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Aspectos metodológicos do comportamento ingestivo de ovinos em sistema silvipastoril e suplementados

com casca de soja

Isak Samir de Sousa Lima1*, Wanderson Fiares de Carvalho2, Raniel Lustosa de Moura2, José Pereira Bispo
Neto3, Frank Davis Ramos Gonçalves3, Suzana Coimbra de Moura Lustosa e Silva4, Fernando Yúri Brandão
Fernandes1, Flávio Carvalho de Aquino1
1
Mestrando do programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFPI, Teresina, PI. isak.ufpi@gmail.com
2
Doutorando em do programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFPI, Teresina, PI.
3
Zootecnista, IESM, Timon, MA.
4
Mestre em Ciência Animal UFPI, Teresina, PI.
*Autor apresentador.

Resumo: objetivou-se avaliar o efeito dos intervalos de observação e estratégias de alimentação sobre o
comportamento ingestivo de ovinos. Foram avaliadas duas estratégias de alimentação e a dois intervalos de
observação. Não foi observada interação entre os tratamentos. Não foi observada diferença entre os intervalos de
observação sobre os parâmetros avaliados. A suplementação influenciou nos parâmetros avaliados. O estudo do
comportamento de ovinos pode ser efetuado com intervalos de até 30 minutos.

Palavras-chave: alimentação, atividades comportamentais, etologia, intervalos de observação

Methodological aspects of feeding behavior of sheep in silvopastoral system and supplemented with
soybean hulls

Abstract: objective was to evaluate the effect of intervals of observation and feeding strategies on the feeding
behavior of sheep. They assessed two supply strategies and two ranges of observation. There was no interaction
between treatments. There was no difference between the observation ranges of the parameters evaluated.
Supplementation affected the evaluated parameters. The behavior of the sheep study can be made at intervals of
30 minutes.

Keywords: behavioral activities, ethology, feeding, observation intervals

Introdução
O estudo do comportamento ingestivo dos animais de interesse zootécnico é uma ferramenta
complementar valiosa para avaliação das dietas, pois através dele é possível ajustar o manejo nutricional para
que se obtenha um melhor desempenho e, consequentemente, maior eficiência produtiva (DE PAULA et al.,
2009). Esse conhecimento tem sido utilizado para nortear e embasar diversas discussões relacionadas ao
consumo de nutrientes associado ao desempenho dos animais na experimentação. Entretanto, para a maior
compreensão de um fenômeno é necessário um complexo estudo da metodologia de avaliação.
Para execução dos estudos do comportamento alimentar de ovinos, é necessário determinar a metodologia
a ser utilizada, principalmente no que tange ao intervalo de observação. A escolha de intervalo de tempo
adequado para o registro do comportamento ingestivo pode permitir a observação de um maior número de
animais sem diminuir a precisão da avaliação dos aspectos comportamentais (CARVALHO et al., 2007). O
objetivo do trabalho foi avaliar o efeito dos intervalos de observação e estratégias de alimentação sobre o
comportamento ingestivo de ovinos em sistema silvipastoril.

Material e Métodos
A pesquisa foi conduzida no sítio “Os Maria Luiza”, localizado no município de União a 27 km de
Teresina-PI (4°57’93”S;42°44’67”O’). A área experimental foi um pasto de 0,5 ha de Panicum maximum Jacq.
cv. Tanzânia, onde foram plantados cajueiros (Anacardium ocidentale) com densidade variável e porte arbóreo
estabelecidos em área com topografia plana, adubada (178 kg de ureia e 84 de cloreto de potássio por hectare
anualmente), dotada de irrigação por aspersão de baixa pressão. Os animais permaneceram no sistema
silvipastoril sob lotação contínua.
Foram utilizados nove ovinos machos com idade entre sete a oito meses, castrados e sem raça definida
(SRD) com peso médio inicial de 23,6 ± 3,1. O primeiro tratamento consistiu na permanência e alimentação dos
nove animais somente a pasto de capim-tanzânia com cajueiros durante sete dias de adaptação e um dia de coleta
de dados. Os parâmetros avaliados foram o tempo de pastejo (TP), tempo de ruminação (TR), tempo de
deslocamento (TD), e tempo de ócio (TO). No segundo tratamento, realizado em sequência ao primeiro, os
animais permaneceram em pastagem de capim-tanzânia com cajueiros, sendo recolhidos ao final da tarde para
suplementação a base de casca de soja (1% PV). Assim como no primeiro manejo, os animais permaneceram
sobre esse regime durante sete dias para adaptação e foram avaliados no oitavo dia. Os parâmetros avaliados
foram os mesmos do sistema à pasto sem suplementação.
Foi adotado o delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2 x 2, sendo dois manejos
alimentares (alimentados exclusivamente a pasto de capim-tanzânia em sistema silvipastoril com cajueiros e a
pasto de capim-tanzânia em sistema silvipastoril com cajueiros e suplementados com casca de soja no final do
dia) e dois intervalos de observação das atividades comportamentais (15 e 30 minutos) com nove repetições,
onde cada animal é considerado uma unidade experimental. O período de avaliação dos animais foi das 09h às
17h nos dois tratamentos sendo que no final da tarde os animais eram recolhidos ao aprisco onde recebiam a
suplementação mineral ad libitum.
Os animais foram observados de 15 em 15 e de 30 em 30 minutos por observadores treinados, registrando
os comportamentos de ócio, ruminação, pastejo e deslocamento em etogramas individuais. Foi formado um
banco de dados que foram submetidos à análise de variância e comparação de médias pelo teste de SNK a 5% de
probabilidade utilizando o software estatístico SAS.

Resultados e Discussão
Os resultados obtidos para o tempo de pastejo (TP), tempo de ruminação(TR), tempo de deslocamento
(TD) e tempo de ócio (TO) estão apresentados na tabela 1. Não houve efeito de interação entre as estratégias
alimentares e os intervalos de observação do comportamento (P>0,05). Não foi observada diferença significativa
(P>0,05) para intervalos de observação sobre todos os parâmetros avaliados. Estes resultados, permite deduzir
que para as avaliações dos tempos das atividades comportamentais em ovinos, podem ser utilizados intervalos de
observação de 30 minutos, sem que comprometa a precisão dos dados, permitindo a utilização de um menor
número de observadores e diminuição da mão-de-obra necessária para a realização de estudos semelhantes.

Tabela 1- Comportamento ingestivo de ovinos mantidos em pastagem de capim-tanzânia com e sem


suplementação.
Intervalo de Não
Atividades comportamentais Suplementados Média EPM*
observação suplementados
15 minutos 436,67 386,67 411,67a 6,89
Tempo de Pastejo (Minutos) 30 minutos 426,67 366,67 396,67a
Média 431,67 a 376,67 b
15 minutos 21,67 35,00 28,33a 3,87
Tempo de Ruminação
30 minutos 23,33 43,33 33,33a
(Minutos)
Média 22,500 b 39,167 a
15 minutos 15,00 31,67 23,333a 4,58
Tempo de Deslocamento
30 minutos 20,00 36,67 28,333a
(Minutos)
Média 17,500 b 34,167 a
15 minutos 6,66 26,67 16,67a 5,61
Tempo de Ócio (Minutos) 30 minutos 10,00 40,00 25,00a
Média 8,33b 33,33a
*Erro padrão da média.

Em muitos dos estudos realizados para determinar o comportamento ingestivo de pequenos ruminantes a
escala de observação é feita de forma aleatória. Contudo, o intervalo de observação de 30 minutos também foi
constatado como adequado em outros estudos. Carvalho et al. (2007) constataram que cordeiros confinados,
alimentados com capim-elefante amonizado e subprodutos agroindustriais, podem ser avaliados com intervalos
de até 30 minutos, para os tempo de alimentação, ruminação e ócio. Esse resultado leva a hipótese de que
independentemente da manejo e categoria animal, os ruminantes desenvolvem atividades comportamentais de
alimentação, ruminação e ócio em períodos superiores aos intervalos já testados (PINHEIRO et al., 2011).
Os tempos destinados às atividades de pastejo, ruminação, deslocamento e ócio apresentaram diferença
(P<0,05) entre as estratégias de suplementação. Os animais que não receberam suplementação apresentaram
maiores tempos diários de pastejo em relação aqueles sob suplementação. Isso possivelmente ocorreu pelo fato
da suplementação proporcionar um efeito de substituição no consumo dos animais, onde parte dos nutrientes que
eles necessitam vem da suplementação, fazendo com que o animal não se desgaste excessivamente para a
apreensão de forragem o que pode implicar na redução de gasto de energia associado ao pastejo, favorecendo o
desempenho dos ovinos. Além disso, é possível o uso de concentrados ricos em carboidratos prontamente
fermentáveis e o nível da suplementação causam redução na taxa de digestão da fibra com consequente redução
no consumo do pasto (BIEZUS et al., 2012).
Os ovinos suplementados apresentaram maior tempo de ruminação em relação aos que não receberam o
suplemento, fato ocorrido devido ao estádio vegetativo da forragem consumida por esses animais, tendo em vista
que os mesmos foram avaliados após pastejo daqueles sem suplementação. Os ovinos alimentam-se
preferencialmente de folhas, e com o aumento da quantidade colmo ocorre o aumento dos teores de fibra,
estimulando a atividade mastigatória e aumentando o tempo de ruminação.
O maior tempo de deslocamento também foi observado entre os animais que receberam a suplementação,
isso devido ao maior aporte de nutrientes fornecido pelo suplemento, o que favorece a seletividade aumentando
as distâncias percorridas ao longo do dia. Além disso, o tempo de deslocamento foi influenciado pela procura de
melhores sítios de pastejo, já que a estrutura e a qualidade do pasto foram prejudicados por pastejos anteriores.
O tempo destinado ao ócio foi maior para os animais que receberam suplementação. A relação positiva
entre a suplementação e o tempo de ócio pode estar associada ao aporte de nutrientes proporcionado pelo
suplemento, possivelmente os animais conseguiram alcançar o nível de consumo compatível com as suas
exigências nutricionais em menor tempo. Como os ovinos receberam no suplemento, nutrientes de forma rápida
e fácil, sem esforço físico e com o gasto mínimo de energia, despenderam mais tempo descansando, em ócio e
ruminação (SILVEIRA et al., 2015).

Conclusões
A suplementação pode influenciar no comportamento de ovinos suplementados em sistema silvipastoril e
os tempos dispendidos para avaliar o pastejo, ruminação, deslocamento e ócio podem ser com até 30 minutos de
intervalo entre as observações.

Referências
BIEZUS, V. et al. Comportamento ingestivo de cabritas em recria suplementadas em pastagem de tifton 85.
Synergismus Scyentifica, v. 07, n. 1, p. 1-3, 2012.

CARVALHO, G. G. P. et al. Aspectos metodológicos do comportamento ingestivo de ovinos alimentados com


capim-elefante amonizado e subprodutos agroindustriais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.4, p. 1105-
1112, 2007.

DE PAULA, E.F.E. et al. Comportamento ingestivo de ovinos em pastagens: Uma revisão. Revista Trópica -
Ciência Agrária e Biológica, v.4, n.1, p.42-51, 2009.

PINHEIRO, A. A. Intervalos entre observações com diferentes escalas de tempo no comportamento ingestivo de
vacas leiteiras confinadas. Revista Brasileira de Saúde Produção Animal, v.12, n.3, p.670-679, 2011.

SILVEIRA, M.F. et al. Comportamento ingestivo e desempenho produtivo de cordeiros mantidos em pastagem
tropical e recebendo diferentes suplementações. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.
67, n. 4, p. 1125-1132, 2015.

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