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RESUMO
realidade, assim como faz o turismo ao criar espaços geográficos artificiais para atender sua
clientela.
A realidade cotidiana construída pela mídia, dada à importância da comunicação
social na contemporaneidade faz com que a sociedade moderna viva sob a mediação dos
veículos de comunicação: de um lado os emissores que têm interesse em se comunicar, enviar
suas mensagens mediadas, de outro os que se utilizam dessas mensagens para se relacionar.
Tal poder da mídia é obtido pela sua capacidade de apropriação e difusão dos
“processos simbólicos que governam tudo” (FOULCAULT, 1971) das manifestações
culturais arraigadas no imaginário da sociedade, que se expressam representadas por signos,
de acordo com o que coloca Ferrara:
Além disso, as técnicas de comunicação da mídia têm uma particularidade que deve
ser bastante considerada ao tratarmos, especialmente, das fantasias que ela provoca ao
enunciar o turismo: o uso da imagem, dispositivo de grande força para estimular o imaginário
do desejo da “fantasia do ir e vir”. Por isso, uma imagem representada e devidamente
codificada em qualquer dispositivo da mídia, impresso (jornal, revista, panfleto, folder etc) ou
eletrônico (televisão, internet, vídeo, cinema etc), provoca várias decodificações, dependendo
da formação sócio-cultural de quem a vê, ou mesmo da sua ligação emocional ou prática com
aquela imagem, despertando um efeito em cadeia, multiplicativo, como no caso do exemplo
da hipotética reportagem da praia já visto.
As imagens da publicidade são mais convincentes e sedutoras ainda que as imagens da
mídia jornalística, devido a sua linguagem mais persuasiva e direta. Elas entram com maior
força no universo fantasioso do turista com campanhas publicitárias cuidadosamente
planejadas a partir de pesquisas que levantam a tendência do mercado face ao comportamento
das pessoas com potencial para viajar.
A publicidade acaba criando, nos processos persuasivos de venda do produto turístico,
códigos diversos de comportamento, entre eles, a “cultura da viagem”, a vontade que se
transforma em necessidade de viajar, alicerçados em símbolos imagéticos.
A partir daí nascem as grandes preocupações com a imagem e seu estatuto de real,
uma das problemáticas mais desafiadoras para o estudo do jornalismo ao se ocupar da
dissociação entre a imagem e a verdade, na sua característica de “versão”, “interpretação”,
“verdade ou simulacro”, e bastante oportuna e emblemática para entendermos o processo
“fantasioso do ir e vir” do turismo, desencadeado pela mídia, com a aplicação de técnicas de
representação de imagens turísticas em função do ambiente cultural onde ela é utilizada. Não
como um simples meio mecânico ou artesanal para mostrar a representação, mas como um
produto significante desse ambiente. A máquina se articula com a sociedade que a produz.
Hoje em dia, por exemplo, o computador é a representação mais imediata do mundo atual. O
capitalismo proporcionou a revolução industrial que possibilitou a invenção da impressora a
vapor com cilindros capaz de produzir jornais de grande tiragem que, por sua vez,
incrementaram a revolução industrial com a persuasão para o consumo, através da veiculação
de anúncios em suas páginas em função do capitalismo. É um círculo em movimento
impulsionado por reações em cadeia, tanto que o turismo, hoje, é um produto de consumo
como qualquer outro qualquer.
Os “não-lugares” seriam, então, espaços geográficos que tiveram seu ambiente natural
e suas paisagens modificadas pela implantação da estrutura turística e a especulação
mobiliária proveniente do turismo, ou que conservam a natureza e as paisagens originais, mas
com atividades turísticas artificiais previamente definidas pelos seus planejadores sem que o
turista tenha liberdade de escolha do que fazer, além de não ter acesso à cultural local e o
contato com o homem da terra, havendo, inclusive “não-lugares” com as duas características:
o ambiente natural alterado com a prática do turismo pasteurizado.
Ítalo Calvino, em “Especulações Imobiliárias” define bem o processo da alteração
física e sócio-cultural dos espaços geográficos transformados pelas atividades turísticas ao
descrever as transformações ocorridas na Riviera Italiana ao começar a ser explorada pelo
turismo, segundo o sentimento dos moradores locais sobre a “paisagem querida que morre na
visão de uma cidade que era sua e que se desfigurava debaixo do concreto”. Desse modo “o
lugar em que nasceu foi convertido em ruínas e a pátria que buscava é feita apenas de
clichês”.
“A indústria do turismo transforma tudo o que toca em
artificial, cria um mundo fictício e mistificado de lazer,
ilusório, onde o espaço se transforma em cenário para
o“espetáculo” para uma ‘multidão amorfa’ mediante a
criação de uma série de atividades que conduzem à
passividade, produzindo apenas a ilusão da evasão, e,
desse modo, o real é metamorfoseado, transfigurado, para
seduzir e fascinar. Aqui o sujeito se entrega às
manipulações desfrutando a própria alineação e a dos
outros” (Carlos, 2002:26).
A idealização máxima do descanso e do lazer para o turista alocêntrico, aquele que faz
questão absoluta de visitar locais diferentes, onde ainda não acontece o turismo padronizado
de massa, é visitar lugares em estado puro, principalmente sem a presença do turista de massa,
onde ainda se percebe manifestações originais da tradicional e histórica cultura da terra, tendo
contato com o homem nativo e vivenciando seu cotidiano. Se for uma comunidade de
pescadores do nordeste brasileiro, por exemplo, o turista alocêntrico vai ajudar a colocar a
jangada no mar e retirar os peixes, que acabaram de ser apanhados, das redes, e vai querer
comê-los à moda do lugar, se possível preparados pela mulher do pescador.
Enquanto isso, porém, as praias turísticas do turista mesocêntrico ou psicocêntrico
estão cercadas por edifícios e suas areias tomadas por grande profusão de barraquinhas
praticando quase todo o tipo do comércio, além de guardas-sol e cadeiras, sem a presença de
qualquer pescadores que já há algum tempo foram retirados daqueles espaços pela
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especulação imobiliária. Tais praias, então, além de não mais serem ambientes naturais
também não têm a identidade nativa de sua gente.
Referências bibliograficas