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A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO


POLÍTICO-PEDAGÓGICO

Jaqueline Sandes Oliveira1

RESUMO

A proposta do presente artigo é refletir sobre os desafios da escola frente


à necessidade de promover uma gestão verdadeiramente participativa na
elaboração e cumprimento do projeto político-pedagógico.

Nos dias atuais muito se tem falado sobre Projeto político-pedagógico, da


sua importância e da sua real função dentro do ambiente escolar, mas pouco se
percebe a importância da gestão escolar na elaboração deste e menos ainda quão
importante é a participação da comunidade nesse processo.

A Lei no 9394/96, em seu artigo 3o propõe como princípio da educação a


gestão democrática do ensino público. Para essa gestão democrática, faz-se
necessário o empenho dos profissionais de educação, bem como da comunidade
onde a escola está situada

A lei no 13.005/2014, que institui o Plano Nacional de Educação, de


duração decenal, propõe assegurar condições, no prazo de dois anos, para a
efetivação da gestão democrática da educação.

O projeto político-pedagógico é o marco para esse modelo de gestão uma


vez que determina os rumos que a escola seguirá e representa a identidade da
mesma sendo, portanto, indissociável da participação dos membros da
comunidade na sua elaboração.

Palavras-chave: Gestão Democrática,Projeto político-pedagógico, escola

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Professora da Educação Básica da Rede Municipal de São José de Ribamar, Maranhão.
Graduação em Pedagogia. E-mail do autor: jacsandes2010@outlook.com
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ABSTRACT

The purpose of this article is to reflect on the school's challenges to the


need to promote a truly participative management in the elaboration and fulfillment
of the political-pedagogical project.

Nowadays much has been said about pedagogical political project, its
importance and its real function within the school environment, but little is
perceived the importance of school management in the elaboration of this, and still
less how important is the participation of the community in this process.

Article 3 of Law No. 9394/96 proposes, as a principle of education, the


democratic management of public education. For this democratic management, the
efforts of education professionals, as well as the community where the school is
located, are necessary.

Law 13.005 / 2014, which establishes the 10-year National Education Plan,
proposes to ensure conditions, within a period of two years, for the implementation
of democratic management of education.

The political-pedagogical project is the framework for this model of


management since it determines the directions that the school will follow and
represents the identity of the same being, therefore, inseparable from the
participation of the members of the community in its elaboration.

Key words: Democratic Management, Political-pedagogical project,


school.
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INTRODUÇÃO

A educação básica é antes de tudo, espaço para a formação humana em


todos os seus aspectos, em toda a sua plenitude.

A constituição Federal de 1988, em seu artigo 1 o constitui a República


Federativa do Brasil como Estado democrático de Direito, tendo como princípios a
cidadania e a dignidade da pessoa humana.

Esses princípios, alinhados ao princípio da igualdade pertencente ao


artigo 5o da mesma constituição que define que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza e garante aos brasileiros e estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, norteiam os estudos de muitos pensadores do fazer
pedagógico.

A liberdade, a igualdade e a dignidade da pessoa humana são


incessantemente clamadas no ambiente educacional e muitas vezes é dele
retirado para dar lugar a práticas opressoras e que não condizem com os anseios
da comunidade escolar.

A comunidade escolar, por vezes tem pouca ou nenhuma consciência do


poder que possui como agente de transformação do espaço que ocupa.

A gestão democrática da escola deve fazer-se presente na elaboração do


projeto político-pedagógico por ser este carregado de significado, intimamente
relacionado à vivência da comunidade, seus hábitos e sua cultura. Observar o seu
passado e avaliar o seu presente são determinantes para saber o lugar onde se
quer chegar.

Nessa linha, Freire (1993, p.33) comenta que " não há transição que não
implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanhã
se cria num ontem."

Assim, o projeto político-pedagógico da escola deve buscar as raízes da


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comunidade, diagnosticar seus problemas e seus anseios e projetar os rumos da


escola.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esse trabalho caracteriza-se por seu caráter bibliográfico e


desenvolveu-se por meio de pesquisas referenciadas em grandes pensadores do
fazer pedagógico, podendo ser citados Paulo Freire (2005) e Demerval Saviani
(1993), entre outros, e muitos documentos como a Constituição Federal, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, Plano Nacional de Educação, que foram objetos
de pesquisa e análise com o intuito de encontrar respostas sobre como se dá o
processo de gestão democrática na escola para a estruturação do projeto
político-pedagógico.

Dessa forma a pesquisa teórica e metodológica, alinhada ao


entendimento da necessidade de elaboração de um trabalho que sirva de
norteamento para as práticas educacionais de gestão e o entendimento de que a
comunidade escolar pode e deve contribuir para o processo de democratização da
escola, é de fundamental importância nesse período de constantes mudanças que
a educação passa.

OS SUJEITOS PERTENCENTES AO AMBIENTE ESCOLAR

. Ao se falar em escola, é importante salientar que não apenas alunos e


professores compartilham esse espaço. O sucesso da educação depende, em
muito da participação efetiva da comunidade escolar.

A Lei no 9394/96 em seu artigo 2o determina que a educação é dever da


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família e do estado.

O texto da mesma lei traz em seu artigo 61 que os profissionais da escola


de educação básica são professores habilitados em nível médio ou superior,
trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia , habilitados em
administração, supervisão, inspeção e orientação educacional, considerando
assim também os diplomas de mestrado e doutorado, portadores de diploma de
curso técnico ou superior em área pedagógica, profissionais de notório saber
reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino e profissionais graduados que
tenham feito complementação pedagógica.

Avaliando a necessidade de uma participação da família no processo de


definição dos rumos da instituição escolar à qual seus membros pertencem e
sabendo quem são os profissionais de educação que contribuem para a formação
desse educando, tem-se então a comunidade escolar definida como todos os
indivíduos que participam da vida da escola e que se nutrem dos saberes nela
compartilhados.

A partir dessa definição que se torna possível entender como o processo


de construção do projeto político-pedagógico se dá e qual a importância do
envolvimento de todos na sua elaboração.

GESTÃO DEMOCRÁTICA NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO


POLÍTCO-PEDAGÓGICO

O olhar pedagógico esteve voltado primeiramente ao entendimento do


indivíduo a ser educado, da forma de educar e de como aqueles educandos
desenvolvem-se ao longo do processo, desconsiderando por vezes sua
experiência extraescolar para imprimir nele um olhar sobre a vida, nada
democrático e que pouco ou nada tem a ver com suas expectativas.
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Esse pensamento que permeou o meio educacional e expressou-se


através de uma educação tradicional, foi modificando-se ao longo do tempo e o
que se espera hoje é que a educação lance um novo olhar sobre o educando de
forma a entendê-lo em sua magnitude.

Para muitos estudiosos da educação, é interessante pensar na educação


como uma forma democrática de aquisição do conhecimento, no qual o homem
faça parte e possa transformar-se e transformar o ambiente em que vive. Freire
(2001) já expressava o desejo de que a educação servisse ao homem, o
atendesse e o transformasse.

Interessou-nos sempre, e desde logo, a experiência democrática através


da educação. Educação da criança e do adulto. Educação democrática
que fosse, portanto, um trabalho do homem com o homem e nunca um
trabalho verticalmente do homem sobre o homem ou
assistencialistamente do homem para o homem, sem ele. (FREIRE,
2001, p. 70).

Portanto, o ambiente escolar deve ser um ambiente democrático e a


comunidade escolar deve enxergar de forma acessível e horizontal os
profissionais da educação.

Mas essa necessidade de um ambiente participativo precisa ser entendida


pelos membros da escola e para assegurar esse direito, o Plano Nacional de
educação, determina em sua meta dezenove:

Assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão


democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e
desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das
escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto.
(Plano Nacional de Educação, 2014, p.82)

Nesse entendimento, o projeto político-pedagógico constitui-se em um


grande exercício de democracia, pois este não se faz sozinho e verticalmente. Só
a comunidade que da escola se nutre pode saber suas necessidades, pode
entender suas dificuldades e olhar cuidadoso dos profissionais de educação pode
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traçar o melhor caminho para atender aos anseios dos educandos e formá-los
integralmente.

O projeto político-pedagógico, nesse contexto, é concebido como uma


projeção do futuro a ser discutido no presente, tomando por base as ações
realizadas no passado. É dinâmico, pois a comunidade escolar está em constante
mudança e é também político, por não ser possível a construção do mesmo sem
amplas discussões.

De acordo com os escritos de Gadotti & Romão (1997), o direcionamento


do projeto pedagógico é de natureza política.

Não se constrói um projeto sem uma direção política, um norte, um rumo.


Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político. O projeto
pedagógico da escola é, por isso mesmo, sempre um processo
inconcluso, uma etapa em direção a uma finalidade que permanece como
horizonte da escola. GADOTTI & ROMÃO (1997, p.34)

O projeto pedagógico da escola não pode tornar-se um documento com


palavras esquecidas, mas deve antes de tudo, estar acessível a todos e passível
de alterações à medida que as mudanças no ambiente escolar acontecerem.

Apesar de haver um direcionamento das políticas educacionais em


relação ao modelo de gestão democrática, ainda há resistência de muitas escolas
em aderir. Os motivos são muitos, dentre eles a ideia equivocada de
unilateralidade da educação.

Está claro que o movimento da democratização ainda não se concretizou


e muito ainda se deve fazer, mas a transição está colocada e tem trazido
conseqüências positivas para a comunidade escolar. Os obstáculos são
reais e a consciência de sua existência já garante um passo rumo as
mudanças realizadas (In Revista Gestão em Rede, 2006, p.15).

Segundo Gadotti e Romão (1997) quando a gestão pedagógica da escola


assume a importância da participação ativa dos membros da comunidade nas
suas decisões, todos compreendem melhor os rumos da educação.
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Todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o


funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade os que nela
estudam e trabalham, intensificar seu envolvimento com ela e, assim,
acompanhar melhor a educação ali oferecida. (GADOTTI e ROMÃO,
1997, p. 16)

Planejar o futuro da escola é impedir que o acaso dirija suas ações e


assegurar que o projeto pedagógico desta seja consultado, seguido e modificado
no decorrer da prática das metas de desenvolvimento propostas pelo documento é
condição primeira de uma educação de qualidade, pautada na transparência e na
capacidade de ajustar-se de acordo com as peculiaridades dos educandos.

Assim, não há projeto que se concretize com eficácia se não houver uma
discussão acerca dos rumos que o mesmo deve seguir e não há educação
transformadora se não for assumida por todos os que por ela são afetados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão democrática no processo de construção do projeto


político-pedagógico da escola é importante e segue carente de adeptos para que
haja elevação da educação ao patamar de qualidade desejado e expresso nos
documentos públicos que norteiam a educação.

Transformar a realidade por meio da educação não é tarefa fácil, porém os


esforços para que a participação coletiva aconteça constituem-se em passos
importantes para essa transformação.

A gestão escolar consciente do seu papel dentro desse processo torna-se


então o elo capaz de organizar o espaço e prover as condições para que o
ambiente educacional seja próspero.

Pensar a educação por meio de práticas pedagógicas democráticas que


projetem o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem e transformem o
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coletivo em uma unidade capaz de atender suas demandas e aprimorar seus


conhecimentos é apostar no sucesso e na qualidade da educação, como agente
de formação do ser humano.

REFERÊNCIAS

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