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A segunda advém do fato de que, por um lado, ele deve deter uma
competência técnica e u conhecimento dos princípios e métodos
necessários a uma moderna e adequada administração dos recursos
dos recursos da escola, mas, por um lado, sua falta de autonomia em
relação aos escalões superiores e a precariedade das condições
concretas em que se desenvolvem as atividades no interior da escola
tornam uma quimera a utilização dos belos métodos e técnicas
adquiridos( pelo menos supostamente) em sua, formação de
administrador escolar, já que o problema da escola pública no país não
é, na verdade, o da administração de recursos, mas o da falta de
recursos”(1997:11).
Toda e qualquer organização que tente implantar e desenvolver práticas
de natureza participativa vive sob a constante ameaça da reconversão
burocrática e autoritária dos seus melhores esforços. As razões, para isso são
diversas: história de vida dos membros, supervalorização ideológica das formas
tradicionais de gestão, demandas politicas difíceis de conciliar etc. de tudo isso,
contudo, um ponto deve ser destacado: a participação se funda no exercício do
dialogo entre as partes. Esta comunicação ocorre, em geral, entre pessoas com
diferentes formações e habilidades, ou seja, entre agentes dotados de distintas
competências para a construção de um plano coletivo e consensual de ação. Na
pratica da gestão escolar, esta diferença, que em si não é original nem única,
assume uma dimensão muito maior do que a grande maioria das propostas de
gestão participativa e autogestão que pode ser observada.
Um pequeno depoimento pode ajudar a ilustrar essa gama de
dificuldades. Entre os dias 15 e 17 de julho de 1996 os autores deste artigo
proferiram uma ´serie de palestras para os professores e diretores da rede
estadual de ensino do estado de Rondônia, na cidade de Ji-paraná. O tema
central era administração escolar, enfatizando as vantagens e benefícios da
adoção ou simplesmente da aceitação, de práticas participativas muitas vezes já
contempladas na própria legislação. A receptividade, como é normal nestes
casos, foi gentil e atenciosa, embora as posições politicas pudessem,
eventualmente, divergir. Num determinado momento das exposições, uma
diretora de escola pediu a palavra e fez um longo elogio á participação, apenas
com uma ressalva: os pais analfabetos não poderiam opinar sobre a
alfabetização dos filhos já que eles mesmos não eram alfabetizados.
Complementando, outra colega manifestou a confiança em que cada um poderia
participar a partir da sua própria experiência, ou seja, uma mãe que fosse
faxineira poderia participar ajudando na limpeza da escola, e assim por diante.
Tais exemplos apenas ilustram as enormes dificuldades para a pratica da
participação no âmbito de uma cultura autoritária, contraditória e no interior de
organizações fragilizadas em termos de recursos e composta de membros
profundamente díspares.
Do ponto de vista teórico, os exemplos citados não constituem formas
políticas de participação, mas apenas manipulações autoritárias onde se procura
realçar a alienação ou obter trabalho não remunerado. Na pratica, contudo, as
coisas são muito mais complicadas. É preciso ter sempre presente que estamos
lidando com uma realidade bastante complexa e dinâmica, e que as
reconversões tanto ocorrem no sentido de autoritarismo como no caminho
inverso, potencializando a participação onde ela deveria, talvez, ter sido inibida.
O exemplo da faxineira nos remete à seguinte colocação de Vitor Paro:
“Não se trata, todavia, de destacar a participação na execução como
se ela fosse um mal em si, pois ela pode constituir até mesmo uma
estratégia para se conseguir maior poder de decisão. O que temos
observado a esse respeito é que, na medida em que a pessoa passa a
contribuir quer financeiramente, quer com seu trabalho na escola, ela
se acha em melhor posição para cobrar o retorno de sua colaboração,
e isso pode dar-lhe maior estímulo na defesa de seus direitos e resultar
em maior estimulo na defesa de seus direitos e resultar e maior
pressão por participação nas decisões. Além disso, a participação de
pais( e especialmente mães, como tem sido mais frequente) na
realização de pequenos reparos, em serviços de limpeza, na
preparação da merenda, ou ainda na organização e cumprimento de
tarefas ligadas a festas, excursões e outras atividades, acaba por lhes
dar acesso a informações sobre o funcionamento da escola e sobre
fatos e relações que aí se dão e que podem ser de grande importância,
seja para conscientizarem-se da necessidade da sua participação nas
decisões, seja como elemento para fundamentar suas
reivindicações”.(1997:51).