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GESTÃO DEMOCRÁTICA EDUCACIONAL

1 INTRODUÇÃO

A atual conjuntura educacional sugere uma reflexão acerca da gestão escolar,


tendo em vista o desejo e a necessidade de se construir uma educação mais justa e
igualitária em termos de acesso e permanência, levando-nos a buscar novos
horizontes que possibilitem essa educação.
Gestão, em linhas gerais, é caracterizada pelo reconhecimento da
importância da participação consciente e esclarecida das pessoas nas decisões
sobre a orientação e planejamento de seu trabalho; estando associado ao
fortalecimento da democratização do processo pedagógico.
Desse modo, gestão escolar consiste no gerenciamento da escola, na medida
em que desejamos uma escola que atenda as atuais exigências da vida social:
formar cidadãos, oferecendo a possibilidade de apreensão de competências e
habilidades necessárias e facilitadoras da inserção social; sendo assim, seu campo
de atuação é gestão pedagógica, gestão de recursos humanos e gestão
administrativa.
Nesta perspectiva, a gestão educacional passa pela democratização da
escola sob dois aspectos: a) interno – que contempla os processos administrativos,
a participação da comunidade escolar nos projetos pedagógicos; b) externo – ligado
à função social da escola, na forma como produz, divulga e socializa o
conhecimento.
Logo, o estudo pretende trazer suporte teórico para uma reflexão sobre o
tema de forma que seja possível ultrapassar o nível de entendimento sobre gestão
como palavra recente que se incorpora ao ideário das novas políticas públicas em
substituição ao termo administração escolar; assim, gestão educacional desenvolve-
se associada a um contexto que envolve também transformação e cidadania,
permitindo pensar gestão no sentido de uma articulação consciente entre ações que
se realizam no cotidiano da instituição escolar.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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2.1 Panorama Histórico de Gestão Democrática


A gestão escolar no Brasil vem passando por mudanças significativas que
acompanham a evolução da situação política. No período compreendido entre o
final da década de 70 e anos 80, a autonomia escolar era inexistente e sua meta era
a universalização do acesso ao ensino fundamental, não havendo preocupação com
qualidade. Já na década de 80, buscou-se essa autonomia da escola, havendo a
eleição para diretores, criação de conselhos, como também a transferência de
recursos para as escolas, buscando sua manutenção. Vale destacar que, nesse
período, realizava-se um debate referente a perspectiva conservadora versus
perspectiva crítica e progressiva, tendo como eixo central de discussões a
democratização da educação e sua gestão democrática.
A partir da Constituição de 1988, fica garantida a qualidade como principio do
ensino, houve a divisão de competências, aumentando, assim a responsabilidade
municipal.
Neste contexto, surge o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) como tendência que poderá
restringir as possibilidades de democratização plena do sistema educacional, por
isso, pesquisadores como Davies (1997), Felix (1997), entre outros, analisaram
como inconsistente a proposta do Fundef.
No entanto, segundo Chiavenato (1992, p.97) apesar da postura democrática
que o Brasil transmite, não distante estão suas amarras ao passado, presentes nas
“presas burocráticas da autocracia, da hierarquização rígida, da centralização e da
imposição coercitiva de ordens e comandos”.
Já a partir de 1995, inicia-se o processo de fortalecimento da escola com a
Nova LDB, sendo que se constatou uma preocupação em garantir condições de
funcionamento e a estruturação de novos processos de organização das atividades.
Dessa maneira, não há dúvida que o movimento de gestão democrática da
educação avançou nas décadas de 80 até meados da década de 90. Hoje, este
movimento sofre retrocessos, embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação N°
9.394/96, tenha confirmado a participação não só na gestão da escola, mas também
na construção do projeto político pedagógico, de acordo com a regulamentação em
leis municipais.
No entanto, esta participação não se consolidou na gestão da educação e
muito menos nas propostas pedagógicas das escolas. Três motivos explicam esta
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situação precária da gestão da escola. Primeiro, o projeto político conservador que


está embutido nas práticas administrativas, sendo que a administração constitui-se
excessivamente burocrática e controladora privilegiando a uniformidade, disciplina e
homogeneidade, dificultando qualquer gesto de criatividade ou ainda incorpora
práticas de programas empresariais de qualidade total; segundo, a falta de formação
ética e política dos gestores eleitos privilegiam interesses privados em detrimento
dos coletivos e públicos; e terceiro, a confusão estabelecida pelo pragmatismo das
políticas neoliberais, impedindo que se faça a distinção entre o público e o privado.
Nesse contexto, percebe-se uma crescente preocupação com questões referentes à
gestão educacional, sendo que esta acompanha a ação educativa desde suas
origens.

2.2 Aspectos Conceituais de Gestão Democrática

Conceitualmente, gestão significa tomada de decisões, organização, direção.


Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização a atingir seus
objetivos, cumprir suas responsabilidades. Gestão da educação significa ser
responsável por garantir a qualidade de uma “mediação no seio da prática social
global” (SAVIANI, 1980, p.120), que se constitui no único mecanismo de
hominização do ser humano, que é a educação, a formação humana de cidadãos.
Seus princípios são os princípios da educação que a gestão assegura serem
cumpridos – uma educação comprometida com a “sabedoria” de viver junto
respeitando as diferenças, comprometida com a construção de um mundo mais
humano e justo para todos os que nele habitam, independentemente de raça, cor,
credo ou opção de vida (FERREIRA, 2004, p.306).
Significa tomar decisões, organizar e dirigir as políticas educacionais que se
desenvolvem na escola comprometidas com a formação da cidadania, no contexto
da complexa “cultura globalizada”. Isso significa aprender com cada “mundo”
diferenciado que se coloca, suas razões e lógica, seus costumes e valores que
devem ser respeitados, por se constituírem valores, suas contribuições que são
produção humana. Estas compreensões têm como objetivo, se possível, “iluminar”
um campo profissional “minado” de todas essas incertezas e inseguranças,
tornando-o conseqüente com o próprio conceito e nome, a fim de tomar decisões
sobre como formar e como garantir a qualidade da educação a partir de princípios e
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finalidades definidos coletivamente, comprometidos com o bem comum de toda a


humanidade.
“A gestão democrática da educação é, ao mesmo tempo, transparência e
impessoalidade, autonomia e participação, liderança e trabalho coletivo,
representatividade e competência” (BRASIL, 2005, p.18).
Além disso, corresponde a um compromisso de quem toma decisões – a
gestão –, de quem tem consciência do coletivo – democrática –, de quem tem a
responsabilidade de formar seres humanos por meio da educação. Assim se
configura a gestão democrática da educação que necessita ser pensada e
ressignificada na “cultura globalizada”, imprimindo-lhe um outro sentido.
Com isso, a gestão democrática na educação inclui, necessariamente, a
participação da comunidade no processo educacional, sem o que seria muito mais
um arranjo interno dos componentes da escola que atenderiam a interesses que
certamente não estariam consentâneos com as expectativas comunitárias (HORA,
2002, p.120).
Ao promover a participação e compromisso da comunidade em seu entorno,
a gestão democrática consegue ultrapassar a estrutura física da escola e
estabelecer um elo de co-responsabilidade com a comunidade externa, a quem na
realidade a escola pertence.
Isso significa que a escola embora represente a esfera estatal, também forma
e organiza os sujeitos sociais que irão constituir-se em cidadãos para o embate, a
leitura de mundo e o debate, levando a posturas que possam construir novos
posicionamentos na prática social e nas estruturas de poder mais amplas da
sociedade. Ou seja, mudar o mundo, emancipar-se individualmente e coletivamente,
emancipando o outro.
A gestão democrática se reveste, sob esse ponto de vista, de um canal de
participação e de aprendizado para o jogo democrático e como contribuição efetiva
para a reflexão e a ação cidadã.
Em conformidade com posicionamento de Santos e Gama (2004, p. 435),
entende-se que,
A descentralização constitui uma inovação na estrutura do poder político,
uma estratégia para conferir legitimidade ao poder público. O êxito desse
processo depende, entretanto, da existência de instrumentos de controle
externo do Estado, seja pela disseminação da cultura de participação
popular, seja pela criação de instituições voltadas para esse fim.
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Desse modo, a descentralização política e financeira, consolidada no Diploma


Legal datado de 1988, permitiu a democratização no interior das escolas, com
eleições diretas para diretores e a criação de Conselhos Escolares, como parte do
processo democrático, mas criou, também, a responsabilidade na aplicação e
controle dos recursos financeiros descentralizados, como parte integrante do
Estado.
Nesse sentido, Paro (1996, p. 151) postula que:

A possibilidade de uma administração democrática no sentido de sua


articulação, na forma e conteúdo, com os interesses da sociedade como um
todo, tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada. No caso da
Administração Escolar, sua especificidade deriva, pois: a) dos objetivos que
se buscam alcançar com a escola; b) da natureza do processo que envolve
essa busca. Esses dois aspectos não estão de modo nenhum
desvinculados um do outro. A apropriação do saber e o desenvolvimento da
consciência crítica, como objetivos de uma educação transformadora,
determinam (...) a própria natureza peculiar do processo pedagógico
escolar; ou seja, esse processo não se constitui em mera diferenciação do
processo de produção material que tem lugar na empresa, mas deriva sua
especificidade de objetivos (educacionais) peculiares, objetivos estes
articulados com os interesses sociais mais amplos e que são, por isso,
antagônicos aos objetivos de dominação subjacentes à atividade produtiva
capitalista.

Na esfera da educação há, portanto, uma possibilidade do sujeito (aluno)


construir uma consciência crítica de sua realidade histórica, cuja natureza reside na
articulação dos objetivos educacionais propostos pela Escola com os interesses
sociais. Aponta Paro (1996), que a educação se constitui em agente que pode
congregar princípios de emancipação do homem frente à sociedade capitalista.

2.3 Gestão Democrática e a Legislação Brasileira

Sabe-se que a educação é um direito de todo cidadão, correspondendo a


obrigação do Estado e da família, a oferta e a garantia de uma educação gratuita e
de qualidade a todos.

Pode-se vislumbrar aqui a postura metodológica da maiêutica socrática. A


gestão implica um ou mais interlocutores com os quais se dialoga pela arte
de interrogar e pela paciência em buscar respostas que possam auxiliar no
governo da educação segundo a justiça. Nessa perspectiva, a gestão
implica o diálogo como forma superior de encontro das pessoas e solução
de conflitos (CURY, 2002, p.165).
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De acordo com Hora (2002, p.56), a educação escolar constitui um dos


instrumentos de consecução de uma sociedade democrática, na medida em que
universaliza o saber sistematizado, fundamental para o exercício da cidadania.
A escola pública, instituição social que interfere e sofre interferência da
sociedade, situa-se num contexto historicamente marcado por práticas autoritárias,
decorrentes de um período ditatorial, porém a escola na contemporaneidade tem o
compromisso social de garantir um ensino de qualidade capaz de propiciar a
formação integral do cidadão.
A Constituição Federal de 1988 também manifesta os anseios democráticos
da sociedade brasileira. No que refere-se à democratização da gestão do Estado, o
texto constitucional traz em seu art. 206 a gestão democrática como princípio da
educação nacional (ADRIÃO; CAMARGO, 2001).
A LDB/1996, fiel a autonomia dos entes federados, remeteu aos sistemas de
ensino a definição das “normas de gestão democrática do ensino publico na
educação básica”, estabelecendo como diretriz nacional a “participação das
comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes” (art. 14).
O Plano Nacional de Educação, sonho inserido na Constituição de 1934 pelos
Pioneiros da Educação Nova e retomado na Carta Magna de 1988, foi instituído pela
Lei n. 10.172 de 9 de janeiro de 2001, como resultado de intensa participação dos
educadores em sua defesa e elaboração.
O PNE, seguindo o princípio constitucional e a diretriz da LDB, define entre
seus objetivos e prioridades:

[...] a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos


oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da
educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação
das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Esse objetivo e retomado nas metas tanto do Ensino Fundamental, como do


Ensino Médio, em ambos situando o conselho escolar como forum de participação
da comunidade na gestão da escola.
O capítulo da educação na Constituição de 1988 é o mais detalhado de
todos os textos constitucionais anteriores que, de uma forma ou de outra,
trataram da educação no Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases, por sua vez
mantém o espírito da Carta Magna, detalhando seus princípios e avançando
no sentido de encaminhar orientações gerais para o sistema educacional. A
importância de conhecer a base legal decorre do fato de que esta, embora
por si não altere a fisionomia do real, indica um caminho que a sociedade
deseja para si e quer ver materializado (VIEIRA, 2006, p.29).
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Com isso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96,


reitera os princípios constitucionais, mas também destaca a importância da
articulação entre comunidade e a escola, estabelecendo no art. 12:

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e


as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da sociedade com a escola;
VII – informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos
alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

O art. 12 propicia um suporte legal para o fortalecimento da participação da


comunidade na gestão da escola pública, especialmente dos pais ou responsáveis.
Todavia essa participação não pode ser encarada como um mecanismo de controle,
mas sim de responsabilidade pelo processo pedagógico e de formação do cidadão e
da própria sociedade (PARO, 2000).
O início desta caminhada está na oportunidade concedida pelos princípios da
Constituição de 1988 e referendados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 (LDB/96, p. 4), que estabelece:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática


do ensino público na educação básica, de acordo com as suas
peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes.

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas


de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia
pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas
gerais de direito financeiro público.

É a partir destas prerrogativas que se avultam as tentativas de tornar a esfera


escolar um espaço democrático onde todos os atores, professores, funcionários,
alunos e comunidade possam contribuir e participar ativamente neste contexto,
através do qual a escola poderá construir sua autonomia.
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Assim, a Nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei


9.394/1996 e o PNE – Plano Nacional de Educação – Lei 10.172/2001, construídos
após um longo caminho permeado por manobras políticas, polêmicas emendas e
substitutivos, frustraram a muitos visionários que esperavam uma maior abertura e
maior avanço da democracia e da autonomia da escola.

2.4 Os desafios da Gestão Democrática no contexto da escola pública

A participação da comunidade na gestão da escola contribui para a


transparência das decisões tomadas e transforma a escola num espaço de vivências
democráticas, propiciando que todos os envolvidos no processo escolar tornem-se
conscientes de seu papel social para a efetivação de uma instituição educacional
verdadeiramente comprometida com o desenvolvimento da comunidade em que
estão inseridos.
A participação constitui-se numa das melhores maneiras de assegurar a
gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de toda a comunidade
escolar na tomada de decisões e no funcionamento da organização educacional.
Através da participação consciente e crítica será efetivado o maior conhecimento
dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e das relações da escola com a
comunidade (OLIVEIRA, 2008).
Nesse sentido, a gestão educacional e o projeto educativo da escola pública
têm uma relevância indiscutível, na vida das comunidades e no processo
emancipatório de seus cidadãos, apesar dos obstáculos razão pela qual há
desistências na conquista do processo diante, até, das primeiras dificuldades.
Além disso, a gestão democrática configura como a forma mais adequada de
gestão de educação, em qualquer de seus níveis; evidenciando que por meio da
democratização da educação torna-se possível o acesso irrestrito à escola,
garantindo a permanência dos estudantes no processo educativo, bem como,
ofertando uma educação de qualidade socialmente referenciada e com a
disponibilidade de espaços para o exercício pleno da democracia.
Dessa forma, a gestão democrática é fruto da postura democrática dos
diversos segmentos que fazem educação e que para sua efetivação, vários
elementos precisam estar presentes: participação, autonomia, pluralidade e
transparência.
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Autoridade e poder são, portanto, elos que a gestão democrática pode romper
criando as bases para uma escola autônoma onde prevaleçam os interesses
coletivos, sobre os interesses pessoais, conforme ensina Barroso (1996, p. 186),
pois:
A autonomia da escola não é a autonomia dos professores, ou a autonomia
dos pais, ou a autonomia dos gestores. A autonomia [...] é o resultado do
equilíbrio de forças [...] entre os detentores de influência (externa e interna)
[...]. Deste modo, a autonomia, afirma-se como expressão da unidade social
que é a escola e não preexiste à ação dos indivíduos. Ela é um conceito
construído social e politicamente, pela interação dos diferentes atores
[sujeitos] organizacionais em uma escola.

Isto significa que não existe uma ’autonomia decretada’, contrariamente ao


que está subjacente às mais diversas estratégias ’reformistas’ neste domínio. O que
se pode decretar são normas e regras formais que regulam a partilha de poderes e a
distribuição de competências entre os diferentes níveis de administração, incluindo o
estabelecimento de ensino.
Autonomia, portanto, é a construção coletiva de uma dada comunidade,
nesse caso, a escolar. Isso não significa independência da organização frente a sua
mantenedora, mas uma relação de interdependência, conforme a distinção feita por
Sarmento apud Moura (1999), que afirma que as organizações escolares podem
assumir diversas formas de regulação, tendo em conta duas grandes linhas: o
formal/informal, e a diacronia/sincronia (correspondendo à continuidade/mudança).
Desta forma, o autor refere que, no cruzamento destas duas grandes linhas, as
escolas podem assumir quatro formas de regulação. A primeira é a regulação
normativa, correspondendo a um conjunto consignado de finalidade e intenções. A
segunda é a regulação institucional, na qual a tradição institucional, por meio das
mais variadas formas conduz a um alto grau de conformidade simbólica. A terceira é
a regulação administrativa, que procura mobilizar os dispositivos e os recursos de
ação para atingir determinados fins no contexto organizacional da escola.
Finalmente a quarta forma é a regulação contigencial, distinguindo-se das outras,
pelo fato de a regulação não se exercer sob a forma de normas, de
comportamentos, de atitudes ou de atos administrativos, mas de se apresentar
sobretudo como dependente do momento e da situação.
O gestor deve atuar como mobilizador de recursos humanos e políticos em
prol de uma transformação que seja significativa para a escola. No entanto, o diretor,
na sua atuação cotidiana, deve apresentar caminhos e orientar questões, deve
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também convidar para a discussão os demais participantes da vida escolar. Dessa


forma, pode promover a redistribuição das responsabilidades, tirando de si a
totalidade do peso e despertando na comunidade educativa um empenho coletivo
na tentativa de perseguir a qualidade na escola pública.
Portanto, o grande desafio da gestão democrática está na mudança do
paradigma que fundamenta as práticas educativas: no lugar de uma educação para,
como projeto de vir-a-ser do aluno, obediente hoje para ser cidadão amanha, uma
educação como efetivo exercício de cidadania. Uma educação como processo de
autonomização, desalienação, tanto na relação sistema/escola, como na relação
escola/estudante (BRASIL, 2005, p.31).

3 POLÍTICA GESTORA DA ESCOLA MUNICIPAL MINISTRO RUBENS LUDWIG

O estudo foi realizado na Escola Municipal Rubens Ludwig, situada na rua


Pedra Branca, 7681 – Cidade jardim / Pedra Mole, zona leste de Teresina – Piauí,
CEP 64.066-100.
Atualmente a escola conta com salas de aula amplas e arejadas, banheiros,
uma diretoria, uma cantina, um depósito, área coberta e um bom espaço de área
aberta cercada e arborizada; sendo que o prédio é próprio e equipado dentro dos
padrões de funcionamento.
A escola funciona nos dois turnos, atendendo a uma clientela composta por
crianças do Bairro e áreas circunvizinhas, atendendo ao Ensino Infantil e
Fundamental, no horário diurno e ao Projeto de Educação de Jovens e Adultos
(EJA), no horário noturno.
Nos últimos anos, a escola tem sido contemplada com alguns projetos do
Governo Federal como: Tv escola, PDDE (Dinheiro Direto na Escola), Livro didático,
entre outros.
A escola possui um projeto político-pedagógico, apresentando no seu bojo as
reflexões e decisões pedagógicas assumidas pela equipe escolar, traduzindo
princípios e diretrizes da instituição, com a participação e comprometimento de todos
os envolvidos nesse processo.
Variadas são as formas e as propostas de acesso a gestão das escolas
públicas historicamente utilizadas no sistema educacional brasileiro. A discussão
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sobre as formas de escolha, portanto, é tarefa complexa, com posições político-


ideológicas muito distintas.
No aspecto relacionado à gestão democrática, ressaltamos que atualmente, o
gestor foi indicado pelo Secretário de Educação; sendo que, como causa desse fato,
pode-se relacionar a ausência de candidatos concorrendo ao cargo e até mesmo
profissionais despreparados para ocupar tal cargo.
Por conseguinte, esse fato exclui a oportunidade de escolha do gestor pela
comunidade escolar. Todavia, embora seja um sistema imposto, os candidatos
escolhidos como diretor são pessoas preparadas e conscientes de sua missão
enquanto gestor educacional.
Assim, a imagem de gestão adotada pela escola se evidencia de forma
democrática, pois percebe-se no cotidiano escolar um envolvimento de toda a
comunidade escolar nas decisões tomadas pela gestora atual; sendo que, a
coletividade propicia uma boa aceitação, proporcionando um clima favorável a uma
boa aprendizagem.
Dessa forma, o atual contexto educacional colabora para uma modalidade
democrática de gerir o espaço escolar, assim, surge como opção as eleições diretas
para gestores no qual têm como bandeira principal à participação de todos os
segmentos da comunidade escolar.
A defesa dessa modalidade vincula-se à crença de que o processo implica
uma retomada ou conquista de decisão sobre os destinos da escola pela própria
escola. O processo de eleição apresenta-se de forma variada, indo desde a
delimitação do colégio eleitoral – que pode ser restrito a apenas uma parcela da
comunidade escolar, ou à sua totalidade, compreendida como o universo de pais,
estudantes, professores, técnicos e funcionários – até a definição operacional para o
andamento e a transferência do processo – data, local, horário, valorização
operacional dos votos de participação dos vários segmentos envolvidos.
Entretanto, não se pode atribuir à eleição, por si só, a garantia da
democratização da gestão, mas referendar essa modalidade como um importante
instrumento, a ser associado a outros, para o exercício democrático. Isso implica
que, aliado à eleição, é fundamental enfatizar conjuntamente a forma de escolha e o
exercício da função.
Assim, na construção de um novo paradigma de gestão, há a necessidade de
superar a concepção hierarquizada de poder, das relações verticais que se
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estabelecem nas organizações. Este fato é incompatível com a intersubjetividade


concebida como relação entre iguais e autônomos, tendo como eixo a interação,
cooperação e a construção coletiva.
Dessa forma, a gestão da escola requer a construção de novas práticas
democráticas, materializando-se na medida em que houver a autonomia e a
participação de todos. Nesta perspectiva, o exercício da autonomia desenvolve a
cidadania, tendo em vista que as decisões ocorrem num processo participativo da
comunidade escolar.
Diante o exposto, na Escola Municipal Ministro Ruben Ludwig busca-se
através das relações inter-pessoais, exercitar o caráter democrático da gestão,
atentando-se para a importância da função do gestor que visa fazer a escolar
funcionar pautada num projeto coletivo, buscando uma gestão transparente e
participativa a fim de que a mesma possa cumprir o seu papel de promover a
aprendizagem efetiva de todos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante o exposto, sabe-se que os pressupostos da gestão democrática são


entendidos enquanto conquista de espaços de luta política inseridos em estruturas
de poder e relações sociais em diversos tempos e movimentos.
Neste contexto, as políticas de democratização são norteadas por
manifestações que retratam interesses e decisões que visam atender as demandas
sociais em sua relevância ao cumprimento das necessidades do cidadão,
fundamentando e problematizando o papel da democratização entre a administração
e os sujeitos envolvidos na medida em que o modelo de administração
contemporâneo predominante é baseado pelos aspectos da eficiência e
racionalidade.
Nesse sentido, a cidadania constitui-se fundamento da sociedade
democrática. A democracia é importantíssima no âmbito político; mas para efetivar-
se, de fato, como mediação de uma vida social norteada por princípios histórico-
humanos de liberdade, impregnando toda uma concepção de mundo, permeando
todas as instâncias da vida social e coletiva.
Vale ressaltar que, é de grande relevância o exercício da cidadania para a
compreensão da gestão democrática numa sociedade que é conduzida pelo
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princípio da democracia, o ordenamento jurídico expressão de uma política


implementada nem sempre garante a cidadania plena, o acesso aos bens da
civilização perpassa aos graus de envolvimentos dos cidadãos frente ao coletivo e
as pessoas com quais se convivem.
Portanto, a gestão democrática efetiva-se por meio da participação dos
sujeitos sociais envolvidos com a comunidade escolar, na elaboração e construção
de seus projetos, como também nos processos de decisão, de escolhas coletivas e
nas vivências e aprendizagens de cidadania.
Com isso, a gestão escolar voltada para a transformação social contrapõe-se
a centralização do poder na instituição escolar e nas demais organizações, primando
pela participação de estudantes, funcionários, professores, pais e comunidade local
na gestão da escola e na luta pela superação da forma como a sociedade está
organizada.

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