Você está na página 1de 1

ARQUITETURA SEM EIRA NEM BEIRA

A sabedoria popular diz que alguém sem eira nem beira é alguém que não tem nada, alguém
sem lugar para morar, um sem teto, enfim alguém que não tem onde cair morto.

Eira e beira se referem a elementos da casa e do telhado. Eira significa um espaço de terra
batida, lajeada ou cimentada, próximo às casas, e o beiral é a parte do telhado que sombreia e
protege as paredes.

A arquitetura ultimamente anda sem eira nem beira. Estamos descuidados com pequenos
detalhes da arquitetura e de certa forma somos os responsáveis pelos inúmeros erros que tem
ocorrido com indesejável frequência nas obras.

Numa visita a um imóvel vi algo que deveria estarrecer qualquer arquiteto ou arquiteta: um
telhado de telhado. Sim você leu corretamente, um telhado para proteger o telhado. Como se
sabe a inteligência tem limite a burrice não. O imóvel apresentou, logo depois de entregue,
diversos vazamentos em razão das chuvas. A solução encontrada pelos engenheiros da obra foi
fazer um novo telhado. Temo em dizer que não vai dar certo!

A razão é simples, estão atacando o sintoma e não a doença!

Há muitos anos tive a oportunidade de assistir uma palestra sobre telhados de cobre, de um
velhinho, um arquiteto chamado Roberto Leme (não o nosso Robertão Leme, um homônimo),
ele me chamou para almoçar. Durante a conversa ele me falou da tristeza em ver que os novos
arquitetos estavam desaprendendo a fazer telhados e que somente sabiam fazer telhados
planos pela simples razão que ninguém mais ensinava a arte de fazer telhados (sim, existe uma
arte em fazer telhados!). O que é uma verdade até hoje. Raros sabem fazer um bom telhado.

Vivemos tempos de drásticas mudanças climáticas (somente os cretinos fundamentais não


veem!) A inclemência do tempo tem sido notável, entretanto arquitetos, empreiteiros e
construtores não se deram conta.

Dentre minhas incontáveis manias está a de acompanhar o tempo. Temperatura, vento e


pluviosidade me interessam. Tenho observado e graças a uma informação do meu amigo
Breno Pereira, pude confirmar que as médias mensais de chuva pouco variam, uns tantos
milímetros a mais aqui ou a menos ali. O problema surge quando as precipitações se
acumulam em poucas horas impossibilitando seu devido escoamento. O que está acontecendo
é isto, mudou a quantidade precipitada por hora. Aquilo que caia num mês pode cair em
horas. Portanto as condições de escoamento devem ser revistas.

Já tem um tempo que aqui no escritório fazemos a recomendação de se aumentarem as calhas


e os condutores para dimensões maiores das usuais. Não raramente, ouvimos: Doutor tem 40
anos que eu faço isto, vai querer me ensinar agora? Pois é, pode ser que estejam fazendo
errado há quarenta anos, ou se esqueceram de observar o tempo!

Você também pode gostar