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A EDUCAÇÃO POPULAR COMO INSTRUMENTALIDADE NO

SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE

Amanda Angélica Aziani


Assistente Social
ICA - Instituto do Câncer e quimioterapia - Hospital de Base de São José do
Rio Preto, SP
amandaaziani@gmail.com

Resumo: Este trabalho discorre sobre a temática da Educação Popular como


instrumentalidade no âmbito do Serviço Social na saúde. Para exploração do tema,
optou-se por uma breve apresentação da Teoria Freiriana, contemplamos momentos
marcantes para a mesma até o momento. Apontamos os desafios e perspectivas
para a efetivação do nosso projeto ético político nos dias atuais e de modo especial
no atendimento social de forma a incorporar a Educação Popular proposta por Paulo
Freire como chave para a emancipação de indivíduos que se encontram em uma
situação de doença ou sob tantas outras expressões da Questão Social.
Acreditamos que a tomada de consciência é um processo e o mesmo mediado pelo
mundo. Finalizamos e apontamos neste trabalho que a Educação Popular como
instrumentalidade é importante no fazer profissional do Assistente Social na Saúde,
já que a mesma propõe uma abordagem qualitativa que ultrapassa os limites da
imediaticidade, estabelecendo vínculo com o usuário e isso faz com que o
profissional conheça genuinamente a realidade social na qual o individuo está
inserido, podemos assim, propor ações inovadoras e emancipatórias. A metodologia
que utilizamos para realizar este trabalho foi a revisão bibliográfica, por meio desta
buscamos comprovar nossas argumentações e enriquecer esta pesquisa.

Palavras-chaves: Educação Popular. Oncologia Clínica. Serviço Social.

Área do conhecimento: Social

1. Introdução

Desde o final dos anos sessenta intensificou-se a polêmica sobre o caráter da


doença. Discute-se a doença como algo essencialmente biológico ou, ao
contrário, social.
O ápice deste debate aconteceu nos anos finais da década de 60 quando se
encontra explicação fora da medicina, na crescente crise política e social que
acompanhou a crise econômica e com ela se entrelaça. A partir destes anos,
viveu-se uma etapa de lutas sociais, que, mesmo assumindo formas particulares
nos diferentes países, caracterizavam a época. Assim, no calor destas lutas,
iniciou-se uma crítica que procurava estabelecer uma compreensão diferente dos
problemas, mais de acordo com os interesses populares e capaz de dar origem a
novas práticas sociais. (LAURELL, 1982, p.2)
Sob outra perspectiva, um dos possíveis motivos interno à medicina, que deu
origem ao questionamento do paradigma médico-biológico, encontrou-se na
dificuldade de provocar um novo conhecimento, que permitisse a compreensão

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total dos principais problemas de saúde que atualmente afligem os países
industrializados, isto é, as enfermidades cardiovasculares e os tumores malignos.
(LAURELL, 1982, p.2)
Falar de saúde como processo de produção é falar de uma experiência que
não se reduz ao binômio queixa-conduta já que aponta para a multiplicidade
de determinantes da saúde e para a complexidade das relações entre os
sujeitos trabalhadores, gestores e usuários dos serviços de saúde. O que se
produz neste processo é a um só tempo a saúde e os sujeitos aí implicados.
Por isso, falamos da humanização do SUS como processo de subjetivação
que se efetiva com a alteração dos modelos de atenção e de gestão em
saúde, isto é, novos sujeitos implicados em novas práticas de saúde.
Pensar a saúde como experiência de criação de si e de modos de viver é
tomar a vida em seu movimento de produção de normas e não de
assujeitamento a elas. (BENEVIDES, 2005, pág. 570)

2. Material e Método

A elaboração deste artigo ocorreu a partir de um estudo inserido na modalidade


de revisão bibliográfica. O desenvolvimento ocorreu a partir da pesquisa bibliográfica
que se dá por meio de livros, artigos, descrições de prática, estatísticas realizadas
no setor do Serviço Social do Instituto do Câncer (ICA), assim como a atuação
profissional durante o programa de aprimoramento profissional em Serviço Social no
ano de 2016.
A inauguração de um centro específico pra pacientes oncológicos se deu em 13
de março de 2006 tendo como base prestar serviços como consultas médicas
ambulatoriais, quimioterapias, exames, assim como atendimentos multidisciplinares,
visando, desta forma, garantir o acesso ao direto à saúde, conforme estabelece a lei
nº. 8.080 de 1990 – Leio Orgânica da Saúde, sendo referência em tratamento de
neoplasias para, mais ou menos, 142 municípios, garantindo também, tratamento
para pacientes oncológicos de outros estados, realizando no ano de 2015
aproximadamente 39.000 atendimentos. Nas estatísticas realizadas pelo Serviço
Social no Instituto do Câncer e quimioterapia são realizados 500 atendimentos em
média por mês.
O levantamento bibliográfico foi realizado através de pesquisa em base de dados
como Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), Google Acadêmico, livros, artigos, descrições de prática e estatísticas
realizadas no setor. Para a utilização da bibliografia encontrada foi usado como
critério os documentos cujas palavras-chaves estivem relacionadas com o recorte
temático feito para este artigo.
Desta maneira foi possível observar a utilização da educação popular como
instrumentalidade do Serviço Social nos atendimentos aos pacientes oncológicos do
Instituto do Câncer (ICA) e quimioterapia pertencente ao Hospital de Base de São
José do Rio Preto e de acordo com a organização do SUS e que é reconhecido
como uma instituição de grande porte e de alta complexidade.

3. Resultados

A elaboração deste artigo ocorreu em duas etapas, sendo que a primeira etapa
foi selecionar as revisões sistemáticas da literatura que pudessem contribuir para a
elaboração do objetivo principal deste artigo. Em um segundo momento, foi
realizado uma separação para eleger os artigos com maior relevância para

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elaboração do trabalho, conforme conceitos utilizados, áreas de atuação e setores
em que foram realizados, totalizando 22 obras.
Diante destas etapas foi decidido que a realização deste artigo se daria em dois
eixos principais, sendo eles a educação popular como instrumentalidade no Serviço
Social na saúde e a utilização da educação popular no atendimento social ao
paciente oncológico.
A revisão literária atrelada a prática profissional permitiu observar e ter como
norte a experiência da educação popular como instrumentalidade no serviço social
no atendimento ambulatorial ao paciente com câncer.
Essa atuação se dá pela prática de tal metodologia no atendimento social. O
Assistente Social na atenção ao câncer trabalha com o indivíduo atrelado de uma
doença estigmatizada como sendo sempre mortal. O Assistente Social e equipe
multiprofissional trabalharam nos atendimentos e grupos de orientações que o
tratamento é para viver. E partem de que é processo, longo, porém um processo.
Que visa à cura, o controle da dor e na melhora da qualidade de vida do paciente e
de seus familiares.
Os desenvolvimentos das atividades do Serviço Social devem estar em
consonância com o projeto profissional, que foi idealizado no período de transição
dos anos 1970 aos 1980, num processo de redemocratização da sociedade
brasileira. Além de seguir o código de ética da profissão que garante aos
profissionais diretrizes e seguranças para realização de suas ações.

4. Discussão
Para começar a falar sobre Educação Popular é necessário apontar que a
educação, historicamente, serviu como ferramenta de dominação das classes
dominantes e, como sistema, contribuiu e ainda contribui para a manutenção e
reprodução do status quo.
Porque a educação sobrevive aos sistemas e, se em um ela serve à
reprodução da desigualdade e à difusão de ideias que legitimam a
opressão, em outro pode servir à criação da igualdade entre os homens e à
pregação da liberdade.
(Brandão, 1993, p. 98-99).
A educação foi conhecida como uma forma de transferência de conhecimentos
de interesse da burguesia. Porém não existe uma única maneira de ensinar, não há
um único modelo de educação. Todavia, na maioria das vezes ela é vista como
dominante.
Paulo Freire, descontente com essa educação alienada e sem grandes
acréscimos para os educandos e crente na ideia de que educação é um ato de
amor, solidário, coletivo e não apenas algo solitário, na qual somente se despeja
saber, decidiu radicaliza-la, inserir um método de aprendizagem que fosse capaz de
mudar os sujeitos e o mundo. Então, elaborou a Educação Popular a qual se inicia
com as ideias levantadas a partir das palavras geradoras. Considerada um
movimento social confiava no poder da criatividade e na possibilidade de libertar os
homens e mulheres daquela rotina não refletida.
O mais importante nesta palavra, “reinventar”, é a ideia de que a educação
é uma invenção humana e, se em algum lugar foi feita um dia de um modo,
pode ser mais adiante refeita de outro, diferente, diverso, até oposto. Muitas
vezes um dos esforços mais persistentes em Paulo Freire é um dos menos
lembrados. Ao fazer a crítica da educação capitalista, que ora chamou
também de “educação bancária”, ora de “educação do opressor”, ele

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sempre quis desarmá-la da ideia de que ela é maior do que o homem.
(Brandão, 1993, p.99-100)
Na Educação Popular o método deve ser construído e reconstruído sempre,
uma vez que é elaborado coletivamente dentro do circulo de cultura. É considerada
por muitos, como um instrumento de produção de uma nova consciência, uma
aproximação com a realidade.
Por entender as classes populares como detentoras de um saber não
valorizado e excluídas do conhecimento historicamente acumulado pela
sociedade, nos mostra a relevância de se construir uma educação a partir
do conhecimento do povo e com o povo provocando uma leitura da
realidade na ótica do oprimido, que ultrapasse as fronteiras das letras e se
constitui nas relações históricas e sociais. Nesse sentido, o oprimido deve
sair desta condição de opressão a partir da fomentação da consciência de
classe oprimida. (Maciel, 2011, p. 328)

Em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire ao falar da educação, faz uma


comparação dos educandos como “vasilha”, na qual o saber transmitido tem apenas
a função de preenchê-las. Não importa se o conteúdo ali colocado fará alguma
diferença ou não, o que importa é se o “recipiente” está transbordando. Trazendo
isto para o ambiente hospitalar é possível ter a percepção que o paciente, em alguns
casos, saí do atendimento sem entender ou ter a compreensão do que lhe foi falado.
São, apenas, depositados nele diagnóstico, intenção de tratamento, papéis e tudo
mais.
Paulo Freire pensava a educação como uma prática de natureza política. A
mesma indica que o horizonte da Educação Popular é a transformação da realidade,
ou seja, no processo educativo ela prepara os educandos para desencadearem
processos que levem à transformação da realidade e desta maneira compreender o
processo saúde-doença.
O papel do educador é possibilitar que os educandos, partindo de sua
realidade, possam apreender a realidade em toda sua dinâmica e em um processo
coletivo buscar transformá-la. Para Paulo Freire não existe somente uma figura de
educador, pois temos desde aquele que educa para a reprodução social de ordem
instituída até aquele que realizar uma prática voltada para a transformação das
relações sociais.
Esta metodologia possui também uma perspectiva libertária, com o designo de
alcançar a emancipação da humanidade, de reunir múltiplos conceitos de educação
e técnicas educativas.
A metodologia Freiriana toma como ponto de partida o saber que nasce da
experiência da vida cotidiana das pessoas e de seu trabalho. Não utiliza conteúdos
pré-elaborados, para poder transmitir o conhecimento, mas sim a visão sobre a
realidade dos educandos. Paulo Freire narra que a educação só é possível e
verdadeira quando busca permanentemente, a transformação social e no processo
de transformar a realidade, o educando transforma também a si mesmo.
Só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido,
transforma-o em aprendido e o, como que pode, reinventa-o, e assim aplica
o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas. (Freire, 2001, p.
27-28)

A proposta de Paulo Freire foi construída a partir de uma experiência educativa


por ele realizada junto à população mais pobre de um bairro de Recife. Ela foi

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considerada um instrumento importante para fazer com que a educação chegasse
aos últimos rincões do país.
Contudo, por sua dimensão política, a Educação Popular acabou se
transformando em grande movimento e com o golpe militar que implantou a ditadura
no Brasil, ela foi “cassada”. Enquanto movimento, passou a contribuir na construção
de espaços de resistência à ditadura.
Freire, quando elaborou sua teoria queria revolucionar aquela educação
alienada existente, na qual somente os educadores eram possuidores do saber e
estes repassavam para os educandos. No contexto ambulatorial ao lidar o paciente
oncológico em determinadas ocasiões é possível apenas reproduzir o que a lei diz
ou o que o exame diz. Sem existir um discernimento sobre a conjuntura do paciente.
A perspectiva libertadora que a educação popular propunha era mudanças na
estrutura do sistema, ela propunha a valorização do saber e do poder popular.
Brandão considera o saber do povo como um saber importante e que devem
ser consideradas as experiências coletivas do povo como ponto de partida para o
processo de aprendizagem quanto ao processo saúde-doença.
A Educação Popular acontece em qualquer local onde há lutas populares,
assim não devemos considerar o lugar físico, mas sim o espaço onde ocorrem as
relações. Para que isso seja efetivado, é necessário avaliar como a população
“conhece” os processos da realidade e assim desencadear o processo educativo,
para poder elaborar os sujeitos que irão encontrar maneiras de solucionar os
problemas enfrentados no dia a dia, como o adoecimento.
É importante salientar, que nos anos de 1960 o significativo aumento da
participação popular na política e nas iniciativas de educação popular, concentrou a
maior parcela de sujeitos à favor de uma socialização política. A metodologia
Freiriana tem como um dos pontos de partida a ideia do saber das classes
populares.
As experiências de Educação popular passam a ter um caráter maior de
organização política a fim de conscientizar e contribuir na organização
popular. Este foi um momento de articulação dos compromissos políticos
assumidos com movimentos sociais populares, os quais consideramos
como movimentos de classe que tem por objetivo a condução da
transformação da sociedade a partir do lugar político popular. (Maciel, 2011,
p.322)

O compromisso político-ideológico compartilhado entre Educação Popular e


Serviço Social é de transformar a sociedade; acredita-se na produção coletiva de
conhecimento e que a mesma fortalecerá os movimentos sociais para a
transformação social. Segundo o código de Ética do Assistente Social no capítulo IV,
art. 12 é direito de o profissional apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e
organizações populares vinculados à luta pela consolidação e ampliação da
democracia e dos direitos de cidadania. Desta forma, utilizar a metodologia de Freire
como instrumentalidade no atendimento social para garantir os direitos do paciente
oncológico se pauta no código de ética da profissão, assim como em seu projeto
ético-político. A importante função de, apropriar-se dos conhecimentos da realidade
para contribuir na transformação dos sujeitos coletivos, juntamente com os
movimentos sociais.
A EP visa educar para a cidadania e está vinculada a um projeto político,
não é um método técnico. É uma metodologia que tem uma concepção que
visa transformar essa sociedade e que pretende construir uma sociedade
alternativa, diferente desta. (Gouvêa, 1997, p. 188).

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O objetivo principal da educação popular é consentir que o homem, junto com
sua relação com o mundo, tomem mais consciência da realidade que estão e que
vivem. Todavia, para que isso seja possível, o homem necessita se desdobrar na
transformação de sua realidade.
Quando instituída por Paulo Freire, tinha por caracteística criar um novo
método de apreensão, na qual o instrumento seria o saber das classes populares,
gerando uma conscientização das mesmas para uma futura transformação da
sociedade. Sendo assim, geralmente ela está presente na atuação dos profissionais
do serviço social, já que estes os acompanham em suas lutas, mobilizações.
O Serviço Social, desde a década de 1960 se aproximou da educação popular,
assim como destaca alguns autores como Paulo Netto (2002), essa aproximação,
ainda que com limites, contribuiu para desencadear o Movimento de Reconceituação
da profissão. Momento esse que os assistentes sociais iniciam um processo que
apontava na ruptura do Serviço Social tradicional com os sistemas capitalistas.
Iamamoto, afirma que é indispensável reassumir o trabalho de educação, de
organização e mobilização popular, é preciso ter uma clara visão sobre a qualidade
da participação nos espaços coletivos, pois estes podem sim ter práticas
assistencialistas, mas podem também possuir práticas democráticas em prol da
organização e mobilização popular.

Repensar o trabalho de mobilização e educação popular [...] não se


confunde com uma inócua ressurreição de um passado perdido. Exige uma
releitura crítica da tradição profissional do Serviço Social, reapropriando-se
das conquistas e habilitações perdidas no tempo e, ao mesmo tempo,
superando-as, de modo a adequar a condução do trabalho profissional aos
novos desafios do presente. (Iamamoto, 2002, p. 33)

O assistente social, lida diariamente com as várias expressões da questão


social, no entanto, muitas vezes não tem a oportunidade de colocar esta
instrumentalidade em prática, assim enxergamos que esta educação é fundamental
para a formação desse profissional, pois é ela que permite uma pratica mais
dialógica, democrática, que considera o conhecimento dos sujeitos populares, a
diversidade de culturas.
No que se refere ao Serviço Social, Iamamoto (2010) assegura que os
profissionais devem ter conhecimento da realidade social na qual os sujeitos estão
inseridos, para, a partir daí praticar ações inovadoras. Para ter sucesso nessas
mudanças, é necessário que se desenvolva projetos, pesquisas para ficar por dentro
do modo de vida de cada indivíduo atendido.
A instrumentalidade na perspectiva de Yolanda Guerra é abarcada como um
modo de ser que caracteriza o fazer profissional que é moldado a partir das relações
sociais que são estabelecidas na capacidade das condições objetivas e subjetivas
em que se desenvolve o exercício profissional. E, na medida em que, possibilita o
alcance dos objetivos a que se propõe a profissão constitui-se como “[...] condição
concreta de reconhecimento social da profissão” (GUERRA, 2007, p.2).
A mesma descreve em “A instrumentalidade no trabalho do Serviço Social”,
que o assistente social tem como sua instrumentalidade de trabalho, a qualidade,
capacidade ou a propriedade de alguma coisa, de como é concretizado seus
deveres. Porém, muitos pensam que essa instrumentalidade tem a ver com os
instrumentos imprescindíveis para que o profissional possa atuar (instrumentação
técnica).

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Sendo assim, esta instrumentalidade no Serviço Social permite que o
profissional transforme as relações cotidianas e, assim, modifiquem suas condições
de trabalho em determinada realidade social. É a partir dessas modificações do
cotidiano profissional que os assistentes sociais utilizam suas instrumentalidades
nas suas devidas ações.
Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às condições
existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das
intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste
modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho
social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho.
(Guerra, 1995, p. 2)

Segundo a autora, o trabalho profissional, em sua totalidade, é dividido


em três categorias: teórico – metodológica, ético - política e técnico – operativa
paara o conhecimento mais preciso do trabalho. Existindo também existem as
dimensões investigativa, interventiva e formativa.
Entre os instrumentos da profissão, estão: a observação (conjunto de
reflexões que torna possível uma compreensão individualizada); o vínculo (sempre
presente nos acolhimentos à população usuária, seja ele qual for); abordagem (é o
instrumento que faz o primeiro contato com o usuário, que permite uma ligação com
o mesmo); entrevista (é utilizada pelo profissional quando este necessita conhecer
um pouco mais sobre o usuário e suas necessidades, para a partir daí poder atende-
lo); grupo e reunião (considerados, por muitos, como uma estratégia para assumir
no Serviço Social um caráter sócio - educativo); informação (garante a socialização
de conhecimentos) ; visita domiciliar (considerada uma afirmação de direitos, mas
deve ser utilizada com muita precisão e cuidado, pois adentra a privacidade das
pessoas, além disto, deve ser bem explicada e contextualizada); encaminhamento
(além de instrumento, é considerado como uma ação, pois mobiliza vários dos
outros instrumentos, e também coloca o usuário para usufruir seus direitos, na rede
de serviços).
No âmbito ambulatorial o paciente oncológico chega fragilizado. Traz
consigo sua história e vivência. E dessa maneira muitas desinformações e não
conhecimento dos direitos específicos. Neste contexto a educação popular nos
incentiva a levar esse acesso e garantia dos direitos e informações a partir do
sujeito, do seu conhecimento de mundo.
A instrumentalidade da profissão do Serviço Social também pode ser
considerada como uma mediação, pois ela se insere no imediato e é avaliada como
particularidade desta profissão. Se não fosse assim, deveríamos trata-la apenas
como singularidade, com fim apenas em si. O espaço da instrumentalidade, no caso
do cotidiano, tem as relações de meios e fins rompidas, e o que implica é os
elementos alcançarem os objetivos.
Pela instrumentalidade da profissão, pela condição e capacidade de o
Serviço Social operar transformações, alterações nos objetos e nas
condições (meios e instrumentos), visando alcançar seus objetivos, vão
passando elementos progressistas, emancipatórios, próprios da razão
dialética. (Guerra, 2000, p. 61).

O Serviço Social também se coloca nessa perspectiva – contribuir no processo


de conscientização da população, pois é o profissional que está na realidade dessa
população. Essa aproximação com a realidade exige do ser social uma postura
aberta e capaz de captar o movimento do real socialmente construído. A educação

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popular permite essa aproximação, tornando-a assim instrumentalidade no Serviço
Social que o permite se constituir em um instrumento para a mudança.
Segundo Iamamoto (2010, p. 200), os assistentes sociais devem ter
conhecimento criterioso dos processos sociais e de sua experiência pelos sujeitos ,
já que isso poderá acarretar em ações inovadoras. Além do mais, o “conhecimento é
pré-requisito para impulsionar a consciência crítica e uma cultura pública
democrática”, e fazendo essa afirmativa, a autora instiga o desenvolvimento de
projetos e pesquisas que beneficiem o conhecimento do modo de vida e do trabalho
da população atendida, além de fazer com que os assistentes sociais impulsionem a
consciência política dessa mesma população.
Até porque a consciência política significa a consciência de fazer parte de
uma determinada força hegemônica é a primeira fase de uma
autoconsciência, na qual a teoria e prática finalmente se unificam. (Gramsci,
1995, p. 21).

5. Conclusão

O assistente social que atua com a educação popular, através de pesquisas,


intervenção, viabiliza uma afinidade dialógica e dialética entre o Serviço Social e
educação popular, além de formar profissionais mais críticos, democráticos e
capazes de instaurar a participação política, organização popular com consciência
critica quando atuarem diretamente com a sociedade trabalhadora.
Quando os assistentes sociais e todos outros profissionais se reconhecem
como classe trabalhadora e não apenas possuidores do saber, eles passam a
defender concepções em prol dessa classe, tornando assim indispensáveis à
parcela social excluída. Ao trabalharem nesse objetivo, eles direcionam essas
camadas populares a se verem como indivíduos histórico-sociais, e
consequentemente contribuem para a organização política dessa classe.
Em toda essa luta, a educação popular é de extrema importância, é uma aliada
no debate político-ideológico, teórico-metodológico e técnico-operativo, que vão
contra a hegemonia dominante.
Contudo, o Assistente Social tem como princípio trabalhar em conformidade
com seu projeto ético político e o código de ética do assistente social. A metodologia
Freiriana como instrumentalidade para o Serviço Social utilizada na área da saúde
traz um meio de contribuir com o paciente em um momento de fragilidade, no
processo saúde-doença. Com isso, é necessário que a metodologia de Freire seja
vista, praticada e revista, desta forma não será utilizada para reprodução da ordem
vigente.

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6. Referências bibliográficas

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