando com a equipe
entre uma aula e outra e a nossa lista de reivindicações tá cada vez maior!
WHITAKER - E é por isso que eu estou aqui! Vamos excluir alguns itens porque a
Dona Silvana tem pouco tempo já que ela quer preparar um discurso pra ser lido
depois da execução do hino nacional que a Magda vai tocar.
MAGDA - Fofa?
Reunião com Silvana: cabelo antes e professores depois.
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WHITAKER - Quem me troca uma nota de cinquenta pra eu pegar um cafezinho ali
no corredor?
FERNANDA - Pois é! Esse é um dos itens da lista! Cortar o cafezinho foi uma puta
sacanagem!
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TRILHA DE INVESTIGAÇÃO
WHITAKER – Não falei que foi você, Fernanda, falei que foi alguém.
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FERNANDA – Alguém que poderia ser eu!
WHITAKER – Danilo!
INSERTE DE DANILO COLOCANDO O CLIPS NA MÁQUINA DE CAFÉ)
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DANILO – Eu tava doido por um café, mas tava sem dinheiro. Aí, eu coloquei um
clipe no bucal e o café saiu de graça.
DANILO – Desculpa.
MAGDA – Como é que você não ensina esse tipo de esquema pros seus colegas
de trabalho?
WHITAKER – Eu sinto muito, Danilo, mas vou ter que encaminhar seu caso pra
Comissão Disciplinar da Sociedade Mantenedora.
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WHITAKER (levantando-se e caminhando pela sala.) – Eu me sinto profundamente
envergonhado por vocês e desde já eu convoco uma reunião extraordinária e não
remunerada para a discussão desse ato ilícito incompatível com... (escutando a
Magda mandar áudio para Danilo. Todos escutam)
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MAGDA - Uma aluna vai fazer um vudú contra mim! Tá bom pra você?
ALVARO – Calma, Magda. Se desejar o mal de professor desse certo, tava todo
mundo aqui aposentado por invalidez.
Intolerância Religiosa
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OLIVÉRIO – Essa escola nunca mais vai ter um professor como o Antônio!
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DANILO – Desculpa, mas eu quero lembrar que eu entrei no lugar do Antônio.
WHITAKER – E daí?
DANILO – Daí que todo mundo sempre coloca o Antônio nas nuvens, mas ninguém
fala nada do meu trabalho!
FERNANDA – Sim! O que é uma injustiça porque o Danilo tem muito carisma com
os alunos!
ALVARO – Dá!
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ALVARO – Quem desrespeitou o Antônio foi a Sociedade Mantenedora, quando
mandou o Antônio embora!
ALVARO – Ainda assim, foi uma injustiça! Porque o Antônio sequelado é melhor do
que qualquer um de nós com boa saúde!
TODOS – Viva!
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WHITAKER – Ok! Todo mundo desabafou, podemos voltar a falar do que realmente
interessa?
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WHITAKER – Mas agora eu vou te escutar, Danilo! Eu e toda a comunidade
escolar! Porque eu pensei que seria bacana dar uma animada no nosso evento de
aniversário…
Eles se aproximam
Já não se escondem,
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Pisam nas flores,
WHITAKER – Muito bem, chega! Mudei de idéia. Ninguém vai declamar porcaria
nenhuma! Vai do hino nacional pro cachorro quente e fim de papo!
Um poema bonito
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WHITAKER – Porra! Dá ponto negativo, mas não destrói o celular da menina! Era
um IPhone?
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O afogamento do celular, Parte II
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WHITAKER – Muito bem, Danilo. Obviamente você não está bem do ponto de vista
emocional. Isso não seria um problema, mas na última semana você chegou
atrasado quatro vezes e, nesse caso, quem se prejudica são os alunos.
FERNANDA – O Danilo chega atrasado, mas se propõe a ficar até mais tarde!
DANILO – Vai ser ótimo sair dessa escola pelo bem da minha saúde física e mental!
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FERNANDA - Chega! Eu estou sendo perseguida por essa mulher e esta situação
está ficando insustentável, Whitaker!
FERNANDA – Chega! Eu cheguei no meu limite! Who do you think you are? Who
do you think I am? A clown? A stupid clown? (LEGENDA: “Quem voce pensa....)
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DANILO - Eu não tenho estrutura emocional pra lidar com esse tipo de pressão! Eu
fiz o curso de letras! Eu desenvolvi a minha sensibilidade entrando em contato com
os maiores autores da humanidade!
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OLIVÉRIO - Eu tenho um texto pra ler antes de dar a minha aula pro segundo
colegial! Ou será que ninguém mais tem respeito por um professor que quer fazer o
seu trabalho direito?
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MARIANA - Você com essa mania de leitura enche o saco, Olivério!
WHITAKER- Pelo amor de Deus! O que que está acontecendo aqui entre vocês?
Alguém vai atrás da Fernanda pra oferecer um copo d'água!
Mariana se levanta.
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DANILO (seboso, se aproximando de Whitaker.) - Whitaker! Me escuta! Eu preciso
falar com a Silvana pessoalmente!
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Todos precisam de psicólogo OU Quer psicólogo, bem?
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ALVARO - O que nós precisamos é definir a nossa lista de exigências que...
FERNANDA- Eu nunca deixei de dar uma aula por conta de nenhum problema
pessoal meu, Whitaker. Nem quando morreu a minha avó! Os alunos tinham exame
de segunda época, eu saí do crematório e vim ministrar a prova...
MAGDA - Eu sei. Ano passado, eu cremei minha cachorra e vim dar reposição de
trigonometria!
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OLIVÉRIO - Mais uma aula. Há trinta anos eu levanto da cadeira assim que toca
um sinal.
DANILO - Vamos lá! Vamos lá! Eu gosto de lecionar pra adolescentes! Eu dialogo
bem com os adolescentes ...
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CENA 3- “Se a educação não for provocativa, não constrói, não cria, não se
inventa, só se repete.”
(Sérgio Cortela)
Logo após o almoço. Todos fazendo ações em suas salas, menos Danilo e
Fernanda. Olivério lê seu livro e faz anotações num caderninho Continua apagando
o desenho do cérebro.
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ALVARO - Vamo lá! Daqui a pouco eu vou promover mais uma aula interativa onde
só eu abro a boca! Tô querendo fomentar o debate em sala de aula, mas os alunos
não falam nada! Eu insisto porque a ignorância precisa sair do pedestal, como se
ela fosse uma espécie de antídoto para o sofrimento na carona daquela teoria que
diz "não sei, então eu não sofro"! Eu amo esses alunos! E eu quero que eles saibam
e eu quero que eles sofram! É o melhor que eu posso fazer por eles!
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MAGDA - Esse meu descontrole com a Olívia foi sintomático! Há vinte anos que eu
ensino as mesmas coisas e sempre do mesmo jeito. Até os meus esporros nos
alunos, eu conheço de cor. Eu sempre uso as mesmas palavras, as mesmas
inflexões. Há vinte anos eu falo as mesmas coisas. E repito. As mesmas coisas.
Repito, repito, repito e repito. As mesmas coisas! As mesmas coisas! Como é que
eles me aguentam?
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ALVARO - Nós temos que aproveitar que o Whitaker não entrou na reunião pra
entrar num acordo sobre o que nós vamos exigir da Dona Silvana! E olha... Tem que
ser todo mundo junto! Porque a união é a nossa força!
ALVARO - Foda-se! Vamo seguir em frente que aqueles dois não acrescentam
muito, mesmo! Eu, honestamente, acho que um dos nossos maiores problemas é
que existe um número absurdo de horas extraclasse que são consumidas em
assuntos de caráter administrativo que não nos dizem respeito!
ALVARO - Eu reclamo disso também! Pra organizar uma simples festa junina, as
nossas reuniões foram intermináveis!
ALVARO (puto.) - Com cadeia não se brinca, porra! Eu sou professor de História!
Você sabe quantas pessoas foram torturadas nos porões da ditadura?
MAGDA - Bom, já que o assunto é tortura, eu quero dizer que eu não vou mais
participar da Comissão do Livro Didático porque a Comissão Financeira presidida
pelo Olivério me sabota!
OLIVÉRIO - Eu não tenho culpa! A Comissão Financeira perdeu verba depois que
foi sabotada pela Comissão de Matrículas, presidida pela Mariana.
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ALVARO - Um minuto! Um minuto! É o que eu tô dizendo! Por conta das
Comissões, estamos chafurdados em disputas políticas mesquinhas que
representam um desgaste desnecessário dentro da equipe!
MAGDA - Já fiz e não compensa! O dissídio ficaria em seis por cento e a Comissão
é sete e meio!
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MAGDA – Do que está falando, Danilo?
DANILO – Essa é a genialidade da frase. Eu falo das duas coisas. O amor que
alimenta e salva ao mesmo tempo...
MARIANA – Vamo ver se a boia te salva agora, Danilo. Porque tua mulher telefonou
e eu disse que você estava no almoxarifado, junto com a Fernanda.
MARIANA – Ah, estava! Eu vi! Eu fui pegar as bexigas pro aniversário da escola e lá
estava você, conferindo o material didático...
FERNANDA – Qual é seu problema, Mariana? What the hell? What the hell? What
the… (LEGENDA...)
DANILO (possesso) – Escuta aqui, Mariana! Eu aguentei demais! Agora você vai ter
que me ouvir!
A bóia furada
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OLIVÉRIO (enfiando a cara no livro) – Será que eu poderia ter um pouco de paz
para preparar a minha aula, pelo amor de deus?
WHITAKER – Acho que não, Olivério! A Dona Silvana já está na escola, resolvendo
questões administrativas na secretaria e dentro de poucos minutos vai estar aqui
com vocês. Magda, você ainda está almoçando???
WHITAKER – Nossa reunião não é refeitório, Magda! Daqui a pouco você vai usar o
quê de guardanapo? A lista de chamada?
A bóia da Magda
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WHITAKER – Apaga essa merda! É o meu que tá na reta! Eu sou o diretor dessa
escola e não consigo saber o que vocês querem da Sociedade Mantenedora!
Acabei de levar uma chamada da Dona Silvana porque ela acha que não tenho
controle sobre a minha equipe!
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INSERTE WITHAKER LEVANDO CHAMADA DE D. SILVANA... PROPOSTA
ADRIANO)
MARIANA – Eu não tive culpa! Pergunta pro Danilo porque não tem bexiga!
DANILO – Eu... Decidi que eu quero declamar um texto! Sobre a morte! É do Edgar
Allan Poe: “Enterrado Vivo”!
WHITAKER (apagando o White board) – Problema seu, saco! Quanto mais rápido
for esse evento, melhor pra todos nós!
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ALVARO – Whitaker! Nós decidimos que precisamos de uma nova reunião entre os
professores pra definirmos a nossa lista de exigências...
WHITAKER – Não há mais tempo! Vocês discutem o tempo todo e não chegam a
lugar nenhum! Pra mim, chega! Eu não vou aliviar pra ninguém! Daqui a pouco a
Dona Silvana está aí pra conversar cinco minutos com vocês! É o tempo que ela
tem!
ALVARO (indignado) – Cinco minutos pra conversar com o corpo docente que dá o
sangue por essa instituição? Isso é uma indignidade!
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WHITAKER – Eu já tô com o saco na lua! Porque enquanto você estão no bem-bom
dando aula, as bombas estão estourando na minha mão!
INSERTE WITHAKER....
MAGDA (em pânico) – Os boatos da demissão! É por isso que a Dona Silvana veio!
Whitaker sai.
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OLIVÉRIO – Chega! Isso é o fim da picada Eu tenho trinta anos de magistério pra
ser tratado desse jeito!
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OLIVÉRIO – Eu sou um professor! Eu ainda sou um professor! Alguém precisa dizer
na cara desta mulher que nós não aceitaremos mais esse tipo de tratamento!
OLIVÉRIO – A escolha não vai ser sua, Danilo! Nós somos igualmente tratados feito
lixo, mas a questão é que o professor é indispensável!
Todos aplaudem.
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WHITAKER – Ok. Dona Silvana não vem. Mas ela quer falar com você, Olivério.
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FERNANDA – Muito obrigada, Danilo! Eu pus os bofes pra fora e você não foi nem
ver como eu estava! Aliás, ninguém foi me socorrer! (INSERTE DA FERNANDA NO
BANHEIRO DEPOIS DE VOMITAR) Eu poderia ter me afogado no meu próprio
vômito, como a vocalista do The Mamas and the Papas, mas vocês simplesmente
não se importam! Aliás, ninguém se importa com ninguém aqui dentro! Em que tipos
de seres humanos vocês se transformaram, hein? What kind of human beings,
mother fuckers? (LEGENDA....)
Ninguém responde. Misto de tristeza com tensão. Toca o sinal. Apaga-se a luz.
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CENA 4- “A leitura do mundo precede a leitura da palavra” "É necessário
cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a
achar que tudo é normal”
DANILO – Como você percebeu, essa é uma situação muito delicada, Mariana. Eu
nem estou preocupado comigo. Eu só não quero que a Fernanda seja exposta.
MARIANA – Eu gostaria que você soubesse que eu me sinto com a obrigação moral
de relatar a baixaria que testemunhei no almoxarifado à Sociedade Mantenedora. E
se eu não fiz isso até agora, é por uma questão de respeito à Suely, que é minha
amiga de longa data e que ficará mal falada depois que essa sujeira toda vier à
tona!
DANILO (numa explosão) – Chega Mariana! Você me viu com a Fernanda! Agora
você já sabe! O que que você está esperando para ligar para minha mulher? Liga!
Vai ser um favor! Conta tudo! Porque essa carreira e esse meu casamento são
mentiras que eu acumulo na minha vida! Mas o vento da mudança está soprando
através dos seus lábios! Anda! Denúncia! Vai ser bom pra mim! Eu preciso de uma
ruptura definitiva pra chafurdar no sofrimento e colher a matéria-prima do meu
romance! A arte genuína nasce da dor! Todos os grandes escritores foram
sofredores convictos, então a infelicidade é produtiva! Vai! Liga pra Suely e
consolida a sua vingança contra mim, já que você me odeia tanto!
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DANILO – Eu queria. Eu quero. Eu não tive culpa. Eu...
MARIANA (altiva) – As coisas vão mudar profundamente aqui dentro dessa escola,
Danilo. E sua vida também, eu garanto. Mas, pra que a pressa? Vamos aguardar o
rumo dos acontecimentos...
Covardia de um vitimista.
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MAGDA - Escuta aqui, Mariana! Eu não vou entrar mais no seu jogo porque eu sou
uma pessoa que valoriza a harmonia, o entendimento e o amor! Eu valorizo o amor,
tá ouvindo, sua filha da puta?
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OLIVÉRIO (sentando-se à mesa e abrindo um livro) – Nada. Ela apenas queria me
parabenizar pelo trabalho.
OLIVÉRIO – Pois deveria. Eu fiz por merecer. Trinta anos de magistério! Trinta anos
apostando na transformação do ser humano e na melhoria do mundo por
consequência! Eu me olho no espelho e me pergunto: “cadê aquele viço, cadê
aquela beleza espanhola?”. Tudo se esvaiu em trinta anos dedicados ao futuro do
Brasil. E daí? Foi um investimento! Quem colhe é o mundo! Qual o problema? Isso é
a mais pura abnegação! Vocês não acham que eu mereço os parabéns por tudo
isso?
MAGDA – Se tem alguém aqui que merece os parabéns, esse alguém é você,
Olivério!
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OLIVÉRIO – Ninguém aqui é mais agressivo do que você com suas lamúrias,
Danilo.
DANILO – Eu estou vivendo uma fase terrível na minha vida pessoal, Olivério!
OLIVÉRIO – Isso não te dá o direito de ser chato! Todo mundo sofre, mas todo
mundo esconde o sofrimento! O sofrimento dissimulado é o mínimo que se pode
esperar de um ser humano decente!
DANILO – Eu exijo que você me respeite! Aliás, eu exijo respeito de todo mundo! Eu
sou um professor desse colégio!
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OLIVÉRIO – Você pode saber muito de literatura, mas não sabe nada sobre ser um
professor! (elevando a voz.) Porque saber é uma coisa e ensinar é outra!
DANILO (agressivo) – Escuta aqui! Eu não vou ser tratado dessa maneira por um
professor que faz tempo que não ensina nada direito pra ninguém!
OLIVÉRIO (avançando, possesso.) – Eles tem razão. Eu tô confuso agora. Não sei
se te dou uma porrada ou se te cuspo na cara!
Entra Fernanda.
OLIVÉRIO (se contendo) - Eu estou ótimo. Meu trabalho foi reconhecido. Não que
eu precise! Minha filosofia sempre foi não esperar o reconhecimento. Mas se o
reconhecimento vem, eu estou no lucro. Agora, com licença que eu preciso preparar
a minha aula.
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OLIVÉRIO – Mas por que todo mundo fica me perguntando isso? Eu nunca estive
melhor!
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FERNANDA – Eu fui falar com a Regina da Contabilidade e ela estava puxando a
sua ficha!
Entra Whitaker.
OLIVÉRIO - Por que ninguém me deixa em paz? Eu só quero preparar a minha aula
para daqui a pouco!
WHITAKER – Nós combinamos que seria melhor você ir embora por hoje, Olivério!
OLIVÉRIO – Nós combinamos que eu iria fazer aquilo que fosse o melhor para os
alunos.
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DANILO – Por que ele e não eu?
OLIVÉRIO (com o rosto no livro) – Parece que vou ter que antecipar meus planos.
ALVARO – Olivério! Como é que você se sujeita a preparar uma aula depois de ter
sido demitido?
WHITAKER – Olivério... Eu quero dizer que eu sempre fui contra sua demissão...
ALVARO – Muito bem, Whitaker! Acho que o mínimo que essa mulher deve ao
corpo docente é uma satisfação imediata sobre os motivos que levaram à saída do
Olivério!
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WHITAKER (num berro.) – Muito bem. Eu explico. (recobrando o controle.) No início
do ano, a Sociedade Mantenedora encomendou uma pesquisa de desempenho do
corpo docente à Education Workers Performance Institute levando em conta
critérios de aproveitamento, barra, nota, barra, presença.
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Toca o sinal.
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MAGDA – Whitaker, me desculpa. Eu não vou conseguir tocar flauta depois de uma
notícia dessas!
WHITAKER – Não se preocupe com isso, Magda. Dá o tom que o pessoal vai na
capela.
OLIVÉRIO – Depois do evento, eu tenho que dar aula pro terceiro colegial!
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OLIVÉRIO – Eu vou.
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OLIVÉRIO - Eu lembro. Fui eu que fiz essa proposta.
ALVARO - Pois bem. Aconteceu. Você foi demitido. Agora, ninguém mais trabalha!
WHITAKER - Você não está bem, Olivério! Seria uma irresponsabilidade minha
permitir que você assuma as suas atividades nesse estado!
OLIVÉRIO - Eu não estou bem? Olhe pra sua equipe, Whitaker! Um se comporta
como um sindicalista de porta de fábrica na Sala dos Professores. A outra, tem
medo de vudú! Uma faz da vida do asmático depressivo um inferno e aquela ali tá
vomitando a cada dez minutos! O único em condições de assumir as próprias
atividades sou eu! Aliás, assumir as minhas atividades nesse momento é a única
coisa que eu posso fazer por mim mesmo pra não enlouquecer!
ALVARO - Não faça isso, Olivério! Estamos todos em greve por você a partir de
agora!
ALVARO - Serão mesmo! Porque pela primeira vez, nós vamos ser ouvidos!
WHITAKER - Você fica onde está, Olivério! E vocês, saiam de onde estão!
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MAGDA - Eu preciso que alguém decida por mim! Todas as decisões que eu tomo
por mim mesma são sempre equivocadas!
ALVARO (noutro grito.) - O Olivério perdeu a razão junto com o emprego! E nós
estamos seguindo pelo mesmo caminho!
OLIVÉRIO (quase num surto.) - Eu quero dar aula! Eu fiquei até às três da manhã
fazendo o desenho do brontossauro, porra!
WHITAKER (ficando de pé em frente à câmera.) - Você não está bem e sabe muito
bem disso!
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OLIVÉRIO - Há trinta anos eu me levanto da cadeira assim que toca um sinal. Se eu
não levantar agora, eu não levanto nunca mais!
ALVARO - Daqui ninguém sai, eu já disse! Nós precisamos chegar num acordo!
FERNANDA - Um minuto! Eu tenho uma proposta! Vamos lá pra fora! A gente canta
o hino nacional e antes do discurso da Silvana, comunicamos aos alunos que o
Olivério foi demitido.
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ALVARO (possesso.) - Não! Eu perdi a contundência do meu discurso porque eu
me aburguesei no medo de perder esse emprego! Mas um homem não pode ser a
contradição entre aquilo que ele pensa e aquilo que ele faz! Eu andava quieto
demais porque antes qualquer um me desmascarava! Mas agora, eu vou lutar pelo
o que acredito que é certo aqui dentro! E o certo é o Olivério continuar nessa
equipe!
WHITAKER - A Dona Silvana prometeu que vai conversar com todos vocês no final
do dia!
ALVARO - Mentira! Ela não vai conversar nada! O máximo que ela vai fazer é
mandar outro recado através de você, Whitaker e disso nós já estamos de saco
cheio! A Silvana tem que nos escutar, porque se hoje é o Olivério, amanhã qualquer
um de nós também pode ser vítima de uma injustiça!
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MARIANA - Fala logo de uma vez, Olivério!
MARIANA - Vocês não repararam? O Olivério esquece tudo. Por isso esse esforço
na preparação das aulas! As mesmas aulas que ele dá há trinta anos e que, agora,
ele precisa recapitular todo santo dia antes de entrar na sala de aula!
OLIVÉRIO (aflito.) - Claro que não! Se eu esqueço alguma coisa é por conta do
estresse da profissão, coisa que qualquer professor está sujeito! Isso é o... Eu sou
como qualquer um que... Eu...
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FERNANDA - É por isso que vamos lá fora, cantar o hino pra você!
OLIVÉRIO - Não! Eu não preciso que os alunos saibam que eu fui demitido! Eu não
quero despedidas! Eu não quero ninguém me olhando como se eu fosse um
coitado!
OLIVÉRIO - Mas eu não sou amado! Quem disse que eu sou amado? Eu nunca me
senti amado! Eu sou somente um professor! Pra mim, o reconhecimento é
secundário! Tudo o que eu quero é cumprir com as minhas obrigações!
ALVARO (lágrimas nos olhos.) - Nós vamos lá fora, cantar o hino nacional, lado a
lado, como símbolo da nossa união!
TODOS - Êêêê!
EMOJI DE ABRAÇO
Celebração de professor.
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WHITAKER- Mas agora eu ordeno que vocês fiquem nas suas salas!
ALVARO - Faça o que você quiser, Olivério! Mas agora, a gente vai lá fora, cantar o
hino, mesmo que isso custe o emprego de todo mundo aqui dentro!
ALVARO- Muito bem. Nós estamos esperando, Whitaker. Mas diga pra Dona
Silvana não demorar, porque a nossa paciência se esgotou…
WHITAKER - A secretaria é aqui do lado. Eu vou e volto com ela num minuto, eu
prometo.
FERNANDA - Calma, Olivério. Você não vai ser demitido. Nós vamos resolver essa
situação.
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Quem espera sempre alcança… a Silvana.
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OLIVÉRIO - Essa aí conversou com a Silvana. Ela tem conversado muito com a
Silvana ultimamente.
ALVARO - Muito bem, Mariana. Você passou o dia inteiro insinuando coisas! O que
que tá acontecendo?
ALVARO - Você tá escondendo alguma coisa! Você não pode fazer isso! Você é
uma de nós!
MARIANA (num suspiro.) - Bom. Daqui a pouco vocês vão saber também. O
Whitaker é outro que vai ser mandado embora.
MARIANA - Quando eu fui comunicada que vou ser a nova diretora do Colégio Nova
Vanguarda…
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Choque.
MARIANA - Ainda não. E eu peço que vocês não falem nada antes de segunda-
feira. A Silvana é muito humana e quer que o Whitaker passe um final de semana
tranquilo com a família.
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FERNANDA - Calma aonde? Isso aqui já estava um inferno! Imagina depois que a
Mariana virar diretora!
FERNANDA - Medir minhas palavras, por quê? Pra mim, isso tudo acabou! Com
você no comando, eu cheguei ao fim da linha!
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FERNANDA - Pois muito bem! Eu vou embora! O Danilo também já disse que quer
sair. Vamos, Danilo? Vamos, Olivério! Quem mais vem com a gente? Álvaro?
Magda? Ou vocês acham que existem condições de continuar trabalhando num
lugar como esse?
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FERNANDA - Ei?
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ALVARO - O que aconteceu?
ALVARO - Isso não pode estar acontecendo... a porta da minha sala está trancada.
DANILO (batendo na porta.) - Parem com essa brincadeira! Eu exijo que vocês
parem com essa brincadeira!
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DANILO - Cala a boca com as suas piadas, Olivério! Eu tenho que sair daqui!
DANILO - Calma onde? Eu não posso ficar preso em lugar nenhum! Até quando eu
uso o banheiro, eu deixo a porta aberta!
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ALVARO - Não seja ingênua, Magda! Os alunos não tem nada a ver com isso! Nós
fomos trancados pelo Whitaker porque tudo o que ele quer é que o teatro da escola
harmoniosa seja representado pra Dona Silvana nesse evento ridículo!
OLIVÉRIO - O ingênuo aqui é você, Álvaro! O Whitaker é um fraco. Ele jamais teria
coragem de trancar a gente! Ele sabe que as consequências seriam terríveis pra
ele!
OLIVÉRIO - Nem o Whitaker, nem a Olívia! Quem nos trancou nas nossas salas foi
a Dona Silvana!
MARIANA - Não seja ridículo! A Silvana jamais faria esse tipo de coisa! Isso é uma
insanidade!
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OLIVÉRIO - Essa experiência já foi feita numa escola da França em 1976! A direção
proibiu a entrada dos professores pra que os alunos pudessem avaliá-los com mais
isenção. Agora, a Silvana tem todos os alunos reunidos no pátio pra saber
exatamente o que eles pensam de cada um de nós na nossa ausência!
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DANILO - Socorro...
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ALVARO (se contorcendo de dor.) - Fraturei o ombro! A porta é de peroba, merda!
O hino acaba.
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ALVARO - Abram essa porta!
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porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do
inacabamento, sei que posso ir mais além dele.”
Alvaro anda de um lado para o outro dentro de sua sala, segurando o ombro
machucado.
Fernanda em pé, agoniada, falando em inglês.... My god, oh, my god. I can’t believe
this is happening... (LEGENDA...)
MARIANA - Ninguém sabe se foi a Silvana quem trancou a sala! E se foi tenho
certeza que ela sabe o que está fazendo…
ALVARO - É curioso que você ainda defenda essa demente, Mariana. Porque eu
vejo o Whitaker fazendo a mesma coisa enquanto cava a sua própria sepultura.
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Cavando a própria cova
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OLIVÉRIO - Estamos todos no mesmo buraco e ninguém sentiu nossa falta! Pelo
contrário! Escuta a algazarra lá fora!
ALVARO – É revolta, porra! Claro! A gente impõe conteúdo, mas eles querem uma
política participativa! Nós precisamos falar com eles lá fora pra propor uma ação
conjunta!
MARIANA - Eu falo com eles! Eles têm todo o direito de se revoltar, afinal, os alunos
são os patrões!
MAGDA (indignada.) - Você não entende nada, sua cretina! Nós somos os
professores! Eles querem ficar por respeito e agradecimento a todos nós! Esse é o
sentimento verdadeiro!
FERNANDA – O Olivério tá certo! Eles preferem a nossa ausência! Eles são felizes
na nossa ausência!
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INSERTE DE ALUNOS EM MOVIMENTO... IMAGEM E SOM DE VIDRO
QUEBRADO
Tensão.
MARIANA – Nunca! Tem que punir! Tem que expulsar! Tem que servir de exemplo!
MAGDA (chorando) – A gente tem que sair daqui! Eu não quero ser espancada!
FERNANDA - Nós não fizemos nada contra eles! Os alunos amam os seus
professores!
MARIANA – (NA JANELA PARA FORA) Se quebrar vai ter consequência! Eu vou
expulsar todo mundo! (VOLTANDO) Não vai sobrar ninguém! Uma escola sem
alunos! Esse sempre foi o meu sonho como professora!
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Revolta estudantil OU “O mito da caverna”
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DANILO (ensandecido.) - Fernanda! A asma tá atacando outra vez! Isso aqui só
passa de um jeito! Vem aqui na minha sala, lindinha! Me beija! Eu quero trepar com
você agora!
DANILO - Você sabe que a asma passa quando fico com tesão!
MARIANA - Mentira!
ALVARO - Esse confinamento é o fundo do poço, Magda! Eu vou ter que abandonar
o magistério!
MAGDA – Não!!! Se você vai embora, me leva com você, Álvaro! Porque se não for
pra te ver todo dia, eu não venho mais! Sabe o que isso significa? Significa que eu
sou louca por você! Eu sempre fui! Você tá ouvindo, Álvaro?
DANILO - Nunca! A Suely fala mal de você e a gente se diverte com isso!
MARIANA (batendo na porta) - Alguém abre essa porta, pelo amor de Deus!
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MAGDA – (MAGDA SE APROXIMA DA CAMERA E FALA COM ÁLVARO) Álvaro!
Eu sou louca por você! Por que você finge que não me escuta, seu filho da puta?
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OLIVÉRIO (olhando pra baixo) – Estou no terceiro andar. Isso dá uma queda de
seis metros.
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FERNANDA – Pelo amor de Deus, Olivério!
OLIVÉRIO (sereno.) – Por que vocês não vêm comigo? Somente um suicídio
coletivo de professores poderá lançar uma luz sobre o sofrimento da nossa
categoria. Um suicídio coletivo dará a exata dimensão do nosso cansaço e da nossa
indignação. Seremos ícones de um novo tempo para a educação brasileira. O
suicídio coletivo de um corpo docente inteiro fará com que o Brasil finalmente se
sensibilize com a nossa causa inglória.
ALVARO – Olivério! Pelo amor de Deus! Se você fizer essa bobagem, você vai se
arrepender!
OLIVÉRIO – Eu só tenho que pular do jeito certo, porque morto não se arrepende!
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Gritos de desespero.
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ALVARO – (GRITANDO) Não faça isso Olivério. pelo amor de Paulo Freire!!!
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MAGDA – Hoje é o pior dia da minha vida! Eu tenho certeza de que hoje é o pior dia
da minha vida!
ALVARO – Depois de tudo isso, esse colégio acabou hoje, Whitaker. O dia do
aniversário é a data do falecimento. Parabéns e meus pêsames.
DANILO – "Nesta casa, onde o horror profundo tem seus lares triunfais, eu
pergunto, existe acaso um bálsamo no mundo? E o corvo disse: ‘Nunca mais’!”
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FERNANDA – Mas nós vamos, Whitaker! A menos que você tranque a porta de
novo.
WHITAKER – Eu também não entendi! O que eu sei é que eles estão lá... Nas salas
de aula. Esperando por vocês... Simplesmente... Esperando vocês.
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OLIVÉRIO – Vocês não ouviram o Whitaker? Eu preciso dar aula... Todos nós
precisamos dar as nossas aulas...
Herói nacional???
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