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Apresentação

Ponto de vista outro sobre a linguagem: não-convencional, sua natureza, seus modos de
funcionamento, finalidades, relações com a cultura e implicações ideológicas.

Escrita e alfabetização: formulação de propostas a partir de chavões que ocultam uma


preguiça mental, charlatanice intelectual que descambam para a demagogia.

Se a linguagem tem relação com o poder, isto exige exame rigoroso das formas como
ela instrumenta esse poder. Se considerarmos a alfabetização comprometida com
ideologias excludentes é preciso avaliar nossas posturas grafocêntricas.

Capítulo 01

As regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta
as relações sociais entre o falante e o ouvinte. (p. 06)

A língua padrão é um sistema comunicativo ao alcance de uma parte reduzida dos


integrantes de uma comunidade; é um sistema associado a um patrimônio cultural
apresentado como um “corpus” definido de valores, fixados na tradição escrita. (p.06)

O passo fundamental na afirmação de uma variedade lingüística sobre outras é sua


associação à escrita e seu uso na transmissão de informações de ordem política e
“cultural”. (p. 07)

A diferenciação política é um elemento fundamental para favorecer a diferenciação


lingüística.

A associação entre uma determinada variedade lingüística e a escrita é o resultado


histórico indireto de oposições entre grupos sociais que eram e são usuários das
variedades. (p.08)

Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa: é uma operação que influi
necessariamente nas formas escolhidas e nos conteúdos referenciais.

Bakhtin e Volóshinov apontam princípios orientadores de uma visão tipicamente oficial


e conservadora da linguagem:

1. A língua é um sistema imutável, estável;

2. As leis que a regem são essencialmente leis lingüísticas e objetivas e como tais
fechadas;

3. A ligação lingüística nada tem a ver com valores ideológicos;

4. Os atos individuais são simples refrações ou variações fortuitas. Não existe


vinculo entre o sistema da língua e sua história.
Apesar de fazer parte da experiência de cada um, o fato de as pessoas serem
discriminadas pela maneira como falam, não é difícil encontrar afirmações de que
no Brasil não existem diferenças dialetais.

A variedade culta é considerada legítima de uma tradição cultural e definidora de


uma identidade nacional.

A língua era um instrumento cujo poder nas relações externas era reconhecido. Os
autores não mencionavam o instrumento de poder interno. A língua será o
instrumento para perpetuar a presença portuguesa, também quando a dominação
acabe.

Letrados e humanistas se apressaram em justificar o valor instrumental da


linguagem através de um aparato mítico-ideológico.

A língua dos gramáticos é um produto elaborado que tem a função de ser uma
norma imposta sobre a diversidade. (p.15)

[...] As palavras não têm realidade fora da produção linguística; elas existem nas
situações nas quais são usadas. Entender não é reconhecer um sentido invariável, mas
construir sentidos no contexto no qual ela aparece.

Os dicionários: instrumentos centrais no processo que estandartiza!

O poder das palavras é enorme, especialmente o poder de algumas palavras. Progresso,


por exemplo, ela exprime certos conteúdos ideológicos cuja origem é historicamente
identificável. A linguagem pode ser utilizada para impedir o acesso às informações de
um grande numeroso da população.

Nas sociedades complexas como as nossas, é necessário um aparato de conhecimento


sócio-políticos relativamente amplo para poder tem um acesso à compreensão e
principalmente àquelas de alto nível sócio-político.

A começar do nível mais elementar de relações com o poder, a linguagem constitui o


arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder.

Processos que são considerados “democráticos” e libertadores, tais como as campanhas


de alfabetização, de aumento das oportunidades e dos recursos educacionais, estão
muitas vezes conjugados com processos de padronização da língua, que nem sempre são
democráticos. Vão assumindo isto sim, um aumento do controle do Estado sobre a
população. Os grupos sociais que mantêm poucos contatos com a variedade padrão da
língua, que usam e produzem pouco material escrito, são mais difíceis de ser
controlados.
Cap. 02 considerações sobre o campo de estudos da escrita

Os requisitos mínimos para um indivíduo ser considerado alfabetizado mudaram


através dos tempos: capacidade de assinar, copiar um texto breve,.

O aumento de pesquisa nas últimas duas décadas sobre a escrita se justifica assim: o
aumento dos programas de alfabetização e de educação no mundo todo e a
padronização escrita de muitas línguas até então sem tal tradição.

A capacidade de ler e de escrever é considerada intrinsecamente boa e apresentando


vantagens óbvias sobre a pobreza da oralidade.

É difícil achar qualquer avaliação explícita dos aspectos positivos das culturas orais, às
vezes definidas de forma negativa como culturas “sem tradição escrita”.

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