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FACULDADE DE ENSINO REGIONAL ALTERNATIVA – FERA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM: GESTÃO ESCOLAR

GESTÃO E COORDENAÇÃO ESCOLAR: UM PAPEL


DEMOCRÁTICO DE ORGANIZAÇÃO EDUCACIONAL
VERONICA VIEIRA DA COSTA1.
GIVALDO FRANCELINO DE MELO 2.

RESUMO:

Este artigo tem como objetivo apresentar uma breve reflexão sobre as contribuições e
desafios de se desenvolver a gestão e coordenação democrática escolar na Escola Pública
no contexto contemporâneo. Assim, como apresentar propostas de superação e de
transformação da realidade educacional e da comunidade em que a escola está inserida,
possibilitando ao sujeito a participação e preparação para a cidadania plena, tornando-se
histórico, ativo e consciente de seu papel frente às mudanças de paradigmas do contexto
social, histórico e cultural. Para tanto, traz alguns itens que são imprescindíveis para a
efetivação da gestão democrática da escola pública como: a construção coletiva do Projeto
Político Pedagógico, o Conselho Escolar atuante, uma avaliação institucional sólida e
participativa e as eleições diretas para gestor. Enfim, a gestão democrática é uma postura
ética que desafia os educadores de todo país, onde o diálogo e a comunicação devem ser
os instrumentos do processo coletivo de busca de um conhecimento profundo.

Palavras- chave: Cidadania; Escola Pública; Gestão Democrática.

ABSTRACT

This article aims to present a brief reflection on the contributions and challenges of
developing democratic school management in Public School in the contemporary context.
Thus, it is possible to present proposals for overcoming and transforming the educational
reality and community in which the school is inserted, enabling the subject to participate and
prepare for full citizenship, becoming historical, active and aware of his role in the Paradigms
of social, historical and cultural context. To do so, it brings some items that are essential for
the effective implementation of the democratic management of the public school, such as:
the collective construction of the Political Pedagogical Project, the School Council, a solid
and participative institutional evaluation and the direct elections for manager combined with
evaluations and interviews . Finally, democratic management is an ethical stance that
challenges educators from all over the country, where dialogue and communication should
be the instruments of the collective process of seeking profound knowledge.

Keywords: Citizenship; Public school; Democratic management.

1
Veronica Vieira da Costa - Graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas –
UNEAL e Pós graduando em Gestão Escolar pela Faculdade de Ensino Regional Alternativa - Fera.
2
² Givaldo Francelino de Melo – Graduado em Pedagogia pela (FLATED), Mestre em Educação
Pela (FICS) Orientador do curso de pós-graduação lato sensu em Gestão Escolar, Orientação e
Coordenação Pedagógica (FERA)
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INTRODUÇÃO
A gestão escolar democrática e participativa proporciona à escola se tornar
mais ativa e suas práticas devem ser refletidas na e pela comunidade. A
participação, em educação, é muito mais do que dialogar, é um processo lento,
conflituoso, em que conhecer os conflitos e saber mediá-los torna-se fonte precípua.
Dessa forma, é necessário ouvir pais, comunidade e órgãos de representação,
esses são caminhos que devem ser trilhados para a construção da educação
inclusiva.
Para tanto, é imprescindível que, de forma geral, seja repensado e melhor
distribuído o poder no interior da escola, pois se queremos uma escola
transformadora, precisamos transformar a escola que temos aí. E a transformação
dessa escola passa necessariamente por sua apropriação por parte das camadas
trabalhadoras. É nesse sentido que precisam ser transformados o sistema de
autoridade e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola (Paro, 2005).
Neste sentido, é que temos a democracia como fundamento legal da
Educação Brasileira, presente na LDB - 9394/96, que estabelece em seu Art.14 que:
Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática de ensino público
na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes
princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
político pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes.
Dessa forma, não se pode mais conceber a escola como arraigada em
princípios de autoritarismo, antidemocracia e prepotência, e sim numa visão que
deixa de ser utópica, pois é um processo real de cidadania que nos leva a agir de
forma compartilhada e participativa na distribuição do poder dentro da instituição de
ensino. Além disso, a descentralização, o pluralismo, a autonomia, a participação e a
transparência, são fundamentais como princípios norteadores de uma gestão
democrática.
Promover a integração da escola com a comunidade não é algo impossível de
se acontecer na prática, porém a gestão escolar precisa estar disposta a trabalhar
com o intuito de garantir essa inter-relação de colaboração e ajuda mútua e ela fará
isso de maneira mais coerente se adotar os moldes de uma administração escolar
democrática.

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GESTÃO DEMOCRÁTICA: BREVE CONTEXTO HISTÓRICO

De acordo com Ferreira, Reis e Pereira (1999, p.6), “a palavra gestão tem
origem latina, genere, que significa conduzir, dirigir ou governar”. Gestão
democrática é um exercício de cidadania, fundamental para o avanço da sociedade
que planeja ser mais justa ou igualitária.
Para a sociedade, trabalhadores da educação e especialistas, a democracia
da e na escola é o único caminho para a reconstrução da Escola pública de
qualidade. Já a democracia teve origem na Grécia Clássica. Denomina-se
democracia (do grego demos, “povo”, e kratos, “autoridade”) uma forma de
organização política que reconhece a cada um dos membros da comunidade o
direito de participar da direção e gestão dos assuntos públicos (Barsa, 2005).
Atenas e outras cidades - estados implantaram um sistema de governo por
meio do qual todos os cidadãos livres podiam eleger seus governantes e serem
eleitos para tal função por um determinado período (Barsa, 2005). No Brasil, após o
regime militar foi instaurado o regime “democrático”, onde as eleições diretas foram
o “pivôr” desse processo, onde milhões de pessoas puderam escolher seus
representantes para os cargos políticos.
A tentativa de implantação efetiva da autonomia escolar e da gestão
democrática da escola se deu especialmente após o movimento estudantil de 1968
no mundo ocidental, como uma forma restrita, mas efetiva de realização da utopia
dos jovens daquela década. “Escolas Livres” ou alternativas surgiram especialmente
nos Estados Unidos e na Inglaterra, como instrumento de superação da escola
tradicional, tecnicista e burocrática do Estado. No Canadá, foram criadas inúmeras
escolas comunitárias que, até hoje, são administradas pela comunidade e mantidas
pelo poder público.
No Brasil sempre existiram experiências isoladas de gestão colegiadas de
escolas, mas sem repercussão sobre o sistema de ensino. Vinculadas à iniciativa de
alguns educadores, logo eram interrompidas quando esses educadores deixavam à
escola.
Segundo Paro (2005), quando se fala em educação remete-nos a pensar no
homem como um ser histórico, que transcende o que é natural, pois ele busca a
liberdade em suas ações. Ainda segundo o educador o homem só se faz sujeito

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quando participa, produzindo uma ação e respondendo por ela, e essa ação só é
produzida coletivamente, sendo que o homem não se faz só.
A luta pela gestão democrática da escola pública, consolidada pela
constituição Federal de 1988, e pela LDB (9394/96), é resultado de um grande
processo reivindicatório que surgiu por meio da organização de diversos segmentos
da sociedade nas últimas décadas. Em primeiro lugar pode-se lembrar a luta pela
escola pública e pela cultura popular nos anos de 1950 e início de 1960.
Todas essas manifestações foram duramente reprimidas após o golpe militar
de 1964, que impôs a censura e o silêncio, quebrados no final da década de 1970.
Com a anistia política dando lugar a algumas aberturas, surgiram então, vários
movimentos.
Sabendo que vivemos numa sociedade dinâmica, não podemos nos agarrar
aos métodos do passado, pois as mudanças de época exigem também a
transformação dos métodos e técnicas. Logo, a gestão escolar precisa aderir à
democratização de suas funções e atribuições, visto a necessidade do cenário
social, econômico e político em que nos encontramos.
(...) administrar uma escola pública não se reduz à aplicação de uns
tantos métodos e técnicas, importados, muitas vezes, de empresas
que nada têm a ver com objetivos educacionais. A administração
escolar é portadora de uma especificidade que a diferencia da
administração especificamente capitalista, cujo objetivo é o lucro,
mesmo em prejuízo da realização humana implícita no ato educativo.
Se administrar é usar racionalmente os recursos para a realização de
fins determinados, administrar a escola exige a permanente
impregnação de seus fins pedagógicos na forma de alcançá-los
(PARO, 2000, p. 7).

Nesse sentido, a gestão escolar, deve ter a consciência do seu papel


pedagógico, pois o produto final de todas as ações da gestão, bem como de toda a
equipe da escola (docentes e demais funcionários) deve ser a educação em si. A
partir do momento em que os gestores tomam posse desse saber, todos os seus
esforços se traduzirão em estratégias para garantir um processo de ensino
aprendizagem que se dê de maneira eficaz.
Para Luck (2005, p.17):
O conceito de gestão está associado à mobilização de talentos e
esforços coletivamente organizados, à ação construtiva conjunta de
seus componentes, pelo trabalho associado, mediante reciprocidade
que cria um “todo” orientado por uma vontade coletiva.

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A gestão da escola sob essa nova perspectiva surge como orientação e


liderança competente, exercida a partir de princípios educacionais democráticos e
como referencial teórico para a organização e orientação do trabalho em educação,
afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação
das políticas educacionais e o Projeto Político Pedagógico das escolas.

A COMUNIDADE ESCOLAR

Considerando que, para ser considerada pública, uma escola deve ter a
participação efetiva da comunidade escolar e local (gestor, pais, alunos,
funcionários, professores e comunitários), além de oferecer uma educação de
qualidade. De outra forma, esta escola será em vez de pública, “estatal”. Segundo
Paro, “a escola estatal só será verdadeiramente pública no momento em que a
população escolarizável tiver acesso geral e indiferenciado a uma boa educação
escolar” (2005, p. 17).
Neste sentido, percebemos que ainda não há interesse pela universalização
de um ensino de boa qualidade. Há então, a necessidade da classe dominada de
fazer valer os seus direitos de cidadania plena, reivindicando melhores condições de
trabalho e estudo; Isso de forma organizada e levando em consideração as
necessidades locais.
O papel do gestor escolar nesse processo é imprescindível, pois ele é o líder
educacional que deve ser espelho para os atores educativos da instituição. Para
tanto deve articular toda a comunidade escolar em busca do objetivo maior da
instituição, que deve ser o da não reprodução da ideologia dominante, buscando
uma educação transformadora, que desinstabilize o ser humano de sua poltrona da
acomodação, o tornando-o ativo, crítico e histórico, sendo capaz de atuar de forma
participativa em sua comunidade local e global.
Desse modo, é necessária que a instituição caminhe no sentido de se tornar
autônoma, implicando necessariamente nas mudanças do processo decisório dentro
da escola, descentralizando-se e horizontalizando-se pelo compartilhamento da
responsabilidade com os diferentes atores educativos que constituem a comunidade
escolar: gestores, professores, alunos, pais, comunidade.

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Essa mudança de paradigma se estabelece também no âmbito pedagógico,


visto que o planejamento passa a ser participativo, as visões de conjunto das
disciplinas formam um conhecimento complexo, num modelo sistêmico em que o
todo e as partes se integram formando um conhecimento sólido e profundo.
Para Luck,
a participação ativa de todos os envolvidos em uma unidade social,
para a tomada de decisão conjunta, mediante processo de
planejamento participativo, pelo qual a realidade é analisada pela
incorporação de diferentes olhares que, ao serem levados em
consideração, permitem que as decisões tomadas o sejam a partir de
uma visão abrangente das perspectivas de intervenção, além de
garantirem o comprometimento coletivo com a implementação do
planejado. (in BRITO p.128).

Neste sentido, é que entendemos o Conselho Escolar e demais órgãos


colegiados, como uma ferramenta imprescindível a gestão democrática. A partir de
sua atuação dentro da escola, a gestão passa a horizontalizar-se, onde as “ordens”
não são mais dadas de forma vertical.
Além de possibilitar a participação de todos os atores educativos, onde são
representados de acordo com seu segmento (alunos - Grêmio estudantil,
funcionários, gestor, professores, pedagogos, comunitários e pais) e de forma
paritária, ou seja, em número igual, tendo direito a voz e a voto nas tomadas de
decisões, passando a se sentirem valorizados no âmbito escolar, fiscalizando as
prestações de contas da verba repassada para a escola através da unidade
executora, deliberando e avaliando a escola e os projetos, dentro dos
condicionantes sócio-econômico e históricos em que está inserida.
Neste sentido Paulo Freire (2002) afirma,

Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem


em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem,
de tomarem um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo o
que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o
trabalho imenso que se põe diante de nós que é o de assumir esse
país democraticamente (In BRASIL, 2004).

A participação é uma característica indispensável numa gestão democrática,


pois através dela busca-se alcançar os objetivos com uma colaboração mais ampla
e com maiores possibilidades de obter sucesso naquilo que se almeja. É
indispensável que o professor tenha consciência da importância desse tipo de
gestão, pois o docente é uma peça chave para um ensino de qualidade, logo sua

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colaboração e participação são essenciais em meio a uma administração escolar


democrática.
É interessante sempre colocar em ênfase as questões sociais e políticas
quando tratarmos de administração escolar, principalmente se buscarmos um
conceito democrático dessa administração, o qual se deseje colocar em prática.
O exame do modo como se configuram as múltiplas relações sociais
que têm lugar no cotidiano da escola e seu inter-relacionamento com
os determinantes sociais mais amplos, bem como a consideração da
natureza específica quer da prática política, quer da atividade
administrativa, parecem autorizar a conclusão de que o político tem
precedência sobre o administrativo no cotidiano da escola pública
(PARO, 2000, p. 78).

Nesta ótica, podemos perceber que a prática política não é algo que serve
como um “apetrecho” para a administração escolar, pois ela antecede a
administração em alguns aspectos no ambiente da escola, afinal para que a gestão
pudesse ter a autonomia que desempenha, os fatores políticos tiveram que dar sua
contribuição para que isso acontecesse, bem como em diversos outros aspectos que
envolvem a gestão em sua ação administrativa e, consequentemente, no todo que
envolve suas práticas.
A partir do momento em que a administração escolar toma consciência da
importância em relação à prática política, ela também se tornará sensível às
questões de cunho social, pois se há uma administração politizada, centrada na
ideia de que a educação vai além dos muros da escola, mesmo quando se trata das
funções da administração que em sua maioria se fecha em uma sala, com certeza a
escola não se tornará alheia ao meio social com suas peculiaridades que norteiam a
escola.
Agir com autonomia não significa apenas agir segundo vontade própria,
apesar de estar relacionada à ideia de autogoverno. “É um princípio que deve
necessariamente ser desenvolvido de forma positiva por todos os profissionais da
escola e pela comunidade, exigindo uma responsabilização competente, que não
permite o espontaneísmo e a anarquia” (LUCK, 2005).
Nas instituições escolares, o exercício da autonomia se dá pela construção de
um ambiente propício à participação da comunidade escolar nas decisões locais,
buscando soluções responsáveis e criativas, por meio de um processo de
negociação rumo à efetivação dos objetivos estabelecidos.

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Todavia, é necessário agir sempre em acordo com as normatizações e


diretrizes emanadas pela mantenedora e pela legislação vigente. Assim, autonomia
da escola não significa independência, mas sim interdependência.
Dessa forma, no contexto escolar, a participação efetiva da comunidade no
desenvolvimento do trabalho pedagógico pressupõe transparência nas decisões e
representatividade de todos os segmentos, pois, se a escola tem como um de seus
principais objetivos propiciar uma educação que conduza à cidadania deve
organizar-se de forma a desenvolver relações horizontais de cooperação e
solidariedade entre todos os envolvidos no processo pedagógico.
É com essa compreensão que Sales (2004, p.27), destaca: “Participar é ter o
poder de definir os fins e os meios de uma prática social, poder que pode ser
exercido diretamente ou por meio de mandatos, delegações ou representações”.
Nesse sentido, a participação é ir definindo e redefinindo permanentemente
os fins e os meios das práticas que estejam sendo desenvolvidas. Participação,
portanto, é a aprendizagem do poder em todos os momentos e lugares em que se
esteja vivendo e atuando.

O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E OS CONSELHOS ESCOLARES

O projeto político-pedagógico (PPP) traduz em linhas gerais, o processo


histórico da instituição, as ideias filosóficas e as práticas pedagógicas que
dimensionam suas atividades. Reflete a identidade da escola, seus objetivos,
orientações, ações e formas de avaliar os processos de aprendizagens,
estabelecendo metas e buscando melhorias.
É fundamental ressaltar o caráter intencional nos campos sociopolítico e
pedagógico. No primeiro, no sentido de compromisso com a formação do cidadão;
no segundo, porque define as ações educativas e as características necessárias às
escolas para que cumpram seus propósitos. Segundo Vasconcellos, o projeto
político pedagógico pode ser entendido:
como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de
planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na
caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se
quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a
intervenção e mudança da realidade. É o elemento de organização e
integração da atividade prática da instituição neste processo de
transformação (VASCONCELLOS, 2002, p. 169).

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Nesse sentido, o PPP deve ser considerado um plano teórico e prático; logo,
seu processo de elaboração requer que toda a comunidade escolar compreenda que
planejar traz embutidas as possíveis intervenções que se façam necessárias no
cotidiano escolar e que tal planejamento é também ação reflexiva que permite
questionamentos, proposição de objetivos e metas, formulação de hipóteses,
sequenciamento de etapas a serem executadas; enfim, viabiliza o “pensar sobre”, ou
seja, a sistematização do que se pretende para a escola.
Segundo Luckesi,
o acesso universal ao ensino é, pois, elemento essencial da
democratização e a porta de entrada para a realização desse desejo
de todos nós, que clamamos por uma sociedade emancipada dos
mecanismos de opressão; o segundo elemento que define a
democratização de ensino é a permanência do educando na escola e
a consequente terminalidade escolar. Ou seja, o aluno que teve
acesso à escola deve ter a possibilidade de permanecer nela até um
nível de terminalidade que seja significativo, tanto do ponto de vista
individual quanto social (2006, p. 30).

Uma ferramenta importantíssima para que as escolas sejam mais eficientes


no sentido de assegurar a permanência e a qualidade do ensino é o PPP, pois são
princípios norteadores de sua atuação, significando assim verdadeira gestão
democrática e participativa. E para que isso aconteça de forma integral e eficiente, é
necessário oferecer uma escola que esteja preparada para tal empreitada e que seja
capaz de dar conta da demanda.
A escola precisa e deve possuir um PPP (Projeto Político Pedagógico), afinal
a educação é construída de maneira sistemática, dessa forma, esse projeto faz-se
necessário para as instituições de educação que realmente tenham o compromisso
de educar e não simplesmente de cumprir questões burocráticas exigidas por um
sistema.
A educação não pode ser concebida como simples técnicas e saberes, mas
sim como algo organizado, onde sejam justificadas as ações realizadas, que possua
metas a serem alcançadas, enfim que seja trabalhada na ótica de projeto.
Um conceito fundamental para pensar a educação é o de Projeto,
pois ele se recusa a considerar a escola como um modelo ideal,
pronto e acabado. Uma escola como um modelo ideal e não flexível
não existe, uma vez que ela vai se construindo nas contradições do
seu cotidiano, que envolve situações diversas, correlações de força
em torno de problemas, impasses, soluções, vivenciados a cada
momento (OLIVEIRA, 2005, p. 40).

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Percebe-se a importância que o Projeto Político Pedagógico tem, sobretudo


em relação às ações diretamente ligadas às questões pedagógicas da escola, pois é
a partir do projeto que serão pensadas tais ações e projetadas para que futuramente
sejam colocadas em vigor, tendo em vista a realidade que norteia a instituição de
educação, bem como os fatores socioeconômicos, que sempre exercem influência
no processo de ensino aprendizagem.
Portanto, o ideal é que toda escola tenha a consciência de que o PPP deve
ser o instrumento de fundamental importância para bem conduzir o ano letivo,
sabendo também, que esse projeto vai muito além de meros objetivos, estratégias e
ações, afinal ele é a identidade da instituição.
A construção do Projeto Político Pedagógico deve estar baseada na dinâmica
social que envolve todas as relações que influenciam diretamente o trabalho escolar
no que diz respeito às funções pedagógico-administrativas.
Dessa forma, sua participação deve ser estimulada e colocada em vigor,
afinal a comunidade age de forma pertinente quanto a elaboração de ações que
estejam diretamente ligadas aos fatores externos das instituições de educação e
sabe-se que tais fatores externos exercem significante influência na escola.
Afirma Ilma Passos Alencastro Veiga (2008, p. 12), “Ao cosntruirmos os
projetos de nossas escolas, planejamos o que temos a intenção de fazer, de
realizar. Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. É
antever um futuro diferente do presente”.
O Projeto Político Pedagógico não deve ser construído com a ideia de um
documento obrigatório, mas sim como a maneira pela qual a escola vai guiar-se e
realizar as ações determinadas no projeto.
Atualmente discute-se bastante sobre gestão democrática, no que se refere
às reflexões a cerca da sua importância para o crescimento da educação e o Projeto
Político Pedagógico não pode ficar de fora quando o assunto é democratização da
educação, pois ele exerce papel de fundamental importância para que a educação
possa adquirir um caráter democrático. Nas palavras de VEIGA:
O projeto político pedagógico, ao se constituir em processo
democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de
organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos,
buscando eliminar as relações competitivas e autoritárias, rompendo
com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que
permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos
fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e
hierarquiza os poderes de decisão (2008, p. 13).
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Nota-se que o Projeto Político Pedagógico cria um ambiente propício para


que a educação adquira um tom mais democrático em suas atribuições, pois através
dele deixa-se de lado a burocracia imposta pelo sistema e tem-se uma maneira mais
participativa de se trabalhar no âmbito educacional, pois o resultado final do projeto
deve ser tido com o reflexo do esforço coletivo de todos os interessados nos
benefícios que a educação proporciona, sendo assim, o Projeto Político Pedagógico
pode ser concebido como um grande viés para a democratização da educação.
O Conselho Escolar é um espaço onde se promove a gestão democrática. A
criação, a reativação ou consolidação do Conselho Escola compete ao diretor da
unidade ou qualquer outro representante da comunidade. Para se construir um
Conselho de Escola é preciso que haja representação dos alunos, dos pais, dos
professores e demais funcionários, da direção escolar e da comunidade local.

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL E ESCOLHA DO DIRETOR

Avaliação Institucional é um processo global, contínuo e sistemático,


competente e legítimo, participativo, que pode envolver agentes internos e externos
na formulação de subsídios para melhoria da qualidade da instituição escolar. Pode
ser externa, como o Prova Brasil, Enem, IDEB, etc., como interna, que é de
autonomia da própria instituição escolar, devendo, esta última, estar em
consonância com o Projeto Político Pedagógico da escola e contar com a
participação de toda a comunidade intra e extraescolar.
Para tanto, Luckesi (2006, p. 43) diz que: “a avaliação deve ser diagnóstica,
ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento de
identificação de novos rumos. Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento
dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos”.
A avaliação institucional não é apenas mais um instrumento. Propicia aos
gestores uma visão geral de como a escola encontra-se. A avaliação do
desempenho escolar aponta a situação dos alunos frente ao que a escola oferece.
É importante salientar que para o processo de ensino e aprendizagem, a
escola deve dispor e saber da importância do projeto político pedagógico, pois este
define a forma de atuação da instituição. Luckesi (2006), diz que a avaliação ajuda
no processo decisório e que visa à qualidade dos resultados. Mas sem um projeto
pedagógico a avaliação não pode ser definida e delineada.
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Embora as eleições se apresentem como um espaço de democratização da


escola pública, é necessário frisar, que não é o único e que é necessário não
perdermos de vista as limitações do sistema representativo, assentados em
interesses muitas vezes antagônicos.
Dessa forma, Paro (2001, p. 65-67), alerta sobre a crença na capacidade
eletiva, eliminação do autoritarismo e risco do corporativismo (In Brasil, 2004). Neste
sentido, em relação à crença na capacidade do sistema eletivo de neutralizar as
práticas clientelistas, Paro adverte que as eleições tiveram um importante papel na
diminuição ou eliminação, nos sistemas em que foram adotadas, de sistemática
influência dos agentes políticos na nomeação do gestor.
Paro (2003), considera três categoriais de provimento ao cargo de gestor
escolar nas escolas públicas: a) nomeação, b) concurso e c) eleição. E enfatiza que
a primeira categoria traz consigo as marcas do clientelismo político, sendo por isso
uma das mais criticadas, porém ainda está muito presente nos sistemas de ensino.
Enquanto sobre a categoria concurso (PARO, 2003, p.19) acrescenta que “as
principais virtudes apontadas para o concurso são, pois, a objetividade, a coibição
do clientelismo e a possibilidade de aferição do conhecimento técnico do candidato”.
O mesmo autor argumenta ainda que a eleição de diretores caracteriza-se como um
instrumento de democracia sendo uma das melhores categorias para o provimento
do cargo de gestor escolar. Para gerir a escola há necessidade de formação
específica.
Luck (2005, p. 84), define para o gestor na área administrativa uma:
Visão de conjunto e de futuro sobre o trabalho educacional e o papel
da escola na comunidade; Conhecimento de política e da legislação
educacional; Habilidade de planejamento e compreensão do seu
papel na orientação do trabalho conjunto; Habilidade de manejo e
controle do orçamento; habilidade de organização do trabalho
educacional; habilidade de acompanhamento e monitoramento de
programas, projetos e ações; habilidade de avaliação diagnóstica,
formativa e somativa; habilidade de tomar decisões eficazmente;
habilidade de resolver problemas criativamente e de emprego de
grande variedade de técnicas.

A dimensão política está associada à participação na gestão e a


responsabilidade individual de cada membro da equipe escolar. O gestor coordena,
mobiliza, motiva, lidera, delega responsabilidades decorrentes das decisões dos
membros da equipe escolar, presta contas e submete à avaliação do grupo o
desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente.

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Outra importante função a destacar é que “o diretor é o profissional” a quem


compete à liderança, a organização e planejamento do trabalho de todos os que
nela atuam, de modo a orientá-los no desenvolvimento do ambiente educacional
capaz de promover aprendizagens e formação dos alunos, de modo que estejam
capacitados a enfrentar os novos desafios que são apresentados. (LUCK, 2009,
p.17).
Porém, isso não significa que o clientelismo tenha deixado de exercer suas
influências na escola. Por um lado, em alguns sistemas continuaram a existir
brechas para a penetração da influência do agente político na nomeação do gestor.
Por outro, as práticas clientelistas passaram a fazer parte do interior da própria
escola, quer no processo de eleição do diretor, quer durante o exercício de seu
mandato.

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CONCLUSÃO
A plena efetivação da gestão democrática nas escolas públicas só será
possível a partir da real participação dos colegiados, grêmio estudantil, Associação
de Pais e Mestres, dando destaque para o papel do Conselho Escolar.
Dessa forma, a equipe escolar deve ampliar os esforços para garantir uma
escola legitimamente pública, ou seja, que exista e atue em função de seus alunos,
de seus profissionais e da população local, a partir de seus anseios, necessidades e
potencialidades, este é o sentido ético-democrático da escola.
Além disso, vale ressaltar também, a relevância da avaliação institucional
para que a escola promova reflexões sobre os caminhos que deseja trilhar para
formar o cidadão pleno, que obtenha sucesso em sua jornada estudantil e
posteriormente na realidade a qual ele pertence.
Diante do exposto, percebemos a relevância do papel da gestão escolar
diante da construção da escola inclusiva, pois cabe à gestão escolar garantir a
acessibilidade aos alunos com necessidades educacionais especiais, bem como a
gestão democrática e participativa.
Portanto, são muitos os desafios para os gestores escolares para construção
desta realidade, entre eles estão, a construção participativa e democrática do
Projeto Político Pedagógico, a conquista da própria comunidade local e pais para
dentro da escola, trazer parcerias de empresas que possam colaborar no
financiamento de projetos, para que seja estabelecida uma gestão democrática e
sustentável.

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REFERÊNCIAS

BARSA, Grande Enciclopédia. 3ª ed. São Paulo: Barsa Planeta Internacional Ltda.
2005.

BRITO, César lobato (Org.); Guedin, Evandro Luiz; ...et al. Ética e formação de
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