Você está na página 1de 3

Curso de Educação e Formação de Adultos – Nível secundário

Área Cultura, Língua, Comunicação


Ano Letivo 2015/2016
UFCD 6 – Culturas de Urbanismo e Mobilidade
Núcleo gerador 6: Urbanismo e Mobilidades (UM)
DR1– Contexto privado/ Tema: Construção e Arquitetura: as obras

Como construir a sua moradia sem ter que aturar um arquiteto

Quantas pessoas, quando chega o momento de construir a moradia com que sempre sonharam, não
passam pela aflição de perguntar a si próprias: será que vou ter de aturar um arquiteto?
Neste pequeno artigo, tentarei explicar como construir uma nova casa, sem se sujeitar às exigências
de um desses profissionais. Para que o empreendimento seja levado a cabo com êxito há que fazer
três importantes escolhas: estilo, técnico e empreiteiro.

O estilo

Eis-nos perante a primeira decisão a tomar - o estilo da casa. Felizmente não é difícil porque existem
apenas dois: o tradicional (também conhecido por rústico) e o moderno, que vem colhendo cada vez
mais adeptos entre os jovens.
O tradicional caracteriza-se pelo típico telhado de aba e canudo, a janela de alumínio aos
quadradinhos, a lareira de cantaria com a sua chaminé e o imprescindível barbecu, testemunho dos
inumeráveis prazeres da vida rústica. Já o moderno é completamente diferente, tão diferente que até
as coisas mudam de nome. O telhado desaparece, dando lugar à cobertura plana; a janela perde os
quadradinhos e passa a chamar-se vão; à chaminé, em tubo de aço inoxidável, chama-se fuga; e
barbecu é um termo obsceno que deve ser evitado na presença das senhoras.
Não existem, pois, quaisquer espécie de dúvidas quanto a questões de estilo - ou se é tradicional ou se
é moderno, as duas coisas ao mesmo tempo é impossível.

O técnico

Escolhido o estilo, há que escolher o alfaiate, que aqui designaremos pelo técnico. Trata-se de uma
escolha muito fácil, porque o que não falta são técnicos. Intitulem-se eles construtores civis
diplomados, agentes técnicos de engenharia, eletricistas habilitados ou desenhadores habilidosos,
todos se regem pela mesma cartilha, a de João de Deus: o pinto pia, a pipa pinga… Não passaram
cinco anos a estudar arquitetura? Não estagiaram mais dois? Que importa isso?

Concentremo-nos apenas nas suas virtudes:


1- Projeto elaborado em tempo recorde.
2- Preço: 999 €.
1

Mas como conseguem eles ser tão eficazes?


É simples: antes de encomendado, o projeto já está feito. Até parece milagre! Mas não é, o que se
passa é o seguinte: o técnico tem duas pastas no computador, uma para projetos em estilo tradicional,
outra para os modernos. Escolhido o estilo pelo cliente, é fácil, emenda daqui, remenda de acolá e,
numa tarde, o projeto está feito! Para quê complicar?
“Mas o rapaz parecia semianalfabeto, disse que não podia assinar o projeto, mas que havia outro
técnico que podia…”. Não é caso para preocupações, trata-se de uma situação corrente em que um
técnico analfabeto paga a um técnico habilitado para que este, a troco de uns trocos, assine de cruz.
Está tudo incluído no pacote e, (ironia do destino!), quantas vezes o técnico habilitado não é um
arquiteto daqueles que faltaram às aulas de religião e moral…
Aprovado o projeto, o técnico já não é preciso para nada. É dizer-lhe adeus que ele até agradece,
porque de obra não percebe nada nem quer perceber, quem percebe disso é o empreiteiro – a nossa
terceira e última escolha.

O empreiteiro

O primeiro encontro entre cliente e empreiteiro costuma ser decisivo. É nele que terá de se
estabelecer, entre o primeiro e o segundo, uma relação de confiança cega, em tudo semelhante à fé. A
fé de quem acredita que, com um projeto feito por um técnico, que não especifica nada, que não
pormenoriza nada e que não quantifica nada, não vai ser enganado por um homem que passa o dia a
fazer contas de cabeça… Entre cinco pequenos empreiteiros, como escolher o indicado para construir
a moradia? Infelizmente, chegados a este ponto, não posso recomendar senão fé, muita fé e
confiança, porque tudo o resto é irrelevante:
1- O valor do orçamento é irrelevante, foi feito com base no projeto do tal técnico, é um número
atirado para o ar, um número que, com os imprevistos, há de subir ainda umas quantas vezes.
2- O prazo estabelecido para concluir a obra vai depender do bom ou mau tempo e, nesse capítulo, só
Deus sabe.
3- As garantias dadas são as que estão na lei - cinco anos. Se a casa apresentar defeitos, reclame; se a
reclamação não for atendida, recorra ao tribunal (também pode recorrer ao pai natal se achar que
demora menos tempo…)
Em suma, não vale a pena perder tempo com ninharias, o mais importante é ter fé.

Conclusão

Se, apesar de conscienciosamente feitas estas três escolhas, as coisas não correrem lá muito bem, se a
casa ficar pelo dobro do preço, se no Verão se assar lá dentro e no Inverno se tiritar de frio, se para
abrir a porta do armário for preciso arrastar a mesa de cabeceira, se o vizinho protestar com o
barbecu, se a cobertura plana meter água, não vale a pena desesperar, resta sempre a consolação de
não ter tido de aturar um arquiteto.

de Rui Campos Matos (arquiteto)


(escrito para o Diário de Notícias da Madeira, secção “Arquitetura e Território)

via: http://www.sobrevoando.net 

2
_________________Proposta de Trabalho

Apresentar a casa ideal do século XXI, tendo em conta as componentes arquitetónica e


construtiva, justificando cada uma das opções que deverão estar enquadradas no estilo de
vida almejado;

Referir os equipamentos culturais de suporte à habitação: espaços verdes, zonas de lazer e


espaços de interação social.

Elaborar um mini - dicionário relacionado com a arquitetura e construção.

Você também pode gostar