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MANUAL DE BOAS

PRÁTICAS
PARA O
CULTIVO DE LÚPULO

Natanael Moschen Lahnel (Secretário Técnico) e

Mariana Mendes fagherazzi (Secretária Administrativa)

Versão 2019
Índice
APRESENTAÇÃO
INICIANDO NO PLANTIO DO LÚPULO:
CARACTERÍSTICAS DA PLANTA DE LÚPULO
TIPOS DE MUDAS

NECESSIDADES DO LÚPULO:
TIPO DE SOLO
ADUBAÇÃO BÁSICA
CUIDADOS NO PLANTIO DAS MUDAS
IRRIGAÇÃO

SISTEMAS DE CONDUÇÃO:
CONDUÇÃO LATADA
TRELIÇA
OUTROS

COLHEITA:
PONTO DE COLHEITA
PROCESSAMENTO DO CONE

MANEJO ANUAL:
MANEJO PÓS COLHEITA
MANEJO PÓS INVERNO
APRESENTAÇÃO

Este manual de boas práticas foi elaborado com o intuito de auxiliar os associa-
dos da Aprolúpulo nas dúvidas básicas sobre o cultivo do Lúpulo.
As informações contidas neste manual são resultado de anos de pesquisa, vi-
vência de campo e testes, visando adaptar o manejo à realidade brasileira, sendo
que a maioria do material que se encontra sobre o assunto é destinado ao cultivo
em outros países.
Esperamos que este material sirva de auxílio e de ponto de partida para o de-
senvolvimento de muitos novos cultivos pelo Brasil a fora.
Bons cultivos!

Natanael Moschen Lahnel


Secretário Técnico Aprolúpulo

Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel


INICIANDO NO PLANTIO DE LÚPULO
CARACTERÍSTICAS DA PLANTA DE LÚPULO

O Lúpulo é uma planta trepadeira, dioica, ou seja, o sexo separado em


indivíduos distintos. Sendo do interesse do mercado cervejeiro apenas a planta
fêmea pois contém alta concentração de lupulina.
É uma planta perene, que entra em dormência na época de inverno em
regiões temperadas, e inicia um novo ciclo produtivo no início da primavera. A
planta pode medir de 4 a 10 metros de altura, dependendo da variedade.
O lúpulo necessita de luz solar direta o maior tempo possível do dia du-
rante sua fase de crescimento e reprodutiva.

Exemplo de flor Macho na esquerda e flor fêmea na direita – Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel
TIPOS DE MUDAS

Para iniciar um cultivo, o primeiro passo é a obtenção das mudas, que podem vir
de diferentes partes da planta e através da propagação sexuada e assexuada.

-Mudas de Estaquia: São mudas vindas de um ramo da parte aérea da planta,


são a forma mais simples e rápida para se obter uma grande quantidade de mu-
das, podendo ser retiradas de uma mesma planta matriz. Geralmente demoram
aproximadamente 2 meses desde a propagação da estaca até o ponto adequado
de enraizamento para poderem ser transplantadas.

Mudas produzidas por estaquia – Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel


Mudas de Rizomas: São mudas retiradas de uma planta adulta, de pelo menos
3 anos de idade, vindas de uma parte do
sistema rizomatoso, raízes que ficam na
parte superior do solo e são responsá-
veis na natureza por alastrar a planta de
lúpulo pelas redondezas. São mudas
mais vigorosas e com uma grande tole-
rância a stress, visto que já possuem
uma reserva energética maior dentro do
rizoma, podem ser colhidas e replanta-
das no mesmo dia direto na lavoura. Em
contrapartida, são difíceis de retirar da
planta matriz e não podem ser retiradas
de forma muito numerosa, visto que a
planta matriz pode sofrer com os danos
causados pelos cortes e estar susceptí-
vel a entrada de fungos fitopatogênicos.

Rizoma – Fonte: Internet

Micropropagação: Técnica de propagação que


permite alta produção de clones livre de doen-
ças. Necessita ser realizado em laboratório es-
pecífico e de alto custo. As plântulas oriundas
dessa técnica passam por algumas etapas
sendo, estabelecimento, multiplicação, aclimati-
zação (etapa esta mais demorada devido à fra-
gilidade das plântulas) e transplante para o
campo. Tornando assim um processo mais one-
roso quando comparado com as outras técnicas
de propagação.

Mudas In Vitro – Fonte: Internet


Mudas de sementes: Mudas germinadas
a partir de sementes são uma opção
pouco viável para o produtor iniciante, é
destinada ao melhoramento genético,
visto que plantas originadas de semente
serão organismos geneticamente distin-
tos da planta mãe , podendo inclusive ser
macho ou fêmea, característica esta que
só vai poder ser observada no segundo
ano da planta, pois as plantas advindas
de sementes demoram até dois anos para
florir. O produtor pode perder tempo e di-
nheiro, visto que além de tudo, as flores
fêmeas advindas desta nova variedade,
podem desenvolver aromas muito bons,
como também muito ruins.
Sementes germinadas - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel

É importante ressaltar que para não haver problemas junto aos órgãos de
fiscalização, as mudas devem ser adquiridas de um propagador licenciado com
NF e termo de conformidade, ou certificado de origem, segundo normas especí-
ficas do MAPA.
NECESSIDADES DO LÚPULO

TIPO DE SOLO E LOCAL IDEAL PARA O LÚPULO

O ideal para o cultivo de lúpulo é que o solo seja bem drenado e rico em
matéria orgânica, com boa umidade, mas livre de alagamentos. O ideal é um
solo arenoso, que facilite o crescimento radicular e a busca por nutrientes. A
faixa de PH ideal para o lúpulo é de 6.0 a 6.5.

Tabela de PH – Fonte: Internet

Se a região possuir muita incidência de vento forte, é necessária a avali-


ação da necessidade de um quebra vento, que pode ser natural como um feixe
de árvores, tanto como artificial como telas perfuradas. Grande incidência de
vento resulta em danos nas folhas e cones, que são portas de entrada para do-
enças, perda de qualidade do cone e diminuição da produtividade da planta.

Exemplo de quebra vento artificial – Fonte: Internet

A direção do plantio das fileiras de lúpulo nos campos é sentido Norte-Sul, desta
forma a planta recebe sol por todos os lados no decorrer do dia.
ADUBAÇÃO BÁSICA PARA PLANTIO DAS MUDAS

O recomendado para preparação do solo é realizar uma análise de solo e con-


sultar um engenheiro agrônomo para a devida correção.
De maneira geral pode-se indicar adubação orgânica, com fonte de fácil acesso
na região próxima à plantação, bem como estercos bem curtidos e composta-
gem.

CUIDADOS NO PLANTIO DAS MUDAS

No momento do plantio das mudas o ideal é o solo estar preparado com antece-
dência e o sistema de irrigação já estar instalado. As mudas devem ser regadas
diariamente caso não chova nas primeiras semanas.
Procure realizar o plantio no campo em um dia nublado ou com temperatura mais
amena, e irrigar muito bem logo após o plantio. Desta forma o stress do replantio
é diminuído. É normal as mudas recém replantadas pararem seu crescimento
por uma a duas semanas e
até mesmo perderem algu-
mas folhas, período que as
plantas estão se adap-
tando ao novo local, condi-
ções de solo e luminosi-
dade.
Importante assim que re-
plantadas as mudas que
os ramos mais longos já
sejam guiados pelos bar-
bantes, para evitar o con-
tato das folhas jovens com
o solo e possível apodreci-
mento.
Mudas recém conduzidas - Fonte: Acervo Alexander Creuz
IRRIGAÇÃO

Considerando uma época sem chuvas como base, a quantidade de água neces-
sária por planta varia muito dependendo
do estágio vegetativo da mesma, varieda-
de, condições climáticas e tipo de solo. As-
sim que replantadas as plantas precisam
de água para se desenvolver em menor
quantidade. Conforme a planta desenvolve
a parte aérea mais água vai sendo consu-
mida. No momento do início ao final da flo-
ração, a planta demanda muito mais água,
visto que a formação dos cones consome
bastante líquido. Fala-se de diversas
quantidades de água, podendo chegar a
até 20 litros por planta por dia em condi-
ções de estiagem em plena época de flo-
ração. Geralmente para viabilizar os cus-
tos da irrigação, projeta-se uma média de
5 litros por planta por dia no momento do
dimensionamento do sistema inicial.
Sistema de Irrigação Fonte: Acervo Alexander Creuz

SISTEMAS DE CONDUÇÃO

CONDUÇÃO LATADA
Sistema costumeiramente
utilizado no plantio de uva,
consiste em uma estrutura
mais baixa, em média 2,20
de altura, que permite o
plantio em relevos mais aci-
dentados, e possui um me-
nor custo de implantação,
permitindo a cultura de lú-
pulo como uma alternativa
de renda ao pequeno agri-
cultor. Possibilita a colheita
manual conforme os cones
vão ficando maduros, sem a
necessidade de maquiná-
rio. Estrutura de Condução Latada - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel
TRELIÇA
Sistema tradicionalmente utilizado
na Europa e EUA, estrutura com
aproximadamente 6 metros de al-
tura, onde no momento da colheita
a planta é cortada e levada do
campo para a separação dos co-
nes, seja manual ou semi-mecani-
zado.

Estrutura de Treliça - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel


COLHEITA

PONTO DE COLHEITA

A colheita do lúpulo no ponto exato é crucial para o correto aproveitamento do


potencial produtivo da planta, e para obter a melhor qualidade do produto.
Características de cones ainda não maduros:
Cone macio com textura aveludada
Lupulina de um amarelo fraco,
quase esbranquiçada
Aroma predominante vegetal
Coloração verde clara

Cones não maduros - Fonte: Acervo Alexander Creuz

O ponto de colheita correto do cone é ob-


servado através de alguns sinais sim-
ples:
Textura que lembra papel de seda, leve-
mente áspero e seco
Lupulina bem presente, com uma cor
dourada bem forte
Intenso aroma de lupulina
Leve coloração amarelada das pétalas
dependendo da variedade
Teor de matéria seca entre 21 a 25%

Cones no ponto para colheita - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel


PROCESSAMENTO DO CONE

UTILIZAÇÃO DO CONE IN-NATURA FRESCO

Para a utilização do lúpulo fresco recém-colhido deve-se observar alguns


detalhes importantes:
Os cones maduros devem ser
colhidos e utilizados o mais rá-
pido possível, preferencial-
mente no mesmo dia. Caso te-
nham que ser armazenados,
esse período não deve passar
de 2 dias, sendo o armazena-
mento em saco plástico bem
vedado, com o mínimo de oxi-
gênio, e refrigerados em gela-
deira. Após este período a qua-
lidade começa a decair, perde-
se aroma e começa a se evi-
denciar aromas e sabores ve-
getais muito fortes. Caso não
se utilize os cones frescos, os
mesmos devem ser desidrata-
dos e armazenados.
Cones recém colhidos - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel

DESIDRATAÇÃO E EMBALAGEM

Imediatamente assim que colhidos, os cones começam o processo de


perda de óleos essenciais e oxidação. Desta forma quanto antes secar e embalar
os mesmos, mais qualidade será preservada.
O ideal na secagem é que a mesma aconteça a baixas temperaturas, em
torno de 40ºC. Os cones devem ser desidratados até perder de 75% a 80% de
seu peso total. Desta forma o percentual interno de umidade ficará na faixa de
10%, garantindo uma armazenagem sem risco de formação de fungos.
Existem diversos modelos de secado-
res, com diferentes capacidades e efici-
ências, cada propriedade deve analisar
suas necessidades, pois o real gargalo
de toda produção de lúpulo será a ca-
pacidade de secagem.

Estrutura de Secagem - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel

A embalagem após a secagem deve ser feita de forma que a menor quan-
tidade de oxigênio possível fique em contato com os cones. Pode-se embalar os
mesmo a vácuo ou embalagens onde o oxigênio seja substituído por outro gás,
como Nitrogênio.
Importante também é evitar o contato da luz com os cones, o que também
causa perda de qualidade e oxidação; embalagens metalizadas são o ideal. Para
poder conservar o lúpulo seco e embalado a vácuo por até um ano com quali-
dade, é importante manter o produto refrigerado ou congelado. Considera-se a
perda de 10% de AA em média por ano do lúpulo, mesmo quando embalado e
conservado de forma correta.
Não é recomendada a venda de Lúpulo sem análise de teor de Alfa e Beta
Ácidos e Óleos essenciais. Com as análises, a qualidade do produto ficará com-
provada e o mercado não será invadido com produtos de má qualidade, que
nada mais fazem do que prejudicar a cadeia nacional como um todo.
MANEJO ANUAL

MANEJO PÓS COLHEITA

Após a realização da colheita e as plantas estarem totalmente sem cones,


é chegada a hora realizar a poda total da mesma.
Em sistema de treliça alta, geralmente a planta já foi cortada para a co-
lheita e somente os ramos rasteiros ainda estão com folhas, o que é o ideal para
a planta poder armazenar sua energia nas raízes e nos rizomas. Em sistema de
condução latada, a planta fica toda na estrutura até o momento certo de sua
poda.
Quando o inverno se aproxima, em meados
de julho, as plantas começam a amarelar e perder
as folhas naturalmente, isto é um sinal que o pro-
cesso de hibernação está iniciando. Assim que as
plantas perdem todas as folhas, está no ponto ideal
para a poda total para o inverno. Esta poda deve
ser feita totalmente, deixando somente 5 cm de
ramo principal no máximo.
Em seguida, o ideal é fazer uma cobertura com pa-
lhada seca ou adubação verde de inverno, para du-
rante o inverno o solo não esquentar em dias de sol
ou calor fora de época. Desta forma evita-se que a
planta tente brotar antes do tempo ideal Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel
e volte a secar com o frio, desperdiçando
reserva energética que seria essencial
para uma brotação vigorosa na prima-
vera. Também é recomendado não reali-
zar nenhuma adubação, visto que a pre-
sença em excesso de novos nutrientes
podem levar a planta a brotar. Durante a
hibernação, deve-se evitar regar a planta
e excessos de umidade, para evitar apo-
drecimento da coroa.

Fonte: Acervo Alexander Creuz


MANEJO PÓS INVERNO

Após o inverno, assim que as plantas dei-


xam a hibernação em meados de outubro
e novembro, o ideal é podar os primeiros
ramos mais vigorosos e os ramos ladrões,
visto que esses produzem pouco e gastam
muita energia da planta. Nesta fase entrar
com uma adubação com maior quantidade
de nitrogênio é o ideal, pois as plantas
crescem muito vigorosamente. É impor-
tante também ficar atento a doenças fún-
gicas que tendem a incidir devido ao ex-
cesso de umidade no solo e a grande
quantidade de folhas na parte inferior da Ramos Ladrões - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel
planta.
Assim que os ramos produtivos bro-
tam da coroa, os mesmos devem ser con-
duzidos pelos barbantes quando atingirem
15cm, geralmente de 3 a 4 ramos por bar-
bante, dependendo da variedade.

Ramos produtivos - Fonte: Acervo Natanael M. Lahnel

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