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PRÉ – PROJETO:
1. PROBLEMA DE PESQUISA
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Para tanto, apresentam-se, também, os objetivos específicos que este estudo buscou
alcançar:
3. JUSTIFICATIVA
A diferença de perspectivas entre o nativo e o passante, entre o estranho e o de casa,
são sensivelmente interessantes para o planejamento do espaço turístico. No estudo da prática
espacial do turismo, não devemos esquecer das alteridades existentes no território. O território
é um campo de força onde atuam diferentes significados que precisam ser identificados e
considerados.
4. REVISÃO DE LITERATURA
O que temos que notar é que o Turismo ao alcançar o território, põe em contradição ao
menos dois lugares. Lugares que estão situados no mesmo território, no entanto, separados
pelo ponto de vista, a saber: o lugar fruto da maneira de ver (COSGROVE, 2010) do nativo e
do visitante. O primeiro, por ser fruto da interação cotidiana do nativo com o território, torna-
se mais próximo do lugar ‘real’, porém, o segundo, por ser comumente permeado pela
alucinação e pelos processos de fetichização produto da contingência civilizatório em que
vivemos, apresenta-se como um lugar falacioso/mistificado, um pseudo-lugar, como propõe
Cruz (2007).
Neste sentido,
As paisagens artificiais criadas pelo turismo destoam seus entornos, tanto no que se
refere às características naturais e construídas desses entornos. A natureza e cultura
recriadas por essas paisagens são frutos de intervenções planejadas (...) não são
produtos da história natural e social, são produtos do turismo (CRUZ, 2001, p. 112).
Com a realidade maquiada, os visitantes atraídos por uma modalidade de Turismo que
esteja ancorada nos pressupostos da construção do pseudo-lugar, dificilmente conseguirão
alcançar de fato o lugar visitado de maneira complexa 1; não sentirão a cultura e tampouco se
relacionarão com os nativos que sempre tem algo a passar, mostrar e até ensinar com o seu
modo de vida.
[...] os residentes de qualquer lugar terão tempo de ficar fazendo sala para todos que
surgirem, mormente hoje que as pessoas desconfiam da própria sombra e que o
turismo de massas é um fato irreversível. [...] Essa lide exige longa convivência com
um grupo social, só possível mediante muitas viagens. (YÁZIGI, 2015, p.5)
1
Utilizamos do termo “complexa”, aqui, não no sentido ordinário de “complicação”, mas no sentido
proposto por Morin (1982).
Sabemos que esperar que o visitante/turista/consumidor se conecte com o lugar ‘real’,
“cheira a parábola” (YÁZIGI, 2015). Sabemos ainda que não é suficiente apenas identificar e
criticar a incongruência existente entre as duas maneiras de conceber o lugar turístico.
Conjuntamente ao entendimento e a crítica, deve-se reforçar a necessidade de práticas
alternativas do turismo. Neste projeto, porém, faremos uso desse dualismo, não para propor
uma solução ou algo que, certamente, beiraria o utópico, mas como um caminha gnosiológico
que permita o entendimento das contradições existentes no fenômeno turístico no PNC.
Concebemos o lugar e o pseuso-lugar apenas como categorias analíticas que oferecem
arcabouço interpretativo que permitirá alcançar, através de seu confronto, os imaginários
perceptivos vinculados ao destino em questão.
O seu produto de uso é o destino que possui potencial para desenvolver a atividade e
só esse “potencial” motiva investidores (públicos e privados) a entrarem e trabalharem em
prol do desenvolvimento do Turismo no local. Assim, por deter esse caráter econômico, a
atividade não trata o lugar apenas no que toca a seu valor de uso, mas, sobretudo, no que toca
a seu valor de troca. Ou seja, trata o lugar como uma mercadoria que deve ser vendida a todo
custo. Assim, o Turismo se constitui como uma atividade que está associada à contínua
produção de valores do capitalismo. Para tanto, visando garantir essa continuidade,
desenvolvem-se nos lugares turísticos desde infra-estruturas básicas ao fornecimento dos
serviços (sistema rodoviário e/ou aeroportuária, meios hospedagem, sistema hospitalar, etc.) à
construção da imagem e o marketing do lugar. Neste sentido, grandes são os investimentos
para que haja êxito no processo de execução da atividade turística. Para tanto, haverá
mudanças no âmbito arquitetônico, ambiental, social e imagético por meio das quais a
atividade se estabelece – de maneira exitosa ou não.
A construção da imagem, – que é o que mais nos interessa desse processo neste
trabalho – segundo Leandro (2006), recai sobre o marketing.
Diante de tudo que foi explicitado nos diálogos anteriores, outro diálogo se fez
inevitável em nosso percurso teórico, a saber, o do entendimento da percepção.
A percepção, como alerta Tuan (2015), é uma atividade, um estender-se para o mundo.
Inicialmente é conveniente discutir a relação da percepção com a cultura. A cultura pode
influenciar a percepção de tal maneira que uma pessoa pode enxergar coisas inexistentes. A
alucinação, como alertara Tuan (2015), caminha de mãos atadas com a percepção, pois “se
uma figura alucinatória [pseudo-lugar] fica diante de uma mesa [lugar real], então parte da
mesa está bloqueada”. A alucinação, assim, apresenta-se como um fenômeno que afeta a
maneira como um indivíduo e um grupo concebe os lugares.
A cultura, a história intelectual e emocional esboça um papel condicionante na
percepção dos sujeitos. Nas palavras de Paul Claval (1999) “o que lemos no mundo e na
sociedade é o que aprendemos a ver”. Desta forma, a imagem que formulamos a partir da
observação da paisagem não se consolida no simples ato da observação, mas sim na
combinação da observação e/ou experiência e/ou de todos os discursos e narrativas que atuam
sobre esse fragmento espacial observado. Para Milton Santos:
Para o autor o objeto apresenta duas faces: a verdadeira, que não se oferece
diretamente ao observador, e a visível, moldada pela cultura. A percepção que temos da
paisagem está longe de abarcar o objeto em sua realidade profunda. Não temos direito senão a
uma mera aparência, por outro lado a essência, ou mesmo a totalidade, não temos acesso.
Portanto, a percepção é entendida neste projeto como um traço do real, ou melhor, um
traço do lugar real. Não temos acesso à realidade complexa, por mais que nosso sentimento de
realidade nos alucine e nos faça sentir como se tivéssemos. Desta forma, a percepção que se
constrói através da forma e/ou experiência e/ou discurso/narrativa não passa de um fragmento.
Mas por que a imagem que formulamos é apenas um traço do real e não a totalidade?
Para responder esta pergunta, chama-se para o diálogo o antropólogo Laraia (2001), que
refletindo sobre a cultura afirma que:
[...] a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de
culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das
coisas. Por exemplo, a floresta amazônica não passa para o antropólogo —
desprovido de um razoável conhecimento de botânica — de um amontoado confuso
de árvores e arbustos, dos mais diversos tamanhos e com uma imensa variedade de
tonalidades verdes. A visão que um índio Tupi tem deste mesmo cenário é
totalmente diversa: cada um desses vegetais tem um significado qualitativo e uma
referência espacial (LARAIA, 2001, p.71).
Ou seja, a percepção que se tem de algum lugar está longe de abarcá-lo em sua
realidade profunda, pois ao contemplá-lo utilizam-se lentes, roupas, filtros auriculares,
sapatos e capacetes que são montados pela história cultural do contemplador, que faz com que
a sua percepção estranhe ou normalize algo, no tocar, no pisar, no olhar, ou melhor, no sentir.
Essas concepções servem para lançar luz no entendimento da percepção dos sujeitos
envolvidos na prática turística e, assim, viabilizar o estudo comparado da ‘maneira de ver’ do
visitante e do nativo.
Segundo Tuan (2015), visitantes e nativos focalizam aspectos bem diferentes do lugar.
Neste sentido, o visitante turista frequentemente reduz seu ato perceptível e reduz seu olhar
para compor quadros. Por outro lado, o nativo tem uma atitude complexa derivada de sua
imersão na totalidade de seu lugar. “O ponto de vista do visitante, por ser simples, é
facilmente enunciado. [...] Por outro lado, a atitude complexa do nativo somente pode ser
expressa com dificuldade e indiretamente por meio do comportamento, da tradição local,
conhecimento e mito” (TUAN, 2015, p.96).
Assim, a avaliação do lugar pelo visitante é essencialmente estética. É a visão de um
estranho. O estranho julga pela aparência, por algum critério formal de beleza.
5. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
2
De uma perspectiva teórico-metodológica, a Psicologia Cultural contemporânea permeia desde a
teoria da atividade à semiótica, tendo como pano de fundo de suas discussões a cultura. A perspectiva
que fundamentou este objetivo foi a semiótica (VALSINER, 2000, 2007; BARTHES, 1975, 2012;
ECCO, 2001), cujo foco incide sobre a característica ontológica do humano de criar e usar signos –
dispositivos semióticos.
6. REFERÊNCIAS