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RESUMO: Esta pesquisa procura analisar o fenômeno da patrimonialização das cidades que
Henri Pierre Jeudy denominou de “Processo de Reflexividade”, e a partir desta análise, realiza
um estudo de caso onde procura entender quais os critérios utilizados pelo poder público
municipal, nesse caso específico a Prefeitura Municipal do Recife, para estipular a utilização de
um local, denominado Sítio da Trindade, localizado no bairro de Casa Amarela, tombado pelo
IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pelo seu conjunto paisagístico,
para desenvolver neste espaço eventos culturais, indo de encontro ao objetivo do tombamento
de preservação, embora, por outro lado, as manifestações sejam específicas como memórias de
tradições, classificadas por Jeudy como transmissões de sentidos. O local, além do conjunto
paisagístico, abriga escavações arqueológicas do antigo Forte do Arraial do Bom Jesus, datado
de 1630. Além do antigo prédio onde funcionou a sede do Movimento de Cultura Popular
(MCP), criado na década de 1960, durante a primeira gestão de Miguel Arraes na Prefeitura do
Recife. Ocorre o que chamamos de sobreposição de camadas culturais: os eventos "populares"
culturais se sobrepõem às camadas inerentes ao local. A pesquisa traz esse problema para
discussão.
ABSTRACT: This research tries to analyze the phenomenon of patrimonialization of the cities
that Henri Pierre Jeudy called the "Process of Reflexivity", and from this analysis, it carries out
a case study where it tries to understand which criteria used by the municipal public power, in
this specific case The Municipality of Recife, to stipulate the use of a place, called Sítio da
Trindade, located in the neighborhood of Casa Amarela, listed by IPHAN, Institute of National
Historic and Artistic Patrimony, for its landscaping, to develop cultural, Going against the
objective of preservation, although, on the other hand, the manifestations are specific as
memories of traditions, classified by Jeudy as transmissions of meanings. The site, as well as
the landscaped complex, houses archaeological excavations of the old Fort of Arraial do Bom
Jesus, dating from 1630. In addition to the old building where the headquarters of the Popular
Culture Movement (MCP), created in the 1960s, during the first Management of Miguel Arraes
at the Recife City Hall. What we call the overlapping of cultural layers occurs: the "popular"
cultural events overlap the layers inherent to the place. Research brings this problem to the
discussion.
Keywords: Patrimonial Machinery; Sítio da Trindade; Jeudy; Overlay of cultural layers; Popular
culture;
INTRODUÇÃO
O presente Artigo busca analisar por que o poder público, que estipula o
tombamento de um bem paisagístico, com o fim fundamental de preservá-lo, promove
ações artísticas que podem causar alguma degradação a esse patrimônio. Procura-se
compreender em primeiro lugar, a atuação do poder público, como promotor de festas
juninas, natalinas e outros eventos no local onde, de acordo com a legislação vigente,
isso não seria permitido, por outro lado, temos a necessidade de preservação de nossa
cultura, sendo contraditório a transformação de um local de preservação em um local
denominado como Centro de Difusão Cultural. Espera-se esclarecer essas duas
abordagens e identificar origens e possíveis soluções para esses problemas.
Apesar desse comportamento não ser considerado como uma ação local, como
ressalta Huyssen, embora o uso das memórias possa parecer um fenômeno global, no
seu cerne fazem parte de contextos específicos de territórios e nações. E, na medida em
que esses territórios e nações criam políticas democráticas e se deparam com as sombras
do passado marcado pela obscuridade de ditaduras militares, e governos totalitários,
essas nações têm como desafio “assegurar a legitimidade do futuro das suas políticas
emergentes, buscando maneiras de comemorar e avaliar os erros do passado”
(HUYSSEN, 2009). E ainda que debates sobre memória nacional incorram em temas
como genocídios, limpeza étnica, migração, direito das minorias, o autor reforça que é
preciso se perguntar como o Holocausto como lugar-comum da memória universal
traumática “reforça ou limita as práticas de memórias e lutas locais” (HUYSSEN,
2009), que para Huyssen deveriam ser pensadas e reavaliadas global e localmente.
O SÍTIO DA TRINDADE
Outro aspecto muito importante a ser relevado quanto ao Sítio da Trindade, diz
respeito à presença das escavações arqueológicas do Arraial Velho do Bom Jesus. As
escavações iniciadas entre 1968 e 1969 foram interrompidas sendo apenas retomadas na
década de 1980. O trabalho buscou analisar os efeitos erosivos sobre a edificação, tendo
em vista que o forte ficou exposto por mais de vinte anos, desde a primeira visita e
buscar recuperar da maneira mais próxima possível da sua forma original.
Além da coleta de material e documentação histórica dos achados, foram
tomadas medidas que visassem à proteção da escavação.
Foto: Lú Streithrost
A MAQUINARIA PATRIMONIAL
A princípio podemos pensar que estamos longe da questão patrimonial, mas não
estamos, é a forma como certo enquadramento simbólico assegura a transmissão do
sentido. Para Jeudy, a questão patrimonial é hoje, cada vez mais, um problema de
transmissão do sentido. Esse enquadramento simbólico supõe determinada gestão das
representações comuns de uma sociedade, de uma cultura. Ora, essa transmissão do
sentido ganha, frequente e efetivamente, a figura de uma ordem de transmissão, ordem
de transmissão essa que, para mim, está cada vez mais integrada num processo, que é o
processo de reflexividade. A lógica patrimonial conduz, segundo uma tradição
hegeliana, a se fazer uma apologia da reflexividade, isto é, da capacidade de uma
sociedade ou de qualquer sociedade poder se olhar no espelho dela própria, para melhor
se compreender e para melhor se gerir. Essa capacidade conduz a experimentar
coletivamente, na conservação patrimonial, um gozo que os psicanalistas chamariam de
um gozo de ordem especular, que resulta do fato de se ver sempre a si mesmo no seu
próprio espelho, graças a um jogo bem organizado de representações culturais. Esse
princípio de reflexividade, que seria um dos motores da lógica patrimonial, pode
evidentemente conduzir, como todo olhar no espelho, a efeitos de saturação.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à Legislação que regula os bens
tombados como paisagísticos, a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial,
Cultural e Natural (Paris, 1972), conceitua “patrimônio cultural” e em seu item terceiro
estabelece
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estamos diante de quatro grandes problemas que se entrecruzam e buscam um
equilíbrio necessário para a sua compreensão: o patrimônio ou patrimonialização do
Sítio da Trindade que, nesse caso específico, entra em contradição como o Estado
classifica essa patrimonialização quando não sabe onde termina ou começa um
patrimônio histórico, e onde termina ou começa um patrimônio natural. Há o
tombamento do Sítio da Trindade como patrimônio natural, apesar de toda a sua
historicidade mencionada no presente artigo.
REFERÊNCIAS
JEUDY, Henry Pierre. Espelho das Cidades. Ed.Casa da Palavra. RJ, 2005.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 23
fev.2014.