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PARO
ELEIÇÃO DE
DIRETORE
S
A ESCOLA PÚBLICA
EXPERIMENTA A
DEMOCRACIA
O tratar da eleição de
diretor no contexto da
democracia escolar, Vitor
Paro busca evitar, por um
lado, o risco do preconceito
ao julgar uma inovação, e,
por outro, a precipitação em
fazer do processo eletivo a
panacéia para o ensino
público básico.
O autor examina a questão no
âmbito da organização escolar
no Brasil, estudando suas
múltiplas facetas, e apresenta
subsídios teóricos essenciais
para o desvelamento de
virtudes e limites da medida,
tanto em termos de
democratização da escola
quanto no que concerne aos
efeitos sobre a racionalização
da gestão escolar e sobre a
qualidade do ensino.
ELEIÇÃO DE DIRETORES
VITOR HENRIQUE PARO
ELEIÇÃO DE
DIRETORES
A ESCOLA PÚBLICA
EXPERIMENTA A DEMOCRACIA
2e edição revista
São Paulo
2003
@ 2003 by Xamã Editora
2a edição
ISBN: 85-7587-023-8
SUMARIO
INTRODUÇÃO
7
5 ELEITORES .... 87
.
95
95
102
. 110
115
CONCLUSÕES 12
1
REFERÊNCIþS . ..
NTRODUÇÃO
I Para referências a respeito dessas experiências, ver Barbosa (1992); Calaça (1993);
Canesin (1993); Castro e Werle (1991); Castro et a]. (1991); Dourado (1990);
9
Gonçalves e Kenski (1984); Heemann (1986); Holmesland et a]. (1989); Leal e Silva
(1987); (1987).
2 De acordo com Oliveira e Catani (1993, p. 70-71), os seguintes estados definiram
explicitamente a eleição de diretor de escola pública em suas constituiçöes;
Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
INTRODUÇÃO
VrroR HENRIQUE
INTRODUÇÃO
Vrr0R
1
FUNDAMENTOS
A ELEIÇÃO DIANTE DAS DEMAIS
ALTERNATIVAS DE ESCOLHA
15
— A EIÆIÇAO DIANTE ALTERNATIVAS.
VrroR
(1993, p.
22
FUNDAMENTOS— DAS DEMAIS ALTERNATIVAS.
1 ELEIÇÃO DIANTE
FUNDAMFXms — A ELEIÇÃODIANTE
Do jeito que ela está, você pega um secretário de escola I ...l — olha,
nem vou dizer com uma capacidade de redação, que nem precisa (só
um ou outro caso). Então, cê pega um secretário de escola que tenha um
pouquinho de liderança, seja um pouco mais espeno, tem urrw)uquinho
de traquejo, e bota ele aqui. Um pouquinho de bom senso l, ele vai. ele
vai. Não precisa de Pedagogia, ele não precisa de nada. Ele vai.. Ah! e
esse um pra essa escola„, uma grandessíssima dose de paciência l...J;
mas uma dose de paciência sem limites. E compactuar com o estado
geral das coisas; não querer as coisas certas, deixar tocar, deixar rolar.
Essa pessoa seria ideal pra do jeito que as coisas estão. R»rque ela não
teria conflitos, não causaria conflitos e a coisa andaria (PARO, 1995b,
p. 107)
Jurema Barbieri Couto (1988, p. 108), em pesquisa sobre a
gestão escolar no Distrito Federal, ao falar sobre as funções de
determinado diretor de escola, diz que estas "são as mais diversas e
muitas vezes [ele] é obrigado a desenvolver tarefas que não lhe dizem
respeito, dada a precariedade de recursos." Afirma ainda a mesma
autora que esse diretor, embora considere sua função pedagógica
como a mais importante, esta se apresenta como a "mais difícil de
conduzir, pois os aspectos administrativos absorvem grande parte do
seu tempo." O mesmo diretor afirma, então: "Você fica muito
envolvido com lâmpadas, com torneiras, com o prédio, com
administração do pessoal, com mais isso e mais aquilo, e, muitas
vezes, a parte pedagógica fica esquecida, o que é fundamental, é a
principal tarefa." (COUTO, 1988, p. 108)
Parece, portanto, paradoxal que o Estado, e até mesmo pessoas
bem-intencionadas dentre aquelas que militam no ensino público,
continuem a ver no concurso a grande solução para a escolha do
diretor. A se manter o diretor com as mesmas atribuições que ele tem
hoje, a aferição de sua capacidade para desempenho dessas funções
dispensaria o próprio concurso, da maneira como ele é feito hoje,
quando se exige todo um conhecimento de teoria administrativa, bem
como uma formação específica na área de administração escolar. Por
outro lado, se se pretende um diretor com funções mais propriamente
políticas, não é a aferição do conhecimento técnico em administração
27
I FUNDAMENTOS DAS DEMAIS ALTERNATIVAS...
mais grave ainda, não importa qual a facção política ou o partido que
esteja no poder.
Um fator que agrava a circunstância de o concurso não promover
o compromisso do diretor com a escola e seus usuários é o fato de, em
geral, o concurso estar vinculado à estabilidade do cargo para o qual
ele é feito. Para quem examina em profundidade o funcionamento real
da escola pública onde o concurso para o cargo de diretor é a regra,
como no sistema público estaduai paulista, não é difícil perceber a
intensidade com que essa estabilidade quase vitalícia do cargo
concorre para determinar o descompromisso do diretor com objetivos
educacionais articulados com os interesses dos usuários e induz à
negligência para com formas democráticas de gestão.
I FUNDAMENTOS DEMAIS ALTERNATIVAS...
25
—A EIÆIÇÄO DIANTE nas
VIT0R
gente até pensava que era progressista 1„.1, que por obrigação de
partido deveria ter uma posição mais avançada, primeira coisa que eles
fizeram (o Requião já apostava nisso enquanto candidato) foi de fato
cortar [a eleiçäol."
A eleição de diretores não pode, todavia, ser tomada como uma
panacéia que resolverá todos os problemas da escola e muito menos,
em particular, os de natureza política. Essa, aliás, tem sido a alegação
mais freqüente dos que resistem à eleição como alternativa para a
escolha do diretor, ou seja, descarta-se a eleição porque unáo é possível
atribuir a existência da democracia a apenas uma variável, seja ela o
concurso, os cursos, ou, menos ainda, a eleição" (SAMARTINI, 1994,
p. 162). Maria de Lourdes Melo Prais, por exemplo, afirma: "A
proposta de eleição do diretor tem Sido tomada como sinônimo
da efetivação da democratização escolar, entretanto, a proposta
por si só certamente não garante a democratização da escola.
Pois, independentemente da forma de provimento do cargo,
deve-se considerar prioritariamente a maneira como será
exercida esta função." (PRAIS, 1990, p. 86)3
Acontece que é muito difícil se pensar "a maneira de como será
na escola. Quer dizer, ela chacoalha, ela mexe com o torpor da escola.
Porque, de repente, parece que a escola acordou: 'Opa! tem uma coisa
importante a decidir..."'
Romualdo Portela de Oliveira, diante do argumento de que "a
eleição de diretor de escola pode criar um processo de
tensionamento no interior da escola que tornaria impossível o seu
funcionamento", afirma:
Isto é verdade. A eleição não é uma receita para se "evitarem
problemas", mas sim uma alternativa para que eles aflorem e sejam
enfrentados abertamente, sem permanecerem subjacentes. O desafio
que a eleição significa, como, aliás, em todo e qualquer processo de
disputa democrática, é a construção de um ethos de convivência que
permita que os objetivos maiores da instituição se sobreponham às
disputas internas. Ressalte-se que isto acontecer com ou sem eleição.
(OLIVEIRA, R. e, 1993, P. 122)
Os que procuram na eleição ou em qualquer outro recurso
democrático um modo de evitar conflitos ou impedir que os conflitos
venham à tona certamente podem frustrar-se completamente, pois não
é a isso que a democracia se presta A esse respeito, vêm a propósito as
palavras de Francisco de Oliveira sobre a função da democracia como
método:
O método democrático recusa diktate. Ao contrário, o método
democrático constrói regras através do conflito, do reconhecimento das
alteridades, da relevância dos sujeitos coletivos, que abrem o espaço
para a relevância do indivíduo. As regras não são eternas, imutáveis,
mas tampouco são um "raio num dia de céu azul". Têm historicidade e
temporalidade. Não asseguram nada essencialmente; asseguram um
processo, que se converte, pois, em essência. Não asseguram justiça,
mas a administração, a possibilidade de justiça; não asseguram a
igualdade, mas a possibilidade, o processo, da igualdade. O método
democrático é, por assim dizer, exigência e resultado, suposto e
pressuposto de um longo processo de complexificação, diversificação,
das estruturas sociais, das classes, dos interesses. (OLIVEIRA, F., 1993,
p. 78)
43
I FUNDAMENTOS — ELEIÇÃO DIANTE DAS DFNAIS ALTERNATIVAS...
afasta o fisco de escolher "os mais reacionários", já que não coloca (nem pode
VIT0R
41
FUNDAMEN-roS A DLAXTE
VIIt)R
Vrrox
ou, pelo menos, fazer com que essas açóes estejam mais de acordo
com os interesses dos docentes. Para uma componente do Conselho
Estadual de Educação do Paraná, a expectativa com relação à
eleição de diretores no Estado esteve muito marcada pela idéia da
participação da comunidade; mas para os professores havia "a idéia de
controle da escola", de ter o diretor do seu lado, e muitas vezes sem
divisarem os interesses dos usuários.
A prática exercida pelos diretores nomeados, de¥anotar o nome
dos professores grevistas e enviar a lista para os órgãos superiores
da Secretaria da Educação, era algo que, segundo a expectativa dos
professores favoráveis à eleição, em vários sistemas, deveria ter fim
com a escolha por processo eletivo que colocasse na posição de diretor
um profissional mais comprometido com a categoria docente.
Mas não só a respeito de seus interesses corporativos se dava a
expectativa do professorado. Em pesquisa realizada no Rio Grande do
Sul sobre os critérios de escolha utilizados pelos professores nas
eleições para diretores de escolas de primeiro e segundo graus no
Estado em 1985 e 1988, Marta Luz Sisson de Castro et al. constatam
que "o professor quer liberdade para definir o seu trabalho e não
somente uma participação mais geral na vida da escola." (CASTRO et
al., 1991, p. 95) Falando sobre a expectativa dos professores do
Estado de Goiás, em estudo anteriormente referido, Canesin apresenta
os requisitos apontados pela entidade dos professores:
que saiba ouvir, discordar com educação e conviver com as
divergências; que tenha senso de justiça e jamais favoreça grupinhos,
HENRIQUE PARO — ELEIÇÃO DE DIRETORES
que respeite os alunos e os pais, reconheça-os como pessoas com suas
próprias motivações e cujas experiências de vida devem ser
incorporadas à escola; que entenda a função de direçáo como de
serviço e não de mando, que veja nos demais sewidores companheiros
e não subalternos, que seja pessoa comprometida com educaçäo e veja
no processo educativo o caminho para liberdade e consciência. (CPG.
Diretas para dirèlor: a luta faz a lei. Goiânia, s.d. Mimeo, apud
CANESIN, 1993, p. 203-204)
Segundo a mesma autora, a eleição era entendida "como ponto de
partida e não de chegada da democratização interna da escola" tendo-
se "a expectativa de se obter maior autonomia no âmbito do processo
pedagógico" (CANESIN, 1993, p. 204) porque, com as eleições,
deixaria de existir o diretor controlado pelos políticos, que pune ou
45
I FUNDAMENTOS — ELEIÇÃO DIANTE DEMAIS
escolar, Controle burocrático algum, por mais perfeito que seja, poderá
substituir O controle direto, exercido pelos que estão vivamente in
teressados com o que acontece na escola, isto é, os professores, os
alunos, os pais e os funcionários." (ZABOT, 1984, p. 89) Mais adiante,
o mesmo autor afirma: "ftnsarnos que o principal aspecto seja a própria
mudança de postura do diretor. Seus vínculos, as raízes onde se firma
sua autoridade estão no seio da própria comunidade escolar. Seu plano
de intenções esboçado no seu plano de trabalho de conhecimento
HENRIQUE PARO ELEIÇÃO DE DIRETORES
VIII)R
VIT0R EIÆJÇAO
INSTITUCIONALraÇÄO — RESISTÊNCIAS
luta dos professores não pode ser levada com sucesso de maneira
desvinculada da luta da população por melhores escolas. Significa que,
diferentemente das categorias profissionais que trabalham na iniciativa
privada, os professores têm de lutar não apenas por melhores de
trabalho, mas também (e até com antecedência lógica) pela afirmação do
objeto de seu trabalho. Isto requerurm prática de luta que rúo pode
deter-se no âmbito apenas econômicocorporativo. É preciso uma
consciência política que perceba, para além dos interesses imediatos, os
interesses estratégicos e políticos mais amplos que unificam as
categorias profissionais e, para além delas, as lutas populares na esfera
da reprodução, O que a constante e inexorável queda dos salários e do
prestígio dos docentes do ensino público nas últirnas décadas parece
evidenciar é precisamente esta peculiaridade do movimento trabalhista
dos professores. Um trabalhador da produção privada capitalista pode
conseguir importantes ganhos econðmicos em suas lutas por melhores
salários e condições de emprego, mesmo permanecendo no nível
meramente econðmico-corporativo CGramsci) de lutas. O professor,
entretanto, pela natureza do trabalho que exerce e pelos fins a que serve
a educação, precisa avançar mais, atingindo um nível de consciência e
de prática política que contemplem sua articulação com os interesses
dos usuários de seus serviços. (PARO, 1993, p. 108-109)
A consciência política do movimento docente precisa ter presente,
portanto, não apenas a busca de satisfação de seus interesses imediatos, mas
também o atendimento dos interesses dos usuários da escola pública. Para
Canesin, o trabalho do professor da escola pública localiza-se no âmbito da
política por dois motivos fundamentais: Primeiro, é que o professor enquanto
prestador de serviço público desempenha a tarefa de produzir e reproduzir
bens culturais e, portanto, tem a de veicular e aplicar concepções de
mundo na organização da sociedade, O segundo, intrinsecamente relacionado
52
HENRjQÜE PARO — DE DIRETORES
ao primeiro, é que seu trabalho depende de um conjunto de aparatos
institucionais, que exercem a dominação política via veiculação de
representativas de específicas maneiras de sentir e agir com
condições, em determinado momento histórico, de orientar um dado
governo. (CANESIN, 1993, p. 251)
Em seu trabalho de investigação sobre o movimento dos
professores nas décadas de 1970 e 1980, em Goiás, Canesin identifica
um grau de consciência política das lideranças que aponta para a
reivindicação de transformações que extrapolam os estreitos limites da
corporação, incluindo a preocupação com o conjunto da sociedade e
não apenas com a categoria dos professores. Nessa nova perspectiva,
não deixa de estar presente a própria consciência da necessidade de se
Vrrt)R ELEIÇÃO
— RESISrtNctAY
ELEIÇÃO
3 LEGALIDADE E CONSTITUCIONALIDADE
DA ELEIÇÃO DE DIRETORES
Em seu esforço de impedir a institucionalização das eleições ou
de produzir retrocessos nos locais onde elas já foram estabelecidas, os
Opositores desse tipo de escolha de diretores têm-se valido com muita
67
2 — E RESISTÊNCIAS
freqüência de argumentos que dizem respeito a sua näo-legalidade ou
a sua inconstitucionalidade. Esse argumento é muito cômodo porque
permite a esses opositores se colocarem contra a medida gem nome da
legalidade", sem questionarem O seu mérito, procurando evitar,
INSflTUCIONALIZAÇÄO MOTIVAÇÕES
65
INSTITUCIONALIZAÇÃO —
Vr1Ä)R
71
INSITTUCIONAL.IZAÇÀO — MOTTVAÇÖES
VTII)R
3
IMPLEMENTAÇÃO
OS DESAFIOS DA PRÁTICA
75
— OS PRÁTICA
— PRÁTICA
4 CANDIDATOS
Embora haja quem defenda a candidatura a diretor inclusive
para não-educadores, as experiências examinadas são unânimes
em contemplar a exigência de ser educador escolar (professor,
coordenador pedagógico ou orientador educacional) para
candidatar-se ao posto de diretor de escola. Entre os requisitos
exigidos estão, em geral, dados sobre a competência, a
formação académica e a experiência no magistério.
A competência do candidato está referida diretamente quando se
exige um concurso conjugado com as eleições ou algum tipo de
treinamento imediatamente após a realização destas. Mas, às vezes, tal
competência está suposta na própria formação académica,
especialmente quando se exige que o candidato tenha formação
específica na habilitação de administração escolar, obtida em nível
superior nos cursos de pedagogia. Em qualquer dos casos, o que existe
de comum é a crença de que, do diretor, devem ser exigidos
componentes de formação técnica diferenciados dos que detêm os
demais integrantes do magistério. Esta suposição está bastante presente
85
—OS DESMOS
DESAFIOS
5 ELEITORES
Em geral, há concordância, nas experiências examinadas, sobre
os grupos com direito a votar nas eleições: professores, funcionários,
pais e alunos. Com relação aos alunos, às vezes estabelecem-se
especificações quanto à idade mínima para ser eleitor (por exemplo,
acima de 12 anos,.como determinou a Lei ng 6,042/83, de 21 de
Outubro de 1983, que regeu as eleiçöes de 1984 nas escolas
municipais de Goiânia) ou quanto ao direito ao voto apenas a alunos
acima de determinada série ou nível de ensino.
HENRIQUE PARO DE DIRETORFS
Mas; quando se trata do peso relativo de cada um desses grupos,
na eleição, existem variações tanto entre as medidas legais que
regulam o assunto nos vários sistemas de ensino quanto na opinião dos
que tratam do tema. O ponto polêmico que interessa aqui abordar é o
que
88
VITOR — ELErçÀo
IMPLEMENTAÇÀO DBAHOS DB
e se ele quer ter uma influência maior, ele tem como influenciar o
aluno, ele tem como influenciar o pai, ele já tem um posto
privilegiado; então, eu acho que o voto é universal mas ele tem um
outro instrumento. (...) Apesar do voto 1...1, em termos quantitativos,
desaparecer, mas ele tem uma influência muito grande que vai além do
seu único voto. Eu acho que equilibra."
Um diretor do Fórum Paranaense em Defesa da Escola Pública,
Gratuita e Universal, do Estado do Paraná, anteriormente mencionadot
diz que "essa questão da codificação do voto — quem vota, com que
peso etc. — tem sido uma das mais polêmicas, inclusive no interior do
Fórum." Informa que várias vezes já discutiram e não conseguiram U
chegar, com relação a isso, a um resultado mais consensual." A
respeito do voto universal na eleição do diretor, afirma:
Eu defendo que deva ter uma ponderação. A minha compreensão é que,
talvez, o voto universal deva ser um resultado, não um ponto de partida.
Se você tem as comunidades disformes, desarticuladas, desorganizadas
etc. etc., de um lado, e se, de outro lado, (isto é outra coisa que nós
pusemos na discussão da época) a eleição da escola não é tradução,
digamos, na forma de um da eleição geral do país... Ela não é
exatamente a mesma eleição, exatamente com a mesma natureza e tal...
Não é a eleição geral livre que deve marcar a vidaparüdária e
democrática do país etc. etc. É urna instituição, na verdade, específica,
com natureza própria etc. etc. (...J As marcas da instituição, de alguma
HENRIQUE PARO DE DIRErORES
forma, devem estar refletidas no processo de eleição, 1.. I Eu penso que
a forma do voto ponderado é um mecanismo, ainda que insuficiente,
para você, da mesma forma, não desrespeitar a natureza própria da
instituição,
Assim, é a favor de uma ponderação, a partir da qual "as
comunidades se fortaleçam, fortalecendo simultaneamente os seus
integrantes..." Neste sentido é preciso, segundo ele, que, primeiro, haja
um processo de maior fortalecimento da participação de pais, de modo
que eles se conscientizem melhor, conheçam melhor a escola e o
processo democrático, para poder cada vez mais contribuir na
tomada de decisão. Em outras palavras, o que o depoente quer
evitar é que o pai participe do processo democrático apenas votando
nas eleições. Concomitante a isso, é preciso que ele se envolva mais
com a escola. Quando a massa de pais estiver articulada com os
problemas da escola, aí poderá dar-se o voto universal. "Mas eu penso
que alguma relação com a escola o pai deve travar para... O direito à
intervenção nos destinos
3 OS PRÁTICA
IMPLEMENTAÇÃO - DESAFIOS DA
por não ter sido escolhido por estes, tenderia a articular-se apenas com
os interesses do Estado, voltando as costas para a escola e sua
comunidade. Com a eleição, esperavam que a escola se encaminhasse
rapidamente para uma convivência democrática e para a maior
participação de todos na gestão da escola. Todavia, as experiências
mostraram que havia mais otimismo do que realismo nessas previsões.
Numa apreciação dessa questão no
n.(PACTO —
VITOR
2 DEMOCRACIA NA ESCOLA
Um ponto positivo a creditar à introdução das eleições como
critério de escolha dos dirigentes escolares é o interesse despertado nos
vários sistemas em que o processo se deu. Os vários depoimentos de
pessoas ligadas diretamente à escola ou à administração do sistema de
ensino, no desenvolvimento desta pesquisa, confirmam aquilo que
alguns estudos já haviam constatado com relação ao grande
comparecimento dos vários setores da escola nas eleiçöes. A
conselheira do Conselho Estadual de Educação do Paraná afirma que
no início do processo de eleição houve um "envolvimento absoluto",
registrando, também, sempre uma maior participação no interior do
estado do que em Curitiba. Também em Vitória, segundo membros da
Equipe de Organização da Gestão Participativa, verifica-se uma boa
participação nas eleições, especialmente do pessoal da escola. Mas
também com relação aos pais, o comparecimento é muito grande;
embora raro, há escolas em que esse comparecimento chega a 80%.
Nesse mesmo município, um pai de aluno entrevistado dá conta de
que, em sua escola, a participação dos pais na eleição de diretores foi
de cerca de 90% e, com relação ao pessoal escolar, o comparecimento
foi praticamente total, só faltando uma pessoa. Ainda em Vitória, a
diretora eleita entrevistada confirma uma participação bastante intensa
nas eleições de todos os setores da escola.
104
HENRIQUE PARO — ELEIÇÃO DE DIREr0RES
Zabot, referindo-se às eleições de 1983 no Estado do
Paraná, informa que
Apesar de as eleições terem sido realizadas num dia útil (sexta-feira),
houve comparecimento de mais de 70% dos pais (um elemento por
casal). A participação dos estudantes foi vibrante e significativa no
processo. As entidades estudantis percorreram as escolas, discutiram o
processo de escolha, a importância da participação do estudante na
gestão da escola e reiviMicaram dos candidatos a existência e espaço
para a livre atuaçäo dos grêmios estudantis nas escolas. (ZABOT, 1984,
p. 89-90)
Holmesland et al., no estudo sobre as eleições no Rio Grande do
Sul, Paraná e Santa Catarina na década de 1980, apresentam a
percepção dos diretores a respeito do processo eletivo, dizendo:
"Observa-se, como um aspecto muito positivo, que nos três estados o
processo de eleição é percebido pelos diretores como um processo que
promoveu
105
40 IMPACTO — E AVANÇOS
1
conveniência de um diretor com a função de controlar
externamente o trabalho das pessoas envolvidas no processo
escolar pode ser contestada — como pretendo fazer mais
adiante, à luz da própria especificidade da instituição escolar.
Todavia, nos sistemas de ensino em que essa existência é um
fato, parece que a eleição é a forma de escolha de dirigentes
escolares mais compatível com a luta por uma escola básica de
qualidade e acessível ao maior número de pessoas,
Os que defendem a nomeação política alegam que a eleição é
antidemocrática porque subtrai ao Estado (representado pelo governo
eleito) a prerrogativa de nomear seus auxiliares, contrariando, assim, a
vontade do próprio povo que elegeu O governante, ao impor ao
Estado a vontade dos usuários e servidores da escola. Essa alegação
não se sustenta porque toma o Estado como um fim em si mesmo, es
tranhando que o interesse da população é que deve conformar sua ação.
Além disso, ao confinar a manifestação desse interesse às eleições
periódicas de governantes e legisladores (âmbito da democracia
política), ignora os mecanismos de construção da democracia social
(BOBBIO, 1989), que prevêem o controle democrático do Estado pela
população. Um conceito moderno de democracia, que não se restringe
aos estreitos limites da democracia política, toma, em vez disso, a
democracia social como parâmetro para justificar precisamente as
VrroR ELEIÇÃO
2
Embora haja experiências localizadas que remontam à década de
1960, a reivindicação da escolha de diretores escolares por meio de
processo eletivo, em âmbito nacional, é um fenômeno que se inicia no
começo da década de 1980, no contexto do movimento de rede
mocratização política do país. Em vários estados, iniciam-se processos
de eleição de diretores escolares na primeira metade dessa década,
com a ascensão dos primeiros governadores estaduais eleitos após a
ditadura iniciada em 1964. Em 1989, vários estados inscrevem em suas
constituições a obrigatoriedade da eleição como critério de escolha dos
diretores nas escolas públicas. Entretanto, já ao final da década de
1980 e início da de 1990, verifica-se certo refluxo das eleições em
130
HENRIQUE PARO — DE DÎRËTORES
alguns estados, produto da ação de governos pouco comprometidos
com a democracia, que entram com Açóes Diretas de
Inconstitucionalidade contra as eleições, com a clara intenção de
proteger seus interesses político-partidários identificados com práticas
clientelistas.
Apesar disso, porém, a adoçäo de processo eletivo como critério
para escolha de diretores expande-se em todo o país, fazendo-se
realidade em grande número de municípios e em estados onde antes
vigorava a nomeação política. Em alguns sistemas que já haviam
experimentado a escolha democrática dos diretores, como o Estado do
Paraná e o Distrito Federal, os governadores eleitos em 1994 voltam a
introduzir a eleição direta, em cumprimento a suas plataformas de
governos ou a promessas feitas em suas campanhas eleitorais. O fato,
aliás, de os políticos passarem a inscrever em suas plataformas
eleitorais o compromisso com a eleição de diretores indica sua
sensibilidade para algo que passou a fazer parte dos desejos da
população. E este parece ser mais um resultado positivo do movimento
em torno da eleição de diretores que se verificou a partir de inícios da
década de 1980: o de inscrever-se no imaginário da população a
escolha democrática de diretores escolares como um valor positivo e
como um direito a ser reivindicado.
Por outro lado, o fato de governos conservadores e pouC0
interessados na melhoria do atendimento escolar movimentarem-se de
forma incisiva contra a eleição de diretores em alguns dos sistemas em
que ela foi instituída, indica que a mesma constitui importante recurso
para pressionar o Estado a cumprir suas obrigações com respeito à
educação escolar. Ou seja, na medida em que governos claramente
descomprometidos com o fortalecimento do ensino sentem-se
incomodados com uma medida, deduz-se que esta tem, de alguma
forma, logrado algum efeito no sentido contrário.
3
Como toda inovação, a eleição de diretores provocou, nas
pessoas envolvidas, um conjunto de expectativas que não
puderam
131
CONCLUSÕES
VITOR ELEIçÄo
4
O reconhecimento do processo eletivo na escolha dos dirigentes
escolares como medida importante na democratização da escola não
pode obscurecer a percepção de seus limites e a consciência de que o
autoritarismo hoje presente na escola pública é produto de um
conjunto de determinantes que só poderão ser convenientemente
atacados quando se conjugarem, ao processo eletivo, mudanças
profundas na própria estrutura da escola e nas relações que aí se
desenvolvem.
Sem a pretensão de aprofundar esse assunto na dimensão que sua
importância requer, julgo relevante fazer algumas considerações que
possibilitem, pelo menos, o vislumbre de ultrapassagem da questão
particular (processo eletivo) para a mais ampla (transformação da
escola pública em instância integralmente democrática) l . Para pensar
essa transformação, parece-me adequado ter presente a idéia da
instituição escolar perpassada em sua organização e funcionamento
pelas concepções de democracia e de pluralismo, nos termos em que
Bobbio entende a democracia moderna: "A teoria democrática toma em
consideração o poder autocrático, isto é, o poder que parte do alto, e
sustenta que o remédio contra este tipo de poder só pode ser o poder
que vem de baixo. A teoria pluralista toma em consideração o poder
monocrático, isto é, o poder concentrado numa única mão, e sustenta
que o remédio contra este tipo de poder é O poder distribuído."
(BOBBIO, 1989, p. 60)
Com base nesses princípios, é preciso começar por rever o próprio
papel do atual diretor da escola pública de ensino básico no Brasil.
Hoje, como "responsável último pela escola" e diante das inadequadas
condições de realização de seus objetivos, o diretor acaba sendo O
133
CONCLUSÕES
culpado primeiro pela ineficiência da mesma, perdido em meio à
multiplicidade de tarefas burocráticas que nada têm a ver com a busca
de objetivos pedagógicos. Dotado de toda autoridade2 para mandar e
de uma relação social, mesmo contra toda resistência e qualquer que seja o
fundamento dessa probabilidade" (WEBER, 1979, p. 43),
135
CONCLUSÕES
um coordenador pedagógico, um coordenador comunitário e um
coordenador financeiro. Nessa composição, embora a tomada de
REFERÊNCIAS
MELLO, Guiomar Namo de; SILVA, Rose Neubauer da. Seleçäo competitiva
de
Lilian Wachowicz et al. Campinas: Papirus; Cedes; São Paulo: Ande; Anped,
1992. p. 185-213.
MENDONÇA, Erasto Fortes. A eleição de diretores do ensino público do
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