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Curso 80

Aula 19 – 14/10
Jesus e Nicodemos I
Huberto Rohden
Temos que abordar hoje o texto mais revolucionário de todas as épocas. Está
sendo discutido e controvertido há 2 mil anos e não se chega a um acordo. Não garanto
nada. E também não garanto que vou terminar hoje. Vou começar hoje, porque não se
pode explicar em uma hora este texto. Trata-se do texto sobre os dois nascimentos do
homem. O mestre fala sempre em dois tipos de nascimento: O 1º nascimento ele diz que
é do filho de mulher. E o 2º nascimento é do filho do homem. Quando o nascimento
supõe concepção podemos dizer dois modos de concepção. Uma concepção material de
que nasce o filho de mulher e uma concepção astral de que nasce o filho do homem. Isto
está no Evangelho de João, o místico, o discípulo amado. Somente João dá o texto. Os
outros não deram nada. Está no 3º capítulo do Evangelho de João.
Vou contar brevemente como é que se deu este mistério.
Era no primeiro ano da vida pública de Jesus. Ele estava em Jerusalém na
capital do país - na primavera deste ano. Abril ou maio, que é primavera lá no norte.
Altas horas da noite - ele estava hospedado em casa de João, o seu discípulo amado, em
Jerusalém. É claro que João estava presente porque ele não podia contar isto com tanta
exatidão, se ele não fosse testemunha ocular e presencial.
Então altas horas da noite entre 10 horas e meia noite Jesus e João estavam
sentados num banco na varanda interna da casa. As casas antigas tinham jardim no meio
e varandas internas. Estavam sentados num banco os dois. Ouviram bater na porta da
casa. João, o dono da casa se levantou... E recebeu uma visita que queria falar com
Jesus. Uma entrevista noturna como nós diríamos. Quem é que veio para falar com
Jesus? O homem mais inesperado que se podia imaginar! Nicodemos, o mestre de
Israel. Notem bem! O texto grego não diz que era o mestre em Israel, como diz a
vulgata, não era o (artigo definido) mestre de Israel. Quer dizer a mais alta autoridade
religiosa de Israel. Da Sinagoga, do cinédrio...
Nós sabemos que a sinagoga não simpatizava com Jesus. Porque Jesus era um
grande profeta, mas não tinha passado pelas escolas da sinagoga. Era profeta por conta
própria. Mas a sinagoga exigia que passasse pelas escolas. Tinha muita burocracia
naquele tempo também, não é só hoje. E Jesus não tinha passado por nada disto. Era um
profeta por conta de loucos e não por conta da sinagoga. Por isso a sinagoga não podia
gostar dele. Era uma espécie de intruso ou de revolucionário para a sinagoga. Agora
como é que um chefe da sinagoga chamado Nicodemos, um homem de idade, vamos
dar uns 60 anos mais ou menos. O dobro da idade de Jesus. Jesus tinha 30. Este
visitante altas horas da noite pede uma entrevista com o profeta de Nazaré. Ele era rabi.
Jesus Também era rabi. Rabi é palavra hebraica para mestre, que os hindus chamam
guru. Rabi Nicodemos faz uma visita ao homem Rabi Jesus.
Então era um encontro de dois mestres. Um jovem mestre de 30 anos e um
mestre idoso de 60 anos se encontram nesta noite. E por que é que o idoso mestre rabi
quer uma entrevista com o jovem rabi de Nazaré? É muito estranho!
Veio altas horas da noite porque ele tinha medo de vir de dia. Porque os colegas
dele saberiam que ele foi visitar um mestre que não é legalizado. E isto fazia má
impressão. Então Nicodemos se escondeu altas horas da noite com medo de ser
reconhecido por seus colegas da sinagoga. E as ruas de Jerusalém não tinham luz como
nós hoje. Ele podia muito bem andar pelas ruas sem ser visto. E diz o texto, andava

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embustado no seu manto. Somente de dia o podiam ver. Quer dizer, ninguém o viu na
escuridão das ruas. Entrou em casa de João, bateu à porta. João o mandou entrar,
mandou sentar ao lado de Jesus num banco.
Nicodemos começou a falar, o que ele disse é muito importante. A 1ª palavra é
mestre. Ele vem como discípulo. Não é interessante? Ele, um homem de 60 anos, vem
como discípulo de um mestre de 30 anos. Isto é bom sinal! Vem com boa vontade. Ele
não veio para ensinar, ele veio para aprender alguma coisa. Mestre, ele diz: nós
sabemos, (fala no plural)... Nós, não é só ele. Lá outros da sinagoga também sabiam,
mas não querem dizer. Nós sabemos mestre, que vieste da parte de Deus, porque
ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes a não ser que Deus esteja com ele.
Foi a 1ª frase de Nicodemos. Muito importante! Quer dizer que ele veio
impressionado com os milagres de Jesus. Não podia compreender como é que se pode
transformar água em vinho. Como é que se pode multiplicar cinco pãezinhos para dar a
milhares de pessoas. Como é que a gente pode curar doenças a qualquer distância, sem
medicina, só com uma palavra. Ou como é que se pode ressuscitar mortos. Mesmo no
quarto dia depois da morte, já em putrefação. Isto tinha acontecido, e a sinagoga sabia
de tudo isto. Que o mestre de Nazaré fazia coisas estupendas.
E Nicodemos finalmente quer fazer uma entrevista sobre os milagres de Jesus.
Entrevista sobre o como fazer milagres. Eu não sei se ele não tinha vontade secreta de
aprender a fazer milagres. O Evangelho não diz. Mas ele estava muito curioso por saber
como é que um jovem mestre é capaz de fazer estas coisas que nenhum homem da
sinagoga fazia.
-Mestre, nós sabemos que vieste da parte de Deus, porque ninguém pode fazer
estes milagres que tu fazes a não ser que Deus esteja com ele.
Quer dizer, Nicodemos estava exclusivamente interessado em fenomenologia,
como nós dizemos hoje. Em fenômenos espantosos... Milagres que Jesus pregava. Mas
Jesus não atendeu à curiosidade dele. Não reagiu com nenhuma palavra à curiosidade do
seu visitante. Calou totalmente às palavras de Nicodemos. Ele podia ter apenas dito – eu
não estou interessado em milagres! Não, um jovem rabi não podia receber um velho
rabi e o tratar mal. Então ele calou. Mas este silêncio de Jesus em face das palavras de
Nicodemos é muito significativo. Quer dizer que Jesus não se interessa por milagres.
Para ele milagres são coisas de magia mental, não são coisas de espiritualidade.
Nós sempre pensamos que milagre supõe espiritualidade. Não é verdade! Milagres não
supõem nenhuma espiritualidade. Milagre supõe grande poder mental. Se um faquir se
concentra dias e semanas inteiros mentalmente, ele é capaz de fazer milagres. Qualquer
faquir faz. Podeis ler Paul Brunton na “Índia Secreta” - está cheio de milagres feitos por
faquires. Podeis ler Yogananda – também faz muito. Quer dizer não exige
espiritualidade. Milagre exige intensa concentração mental. Porque milagre não é contra
as leis da natureza. Outro erro que nós erramos.
O milagre é de acordo com as leis da natureza, mas ignorados por nós. Nós não
conhecemos 10% das leis da natureza. Não conhecemos 10%. E se alguma coisa
acontece fora desses 10% que nós sabemos, nós dizemos que é milagre. Quer dizer que
um fato natural, mas, além do nosso conhecimento mental... Isto é milagre. É um
acontecimento puramente natural dentro das leis da natureza, mas que o nosso alcance
mental não tinha atingido. Então nós dizemos milagre.
Vamos dizer que o total das leis da natureza é igual a 100 e nós estamos no setor
10. O que está acima dos 10, para nós é milagre. Então tem 90% de milagre. E nós
conhecemos 10% s leis natureza. E acontece uma coisa no setor 20, 30, 40, 60, 80 das
leis da natureza – então isto é milagre. Jesus sabia disto. Ele nunca disse que ele fazia
coisas contra ou além das leis da natureza. Nunca! Por isso ele nunca dava importância

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aos milagres. Ele nunca fez exibição de milagres. Nunca praticou um único milagre por
exibição... Para dizer: - olhe o poder que eu tenho. Vocês não têm, mas eu tenho. Não,
ele fazia os milagres para atender às necessidades do povo. Para, dar comida aos
famintos, para dar saúde aos doentes, e até ressuscitar os mortos. Era necessário atender
às necessidades do povo. Ele só fez milagres por beneficência e caridade. Nunca fez
milagres por ostentação. Então, ele não deu a menor importância às palavras de
Nicodemos sobre milagres. Quando ele faz um milagre ele diz aos discípulos: cuidado,
não digais a ninguém que eu fiz este milagre. Sempre previne: não digais a ninguém
que eu curei fulano ou sicrano. Ele não proíbe milagre, proíbe a divulgação. E aos
discípulos ele diz: vós quando não vedes milagres não credes. É uma censura terrível
que ele faz – vós quereis ver milagres. Bem-aventurados aqueles que não viram
milagres e, contudo creem. Estão vendo que ele não dava a menor importância a
milagres! Por isso ele não respondeu a Nicodemos. Isto que Nicodemos considera tão
importante, Jesus considera insignificante. Passou a questão para outro terreno,
completamente diferente. Respondeu o seguinte à curiosidade milagreira de Nicodemos:
- Em verdade em verdade – quando ele repete duas vezes estas palavras (Amen, Amen) –
como é em hebraico, em grego e em latim – então vem uma coisa muito importante.
Traduzimos Amen que é Om da Índia: Em verdade, em verdade – quando ele começa
com estas palavras, sobretudo quando ele repete duas vezes a mesma palavra vem uma
coisa muito importante. É para chamar a atenção à importância do que vem.
Amen. Amen, em verdade, em verdade, Nicodemos, eu te digo (vamos ver o que
o mestre vai dizer agora, já falei em milagres, mas ele não vai falar em milagres) –
Nicodemos eu te digo, se alguém não nascer de novo pelo espírito, não pode ver o reino
de Deus. Que coisa diferente! Não fala em milagres fala em nascimento pelo espírito.
Para ver o reino de Deus. Mas tarde ele diz entrar, mas aqui ele fala ver. Se alguém não
nascer de novo pelo espírito não pode ver o reino de Deus.
O que é que ele entende por reino de Deus? Há 2000 anos estamos tateando no
escuro para saber o que é que ele quis dizer por reino de Deus. Nós sempre entendemos
um reino depois da morte. Ele nunca falou num reino depois da morte. Sempre falou de
um reino aqui na terra. E nós não estamos no reino de Deus. O reino de Deus está
dentro de nós, ele diz, mas nós não descobrimos ainda. As 30 parábolas que ele disse ao
todo, quase todas giram em torno do reino de Deus. O reino de Deus é semelhante a
isto, o reino de Deus é semelhante àquilo. O reino de Deus é um tesouro oculto que
deve ser descoberto. O reino de Deus é uma luz debaixo de um velador opaco que deve
ser colocado no alto do candelabro. O reino de Deus é uma pérola preciosa no fundo do
mar que deve ser trazido à tona. São sempre comparações dele, não minhas. O reino de
Deus está dentro de vós, ele diz. Mas vós não descobristes ainda.
Então o reino de Deus não é uma coisa fora de nós. E também não uma coisa
que vem depois da morte. O reino de Deus é uma coisa aqui na terra e nós não entramos
ainda no reino de Deus, por quê? Porque não renascemos pelo espírito. Unicamente por
causa disto. Quem não renasce pelo espírito não pode ver o reino de Deus. É um tesouro
oculto nele. É uma luz debaixo do velador, é uma pérola no fundo do mar. Porque ele
não renasceu pelo espírito. Que coisa importante ele disse nesta noite!
Nicodemos naturalmente ficou perturbado. Quando ele viu estas palavras: é
preciso renascer, nascer de novo - nem se pode dizer nascer do alto, porque a palavra
grega é a mesma. De novo e do alto é a mesma palavra em grego. Mas creio que o
sentido é mesmo de novo, porque Nicodemos entendeu neste sentido. De novo e não do
alto. Nicodemos ouvindo estas estranhas palavras: se alguém não nascer de novo pelo
espírito não pode ver o reino de Deus aqui na terra. Mas se alguém (isto ele não disse,

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eu acrescentei) nascer de novo pelo espírito então ele pode ver o reino de Deus aqui na
terra.
O que é que ele entende por reino de Deus, propriamente? Nós não estamos no
reino de Deus. Porque onde há maldades, males e morte não existe o reino de Deus. E
estas três coisas ele não altera. Maldades, males e morte. Onde há tais coisas o reino de
Deus não foi manifestado. Ele existe dentro de nós embrionariamente, em semente, mas
não brotou, não cresceu Porque a nossa humanidade está repleta de maldades. Não
precisa ler nenhum jornal. Basta ter um pouquinho de experiência aqui em São Paulo:
assaltos, agressões, roubos, matanças por toda parte. Não se pode mais sair à rua, é um
perigo, porque pode ser assaltado, a cada momento. Roubo de dinheiro, matam a gente,
apontam o revolver para matar se não entregam o dinheiro. Maldade! É uma das
grandes maldades do presente. Onde há maldades o reino de Deus não vai manifestar.
Onde há males, doenças, o reino de Deus não vai manifestar.
E quantas doenças temos! Diz um grande médico: 90% de todos os homens são
de algum modo doente. Ele acha que 10% podem ter saúde. Mas 90% não têm saúde
perfeita. Talvez 100%, não sabemos. Quer dizer, onde há hospitais, hospícios e
penitenciárias não há o reino de Deus. E a terra está coberta destas coisas. Onde há
farmácias, drogarias e médicos para curar doenças, o reino de Deus não existe. Porque
se não há doenças, não precisa ter médicos, não precisa ter farmácias, não precisa
medicamentos, nem drogarias. Tudo isto é necessário por causa da ausência do reino de
Deus. E também onde há morte, onde o homem é obrigado a morrer, queira ou não
queira, não há reino de Deus. O reino de Deus é incompatível com três coisas:
maldades, males e morte - 3 emes.
Então neste mundo ainda não foi proclamado o reino de Deus. Por quê? Porque
não nasceram de novo pelo espírito. Que coisa estranha! Ele fala em dois tipos de
nascimento: nascer da matéria ou nascer do espírito. Os que nascem da matéria ele
chama o filho de mulher. Os que nascem do espírito ele chama o filho do homem.
Quando Nicodemos ouviu estas estranhas palavras: é preciso nascer de novo
pelo espírito, ele deu um grande suspiro e disse: mestre, como é que um homem como eu
(deve ter tido 60 anos, barba branca sobre o peito) como é que um homem idoso como
eu pode nascer de novo? Então ele diz uma frase um pouco irônica: será que ele pode
voltar ao ventre de sua mãe e nascer mais uma vez? Isto é um pouco muito irônico. Ele
acha tão estranho estas palavras de nascer mais uma vez, que um homem de idade não
pode nascer de novo. Ele pensa em reencarnação física, é claro, de que se fala tanto no
Brasil... Ele pensa que Jesus vai falar em reencarnação física. Nascer de novo pelo
corpo, pela carne – como já nascemos uma vez pela carne podemos nascer 2ª vez, 3ª
vez, 10ª vez pela carne. Mas o Mestre não fala na reencarnação física. Ele não fala em
reencarnação nenhuma. Ele fala num renascimento, mas não numa reencarnação.
Ele responde a Nicodemos: o que nasce da carne é carne, mas o que nasce do
espírito é espírito. Quer dizer, rejeitou completamente a ideia de um renascimento
material. Isto ele quer dizer, não adianta nada. Você pode renascer materialmente 10
vezes, 20 vezes, 100 vezes, você marca passo, você faz um círculo vicioso. Isto nós
diríamos: não adianta nada renascer de pela carne. É preciso nascer de outro modo. Não
é carnalmente, mas é espiritualmente. E Nicodemos disse: como é isto espiritual? Então
o Mestre vem com uma explicação muito estranha. Acrescenta uma palavrinha. Ele
tinha dito renascer pelo espírito. Agora ele diz: em verdade, em verdade te digo quem
não nascer de novo pela água e pelo espírito não pode entrar no reino de Deus. Ficou
pior do que antes. Nascer de novo de água e espírito. De - o genitivo. Ambos são
genitivos em grego. É preciso nascer de novo de água e de espírito. Água e espírito são
a substância, a matéria prima de que o homem deve nascer. Está lá, de água, não é pela

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água. É de água e de espírito. Quer dizer, água e espírito é a substância que o homem
novo deve nascer.
Que coisa estranha! Há 2000 anos as igrejas estão dizendo que isto quer dizer ser
batizado. Ele nunca falou nisto. Ele nunca falou em batismo. Porque no batismo a gente
deita um pouco d’água na cabeça da criança e diz: sai daqui satanás e daí lugar ao
Cristo. Bem, se isto for renascimento pela água e pelo espírito seria muito fácil entrar
no reino de Deus. Passando um copo d’água, ou jogar a pessoa numa piscina. Ele não
era tão ingênuo para dizer isto. Isto não adianta nada para renascer - botar um copo
d’água na cabeça – uma fórmula – ou mergulhar alguém na piscina, como fazem outros.
Não adianta nem mergulhar numa piscina, nem botar um copo d’água na cabeça, ele não
falou nisto. Nascer de água e espírito.
Agora temos a palavra misteriosa: água. Nós dizemos - o que é que ele quer
dizer com água? Ele opõe a água à carne – o que nasce da carne é carne. Então ele opõe
a palavra água à palavra carne. Carne ele entende matéria. E água ele não entende a
matéria. O que é que ele entende por água? Se vocês lerem o Antigo Testamento com
alguma atenção vocês vão saber o que é que o Antigo Testamento chama água.
Constantemente a palavra água está em lugar de energia. A Bíblia não conhece a
palavra energia porque é uma palavra cientifica nossa. Mas o sentido de energia é
exatamente o mesmo sentido que água.
Vou trazer apenas um texto: no 1º capítulo do Gênesis se lê o seguinte: no
princípio os Elohin crearam o céu e a terra... É o início do Gênesis. No princípio os
Elohin (O Gênesis não fala em Deus, fala nas forças creadoras) no princípio os Elohin
crearam o céu e a terra. Mas, acrescenta o texto, a terra era invisível. Isto está no
hebraico, está em grego. A tradução latina modificou completamente o texto. O que a
tradução latina diz que a terra era deserta e vazia não está nem no hebraico, nem no
grego.
Quer dizer, os textos mais autênticos, o texto hebraico era original. O texto
grego é mais antigo (que o latim) de 300 anos AC. Não fala em terra material. Fala
numa terra feita de pura energia. A terra era invisível. Uma terra invisível não é uma
terra material, é claro. É uma terra astral. É uma terra feita de pura energia. Quer dizer
que no princípio a nossa terra não era materializada. Era uma energia cósmica e não se
tinha congelado em matéria.
A ciência moderna diz: energia congelada é matéria e matéria descongelada é
energia. Isto é da nossa ciência moderna. Está certo. A Bíblia também usa isto. A terra
não era visível diz o Gênesis hebraico e grego. Quer dizer, a terra era pura energia. Mais
tarde a energia se condensou em matéria e deu isto que nós temos agora. Depois
continua o Gênesis: E o espírito de Deus pairava sobre as águas. As águas são a
energia invisível da terra. Identifica água com energia. Nós chamamos energia o mundo
astral. A ciência não gosta da palavra astral, .mas vamos usar. Astral é uma palavra
boa. Porque astral vem de astro.
O que é que mantém todos os astros do universo na sua posição. Não estão
apoiados em nada! Como é que não caem? Estão suspensos astralmente na energia do
cosmos. Não podem cair porque tem energia de todos os lados. Energia para cima, para
baixo, para a direita, para a esquerda. Se um corpo está entre energias iguais de todos
os lados, ele não pode cair, não tem por onde cair.
Então astral quer dizer energia cósmica. Quando nós usamos a palavra astral não
devemos pensar que falamos em termos esotéricos. Não, nós falamos em termos
científicos. Então um corpo astral é um corpo verdadeiro, mas não é um corpo material.
Para nós é um pouco difícil entender. Se não é material, como é que é corpo? Porque
nós erradamente identificamos matéria com corpo. Corpo não precisa ser matéria.

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Corpo pode ser muita coisa sem ser material. Corpo pode ser pura energia. Corpo até
pode ser feito de luz. Então ele fala o nascimento de energia e espírito. De água e
espírito. Ele usa a palavra água. Vamos insistir em nossa palavra de filosofia. – se
alguém..., em verdade em verdade eu te digo. Se alguém não nascer de energia e de
espírito não pode entrar no reino Deus.
Agora começa o nosso mistério. O que é nascer de energia? Nós só nascemos de
matéria e espírito. Nascemos de matéria fornecida por nossos pais e nascemos de
espírito fornecido por Deus. É claro. Estes tais que nasceram dos elementos dados pelo
pai e pela mãe, elementos materiais, espermatozóides e óvulos são matéria. Estes são
filhos de mulher. Isto não adianta para entrar no reino de Deus. O nascimento de
matéria e espírito não dá nenhuma garantia para ver o reino de Deus. Todos nós já
nascemos deste modo. Todos nós. E não podemos desnascer para renascer de outro
modo. Se nós pudéssemos desnascer e renascer de novo, então talvez nossos pais nos
fornecessem o nascimento de energia.
Mas isto não é possível na vida presente ninguém pode nascer e renascer de
outro modo. Mas ele insiste. É preciso nascer de água e de espírito para ver o reino
de Deus. Logo ele supõe que nesse mundo não se pode ver o reino de Deus. Porque se
alguém fosse concebido de energia do espírito de Deus e da energia dos seus pais, mas
não da matéria de seus pais como o animal. O animal também é concebido de matéria.
Mas se nós fossemos concebidos de outro modo... Não materialmente, mas astralmente.
Concepção astral concepção energética sem contato de corpo a corpo, mas por outra
transmissão de energia... Então seriamos concebidos de energia e de espírito.
Haverá um caso deste na humanidade? Há dois casos. Dois homens pelo menos
já foram concebidos de energia e de espírito. Jesus e Moisés. De Jesus sabemos com
toda certeza. O Evangelho de Lucas não deixa a menor duvida sobre o modo de
concepção astral de Jesus por seus pais José e Maria. Foi concebido astralmente sem
contato material entre os dois. E deu o quê? Deu um homem perfeito. O homem perfeito
não pode ter maldades. O homem perfeito não pode ter doenças O homem perfeito não
pode ter morte compulsória. Ele não teve nada disto. Isto está muito bem escrito no
Evangelho de Lucas.
Eu tentei explicar isto no livro “A Nova Humanidade”. Não garanto que tenha
conseguido, porque é muito doficil. O que Lucas quer dizer - que o corpo de Jesus foi
concebido por um sopro sagrado, por uma potência suprema e foi envolvido numa
aura... Três palavras em grego - Envolvido numa concepção energética e não natural.
Moisés parece que também foi concebido assim. Não é bem claro em Moisés.
Mas eu suspeito que Moisés era do Antigo Testamento o único homem que tenha sido
concebido astralmente e não materialmente. Por quê? Porque nunca esteve doente.
Nunca se fala de uma doença de Moisés. E ele durou 120 anos, diz o texto. Anos como
nós. Os anos nunca mudaram. Agora se alguém pode viver 120 anos diz a Bíblia e
estava sempre em plena juventude... Meu Deus, viver cerca de 120 anos e estar em
plena juventude... É uma coisa estranha! Nós dizemos que estava numa decadência
senil.
A Bíblia diz: Não, ele estava com plena juventude aos 120 anos. Nunca esteve
doente e não morreu. Porque aos 120 anos ele subiu o Monte Nebo, na fronteira de
Canaã e se transformou em corpo astral. Ele tinha corpo material. Mas este corpo
material não morreu. Este corpo material se transformou em corpo invisível, astral.
Quer dizer, parece que Moisés também tinha nascido como Jesus de pura energia e de
espírito.
Bem a mãe dele, que a Bíblia diz que era mãe adotiva... A princesa filha do faraó
era a mãe verdadeira de Moisés. Isto é certo, nós temos outras fontes para saber isto. A

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filha do faraó que adotou, segundo a Bíblia, Moisés que lhe tirou das águas do Nilo, não
era mãe adotiva dele. Era mãe verdadeira, mas não lhe concebeu materialmente. Ela o
concebeu astralmente. Por isso é que ela diz: ele é meu filho. Moses - quer dizer meu
filho. Moses na linguagem egípcia quer dizer meu filho. Ele é meu filho. Por quê? Eu o
tirei das águas. Imaginem! Se tivesse tirado das águas do Nilo um hebreuzinho
rejeitado, um escravo - porque os hebreus eram escravos... Como é que ela podia dizer:
porque eu lhe tirei das águas. Ela dá como argumento que ele é meu filho porque eu o
tirei das águas. Ela fala das águas astrais, não fala das águas materiais. Porque a Bíblia
usa constantemente a palavra água quando quer dizer energia astral – eu tirei este
menino da energia cósmica e por isso ele é meu filho. E por isso ela o educou com tanto
carinho durante os 40 anos que ele esteve na corte do faraó. E foi iniciado em toda a
sabedoria dos egípcios.
Ora, uma mãe adotiva não ia fazer isto com um hebreuzinho escravo que ela
encontrou casualmente. É claro que Moisés é filho verdadeiro da princesa egípcia!
Do pai de Moisés, nada sabemos. Segundo uma mensagem esotérica
antiquíssima, o pai de Moisés era Itamar, um escultor hebreu. Porque a filha do faraó
também era escultora. Ela sempre ia ao ateliê do escultor Itamar para comprar suas
estatuetas. Ela tanto gostou de Itamar, o escultor que ela o amou intensamente, mas ela
não esteve com ele. Ela nunca esteve com ele em cama de casal, nem nada. E no entanto
ela concebeu dele... Mas na ausência dele. Outro concebimento à distância. Uma
telefecundação..., para nós é impossível. Mas uma telefecundação se deu em Jesus e
provavelmente se deu em Moisés - esta telefecundação que para nós é alta novidade.
Quer dizer, Jesus fala de um novo modo de ser concebido. Ser concebido
materialmente de corpo a corpo - isto dá uma vida num corpo imperfeito. Mas se
alguém é concebido astralmente, não da matéria, mas da pura energia e do espírito - este
seria um homem perfeito Ele nunca teria maldades, nunca teria males, doenças e nunca
teria morte compulsória.
Quer dizer que ele fala de uma nova humanidade que aqui não existe. E manda
que Nicodemos se prepare para este renascimento. Ele não obrigou Nicodemos a fazer
este renascimento de água e espírito, isto não se pode. Nós não podemos desnascer do
corpo material e renascer num corpo energético, notem bem, mas o que nós temos de
fazer, isto ele disse a Nicodemos; por enquanto o que nós podemos fazer é nascer pelo
espírito. Porque se nascermos pelo espírito na vida presente preparamos o renascimento
futuro de água e espírito.
Ele fala de um renascimento futuro de água e espírito. Não obriga Nicodemos a
renascer agora de água e espírito, astralmente. Mas insistiu com ele, que ele preparasse
o seu futuro nascimento astral, tendo agora o renascimento espiritual. Nascer de novo
pelo espírito nós podemos fazer.
Quando Nicodemos ouviu estas palavras estranhas, naquela noite memorável em
Jerusalém ele disse: Mestre, como é isto possível? Jesus repreendeu suavemente seu
velho discípulo dizendo: como? Tu és o mestre de Israel – notai bem, o texto original
está o mestre de Israel, não um mestre em Israel. O mestre com artigo definido – de
Israel, não em Israel. Tu és o mestre de Israel e ignoras estas coisas? É uma censura
que ele faz com Nicodemos. Se tu ensinas estas coisas na sinagoga tu devias ser um
mestre perfeito. E conhecer que o mais importante para um homem é preparar-se para
um futuro nascimento de água e espírito. E não ensinas isto na sinagoga? O que estás
ensinando? É uma censura muito severa que ele dá a Nicodemos.
Depois ele acrescenta: Nós sabemos o que dizemos, e damos testemunho daquilo
que vimos e nós não cremos. Quer dizer, eu não estou falando de coisas vagas, eu estou
falando coisas de que eu sei de absoluta certeza. Ele usa o plural – nós. Nós sabemos o

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que estamos dizendo - que a gente deve renascer de novo de água e espírito. Nós
sabemos que isto é possível, ele diz. Ele apela para a ciência direta. Ele não crê, ele
sabe. Ele nunca diz que ele cria – ele sempre diz que ele sabe. O que se sabe é a
experiência. O que se crê é um dogma. Ele nunca acreditava em dogmas. Ele sabia por
experiência própria como eram as coisas espirituais. Nós sabemos o que dizemos e
damos testemunho daquilo que vimos. Ele já viu renascimento de água e espírito. Ele
diz: isto eu digo porque eu sei.
Quer dizer, alguém já deve ter nascido de água e espírito. E vós não credes.
Nicodemos, você deve crer, eu não preciso crer porque eu sei. Quando a gente sabe não
precisa crer, mas quando a gente não sabe a gente tem que crer. A crença é necessária
para todas as crianças espirituais. Quem não sabe deve crer, mas quem crê não sabe.
Então quando não estamos na experiência espiritual, é claro que devemos crer. A massa
humana não está na experiência. A massa humana, 90%, 99% talvez precise crer.
Porque não sabe, não tem experiência do mundo espiritual. Então é bom crer. É muito
melhor crer do que descrer. Porque crer pelo menos é o início para um estágio melhor.
Então nós sabemos o que dizemos e damos testemunho daquilo que vemos e nós não
cremos.
Depois ele usa uma comparação misteriosa... Em frente, num jardim interno da
casa onde eles estavam sentados no banco, ali havia uma palmeira. Provavelmente ele
aludia a esta palmeira que estava lá. Mostrou para ela e disse: Nicodemos, o sopro sopra
onde quer. Ele ouve o ruído, mas não sabe donde ele vem e nem para onde ele vai.
Assim também acontece com todo homem que nasce de novo pelo espírito. Comparação
estranha! Faz uma comparação entre o vento que agita as folhas da palmeira. A gente
ouve o ruído. Quando uma brisa noturna passa pelas folhas da palmeira, naturalmente
dá um ruído. Estás ouvindo o ruído do vento? Estás vendo o vento? Ninguém vê o
vento. O sopro sopra onde quer. Devemos usar duas vezes o mesmo radical. Não
convém dizer o espírito sopra onde quer. Porque em grego e em latim está a mesma
palavra duas vezes. spiritus spirat... - e em grego está pneuma pnei – usando duas vezes
substantivo e verbo no mesmo radical.

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