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Comunicação, Resistência e Cidadania: As Festas

Populares
Communication, resistence and citizenship: the popular
celebrations
Maria Nazareth Ferreira
Profa. de Comunicação da ECA/USP, pesquisadora do CNPq e dirigente do
E-mail: nazarethferreira@uol.com.br

Resumo
Estudo das festas populares, como objeto de conhecimento científico: como
sistema de comunicação das classes subalternas, como produção cultural
privilegiada, para o estudo da identidade cultural, cia construção da cidadania
e do turismo cultural. Tanto pela relevância dos atos sociais que se desenrolam no âmbito das
festas, como pelo significado social que as mesmas podem aportar para o fortalecimento da
memória histórica e da resistência cultural das classes subalternas. Proposição metodológica
para uma possível teoria das festas populares.
Paiavras-chave; Festas populares como objeto de estudo - Cidadania e participação - Identidade
cultural e resistência - Turismo cultural - Comunicação e culturas subalternas.

As festas populares como objeto principalmente no Brasil, uma


de estudo científico são relativamente crescente valorização das festas
recentes no Brasil, exceto pelos populares, como já foi apontado em
estudos sobre o Carnaval carioca. A outros projetos anteriores
maioria dos estudos sobre festas desenvolvidos pelo Centro de
populares ora são de caráter Estudos Latino-Americano sobre
antropológico ou sociológico, ora Cultura e Comunicação daUSP, sob
são meras descrições. No entanto, há orientação desta autora.
uma vasta tradição de estudos Assim sendo, a proposta de
europeus - principalmente italianos, aprofundar os estudos sobre essas
franceses e alemães - nos quais as manifestações das culturas
festas populares assumem status de subalternas poderá trazer algum
objeto de estudos científicos e subsídio para a construção de uma
multidisciplinares. teoria das festas populares, não
Por outro lado, atualmente, com apenas como instrumento
a expansão do turismo, em nível privilegiado para o entendimento dos
mundial, um dos assuntos mais fenômenos de comunicação e como
explorados como consumo turístico "mercadoria" para a expansão do
são justamente as festas populares. turismo, mas principalmente como
Não somente na Europa » mas 1 portador de ações concretas na
mesmo no Brasil, e em outros países construção da cidadania e no
da América Latina essa opção
2 fortalecimento de làços sociais e 1FERREIRA, Maria Nazareth. As Festas
tem sido uma alternativa para identitários. Populares na Expansão do Turismo: A
incrementar as economias locais das As festas podem ser examinadas Experiência Italiana, 2 Edição, revista
a

e ampliada. São Paula Arte&Ciência,


pequenas cidades marginalizadas do ponto de vista da atividade lúdica, 2005.
pelo processo neoliberal, cuja mas também como um Projetos Realizados pelo CELACC:
natureza é privilegiar a produção acontecimento aglutinador da
2

Identidade Cultural e Cidadania: o


para exportação, ignorando as realidade das comunidades potencial das cidades históricas para
economias de pequeno porte. envolvidas, no sentido de avaliar seu o Turismo, 2003. Cultura, Globalização
e Turismo: a cultura subalterna como
Diante desse quadro tem havido, potencial como formadora da mercadoria, 1998.

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cidadania, da conscientização e da da cultura, é um espelho no qual o
participação social, porque um dos ser humano se reflete, buscando
elementos mais significativos no respostas para sua condição de
processo de realização da festa é a precariedade frente à vida 3

transformação do indivíduo comum Antes da invenção dos modernos


em protagonista daquele evento. meios de comunicação, as festas
Entretanto, o fenômeno festa tem constituíam a mais importante
também dois aspectos a serem atividade pública: eram os momentos
examinados: como fator econômico, centrais dessa atividade, funcionando
visto que tem dado excelentes como autênticos sistemas de
resultados como "mercadoria" para comunicação entre a comunidade e
a expansão do turismo, e como entre esta e os visitantes que
instrumento privilegiado para o participavam do evento. Para a
entendimento dos fenômenos de comunidade, eram momentos de
comunicação das classes afirmação da identidade coletiva,
subalternas. mediante os quais o indivíduo
Com essa perspectiva é possível tomava consciência de seu
considerar o fenômeno "festa", que "pertencimento" a determinado
é praticado, desde épocas antigas até grupo, assumindo o papel de
as mais recentes, por determinados protagonista de sua própria história.
conjuntos humanos, os quais, A festa era também um "lugar
principalmente em regiões simbólico", no qual eram veiculados
periféricas, têm sobrevivido ao os valores e as crenças do grupo,
impacto das mídias e dos processos transformando-se, portanto, no
predadores neoliberais. Essas principal lugar onde afloravam os
práticas, ultrapassando a barreira do conflitos de significado na disputa
tempo, enfrentando diversas pelo monopólio da informação e, até
dificuldades de diferentes aspectos, mesmo, do controle social.
vivenciando intensos processos de A festa deve ser vista como um
aculturação, de sincretismo e mesmo conjunto de atos cerimoniais de
de proibições, prevalecem até a caráter coletivo pela sua colocação
atualidade numa reafirmação da dentro de um tempo delimitado, tido
cultura como força propulsora de como "diverso" da cotidianidade. Em
processos civilizatórios integradores qualquer tipo de festa, o grupo ou a
e, também, como poderoso comunidade interrompe o tempo
instrumento de comunicação. ordinário para entrar, coletivamente,
Para compreender o fenômeno na dimensão de um tempo carregado
"festa" é necessário realizar uma de implicação cultural e de conotação
operação de análise científica, tendo psíquica própria, diferente daquele
em vista a desmesurada dimensão tempo ordinário ou cotidiano. Esse
cultural que assume numa sociedade. aspecto poderá ser identificado nas
Do ponto científico, a festa é um festas populares de qualquer região.
singular objeto de estudo, Os protagonistas dos eventos
contemplado por especialistas de festivos, poderão estar - estarão -
todas as correntes. É tão significativa vivenciando outro momento,
para o homem, como ser diferente de sua cotidianidade - como
comunicativo e social, que se pode já foi observado em outro estudo
3LANTERNARI, Vittorio. Festa, carisma, afirmar - como o faz Lanternari - realizado não estando apenas
apocalisse. Palermo: Sellerio, 1989. que não existe - e jamais existiu - interpretando, mas vivendo uma
pp.25 e seguintes. sociedade humana sem festas. Assim, experiência cultural de outra ordem.
1Idem, ibidem. a festa, sendo, como é, uma categoria De fato, o tempo festivo se
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coloca, com respeito ao tempo
ordinário ou cotidiano, como seu
complemento dialético, como o ser
em relação ao fazer - eu sou (a
materialidade do ser, a força de sua
existência social) - e, na festa
religiosa, como o sagrado em relação
ao profano. Fazer festa significa
colocar-se diante do espelho,
procurando a si mesmo e à sua
identidade; é buscar reencontrar as
garantias histórico-culturais, re-
confirmando-as na força da
representação, no ato comunicativo
e comunitário. Essa ação de resgatar
a própria identidade é fundamental
para encontrar-se a si mesmo e
recuperar um equilíbrio que pode
estar ameaçado Esse resgate,
4
m

entretanto, é um ato conflitivo, acompanha as fases mais comuns da


porque significa incorporar novos vida e da qual o homem assume
valores àqueles tradicionais. Mo consciência por meio do acúmulo de
entanto, èáse conflito, longe de ser experiências e das atividades
algo prejudicial, é uma experiência cotidianas.
salutar, porque essa renovação, A dialética entre o ser e o fazer
dialeticamente, enriquece. a atualmente ss coloca como uma
identidade cultural da comunidade, força, uma necessidade de reação a»
pois, ao incorporar novos valores mundo contemporâneo, onde os
esltutaiSj atesta o caráter contornos identitários estão cada vez
cumulativo e dinâmico da mais indefinidos; hoje, mais que
experiência humana na construção nunca, se procura, com renovado
da cultora. afã, delimitar as fronteiras entre o
Como nota F. Rcmotti, o eweo outro; nesse sentido, as festas
processo de Gonstrução da identidade podem aportar significativos
traz à baila, inevitavelmente, um elementos, pois atravessam a
processo de relação social conflitivo: barreira do tempo para buscar, num
"Si puó affermare tranquillamente passado mais ou menos remoto, os
che nessuna soçietá é mai riuscita - signos de sua identidade. É,
perfortuna - a costruire e mantenere provavelmente, por essa razão que
la própria identitá sotto forma di algumas festas, depois de haver caído
uma sfera compatta e inattaccabite em desuso, voltaram há pouco tempo
(...) Tutte le culture sono ilprodotto a ser realizadas, não apenas como
di interazioni, di scambi, di influssi reafirmação da identidade para uso
provenienti da altrove... le culture internoj mas também como
non sono pure. Ogni società há a fortalecimento dessa mesma
da fare I conti conl 'alteritfâ,,* " 5 identidade em face do consumo
Essa necessidade de reencontrar turístico.
e re-confirmar periodicamente a A festa reproduz simbolicamente
própria identidade é o a condição do caos mítico
correspondente psicológico da primordial, quando promove a ® REMOTTI, F. Contro 1'identità.
condição de precariedade que anulação do presente. Assim, a festa Bari: Laterza, 1996.
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com a problemática da identidade
cultural em face das investidas
repressivas da comunicação
midiática e, por conseguinte, com a
expansão sem precedentes da
atividade turística predatória, em
escala planetária.
é um simbólico retorno às O atual processo de globalização
origens - uma origem propagado pelas mídias encabeça
muitas vezes imaginária, mecanismos de alienação que estão
reinterpretada ou re- presentes no caráter sedutor das
signifícada necessário mercadorias e das práticas de
para garantir a integridade consumo em geral, pois preconizam
do indivíduo. a padronização e a uniformização de
Por outro lado, a festa hábitos, valores e ideologias,
possui uma dupla e interferindo fortemente nos
contraditória potencialização entre processos identitários das pequenas
conservação e criatividade cultural. comunidades, mais expostas ao
De um lado, empurra o indivíduo à turismo massificado.
fiiga, à evasão da realidade banal, É em defesa de outra forma de
do cotidiano, para mergulhá-lo no turismo — o turismo cultural - que
momento mágico da festa, que é uma proposição para o estudo
também o momento do sagrado e do científico das atividades festivas das
caos primordial. Essa evasão é classes subalternas tem sentido.
provocada pelas técnicas que O estudo das festas implica na
constituem a parte essencial da exaltação dos atributos históricos e
instituição festiva: o riso, o jogo, a culturais de um determinado
dança, a música, a alegria, o território, evidenciando os processos
descontrole orgiástico, o dramático civilizatórios que se revelam como
etc. De outro lado, o clima festivo integradores de uma determinada
abre uma possibilidade psicológica comunidade. Compreende-se, neste
e fornece Uma carga de energia sentido, uma localidade específica
psíquica que permite ao indivíduo como um locus provido dè traços
enfrentar com vigor e independência identitários presentes na história
criativa as batalhas do cotidiano . 6
coletiva, mas também nas
No caso de algumas festas - individualidades em seu sentido
principalmente aquelas das classes pleno, dialético, e não no sentido
subalternas -, é necessário não perder liberal-burguês.
de vista um de seus objetivos Neste exame da festa das classes
principais: o de implementar o subalternas como categoria da
turismo em suas localidades, o que, cultura, cabe abordar dois aspectos
por si só, é um elemento positivo do que são significativos para a
ponto de vista da comunidade. compreensão de sua validade como
Entretanto, um aspecto a ser objeto de estudo.
destacado é que a análise das festas O primeiro deles é a capacidade
populares, no âmbito das ciências que a festa tem de trazer para a
humanas - e mesmo nas ciências da atualidade, desde longínquas épocas,
comunicação -, é um importante as experiências culturais vivenciadas
instrumento científico para a por determinada população; o
6LANTERNARI, Vittorio. Op. cit., pp. compreensão da contemporaneidade, segundo aspecto refere-se ao fato de
27,30-31. porque estabelece relações diretas que, mesmo contrariando as práticas

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intencionalmente concebidas no inversão junta-se a dialética entre
momento da festa, os usos e os tradição/inovação, indispensável
costumes mais profundos elemento dinâmico dos processos
vivenciados pela cotidianidade e culturais. Por outro lado, a dialética
entranhados no inconsciente afloram, entre tradição/inovação, apesar de
mostrando, a verdadeira face de um. ser um elemento interno à festa, num
povo, de uma comunidade moldada sentido mais amplo, reconduz - como
através da cultura. a dialética entre a reprodução/
Desses dois aspectos existentes inversão - à relação entre o festivo e
no fenômeno "festa" é possível o cotidiano. Compreende outro
extrair os elementos de identidade conjunto de elementos interativos, de
mais significativos de uma modificação, de sincretismo e de
determinada cultura, bem como criatividade, os quais constituem o
entender esses elementos como um produto visível no interior da festa;
sistema de comunicação que permite do dinamismo e das relações que se
ao observador avaliar como o desenvolvem entre o contexto e a
passado e o presente se articulam no festa em si mesma. Nas festas das
interior dessa cultura, e as várias çlasçes subalternas, a relação
formas de identidades que são, ao tradição/inovação (repetição-
mesmo tempo, re-significadas, invenção) poderá ser visível para o
assumindo novos aspectos. observador e também para os
É necessário salientar que a festa participantes - que com seus
estabelece uma relação complexa comentários indicam que a festa.é a
som a realidade; não é uma simples mesma de cada ano, más é diferente
reprodução ou inversão de sentido; daquela anterior. Essa relação
ã festa recolhe experiências que constitui, além de um forte elemento
normalmente são vivenciadas em de dinamismo, um índice de
separado, e acrescenta sentido àquilo vitalidade do fenômeno festivo.
que no cotidiano é percebido como No exame de uma festa popular
descontinuidade. Neste sentido, a é possível observar pelo menos três
festa estabelece uma relação com o componentes básicos: a preparação,
seu contexto, ao menos, de dois a execução (conjunto de atividades
modos: como inversão, na medida mais ou menos tradicionais,
em que o tempo mítico inverte a ritualísticas e formalizadas) e a
realidade cotidiana, e como ideologia presente na festa (isto é, o
reprodução do mundo cotidiano; conjunto de símbolos, valores e
através da performance; a crenças que, explícita ou
reprodução permite um acréscimo de implicitamente, são repetidos pela
sentido que pode ser o valor da festa).
reconstrução da identidade ameaçada A ideologia, representada
e um aumento da percepção das também pelos dois outros elementos,
relações sociais (a importância do juntamente com os conceitos de
sentimento de pertencer a reprodução/inversão e tradição/
determinada comunidade, cujas inovação, reproduz a relação social
raízes são comuns, como nas festas entre festa e contexto e entre tempo
populares), onde o processo festivo e tempo cotidiano • 7
7 GIGLIA, Angela, Clientelismo e

comunícativo-cultural é dado através É possível afirmar que a


cultura popolare tradizionale: la
da performance, capaz de atrair a ideologia que permeia a organização
festa. Im Signorinelli, Amalia. Chi
può e chi aspetta i giovani
atenção de indivíduos estranhos à e a instituição das festas permite clientelismo in unaarea interna dei
festa, como é o caso dos turistas. identificar como motivação a Mezzogiorno. Napole: Liguori,
À dialética entre reprodução/ necessidade de reafirmar o elo 1984, pp. 247-259.

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cultural que liga a atualidade cotidianidade através do
brasileira e hispano-americana ao fenômeno festivo 9

seu passado, como tentativa de


reviver uma memória histórica Nas festas das classes
ameaçada pelas rápidas subalternas podem ser examinadas
transformações da realidade as possibilidades da materialização
cotidiana. A insistência em buscar no dos conceitos de reprodução/
mais longínquo passado as raízes do inversão (na medida em que a
presente poderá estar visível na reprodução do tempo mítico inverte
maneira como esse passado está re- a realidade cotidiana) e também do
significado e simbolizado nos conceito de tradição/inovação (na
mínimos detalhes da estética das medida em que cada festa é, ao
festas examinadas em estudos mesmo tempo, igual e diferente da
exploratórios já realizados. anterior). Igualmente, pode-se
Outro ponto a ser ressaltado é observar se a reprodução da relação
que para qualquer tipo de análise do social entre a festa e o seu contexto
fenômeno festivo, se o objetivo é (na medida em que a festa se
compreender a estrutura, a função e fundamenta e se corresponde com
o seu significado, não se pode uma determinada realidade histórica
prescindir de dois componentes concreta) e entre o tempo festivo e o
básicos: tempo ordinário ou cotidiano, na
medida em que o tempo festivo é
1) o sentimento da festa: o que reflexo em positivo do tempo
faz com que a festa exprima uma cotidiano, não sendo nunca a sua
atmosfera intensamente negação; positivo porque, nesse caso,
participativa, densa de o tempo cotidiano é idealizado e
conotação simbólica e mítica, mitificado.
desenvolvendo uma função
imediata e coletivamente A partir destas considerações de
catártica*; caráter metodológico, será possível
argumentar que a cultura
2) a institucionalização da festa: desenvolvida pelas classes
cada festa comporta uma subalternas desde o período colonial
organização comunitária e uma brasileiro e hispano-americano,
regulamentação da parte do baseada na herança cultural de
grupo festivo, que é mais ou europeus, negros e índios, percorreu
menos amplo ou complexo. os séculos, chegando até a
Neste componente atualidade, modificando-se, porque
organizacional, ao lado do
elemento organizativo- é viva, mas mantendo o seu elo
comunitário entra o quadro de identitário; que esse fenômeno que
referência ideológico anteposto atualmente torna possível reconhecer
à festa e que, segundo o caso, se e fortalecer a identidade nacional
refere a um mito de origem cultural é conseqüência do ato
ritual ou simbolicamente re- festivo, renovador e re-atualizador
atualizado, à lenda de das práticas culturais dessas
fundamentação de um culto; à populações. Todos esses elementos
imagem de um santo cristão; a poderão ser atualmente observados
um momento crítico da em qualquer festa que se examine,
existência ou a um evento seja religiosa ou profana, porque
histórico, social ou político, que fazem parte de um complexo
deve ser comemorado e re-
8 LATERNARI, Vitorio. Op. a, pi 27,
evocado, para renovar o impulso comunicacional composto por textos,
9 Idem, ibidem, p. 27. de Vencer os percalços da músicas, danças, imagens, oralidade,

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crenças, costumes e toda a sorte de identities, citizenship and cultural tourism. Its
práticas culturais, reafirmando social importance is due to the possibility of
aquela noção de que comunicação é strenghtening the collective memory and
cultura. Esses componentes poderão popular resistenceto mass culture.
estar atualmente presentes nas festas, Keyword: popular celebration, culture, identity.
principalmente com o objetivo de
atrair a atenção do crescente Referência
mercado turístico. Entretanto, ao BAKHTIN, Mikhail, A cultura popular na Idade
exporá cultura, a memória histórica, Média e no Renascimento: o contexto de F.
os usos e os costumes dos povos, as Rabelais. São Paulo:Hucitec e Brasília:Unb,
festas das classes subalternas 1999.
poderão subverter as propostas do FERREIRA,M.N. As festas populares na
turismo predatório, transformando- expansão do turismo: a experiência Italiana. 2a.
o em uma opção cultural, a qual tanto edição revista e ampliada. São Paulo,
poderá beneficiar o próprio turista Arte&Ciência, 2005.
como, principalmente, as GIGLIA, Ângela. Clientelismo e cultura popolare
comunidades envolvidas em tal tradizionale: la festa. Napole: Liguori, 1984.
atividade. LANTENARI, Vittorio. Festa, carisma, apocalisse.
Palermo: Sellerio, 1989.
Abstrac REMOTO, F. Contro 1'identità. Bari: Laterza, 1996.
RIVERA, Annamaria. II mago, il santo, la morte,
In this text author proposes the study of la festa. Forme religiose nella cultura
popular celebrations as communication popolare.Bari: Dédalo, 1988.
systems and as cultural productions that VACCAI, G. Lê feste de Roma ântica: miti, riti,
contribute for the construcion of group costumi. Roma: Mediterranee, 1986.

Data do recebimento: 10/04/2006


Data do aceite: 03/05/2006

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