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O LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental e

Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira como


espaço de promoção da aprendizagem

Locimar Massalai

Paula Andréa Prata Ferreira

Jí-Paraná
Novembro de 2010
Locimar Massalai

O LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio


Juscelino Kubistchek de Oliveira como espaço de promoção da
aprendizagem

Trabalho de conclusão de curso apresentado


à Coordenação do Curso de Especialização
Tecnologias em Educação como requisito
parcial para obtenção de título de
Especialista em Tecnologias em Educação.

Orientador

Profa. M. Sc. Paula Andréa Prata Ferreira

Coordenação Central de Educação a Distância


Curso de Especialização Tecnologias em Educação

Jí-Paraná
Novembro de 2010
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem
autorização do autor, do orientador e da universidade.

Perfil do aluno

Sou vírgula e nunca um ponto final. Feito de sonhos, movido por projetos.
Aprendi gostar do meu nome e, por conseguinte gostar de mim. Três coisas me
salvaram do desespero: ter uma família, ser amado e a paixão pela leitura.
Catarinense por questões biológicas e Jiparanaense por circunstâncias sócio-
culturais. Formado em Pedagogia- Educação Infantil e Anos Iniciais e Orientação
Educacional. Pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior, Psicopedagogia
Clínica e finalizando o Curso de Serviço Social. Atualmente exercendo a função
de Orientador Educacional na Escola de Ensino Fundamental e Médio Juscelino
Kubitschek de Oliveira em Ji-Paraná.
Dedicatória

Para: Érica Massalai, mãe e anjo cuidador. Márcia Andréia K. Massalai, irmã e
amiga. Josane, irmã por adoção e confidente. Jurema, diretora da escola Juscelino
Kubistchek de Oliveira por me recolher quando estava “rodado” na Representação
de Ensino, sem escola para trabalhar. Cida, Dilça, Inês e Neide, “meninas” da
secretaria da escola pela ajuda atenta e valiosa em todos os momentos. Divina e
Francis, por me acolher incondicionalmente no LIE. Todas as professoras e
professores da escola pelo respeito e validação do meu trabalho. As senhorinhas
da cozinha e dos serviços gerais por me paparicar tanto. Cléo do NTE de Ji-Paraná
por ser tão delicada e elegante comigo fazendo-me ver e crer o quanto sou capaz.
Às crianças e adolescentes do 1º ao 6º ano pelo milagre da alegria irreverente, do
sonho e da festa.
Agradecimentos

Às colegas do Curso por serem exemplo de superação e apoio. Às queridas Ana


Paula Abreu Fialho, Mediadora e Paula Prata, Orientadora, pela paciência
pedagógica firme e afetiva, promotoras de amadurecimento.
Resumo
O trabalho que segue é antes de tudo um exercício de leitura e compreensão mais atenta
de como funciona o Laboratório de Informática educativa da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira, no município de Ji-Paraná em
Rondônia, nos três períodos em que a escola atende sua clientela, a saber: matutino,
vespertino e noturno, cada período acompanhado por uma coordenadora específica para
tal. Como relato de experiência, este exercício de pesquisa tem como objetivo precípuo
perceber, entender e posteriormente identificar como professores e alunos ocupam e
utilizam o espaço do LIE para promoção da aprendizagem. Foram ouvidos professores,
alunos e coordenadoras do LIE e ainda feitas algumas observações no próprio LIE,
observações estas com características da observação participante. Percebeu-se que o LIE
é um espaço muito mais utilizado pelos alunos do que pelos professores ou por estes com
seus alunos. Notou-se que todos o percebem de fato como um espaço de aprendizagem
em que o elemento ‘pesquisa’ tem preponderância sobre outros. Além disso, quando os
professores acompanham o aluno, este aproveita melhor o espaço do LIE. Ficou bastante
claro também que muitos professores utilizam as tecnologias em suas aulas e com
experiências significativas, mas que não são compartilhadas com seus pares em momento
algum, pois cada um trabalha de forma isolada. Cada um na sua solidão.

Palavras-chave

1. Informática Educativa. 2. Aprendizagem. 3. Currículo. 4. Formação de


Professores. 5. Gestão Democrática.
SUMÁRIO

Lista de Imagens......................................................................................................8
Lista de Gráficos......................................................................................................9
Lista de Tabelas.......................................................................................................9
1 - Introdução.........................................................................................................10
2 – As novas tecnologias e a escola da educação básica.......................................15
2.1 - A escola na cultura digital..........................................................................16
2.2 - O letramento digital ou a alfabetização tecnológica..................................19
2.3 - A Escola de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de
Oliveira – história e contexto.............................................................................21
2.4 - O cenário e a metodologia da pesquisa......................................................28
2.5- A fala dos sujeitos: coordenadoras, professores e alunos...........................30
2.6- As fichas de agendamento para alunos e professores no LIE como
instrumento de racionalização............................................................................42
2.7- A Noite Cultural: Diversidade Cultural na América Latina e Caribe.........45
Conclusão...............................................................................................................48
Referencias Bibliográficas.....................................................................................52
Anexos...................................................................................................................54
Anexo I – Plano de ação do Laboratório de Informática Educativa da Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira...54
Anexo II – ficha de agendamento para alunos...................................................56
Anexo III – Ficha de Registro de aula para o Laboratório e Telessala – Seduc 57
Anexo IV – Ficha de agenda para as professoras do período vespertino...........58
Lista de Imagens
Imagem 01: espaço de lazer chamado Beira Rio Cultural que fica localizado as
margens do Rio Machado que corta a cidade........................................................23

Imagem 02: campinho de futebol improvisado localizado na Rua Maringá


próximo ao Estádio de Futebol chamado Biancão.................................................24

Imagem 03: Logomarca do Programa Gescolar....................................................26

Imagem 04: Crianças do 5º “A” fazendo pesquisa no LIE sobre Juscelino


Kubistchek de Oliveira, para projeto, cujo objetivo era resgatar a história da
escola.....................................................................................................................41

Imagem 05: Visão panorâmica do LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental


e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira em dia reservado para o uso exclusivo
de professores........................................................................................................41

Imagem 06: Cartaz afixado na porta do LIE lembrando aos alunos os horários em
que o mesmo está reservado somente para professores ........................................42

Imagem 07: Cartaz confeccionado por uma turma de alunos do Ensino Médio
Regular do período noturno, representando trazendo informações sobre a culinária
cubana....................................................................................................................46

Imagem 08: Mesa enfeitada com comidas frutas e comidas típicas.....................46

Imagem 09: Grupo de alunos do Ensino Médio caracterizados para executar uma
dança típica.............................................................................................................47

Imagem 10: Desfile das Bandeiras de todos os Países da América Latina e


Caribe.....................................................................................................................47
Lista de Gráficos
Gráfico 01: Local de nascimento dos alunos da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira – ano de 2010...............27

Gráfico 02: Curso do Proinfo Integrado “Introdução à educação digital”............37

Lista de Tabelas
Tabela 01: Número de alunos e local de nascimento.............................................27
1 - Introdução
“Aprender a pesquisar, fazendo pesquisa é próprio de uma educação
interdisciplinar, que, segundo nossos dados, deveria se iniciar desde a pré-
escola”. (FAZENDA, 1995, p.88)

A primeira pergunta que poderíamos nos fazer, simples por sinal, tem um
caráter teleológico: “para que serve o laboratório de informática educativa em
uma escola?”. Qual sua finalidade dentro de um contexto em que a escola não
pode ser uma ilha, à medida que o seu entorno - e leia-se aqui, todos os outros
espaços – possuem dimensões pedagógicas e de aprendizagens que transcendem o
currículo escolar e que muitas vezes o superam. Já foi o tempo em que a escola
era concebida como a única promotora de saber. Hoje ela é apenas uma
juntamente com tantas outras. Porém, não queremos dizer que perdeu sua
importância para a formação das pessoas.

Olhando com mais atenção a realidade das escolas estaduais e municipais


de Jí-Paraná, constata-se que em sua grande maioria que existem laboratórios de
informática educativa. Este é um fato. Agora, se questionamos como este espaço
está sendo “habitado”, aí a história muda de figura. É verdade também que de uma
forma ou de outra, os alunos acessam a internet e tem contato com o computador
via lan houses da cidade. Isto foi comprovado por mim mesmo quando
acompanhava uma atividade de pesquisa com a professora Abiu 1 em uma turma
do 4ª ano do Ensino Fundamental. Ao começar as atividades com Geografia,
motivou os alunos que antes pesquisassem em casa o significado da palavra
“Geografia”, e aí, foi dando exemplos de fontes de pesquisa. Ficamos surpresos
que, a grande maioria citou a internet como fontes de pesquisa e dos 35 alunos da
sala, 21 tinham acesso à internet, e muitos destes, nas lan houses de seus bairros.

Diante do aumento de tantas possibilidades causadas pelas transformações


tecnológicas e seu adorável mundo novo, a era da internet ou da informatização,
(não sei bem qual definição ficaria melhor aqui), trouxe mudanças inexoráveis
não apenas em termos de praticidade, mas na visão de mundo e na forma de como

1
Usaremos nomes de frutas como codinomes, de forma a preservar a identidade dos professores. Assim, o
abiu é uma fruta silvestre da região amazônica e do Peru, levemente adocicada.

10
concebemos as coisas. Nossa visão de mundo foi e está mudando pela rapidez das
transformações causadas pela interne. São novas necessidades causadas por tantas
mudanças.

Weiss (2001) defende a idéia de que a informática tornou-se uma


necessidade no mundo em que vivemos. Assim, é a escola que tem a missão de
preparar o indivíduo para dar respostas aos desafios desta sociedade e não pode
simplesmente ignorá-la ou deixar de tomá-la como aliada no processo de ensino-
aprendizagem, até porque as crianças já nascem mergulhadas em um ambiente
altamente tecnologizado. E, que neste sentido, a informática educativa pode
auxiliar na promoção de um currículo acadêmico integrado, mas que é preciso
definir quais são os objetivos da Informática Educativa na escola.

A realidade pede um professor atento às mudanças e não apenas um


neólatra. Um professor que veja seu aluno como parceiro no imenso desafio de
transformar informação em conhecimento, e que, neste sentido, jamais será
superado, pois como afirma Demo (2008, p. 14) desafiando-nos a caminhar, a nos
colocarmos em marcha, apesar do atraso histórico:

“No entanto, como as novas tecnologias vieram para ficar e só fazem inovar-se
com pressa cada vez maior, elas acabam impondo-se à revelia da escola. É uma
pena que a inovação tenha de vir de fora, compulsoriamente. Vamos pagar caro
por esse atraso. No entanto, se quisermos mudanças de dentro, no sentido de
saber lidar com as novas tecnologias em nome do direito de estudar da população,
a figura-chave é o professor. Ele é o elo mais estratégico dessa corrente.”

Percebemos muitos professores na escola, com boas práticas quando usam


as tecnologias, mas solitários no seu fazer. Vejo isto em minha escola. Temos
poucos espaços para trocas e partilhas. Perde-se uma riqueza muito grande porque
os professores não têm este espaço de trocas. Dentro deste contexto, Ramos
(2009, p.4) diz claramente que:

“A inserção do computador na escola para prover aprendizagem sugere mudanças


pedagógicas que englobam a organização da escola, a dinâmica da sala de aula, o
papel do professor e dos alunos e a relação com o conhecimento. É necessária
uma reestruturação do ensino, não só na sua estrutura física e metodologia, bem
como nas inter-relações, o que demanda uma nova postura profissional dos
professores e um repensar dos processos educacionais, principalmente aqueles

11
relacionados com a formação de profissionais e com os processos de
aprendizagem.”

É claro que o desafio de se avançar é uma tarefa hercúlea com o modelo de


escola e de gestão que temos. Porém, é possível fazê-lo começando com a
formação dos professores e de como esta deverá será feita.

Tomando como base a realidade da escola onde atuamos, percebemos uma


presença constante dos alunos no Laboratório, no horário oposto das aulas,
principalmente alunos dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Os
alunos freqüentam o LIE para fazer pesquisas solicitadas por seus professores,
montar slides no Power Point para apresentação de trabalhos escolares, procurar
vídeos no You Tube para alguma apresentação cultural e também para digitação de
atividades. Não usam MSN ou Orkut porque estão bloqueados. Tais alunos muitas
vezes estão à frente dos professores e sabem mais do que eles. Neste
descompasso, se assim poderíamos dizer, é preciso não somente dar aos
professores uma formação técnica do tipo como usar o computador, etc.
Acreditamos que seja preciso aos poucos mudar toda uma cultura do uso de tais
recursos. Não apenas usar as novas tecnologias com mentalidade tradicional.
Mudar a mentalidade e a forma de ver tais instrumentos. É triste constatar, por
exemplo, que a escola onde atuamos está entre as três piores no índice do IDEB 2
dentre as escolas estaduais de nosso município.

Com o pouco tempo que tivemos do tempus fugit, voltamos nossa atenção
sobre como os professores utilizam o laboratório de informática educativa da
escola, como eles vêem este espaço e quais as dificuldades que sentem em utilizá-
lo, pois pelo que constamos, eles precisavam ser ouvidos e gostaram de conversar
conosco.

Trabalhamos com falas das duas coordenadoras do LIE, alguns professores


e alunos dos anos finais do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino médio.
Isto nos possibilitou registrar como se fosse uma fotografia, talvez não muito
nítida ainda, do Laboratório de Informática Educativa da Escola Estadual de
2
O IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Foi criado em 2007 com o objetivo de medir a
qualidade do ensino das escolas da rede pública.

12
Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira. Fotografia esta
que foi sendo tirada enquanto cada pessoa ia relatando suas experiências.

Foi um exercício de escuta atento e prazeroso que veio a confirmar mais


uma vez a necessidade de tornar a nossa prática de gestores, não apenas
interventiva, mas acima de tudo investigativa. A atitude investigativa é o motor
básico do exercício profissional, pois possibilita o desocultamento do real a partir
do momento que enquanto orientador educacional, por exemplo, investigo aquilo
que eu conheço e que me incomoda, porque existe um imperativo ético-moral que
me impulsiona: ajudar o educando a se ver, ver o outro e o mundo que o rodeia. E
como diz Minayo (1999, p.17), “nada pode ser intelectualmente um problema, se
não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática”. Sentimos que um
dos grandes problemas da escola hoje é ouvir seus atores, interpretar suas
necessidades e respeitar seus protagonismos.

O que segue é na verdade desejo sincero de registrar um pedaço da


história da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek
de Oliveira a partir do depoimento de alguns de seus atores quando falam partindo
de suas visões sobre o que significa para eles o Laboratório de Informática
Educativa no contexto da escola e de suas práticas educativas. Ao apresentarmos a
visão das coordenadoras do LIE, alunos e professores, levantamos questões que
podem abrir caminhos para outras pesquisas. Como todo relato de experiências,
este trabalho poderá ter outros desdobramentos.

13
2 – As novas tecnologias e a escola da educação básica
“Nem a salvação nem a perdição reside na técnica. Sempre ambivalentes, as
técnicas projetam no mundo material nossas emoções, intenções e projetos. Os
instrumentos que construímos nos dão poderes, mas, coletivamente responsáveis,
a escolha está em nossas mãos.” (LÉVY, 1999, p. 16-17)

É sempre tentador achar que as novas tecnologias resolverão todos os


problemas da educação, ou parte deles. Que basta, por exemplo, dotar a escola de
um excelente laboratório de informática ou outro aparato qualquer que venha
trazer a sensação de que agora sim, as dificuldades daquela escola serão resolvidas
e seus alunos aprenderão mais e se tornarão cidadãos mais críticos. Acreditamos
que a inserção das novas tecnologias ajuda sim, porque são atrativas para os
alunos; porém, é preciso que sejam repensadas as formas de como estas são
utilizadas na escola.

“É papel da escola democratizar o acesso ao computador, promovendo a inclusão


sócio-digital de nossos alunos. É preciso também que os dirigentes discutam e

14
compreendam as possibilidades pedagógicas deste valioso recurso. Contudo, é
preciso estar conscientes de que não é somente a introdução da tecnologia em
sala de aula, que trará mudanças na aprendizagem dos alunos, o computador não
é uma “panacéia” para todos os problemas educacionais.” (Rocha, 2008, p.01)

Encontramos na escola onde trabalhamos alunos que não manipulam a


internet ou não tem acesso ao computador, mas vivem em uma sociedade que de
certa forma está tão enredada com o linguajar tecnológico, que não é mais
possível fazer de conta ou prescindir dele. Assim, faz parte do cotidiano de nossos
alunos o acesso ao mundo das tecnologias mesmo que através de mínimos sociais,
isto é, via escola, um cursinho oferecido por tal deputado ou programas oferecidos
pela prefeitura.

Percebemos quando conversamos com os alunos dos 6º ano até o ensino


médio, um forte sentimento de exclusão que faz com que percam a dimensão do
sonho, de uma perspectiva melhor de vida. O cotidiano desses alunos é marcado
por forte sentimento de exclusão, ao mesmo tempo em que necessitam quase que
desesperadamente de referenciais para pautar suas vidas, e às vezes, encontram
estas referências nos professores e na própria escola.

Dentro desta situação, Pais (2008) questiona que se a sociedade atual


vivencia mudanças significativas na forma de organizar a vida cotidiana, a escola
não pode ficar marginalizada deste processo evolutivo. E que se o contexto social
onde a escola está inserida está tomado por inovações tecnológicas, sem o
domínio das mesmas, é quase que impossível de se conquistar a cidadania. Como
fazer com a escola seja um espaço de construção desta cidadania e que os alunos
sejam estimulados a construí-la juntamente com todos os envolvidos no processo
educativo?

Quem convive diariamente com alunos em uma escola pública de periferia


em um bairro periférico sabe de que tecido é feito este cotidiano. Cotidiano que
poderíamos caracterizar como aquele:

[...] de todos os dias e de todos os homens, [...] percebida e apresentada


diversamente nas suas múltiplas cores e faces: a vida dos gestos, relações e
atividades rotineiras de todos os dias; um espaço do banal, da rotina e da
mediocridade; um espaço privado de cada um, rico em ambivalências,

15
tragicidades, sonhos e ilusões; o micro mundo social que contém ameaças e,
portanto, carente de controle e programação política e econômica; um espaço de
resistência e possibilidade transformadora. (CARVALHO & NETTO, 2005, p.
14)

Então, o que a informática, a internet, as tecnologias podem trazer de


possibilidade para superar esta exclusão e dar ao currículo, à escola uma
expressão mais viva e mais dinâmica? Haja vista que em meio à algazarra dos
alunos ou entre uma agressão, manifesta-se a necessidade de mudanças. O que um
Laboratório de Informática poderia agregar de novo na função e no significado da
escola ontologicamente? Pois ela continua, às vezes, sendo uma das poucas
referências de cidadania e promoção de vida.

2.1 - A escola na cultura digital

O uso da internet na escola está inexoravelmente mudando as relações


entre professores e alunos e a forma como estes dois atores aprendem e ensinam.
Mudam-se as relações e as concepções do que seja ensinar e aprender, como
também a concepção do que é a função da escola. São mudanças colossais que
nem sempre são bem ou pacificamente assimiladas pela escola. Antes de tudo,
tem de ser vistas como mudanças culturais, discutidas na escola. Com muita
propriedade Fagundes (2006) afirma que:

“Trata-se de uma mudança de cultura, mudanças de concepções, de um novo


paradigma. Esta situação provoca instabilidade e muitas incertezas. Toda a
formação dos professores tem sido feita em cima de certezas, de princípios
estabelecidos para a preservação, para a conservação, na concepção de que um
bom professor deve conhecer mais profundamente o que vai ensinar. É corrente
afirmar-se que os professores estão mal preparados porque não ‘dominam’ os
conteúdos que ensinam. Além disso ele também deve ter um bom ‘domínio’ de
sua classe de alunos, para manter a disciplina, referindo-se ao ‘bom
comportamento’ dos alunos. E nesta formação eles dominam também os
materiais pedagógicos, manejam bem as tecnologias de ensino.”

O grande “tapa na cara” - com luva de pelica é claro, - que Léa Fagundes
nos dá e que nos tem provocado muita reflexão, é quando ela trabalha a idéia de
que não se trata de integrar as tecnologias no currículo, e sim, integrar a escola a
cultura digital. Percebemos que a escola permanece com sua cultura, com sua
tradição e quando se apropria da tecnologia quer colocá-la a serviço da
preservação de um passado arcaico e autoritário, como também com suas

16
respectivas metodologias e visões de mundo que não respondem mais a vida atual.
Ora, se pensarmos com um pouco de coragem, vamos assumir que a escola não
está respondendo àquilo que lhe cabe neste novo século de novas luzes, novas
formas de conhecimentos dinâmicos e altamente criativos. É como se
estivéssemos vestindo ou tentando vestir uma roupa que não nos cabe mais. Se
formos olhar atentamente vamos considerar que Pais (2008, p. 14) têm razão
quando afirma que:

“Tendo em vista que a prática docente está essencialmente associada à natureza


das ações realizadas pelos alunos, a ampliação das atividades didáticas através do
computador, a ampliação deve levar em consideração esses dois níveis de
envolvimento. Ações de professores e alunos são redimensionadas pelo uso desse
novo suporte didático, ditando uma postura de envolvimento que certamente não
se identifica com as condições tradicionais. Em outros termos, a construção das
competências objetivadas para a formação do aluno depende também da
disponibilidade do professor de se engajar na redefinição de sua própria prática,
incorporando a ela a componente tecnológica de sua própria formação. Para isso,
é preciso que a iniciativa individual de cada um seja exercida em sintonia com a
capacidade de participar ativamente em propostas de trabalho coletivo.”

É verdade: a cultura digital é uma nova cultura e que exige tempo para ser
assimilada. Exige tempo sim, mas necessita coragem, empenho para ser
implantada e assumida na escola e, além disso, que não basta conseguir
equipamentos, para que esta inclusão se efetive. É o que Fagundes (2006) defende
como um grande desafio, a saber: o de incorporar as tecnologias como
ferramentas de ensino, ou seja, integrá-las às práticas docentes.

Dentro desta nova cultura digital, sem querer entrar em neologismos


maçantes ou modismos pedagógicos que fazem perder a força das teorias que os
engendraram, o professor assume o papel de aprendiz permanente. Não existe
mais alguém formado, pronto e acabado. E isto nem sempre é fácil de assimilar
dentro de uma cultura que ainda continua imperando nas escolas, ou seja, aquela
em que o professor tem imensa dificuldade para sentar e estudar. Como superar
esta resistência que domina o processo da formação continuada? Uma das
propostas seria a de ajudar os educadores a tematizar suas práticas. Temos feito
pequenas experiências em nossa escola e tem dado certo, ajudando assim os

17
professores a vencer com paciência esta resistência em estudar e aprender a lidar
com o computador, por exemplo.

Tivemos por um tempo no primeiro semestre de 2010, uma sessão de


estudos promovida nas segundas-feiras no horário oposto, onde buscamos ajudar
os professores do 1º ao 5º ano a melhorar suas práticas pedagógicas à medida que
refletiam. A partir destas sessões, surgiram atividades interessantes como o uso do
blog com seus alunos por determinadas professoras. O que nos faltou foi mais
interação com o laboratório de Informática e TV Escola, para assim expandirmos
ainda mais o uso das mídias no cotidiano escolar. Estas sessões ficaram paradas
por um tempo em função da troca e da saída da supervisora para outra escola e
agora estão sendo timidamente retomadas. O grande desafio futuro é fazer estes
momentos com professores do 6º ao 9º ano e o pessoal do ensino médio.
Percebemos que eles possuem mais resistência. Porém, pedem ajuda e se
ressentem quando observam o pessoal dos anos iniciais do ensino fundamental
sentando e trocando entre si. Outro dia um aluno do 3º ano do ensino médio veio
até a coordenação pedagógica e desabafou: “estou terminando o ensino médio sem
noções básicas de química”. É uma pancada no estômago ouvir um grito como
este. E quando estas situações acontecem - e que não são poucas e nem isoladas -
somos acometidos, às vezes, por um sentimento de impotência. Outras vezes, de
revolta e tantas outras de frustração. A reação mais natural, diríamos assim, é de
buscar um culpado. É culpa de quem quando o aluno não aprende ou quando
visivelmente ele está saindo da escola sem as competências necessárias para dar
prosseguimento aos estudos, por exemplo? Defendemos aqui a idéia de que a
escola precisaria se avaliar mais vezes enquanto instituição. Acompanhar melhor
seus professores e suas práticas. Orientá-los. Ouvi-los. Para ajudar vale citar uma
provocação de Fagundes (2006) quando afirma que:

“Em nossa concepção, o auxílio de que o professor precisa, e merece receber,


deve se constituir num apoio em serviço e em experiências de capacitação, em
que ele possa experimentar por si mesmo as novas práticas de uso das tecnologias
na educação, interagindo com seus pares na realidade de sua escola. Essa
formação precisa ser compartilhada, mantendo-se a comunicação na rede para
sustentar os questionamentos e as reflexões pertinentes. Para tornar-se um
orientador da construção de conhecimento de seus alunos, ele precisa também
tornar-se um construtor de inovações.”

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Assim o que está em jogo nesta mudança de visões e postura dos
professores, muito mais do que reprovar ou não os alunos, é o desafio de saber
como incorporar as tecnologias às atividades de sala de aula, com avaliações
capazes de medir as habilidades e competências que as novas gerações precisam
desenvolver para viver em tempos tão desafiadores.

2.2 - O letramento digital ou a alfabetização tecnológica

A escola do jeito que está ai já não responde mais. Percebo isto em relação
à situação dos alunos que estão saindo do ensino médio na minha própria escola.
O descontentamento é imenso. Em coro eles dizem que não estão preparados
para nada. Ler, escrever e interpretar, esta última muito mais, são habilidades
indispensáveis para que uma pessoa seja mais cidadã, ainda mais quando levamos
em conta a realidade de um país como o nosso onde cidadania, democracia e luta
por direitos e políticas públicas ainda são realidades incipientes.

No inicio do ano, quizemos perguntar para os pais o que eles estavam


achando da qualidade do ensino que a escola estava oferecendo. Tivemos duas
surpresas: a primeira delas é que os pais não queriam responder porque estavam
muito ocupados ou atrasados para o trabalho. Claro depois avaliamos nossa forma
de abordagem pois ela mesmo teve seus contratempos. A segunda surpresa foi
constatar que 98% estava contente e achava o ensino de ótima qualidade. No
fundo eles não tem noção do que seja uma educação de qualidade, pois para a
maioria, a função da escola é ensinar ler e escrever. No entando, podemos
constatar o porquê toda esta noção trazida pelos pais está equivocada, como
mostra as palavras de Demo (2008, p. 11):

[...] “Se fôssemos corretos com as crianças, elas teriam que ser alfabetizadas com
computador, pela razão simples de que essa máquina (ou algo similar) vai ser
parceira delas pela vida afora, inevitavelmente. Alfabetizar sem computador
significa, falando cruamente, atrasar a vida da criança. Temos inúmeras
razões/desculpas para não fazermos isso, a começar pelos custos e problemas de
acesso, em especial por parte das populações mais marginalizadas. Por isso
mesmo, não cabe fantasiar propostas que não têm a mínima condição de
realização concreta. Ademais, ler, escrever e contar é muito pouco, quase nada,
ainda que demoremos até três anos para inventar esta mixaria. Não se trata, como
se alegou, apenas de fluência tecnológica, mas de cidadania fluente que sabe

19
aproveitar-se de novas plataformas tecnológicas para colocar o bem comum
acima das apropriações privadas.”

Diante do exposto, questiono o modelo de escola que temos e não a sua


importância. Não é somente mudar o currículo, temos que repensar a escola no
seu sentido mais amplo. Hernández (1998, p. 19) prefaciando o seu livro
Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho, corrobora
justamente este nosso posicionamento quando afirma que o interessante na
experiência sua com projetos de trabalho foi:

“Comprovar que era possível organizar um currículo escolar não por disciplinas
acadêmicas, mas por temas e problemas nos quais os estudantes se sentissem
envolvidos, aprendessem a pesquisar (no sentido de propor-se uma pergunta
problemática, procurar fontes de informação que oferecessem possíveis respostas)
para depois aprender a selecioná-las, ordená-las, interpretá-las e tornar público o
processo seguido”.

A escola não é a única que educa, por isto precisa aprender a articular. Fico
pasmo quando percebo que ainda temos professores “ensinando geografia, história
e etc.” somente com questionário. Outro dia, por exemplo, um aluno questionou
um professor na escola que pediu que a turma fizesesse 20 questões do conteúdo
de determinada disciplina. Ele respondeu para o professor: “Do que me adianta
tudo isto? Vou aprender o que com isto?”. E aí já sabemos onde o aluno foi parar.
Não se trata de adaptar as novas tecnologias ao cotidiano das escolas, mas
acompanhar a autonomamente as mudanças colossais que vão acontecendo no
mundo, onde já ouvimos falar da web 3.0, ou seja, a web semântica. O letramento
digital é um desafio imperioso acima de tudo para professores e gestores.

2.3 - A Escola de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de


Oliveira – história e contexto

O Governador do Estado de Rondônia, Ângelo Angelim 3, conforme consta


do Decreto 2728 de 17 de setembro de 1985, no uso das atribuições que lhe eram

3
Foi nomeado como governador pelo então presidente da República José Sarney e encerra assim em
Rondônia, o ciclo dos governadores nomeados. Governou Rondônia de maio de 1985 a 14 de março de 1987.
Sua administração procurou priorizar o setor produtivo, a educação e a saúde. Concorreu para senador em
1990, mas não foi eleito.

20
conferidas o art. 70, inciso III da Constituição Estadual, e, além disso, o que
consta do processo N.º 001147, legitimou a criação da Escola de 1º e 2º Graus
Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizado na Rua Governador Jorge Teixeira,
827 no Bairro de Nova Brasília. No art. 2º do mesmo decreto estabeleceu a
Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Ji-Paraná a responsabilidade de
adotar as providências necessárias ao funcionamento da referida Escola. De
acordo com o Parecer 169/CEE/RO/98 a escola passou a se chamar Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira,
localizada a Rua Governador Jorge Teixeira nº. 827 – Bairro de Nova Brasília em
Ji-Paraná – Rondônia - CEP 76.908-468.

Atualmente a escola atende alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental


e Médio, EJA fundamental e médio, funcionando nos três períodos: matutino,
vespertino e noturno. Além de possuir professores habilitados nas mais diversas
áreas, conta com os seguintes especialistas no seu quadro gestor: duas
supervisoras e dois orientadores educacionais. Quanto à direção da escola, por
mais que assuma um discurso democrático, e de gestão democrática, foi nomeada
via indicação política, contrariando o que estabelece a LDB 9.394 de 20 de
Dezembro de 1996 quando afirma no artigo 14:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do


ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e
conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes.

A escolha dos diretores por indicação política causa na escola um


retrocesso quanto à prática da gestão democrática, já que a nomeação coloca de
lado a escolha direta de seus representantes. Percebem-se diretores amarrados e
engessados por falta de respaldo junto a seus representados, perdendo assim a
credibilidade da comunidade educativa.

A comunidade da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio


Juscelino Kubitschek de Oliveira possui uma clientela cujo padrão

21
socioeconômico é constituído por famílias em sua grande maioria de baixa renda e
que recebem Bolsa Família4. É elevado o número de alunos que vivem somente
com as avós, cujos pais foram trabalhar ou nos Estados Unidos, Espanha e
Portugal ou mesmo em fazendas de gado nas regiões próximas. Os bairros do
entorno onde a escola está inserida são muito violentos, onde a ausência do Estado
é quase que absoluta quando se pensa em políticas públicas voltada para a saúde,
deporto e lazer. A cidade de Ji-Paraná tinha, segundo o censo de 2000, 111.010
habitantes. E quando se pensa em áreas de lazer, vamos verificar que são poucas
para o número de habitantes que a cidade possui. Constatamos três espaços
públicos e que estão localizados no centro da cidade. Um deles aparece abaixo na
imagem 01. A maioria dos espaços de lazer são campinhos de futebol que a
própria população organiza, conforme consta na imagem 02.

Imagem 01: espaço de lazer chamado Beira Rio Cultural que fica localizado as
margens do Rio Machado que corta a cidade.

4
O Programa Bolsa Família foi criado para ajudar as famílias de baixa renda e garantir a elas o direito à
alimentação, acesso à educação e à saúde. Tem como objetivo maior a inclusão social por meio de
transferência de renda e garantia de acesso a serviços essenciais.

22
Imagem 02: campinho de futebol improvisado localizado na Rua Maringá
próximo ao Estádio de Futebol chamado Biancão.

São poucos os espaços públicos de lazer, o que de certa forma justifica o


alto índice de criminalidade juvenil. Em entrevista realizada com a assistente
social do CREAS5, e que trabalha com o programa Liberdade Assistida 6
verificamos que são atendidos por mês de 45 a 50 casos de adolescentes e jovens
em conflito com a lei.

A relação entre ausência de espaços públicos de lazer e aumento de


violência e criminalidade juvenil é reforçada por Silva e Versiani (2009, p.6-21)
quando afirmam que:

“O lazer transcende as esferas do descanso e do divertimento para se firmar, por


meio de sua vivência, também como um instrumento de resistência à realidade
desigual em que vivem os homens e como um veículo propulsor de
desenvolvimento humano, principalmente quando sua prática se orienta a partir
de valores educacionais. E que quando o jovem não tem muitas opções para se ter
uma vida saudável, quando o mesmo não quer (ou não pode) estudar, não trabalha
(ou trabalha informalmente fazendo os chamados ‘bicos’), alimenta-se mal,
dorme mal, é discriminado socialmente, não pratica esportes porque não tem
como entrar na escola (porque não estuda nela) e em seu bairro (ou na região) não
possui espaços públicos para a prática de atividades físicas, culturais, de lazer, a
única alternativa para não ficar totalmente ‘à toa’ é assistir televisão, quando não

5
Centro de Referência Especializado da Assistência Social é um dispositivo do Sistema Único da Assistência
Social que trabalha com famílias em situação de risco pessoal e social.

6
Liberdade Assistida é um programa que prevê medidas sócio-educativas a jovens com idade entre 12 e 21
anos, que tenham cometido atos infracionais.

23
acessar a internet, ou passar um bom tempo com as ‘turmas’ juvenis, como as
gangues, por exemplo.”

A escola, dentro deste microcosmo, se torna uma ilha de paz e um dos


poucos lugares humanos. Existem centenas de igrejas evangélicas, cada uma com
suas peculiaridades e com ênfase na teologia da prosperidade.

O bairro onde está inserida a escola não tem rede de esgotos e as ruas são
de terra batida. Em muitas casas faltam até mesmo água tratada e serviço de coleta
de lixo.

Em meio a este contexto a escola atende atualmente mil e quatrocentos e


sessenta e sete alunos, que vivem nos bairros próximos à escola: Nova Brasília,
São Francisco, Val Paraíso e Juscelino Kubitschek. Conforme podemos constatar
na tabela e gráfico abaixo (Tabela 01 e Gráfico 01 respectivamente), a partir de
dados obtidos na secretaria da escola e que foram extraídos do Programa
Gescolar7. Sobre o Gescolar, a diretora da escola informou que “ajudou muito na
secretaria porque é mais completo do que o outro (Programa Aluno). Se a gente
conseguir explorar tudo o que ele oferece, é fabuloso. A gente paga todos os
meses R$ 100,00 para a manutenção dele e é uma beleza. Foi uma mão na roda
para o pessoal da secretaria. Lá estão todos os dados dos alunos.” Conclui a
diretora.

7
É um programa de gestão desenvolvido para instituições de ensino com o objetivo de gerenciar os registros
da secretaria da escola sobre os alunos, professores, matrícula, controle de notas, emissão de boletins e
espelhos, etc.

24
Imagem 03: Logomarca do Programa Gescolar

Com a leitura dos dados obtidos podemos perceber que a maior parte dos
alunos é nascida em Ji-Paraná, seguido de outras cidades do Estado de Rondônia,
depois por outros Estados da Federação e até de outros Países.

O Estado de Rondônia reconheceu um decréscimo da população migrante em


relação a total. Em 1991, 62% da população era migrante. Segundo o último
censo demográfico (2000), cerca de 52% são migrantes. Há grande redução da
imigração para Rondônia que, revertendo sua condição de receptor, hoje pode ser
considerado um estado de emigração, principalmente em favor de Roraima. Isto,
no entanto, não significa que áreas específicas se revigorem através do estímulo
de novos vetores. Caso exemplar e a cidade de Buritis (RO), a 300 quilômetros de
Porto Velho. [...] Os resultados do último censo demográfico apontam para a
confirmação do arrefecimento dos fluxos migratórios inter-regionais, ao mesmo
tempo, que ocorre a acentuação da mobilidade espacial da população intra-
regional. Também seguindo a tendência nacional, mas, em ritmo menor, a
Amazônica vem vivenciando um processo de urbanização acelerado ocasionado,
principalmente, por movimentos migratórios do tipo rural-urbano. Nas últimas
décadas, de 1970 a 2000 é forte a tendência da concentração populacional urbana
e da urbanização do território com o surgimento de novos núcleos urbanos e
municípios. (MARCONDES, 2009, p. 1)

Através da tabela abaixo se pode ter uma visão geral do número de alunos
matriculados na escola em 2010 e onde nasceram. É oportuno lembrar que nem
sempre este conhecimento a cerca da vida dos alunos são conhecidos pelos
gestores e professores. Não são conhecidos e tampouco trabalhados e levados em
consideração na prática pedagógica.

Nascidos em Ji- Nascidos em Nascidos em Nascidos em


Paraná outras cidades de outros Estados outro País TOTAL
Rondônia
Ensino Fundamental – 1º ao 5ª ano

25
441 91 48 01 581
Ensino Fundamental 6º ao 9º ano
361 87 33 02 483
Ensino Médio Vespertino
63 13 05 0 81
Ensino Fundamental Noturno - 6º ao 8º ano
97 23 23 0 143
Ensino Médio Noturno
109 45 25 0 179
1.071 259 134 3 1.467

Tabela 01: Número de alunos e local de nascimento – matrícula 2010.

Gráfico 01: Local de nascimento dos alunos da Escola Estadual de


Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira – ano de
2010.

Um dos primeiros grandes desafios da escola é de fato ajudar o grande


número de alunos que chegam ao 6º ano do ensino fundamental com grandes
dificuldades na leitura e na escrita, bem como na alfabetização matemática. Um
segundo desafio é acompanhar e ajudar os professores a tornar sua prática
pedagógica mais dinâmica e que responda ao que se espera da educação hoje. E o
terceiro é tornar a gestão mais democrática e participativa incluindo dentro deste,
momentos de avaliação enquanto instituição.

26
2.4 – O cenário e a metodologia da pesquisa

A prática do ouvir crianças, adolescentes e professores na escola tem se


tornado para nós, exercício de humildade epistemológica e uma possibilidade
imensa de conhecer estes atores, um exercício quase etnográfico, já que “perco”,
às vezes, um longo tempo percebendo a rotina da escola com todas suas
linguagens e linguajares. Sim, um exercício etnográfico já que de certa forma é
uma etnografia escolar assim como no dizer de Geertz (1989, p. 7) falando do
exercício de observar:

“É como tentar ler (no sentido de ‘construir uma leitura de’) um manuscrito
estranho, desbotado, cheio de eclipses, incoerências, emendas suspeitas e
comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais do som, mas
com exemplos transitórios de comportamentos modelados.”

Declarei este prazer durante todo o percurso desta pós-graduação e até o


final “briguei” dizendo que meu interesse maior seria em ouvi-los, pois se não
posso mudar nada sozinho, posso entendê-los, dar a oportunidade de falar.

Fascinam-me as pérolas ditas e também aquelas não ditas no intervalo do


silêncio entre um sorriso e uma expressão que não saiu da boca, que não foi
proferida, mas poderia: “o que será que este cara quer perguntando isto para
mim?” Ou no final da fala com uma professora: “agora me diga qual é mesmo o
objetivo deste interrogatório? Soltou uma gostosa gargalhada em seguida. Ou
outra: “que bom interagir com você, pois sempre saio acrescida”. E ainda outra:
“Era somente isto? “O papo estava tão bom”. Percebemos o poder da palavra e da
troca, palavra esta que no dizer de Bachelard (1990, p.35) ganha um significado
por que: “Toda a expressão falada não é outra senão eco de uma sonoridade
natural do ser, do seu ser. E sempre o ser, um ser, os seres são uma garantia da
Palavra. O ser da Palavra é só uma forma do Ser. A Palavra é sempre um instrumento.”

A palavra se tornou um instrumento e provocou em nós dois sentimentos:


um de alegria e outro de reconhecimento de que não conhecemos o professorado
da nossa escola. Não os escutamos como deveríamos. Porque nos esquecemos do
puxão de orelha feito por Freire (2003, p. 45) quando afirma que:

27
“Pormenores assim da cotidianidade do professor, portanto igualmente do aluno,
a que quase sempre pouca ou nenhuma atenção se dá, têm na verdade um peso
significativo na avaliação da experiência docente. O que importa, na formação
docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão
do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada
pela segurança, do medo que, ao ser "educado", vai gerando a coragem.”

Todos os sujeitos que responderam às provocações da entrevista semi-


estruturada o fizeram numa tarde de calor intenso (46 graus) em uma escola baixa,
porque os engenheiros e arquitetos (estou sendo moderno e generoso de pensar
que tais profissionais estiveram presentes no momento de pensar a construção da
escola JK) que a planejaram jamais levaram em conta que vivemos em um Estado
que faz calor quase todos os meses do ano, e que neste em especial, passa por uma
seca terrível, como também, é claro, por conseqüência entendem bem pouco de
educação ou porque jamais leram Freire (2003, p. 45): “a eloqüência do discurso
‘pronunciado’ na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos
sanitários, nas flores que adornam. Há uma pedagogicidade indiscutível na
materialidade do espaço”.

Quando se pensa em nossas escolas tem que se entender que elas foram
todas feitas em toque de caixa dentro do contexto de um Estado de migração
intensa que Perdigão e Bassegio (1992, p. 164) comentam que:

“Estado de Rondônia começou a receber numerosos contingentes de famílias


migrantes. Desta forma, enquanto a população não chegava a 37 mil habitantes
em 1950, vinte anos depois, 1970, já estava com 70 mil. Já 1980 atingia quase
500 mil habitantes. O crescimento nesta década foi de 16,1%.

Com o lema “Integrar para não entregar” o regime militar incentivou a


ocupação da Amazônia. Nossa escola foi criada, exatamente nesta década no
boom da migração em 1985 De acordo com o senso demográfico do ano de 2000,
Rondônia tinha exatamente 1.379.787. Tudo foi feito assim meio como de
provisório.

Calor, fumaça, escola sem ventilação, salas superlotadas e o professor


disputando com o barulho de dois ruidosos ventiladores a atenção dos alunos. A
despeito deste ambiente nem um pouco confortável e favorável fomos recebidos
com um alegre e respeitoso sorriso: “Pode ser aqui mesmo Locimar, aqui na sala

28
de aula mesmo?”. Quanto aos alunos, no começo foram mais cautelosos, porém
depois que o assunto se tornou familiar, a conversa rendeu e se tornou uma
discussão coletiva. Enfim, um espaço de troca. Um papo legal. Um papo cabeça.

2.5- A fala dos sujeitos: coordenadoras, professores e alunos

A primeira pessoa a ser entrevistada foi a coordenadora provisória do LIE


no período matutino, pois a outra está de Licença Prêmio. Formada em Letras pelo
Prohacap8·. Anteriormente estava atuando na TV Escola. Não fez nenhum curso
em Informática Educativa: “Aprendi em casa alguma coisinha, e agora estou
aprendendo alguma coisinha aqui”, asseverou.

A professora relatou que quando chega de manhã à escola, liga os


computadores, arruma a sala e orienta na hora de imprimir os trabalhos dos
alunos, como também anota o que querem pesquisar e o tipo de pesquisa. O que
não entende, procura ajuda de algum professor. A entrevista com ela foi feita no
próprio LIE, enquanto isso, animados grupos de alunos do ensino fundamental
pesquisavam comidas típicas dos respectivos países que lhe tocaram por ocasião
da Noite Cultural9. Ao se referir a um grupo dos animados adolescentes (eram
seis) em um computador, disse: “aquela turminha está ali desde manhã e eles não
sabem o que querem, tentei ajudar. Querem comidas típicas do Brasil, querem
coisas práticas, não querem ler receitas muito longas, preferem as gravuras e não
querem ler as receitas. O professor que é responsável pela apresentação deles na
Noite Cultural também tentou explicar, mas eles não entenderam. Com essas
coisas da Noite Cultural, os alunos estão pesquisando muito. Eles têm
dificuldades de ler para ver o que eles querem. Se o texto for muito grande, eles
desistem logo”.

8
Programa de Habilitação e Capacitação em parceria com a Unir, Sintero e Prefeituras, cujo objetivo era
qualificar professores leigos, desafio imposto pela LDB 9.394/96.

9
Noite Cultural é um projeto que a escola desenvolve todos os anos colocando em evidência alguma situação
peculiar dos países da América Latina e do Caribe. Cada ano é trabalhado com países de um continente e
neste ano, estamos trabalhando com Países da América Latina e Caribe.

29
Continuou relatando uma situação em que uma aluna veio pesquisar sobre
a Guerra do Vietnã uns três dias consecutivos. Como o LIE10 estava muito cheio, e
ela não entendeu nada, desistiu e disse: “Vou ficar sem a nota, não entendi nada”.

Olha para mim, sorri e conclui sua fala dizendo: “É gostoso trabalhar aqui,
porque o ambiente provoca”.

Existiam alguns alunos do primeiro ano do ensino médio no LIE e aproveitamos


para conversar com eles. Era um grupo de três alunos e todos afirmaram que o
LIE significa pesquisa. Por exemplo: “Esse espaço para mim significa pesquisa”;
“É bom para os alunos ter (sic) esse lugar para pesquisar”; “Os professores pedem
muito para a gente pesquisar”. Um aluno relatou que a professora distribui os
assuntos e disse: “Vocês escolhem se vão apresentar em slides ou cartazes.
Quando a professora está junto, orientando a gente, é muito melhor”. Nesta fala se
percebe claramente que para o professor o desafio maior é o de ajudar o aluno a
transformar informação em conhecimento. Para Pais (2008, p. 20): “Cresce a cada
dia a necessidade de um novo desafio docente que é a competência de trabalhar
com informações, ter competência para pesquisá-las, associá-las e aplicá-las às
situações de interesse do sujeito do conhecimento”.

Os alunos quando se referiram a uma das professoras que os acompanha


no LIE ressaltaram a professora Pupunha: “Gostamos da professora Pupunha 11
porque ela vem ajudar a gente mais vezes aqui no laboratório de informática. A
maior dificuldade que temos é que a internet é muito lenta e aí fica todo mundo
amuntuado (sic) em cima de um computador só”.

Conversamos com um grupo de alunos do terceiro ano do ensino médio


período vespertino, que estavam na escola na manhã do dia 24 de setembro de
2010. Um deles, ao se referir à importância do LIE, asseverou: “Aqui é um lugar
mais calmo para a gente estudar. Tem o ar condicionado, é mais fresco e a gente

10
Sigla usada para fazer referência ao Laboratório de Informática Educativa ou Educacional.
11
A pupunha é uma palmeira nativa da região Amazônica consumida na forma de frutos e de palmito. É uma
palmeira de clima tropical, que, quando adulta, pode atingir mais de 20 metros de altura em poucos anos. É
usada também como uma palmeira ornamental. O consumo dos frutos da pupunheira, cozidos em água e sal, é
tradicional na região Amazônica.

30
fica mais a vontade. O que a gente acha difícil é entender o conteúdo. A pesquisa
na internet dá mais informações, pois o livro é muito limitado e aqui na internet
não existe limite. A gente pesquisa aqui muito pouco porque tem poucos
computadores e tá sempre cheio. Tem muita gente na sala que até tem
computador em casa, mas não tem internet”.

A outra coordenadora do LIE que atende no período vespertino e noturno e


que agora passarei a chamar de Cupuaçu,12. Ela é formada em Educação Física
também no Prohacap e tem especialização em Supervisão, Orientação e Gestão
Escolar. Fez também o curso do Proinfo Integrado 13. Na entrevista ela relata que a
partir de sua experiência, percebe que os professores usam muito o LIE para
apresentação de trabalho e para fazer o diário eletrônico que foi adotado na escola,
(não sem a resistência de muitos professores). Pais (2008, p. 15) ao falar desta
resistência comenta que:

“É possível perceber no cotidiano pedagógico uma certa expectativa, por parte


dos professores, quanto à vontade de utilizar os novos recursos de informática na
educação. Muitas vezes, essa expectativa até mesmo se transforma em sentimento
de insegurança ou de resistência em alterar a prática de ensino. Nesse caso, tal
como acontece na sociedade, alguns se reservam o direito de se colocarem à
margem das transformações induzidas pela tecnologia e certamente passam a ter
menos condições de vivenciarem a nova ordem profissional. Por outro lado,
grande parte dos professores percebe a necessidade de aprimorar suas estratégias
didáticas através do computador. Mesmo identificando dificuldades relativas à
formação, percebe-se a existência de uma consciência voltada para a busca de
propostas que possam atender a problemas lançados pela sociedade da
informação.”

A coordenadora relata que os do Ensino Médio têm mais facilidade porque


usam mais o computador e a internet e os professores os provocam mais. Além
disso, preferem trabalhar mais em casa ou na lan house. Já os do ensino

12
O cupuaçu é uma fruta grande, pesada, volumosa e perfumada. As folhas de sua árvore são grandes; suas
sementes são muitas e também grandes, envoltas em uma polpa branca, ácida e de aroma bastante forte e
agradável.

13
O curso de formação continuada do Proinfo Integrado é organizado em três etapas que juntos formam 180
horas: Curso de Introdução à Educação Digital com 40 horas; Curso Tecnologias na Educação: Aprendendo e
Ensinando com as TIC de 100 horas e o Curso de Elaboração de Projetos com 40 horas.

31
fundamental, principalmente dos anos finais do ensino fundamental, freqüentam
mais o LIE.

Cupuaçu afirmou que uma das dificuldades é a linguagem do Linux, o que


também foi relatado na fala dos alunos que usam em casa e nas lan houses o
Windows: “A nomenclatura do Linux é mais complicada”, conclui Cupuaçu.
Continuando nossa conversa disse que: “Às vezes os professores pedem pesquisas
para os alunos, mas não conhecem o material a ser pesquisado. Pedem para
pesquisar um site, por exemplo, sem nunca ter acessado o mesmo. Outro dia
chegou aqui o aluno X, cujo professor mandou pesquisar um assunto em
determinado site e este descobriu quando foi abri-lo que estava todo em Inglês.
Conclusão: o professor não conhecia o site, pois não tinha antes visitado o
mesmo.”

Quando o assunto diz respeito às dificuldades encontradas nas atividades


do LIE, Cupuaçu fala que o desafio maior é com os alunos “do período da noite,
pois a maioria não sabe mexer no computador. Os professores pedem trabalhos
dentro da metodologia científica, mas os alunos nem sabem o que é uma folha de
rosto. Os professores não explanam o assunto na sala de aula para depois
encaminhar a pesquisa. Um professor encaminhou um grupo de alunos para fazer
uma pesquisa sobre as idéias de Marx sobre Capitalismo, mas a gente vê que eles
não têm noções mínimas de conhecimento sobre Marx, o que ele fez, escreveu e
tampouco compreensão de conceitos elementares o marxismo. Ai fica
complicado, né? Eu também tenho dificuldade de entender Marx, aliás, muita
dificuldade mesmo”. Pondera que no “período da tarde os professores explanam
mais os assuntos da pesquisa antes de mandar os alunos para o LIE. Neste período
80% dos professores trabalham antes o assunto em sala de aula e 20% somente
encaminha para a pesquisa. Seria interessante pelo menos o professor explicar
para o aluno o que ele vai pesquisar”, conclui.

Cupuaçu continua relatando que o objetivo principal do LIE é: “A inclusão


digital de alunos e inclusive de professores, mas não sobra tempo nem para mim,
nem para o professor parar e se preparar. Vejo muito os professores improvisando

32
em relação ao LIE, chegam na hora e agendam (ver em anexo modelo de ficha
que o professor preenche) sem planejamento”.

A conversa vai animada e intensa com Cupuaçu. Ela nos informa que: “O
laboratório funciona nos três turnos com 27 computadores ligados em rede. Vou
te contar uma coisa interessante que aconteceu ontem noite e foi a primeira vez
que a professora X, veio ao LIE. Observei que ela tem domínio de conteúdo e
disciplina com os alunos. Tinha um senhorzinho que nunca tinha pego (sic) num
no computador e no final ficou feliz da vida porque conseguiu digitar quatro
frases. Mas eu vejo que a professora tem conhecimento da disciplina dela.
Ontem14 isto aqui a tarde estava lotado com alunos da noite. O ano que vem vou
sair do LIE, isto aqui é pouco valorizado. O povo fica achando que a gente vive só
na internet”.

No outro dia Cupuaçu veio trabalhar no período matutino e estávamos


fazendo o exercício de observar a rotina do LIE. Os alunos iam chegando aos
poucos. Duas alunas entram e se dirigem a Cupuaçu dizendo: “É que a gente
queria fazer uma pesquisa para a Noite Cultural”. Chegam mais duas e dizem:
“Queremos pesquisar sobre Bahamas”. Entram mais quatro alunos da professora
Pupunha e dizem: “Nós viemos fazer pesquisa sobre ciências. É para pesquisar
sobre um animal que a gente quer conhecer mais, a professora Pupunha pediu”.
Diante desta demanda a coordenadora Cupuaçu olhou para mim sorrindo e falou:
“Deixa eu passar por esses meninos”. E admoesta-os: “Pessoal, vamos usar o fone
de ouvido somente quando tivermos trabalhos com vídeo, tá beleza?” Neste
momento já havia cinco duplas de alunos no LIE com dois alunos em cada
computador e todos eram dos 6º anos. Cupuaçu falou com voz branda:
“Meninada, se precisarem de ajuda estamos aqui, me chamem.” Olha, para e fala:
“Locimar, vai ter tanta dança nesta Noite Cultural que será preciso duas noites
para apresentar tudo. E as comidas típicas? Nem me fale”.

14
23/09/2010

33
Foi possível perceber que a maioria dos alunos presentes trabalhava com
certa autonomia e discutiam baixinho o que estavam lendo seguida de anotações
em seus cadernos.

Quanto à entrevista com os professores conseguimos conversar com


quatro, sendo que dentre eles, apenas dois não trabalham nos anos finais do ensino
fundamental. Os outros dois trabalham nos anos finais do ensino fundamental e no
ensino médio. Foram receptivos, abertos e gostaram muito da troca. Um deles
questionou: “Porque a gente não fala disto mais vezes, né?”.

O primeiro entrevistado foi o professor Açai, 15que leciona a disciplina de


Física no ensino médio. Tem 32 anos e é graduado em Física pela Universidade
Federal de Rondônia. Trabalha na escola há três anos. Disse que compreende o
LIE como um espaço onde os alunos se familiarizam com as tecnologias. Ele
declarou: “Minha matéria precisa muito das tecnologias para avançar e ser mais
atrativa para os alunos. Tenho um blog onde os alunos utilizam muito. Acessam
mais na casa deles ou na escola em horário oposto cujo endereço é:
www.fisicajk.blogspot.com”. E relata que o blog tem “estreita os relacionamentos
entre professor e aluno”. E acentua ainda: “Gosto de levar meus alunos no LIE
porque prezo muito a parte conceitual da física. Sei que eu preciso melhorar muito
no uso do LIE, pois sei que informática e aprendizagem caminham juntas”.
Informou que seu TCC de conclusão na graduação foi sobre “a construção de
animações interativas fundamentadas em modelos que descrevem a natureza,
principalmente os fenômenos da física e a aplicação de animações interativas
como suporte didático à fundamentação teórica e explanações de conteúdos de
cursos de física em sala de aula”.

A próxima entrevistada foi a professora Uixi 16 de Biologia que trabalha


ciências nos anos finais do ensino fundamental e biologia no ensino médio. Muito
15
O açaí é um fruto consumido há muito tempo pelos indígenas e moradores da região amazônica, devido as
suas qualidades nutritivas. É também largamente utilizado para a produção de um refresco (“vinho” de açaí).
O açaizeiro é palmeira tropical, perene, nativa da Amazônia oriental, predominante ao longo dos igarapés,
terrenos de baixada e áreas com umidade permanente.

16
Fruta do mato que é muito perfumada e quando madura se aproveita a polpa e casca, que é fininha, para
comer e ainda se faz brinquedos com o caroço que se divide ao meio e faz-se cuia, sutiã, óculos e etc.

34
animada e comunicativa disse: “Eu uso constantemente o LIE, às vezes até
demais. Os alunos se sentem mais motivados, pois a internet traz novas
informações, informações mais atualizadas, mais completas e atuais. E ali no LIE,
uma coisa puxa a outra. Acho que toda a sala de aula deveria ser um espaço mais
ou menos como o LIE. Ah se a internet funcionasse mesmo. Agora até que tá boa,
mas a demanda é grande demais. Quando os alunos estão no LIE se integram
mais. Às vezes eu venho no horário oposto para ajudar os alunos pesquisar e eles
tiram dúvidas comigo. O único negativo é quando eles querem vasculhar o que
não devem (sexo). Tem vezes que eles sabem mais coisas do que eu e me enrosco
um pouco no salvamento de arquivos porque o Linux é difícil demais. Eu aprendi
mais sozinha do que em cursos. Eu tentei fazer o Proinfo, mas não gostei da
metodologia”.

É muito comum o problema relatado pela professora em relação à


metodologia do Proinfo. O professor começa animado e desiste. Estão
sobrecarregados e não tem ânimo para vir no horário oposto.

O gráfico abaixo (Gráfico 02) se refere aos dados sobre a capacitação em


“Introdução à educação digital” oferecida pelo LIE em 2009 para professores da
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de
Oliveira, em Ji-Paraná/ RO.

35
Gráfico 02: Curso do Proinfo Integrado “Introdução à educação digital” - 40 horas

Acreditamos que a partir da idéia de Pais (2008) a inserção da informática


na escola encontra-se imbricada entre as transformações tecnológicas e as novas
condições de aprendizagem. E certamente a inserção da informática na educação
provoca alterações tanto nas condições quanto na realização do trabalho didático.

A última professora entrevistada foi Cubiu17. Ela é formada em História


pelo Prohacap, tem 49 anos e trabalha somente no ensino médio com as
disciplinas de História e Filosofia. Ao falar da utilização do LIE em suas aulas
disse: “Serve para aprofundar os conhecimentos e despertar nos alunos a
necessidade de conhecer mais algo diferente. O aluno sai beneficiado porque entra
em contato com a pesquisa. Só que do computador eu só sei relar (sic), tocar.
Meus alunos sabem mais do que eu. Eu passo para eles a fonte de pesquisa. Quase
não uso o LIE, porque se demora demais para conseguir uma vaga. Acho que os
professores deveriam ter mais formação e mais tempo apropriado para isto, pois
os cursos que são oferecidos precisariam ser mais sérios e despertar a vontade
mesmo de participar”.

É muito interessante notar que nesta fala, a professora reconhece a


importância do computador como instrumento de apoio à sua prática, bem como
de sua fragilidade/limitação diante do mesmo. Porém, demonstra uma idéia de
formação a partir de momentos especiais. Talvez por não tenha o alcance ou
compreensão do que seja de fato uma formação em serviço e de como esta pode
acontecer na escola. Como ela existe outros tantos professores em nossa escola
esperando melhorar sua prática a partir de palestras - diríamos assim,
“miraculosas” - que trouxessem de fato a receita para que os alunos aprendessem
mais e motivados, etc. Já afirmamos isto em outra parte desta monografia e o
retomamos agora: os professores estão muito sozinhos na escola, cada um com

17
O cubiu é um fruto bastante nutritivo de sabor e aroma agradáveis. Na Amazônia, é usado pelas populações
tradicionais como alimento, medicamento e cosmético. O fruto pode ser consumido ao natural, ou
principalmente como tira gosto de bebidas, ou processado para sucos, doces, geléias e compotas. Pode ainda
ser utilizado em caldeirada de peixe ou como tempero de pratos à base de carne e frango.

36
seu fazer e suas metodologias. Corrêa (2006, p. 48) ratifica com propriedade esta
nossa fala quando afirma que:

“O uso que fazemos dos recursos tecnológicos depende do contexto educacional


no qual estamos inseridos e depende das redes cotidianas de trabalho que
vivenciamos. A cultura é extremamente individualista – cada profissional deve
fazer-se por si mesmo -, o que consiste apenas numa linguagem mais atual para a
antiga meritocracia. No dia-a-dia do trabalho, cada um deve garantir a sua sala de
aula, a sua pesquisa, o seu projeto, a sua unidade de trabalho. Estamos
permanentemente isolados.”

Vamos brincar com o texto: “bingo!”. Era isto mesmo que estávamos
procurando para dizer do nosso sentimento em relação aos professores e
professoras da escola onde atuamos. Teríamos que superar esta visão e prática
individualistas no cotidiano a prática docente. Temos bons professores na escola,
que gostam do que fazem e isto já é um bom começo, além disso, acreditamos não
que não podemos prescindir deste sentimento. Porém, junto com um gostar, está
também um melhorar e aprofundar a prática. Faltam rodas de conversa, momentos
de trocas de experiências. E tanto quanto sabemos, os gestores tem muita
responsabilidade quanto a isto.

Vasconcelos (2006) defende que os gestores precisam provocar e


dinamizar encontros semanais. Eles são a linha de frente desta ação. Estes
encontros servem para refletir de forma critica e coletiva as práticas individuais e
coletivas. São espaços singulares para que as questões de avaliação da
aprendizagem e metodologias sejam rediscutidas, aclaradas e ressignificadas. Ao
se perguntarem sobre os “porquês”, de suas ações e formas de concretizá-las,
certamente estarão superando práticas autoritárias e obsoletas. Acreditamos neste
processo e defendemos que a responsabilidade primeira está na mão dos gestores.
Por exemplo, na nossa escola (estamos lá há quase três anos) não houve nenhuma
avaliação sobre o uso do LIE tanto pelos professores, como pelos alunos. Não foi
necessária ou não foi provocada? Sentida? Desejada? Estas perguntas ficam por
aí, ecoando. Certamente não somente em nós.

37
Encontramos hoje18, por ocasião de mais um momento de observação no
LIE, um grupo de alunas do 9º ano e estavam pesquisando sobre a grande região
amazônica. Já na reta final da pesquisa e ao imprimir o resultado final de sua
busca, uma das adolescentes suspirou: “ainda bem que deu tudo certo”.
Observando a dificuldade delas para imprimir o texto, pedimos para olhar e
constatamos que era apenas uma cópia sem referência alguma de fonte. Ao serem
questionadas sobre o que estava faltando no trabalho, a coordenadora do LIE
adiantou-se e disse: “está fora da estética”. Não contentes, continuamos a
questionar e mesmo assim não foi possível de que percebessem por elas mesmas
que faltava a referência, uma introdução e uma conclusão ao trabalho. Falamos da
importância de se colocar as referências, da necessidade de uma introdução e
conclusão para cada trabalho. Após este discurso, uma das alunas observou: “o
professor só manda a gente copiar e depois ele dá um visto e a gente sabe que não
aprende muita coisa com isto. O que a gente aprendeu sobre a região amazônica
foi com a professora da 4ª série.” Esta não é uma situação isolada na escola e abre
precedentes para projetos com os professores e com os alunos para que aprendam
a pesquisar e utilizem a metodologia da pesquisa no cotidiano de suas práticas.
Estes projetos são necessários, possíveis e urgentes!

Tanto se falou da iniciação científica na educação básica e o quanto se


precisa caminhar quanto a isto, pois é verdade que os procedimentos científicos
tem que ser abordados desde cedo.

“Nem sempre é possível à própria pessoa sozinha perceber as muitas leituras que
sua prática revela. Nesse sentido, é fundamental o papel de um interlocutor que
vá ajudando a pessoa a se perceber, que vá ampliando as possibilidades de leitura
de sua prática docente e da prática docente de outros colegas. O papel de um
supervisor ou de um coordenador pedagógico é fundamental nesse caso”.
(FAZENDA, 1995, p. 72)

Abaixo seguem três imagens do LIE da escola (Imagem 03, 04 e 05).


Consideramos o espaço bastante apropriado quando se trata de organização,
internet (que funciona relativamente bem), impressora para alunos e etc.

18
19/10/2010.

38
Imagem 04: Crianças do 5º “A” fazendo pesquisa no LIE sobre Juscelino
Kubistchek de Oliveira, para um projeto, cujo objetivo era resgatar a história da
escola.

Imagem 05: Visão panorâmica do LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental


e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira em dia reservado para o uso exclusivo
de professores.

39
Imagem 06: Cartaz afixado na porta do LIE lembrando aos alunos os horários em
que o mesmo está reservado somente para professores.

2.6- As fichas de agendamento para alunos e professores no LIE como


instrumento de racionalização

Desejamos tecer alguns comentários acerca das fichas de agendamentos


para alunos que deverão ser preenchidas como procedimento normal para a
utilização do LIE. Os agendamentos foram preenchidos pelas coordenadoras do
LIE ou professores. (vide ficha no anexo II).

Começamos dando uma olhada mais atenta às Fichas de Agendamento


para Alunos compreendendo o período de março de 2010 a setembro.
Examinamos 58 fichas entre os dias 18 de março de 2010 a 22 de setembro de
2010. Cada ficha constava de 11 espaços de agendamento, ou seja, 11 grupos de
alunos gerando no total destas 58 fichas, 638 agendamentos. Dentre os 638
agendamentos feitos neste período, apenas 100 foram agendados para alunos do
ensino médio. Porém, é preciso atentar que na escola existem apenas cinco turmas
de alunos do ensino médio: duas do 1º ano, duas do 2º ano e apenas uma do 3º
ano.

40
Quando se trata de turmas dos anos finais do ensino fundamental temos:
seis turmas dos 6ºs anos; quatro turmas dos 7ºs; quatro turmas dos 8ºs anos e
quatro turmas dos 9ºs anos. Considerando que cada turma tenha aproximadamente
30 alunos, temos aí um total de 710 alunos nos anos finais do ensino fundamental.
Quando uma das coordenadoras do LIE afirma que os alunos do ensino médio
procuram pouco o LIE, talvez não tenha levado em conta que são um menor em
relação ao número de alunos da escola perfazendo um total de 130 alunos, pois a
única turma de 3º ano do ensino médio vespertino tem apenas 10 alunos e as duas
do 1º ano e as outras duas do 2º ano tem juntas, 120 alunos. Então, podemos dizer
que se levarmos em consideração o número total de alunos do ensino médio, eles
utilizam muito o LIE.

Em relação à primeira etapa do ensino fundamental – 1º ao 5º ano -


percebeu-se apenas a presença de 04 grupos de alunos durante todo o período
observado. Interessante observar que os grupos de alunos que estiveram no LIE
são duas turmas de 5º ano, cujas professoras fizeram o Proinfo Integrado e têm
uma prática docente mais dinâmica: fazem aulas-passeio, utilizam jogos
pedagógicos, gincanas da matemática e da tabuada, visitas às empresas e a
reservas ecológicas, etc. A despeito da prática destas duas professoras, quanto ao
uso do LIE por alunos e professores dos anos iniciais do ensino fundamental,
ainda é um grande desafio para os professores. E é bom ressaltar que não esta
“negligência” quanto ao uso do computador e da internet não é porque os alunos
não pedem. Pelo contrário, eles vivem cobrando dos coordenadores e professores:
“Porque a gente também não vai para o laboratório mexer com o computador?”.
Este reclame é constante principalmente por parte dos alunos dos 5ºs anos. No
início deste ano, a professora Camu-camu 19 fez um resgate das mídias passando
pelo vinil, fita cassete, VHS, DVD e CD. Estivemos presente e foi um momento
rico de troca e aprendizagem com os alunos do 5º ano. Em momento algum
demonstraram desconhecer alguma das mídias apresentadas.

19
Pode ser encontrados à beira dos igarapés, rios ou em regiões alagadas da região amazônica. Pouco
consumido in natura por ser bastante ácido, apesar de doce. É fruta indicada para o preparo de refrescos,
sorvetes, picolés, geléias, doces ou licores.

41
O restante dos agendamentos, ou seja, 538 foram feitos por alunos e
respectivos professores dos anos finais do ensino fundamental, com uma
incidência maior de alunos dos 9ºs anos. E porque a maioria procura se encontra
nesta etapa da educação básica? Os alunos são mais motivados? Professores mais
dinâmicos? Caberiam aqui tantas outras perguntas e outras respostas. Percebemos
dentro deste contexto três situações: a primeira situação a ser observada é a de que
de fato, os alunos dos anos finais do ensino fundamental gostam de pesquisar no
LIE; a segunda situação é que três professoras que trabalham nesta etapa são
provocativas e instigam seus alunos a buscar mais e também os acompanham; a
terceira e bastante óbvia é que são em maior número, conforme observação feita
acima.

Quanto se tratou do objetivo pelo qual os alunos estavam buscando o LIE,


dos 638 agendamentos, 74 foram para atividade com slides – Power point, ora
para utilizar os slides como recurso de apresentação de pesquisa, ora para
apresentar estas pesquisas no próprio LIE, pois possui um Data-show. Os outros
564 agendamentos foram feitos para pesquisa a pedido dos professores com o uso
da internet. E quanto aos professores que mais solicitaram pesquisa para os alunos
no LIE, como já afirmamos acima, foram os dos anos finais do ensino
fundamental.

Quando se tratou da agenda específica para preenchimento por parte dos


professores, (vide ficha anexo IV), tivemos acesso apenas àquelas referentes aos
02/08 a 20/09 de 2010. Notou-se que os professores utilizaram o LIE para
apresentação de atividades, seminários em sua maioria, com seus alunos. Na parte
específica exigida para descrever os objetivos do conteúdo ou da atividade, todos
colocaram estas expressões: “apresentação de trabalho” ou “apresentação de
seminário”. Em uma ficha de agendamento apareceu a seguinte expressão:
“realizar atividade do Eixo 3 do proinfo”. Nas últimas fichas do mês de setembro
não houve nenhum registro quanto a objetivos; os professores apenas
preencheram a data, turma, o horário e no local do conteúdo colocaram o nome
deles. Caberia aqui uma observação quanto ao objetivo e necessidade do
preenchimento correto do formulário de uso do LIE, o que em linhas gerais

42
significa: organização e planejamento. Observamos a mesma dificuldade que
acontece quanto ao uso da TV Escola: improviso e falta de clareza quanto aos
critérios do uso do LIE.

Partindo das observações acima, verifica-se que o LIE é um espaço de


aprendizagem em que alunos e professores transitam com grande freqüência.
Disto não cabe a menor dúvida. Cupuaçu quando fala de seu trabalho no LIE
desabafa: “o ano que vem quero sair do LIE porque aqui não somos valorizados
nem vistos”.

2.7- A Noite Cultural: Diversidade Cultural na América Latina e Caribe

E falando em desafio, A Noite Cultural promovida pela escola20, e cujo


tema era Diversidade Cultural na América Latina e no Caribe, foi exitosa. Se o
objetivo era representar a riqueza cultural dos países que representam esta região
do mundo através das danças e da culinária, alunos e professores conseguiram o
intento. A comunidade compareceu em peso ao evento e se fartou de beleza com
as danças e os pratos típicos de cada País. O sucesso do evento se deu, segundo a
coordenadora Pupunha ao fato de que alunos e professores, com ajuda do LIE
puderam pesquisar as comidas e danças típicas de cada País a ser representado.
Abaixo seguem imagens para confirmar esta fala.

20
Dia 09/10/2010

43
Imagem 07: Cartaz confeccionado por uma turma de alunos do Ensino Médio
Regular do período noturno, representando trazendo informações sobre a
culinária cubana.

Imagem 08: Mesa enfeitada com comidas frutas e comidas típicas.

44
Imagem 09: Grupo de alunos do Ensino Médio caracterizados para executar dança
típica

Imagem 10: Momento do Desfile das Bandeiras dos Países da América


Latina e Caribe

Conclusão

45
Ao “finalizar” estes escritos, a primeira coisa que passeou em nossa cabeça
foi um trechinho da música do Roberto Carlos, “Proposta”. Principalmente a parte
que fala assim: “E além de tudo, depois de tudo, te dar a minha paz”. Sim,
queremos um pouco de paz agora, mesmo sabendo que esta será passageira.
Porque virão outras pesquisas, outros escritos, ainda mais quando se trata de um
assunto tão apaixonante como o da Tecnologia na Educação e mais
especificamente na escola. Porém, estamos falando agora da paz do dever
cumprido e da satisfação por ter suportado o desconhecido, lutado com ele e no
final, depois de ter dado um nome a ele, o vencido. Acreditamos que nominar o
desconhecido é um dos grandes desafios de quem pesquisa.

Todas as pequenas e grandes conclusões que fomos tirando ao longo deste


trabalho de conclusão de curso acerca do LIE da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira vieram de situações que já
estavam postas na escola e no LIE, mais especificamente. O movimento que muda
e provoca mudanças é o da reflexão de própria prática e de preferência a partir de
bases teóricas sólidas. Costumamos dizer que a qualidade de nossa intervenção é
conseqüência de nossas leituras: as do signo e do mundo. Desvelar uma prática
obsoleta para apontar caminhos novos que possibilitarão novas formas de ensinar
e aprender, este é um grande desafio, mas não impossível.

Por acreditarmos na riqueza do relato de experiência e ouvir as pessoas


envolvidas nela, é que optamos por este jeito de fazer pesquisa. Ouvir as pessoas,
deixar que falem daquilo que vivem e como vivem é surpreendente. Vão
revelando aos poucos suas visões as coisas.

Nos relatos dos professores e alunos fomos percebendo como as


tecnologias estão profundamente relacionadas com a vida deles que já não é mais
possível pensar uma escola sem elas. Não acreditamos que as tecnologias sejam
uma panacéia para todas as mazelas da educação brasileira e antes que sejamos
mal interpretadas ou mal compreendidas é preciso, como afirma Pais (2008, p. 10-
11), esclarecer que:

46
“A disponibilidade física de recursos tecnológicos, no meio escolar, por si
mesma, não traz nenhuma garantia de ocorrer transformações significativas na
educação. A história da educação registra o equívoco representado pelo
movimento tecnicista, quando se pensou que a técnica pudesse, por si mesma,
promover mudanças significativas na escola. Essa observação reforça a
conveniência de falar apenas em termos de possibilidade de expansão das
condições educacionais, evitando afirmações que possam induzir um sentido
categórico de mudanças. A ameaça dessa concepção tecnicista, quando se trata da
inserção do computador na educação, deverá ser superada pela busca de
referências compatíveis com a natureza dos atuais recursos digitais e com as
novas condições da educação contemporânea. Nesse sentido, preferimos falar
apenas em termos de potencialidade educacional a ser explorada. A possibilidade
do uso desses recursos na educação escolar é vista como uma condição necessária
para atingir exigências da sociedade da informação, mas está longe de ser
suficiente para garantir transformações qualitativas na prática pedagógica.”

O LIE é muito utilizado por alunos e professores nos três turnos de


funcionamento da escola. Necessitaria de um redimensionamento. Por exemplo,
trabalhar uma oficina de pesquisa ou como pesquisar para gestores, professores e
alunos. Quando o professor utiliza o LIE como suporte os resultados são outros.
Hoje observamos a professora trazendo seus alunos do 5ª ano para pesquisar sobre
o aparelho respiratório. Relatou-nos que antes explicou na sala os objetivos da
atividade e como seria feita a pesquisa. O resultado foi lindo: alunos pesquisando,
interagindo e trocando com a professora e com seus pares. Foi esta mesma
professora que no segundo semestre do ano passado trabalhou uma paródia com
seus alunos (ver resultado no blog www.lmassalai.zip.net), utilizando texto,
imagem e som.

Sem querer dar receitas prontas, percebemos que o uso do LIE se


redefinido pode colaborar para que alunos e professores cresçam: professores
acompanhando mais seus alunos na pesquisa; professores que tem boas
experiências no uso das tecnologias que partilhem com os demais. Precisamos de
pessoas que saibam entender os códigos de uma sociedade profundamente
emblemática e exigente e agir criativamente sobre ela. E a sociedade será
excludente para aqueles que não forem alfabetizados, desde a concepção mais
profunda do que seja alfabetização, incluindo o que Demo (2008) chama de
alfabetização digital ou os marginalizados digitais. Este desafio é imenso!

47
Ao sermos provocados ao longo da tessitura deste trabalho fomos
percebendo o quanto é significativo o papel de quem orienta e acompanha. Assim
também percebemos e concebemos a função do professor na escola: um
orientador, um provocador. O mesmo vale para quando professores e alunos
utilizam o Laboratório de Informática. Não é necessário que o professor esteja à
frente de seus alunos. Basta que seja parceiro com eles. Vem-nos a mente agora,
situações de provocações a que fomos expostos neste trabalho de conclusão de
curso. Gostaríamos de citar o quanto fomos aprendendo em relação a situações em
que afirmávamos algo sem fundamentação científica ou dados consistentes. A
partir do momento em que a orientadora nos desafiava a comprovar afirmações
feitas, ou opiniões, a aprendizagem acontecia prazerosamente. Hoje vemos o
quanto poderemos aportar, por exemplo, no próximo ano, quando formos retomar
o Projeto Político Pedagógico Escolar. Certamente será elaborado com dados mais
consistentes o que nos ajudará muitíssimo compreender melhor as características
da clientela de nosso trabalho. Fantástico não é mesmo, o quanto a linguagem
clara e objetiva de um gráfico ou uma tabela poderá ajudar na interpretação da
realidade? Gráficos, imagens e tabelas fazem parte de outras linguagens que nem
todos dominam e que também dizem respeito a leitura e alfabetização. Com ajuda
deles, poderemos compreender melhor o mundo, apreendê-lo e certamente depois
de feito isto, planejar ações que possibilitarão mudanças.

As palavras finais ficam melhores se as deixarmos a cargo de Carlos


Drummond, do seu Canto Brasileiro:

Confuso amanhecer, de alma ofertante

e angústias sofreadas,

injustiças e fomes e contrastes

e lutas e achados rutilantes

de riquezas da mente e do trabalho,

meu passo vai seguindo

no ziguezague de equívocos,

48
de esperanças que malogram mas renascem

de sua cinza morna.

Vai comigo meu projeto

entre sombras, minha luz

de bolso me orienta

ou sou eu mesmo o caminho a procurar-se?

49
Referências Bibliográficas

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50
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VASCONCELOS, Celso dos Santos. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto


político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 7ª ed. São Paulo: Libertad Editora,
2006.

51
Anexos
Anexo I – Plano de ação do Laboratório de Informática Educativa da Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira

1 – Justificativa

Entre as finalidades do uso de computadores na escola para ao ensino


fundamental e médio na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Juscelino Kubistchek de Oliveira, vemos a participação dos alunos em prática e
compreensão da tecnologia e dos fundamentos científico-tecnológicos no processo
de ensino aprendizagem.

2 – Objetivos

Trabalhar a informática educacional, orientando professores e alunos a


conhecer informações através do sistema de computadores e transformá-los em
conhecimentos, inserindo-os assim a inclusão digital e aprimorando suas fontes de
pesquisas, facilitando assim a aprendizagem e o desenvolvimento de projetos e
atividades que possibilitem a melhoria do ensino.

2.1 – Objetivos Específicos

Facilitar o processo de ensino aprendizagem;

Familiarizar o aluno com as tecnologias digitais como um instrumento


diário e importante para sua aprendizagem;

Desafios os professores quanto à importância o uso das novas tecnologias;

Desenvolver, acompanhar e avaliar projetos com os professores além de


envolvê-los no uso de multi-meios.

3 – Metodologia

Desenvolver a informática Educativa através de projetos independentes,


atividades interdisciplinares e individuais.

52
4 – Avaliação

O projeto estará sendo avaliado no decorrer de sua execução ao longo do


ano.

53
Anexo II – ficha de agendamento para alunos

ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA

LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

AGENDA DE HORÁRIOS PARA ALUNOS

Data Ano/Turma Aluno Tema Professor Horário

54
Anexo III – Ficha de Registro de aula para o Laboratório e Telessala – Seduc

Registro Aula Para laboratório e Telessala

Modalidade

Série

Turma

Turno

Disciplina

Recurso
Pedagógico

Tipo EDUCATIVO OU APLICATIVO Qual?

Descrição

Conteúdo

Data

Nome completo
Professor

Obs.

Total de Alunos
Aula

Obs. As pesquisas feitas na internet deverão ser registradas também nesse formulário.
Esse conteúdo será acessado somente por mim, pela REN e SEDUC PVH.

55
Anexo IV – Ficha de agenda para as professoras do período vespertino

Turma Data Tempo Conteúdo Objetivo Professora

56

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