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Semana 3 - Gestão Participativa

Texto-base: A gestão participativa na escola (capítulo 2 – Valores, objetivos,


princípios e dimensões da participação - p.49-72)

A ação participativa depende de que seja realizada mediante a orientação por


certos valores substanciais, como ética, solidariedade, equidade e compromisso,
dentre vários outros correlacionados, sem os quais a participação no contexto da
educação perde seu caráter social e pedagógico.

A ação participativa hábil em educação é orientada pela promoção solidária da


participação por todos da comunidade escolar, na construção da escola como
organização dinâmica e competente, tomando decisões em conjunto orientadas pelo
compromisso com valores, princípios e objetivos educacionais elevados, respeitando
os demais participantes e aceitando a diversidade de posicionamentos e
características pessoais.

A promoção da participação deve ser orientada para a realização de objetivos


educacionais claros e determinados, relacionados à transformação da própria prática
pedagógica da escola e de sua estrutura social, de maneira a se tornar mais efetiva
na formação de seus alunos e na promoção de melhoria de sus níveis de
aprendizagem.

Os objetivos gerais na promoção da participação:

- A transformação da escola como unidade social dinâmica e aberta à


comunidade, de modo que a educação se transforme em um valor cultivado
pela comunidade e não seja, como muitas vezes é hoje considerada, uma
responsabilidade exclusiva de governo e da escola.
- Desenvolver o espírito de coletividade na escola, de modo que esta se torne
ambiente de expressão de cidadania por parte de sus profissionais e de
aprendizagem social efetiva e de cidadania, por seus alunos.

Apesar da democracia e participação serem dois termos inseparáveis, nem


sempre isto ocorre na prática educacional. Pois, embora a democracia seja
irrealizável sem participação, é possível observar a ocorrência de participação sem
espírito democrático.

A participação constitui uma forma significativa de, ao promover maior


aproximação entre os membros da escola, reduzir desigualdades entre eles. Portanto,
está centrada na busca de formas mais democráticas de gerir uma unidade social.
Define-se, pois, a gestão democrática como o processo em que criam condições para
que os membros de uma coletividade não apenas tomem parte, de forma regular e
contínua, de suas decisões mais importantes, mas assumam responsabilidade por
sua implementação. Isso porque democracia pressupõe muito mais que tomar
decisões: envolve a consciência de construção do conjunto da unidade social e de
seu processo de melhoria continua como um todo.

Na medida em que gestores rejeitem as tensões, conflitos e dificuldade das


situações de participação e interação social, deixam de ter a orientação receptiva a
respeito da realidade, condição fundamental para permitir-lhe a construção de
conhecimentos de seus processos sociais e educacionais, e desperdiçam a
oportunidade de superação de suas limitações e construção de seu processo de
melhoria contínua.

Não se pode pensar em estabelecer o processo de participação na escola apenas


parcialmente. Ou ele é considerado como um processo que atinge a todos os
segmentos do estabelecimento de ensino, ou corresponderá a simples ativismo
utilizado para camuflar um esforço no sentido da manutenção da condição vigente na
escola como um todo, em que uns decidem e outros executam, uns se omitem, outros
ocupam o espaço da decisão, ou em que ninguém decide e o que todos fazem é
continuar atuando como sempre fizeram, sem consideração a resultados e
possibilidades de melhoria e desenvolvimento.

DIMENSÕES DA PARTICIPAÇÃO

- Dimensão política: pela participação, a escola se transforma numa oficina de


democracia, organizando-se como instituição cujos membros se tornam
conscientes de seu papel social na construção de uma instituição
verdadeiramente educacional.
- Dimensão pedagógica: vale dizer que, enquanto os professores e demais
profissionais da educação estiverem compartilhando das decisões globais e
específicas da escola, assumindo responsabilidade por essas decisões e
agindo conjuntamente para implementá-las, estarão aprendendo a atuar
melhor participativamente, estabelendo-se, dessa forma, a formação do
cidadão participativo (PRAIS, 1990).
- Dimensão técnica: conforme Gandin (2004) indica, a preocupação com
transformações técnicas na escola é relativamente simples e necessária,
porém é limitada, pois deixa de questionar a estrutura social escolar, os
aspectos fundamentais do relacionamento humano e as relações de poder nele
expressas. Deve-se reconhecer, portanto, que sem competência técnica não é
possível realizar qualquer projeto pedagógico. A dimensão técnica não é um
fim em si mesma, mas ela é fundamental por se constituir no veículo para o
alcance de resultados. Muitas vezes, dirigentes e professores têm ideias claras
do sentido da ação pedagógica e até mesmo da própria participação, mas não
agem, pois faltam-lhes competências técnicas apropriadas para transformá-las
em ação.

Texto-base: As dimensões do projeto político-pedagógico: novos desafios para


a escola (capítulo 2 - PPP: novas trilhas para a escola – p.45-66)

Temos vivenciado ultimamente uma ampliação progressiva dos compromissos


da escola, que tem de responder a novos desafios por influência de fatores e
pressões, tanto externos quanto internos. Os externos são fatores de ordem social,
econômico-cultural, científica e tecnológica; os internos estão relacionados ao
desenvolvimento do conhecimento sobre o processo educativo.

Uma das críticas mais acirradas à escola se refere à sua incapacidade de


refletir sobre a prática pedagógica desenvolvida. Na elaboração do PPP, tudo se
facilita quando as linhas estratégicas já forem definidas. Os teóricos afirmam que a
qualidade deve estar ligada à missão da escola, e que toda escola deve ter a missão
de fazer com que o produto educativo dela decorrente tenha qualidade total. A
organização do processo de trabalho preconizada pelo plano de desenvolvimento da
escola é segmentada e fragmentada; os professores trabalham isoladamente,
dicotomizando as relações teoria-prática, ensino-aprendizagem, ensino-avaliação,
professor-aluno, conteúdo-forma. Isso dificulta ou até mesmo impossibilita a
compreensão do processo de trabalho, inibindo a capacidade de estabelecer
relações, de analisar a própria prática, de elaborar sínteses, produzindo um
conhecimento distante da realidade, preparando indivíduos com dificuldades para
uma leitura contextualizada do mundo que os rodeia.

“Aspirar a uma gestão democrática significa partir do princípio de que uma


organização como a escola é feita de múltiplas relações entre a estrutura formal e os
sujeitos que a produzem e vivenciam em seu cotidiano” (SEC/Bahia, 1999, p.6)

Para que a escola possa exercer suas incumbências definidas pela legislação,
ela deverá ser estatal quanto ao funcionamento, democrática quanto à gestão e
pública quanto à destinação. O grande desafio da escola está em garantir um padrão
de qualidade técnica e política para todos e que não apenas respeite a diversidade
local, social e cultural, mas entenda que o aluno é o sujeito concreto, real, histórico,
social e ético do processo educativo.

Para a construção do PPP, devemos ter claro o que se quer fazer e por que
vamos fazê-lo. Assim, o projeto não se constitui na simples produção de um
documento, mas na consolidação de um processo de ação-reflexão-ação que exige
o esforço conjunto e a vontade política do coletivo escolar.

Em termos teóricos, configuramos quatro pressupostos: unidade da teoria e da


prática; ação consciente e organizada da escola; participação efetiva da comunidade
escolar e reflexão coletiva; articulação da escola, da família e da comunidade.

O PPP na perspectiva da unidade teoria-prática precisa se revelar e se fazer


presente na ação participativa e se desenvolver pelos educadores no interior da
escola. Isso exige estabelecer como meta a ser atingida o desenvolvimento da
capacidade de reflexão crítica na e sobre a prática.

Pensar o PPP de uma escola é pensar a escola no conjunto e a sua função


social. Se essa reflexão a respeito da escola for realizada de forma participativa por
todas as pessoas nela envolvidas, certamente possibilitará a construção de um
projeto de escola consistente e possível.

Sendo assim, o projeto da escola é ação consciente e organizada porque é


planejada tendo em vista o futuro. Projetar é lançar-se para o futuro. É um instrumento
que visa orientar os desafios do futuro. O futuro não está dado, não é algo pronto. É
preciso entender que o projeto é caracterizado como uma ação consciente e
organizada.

A instituição educativa é um espaço de ensinar e aprender. Mas o que se deve


ensinar? O que o aluno deve aprender?

Para responder a essas indagações é preciso considerar a seleção cultural


feita pelo currículo escolar. Por que a escola ensina determinados conteúdos e não
outros? Por que alguns conhecimentos são mais relevantes e outros deixados de
lado? As investigações e os estudos críticos do currículo têm indicado que a seleção
cultural, aquilo que delimita como legítimo e válido a ser ensinado nas escolas e
aprendido pelos alunos, sofre influências políticas, econômicas, sociais e culturais.
Por isso, a seleção do conhecimento escolar não é um ato neutro, desinteressado e
descontextualizado. O currículo é resultado de conflitos e contradições, porque é
culturalmente determinado, historicamente situado e não pode ser desvinculado da
totalidade social.

Entendemos que devemos romper com essa lógica conservadora, trabalhando


o currículo de forma integrada e interdisciplinar, a fim de reduzir o isolamento e a
fragmentação. Nesse sentido, compete aos professores discutirem os fatores que
condicionam a seleção e a organização dos conteúdos curriculares. A escola não
apenas reproduz o conhecimento, mas também deve ser vista como instância de
produção de saberes.

Construir o PPP na concepção emancipatória da educação significa trilhar


novos caminhos com coragem, consciência crítica e muita esperança de uma escola
melhor para todos.

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