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Introdução

O presente trabalho apresenta um breve estudo a cerca dos princípios que norteiam a
gestão escolar quando esta se caracteriza como democrática, bem como sua integração
com a comunidade tendo em vista alguns aspectos escolares e extra-escolares. É uma
abordagem crítico-reflexiva que visa incentivar e proporcionar suporte às discussões
sobre o tema.

A gestão escolar não deve ser enxergada somente como um conjunto de práticas
burocráticas voltadas à escola, mas sim, precisa ser vista como um viés de promoção do
fazer democrático e da cidadania. A escola não pode e não deve fechar-se em seus
muros, deixando de considerar toda a realidade que a norteia e que exerce influência
constante no processo de ensino aprendizagem.

A sociedade vem se transformando em ritmo cada vez mais acelerado, logo as


instituições de educação não podem manter-se distantes do meio social que exige uma
proximidade pertinente se o êxito da educação for o objetivo a ser alcançado.
Atualmente não há como a escola subsistir sozinha no que diz respeito às suas
atribuições, se considerarmos tantos fatores externos que existem à sua volta.

Portanto nota-se que é imprescindível que a comunidade local esteja em sintonia com o
ambiente escolar para garantir a melhoria educacional e isso pode ser promovido mais
facilmente quando a escola possui uma gestão democrática.
1. Administração e Gestão escolar

A administração e gestão escolar possui uma natureza capitalista com fins lucrativos,
já administração dentro da escola tem especificidades diferentes, pois o principal
objetivo da escola de acordo com Paro (2006) é a transformação da sociedade.

A administração escolar realmente comprometida com a transformação social deverá


buscar meios que atinjam os interesses das classes menos favorecidas. Entretanto, é
necessário que a escola esteja atenta para a explicitação destes objetivos e o
entendimento dos reais interesses deles.

Por isso, a escola precisa saber buscar em sua administração a natureza própria, seus
objetivos e princípios específicos de sua realidade. Uma Administração Escolar que
pretenda promover a racionalização no trabalho pedagógico da escola deve começar a
verificar a própria realidade, isto é, sua especificidade no processo de trabalho escolar
(PARO, 2006).

Gestão Democrática escolar

A palavra gestão tem sua origem do latim “gestio”, que quer dizer “ato de administrar,
de gerenciar”, ou seja, a ação de gerir determinado órgão ou instituição tem como
incumbência geral a administração, sendo que esta última se dá em diversos aspectos. O
termo democracia surgiu na Grécia Antiga (demo= povo e Kracia= governo). Levando
em consideração seu ponto de vista etimológico, a expressão “gestão democrática”
ressalta a importância da participação popular no tocante às decisões relacionadas ao
funcionamento da instituição escolar.

Gestão democrática na escola pública é um processo por meio do qual


decisões são tomadas, encaminhamentos são realizados, ações são executadas,
acompanhadas, fiscalizadas e avaliadas coletivamente, isto é, com a efetiva
participação de todos os segmentos da comunidade escolar (SEDUC, 2012, p.
7).

A questão da gestão democrática escolar muitas vezes fica subentendida como uma
oportunidade para expor vários pensamentos, ou seja, tem-se a gestão democrática
como viés para uma enxurrada de opiniões a cerca dos mais diversos assuntos que
norteiam a escola.
De acordo com Neidson Rodrigues (2003, p.38), “É falso ligar a questão da
democratização da escola a um único aspecto da atividade escolar, seja ele
administrativo, pedagógico, de participação da comunidade em processos decisórios,
acadêmicos ou políticos da escola”. A gestão democrática vai além de simples ações,
que geralmente contam com a participação de um número maior de pessoas, mas ela
caracteriza-se como um conjunto mais amplo e sistemático, que contempla todas as
dimensões envolvidas na educação, ao passo que cada característica possui suas
particularidades, métodos e estratégias específicas, onde, de maneira organizada, a
gestão tem a função de coordenar e comandar tais ações, tendo em vista o
desenvolvimento das práticas educativas numa ótica democrática, ou seja, participativa
e cooperativa.

Na gestão democrática, leva-se em consideração alguns fatores tidos como princípios


democráticos, onde se destacam a participação, a autonomia, a transparência e o
pluralismo. São estes princípios que dão um tom democratizado à gestão, o que facilita
a compreensão da concepção dessa gestão, caracterizando-a de maneira mais explícita.

1.1. Gestão Democrática e participativa

Segundo Paro (1998) quando a escola se fundamenta em uma gestão democrática ela
favorece a participação ativa de alunos, pais, professores e funcionários, enfim, passa a
ser uma instituição onde toda a comunidade escolar possa inteirar-se e opinar sobre os
assuntos que dizem respeito à escola.

Pode-se dizer também que a fundamentação da gestão está na constituição de um espaço


público, ou seja, um ambiente organizado de trabalho coletivo que possa promover
condições de igualdade e que possibilite a produção de conhecimentos e ampliação de
cultura a fim de que os educandos tenham uma expectativa de vida melhor e o exercício
pleno de sua cidadania.

Defende-se que para se concretizar uma educação baseada em princípios democráticos é


extremamente importante o exercício da participação, da troca de informações e
experiências que possa possibilitar um conhecimento maior sobre o funcionamento da
escola e propiciar uma interação melhor entre alunos, professores e pais.
Na perspectiva aqui descrita se ter uma boa gestão não está ligada às ações de uma só
pessoa, mas sim ao envolvimento da comunidade pedagógica como um todo, onde todos
que interagem com os alunos e que ensinam algo a eles.

Segundo Libâneo (2004), entre outros fatores, a democratização da escola depende do


desejo e do empenho dos professores em participar dos processos decisórios e da
concretização dos projetos construídos coletivamente, além da participação que
envolvam pais, estudantes, funcionários e comunidade.

Mediante tais constatações pode-se afirmar que uma gestão democrática e participativa
só acontece com sujeitos comprometidos com uma educação cujo objetivo é a
construção da cidadania e transformação da sociedade.

1.2. Gestão Democrática Escolar

Conforme Ferreira (2004), a gestão democrática na educação deve assegurar uma


educação comprometida com a sabedoria de viver junto, respeitando as diferenças,
comprometida com a construção de um mundo mais humano e justo para todos os que
nele habitam, independentemente de raça, cor, credo ou opção de vida. Isso significa
tomar decisões, organizar e dirigir as políticas educacionais que se desenvolvem nas
escolas comprometidas com a formação da cidadania, aprender com cada mundo
diferenciado que se colocam seus costumes e valores que devem ser respeitados.

Uma escola democrática, segundo Paro (1996), visa eliminar os mecanismos de


exclusão das classes populares geralmente concretizados através da evasão e da
repetência, ela busca por novas concepções de educação onde educandos e não
conteúdos devem ser o

eixo da organização escolar, se propondo articular conhecimento e vida social,


identidade e diversidade cultural, formação e humanização, cidadania e direito.

Para as autoras, um dos maiores desafios enfrentados neste processo é o de promover a


qualidade do ensino buscando criar condições de articulação efetiva entre estados e
municípios para a superação da fragmentação entre as duas esferas, pensada em séries e
ciclos respectivamente.

Para se almejar e obter um pleno e efetivo sucesso de democratização da gestão do


ensino torna-se essencial o fortalecimento dos canais de participação dos pais e das
comunidades nas tomadas de decisões públicas e também uma conscientização da
comunidade de que a participação é essencial para uma política mais justa.

Objetivo da gestão democrática

O objetivo da gestão escolar democrática é aproximar escola, pais e a sociedade para


promover uma educação de qualidade e que estimule o exercício da cidadania. Para a
gestão democrática, a educação de qualidade é um direito de todos os alunos.

1.2.1. Objetivo da gestão democrática

O objetivo da gestão escolar democrática é aproximar escola, pais e a sociedade para


promover uma educação de qualidade e que estimule o exercício da cidadania. Para a
gestão democrática, a educação de qualidade é um direito de todos os alunos.

1.3. Gestão Participativa Escolar

Para Marques (1981), a participação de todos nos diferentes níveis de decisão e nas
sucessivas fases de atividades é essencial para assegurar o eficiente desempenho da
organização. A flexibilidade de pessoas e da própria organização permite uma
abordagem aberta, facilitando a aceitação da realidade e permitindo constantes
reformulações que levam ao crescimento pessoal e grupal. A dignidade do grupo, e de
cada um, se faz pelo respeito mútuo.
A abordagem participativa na gestão escolar demanda maior participação de todos os
interessados no processo decisório da escola, envolvendo-os também na realização das

múltiplas tarefas de gestão. Esta abordagem também amplia a fonte de habilidades e de

experiências que podem ser aplicadas na gestão das escolas.

Pode-se afirmar nesta ponte que a participação em seu sentido pleno se caracteriza por
uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social
reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica
dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder essa resultante de sua
competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questão que lhe são
afetas.

1.4. Construção da Gestão Escolar Democrática


A construção da gestão democrática implica luta pela garantia da autonomia da unidade
escolar, participação efetiva nos processos de tomada de decisão, incluindo a
implementação de processos colegiados nas escolas, e, ainda, financiamento pelo poder
público, entre outros.

1.5. Gestão democrática na escola: participação da comunidade escolar

Há alguns anos, a escola tem-se caracterizado por um modelo estático e segmentado,


onde não há participação dos seus envolvidos. Por muito tempo, o modelo de
administração escolar predominante era centrado na figura do diretor, que atuava
tutelado aos órgãos centrais, zelando pela realização das normas, determinações e
regulamentos providos pelos demais sistemas de ensino (LÜCK, 2006).

Em relação a este modelo estático e fragmentado, Paro (2006) concorda que atualmente
a escola está pautada pelo autoritarismo em seu cotidiano e pela falta de participação de
seus interessados, o que não condiz com a democracia alcançada por meio da
transformação da sociedade.

Ao contrário da visão centrada na figura do diretor, Paro (2006) e outros autores


propõem a democratização da escola. Sendo assim, é de suma importância a
necessidade de se propor à organização escolar fundamentos democráticos. Para tanto, é
preciso que todos os envolvidos no processo escolar participem das decisões a seu
respeito.

Deste modo, podemos inferir que a gestão democrática é um processo pelo qual há o
envolvimento e a participação de pais, alunos, professores e funcionários, assegurada na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996), especificamente em seu artigo 14, preconizando que:

[...] os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática


do ensino público na educação básica de acordo com suas
peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I- participação dos
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da
escola; II- participação da comunidade escolar local em seus
conselhos escolares equivalentes.
A gestão democrática se caracteriza pela colaboração de todos seus atores. Como tal
ocorre a partir do momento em que todos os setores da escola participam efetivamente,
através da elaboração de projetos pedagógicos ou por outras formas de participação, o
que envolve não somente profissionais da educação, mas também a comunidade.

De acordo com Lück (2006), a democratização dos processos de gestão da escola está
estabelecida na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional e no Plano Nacional de Educação. Estas normas legais enfatizam a
importância da ação coletiva compartilhada, a descentralização dos processos de
organização, a tomada de decisões, a construção de autonomia e, principalmente, a
consciência das escolas da necessidade de uma gestão democrática, em todos os níveis
de ensino.

Além disso, é importante salientar que 1 CONAE (Conferencia Nacional da Educação


Básica), realizada pelo MEC em 2008, ressalta a importância da democratização da
educação brasileira para um ensino de qualidade, de tal modo que:
[...] a democratização da gestão e a educação com qualidade social
implicam a garantia do direito à educação a todos, por meio de
políticas, programas e ações articulados para a melhoria dos processos
de organização e gestão dos sistemas e das escolas, privilegiando a
construção da qualidade social inerente ao processo educativo. (MEC,
2008, p.14).
Dessa forma, a gestão democrática ocorrerá nas instituições educacionais,
especificamente nas instituições públicas, a partir do momento em que for conquistada a
participação de todos os segmentos da escola nas tomadas de decisões, sejam sobre seus
objetivos ou seu funcionamento. No entanto, há um caminho a ser trilhado por nossas
escolas para o alcance deste objetivo, ao exigir melhores condições de trabalho e ao
pressionar os escalões superiores para obter autonomia de recursos financeiros e para
desempenhar melhor seu papel, o de transformação social (PARO, 2005).

Assim, a escola democrática se caracteriza por iniciativas coletivas e autônomas de


todos, com iniciativa de participação, mediante organização e controle interno com
prestação de contas e transparência à comunidade.

É o que podemos inferir a partir da seguinte afirmação:


O postulado democrático de orientação dos processos sociais da escola
implica, portanto, o construir juntos, vivenciado no plano interpessoal, do
respeito ao outro como sujeito, como ser humano, [...] a consideração das
diferenças individuais e exercidas em nome do aprimoramento e
enriquecimento do processo coletivo como um valor (CARDOSO apud
LÜCK, 1995, p. 57, Vol. III).
Além disso, a gestão democrática pode ser considerada como um processo que
proporciona a participação dos membros da escola coletivamente, mas não deve ser tão
somente a tomada de decisão; por isso, torna-se necessário que estes membros se
responsabilizem por tal decisão.

Em contrapartida, Pedro Demo (1999) ressalva que há instituições que contradizem a


concepção democrática, insinuando que o autoritarismo é mais eficaz, visto que as
decisões são mais rápidas e muitas vezes já foram tomadas, enquanto que pelo viés
democrático o processo é um tanto quanto trabalhoso, já que todos necessitam opinar.
Por isso, para Demo (1999), a democracia é de suma importância:

Por maiores defeitos que democracia possa apresentar, ainda é


expediente mais confiável de controle de poder, de rodízio no poder,
de equalização de seu acesso, de redução da corrupção, de coibição de
demagogias e populismo, e assim por diante (DEMO,1999, p.39).
Nota-se a dificuldade das organizações diante da criação do hábito de serem
democráticas, por ser a democracia considerada por muitos como algo complicado. Para
alguns gestores, o processo de todos opinarem, comparecerem, decidirem juntos
condiciona uma forma penosa de administrar; para eles, as discussões tornam-se
intermináveis e incontroláveis, por onde emergem o cansaço e a decepção, além do
reconhecimento precipitado de que a democracia não leva a lugar algum (DEMO,
1999).

Apesar disso, é importante salientar que a gestão democrática nas escolas proporciona
um melhor entendimento do que é gerir, pois não é só o gestor que tem o poder de
decisão, e sim todos os interessados, visto que, pelo principio democrático, as decisões
são realizadas coletivamente.

No entanto, é preciso entender melhor o que seja a participação nesta perspectiva; por
isso, a seguir demonstraremos como ela é um elemento essencial para a democratização,
pois sem tal participação não há democracia.
As demandas da gestão democrática participativa e o trabalho nas escolas com base na
organização escolar

Construção da Gestão Escolar Democrática, Gestão democrática – participativa na


organização do espaço escolar desafios enfrentados pelos gestores em educação (sobre
Evasão escolar, preparar professores para um ensino de qualidade participação dos pais
e responsável da comunidade, abertura de espaço acção de liderança necessária ao
trabalho de gestores escolar)

1.6. Participação de todos os envolvidos na escola

Como vimos anteriormente, a Gestão Democrática ocorre a partir do momento em que


há um envolvimento coletivo; porém, ao apontar a participação, principalmente da
comunidade, percebe-se um processo com perspectivas quase utópicas, já que a escola
pouco conhece a comunidade em que atua, logo:

Como podem administradores e professores desempenhar bem o


seu trabalho se não conhecem a comunidade em que a escola
está localizada? Como pode a escola atingir seus objetivos se
desconhece as condições de vida e as aspirações da comunidade
de que provêm seus alunos? É simplesmente impossível
(PILETTI, 2002, p.139)
Ainda de acordo com o autor, é importante que a escola tenha informações gerais sobre
a comunidade, e que esses dados sejam analisados e discutidos por seus profissionais.
Além disso, é necessário saber informações de cada aluno e de sua família, em
específico. Dessa forma, o trabalho da escola não será isolado, alienado da realidade
local, mas estará associado a esta realidade e contribuirá muito mais para o
desenvolvimento, tanto dos alunos quanto da comunidade.

O conhecimento da realidade da comunidade é muito importante, principalmente porque


muitos funcionários da escola moram em outras comunidades e muitas vezes a realidade
é totalmente diferente. No entanto, a partir do momento em que a escola tem o interesse
de conhecer melhor o local em que atua certamente terá melhores condições de atender
a sua comunidade.
De acordo ainda com Piletti (2002), um meio pelo qual a escola tem para conhecer a
realidade da comunidade é através da comunicação constante. Por meio do diálogo, a
escola poderá descobrir o que espera a família em relação ao trabalho pedagógico. Esta
obterá a oportunidade de conhecer o que a escola pode proporcionar além do ensino-
aprendizagem e auxiliar o próprio trabalho, aproximando-o das prioridades das famílias.

Já Pedro Demo (1999) ressalva que o planejamento participativo não evita, por
exemplo, que se procure persuadir a comunidade da necessidade de determinada ação,
desde que o processo de convencimento se realize a partir de um espaço conquistado,
levando em conta a contribuição da comunidade e sua potencialidade, deixando-se,
além disso, convencer a comunidade do contrário.

Lück concorda com a participação da comunidade dentro da escola, mas procura


salientar que "em geral, os pais pouca participação exercem na determinação do que
acontece na escola" (LÜCK, 2006, p.83, Vol.III).

Por isso, a participação da família por si só é um processo de conquista, mas muitas


vezes ocorre um desleixo por parte dos pais ou até mesmo da escola. Deste modo, nota-
se que os pais culpam a escola por não quererem sua participação, e a escola os acusam
por não se interessarem pela educação de seus filhos.

A escola torna-se apreensiva em relação à participação de algumas famílias


exageradamente eloquentes ou geniosas, e que tentam impor uma vontade para
“facilitar” seus interesses ou de seus filhos, distante do desejo de melhorar a qualidade
do ensino, segundo a opinião de alguns gestores e professores. Assim, os dirigentes
escolares não apenas evitam ouvir os pais, como também limitam a abertura do espaço
para participação. Além disso, percebe-se que a escola age dessa forma por ter receio de
perder domínio ou sua autoridade (LÜCK, 2006).

A participação da família tem-se tornado cada vez mais difícil, diante do desinteresse da
escola em ampliar a atuação da comunidade. No entanto, não basta só a escola ceder
mais espaço para que os pais participem; é preciso que haja interesse por parte deles em
participar da vida escolar de seus filhos.

Paro faz referência à articulação entre a comunidade escolar e os escalões superiores, já


que, segundo o autor:
[...] uma medida constitucional de caráter geral poderia
concorrer para que a escola, enquanto instituição articulada com
os interesses dominados tivesse facilitada sua atividade de
pressão junto ao Estado, na medida em que, por meio de uma
associação de pais ou entidade semelhante, pudesse defender
mais efetivamente seus direitos com relação ao ensino (PARO,
2005, p.13).
Mas, “não basta permitir formalmente que os pais de alunos participem da
administração da escola; é preciso que haja condições materiais propiciadoras dessa
participação” (PARO, 2005, p.13).

Afirma ainda que, para ocorrer tal participação, é necessário que o Estado disponibilize
ao trabalhador horas disponíveis. Porém, percebe-se que, na realidade, além de não
haver projetos para promovê-la, o Estado não proporciona à comunidade outros meios
para que isto ocorra. O ato de participar, como vimos, não envolve só o interesse da
escola ou da família, pois é necessário também um processo de democratização nos
escalões superiores, por ser uma ação que abrange a todos, como afirma Paro:

Se a escola não participa da comunidade, por que irá a


comunidade participar da escola? Isto deveria alertá-los para
necessidade de a escola se aproximar da comunidade,
procurando auscultar seus reais problemas e interesses [...]
(PARO, 2005, p.27).
Na realidade, tanto a escola não participa da comunidade como a comunidade não
participa da escola. Segundo Lück (2006), a participação das famílias é muitas vezes
esperada para tratar de questões da vida escolar, ou seja, aspectos físicos e materiais e,
além disso, tão somente para acompanhar os filhos com problemas comportamentais ou
de aprendizagem. Ainda de acordo com a autora, algumas diretoras acreditam que:

[...] os pais que deveriam vir à escola, são os menos que vem,
dizem diretores, sugerindo, ao mesmo tempo, que não adianta
realizar reunião de pais na escola, e que essas reuniões são para
os pais de alunos com problemas (LÜCK, 2006, p. 74, Vol. III).
Cabe a escola se conscientizar sobre o que realmente é participação e qual é a
importância do envolvimento da família com a escola. É importante lembrar que
comparecer a uma mera reunião, apenas para tomar conhecimento de questões
comportamentais, está distante do que se entende por participação.

Há estudos que comprovam que a participação dos pais na escola é essencial. Por isso, a
presença da família na vida escolar tem sido apontada, por meio de várias pesquisas,
como um dos indicadores na determinação da qualidade do ensino, já que pais atuantes
e participantes possuem filhos que aprendem mais.

Portanto, há várias formas de interação escola e família, como pode-se inferir através da
seguinte citação:

O apoio da comunidade é efetivo quando ocorre num ambiente


de interação entre a comunidade e o pessoal da escola, de tal
maneira que atuem em conjunto e em associação como
elementos de apoio da aprendizagem e da própria gestão da
escola e não apenas como apoiadores para a melhoria das
condições materiais e financeiras da escola. O apoio da
comunidade para as questões nutricionais e de saúde dos alunos
tem demonstrado ser extremamente importante, na promoção de
aprendizagem dos alunos, assim como reforço no
desenvolvimento de valores positivos nos alunos (LÜCK, 2000,
p.16)
Contudo, a família e a escola se complementam mas não se completam, já que cabe a
ambas distinguirem claramente suas funções, para não transferir a responsabilidade de
uma para outra. Desta forma, estarão unidas em torno de um objetivo comum, que
envolve a aprendizagem e o bem-estar do aluno.

No entanto, não basta à escola permitir que a família participe, sem promover a própria
participação de seus funcionários, sejam estes professores, gestores, diretores, enfim,
todos os que compartilham o dia a dia escolar, que de forma direta e indireta contribuem
para o trabalho educativo.

Percebe-se que na escola, além da pouca participação dos pais, existe uma atuação
limitada dos seus profissionais. Os gestores, apesar de verem a necessidade da gestão
compartilhada para a construção da realidade de que fazem parte, não a praticam em
suas escolas.
Com relação à participação dos professores na construção da realidade da escola, Lück
(2006) ressalta que alguns gestores encaram a participação dos professores como sendo
ao mesmo tempo crucial e problemática. Neste caso, cabe ao gestor amenizar os
problemas irrelevantes e enfatizar a importância de uma pratica reflexiva, isto é, uma
prática educativa mais consciente de seu papel, que é o ensino e aprendizado dos alunos
e, principalmente, a qualidade do trabalho pedagógico.

Apesar de alguns gestores considerarem pouco importante a participação dos


professores, acredita-se que a participação deles na gestão da escola é tão importante
quanto à participação dos demais interessados, visto que o professor está a todo o
momento com os alunos e conhece suas dificuldades e necessidades, algo que pode
efetivamente auxiliar o gestor.

Entretanto, não adianta promover só a participação de professores e funcionários sem


envolver a comunidade dentro do ambiente escolar, já que, de acordo com Lück (2006),
longe de promover a conscientização de um ambiente democrático e autônomo,
prescindir da presença da comunidade, apenas reforça a prática do autoritarismo dentro
da escola.

De acordo com os princípios democráticos, não existe participação isolada. Deste modo:

Estabelecer vínculos de liderança e tomada de decisão


compartilhada entre membros da equipe de gestão escolar inclui
funcionários da secretaria da escola e também operacionais
sobre questões que afetam sua atuação. Não fazê-lo representa
criar bolsões de ineficácia na escola e situações de desgaste e até
mesmo de atrito intergrupais (LÜCK, 2006, p.82, Vol. III).
O ato de participar vindo de pais, alunos, funcionários e professores proporciona à
escola uma qualidade em seu trabalho educativo, uma vez que, através desta
participação, a escola conseguirá atingir seus objetivos. Contudo, observa-se que, por
mais que todos desejem participar, é necessário que exista um responsável que mobilize
e promova este processo. Diante disto, surge a figura do Gestor, conceito que
discutiremos a seguir.
Conclusão

Ao longo deste trabalho, apontamos a importância do processo de


democratização da escola e os caminhos a serem percorridos para realização
deste sonho, algo para muitos quase impossível.

A Gestão Escolar surge num contexto em que se predominava nas escolas a


figura do diretor. Não obstante, com o intuito de melhorar a qualidade do ensino
em nossas escolas, seriam necessárias novas propostas. Uma das mais relevantes
foi a transição da administração escolar para a gestão escolar, sendo que esta
última extingue a visão fragmentada e reduzida da administração, ao trazer um
modelo mais amplo e coletivo, uma vez que, como já vimos, o conceito de gestão
supõe um trabalho participativo e compartilhado.

Além disso, ressaltamos quão importante é para a escola a gestão compartilhada,


por onde todos os seus envolvidos participam efetivamente, tanto na tomada de
decisão como até mesmo nas questões do dia a dia da escola.

Outro ponto importante é o papel do gestor frente a esse novo desafio.


Acreditamos que o gestor é parte fundamental para o processo de
democratização, por ser considerado o articulador entre a escola e a comunidade.

Destacamos também alguns elementos que fomentam essa participação, como as


eleições para dirigente e o colegiado escolar. Estes podem ser considerados
meios que auxiliam a gestão compartilhada, visto que as eleições são uma forma
da comunidade escolher uma melhor pessoa para geri-la e o colegiado é um meio
pelo qual todos participam.

Para que a escola seja democratizada, acreditamos ser necessário que todos se
conscientizem da importância da gestão compartilhada e do papel da escola no
que tange à qualidade do ensino. Portanto, acreditamos que só há qualidade no
ensino quando todos os envolvidos participam de forma mais eficaz.

Além disso, salientamos o quanto é importante a discussão deste assunto,


principalmente para estimular a consciência dos profissionais da educação em
promover meios de participação para colocar em prática a tão sonhada Gestão
Democrática.

Ao findar deste trabalho, podemos considerar que a Gestão Democrática nas


escolas é de extrema relevância, uma vez que ela proporciona um trabalho
coletivo e compartilhado, onde todos estão juntos em busca de um objetivo em
comum: a qualidade de ensino.
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