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A ARQUITETURA DO LIXO

Nós somos produtores de uma quantidade enorme de lixo. Em média 383 quilos por pessoa
por ano. Ou aproximadamente 1 quilo por dia. Para uma cidade como Campinas é uma
montanha de lixo todos o santo dia!

O lixo sempre representou um problema mal resolvido pela civilização. Os romanos, em 200 EC
já havia um serviço que se assemelhava ao que hoje temos como os lixeiros. A nossa palavra
lixo é de origem etimológica controversa e obscura, teria se originado através da palavra
lixívia, um produto desinfetante, na antiguidade produzido a partir das cinzas e soda caústica,
hoje aqui conhecido como águia sanitária.

O lixo é uma forma de descarte de material que sempre foi problemática nos agrupamentos
humanos. A imagem de inferno como um local com fogo e cheirando a enxofre se deve ao
lixão de Jerusalém, mais conhecido Geh Ben-Hinom ou literalmente "Vale do Filho de Hinom"
que é um vale em torno da Cidade Antiga de Jerusalém, e que veio a tornar-se um depósito
onde o lixo, animais mortos e os corpos de crucificados(sim, ele pode ter sido jogado lá!) eram
incinerados. O enxofre alimentava um fogo perpétuo no local.

O lixo até o século XIX era jogado diretamente nas ruas e calçadas. A expressão de alerta: água
vai! Era o único aviso de que mijo estava sendo jogado, quando não coisa pior.

Somente a partir de 1875 se tornou público o serviço de coleta de lixo, na Inglaterra.

No Brasil durante muitos anos, um serviço infame, era conhecido como “tigres”, escravos que
carregavam tonéis cheios de estrume humano, estes vazavam e manchavam os corpos, daí o
apelido. Mas o lixo como restos de alimentos e descartes eram jogados nas ruas.

Em 1876 poder-se-ia dizer a data da implantação do serviço de limpeza pública no Brasil,


através da contratação de uma empresa privada para a execução do serviço, a empresa de
Aleixo Gary (sim, a palavra gari é derivada do nome dele), isto no Rio de Janeiro.

Se olharmos o outro lado do mundo, veremos o Japão, como uma outra forma de encarar o
lixo. Lá a responsabilidade pelo lixo é total para os moradores. Ou seja, você deve dar cabo de
seu lixo, e colocá-los corretamente nas latas de lixo correta, ou corre o risco de ver seu lixo
devolvido. O caminhão de lixo, pode passar semanalmente, quinzenalmente, mensalmente ou
até anualmente, de acordo com o tipo de lixo disposto. Todo cidadão tem um manual de lixo.
Ele tem só 72 páginas!

A partir das preocupações higienistas do século XIX este panorama vem se alterando
lentamente. E somente a partir das preocupações ecológicos, já nos anos 60 do século XX, é
que o lixo começa a ser encarado nas suas verdadeiras dimensões.

A arquitetura ainda não enfrentou este problema de cara. Não possuímos uma solução
adequada dentro de casa para a eliminação e descarte da enorme quantidade de lixo que
geramos. A separação de tipologia de lixo, o reaproveitamento e reciclagem são
extremamente baixos.

É evidente que um trabalho de mudança de hábitos e educação ambiental é fundamental, mas


este não é um problema específico para a arquitetura.
As soluções que surgem em geral são exógenas, ou seja, vem de fora da residência, aí seria
interessante criar um novo espaço “usina de lixo” ou “área de lixo” fazendo um paralelo com a
área de serviço1. Uma área destinada ao tratamento do lixo que produzimos. Este espaço
poderia separar de maneira eficiente o lixo, reciclar, produzir compostagem enfim processar o
lixo de maneira mais eficiente.

Hoje existem equipamentos que podem auxiliar de forma eficiente o tratamento do lixo em
casa. O primeiro são os trituradores, que moem parte do lixo orgânico e facilitam e diminuem
os trabalhos de limpeza do esgoto. Seu uso massivo traria enormes benefícios aos serviços de
tratamento de efluentes e esgotos. Eles são 70% água e seu consumo é baixo. Diminuem a
produção de metano, evitando que grande parte do lixo orgânico chegue aos lixões. Deveriam
ser obrigatórios nas residências a partir de um certo porte, e subvencionadas a aqueles que
não podem pagar. O financiamento viria dos recursos economizados com os serviços de lixo.

A compostagem caseira, é de fácil construção, um balde furado e


pedrisco areia e folhas. Uma sofisticação desse equipamento pode
ser vista na fig2. É um produto que os americanos desenvolveram e
seu uso tem crescido nos últimos anos.

1
A área de serviço guarda este nome em função não ao serviço, mas a serviçal que executava ali seus
trabalhos. A verdadeira área de serviço é a casa toda, que demanda trabalhos de limpeza e manutenção.

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