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PROCESSO

PENAL
Prof. Nidal Ahmad e
Prof. Letícia das Neves
1) INQUÉRITO POLICIAL

1.1) NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

O inquérito policial tem natureza de procedimento administrativo, já que não há


imposição direta de uma sanção penal, constituindo-se em mera peça informativa, cuja finalidade
precípua consiste em apurar as circunstâncias que envolveram o fato, a materialidade e a autoria
das infrações penais. É o que se depreende do artigo 4º do Código de Processo Penal e artigo 2º,
§ 1º, da Lei 12.830/2013, que dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo Delegado de
Polícia.

Nos termos do artigo 2º da Lei 12.830/2013, as funções de polícia judiciária e a apuração


de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e
exclusivas de Estado. Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução
da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que
tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações
penais. Assim, via de regra, a atribuição para presidir o inquérito policial é outorgada aos delegados
de polícia de carreira, conforme as normas de organização policial dos Estados.

Conforme dispõe o artigo 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal, a atribuição
investigatória não é exclusiva da Polícia Judiciária. Assim, por expressa disposição de lei, os atos
de investigação destinados à elucidação de crimes podem ser procedidos por outras autoridades
administrativas, como, por exemplo, nos casos de inquéritos parlamentares por meio de instauração
de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), inquérito policial militar, investigações promovidas
pelo Ministério Público.

1.2) CARACTERÍSTICAS

a) PROCEDIMENTO ESCRITO – Art. 9º

Não é possível a existência de uma investigação verbal.

Por isso, todas as peças do inquérito policial serão reduzidas a escrito ou datilografadas
e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

b) SIGILOSO – Art. 20
Segundo o artigo 20 do CPP, o inquérito policial é sigiloso, devendo a autoridade
assegurar no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade.

O sigilo não se estende ao representando do Ministério Público nem à autoridade


judiciária, que pode acompanhar os atos investigatórios.

Todavia, nos termos da Súmula Vinculante nº 14, “é direito do defensor, no interesse do


representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício
do direito de defesa.”

c) OFICIALIDADE

O inquérito policial é uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais, não podendo
ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade da ação penal seja atribuída ao ofendido.

d) INDISPONIBILIDADE

É indisponível. Após a sua instauração não pode ser arquivado pela autoridade policial
(art. 17)

e) INQUISITIVO

Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades persecutórias


concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a qual, por isso, prescinde, para a sua atuação,
da provocação de quem quer que seja, podendo e devendo agir de ofício, empreendendo, com
discricionariedade, as atividades necessárias ao esclarecimento do crime e da sua autoria.

É característica oriunda dos princípios da obrigatoriedade e da oficialidade da ação


penal.

Evidenciam a natureza inquisitiva do procedimento o art. 107 do CPP, proibindo


arguição de suspeição das autoridades policiais, e o art. 14, que permite à autoridade policial
indeferir diligência requerida pelo ofendido ou indiciado.

1.3) VALOR PROBATÓRIO

O inquérito policial tem conteúdo informativo, tendo por finalidade fornecer ao MP ou ao


ofendido, conforme a natureza da infração, os elementos necessários para a propositura da ação
penal.

Tem valor probatório, embora relativo, haja vista que os elementos de informação não
são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, nem tampouco na presença do juiz de
direito.

Assim, a confissão extrajudicial, por exemplo, terá validade como elemento de


convicção do juiz apenas se confirmada por outros elementos colhidos durante a instrução
processual.

1.4) INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL – Art. 5º

I) INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO NO CASO DE AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA

A) DE OFÍCIO (Art. 5º, I)

A autoridade policial tem a obrigação de instaurar o inquérito policial,


independentemente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto do fato, por
meio de delação verbal ou por escrito feito por qualquer do povo, notícia anônima, por meio da sua
atividade rotineira, ou no caso de prisão em flagrante.

A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa causa
(por ex. o fato não configurar, nem em tese, ilícito penal; quando estiver extinta a punibilidade ou
quando não houver sinais de existência do fato).

Se o fizer, o ato será impugnável pela via do habeas corpus (art. 648 e incisos do
CPP).

B) POR REQUISIÇÃO DA AUTORIDADE JUDICIÁRIA OU DO MINISTÉRIO PÚBLICO (Art. 5º,


II)

Nos termos do artigo 40 do CPP: “Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os


juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público
as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia”.

Todavia, se não estiverem presentes os elementos indispensáveis ao oferecimento da


denúncia, a autoridade judiciária poderá requisitar a instauração de inquérito policial para a
elucidação dos acontecimentos.
O mesmo vale para o Ministério Público, quando conhecer diretamente de autos ou
papéis que evidenciem a prática de ilícito penal (art. 129, VIII, CF/88, e art. 5º, II, CPP).

A autoridade policial não pode se recusar a instaurar o inquérito, pois a requisição tem
natureza de determinação, de ordem, muito embora inexista subordinação hierárquica.

C) DELATIO CRIMINIS (REQUERIMENTO DO OFENDIDO OU DE QUALQUER DO POVO) –


Art. 5º, II

É a comunicação de um crime feita pela vítima ou qualquer do povo.

Nos casos de ação penal pública condicionada, o requerimento assume a forma de


autorização para o início da persecução penal, e recebe o nome de representação.

Além do ofendido, qualquer do povo, ao tomar conhecimento da prática de alguma


infração penal em que caiba ação penal pública incondicionada, poderá comunica-la verbalmente
ou por escrito, à autoridade policial, e esta, verificando a procedência das informações, mandará
instaurar o inquérito (art. 5º, § 3º, CPP).

Tendo o conhecimento da existência de um crime que se apura mediante ação pública


por qualquer das formas acima mencionadas, a autoridade policial tem o dever de instaurá-lo.

II) INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO NO CASO DE AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA – Art. 5, §


A ação pública pode estar condicionada à representação da vítima ou à requisição do


Ministério da Justiça.

Portanto, o Inquérito não poderá ser instaurado senão com o oferecimento da


representação. É a manifestação do princípio da oportunidade, que informa a ação penal pública
condicionada até o momento do oferecimento da denúncia (art. 25 CPP).

Trata a representação de simples manifestação de vontade da vítima, ou de seu


representante legal, no sentido de permitir que o Estado, por meio dos órgãos próprios da
persecução penal, desenvolva as necessárias atividades administrativo-judiciárias tendentes às
investigações da infração penal, à apuração da respectiva autoria e à aplicação da lei penal objetiva.

Nos termos do art. 100, § 1º, do CP, e 24, do CPP, podem oferecer representação o
ofendido ou quem tiver qualidade para representá-lo, ou seja, representante legal da vítima, e, por
força do artigo 39, caput, do CPP, o procurador com poderes especiais.

III) INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO NO CASO DE AÇÃO PRIVADA – Art. 5º, § 5º

Diz o art. 5º, § 5º: “Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la “.

Tem essa qualidade o ofendido e o seu representante legal (art. 30).

Na hipótese de morte ou ausência judicialmente declarada do titular, o direito de queixa


passa a ser do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31).

O requerimento não exige formalidades, mas é necessário que sejam fornecidos os


elementos indispensáveis à instauração do inquérito policial ( art. 5º, § 1º ).

O auto de prisão em flagrante é a peça inicial do inquérito policial e este só pode ser
intentado após tal requerimento por força do art. 5º, § 5º.

1.5) PROCEDIMENTO – Art. 6º

Diante de regular notitia criminis a autoridade policial deve instaurar o inquérito policial
destinado a apurar o fato em todas as suas circunstâncias e a autoria.

Mesmo a existência de elementos que indicam ter ocorrido uma causa de excludente
da antijuridicidade não impede a instauração do procedimento investigatório.

Inicialmente, deve a autoridade policial, obrigatoriamente, de início “dirigir-se ao local,


providenciando para que se não alterem o estado de conservação das coisas, até a chegada dos
peritos criminais” ( art. 6º, I ).

Deve também a autoridade “apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais ( art. 6º, II ). Esses objetos devem, a final, acompanhar os autos do
inquérito ( art. 11 ).

A busca e apreensão poderão ser efetuadas: a) no local do crime; b) em domicílio; e c)


na própria pessoa.

Cabe ainda à autoridade “colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do
fato e suas circunstâncias " ( art. 6º, III ).
A autoridade deve ouvir o ofendido ( art. 6º, IV ).

Deve a autoridade policial também, quando necessário, “proceder a reconhecimento de


pessoas e coisas e a acareações“ ( art. 6º, VI ).

No que toca ao reconhecimento, deve-se atentar para as formalidades previstas no


artigo 226 do CPP: antes do reconhecimento, a pessoa que tiver de fazê-lo deverá fornecer a
descrição física daquela que deva ser reconhecida; a pessoa ser reconhecida deve ser colocada ao
lado de outras com características semelhantes; do reconhecimento lavrar-se-á auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade policial, pela pessoa que reconheceu e por 02
testemunhas instrumentárias.

Deve ainda a autoridade “determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo
delito e a quaisquer outras perícias “ ( art. 6º, VII ).

O exame de corpo delito é indispensável todas as vezes que a infração deixar vestígios,
constituindo-se na verificação dos elementos exteriores ou da materialidade da infração penal pelo
perito.

O indiciado, porém, não está obrigado a participar da reconstituição, ainda que tenha
confessado o delito no interrogatório. Se, em termos constitucionais, pode permanecer calado (art.
5º, LXIII ), com muito maior razão não pode estar obrigado a produzir prova contra si mesmo.

Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem


alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

1.6) RECONSTITUIÇÃO SIMULADA DOS FATOS (Art. 7º)

A reprodução simulada dos fatos (reconstituição do crime) poderá ser feita, contanto
que não atente contra a moralidade ou a ordem pública.

O indiciado poderá ser forçado a comparecer (art. 260 CPP), mas de participar da
reconstituição, prerrogativa que lhe é garantida pelo direito do silêncio e se corolário, o princípio de
que ninguém está obrigado a fornecer prova contra si (art. 5º, LXIII, da CF/88).

1.7) ENCERRAMENTO – Art. 10

Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório do que


tiver sido apurado no inquérito policial (art. 10, §1º, 1ª parte).

Não cabe a autoridade na sua exposição emitir qualquer juízo de valor, expender
opiniões ou julgamentos, mas apenas prestar todas as informações colhidas durante as
investigações e as diligências realizadas.

Quando da instauração do inquérito, a autoridade já deve classificar o crime, ou seja,


dar a capitulação ou definição jurídica do ilícito penal praticado. Após a conclusão das investigações,
se os elementos colhidos indicam Ter ocorrido outra infração penal que não a mencionada na
portaria, a classificação deve ser alterada.

De qualquer forma, a classificação efetuada pela autoridade policial é provisória e não


vincula o MP para o oferecimento da denúncia ou o querelante para a propositura da queixa.

Concluído o inquérito e elaborado o relatório, a autoridade deverá remeter os autos ao


juiz competente ( art. 10, §1º, 2ª parte ).

Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessam a prova, devem


acompanhar os autos (art. 11).

Do juízo, os autos devem ser remetidos ao órgão do Ministério Público, para que este
adote as medidas cabíveis.

1.8) PRAZO – Art. 10

Quando o indiciado estiver solto, a autoridade policial deverá concluir as investigações


no prazo de 30 dias, contados a partir do recebimento da notitia criminis.

Nesta hipótese, isto é, quando o agente estiver solto, o § 3º do mesmo artigo permite a
prorrogação do prazo pelo juiz sempre que o inquérito não estiver concluído dentro do prazo legal,
desde que o caso seja de difícil elucidação.

Findo o inquérito, pode o Ministério Público devolver os autos para novas diligências,
que entender imprescindíveis (art. 16 CPP).

Se o indiciado estiver preso, o prazo para a conclusão do inquérito é de dez dias.


Esse prazo não pode ser prorrogado e, excedido, haverá constrangimento ilegal a
liberdade de locomoção do indiciado, sanável pela via do habeas corpus, sem prejuízo para o
prosseguimento do inquérito policial.

Nos termos do artigo 51 da Lei 11.343/2006, o inquérito policial será concluído no prazo
de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Nos termos do
parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.

Na Justiça Federal, estando o acusado preso, a prazo para a conclusão do inquérito


policial será de 15 dias, prorrogável por mais 15 dias (art.66 da lei 5010/66).

1.9) INDICIAMENTO

Indiciamento é a imputação a alguém, no inquérito policial, da prática do ilícito penal,


sempre que houver razoáveis indícios de sua autoria.

Deve resultar da concreta convergência de indícios que apontam determinada pessoa


ou determinadas pessoas como praticantes de fatos ou atos tidos pela legislação penal em vigor
como típicos, antijurídicos e culpáveis.

O indiciado no inquérito também pode ser conduzido coercitivamente para ser


interrogado. Não está, entretanto, obrigado a responder as perguntas que lhe forem feitas pois é
um direito individual assegurado pela CF vigente o de permanecer calado (art. 5º, LXIII, CF/88).

Deve ainda a autoridade policial ordenar a identificação do indiciado “pelo processo


dactiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes” ( art. 6º, VIII ).

1.10) DEVERES DA AUTORIDADE POLICIAL – Art. 13

Além das referidas nos arts. 6º e 7º do CPP, à autoridade policial incumbe outras
providências, referidas no art.13.

Em primeiro lugar, deve “fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias


à instrução e julgamento dos processos” ( inc. I ).

Deve, ainda, “realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo MP” ( inc. II).

As requisições, que podem ser apresentadas à autoridade policial a qualquer momento,


antes, durante ou após o inquérito, são ordens a que ela está obrigada a atender, ainda quando não
lhe pareça adequadas.
Compete ainda à autoridade policial “cumprir os mandados de prisão expedidos pelas
autoridades judiciárias” ( inc. III ), incluindo-se aqui os mandados referentes às prisões provisórias
ou decorrentes de condenação transitada em julgado a pena privativa de liberdade.

Cabe-lhe ainda “representar acerca da prisão preventiva” (inc. IV).

Assim, estando presentes, a seu critério, os pressupostos previstos nos arts. 312 e 313
do CPP, deve representar para a decretação da prisão preventiva, fundamentando o pedido sobre
a necessidade ou conveniência da medida cautelar.

1.11) REQUERIMENTO DE DILIGÊNCIAS – Art. 14

Apesar de ser o inquérito policial um procedimento inquisitivo, em que não vigora o


princípio do contraditório, possibilita a lei que o indiciado requeira diligência para esclarecimento do
fato, em seu benefício.

A mesma faculdade é concedida ao ofendido.

Diante do dispositivo também é possível a ambos requerer a juntada aos autos do


inquérito de documentos relativos ao fato e à prova dele e de suas circunstâncias. Cabe, entretanto,
à autoridade policial, segundo seu critério, deferir ou não tais requerimentos.

1.12) ARQUIVAMENTO – Art. 17

Ainda que provada a inexistência do fato ou que não se tenha apurado a autoria do ilícito
penal, a autoridade policial não pode mandar arquivar o inquérito (Art. 17). Tal providência cabe ao
juiz, a requerimento do órgão do Ministério Público (art. 28).

A autoridade policial, incumbida apenas de colher os elementos para a formação do


convencimento do titular da ação penal, não pode arquivar os autos de inquérito, pois o ato envolve,
necessariamente, a valoração do que foi colhido.

Faltando a justa causa, a autoridade policial pode deixar de instaurar o inquérito, mas,
uma vez feito, o arquivamento só se dá mediante decisão judicial, provocada pelo Ministério Público,
e de forma fundamentada, em face do princípio da obrigatoriedade da ação penal.

Nos termos do artigo 28 do CPP, se o juiz discordar do pedido de arquivamento do


representante do Ministério Público, deverá remeter os autos ao procurador-geral de justiça, o qual
poderá oferecer a denúncia, designar outro órgão do Ministério Público para fazê-lo, ou insistir no
arquivamento, quando, então, estará o juiz obrigado a atende-lo.

O promotor ou procurador designado pelo procurador-geral para oferecer denúncia


estará obrigado a fazê-lo, haja vista que não atua, no caso, em nome próprio, mas no da autoridade
que o designou; ele age por delegação. Não há, portanto, qualquer ofensa ao princípio institucional
da independência funcional.

O despacho de arquivamento do inquérito é, via de regra, irrecorrível.

É inadmissível a instauração da ação penal subsidiária da pública, no caso de


arquivamento do inquérito a pedido do Ministério Público, pois aquela soe é cabível se houver
inércia do órgão ministerial.

1.13) NOVAS PESQUISAS APÓS O ARQUIVAMENTO – Art. 18

Arquivado o inquérito por falta de provas, a autoridade policial poderá, enquanto não se
extinguir a punibilidade pela prescrição, proceder a novas pesquisas, desde que surjam outras
provas, isto é, novas provas, que alterem o panorama probatório dentro do qual foi concebido e
acolhido o pedido de arquivamento.

Nesse sentido, a Súmula 524 do STF, “arquivado o inquérito policial por despacho do
juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas”.

Nada impede que novas provas modifiquem a matéria de fato, dando ensejo ao
procedimento penal.

Por isso, o Código permite que autoridade policial proceda a novas pesquisas, mesmo
após o arquivamento do inquérito (art. 18).

2) AÇÃO PENAL

2.1) CONCEITO

Ação penal é o direito de invocar-se o Poder Judiciário no sentido de aplicar o Direito


Penal Objetivo.

É o direito de agir exercido perante juízes e tribunais, invocando a prestação


jurisdicional, que, na esfera criminal, é a existência da pretensão punitiva do Estado.
Segundo o critério da titularidade, as ações penais são públicas ou privadas, conforme
seja promovida pelo Ministério Público ou pela vítima e seu representante legal, respectivamente.

Dentro dos casos de ação pública, há outra subdivisão, em ação pública incondicionada
e condicionada.

Na ação pública incondicionada, o Ministério Público promoverá a ação


independentemente da vontade ou interferência de quem quer que seja, bastando, para tanto, que
concorram as condições da ação e os pressupostos processuais.

Em outras palavras, a AÇÃO PENAL É PÚBLICA INCONDICIONADA quando o seu


exercício não se subordina a qualquer requisito. Significa que pode ser iniciada sem a manifestação
de vontade de qualquer pessoa. Ex. ação penal por crime de homicídio, aborto, etc.

Na AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA, a sua atividade fica subordinada também à


manifestação de vontade do ofendido ou do seu representante legal. É o que dispõe o art. 100, §
1º, do CP.

Assim, não havendo expressa disposição legal sobre a forma de se proceder, a ação
será pública incondicionada; se houver, a ação será pública condicionada, ou então, ação privada,
conforme o caso.

2.2) AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA – Art. 24

I) TITULARIDADE

Cabe ao Ministério Público, com exclusividade, a propositura da ação penal pública, seja
ela incondicionada ou condicionada.

A CF/88 prevê, todavia, no art. 5º, LIX, uma única exceção: caso o Ministério Público
não ofereça a denúncia no prazo legal, é admitida ação penal privada subsidiária, proposta pelo
ofendido ou seu representante legal. A ressalva também está prevista no art. 29 do CPP e art. 100,
§ 3º CP.

II) PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE

Identificada a hipótese de atuação, não pode o Ministério Público recusar-se a dar início
à ação penal.
No nosso ordenamento jurídico, quanto à ação penal pública, vigora o princípio da
legalidade, ou obrigatoriedade, impondo ao órgão do MP, dada a natureza indisponível do objeto
da relação jurídica material, a sua propositura, sempre que a hipótese preencher os requisitos
mínimos exigidos. Não cabe a ele adotar os critérios de política ou utilidade social.

III) PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE – Art. 42

Significa que oferecida a ação penal, o Ministério Público dela não pode desistir.

A proibição é expressa no artigo 42 do CPP, chegando a atingir, inclusive, a matéria


recursal, pois “O Ministério Público não poderá desistir do recurso que haja interposto” (art. 576 do
CPP).

IV) PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE

Os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, independentemente de


provocação, salvo nas hipóteses em que a ação penal pública for condicionada à representação ou
à requisição do Ministro da Justiça (art. 100, § 1º, e art. 24 CPP).

V) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA

A ação só pode ser proposta contra a pessoa a quem se imputa a prática do delito.

2.3) AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

I) CONCEITO

É aquela cujo exercício se subordina a uma condição. Essa condição tanto pode ser a
manifestação de vontade do ofendido ou de ser representante legal (representação), como também
a requisição do Ministro da Justiça.

Mesmo nesses casos a ação penal continua sendo pública, exclusiva do MP.

O MP só pode dar início à ação se a vítima ou seu representante legal o autorizarem,


por meio de uma manifestação de vontade. Mais ainda: sem a permissão da vítima, nem sequer
poderá ser instaurado inquérito policial.

Todavia, uma vez iniciada a ação penal, o Ministério Público a assume


incondicionadamente, a qual passa a ser informada pelo princípio da indisponibilidade do objeto do
processo, sendo irrelevante qualquer tentativa de retratação.

Por ser exceção à regra de que todo crime se processa mediante ação pública
incondicionada, os casos sujeitos à representação ou requisição encontram-se explícitos em lei.

A ação penal pública, seja incondicionada, seja condicionada, é promovida pelo


Ministério Público por meio de denúncia, que constitui sua peça inicial (art. 100, § 1º, e art. 24 CPP).

II) NATUREZA JURÍDICA DA REPRESENTAÇÃO

A representação é a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal


no sentido de autorizar o desencadeamento da persecução penal em juízo.

A natureza jurídica da representação é a de condição de procedibilidade da ação penal


pública. Sem ela, o órgão do MP não pode iniciar a ação penal mediante o oferecimento da
denúncia.

A representação não tem forma especial, bastando a simples manifestação de vontade


da vítima de ver processado o agente.

III) TITULAR DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO – Art. 24

A representação pode ser exercida pelo ofendido ou representante legal.

Se o ofendido contar com menos de 18 anos ou for mentalmente enfermo, o direito de


representação cabe exclusivamente a quem tenha qualidade para representá-lo.

Ao completar 18 anos e não sendo deficiente mental, o ofendido adquire o direito de


representar.

Pode também ser exercido por procurador com poderes especiais (art. 39 CPP).

No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o


direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Note-se que ele não está obrigado a representar. O mesmo procedimento deverá ser
adotado se os interesses do representante colidirem com os do ofendido incapaz (art. 33 CPP).

As pessoas jurídicas também poderão representar, desde que o façam por intermédio
da pessoa indicada no respectivo contrato ou estatuto social, ou, no silêncio destes, pelos seus
diretores ou sócios-gerentes (art. 37 CPP).

IV) PRAZO

O direito de representação pode ser exercido dentro do prazo de 06 meses, contados


do dia em que o ofendido ou seu representante legal veio a saber quem é o autor do crime (art. 38
CPP).

Trata-se de prazo decadencial, que não se suspende nem se prorroga, e cuja fluência,
iniciada a partir do conhecimento da autoria da infração, é causa extintiva da punibilidade do agente
(art. 107, IV, do CP).

O prazo é contado de acordo com o art. 10 do CP, incluindo-se o dia do começo.

Ex. Suponha-se que a vítima tome conhecimento da autoria no dia 04 de janeiro. O


prazo termina no dia 3 de julho, às 24h.

O prazo decadencial não pode ser interrompido nem suspenso.

A consequência do não-exercício do direito de representação dentro do prazo legal é a


extinção da punibilidade (art. 103 e 107, IV, 2ª figura, do CP).

Cuidando-se de menor de 18 anos ou, se maior, de possuidor de doença mental, o prazo


não fluirá para ele enquanto não cessar a incapacidade (decorrente da idade ou da enfermidade).

O prazo flui, todavia, para o representante legal, desde que ele saiba quem é o autor do
ilícito penal. Quando a vítima é menor de 18 anos, portanto, o prazo para representar ou ingressar
com queixa-crime corre somente para o representante legal.

VI) IRRETRATABILIDADE – Art. 25

Nos termos dos arts. 25 do CPP e art. 102 do CP, “a representação será irretratável
depois de oferecida a denúncia”. Assim, se o ofendido exerce o direito de representação, pode
retirá-la antes de iniciar-se a ação penal com o oferecimento da denúncia.

A retratação não impede o exercício do direito de representação desde que a retratação


da retratação ocorra dentro do prazo legal.

No que diz respeito a crimes envolvendo violência doméstica ou familiar contra a mulher,
que se procedem mediante representação, como, por exemplo, o crime de ameaça (art. 147 do
CP), a renúncia à representação só será admitida perante o juiz, em audiencia especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. É o
que se extrai do artigo 16 da Lei 11340/2006.

Lembrando que nos termos da Súmula 542 STJ “A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada”

2.4) AÇÃO PENAL PRIVADA

I) CONCEITO

É aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere a legitimidade


para a propositura da ação penal à vítima ou a seu representante legal.

A ação penal privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de seu representante


legal

A peça inicial da ação penal privada é a queixa, que não se confunde com a notitia
criminis ou com o requerimento de instauração de inquérito policial.

II) PRINCÍPIOS

A) PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE OU CONVENIÊNCIA

O ofendido tem a faculdade de propor ou não a ação de acordo com a sua conveniência,
ao contrário da ação penal pública, informada que é pelo princípio da obrigatoriedade, segundo o
qual não é dado ao seu titular, quando da sua propositura, ponderar qualquer critério de
oportunidade e conveniência.

Diante disso, se a autoridade policial se deparar com uma situação de flagrante delito
de ação privada, ela só poderá prender o agente se houver expressa autorização do particular (art.
5º, § 5º, CPP).

B) PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE

Na ação privada, a decisão de prosseguir ou não até o final é do ofendido.

Por isso, é possível ao ofendido dispor do conteúdo do processo até o trânsito em


julgado da sentença condenatória, por meio do perdão ou da perempção (arts. 51 e 60,
respectivamente).

C) PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE – Art. 48

O ofendido pode escolher entre propor ou não a ação. Não pode, porém, escolher dentre
os ofensores qual irá processar. Ou processa todos, ou não processa nenhum.

O Ministério Público não pode aditar a queixa par anela incluir os outros ofensores,
porque estaria invadindo a legitimação do ofendido.

No caso, a queixa deve ser rejeitada em face da ocorrência da renúncia tácita no tocante
aos não-incluídos, pois esta causa extintiva da punibilidade se comunica aos querelados (art. 49
CPP).

D) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA

Significa que a ação penal só pode ser proposta em face do autor e do partícipe da
infração penal, não podendo se estender a quaisquer outras pessoas.

II) TITULAR – Art. 30

São o ofendido ou seu representante legal (art. 30 CPP).

Havendo concurso de crimes no qual um deles é de ação pública e o outro de ação


penal de iniciativa privada, a queixa deve ser oferecida conjuntamente com denúncia, em
litisconsórcio ativo.

III) SUCESSORES DO OFENDIDO NA AÇÃO PRIVADA – Art. 31

Se o ofendido morre ou é declarado ausente, o direito de oferecer queixa, ou de dar


prosseguimento à acusação, passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31 do
CPP), ressalvados os casos dos art. 236, parágrafo único, do CP.

A doutrina e a jurisprudência tem considerado o rol como taxativo e preferencial, de


modo que não pode ser ampliado (como, p. ex. para incluir o curador do ausente ou companheira
do ofendido).

Exercida a queixa pela primeira delas, as demais se acham impedidas de fazê-lo, só


podendo assumir a ação no caso de abandono pelo querelante, desde que o façam no prazo de 60
dias, observada a preferência do art. 36 do CPP, sob pena de perempção.

IV) PRAZO DA AÇÃO PENAL PRIVADA

O prazo para o oferecimento da queixa-crime é de 06 meses, contados a partir da data


do conhecimento da autoria do crime pelo ofendido ou seu representante legal (art. 38 CPP).

O prazo é decadencial, conforme o art. 10 do CP, computando-se o dia do começo e


excluindo-se o dia final. Do mesmo modo, não se prorroga em face de domingo, feriado e férias.

No caso de ofendido menor de 18 anos, o prazo decadencial começa a ser contado no


dia em que ele completar esta idade, e não no dia em que ele tomou conhecimento da autoria.

Assim, operada a decadência para um, o outro poderá intentar a ação penal, dentro do
prazo de 06 meses, a contar do dia em que tomou conhecimento pessoal da autoria.

No caso de morte ou ausência do ofendido, o prazo decadencial de 06 meses começará


a correr a partir da data em que qualquer dos sucessores elencados no artigo 31 tomar
conhecimento da autoria (art. 38 CPP), exceto se, quando a vítima morreu, já tinha se operado a
decadência.

Tratando-se de ação penal privada subsidiária, o prazo será de 06 meses a contar do


encerramento do prazo para o Ministério Público oferecer a denúncia (art. 29 CPP).

Convém lembrar que o pedido de instauração de inquérito não interrompe o prazo


decadencial.

O prazo decadencial é interrompido no momento do oferecimento da queixa, pouco


importando a data de seu recebimento.

2.6) AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA – Art. 29

I) Cabimento da ação privada subsidiária

A ação penal privada subsidiária é proposta nos crimes de ação pública, condicionada
ou incondicionada, quando o MP deixar de fazê-lo no prazo legal.

É a única exceção prevista na própria CF, à regra da titularidade exclusiva do MP sobre


a ação penal pública.

O ofendido ou seu representante legal tem o lapso de 06 meses para intentar a ação
penal subsidiária por meio de queixa substitutiva, contados a partir do dia em que se esgotou o
prazo para o Promotor de Justiça iniciar a ação penal pública (art. 103, in fine, do CP).

A ação penal privada subsidiária da pública só cabe quando o órgão do MP ultrapassa


inerte o prazo para o oferecimento da denúncia.

Não tem cabimento nos casos de arquivamento do IP ou das peças de informação e


quando o Promotor Público requer, tratando-se de indiciado solto, a devolução dos autos à
autoridade policial no sentido de realização de diligencias imprescindíveis para o oferecimento da
denúncia.

Portanto, a ação privada subsidiária só pode ser intentada no caso de inércia do órgão
do MP, ou seja, quando ele, no prazo que lhe é concedido para oferecer a denúncia, não a
apresenta, não requer diligência, nem pede o arquivamento.

Quanto à não-inclusão de indiciado na denúncia, não cabe a ação privada supletiva


porque a inicial pode ser aditada até a sentença.

3) DA RENÚNCIA – Art. 49

3.1) CONCEITO DE RENÚNCIA DO DIREITO DE QUEIXA

É a abdicação do ofendido ou de seu representante legal do direito de promover a ação


penal privada.

A renúncia significa desistir ou abdicar de algo. Neste contexto, demonstra que a vítima
se recusa a tomar providência contra o seu agressor, em se tratando de crime de ação penal
privada.

A RENÚNCIA SÓ É POSSÍVEL ANTES DO INÍCIO DA AÇÃO PENAL PRIVADA.


Assim, é oportuna a renúncia dentro dos seis meses previstos para o exercício da ação penal
privada (art. 103 CP).

Como decorrência natural do princípio da indivisibilidade da ação privada, a renúncia ao


exercício do direito de queixa em relação a um dos autores do crime estende-se a todos os demais.
Assim, renunciando com relação a um, beneficiados estarão os outros eventuais
coautores.

A renúncia pode ser: expressa e tácita.

A renúncia expressa consta de declaração assinada pelo ofendido, seu representante


legal ou procurador com poderes especiais, que não precisa ser advogado (art. 50 CPP).

Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade
de o ofendido ou seu representante legal iniciar a ação penal privada (art. 104, § único, 1ª parte).
Ex. praticado um crime de injúria, o ofendido convida o ofensor para ser padrinho de batismo do
seu filho, indicando com esse ato não ter vontade de contra ele oferecer queixa.

No caso de concurso de pessoas, a exclusão de um dos ofensores indica renúncia, não


podendo o Promotor de Justiça aditar a queixa para nela incluir o ofensor excluído.

Dessa forma, se três são os autores do crime de ação penal privada, cumpre ao ofendido
oferecer queixa contra todos ou nenhum. A exclusão de um importa renúncia tácita, estendendo-se
aos demais, nos termos do art. 49 do CPP.

4) PERDÃO DO OFENDIDO – Art. 51

PERDÃO é o ato pelo qual INICIADA A AÇÃO PENAL PRIVADA, o ofendido ou seu
representante legal desiste de seu prosseguimento, nos termos do art. 105, caput, do CP.

É a manifestação de vontade, expressa ou tácita, do ofendido ou de seu representante


legal, no sentido de desistir da ação penal privada já iniciada, ou seja, é a desistência manifestada
após o oferecimento da queixa.

O perdão só tem lugar na ação penal EXCLUSIVAMENTE PRIVADA.

Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública (art. 100, § 3º), a desistência
do ofendido de prosseguir com o processo não determina a extinção da punibilidade, mesmo que o
réu aceite o perdão, pois se trata de ação penal pública, DEVENDO O MP ASSUMI-LA COMO
PARTE PRINCIPAL (art. 29 do CPP).

Quando há dois ou mais querelados, O PERDÃO CONCEDIDO A UM DELES SE


ESTENDE A TODOS, sem que produza, entretanto, efeito em relação ao que o recusa (art. 51 CPP;
art. 106, I e III, CP).
Assim, havendo dois réus, o perdão aceito por um produz efeito de extinguir a
punibilidade também em relação ao outro, SALVO SE OCORRE RECUSA. Neste caso, a ação
penal continua em relação ao querelado que o recusou.

5) AÇÃO CIVIL EX DELICTO

5.1) Noções Introdutórias


Diante da prática de uma infração penal, pode-se surgir duas espécies de pretensões,
distintas entre si: a) a pretensão punitiva, ou seja, a pretensão do Estado em impor uma sanção
penal; b) a pretensão à reparação do dano que a infração penal possa ter causado à determinada
pessoa.

É nesse sentido o disposto no artigo 186 do CC e, ainda, o artigo 927 do CC.

De fato, a prática do crime origina o jus puniendi para a aplicação da sanção penal mas
também a obrigação de que o autor repare o dano pelo ilícito.

A reparação do dano por ato ilícito prevista no art. 186 do CC está regulamentada
especificamente para alguns ilícitos. EX: no caso do homicídio (art. 948 do CC); nos delitos de lesão
corporal dolosa ou culposa (art. 949).

5.2) Ação de execução ex delicto – Art. 63

a) Generalidades

Nos termos do artigo 91, inciso I, do CP, um dos efeitos da sentença penal condenatória
é “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (art. 91, inc. I). Segundo o artigo
63 do CPP “transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover- lhe a execução, no
juízo civil, para efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal e seus herdeiros”.

Diante disso, a partir da sentença penal condenatória transitada em julgado, constitui-


se um título executivo, consubstanciado no artigo 515, VI, do Novo CPC.

Nesse caso, no juízo cível discutir-se-á apenas o montante da indenização.

b) Quantificação do valor indenizatório

A partir da nova redação do artigo 387, IV, do CPP, introduzida pela Lei 11.719/2008,
poderá o juiz, já na sentença penal condenatória, fixar o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração penal, considerando os prejuízos sofridos pela vítima.

Esse arbitramento do valor mínimo pelo juiz criminal não impede, contudo, que a vítima
busque, na esfera cível, o prejuízo efetivo que julga ter sofrido em consequência da infração penal.
É o que dispõe o artigo 63, parágrafo único, do CPP.

Em outras palavras, não obstante fixado o valor mínimo indenizatório na sentença penal
condenatória (art. 387, IV, CPP), poderá a vítima ajuizar, desde logo, no juízo cível, ação de
execução ex delicto em relação ao montante fixado na sentença condenatória e, ainda, buscar a
liquidação por artigos da sentença penal condenatória, com a finalidade de quantificar o prejuízo
efetivamente sofrido com a prática criminosa.

c) Legitimação – Art. 63

A legitimação para a ação de execução “ex delicto” pertence ao ofendido, seu


representante legal ou herdeiros, nos termos do artigo 63 do CPP.

5.3) Ação civil ex delicto – Art. 64

a) Generalidades

Inexistindo sentença condenatória irrecorrível, a ação ordinária civil para reparação do


dano pode ser proposta contra o autor do crime, seu responsável civil ou seu herdeiro (art. 64 do
CPP).

Na hipótese de correrem paralelamente a ação civil e a ação penal, o juiz poderá


suspender o curso daquela até o julgamento definitivo desta (art. 64, parágrafo único, do CPP).

Procura-se com a suspensão, evitar, o quanto possível, decisões contraditórias.

A sentença cível que vier a ser prolatada, se procedente a ação, já poderá conter o valor
do dano indenizável, não se exigindo, nesse caso, previamente à execução, a fase da liquidação
da sentença.

b) Legitimação – Art. 63

Assim como na ação de execução ex delicto, a legitimação para a ação de execução


“ex delicto” pertence ao ofendido, seu representante legal ou herdeiros, nos termos do artigo 63 do
CPP.

5.4) Efeitos civis da sentença absolutória penal – Arts. 65/67

Nos termos do artigo 66 do CPP, a sentença absolutória não exerce qualquer influência
sobre o processo cível, salvo quando reconhece, expressamente, a inexistência material do fato ou
afasta categoricamente a autoria ou participação.

É nesse sentido o disposto no artigo 935 do CC, segundo o qual, a responsabilidade


civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou
quem seja o seu autor, quando essas questões se acharem decididas no juízo criminal.

6) COMPETÊNCIA

6.1) CONCEITO

Competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa os limites dentro dos quais o


juiz pode prestar jurisdição).

Conforme Renato Brasileiro, compreende-se a competência, por conseguinte, como a


medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá aplicar o direito ao
caso concreto.

6.2) ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA

A doutrina tradicional distribui a competência considerando três aspectos diferentes:

a) ratione materiae: estabelecida em razão da natureza do crime praticado.

b) ratione personae: em razão da qualidade das pessoas incriminadas;

c) ratione loci (art. 69, I e II): em razão do local em que foi praticado ou consumou-
se o crime, ou o local da residência do seu autor.

6.3) COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA

A) COMPETÊNCIA ABSOLUTA

A competência absoluta tem origem em norma constitucional, razão pela qual apresenta
como fundamento o interesse público na correta e adequada distribuição da justiça.
Diante do interesse público, essa espécie de competência é indisponível às partes e
deve ser aplicada de forma obrigatória.

Logo, essa modalidade de competência não admite modificações, sendo improrrogável.


É, aliás, o que dispõe o artigo 62 do novo CPC. Em síntese, tratando-se de competência absoluta,
não pode ser prorrogada, nem modificada pelas partes, sob pena de implicar em nulidade absoluta.

A competência absoluta tem certas características:

a) pode ser arguida a qualquer tempo, enquanto não transitar em julgado a decisão.
Todavia, em se tratando de sentença condenatória ou absolutória imprópria, as
nulidades absolutas podem ser arguidas mesmo depois do trânsito em julgado, já que existem
medidas processuais cabíveis nessas hipóteses, como a revisão criminal e o habeas corpus.

b) o prejuízo é presumido

Considerando que tem origem em norma constitucional, a inobservância da


competência absoluta importará em atentado a preceito constitucional, derivando daí o prejuízo.

Ou seja, verificando-se hipótese de incompetência absoluta, deve o processo ser


anulado desde o início.

São exemplos de competência absolutas: a) competência em razão da matéria (Ex:


competência da Justiça Federal, Militar, Eleitoral, Estadual, etc); b) competência por prerrogativa de
função; 3) competência funcional.

Assim, por exemplo, no caso da jurisdição comum e especial, dos juízes superiores e
inferiores (competência originária e competência recursal) e segundo a natureza da infração penal,
a competência é fixada muito mais por imposição de ordem pública, do que no interesse de uma
das partes.

B) COMPETÊNCIA RELATIVA

No caso de competência de foro (territorial), porém, o legislador pensa


preponderantemente no interesse de uma das partes.

Costuma-se falar, nesses casos, em competência relativa, prorrogável, capaz de gerar,


no máximo, se comprovado prejuízo, nulidade relativa.
As características da competência relativa são: a) deve ser arguida oportunamente, que,
no caso, deve ser no prazo da resposta à acusação (art. 396-A do CPP), sob pena de preclusão; b)
o prejuízo deve ser comprovado.

São exemplos de competências relativas: a) competência territorial; b) competência por


prevenção (Súmula 706 do STF); c) competência por distribuição; d) competência por conexão ou
continência.

6.4) MOMENTO DA ARGUIÇÃO DA INCOMPETÊNCIA

A exceção de incompetência está prevista no artigo 95, inciso II, do CPP, podendo ser
oposta no prazo de defesa, que é de 10 dias a contar da efetiva citação (art. 396-A do CPP).

A incompetência absoluta pode ser arguida a qualquer tempo, inclusive após o trânsito
em julgado da sentença penal, se for contra o réu.

6.5) CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA

Não sendo hipótese de foro por prerrogativa da função, deve-se estabelecer critério
para fixação da competência. Nesse particular, pode-se adotar os seguintes passos, que devem
ser seguidos de forma articulada:

I) Identificar qual a Justiça Competente

II) Identificar o foro competente

III) Identificar o Juízo competente

Em relação à matéria, existe, basicamente, as de competência das Justiças Especiais


(Justiça Militar e Justiça Eleitoral) e da Justiça Comum (Federal e Estadual).

Nesse sentido, em primeiro lugar, deve-se verificar se o crime é da Justiça Especial


Militar; num segundo momento, se não for da competência da Justiça Militar, analisar se é da
competência da Justiça Eleitoral; para somente ao final, em não sendo da competência de
nenhuma das justiças especializadas, passar à análise se é da competência da Justiça Comum
Federal ou Estadual.

6.6) COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL


A competência da Justiça Federal é residual em relação às especiais; prevalece, por
outro lado, sobre a Justiça Estadual, nos termos do art. 78, III, do CPP e Súmula 122 do STJ.

Nos termos do artigo 109, IV, da Constituição Federal, é da competência da Justiça


Federal os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da união ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da justiça militar e da justiça eleitoral.

Assim, qualquer delito que atinja bens jurídicos de interesse da união será da
competência da Justiça Federal.

Não abrange as contravenções. Dispõe-se a súmula do STJ, no enunciado 38:


“compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União
ou de suas entidades”.

Há que se ressaltar o previsto na Súmula 147 do STJ no sentido de que é competente


a Justiça Federal para processar e julgar os crimes praticados contra funcionário federal, quando
relacionados com o exercício da função.

Evidentemente, por lesarem serviços da União, são também da competência da


Justiça Federal os crimes praticados por funcionários federais no exercício da função.

Por se limitar o art. 109, IV, da CF, às autarquias e empresas públicas, assentou-se no
STJ que “compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento” (súmula 42).

Por isso, não são da competência da Justiça Federal, mas da Justiça Estadual, os
crimes praticados contra o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Crédito Cooperativo, a Rede
Ferroviária Federal etc.

Por força da CF, compete ainda à Justiça Federal o processo e julgamento dos “crimes
previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o resultado
tenha ou devesse Ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente” (art. 109, V).

Ex: Súmula 522 do STF: “Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando, então, a
competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o processamento dos crimes
relativos a entorpecentes”.
Estipula o parágrafo 5º que nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal

Nesta hipótese, o deslocamento de um crime para a Justiça Federal somente deve


dar-se quando realmente houver grave violação de direitos humanos, de caráter coletivo (como,
por exemplo, um massacre produzido por policiais contra vários indivíduos).

Tal medida teria a finalidade de assegurar o desligamento do caso das questões locais,
mais próprias da Justiça Estadual, levando-o para a esfera federal, buscando, inclusive, elevar a
questão à órbita de interesse nacional e não somente regional.

6.7) JUSTIÇA ESTADUAL

É a competência mais residual de todas, pois o crime somente será julgado na Justiça
Estadual quando não for da competência da Justiça Especial (Militar ou Eleitoral) e da Justiça
Comum Federal.

A propósito, havendo conflito entre a Justiça Comum Federal e Estadual, prevalece a


Justiça Federal, nos termos do art. 78, III, CPP e Súmula 122 do STJ.

Súmula 122 do STJ: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado


dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a",
do Código de Processo Penal.”

6.8) COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Depois de estabelecida a competência da Justiça, ou seja, se se trata da competência


da Justiça Militar, Eleitoral, Federal ou Estadual, deve-se verificar qual o juízo tramitará o processo,
mediante a fixação da competência territorial, também chamada competência de foro.

Trata-se de competência relativa, já que há interesse preponderantemente das partes,


podendo, pois, ser modificada (prorrogada), seja por meio da conexão ou continência, seja por
vontade das partes, pela não oposição de exceção de incompetência.
6.9) DETERMINAÇÃO DO FORO COMPETENTE

Estabelecida a Justiça competente, deve-se, agora, proceder à análise do foro


competente, que se traduz na competência em razão do lugar, valendo-se das regras dos artigos
70 e 71 do CPP.

Para a determinação da competência lugar do crime é o lugar da consumação, ou


seja, onde terminam por se reunir todos os elementos da definição do crime.

No caso de tentativa, a competência é determinada “pelo lugar em que for praticado


o último ato de execução” (art. 70, caput, Segunda parte).

6.10) COMPETÊNCIA CRIME CONTINUADO E PERMANENTE – Art. 71

Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas


ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção (art. 71).

6.11) COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU – Art. 72, 73

Duas são as hipóteses em que, não ocorrendo hipótese de fixação por outra razão,
determina-se para o processo penal o forum domicilli.

A primeira delas encontra-se no art. 72, caput: Não sendo conhecido o lugar da
infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.

A Segunda hipótese refere-se à ação privada exclusiva, em que o querelante


poderá preferir o foro do domicílio ou residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da
infração (art. 73, caput).

Não sendo possível a aplicação das regras acima mencionadas por não ter o réu
domicílio ou residência certa, sendo ignorado o seu paradeiro, é competente o juiz que primeiro
tome conhecimento do fato (art. 72, § 2º).

6.12) CAUSAS MODIFICADORAS DA COMPETÊNCIA (CONEXÃO OU CONTINÊNCIA)

I) COMPETÊNCIA POR CONEXÃO – Art. 76

A conexão existe quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um


vínculo, um nexo, um liame que aconselha a junção dos processos, propiciando, assim, ao
julgador perfeita visão do quadro probatório.

São efeitos da conexão: a reunião das ações penais em um mesmo processo e a


prorrogação da competência.

A) CONEXÃO INTERSUBJETIVA – Art. 76, I

* CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR SIMULTANEIDADE

Diante da primeira parte do art. 76 (CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR


SIMULTANEIDADE), há conexão se, ocorrendo duas ou mais infrações, “houverem sido
praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas”. NÃO HÁ LIAME PSICOLÓGICO.

Ex. o exemplo clássico é o de diversos assistentes de um jogo de futebol,


ocasionalmente reunidos, praticarem depredações no estádio.

* CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR CONCURSO


Pelo art. 76, I, 2ª parte, há conexão se as infrações forem praticadas “por várias
pessoas em concurso, embora diverso o tempo e lugar”. É a hipótese de concurso de pessoas
em várias infrações.

* CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR RECIPROCIDADE

Pelo art. 76, I, última parte, há conexão se os crimes forem praticados “por várias
pessoas, umas contra as outras”. EX: agressões entre componentes de dois grupos de pessoas
em um baile. Ex2: É o caso da rixa.

B) CONEXÃO OBJETIVA, LÓGICA OU MATERIAL: Art. 76, II

Nos termos do artigo 76, II, a competência é determinada pela conexão se, no caso de
várias infrações, “houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas”.

* CONEXÃO INSTRUMENTAL OU PROBATÓRIA – Art. 76, III

II) COMPETÊNCIA POR CONTINÊNCIA – Art. 77

Diz que há continência quando uma coisa está contida em outra, não sendo possível
a separação.
A) CONTINÊNCIA EM RAZÃO DO CONCURSO DE PESSOAS – Art. 77, I

Justifica-se a junção de processos contra diferentes réus, desde que eles tenham
cometido o crime em conluio, com unidade de propósitos, tornando único o fato a ser apurado.
Difere da conexão por concurso, porque nesta há vários agentes praticando vários fatos.

B) CONTINÊNCIA EM RAZÃO DO CONCURSO FORMAL DE CRIMES – Art. 77, II

O art. 70 refere-se ao concurso formal de crimes, em que, com uma mesma conduta
o agente pratica dois ou mais crimes.

O art. 73, 2ª parte refere-se ao erro de execução (aberratio ictus), em que, por acidente
ou erro no uso dos meios de execução, o agente, além de atingir a pessoa que pretendia ofender
lesa outra.

O art. 74, 2ª parte, refere-se ao resultado diverso do pretendido (aberratio criminis),


em que fora da hipótese anterior, o agente além do resultado pretendido, causa outro.

Em todos os casos, está-se diante de concurso formal, razão pela qual, na essência,
o fato a ser apurado é um só, embora existam dois ou mais resultados.

III) FORO PREVALENTE

A) COMPETÊNCIA PREVALENTE DO JÚRI – Art. 78, I

Dispõe o art. 78, I: “no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da
jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri”.

STF Súmula nº 721 – “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece


sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.”

B) JURISDIÇÃO DA MESMA CATEGORIA – Art. 78, II

Considera-se jurisdição da mesma categoria aquela que une magistrados aptos a


julgar o mesmo tipo de causa.

Ocorre, porém, que pode haver um conflito real entre esses magistrados. Ex: furto e
receptação (conexão instrumental). Cada inquérito foi distribuído a um juiz diferente. Havendo
conexão instrumental, torna-se viável que sejam julgados por um único juiz.
Como ambos são de idêntica jurisdição, estabelecem-se regras para escolha do foro
prevalente:

B.1) FORO ONDE FOI COMETIDA A INFRAÇÃO MAIS GRAVE

Tendo em vista que o primeiro critério de escolha é o referente ao lugar da infração, é


possível que existam dois delitos sendo apurados em foros diferentes, tendo em vista que as
infrações originaram-se em locais diversos (como no furto e receptação).

Assim, elege-se qual é o mais grave para a escolha do foro prevalente: se for um furto
qualificado e uma receptação simples, fixa-se o foro do furto (pena mais grave) como o
competente.

B.2) FORO ONDE FOI COMETIDO O MAIOR NÚMERO DE INFRAÇÕES

Ex: Imagine-se que três furtos simples estejam sendo apurados em Santa Cruz,
enquanto uma receptação simples – referente aos três furtos (três carros) - esteja tramitando na
Comarca de Venâncio Aires. Embora a pena do furto e da receptação sejam idênticas, o
julgamento dos quatro crimes deve ser realizado em Santa Cruz, que possui o maior número de
infrações.

B.3) FORO RESIDUAL ESTABELECIDA PELA PREVENÇÃO

Neste caso, havendo magistrados de igual jurisdição em confronto e não sendo


possível escolher pela regra da gravidade do crime (ex: furto simples e receptação simples), nem
pelo número de delitos (ambas as comarcas possuem um só feito), elege-se o juiz pela
prevenção, isto é, aquele que primeiro conhecer de um dos processos torna-se competente
para julgar ambos, avocando da Comarca ou Vara vizinha o outro.

6.13) COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Determinadas pessoas, por exercerem funções específicas, possuem a


prerrogativa de serem julgadas originariamente por determinados órgãos. Trata-se de foro por
prerrogativa da função exercida e não privilégio da pessoa.

Importante atentar acerca de decisão recente do STF, a qual trouxe


alterações significativas ao firmar o entendimento de que o foro por prerrogativa de função conferido
aos deputados federais e senadores se aplica apenas a crimes cometidos no exercício do cargo e em
razão das funções a ele relacionadas. Ainda, o relator da respectiva Ação Penal (AP 937), ministro
Luís Roberto Barroso, estabeleceu que, após o final da instrução processual, com a publicação do
despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar
ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar
o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.

Passa-se, agora, à análise de algumas hipóteses de foro por prerrogativa de


função:

6.13.1) COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

O STF já firmou entendimento de que a expressão “infrações penais comuns” do art.


102, I, “b” e “c” abrange todas as modalidades de infrações penais, inclusive os crimes eleitorais,
militares e as contravenções penais.

Ao STF compete processar e julgar originariamente, nas infrações penais comuns, o


Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios
Ministros e o Procurador-Geral da República;

Enquanto não sobrevier decisão condenatória, o presidente não estará sujeito à


prisão.

6.13.2) COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Compete ao STJ processar e julgar originariamente, nos crimes comuns, incluindo


crimes eleitorais e militares, os governadores dos Estados e do Distrito Federal.

6.13.3) COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

Aos Tribunais Regionais Federais competem processar e julgar originariamente os


juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho,
nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

Na parte final do artigo 108, inciso I, “a”, contém a ressalva em relação aos crimes
eleitorais, de modo que, se um desses agentes praticar um crime eleitoral, será julgado pelo
Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
6.13.4) COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA

Nos termos do artigo 96, inciso III, da CF/88, compete aos Tribunais de Justiça dos
Estados julgar juízes estaduais e do Distrito Federal, bem como dos membros do Ministério Público
dos Estados. Contudo, a Constituição faz expressa ressalva à Justiça Eleitoral, de modo que, se
qualquer desses agentes praticar crime eleitoral, será julgado no TRE.

Os magistrados e os membros do MP devem ser julgados pelo Tribunal ao qual estão


vinculados, pouco importando a natureza do crime que cometam (se federal ou doloso contra a
vida) e o lugar da infração, seguindo-se a competência estabelecida na Constituição Federal.

Assim, caso um juiz estadual cometa um delito de competência da justiça federal será
julgado pelo TJ do seu Estado.

O mesmo se dá com o juiz federal que cometa um crime da esfera estadual: será
julgado pelo TRF da sua área de atuação.

Frise-se que pouco importa o lugar da infração penal. Se um juiz estadual de São Paulo
cometer um delito no Estado do Amazonas, será julgado pelo TJ de São Paulo.

Em se tratando de crime de competência do Tribunal do Júri continua prevalecendo a


competência por prerrogativa de função, pois também prevista na Constituição Federal.

6.13.5) COMPETÊNCIA PARA JULGAR PREFEITOS

Se o prefeito cometer um crime de competência de Justiça Comum Estadual, será


julgado no Tribunal de Justiça, mesmo na hipótese de crime doloso contra a vida, cuja competência
é do Tribunal do Júri.

Contudo, se praticar um crime eleitoral, será julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral
(TRE).

Se o delito for de competência da Justiça Federal será julgado pelo Tribunal Regional
Federal (TRF).

É o que se extrai da Súmula 702 do STF: “A competência do Tribunal de Justiça para


julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça Comum Estadual; nos demais
casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau”.

Ver, ainda, as Súmulas 208 e 209 do STJ.

6.13.6) PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E CONCURSO DE PESSOAS

Se um agente que não detém prerrogativa comete crime comum junto com agente com
prerrogativa de função, o processo será reunido para julgamento simultâneo. Assim, mesmo que
não tenha foro por prerrogativa de função, o particular passará a tê-lo por extensão, cabendo ao
Tribunal competente o julgamento dos dois agentes.

É o que dispõe a Súmula 704 do STF: “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla
defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu
ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”.

6.13.7) FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E TRIBUNAL DO JÚRI

Compete sempre ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121,
§ 1º, 121, § 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do CP, consumados ou tentados
(ART. 74, § 1º).

Súmula 603 do STF “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do


juiz singular e não do Tribunal do Júri”.

Dispõe ainda a lei que, se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra
atribuída à competência do juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410 (ATUAL 419) (art.
74, § 3º, 1ª parte).

Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da


existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não
for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja.
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)

Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição


deste ficará o acusado preso. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Quando a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, em decorrência


das respostas aos quesitos pelos jurados, não prevalece a regra e ao presidente cabe proferir a
sentença em seguida (arts. 74, § 3º, 2ª parte, e 492, § 2º).
Não obstante a competência do júri estar prevista na Constituição Federal, se a
prerrogativa de função também estiver prevista na Constituição Federal, prevalece a prerrogativa
de função, porquanto, em sendo ambas as competências constitucionais, prevalece a jurisdição
superior do tribunal.

Se a prerrogativa de função estiver prevista em Constituição Estadual ou lei ordinária,


prevalece a competência do Tribunal do Júri, por estar prevista na Constituição Federal.

É nesse sentido a Súmula 721 do STF, que tem a mesma redação da Súmula
Vinculante nº 45 do STF: “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.”

07) DA PROVA

7.1) CONCEITO

Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade
de comprovar a verdade de uma alegação.

É o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinado pelo juiz visando à


formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstancias.

7.2) SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS –ART. 155

O juiz deve lastrear a sua convicção em provas produzidas sob o crivo do contraditório,
não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos trazidos da investigação,
mormente a policial, que constitui a maior parte dos procedimentos preparatórios da ação penal.

a) SISTEMA DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO

O CPP adotou, como regra, o do livre convencimento do juiz, fundamentado na prova

produzida sob o contraditório judicial (art. 155, caput, CPP), embora remanesçam exceções com
resquícios dos sistemas da íntima convicção e da prova tarifada.

b) SISTEMA DA ÍNTIMA CONVICÇÃO:

É adotado nos julgamentos afetos ao Tribunal do Júri: Os jurados não estão vinculados
às provas existentes no processo e não precisam fundamentar a decisão, podem decidir com base
em critérios subjetivos. (art. 593, III, e §3°, CPP).

c) SISTEMA DA PROVA TARIFADA, DA VERDADE LEGAL OU DA CERTEZA MORAL DO


LEGISLADOR

A lei estabelece o valor de cada prova, impede poder discricionário do juiz para decidir
contra a previsão legal.

Ex: art. 62 CPP - extinção da punibilidade pela morte do réu exige certidão óbito.

7.3) PROVAS ILEGAIS, VEDADAS OU PROIBIDAS:

A Constituição em seu artigo 5°, inciso LVI, consagrou a regra da inadmissibilidade das
provas ilícitas. Neste sentido, a doutrina majoritária sempre traçou uma diferenciação da prova ilícita
(obtida com violação a uma regra de direito material) e a prova ilícita (obtida com violação ao uma
regra de direito processual.

a) PROVAS ILÍCITAS (art. 157 CPP): violação de regras direito material, produzindo
reflexos diretos ou indiretos em direitos e garantias constitucionais.

Ex: interceptação telefônica e busca e apreensão sem ordem judicial, violação carta
lacrada, grampo, coação em interrogatório policial (afrontamento direito ao art. 5°, X, XI, XII, e
LXIII, CF).

Outros casos de afrontamento indireto à CF: interrogatório judicial de réu sem a


presença de advogado ou sem prévia entrevista reservada com defensor (art. 185 CPP e art. 5°, LV,
CF) e mediante coação (art. 186 CPP).

Consequências do uso de provas ilícitas (art. 157 CPP): desentranhamento e, uma vez
preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada,
podendo as partes acompanhar o incidente.

b) PROVAS ILEGÍTIMAS:

São aquelas produzidas a partir da violação de normas de natureza eminentemente


processual.
Ex: perícia por apenas um perito não-oficial - art. 159, §1°; reconhecimento judicial do
réu sem observância das formalidades do art. 226 do CPP; extinção da punibilidade sem juntada de
certidão óbito - art. 62 CPP.

C) PROVAS ILÍCITAS POR DERIVAÇÃO E A TEORIA DOS “FRUTOS DA ÁRVORE


ENVENENADA” (ART. 157, §§1º E 2)

As denominadas provas ilícitas por derivação dizem respeito àquelas provas em si


mesmas lícitas, mas a que se chegou por intermédio da informação obtida por prova ilicitamente
colhida.

É o caso da confissão extorquida mediante tortura, que venha a fornecer informações


corretas a respeito do lugar onde se encontra o produto do crime, propiciando a sua regular
apreensão. Esta última prova, a despeito de ser regular, estaria contaminada pelo vício na origem.

Outro exemplo seria o da interceptação telefônica clandestina – crime punido com pena
de reclusão de dois a quatro anos, além de multa (art. 10 da Lei 9296/96) – por intermédio da qual
o órgão policial descobre uma testemunha do fato que, em depoimento regularmente prestado,
incrimina o acusado. Haveria, igualmente, ilicitude por derivação.

7.4) DAS PERÍCIAS – Art. 158

A) Do exame de corpo de delito

Exame de corpo de delito direto: é feito sobre o próprio corpo de delito – o cadáver, a
janela arrombada, a chave utilizada.

Exame de corpo de delito indireto: advém de um raciocínio dedutivo sobre um fato


narrado por testemunhas, sempre que impossível o exame direto.

B) Indispensabilidade do exame de corpo de delito Art. 158 e 167

A falta de exame de corpo de delito enseja a ocorrência de nulidade. Sendo possível o


exame de corpo de delito direto, não pode supri-lo o indireto (feita, por exemplo, através de prova
testemunhal).
O art. 167 do CPP cuida de hipótese diversa, qual seja, a do desaparecimento de todos
os vestígios, principais e periféricos. Neste caso, pode a prova testemunhal suprir-lhe a falta.

C) Do perito – Art. 159

O perito é um auxiliar da justiça, devidamente compromissado, entranho às partes,


portador de um conhecimento técnico altamente especializado e sem impedimentos ou
incompatibilidades para atuar no processo.

É considerado oficial quando investido na função por lei e não pela nomeação feita pelo
juiz, ou seja, quando, após o regular concurso de provas e títulos, vem a ser nomeado e investido
no cargo de perito. Daí a desnecessidade de esse perito prestar compromisso nos processos e
investigações em que atua.

O art. 159 expressamente exige apenas “um perito oficial”, portador de diploma de curso
superior.

Não havendo perito oficial, “o exame será realizado por duas pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior, preferencialmente na área específica dentre as que tiverem
habilitação técnica relacionada com a realização do exame”.

7.5) DO INTERROGATÓRIO

É o ato judicial no qual o juiz ouve o acusado sobre a imputação contra ele formulada.

Durante o curso do processo penal, que segue até o trânsito em julgado da decisão, a
autoridade judiciária de 1º ou 2º grau, a qualquer momento, fora do instante próprio, que é o da
realização da audiência de instrução e julgamento, pode ouvir o réu.

A presença do defensor durante o interrogatório, do início ao fim, é obrigatória, sob pena


de nulidade, nos termos do art. 185, caput, e § 1º, do CPP.

O interrogatório do réu preso passa a ser realizado, em regra, no estabelecimento penal


em que se encontrar o acusado, e não mais no fórum.

Não sendo possível receber o juiz e as partes no presídio, por falta de condições
indispensáveis, continua-se a realizar o interrogatório nos moldes das demais audiências, ou seja,
no fórum, requisitando-se a apresentação do réu.

O § 5º do art. 185 realça mais ainda o princípio constitucional da ampla defesa. Antes
de o Magistrado proceder ao interrogatório, deverá assegurar ao réu o direito de, reservadamente,
entrevistar-se com o seu Defensor.

A lei processual estabelece ao acusado a possibilidade de confessar, negar, silenciar ou


mentir.

Ao réu é dado silenciar-se apenas em relação ao interrogatório de mérito (art. 187, §


2º, CPP).

A prerrogativa do direito ao silêncio não se aplica sobre a primeira parte do interrogatório


(art. 187, § 1º), que cuida da identificação do réu, já que nesse momento não há espaço para
qualquer atividade de cunho defensivo.

Neste ponto, o vício maior do interrogatório é a falta de informação sobre o direito de o


indiciado ou acusado permanecer calado. Com efeito, o interrogatório do acusado ou mesmo suas
declarações espontâneas perante o órgão estatal somente são válidos desde que tenha havido
informação sobre a faculdade de calar.

7.6) DA CONFISSÃO

A) Conceito

É a declaração voluntária, feita por um imputável, a respeito de fato pessoal e próprio,


desfavorável e suscetível de renúncia.

B) Valor probatório da confissão – Art. 197

A confissão não tem força probatória absoluta. Por isso mesmo dispõe o CPP, no art.
197, que o valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova,
e para a sua apreciação o Juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando
se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.

C) Silêncio como elemento para o convencimento do juiz – Art. 198

A parte final do art. 198 não foi recepcionada pela CF/88, que, expressamente, conferiu
ao réu a possibilidade de manter-se calado (art. 5º, LXIII), sem estabelecer qualquer consequência
dessa opção, razão pela qual não pode a lei ordinária fixar conteúdo diverso.

7.7) DO OFENDIDO – Art. 201

Ofendido ou vítima é o sujeito passivo da infração, ou seja, é a pessoa que teve


diretamente o seu interesse ou bem jurídico violado pela prática da infração penal.

Uma vez intimado a prestar declarações, se o ofendido deixar de atender ao


chamamento, sem motivo justo, poderá a autoridade mandar conduzi-lo à sua presença.

A palavra do ofendido deve ser aceita com reservas, devendo o juiz confrontá-la com os
demais elementos de convicção, por se tratar de parte interessada no desfecho do processo.

Em certos casos, porém, é relevantíssima a palavra da vítima do crime. Assim, naqueles


crimes clandestinos, como, por exemplo, crimes contra a dignidade sexual, que se cometem longe
dos olhares de testemunhas, a palavra da vítima é relevante meio de prova.

7.8) PROVA TESTEMUNHAL

A) Conceito

É a pessoa que declara ter tomado conhecimento de algo, podendo, pois confirmar a
veracidade do ocorrido, agindo sob o compromisso de estar sendo imparcial e dizendo a verdade.

B) Capacidade para ser testemunha – Art. 202

No processo penal toda pessoa poderá ser testemunha. Assim, nada impede que uma
criança de 08 anos compareça em juízo para depor sobre fatos a que, porventura, tenha assistido.

C) Obrigação de depor – Art. 206

A própria lei impõe à testemunha o dever de testemunhar. Não se trata de um direito,


mas de uma obrigação, passível de punição em caso de negativa.

De outro lado, autoriza a lei escapem determinadas pessoas da obrigação de depor e,


consequentemente, de falar a verdade do que sabem a respeito de fatos relevantes do processo.
São indivíduos vinculados intimamente ao réu, dos quais não se pode exigir o esforço sobre- humano
de deferirem a quem amam.

É verdade que o art. 206, na sua parte final, acentua que quando não for possível por
outros modos obter-se ou integrar-se as provas do fato ou de sua circunstância, não poderá o
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão eximir-se da obrigação de depor. A relevância do
interesse público sobrepõe-se às relações de família.

D) Proibição de depor – Art. 207

Não se trata, neste caso, de mera faculdade ou direito, mas de imposição legal a
determinadas pessoas, que, em razão da sua qualidade, não podem prestar depoimento, nem
declarações. O sigilo lhes é exigência, em nome de interesses maiores, igualmente protegidos pela
norma processual penal.

E) Impedimento legal para o compromisso – Art. 208

O juramento de dizer a verdade, que comprova o perfil de testemunha não será realizado
no tocante aos doentes e deficientes mentais, aos menores de 14 anos e às pessoas referidas no
art. 206 (o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, mesmo que separado, o
irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado). Se for indispensável ouvir qualquer um deles,
será inquirido como mero informante.

F) Perguntas diretas às testemunhas – Art. 212

Quanto às perguntas das partes (denominadas reperguntas na prática forense), em lugar


de passarem pela intermediação do juiz, serão dirigidas diretamente às testemunhas.

G) Videoconferência Art. 217

Abriu-se a hipótese de retirar o acusado da sala, colocando-o em outro local, de onde


pudesse acompanhar os trabalhos por meio da videoconferência. Ou mesmo deixar o acusado na
sala e a testemunha prestar o depoimento de outro lugar, por videoconferência.

H) Não comparecimento após regular intimação – Art. 218

Ninguém se exime de colaborar com o Poder Judiciário, razão pela qual, se foi a
testemunha intimada a tempo e pessoalmente, não pode deixar de comparecer ao fórum para ser
ouvida.

Ausente, sem razão plausível pode o magistrado requisitar a sua apresentação à


autoridade policial ou determinar que o oficial de justiça a conduza coercitivamente à sua presença,
ainda que necessite se valer de força policial.

7.9) DOCUMENTOS

A) Conceito – Art. 232

É toda base materialmente disposta a concentrar e expressar um pensamento, uma ideia


ou qualquer manifestação de vontade do ser humano, que sirva para expressar e provar um fato ou
acontecimento juridicamente relevante.

São documentos, portanto, escritos, fotos, fitas de vídeo e som, desenhos, esquemas,
gravuras, disquetes, CDs, e-mails.

B) Valoração do documento

Para que seja considerado efetivo meio de prova, ensina a doutrina dever ser o
documento apresentado, no processo, por inteiro – sem fragmentações que possam comprometer
o seu sentido – livre de defeitos ou vícios – sem rasuras, borrões ou emendas, tornando-o suspeito
e inteligível – compreensível por quem o visualiza.

C) Momento para a apresentação – Art. 231

Qualquer fase admite a juntada de documentos, sempre se providenciando a ciência das


partes envolvidas, exceto quando a lei dispuser em sentido diverso.

Empregando o legislador a expressão “salvo os casos previstos em lei” admitiu exceções


a essa regra. Em virtude da Lei nº 11.689/2008 restou uma exceção: a do art. 479 e respectivo
parágrafo.

D) Limitação da produção de prova documental – Art. 233

O juiz não pode admitir a juntada de cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
meios criminosos.
Da mesma forma, de acordo com o art. 5º, LVI, da CF/88, nenhum documento, ou
qualquer outro meio de prova, obtido ilicitamente pode ser admitido em juízo.

Na esteira da CF, o art. 157, §§ 1º a 3º, do CPP, também passou a prever a


inadmissibilidade das provas ilícitas e derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras, prevendo, inclusive, o seu desentranhamento do processo e inutilização
por decisão judicial, facultando às partes acompanhar o incidente.

7.10) DA BUSCA E APREENSÃO

A) Conceito

Busca significa o movimento desencadeado pelos agentes do Estado para a investigação,


descoberta e pesquisa de algo interessante para o processo penal, realizando-se em pessoas ou
lugares.

Apreensão é medida assecuratória que toma algo de alguém ou de algum lugar, com a
finalidade de produzir prova ou preservar direitos.

B) Momentos para a sua realização

Podem ocorrer, tanto a busca, quanto a apreensão, em fase preparatória a um


procedimento policial ou judicial (como ocorre quando, por fundada suspeita, um policial aborda
alguém, encontra uma arma proibida, detendo a pessoa e apreendendo o objeto), durante a
investigação policial, com ou sem inquérito (por vezes, após o registro de uma ocorrência e, antes
mesmo da instauração do inquérito, a autoridade policial realiza uma busca e apreensão), durante
a instrução do processo judicial e ao longo da execução penal.

C) Fundamento e proteção constitucional – Art. 240

Preceitua o art. 5º, XI, da CF que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

Conforme Ada, no âmbito criminal, a respeito da busca domiciliar interessam dois pontos:
a) ela será possível, em qualquer hora, quando houver situação de flagrância ou quando haja
necessidade de prestar socorro à vítima de algum delito; b) fora dessas hipóteses, só será admitida
durante o dia com mandado judicial.

D) Busca domiciliar – Art. 240, § 1º

À palavra casa dá-se sentido abrangente para compreender: I. Qualquer compartimento


habitado; II. Aposento ocupado de habitação coletiva; III. Compartimento não aberto ao público,
onde alguém exerce profissão ou atividade (art. 150, § 4º, do CP).

A busca pessoal dispensa mandado judicial.

G) Busca com mandado – Art. 243

Se a busca não for realizada pessoalmente pela autoridade judiciária, haverá necessidade
indeclinável da expedição do competente mandado, cuja feitura deverá obedecer ao disposto no art.
243, I, II, III, e § 1º, do CPP.

O CPP, no § 2º do art. 243, salienta, apenas, não ser permitida a apreensão de


documento em poder do Defensor do réu, sendo, entretanto, possível a apreensão desse documento
quando constituir elemento de corpo de delito.

I) Busca domiciliar durante o dia – Art. 245


A busca domiciliar durante o dia é a regra estabelecida não somente pelo CPP, mas pela
CF (art. 5º, XI). Entretanto, pode o morador admitir que a polícia ingresse em seu domicílio, durante
a noite, para realizar qualquer tipo de busca, embora, como já analisado anteriormente, o
consentimento deva ser expresso e efetivo.

Sem mandado judicial, ausente o flagrante, ou com mandado judicial, ausente o


flagrante, mas à noite, somente pode ingressar a polícia no domicílio, se houver consentimento do
morador.

8) MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO E PRISÃO

8.1) MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO – Art. 282

A Lei n. 12.403, de 04 de maio de 2011 traz regras gerais aplicáveis às cautelares (entre
elas a prisão provisória), que serão decretadas com a observância dos seguintes critérios (art. 282):
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; II

Adequação à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do


indiciado ou acusado.

A primeira mudança que houve no Código de Processo Penal foi a inclusão da expressão
“MEDIDAS CAUTELARES”. Antes, o Código de Processo Penal apenas falava da Prisão e da Liberdade
Provisória.

A) NECESSIDADE E ADEQUAÇÃO – Art. 282 CPP

As “medidas cautelares” são regidas por dois princípios legais: NECESSIDADE e


ADEQUAÇÃO.

A medida cautelar deve ser necessária para:

a) aplicação da lei penal (é o caso, por exemplo, do réu que ameaça fugir).

b) para a investigação ou a instrução criminal (é o caso do réu que ameaça


testemunhas, destrói provas etc.)

c) para evitar a prática de infrações penais (é o caso de extrema periculosidade do


agente que, em liberdade, coloca em risco a sociedade).

A medida deve ser ADEQUADA. Ou seja, a medida deve ser proporcional à gravidade
do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado ou acusado.

B) CUMULAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES

Preenchidos os requisitos legais (necessidade e adequação), as medidas cautelares


podem ser aplicadas isoladamente ou cumulativamente.

C) LEGITIMIDADE

Quem pode decretar as medidas cautelares é o JUIZ. Ele poderá fazê-lo:

a) de ofício
b) durante o processo: a requerimento das partes (acusação – Ministério Público ou
Querelante - e Defesa)

c) durante a investigação criminal: por representação do delegado ou por


requerimento do Ministério Público

D) CONTRADITÓRIO

Esse é o princípio que pode ser extraído do referido dispositivo legal. Salvo nos casos
em que a comunicação à parte contrária tornaria a medida ineficaz, poderá o magistrado, ao receber
o pedido da medida cautelar, intimar a parte contrária (com cópia do requerimento e peças
necessárias).

Se houver risco dessa comunicação inviabilizar a medida, há o contraditório diferido,


ou seja, a parte contrária poderá se defender depois que a medida já foi decretada.

E) DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS CAUTELARES

Como diz esse dispositivo legal, o juiz poderá substituir a medida cautelar imposta por
outra, cumular outra medida cautelar ou, em último caso, decretar a prisão preventiva.

Assim, de forma esquemática, em caso de descumprimento das obrigações impostas, o


juiz pode:
a) substituir a medida cautelar imposta por outra

b) cumular com outra medida cautelar

c) em último caso, decretar a prisão preventiva.

Essa decisão pode ser tomada:

a) de ofício

b) mediante requerimento do Ministério Público

c) mediante requerimento do Assistente do MP

d) mediante requerimento do Querelante


F) REVOGAÇÃO E FUNGIBILIDADE

Se os motivos que justificavam a decretação da medida desaparecerem, ela deverá ser


revogada ou substituída pelo juiz. Se os motivos surgirem novamente, o juiz poderá novamente
decretar a medida. Tal princípio, aliás, já estava previsto no artigo 316, do Código de Processo Penal,
ao falar da decretação e revogação da prisão preventiva.

G) SUBSIDIARIEDADE DA PRISÃO PREVENTIVA

A prisão preventiva é excepcional. Assim, só poderá ser decretada quando não houver
medidas cautelares suficientes (necessárias e adequadas).

8.2) PRISÃO EM FLAGRANTE

É medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e processual, consistente na


prisão, independente de ordem escrita do juiz competente, de quem é surpreendido cometendo, ou
logo após ter cometido, um crime ou uma contravenção.

Em sentido jurídico, flagrante é uma qualidade do delito, é o delito que está sendo
cometido, praticado, é o ilícito patente, irrecusável, insofismável, que permite a prisão de seu autor,
sem mandado, por ser considerado a “certeza visual do crime”.

A) FLAGRANTE PRÓPRIO
Dispõe o art. 302, que se considera em flagrante delito quem “está cometendo a infração
penal” (inc. I) e quem “acaba de cometê-la” (inc. II), estabelecendo o que se denomina de flagrante
próprio, real, ou flagrante propriamente dito.

É aquele em que o agente é surpreendido cometendo uma infração penal ou quando


acaba de cometê-la.

B) FLAGRANTE IMPRÓPRIO (QUASE-FLAGRANTE)

Deve-se entender que o “logo após” do dispositivo é o tempo que corre entre a prática
do delito e a colheita de informações a respeito da identificação do autor, que passa a ser
imediatamente perseguido após essa rápida investigação precedida por policiais ou particulares.
Portanto, no caso do flagrante impróprio, a expressão “logo após” não tem o mesmo
rigor do inciso precedente (“acaba de cometê-la”).

C) FLAGRANTE PRESUMIDO

A pessoa não é “perseguida”, mas “encontrada”, pouco importando ser puro acaso, ou
se foi procurado após investigações.

Não é necessário que haja perseguição, bastando que a pessoa seja encontrada logo
depois da prática do ilícito em situação suspeita.

D) AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

São as seguintes as etapas do auto de prisão em flagrante:

Apresentado o preso capturado em situação de flagrância à autoridade competente deve


esta lavrar o auto respectivo.

A autuação em flagrante delito pressupõe a certeza absoluta da materialidade do crime


e indícios mínimos da autoria.

a) antes da lavratura do auto, a autoridade policial deve comunicar à família do preso,


ou à pessoa por ele indicada, acerca da prisão (art. 5º, LXIII, 2ª parte).

b) Nos termos do art. 304, a primeira pessoa a ser ouvida no auto de prisão em flagrante
delito é o condutor.

c) Em seguida, devem ser ouvidas as testemunhas que acompanharam o condutor, que,


pelos arts. 304, caput, e 304, §1º, devem ser no mínimo duas (referem-se a “testemunhas”, no
plural).

Não há qualquer vedação a que sirvam como testemunhas agentes policiais.

O condutor também pode ser considerado como testemunha numerária.

d) A falta de testemunhas da infração não impedirá a lavratura do auto de prisão em


flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão assinar a peça pelo menos duas pessoas que
hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade (art. 304, § 2º).
Diga-se que, na autuação em flagrante, não é admissível a contradita.

e) Ouvidas as testemunhas, a autoridade “interrogará o acusado sobre a imputação que


lhe é feita” (art. 304).

f) O auto deve ser lavrado pelo escrivão, ou escrevente, e também por eles encerrado,
mas na falta ou impedimento destes, a autoridade pode designar qualquer pessoa para o mister,
desde que previamente tome-lhe o compromisso legal.

g) Encerrada a lavratura do flagrante, a prisão deve ser comunicada imediatamente ao


juiz competente (art. 5º, LXXII, 1ª parte, da CF), que, por sua vez, deve dar vista ao Ministério
Público para que este, na qualidade de fiscal da lei, se manifeste sobre a regularidade formal do
auto de prisão em flagrante e sobre a possibilidade de liberdade provisória.

h) Vinte e quatro horas após a lavratura do auto, será dada nota de culpa ao preso, que
é um instrumento informativo dos motivos da prisão.

G) DECISÃO JUDICIAL AO RECEBER O AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

Recebendo em suas mãos o auto de prisão em flagrante, o juiz poderá:

a) relaxar o flagrante (quando se tratar de um flagrante irregular. Exemplo: flagrante


preparado, flagrante forjado etc.

b) converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, se inadequadas ou


insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão;

b) conceder liberdade provisória (com ou sem fiança)


A regra da liberdade provisória sem fiança concedida aos casos de excludente da ilicitude
continua no ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, houve atualização legislativa (as hipóteses
estão previstas no artigo 23 do Código Penal).

Se presente a tipicidade processual, ou seja, se a situação de fato se amolda à descrição


abstrata da lei processual, a prisão será legal. Caso contrário, será ilegal, independente dos
elementos de convencimento coletados por ocasião da confecção do auto de prisão em flagrante
pela autoridade policial. Da mesma forma, se a sequência procedimental prevista no art. 304 do CPP
for desrespeitada, a prisão em flagrante também será ilegal (princípio da legalidade das formas).

Após a confecção do auto de prisão em flagrante (APF), a autoridade policial deve


proferir um despacho, ratificando ou não a voz de prisão dada pelo condutor. Deverá ainda, com
especial atenção aos casos de flagrante pela prática de crime previsto na Lei de Drogas (lei 11.343),
fundamentar, circunstanciadamente as razões que o levaram à classificação legal do fato.

Ou seja, não sendo caso de soltura do acusado, a prisão em flagrante deverá ser
convertida em preventiva, consolidando-se a subjugação da força coercitiva do flagrante.

A lei n. 12.403/11 determina, também, que a prisão de qualquer pessoa (e o lugar onde
se encontre) será imediatamente comunicada ao Juiz, à pessoa indicada pelo preso e, também, ao
Ministério Público.

8.3) PRISÃO PREVENTIVA

A) Momento da decretação e período de duração

Trata-se de uma medida de constrição à liberdade do indiciado ou réu, por razões de


necessidade, respeitados os requisitos estabelecidos em lei.

Em qualquer fase da investigação ou do processo, assim, poderá o Ministério Público (ou


o querelante ou ainda o assistente) ou a autoridade policial (ouvido, obviamente o Ministério Público)
representarem por sua decretação.

O juiz somente poderá decretar a prisão de ofício no curso da ação penal. Não pode,
pois, decretar de ofício na fase de investigação criminal.

B) Hipóteses em que pode ser decretada a prisão preventiva


a) Garantia da ordem pública

A prisão cautelar é decretada com a finalidade de impedir que o agente, solto, continue
a delinquir, ou de acautelar o meio social, garantindo a credibilidade da justiça, em crime que
provoquem grande clamor popular.

No primeiro caso, há evidente perigo social decorrente da demora em se aguardar o


provimento definitivo, porque até o trânsito em julgado da decisão condenatória o sujeito já terá
cometido inúmeros delitos. Os maus antecedentes ou a reincidência são circunstâncias que
evidenciam a provável prática de novos delitos e, portanto, autorizam a decretação da prisão
preventiva com base nessa hipótese.

b) Conveniência da instrução criminal

É o motivo resultante da garantia da existência do devido processo legal, no seu aspecto


procedimental. A conveniência de todo processo é que a instrução criminal seja realizada de maneira
lisa, equilibrada e imparcial, na busca da verdade real, interesse maior não somente da acusação,
mas sobretudo do réu.

Diante disso, abalos provocados pela atuação do acusado, visando à perturbação do


desenvolvimento da instrução criminal, que compreende colheita de provas de um modo geral, é
motivo a ensejar a prisão preventiva.

Configuram condutas inaceitáveis a ameaça a testemunhas, a investida contra provas


buscando desaparecer com evidências, ameaças dirigidas ao órgão acusatório, à vítima ou ao juiz
do feito, dentre outras.

c) Garantia da aplicação da lei penal

Significa assegurar a finalidade útil do processo penal, que é proporcionar ao Estado o


exercício do seu direito de punir, aplicando a sanção devida a quem é considerado autor da infração
penal.

Não bastasse já ter ele cometido o delito, que abala a sociedade, volta-se, agora, contra
o processo, tendo por finalidade evitar que o direito de punir se consolide.

No caso de iminente fuga do agente do distrito da culpa, inviabilizando a futura execução


da pena. Se o acusado ou indiciado não tem residência fixa, ocupação lícita, nada, enfim, que o
radique no distrito da culpa, há um sério risco para a eficácia da futura decisão se ele permanecer
solto até o final do processo, diante da sua provável evasão.

d) Garantia de ordem econômica

Nesse caso, visa-se, com a decretação da prisão preventiva, impedir que o agente,
causador de seriíssimo abalo à situação econômico-financeira de uma instituição financeira ou
mesmo de órgão do Estado, permaneça em liberdade, demonstrando à sociedade a impunidade
reinante nessa área.

Equipara-se o criminoso do colarinho branco aos demais delinquentes comuns, na


medida em que o desfalque em uma instituição financeira pode gerar maior repercussão na vida das
pessoas, do que um simples roubo contra um indivíduo qualquer.

D) Circunstâncias legitimadoras da prisão preventiva – REQUISITOS – Art. 313

Com a edição da Lei 12.403/2011, a prisão preventiva só pode ser decretada em crimes
DOLOSOS com pena máxima superior a 4 anos.

Também pode ser decretada se o agente foi condenado por outro crime doloso,
ressalvado o disposto no artigo 64, I, CP (se entre o cumprimento da pena e o novo crime já se
passaram mais de 5 anos).

Por fim, cabe preventiva se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução
das medidas protetivas de urgência.

Também cabe a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade do agente.
Nesse caso, parece ter sido revogada parcialmente a lei de prisão temporária (lei 7.960/89) que
permitia a prisão temporária em caso de não conhecimento da identidade do agente. Em vez de
prisão temporária, agora pode ser decretada a prisão preventiva.

E) Fundamentação – Art. 315

O despacho que decretar ou denegar a prisão preventiva será sempre fundamentado,


diante do princípio constitucional da motivação das decisões judiciais.

Da decisão que decreta a prisão preventiva é irrecorrível, podendo, no entanto, ser


impetrado habeas corpus.

F) Revogação – Art. 316

O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no decorrer do processo, verificar falta de
motivo para que subsista.
Da decisão que indeferir ou revogar a prisão preventiva, cabe recurso em sentido estrito
(art. 581, V, CPP).

8.4) PRISÃO TEMPORÁRIA (Lei nº 7960/89)

A) Conceito

É prisão cautelar de natureza processual destinada a possibilitar as investigações a


respeito de crimes graves, durante o inquérito policial.

B) Hipóteses para a decretação

A prisão temporária pode ser decretada nas situações previstas pelo art. 1º da Lei n.
7960/89. São elas:

a) Imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial:

Quando a autoridade policial, atualmente, representa pela prisão temporária, é obrigada


a dar os motivos dessa necessidade, expondo fundamentos que serão avaliados, caso a caso, pelo
magistrado competente.

b) Residência fixa e identidade conhecida

Esses dois elementos permitem a correta qualificação do suspeito, impedindo que outra
pessoa seja processada ou investigada em seu lugar, evitando-se, por isso, o indesejado erro
judiciário.

Aquele que não tem residência (morada habitual) em lugar determinado ou que não
consegue fornecer dados suficientes para o esclarecimento da sua identidade (individualização como
pessoa) proporciona insegurança na investigação policial.

C) DECRETAÇÃO POR AUTORIDADE JUDICIAL E PRAZO DE DURAÇÃO


É o procedimento correto, pois a CF (art. 5º, LXI) somente permite a prisão decretada
por autoridade judiciária competente, em ordem escrita e fundamentada, além da prisão em
flagrante, que pode ser efetivada por qualquer pessoa.

Por outro lado, diversamente das demais formas de prisão cautelar, no caso de prisão
temporária, não pode o magistrado decretá-la de ofício. Há, invariavelmente, de existir requerimento
do MP ou representação da autoridade policial.

Prazo de 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias.

No caso de prisão temporária em caso de crimes hediondos e equiparados, o art. 2º, §


4º, da Lei 8072/90, estabelece que o prazo de prisão temporária pode atingir 30 dias, prorrogáveis
por igual período, em caso de extrema e comprovada necessidade.

Portanto, cria-se uma prisão cautelar que pode atingir até 60 dias, sem acusação
formalizada, apenas para o transcurso da investigação policial.

8.5) PRISÃO DOMICILIAR

Nos termos do artigo 317 do CPP, a prisão domiciliar consiste no recolhimento do


indiciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial.

Conforme o artigo 318 do CPP, o juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar
quando o agente for:

I - maior de 80 (oitenta) anos;

II - extremamente debilitado por motivo de doença grave

III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou
com deficiência;

IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; (Incluído pela Lei nº
13.257, de 2016)

VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos
de idade incompletos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos
estabelecidos neste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

No final de dezembro de 2018, por meio da Lei 13.769/2018, introduziu-se a prisão


preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com
deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:

I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;


II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente

Conforme o artigo 318-B do CPP, a substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá
ser efetuada sem prejuízo da aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319
deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.769, de 2018).

9) COMUNICAÇÃO DE ATOS PROCESSUAIS

É o ato processual com que se dá conhecimento ao réu da acusação contra ele intentada
a fim de que possa defender-se e vir integrar a relação processual.

I) CITAÇÃO POR MANDADO – Art. 351

Mandado é a ordem escrita, corporificada em um instrumento e emitida pela autoridade


competente para o cumprimento de determinado ato.

Destina-se à citação do réu em local certo e sabido, dentro do território do juízo


processante. Lugar certo diz respeito ao país, estado e cidade; lugar sabido refere-se ao bairro, rua
e número.

A regra, no processo penal, é a citação por mandado.

Os requisitos intrínsecos da citação por mandado tratam-se de formalidades que fazem


parte do instrumento do mandado. Estão previstas no art. 352 do CPP.

Além dos requisitos intrínsecos, previstos no art. 352, há os requisitos extrínsecos da


citação por mandado, que são as formalidades externas ao mandado, que devem cercar a realização
do ato de citação. São eles:

a) leitura do mandado ao citando;

b) entrega da contrafé (cópia do inteiro do mandado e da acusação) ao citando;

c) certificação no verso ou ao pé do mandado, pelo oficial, acerca do cumprimento das


duas formalidades anteriores.

II) CITAÇÃO POR CARTA PRECATÓRIA – Art. 353

A carta precatória destina-se à citação do acusado que estiver no território nacional, em


lugar certo e sabido, porém fora da comarca do juízo processante.

Constitui na realidade um pedido formulado pelo juízo processante ao juízo da localidade


em que se encontra o réu, no sentido de que este último proceda ao ato citatório.

O juiz solicitante (onde corre o processo) denomina-se deprecante, enquanto o


solicitado, deprecado (onde está o citando). O primeiro pede que o segundo mande citar o acusado,
não importando se o juízo deprecado encontra-se sediado na mesma ou em outra unidade da
Federação.

Além dos requisitos exigidos na citação por mandado, a carta precatória deverá conter
a indicação do juiz deprecante (o que depreca, o que pede) e a do juiz deprecado (aquele a quem
se pede), bem como a sede de um e de outro.

Recebendo a carta precatória, o juiz deprecado dará o seguinte despacho: “cumpra- se”.
Cumprirá, então, ao escrivão expedir o mandado, com aqueles requisitos que se vêem no art. 352,
entregando-o ao Oficial de Justiça para o devido cumprimento. Uma vez cumprida, a carta precatória
será devolvida ao Juiz deprecante (art. 355, caput).

Carta precatória itinerante é o nome que se dá à precatória enviada pelo juízo deprecado
diretamente a outro juízo, onde provavelmente encontra-se o réu.

Pode acontecer, durante o cumprimento da precatória, uma vez expedido o mandado


pelo juiz deprecado, certifique o Oficial de Justiça que o citando não se encontra naquela comarca,
mas sim em outra (sujeita à jurisdição de outro juiz).

Nesse caso, cumprirá ao Juiz Deprecado remeter a precatória ao Juiz da comarca onde
se encontra aquele para cumprimento da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação.

III) CITAÇÃO DO MILITAR – Art. 358

Trata-se de providência que tem em vista resguardar a intangibilidade do quartel, bem


como a hierarquia e a disciplina, características inerentes à conduta militar.

Assim, evitando-se que o oficial de justiça ingresse em dependências militares, à procura


do réu, encaminha-se a requisição do juiz, por ofício, ao superior, que fará chegar ao destinatário,
no momento propício.
De acordo com o art. 358, a citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do
respectivo serviço.

Nesse caso, o juiz não manda expedir mandado mas apenas um ofício em que conste
todas as indicações indispensáveis ao mandado de citação.

A execução compete ao chefe do serviço, que dará ao subordinado ciência de todos os


termos da citação.

IV) CITAÇÃO DO FUNCIONÁRIO PÚBLICO – Art. 359

Se o acusado for funcionário público da ativa será citado por mandado.

Parte-se, neste caso, do pressuposto de que a ausência do funcionário público de seu


posto, ainda que para comparecer a interrogatório criminal, pode trazer graves danos ao serviço
público e, portanto, ao interesse geral da sociedade.

Assim, quando se faz a citação do funcionário público, expede-se, concomitantemente,


um ofício de requisição ao seu superior, para que tenha ciência da ausência e providencie o
substituto.

V) CITAÇÃO DO PRESO – Art. 360

Nos moldes do acusado solto, deve ser feita pessoalmente, por mandado, recebendo
cópia de denúncia e podendo preparar-se, a tempo, para sua defesa e interrogatório.

VI) CITAÇÃO POR EDITAL – Art. 361

a) CONCEITO
Consiste na citação por meio da publicação ou afixação na entrada do fórum da ordem
judicial de citação.

É a modalidade de citação denominada ficta, porque não é realizada pessoalmente,


presumindo-se que o réu dela tomou conhecimento.

Quando não for possível localizar o citando a fim de se integrar a relação processual, é
indispensável a citação por edital (ficta).
Publica-se em jornal de grande circulação ou afixa-se o edital no átrio do fórum,
admitindo-se a possibilidade de que o acusado, ou pessoa a ele ligada, leia, permitindo ciência da
existência da ação penal.

b) PRESSUPOSTO DA CITAÇÃO POR EDITAL

A citação editalícia é providência excepcional que reclama redobrada prudência, só


podendo ser adotada depois de esgotados todos os meios para localizar o acusado.

Por isso, o esgotamento dos meios de localização é providência indispensável para


validar a fictícia citação por edital.

Se o acusado tiver vários endereços nos autos, incluindo os constantes no inquérito,


deve ser procurado em todos eles, sem qualquer exceção.

No mais, esgotadas as vias de procura, cabe a citação por edital.

A prova de que o réu não foi encontrado é a certidão lavrada pelo oficial de justiça
encarregado da execução do mandado de citação pessoal que o considera “em lugar incerto e não
sabido”.

É nula, pois, a citação quando não for exarada tal certidão. Resultando incerteza quanto
a estar o citando em lugar ignorado diante de uma certidão omissa ou incompleta, não se justifica
a citação por edital, que deve ser considerada nula.

C) CITAÇÃO EDITAL DE RÉU PRESO

O réu preso no mesmo Estado, embora em Comarca diversa, não pode ser citado por
edital.
Cabe ao juiz procurar, ao menos no seu Estado, pelos meios de controle que possui, se
o acusado está preso em algum estabelecimento penitenciário. Negativa a resposta, pode-se fazer
a citação editalícia.

É o teor da Súmula 351 do STF: “É nula a citação por edital de réu preso na mesma
unidade da Federação em que o juiz exerce sua jurisdição”.
D) SUSPENSÃO DO PROCESSO E DO PRAZO PRESCRICIONAL – Art. 366

Deve haver a citação pode edital, associada ao fato do réu não comparecer para ser
interrogado, nem contratar advogado para promover sua defesa.

Portanto, não é só a citação ficta que detona a suspensão, sendo indispensável a


ausência do réu.

Se o réu for citado pessoalmente não se aplica a suspensão. Se não comparecer ao


interrogatório, nem contratar advogado, declara-se sua ausência, nomeia-se defensor dativo (ou
remete-se o caso à defensoria pública) e o processo segue normalmente o seu curso.

Não pode ser, no entendimento da doutrina dominante, suspensa indefinidamente, pois


isso equivaleria a tornar o delito imprescritível, o que somente pode ocorrer por força de preceito
constitucional, como acontece nos casos de racismo e de terrorismo.

Assim, por ausência de previsão legal, tem prevalecido o entendimento de que a


prescrição fica suspensa pelo prazo máximo em abstrato previsto para o delito. Depois, começa a
correr normalmente.

Súmula 415 do STJ: “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo


máximo da pena cominada”

Isso significa que, no caso de furto simples, cuja pena máxima é de quatro anos, a
prescrição não corre por oito anos. Expirado os oito anos, passa a correr o prazo prescricional de 08
anos (considerando o máximo da pena cominada), ocasião em que, se passados os oito anos, o juiz
pode julgar extinta a punibilidade do réu.

VII) CITAÇÃO POR HORA CERTA – Art. 362

A citação por hora certa na esfera penal segue o procedimento previsto no Novo Código
de Processo Civil. Nos termos do novo CPC, especificamente nos artigos 252/254, quando, por 2
(duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o
encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua
falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que
designar.
Nos termos do artigo 253 do Novo CPC, no dia e na hora designados, o oficial de justiça,
independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à residência do citando a fim
de realizar a diligência. Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se
das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra
comarca, seção ou subseção judiciárias.

A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o vizinho que
houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se
recusar a receber o mandado.

Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com qualquer pessoa da


família ou vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.

O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência de que será nomeado curador
especial se houver revelia.

Conforme o artigo 254 do novo CPC, feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe
de secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de 10 (dez) dias, contado da data
da juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de
tudo ciência.

10) PROCEDIMENTO COMUM

Conforme alteração introduzida pela Lei nº 11.719/2008, nos termos do art. 394, a
disposição do procedimento comum ocorre da seguinte forma:

a) Ordinário: pena máxima igual ou superior a quatro anos de pena privativa de


liberdade.

b) Sumário: sanção máxima cominada seja inferior a quatro anos de pena privativa de
liberdade.

c) Sumaríssimo: para as infrações de menor potencial ofensivo, na forma da Lei


9.099/95, por exemplo, crime de assédio sexual, cuja pena máxima cominada (dois anos) se
enquadra nesse conceito.
11) PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

I) Oferecimento da denúncia – art. 396

Oferecida a denúncia ou queixa, o juiz:

a) analisará se não é caso de rejeição liminar (deverá avaliar todos os requisitos do art.
395: condição da ação, possibilidade jurídica do pedido etc);

b) se não for caso de rejeição liminar, deverá receber a denúncia ordenar a citação do
acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de dez dias.

No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do
comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído (art. 363, § 4º).

II) Resposta prévia à acusação

Nessa defesa inicial poderá o defensor:

a) arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa:

Por exemplo, matérias que levem à absolvição sumária, as quais se encontram


descritas no artigo 397.

Sob pena de preclusão, deverá ser arguida na defesa inicial, por exemplo, a nulidade por
incompetência relativa do juízo, pois a absoluta pode ser arguida em qualquer tempo e grau de
jurisdição.

Além da incompetência do juízo, este é o momento para arguir litispendência, coisa


julgada, ilegitimidade de parte, suspeição do juízo, consoante o disposto nos arts. 108 e 109.

b) oferecer documentos e justificações

c) especificar as provas pretendidas

d) arrolar testemunhas qualificando-as e requerendo sua intimação, quando


necessário.
III) Obrigatoriedade da defesa inicial – art. 396-A, §2º

Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir


defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por dez dias.

A não-nomeação de defensor pelo juiz para oferecimento da defesa gerará nulidade


absoluta.

IV) Absolvição sumária – Art. 397

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato

O juiz estará autorizado a julgar antecipadamente a lide penal quando estiver


comprovada a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato.

II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade

Na hipótese em que a inimputabilidade se encontra comprovada por exame de


insanidade mental, o CPP não autoriza a absolvição imprópria do agente, pois esta implicará a
imposição de medida de segurança, o que poderá ser prejudicial ao réu, já que lhe será possível
comprovar por outras teses defensivas a sua inocência, sem a imposição de qualquer outra medida
restritiva.

Trata o dispositivo, por exemplo, das causas de exclusão da culpabilidade consistente


na coação irresistível e obediência hierárquica (art. 22 do CP).

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime

Trata-se da impossibilidade jurídica do pedido.

IV - extinta a punibilidade do agente

Declara-se extinta a punibilidade e absolve-se o réu.

V) Audiência de Instrução e Julgamento – Art. 400

a) Ordem de inquirição

Deve-se respeitar a ordem estabelecida pelo procedimento legal.


Primeiramente, ouve-se o ofendido; depois, as testemunhas de acusação; após, as de
defesa.

Eventual inversão na ordem pode ocorrer, desde que haja concorrência das partes. Se a
inversão for determinada pelo juiz, havendo contrariedade de qualquer das partes, gera-se nulidade
relativa.

b) Esclarecimentos de perito

c) acareação

d) reconhecimento de pessoas e coisas

e) Interrogatório do acusado

VI) Número legal de testemunhas – Art. 401

No procedimento comum ordinário, as partes podem arrolar, sem justificar ou motivar,


até 08 testemunhas cada uma.

As pessoas que não prestam compromisso não podem ser consideradas, na essência,
testemunhas. Por isso, são meros declarantes. Logicamente, por não serem testemunhas não devem
ser computadas no número legal (oito).

Sob outro aspecto, as pessoas referidas em depoimentos de outras também podem ser
ouvidas. Não serão consideradas no número legal, pois advêm de depoimentos não conhecidas pelas
partes.

VII) Diligências – Art. 402

Terminado o interrogatório, passa-se à fase das diligências, passíveis de serem


requeridas pelas partes cuja necessidade ou conveniência se origine de circunstâncias ou de fatos
apurados na instrução.

Ordenada diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a


audiência será concluída sem as alegações finais. Realizada, em seguida, a diligência determinada,
as partes apresentarão, no prazo sucessivo de cinco dias, suas alegações finais, por memorial, e, no
prazo de 10 dias, o juiz proferirá a sentença. Trata-se, portanto, de hipótese em que será autorizada
a cisão da audiência única.

VIII) Alegações finais orais – Art. 403

Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas


alegações finais orais por vinte minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis
por mais de dez, proferindo o juiz, a seguir sentença.

Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será


individual. Ao assistente do MP, após a manifestação deste, serão concedidos dez minutos,
prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

Findas as alegações orais, o juiz deve, então, proferir sentença.

IX) Diligências imprescindíveis –Art. 404

Se houver diligências a serem realizadas, as partes não fazem alegações finais orais e
sim por memoriais, no prazo de 05 (cinco) dias.

Nesse caso, terá o prazo de dez dias para proferir sentença.

12) PROCEDIMENTO SUMÁRIO (Art. 531/538)

Com o advento da Lei 11.719/2008, especificamente do artigo 394, o procedimento será


o sumário quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 04 anos da
pena privativa de liberdade, que não constituírem infrações de menor potencial ofensivo
(contravenção e crime cuja pena cominada não seja superior a 02 anos).

1) Rito procedimental

1º) Oferecimento da denúncia ou queixa (art. 396 CPP).

2º) O juiz analisará se não é caso de rejeição liminar da denúncia, observando os requisitos do art.
395: pressuposto processual, condição da ação e justa causa par ao exercício da ação penal.

3º) Se não for caso de rejeição, o juiz receberá a denúncia e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 dias (art. 396). Trata-se de resposta obrigatória;
passado o prazo de 10 dias para o seu oferecimento, o juiz obrigatoriamente nomeará um defensor
para realizar o ato.

4º) Com a resposta do acusado, o juiz analisará a possibilidade de absolvição sumária (art. 397).

5º) Não sendo hipótese de absolvição sumária, o juiz designará dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 dias, ordenando a intimação do
acusado, seu defensor, do MP e, se for o caso, do querelante e do assistente (art. 399). A audiência
será única, por força do princípio da concentração dos atos processuais.

6º) o juiz, na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 dias (art.
531 CPP), proceder-se-á à:

a) tomada de declarações do ofendido;

b) inquirição das testemunhas arroladas pela acusação, em número de 05 (art. 532


CPP):

c) inquirição das testemunhas arroladas pela defesa (5), ressalvado o disposto no art.
222 do CPP. Aplicam-se os comentários constantes do item “b”. A testemunha que comparecer será
inquirida, independentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer caso a ordem
estabelecida no art. 531 do CPP (art. 536 CPP).

d) esclarecimentos dos peritos;

e) as acareações;

f) reconhecimento de pessoas e coisas;

g) interrogatório, em seguida, do acusado;

7º) as alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra, respectivamente, à acusação e à


defesa, pelo prazo de vinte minutos, prorrogáveis por mais dez, proferindo o juiz, a seguir, sentença
(art. 534 CPP).

Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual
(art. 534, § 1º). Ao assistente do MP, após a manifestação deste, serão concedidos dez minutos,
prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa (art. 534, § 2º).
8º) adiamento de ato processual: Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível a prova
faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer (art. 535).

13) DO PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JÚRI

É o rito procedimento destinado para processar e julgar crimes dolosos contra a vida.

O rito procedimental para os processos de competência do Júri comporta duas fases: A


primeira fase se inicia com o oferecimento da denúncia e se encerra com a decisão de pronúncia
(judicium accusationis ou sumário de culpa).

A segunda tem início com o recebimento dos autos pelo juiz presidente do tribunal do
júri, e termina com o julgamento pelo Tribunal do Júri (judicium causae).

Procedimento da primeira fase

I) Recebimento da denúncia – Art. 406

O Juiz, ao receber a denúncia, abre prazo para a defesa responder, no prazo de dez
dias.

A defesa poderá arguir preliminares e alegar tudo que interesse à sua defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o máximo
de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário; as exceções são
processadas em apartado.

II) INDISPENSABILIDADE DA DEFESA PRÉVIA – Art. 408

Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em
até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos.

III) CONTRADITÓRIO – Art. 409

Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Público ou o querelante sobre


preliminares e documentos, em 5 (cinco) dias. É a consagração do contraditório.
IV) Instrução concentrada – Art. 411

O juiz determinará a inquirição das testemunhas e a realização das diligências requeridas


pelas partes, no prazo máximo de 10 dias. Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio
requerimento e de deferimento pelo juiz. Todas as provas serão produzidas em uma só audiência,
podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova faltante, determinando o
juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer. A audiência terá a seguinte ordem:

1°) declarações do ofendido, se possível; 2°) declarações de testemunhas; 3°) interrogatório do


acusado; 4°) debates; 5°) decisão.

As alegações escritas foram substituídas por debates orais, concedendo-se a palavra,


respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10;
havendo mais de 1 acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um deles será
individual; ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10
minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.

V) Mutatio libelli: Art. 411, §3º

Mutatio libelli: Ao final da instrução, pode-se constatar que os fatos narrados na


denúncia ou queixa não coincidem com as provas colhidas.

Portanto, pode ser necessário adaptar a peça acusatória ao contexto das provas
produzidas. Evitando-se qualquer surpresa ao réu, segue-se o disposto no art. 384 do CPP.

Prazo

Art. 412. O procedimento será concluído no prazo máximo de 90 (noventa) dias

VI) Fase de apreciação da admissibilidade da acusação:

Finda a instrução do processo relacionado ao Tribunal do Júri, cuidando de crimes


dolosos contra a vida e infrações conexas, o magistrado possui quatro opções:

a) pronunciar o réu
b) impronunciá-lo

c) absolvê-lo sumariamente

d) desclassificar a infração penal

VII) Pronúncia – Art. 413

É decisão interlocutória mista não terminativa, que julga admissível a acusação,


remetendo o caso à apreciação do Tribunal do Júri.

Na pronúncia, há um mero juízo de prelibação, pelo qual o juiz admite ou rejeita a


acusação, sem penetrar no exame do mérito. No caso de o juiz se convencer da existência do crime
e de indícios suficientes da autoria, deve proferir sentença de pronúncia, fundamentando os motivos
de seu convencimento.

VIII) Impronúncia – Art. 414

É a decisão interlocutória mista de conteúdo terminativo, visto que encerra a primeira


fase, deixando de inaugurar a segunda, sem haver juízo de mérito. Assim, inexistindo prova da
materialidade do fato ou não havendo indícios suficientes de autoria, deve o magistrado
impronunciar o réu, que significa julgar improcedente a denúncia e não a pretensão punitiva do
Estado.

IX) Absolvição sumária – Art. 415

Absolvição sumária: ocorrerá quando estiver provada a inexistência do fato, provado não
ser o réu autor ou partícipe do fato, o fato não constituir infração penal ou estiver demonstrada
causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. No caso de inimputáveis, a absolvição sumária
só é possível, agora por disposição expressa, se a inimputabilidade for a única tese defensiva.

* Recurso de apelação (art. 416)

Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação.


(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
X) Desclassificação – Art. 419

Desclassificação: O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da


acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave. Quando o juiz se convencer, em
discordância com a acusação, da existência de crime não doloso contra a vida e não for competente
para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja, ficando à disposição deste o acusado preso.

14) EMENDATIO LIBELLI – Art. 383

No processo penal, o réu se defende dos fatos, sendo irrelevante a classificação jurídica
constante na denúncia ou queixa.

Segundo o princípio da correlação, a sentença está limitada apenas à narrativa feita na


peça inaugural, pouco importando a tipificação legal dada pelo acusador.

Desse modo, o juiz poderá dar aos eventos delituosos descritos explícita ou
implicitamente na denúncia ou queixa a classificação jurídica que bem entender, ainda que, em
consequência, venha a aplicar pena mais grave, sem necessidade de prévia vista à defesa, a qual
não poderá alegar surpresa, uma vez que não se defendia da classificação legal, mas da descrição
fática da infração penal.

Ex: A denúncia narra que fulano empurrou a vítima e arrebatou-lhe a corrente do


pescoço, qualificando como furto tal episódio. Nada impede seja proferida sentença condenatória
por roubo, sem ofensa ao contraditório, já que o acusado não se defendia de uma imputação por
furto, mas da acusação de ter empurrado a vítima e arrebatado sua corrente.

A) Nova definição jurídica do fato e suspensão condicional do processo Art. 383, § 1º

Se a nova definição jurídica do fato é viável, inclusive para a aplicação de pena mais
grave, naturalmente, o mesmo se dá para a aplicação de benefícios anteriormente não concedidos
por falta de condições.

Se o crime inicialmente imputado previa pena mínima superior a um ano, não se podia
utilizar o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95).

Porém, vislumbrando a possibilidade de que isto se concretize, cabe ao magistrado, em


decisão fundamentada, determinar a abertura de vista ao Ministério Público, a fim de que possa
oferecer proposta, se for o caso.

B) Desclassificação – Art. 383, § 2º

Se o juiz, ao sentenciar, por exemplo, verificar que o fato descrito, em verdade, equivale
a uma tentativa de homicídio e não a uma lesão corporal gravíssima, deve remeter o caso à Vara
Privativa do Júri.

O mesmo ocorrerá se observar tratar-se de crime de órbita federal, determinando a


remessa dos autos à Vara da Seção Federal da sua Região.

15) MUTATIO LIBELLI – Art. 384

Aqui não ocorre simples emenda na acusação, mediante correção na tipificação legal,
mas verdadeira mudança, com alteração na narrativa acusatória. Assim, a mutatio libelli implica o
surgimento de uma prova nova, desconhecida ao tempo do oferecimento da ação penal, levando a
uma readequação dos episódios delituosos relatados na denúncia ou queixa.

Ex: Um sujeito é denunciado pelo crime de furto. Ao longo da instrução, uma testemunha
afirma ter visto o réu apontando uma arma, circunstância não constante na denúncia. O juiz não
poderá condenar o réu pelo delito de roubo. Deverá dar vista dos autos ao Ministério Público, para
aditamento da denúncia e inclusão da circunstância da arma, abrindo-se, após, oportunidade à
defesa se pronunciar, procedendo-se, se for o caso, à instrução, mediante a oitiva de até 03
testemunhas, para, somente agora, o juiz proferir sentença.

Assim, nesse caso, os autos são remetidos ao Ministério Público para aditar a denúncia
ou queixa (somente nas hipóteses de ação penal privada subsidiária da pública), se em virtude desta
houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento.

A) Exclusividade dos crimes de ação pública

Veda a lei que o juiz tome qualquer iniciativa para o aditamento da queixa, em ação
exclusivamente privada, pois a iniciativa é sempre da parte ofendida, além de não viger, nesse caso,
o princípio da obrigatoriedade da ação penal, cujo controle é de ser feito tanto pelo promotor, quanto
pelo magistrado.

Ao contrário, regendo a ação privada exclusiva o princípio da oportunidade, não cabe


qualquer iniciativa nesse sentido pelo órgão acusador. Aliás, se o querelante, por sua própria ação,
desejar aditar a queixa, em ação privada exclusiva, deve levar em conta o prazo decadencial de seis
meses.

A mutatio libelli se aplica somente em 1ª instância, não sendo possível aplicar tal
procedimento em 2ª instância (Tribunal de Justiça). É o que diz a Súmula 453 do STF.

Súmula 453 STF: “Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do
Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude
de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.”

16) RECURSOS

16.1) RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

É recurso destinado à impugnação de decisões interlocutórias, que não tenham caráter


definitivo ou terminativo. No entanto, é cabível contra decisões que põe fim ao processo, sem
julgamento do mérito, como se verá.

Para sistematizar o estudo, passa-se à análise dos pressupostos/requisitos objetivos e


subjetivos do recurso em sentido estrito.

Lembrando: requisitos objetivos: cabimento e tempestividade; requisitos subjetivos,


restringir-se-á à legitimidade.

I) PRESSUPOSTOS/REQUISITOS OBJETIVOS

A) Cabimento – Art. 581

É o recurso cabível contra decisões interlocutórias, quando se tratar de hipótese


expressamente prevista em lei (arts. 581 a 592).

São hipóteses que passaram à órbita do agravo em execução. Portanto, não cabe mais
recurso em sentido estrito:

a) concessão, negativa ou revogação da suspensão condicional da pena (inc. XI),


lembrando que, quando a concessão ou negativa se der na sentença condenatória, cabe apelação;
b) concessão, negativa ou revogação do livramento condicional (XII);

c) decisão sobre unificação de penas (XVII);

d) decisões relativas a medidas de segurança (XIX, XX, XXI, XXII e XXIII).

Conversão da multa em detenção ou em prisão simples (art. 581, XXIV). A hipótese


deixou de subsistir após a Lei 9.268/96, que modificou o art. 51 do CP.

Cabe recurso em sentido estrito contra decisões interlocutórias, que não se revestem do
caráter de imutabilidade e que não tenham operado coisa julgado formal.

O rol de hipóteses do recurso em sentido estrito é taxativo, sendo cabível, portanto,


somente nas hipóteses do artigo 581 do CPP, podendo, eventualmente, ser adotada interpretação
extensiva, que não desborde sobremaneira da natureza da decisão recorrida, como, por exemplo,
recurso em sentido estrito contra decisão rejeitou o aditamento próprio da denúncia ou queixa.

Portanto, cabe recurso em sentido contra as seguintes decisões:

I) Da sentença que rejeitar a denúncia ou queixa

De regra, do recebimento da denúncia não cabe qualquer recurso, apenas impetração


de Habeas corpus, ante a absoluta falta de previsão legal.

No caso das infrações penais de competência do juizado especial criminal, não cabe
recurso em sentido estrito da decisão que rejeitar a denúncia ou queixa, mas apelação, com prazo
de 10 dias (art. 9099/95, art. 82, caput).

O STF firmou entendimento, através da Súmula 707 do STF, no sentido de que:


“Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”.

II) Da decisão que concluir pela incompetência do juízo:


É o caso do reconhecimento ex officio da incompetência pelo próprio juiz,
que determina a remessa dos autos ao juízo competente, nos termos do art. 109 do CPP. Se o juiz
se dá por incompetente, acolhendo exceção (caso de incompetência relativa), aplica-se o inciso III
do artigo 581.
No procedimento do júri, da decisão de desclassificação do fato para crime
não doloso contra a vida (art. 419 do CPP), cabe recurso em sentido estrito com base neste inciso,
pois o juiz estará, em última análise, concluindo pela incompetência do Tribunal do Júri para julgar
a causa.

Da decisão do juiz dando-se por competente não cabe qualquer recurso,


podendo a parte prejudicada intentar apenas habeas corpus.

III) Da decisão que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição

O art. 95 do CPP enumera as cinco exceções oponíveis, a saber: suspeição,


incompetência do juízo, litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada.

Acolhida a exceção de incompetência relativa, ficam anulados apenas os atos decisórios


(art. 567), aproveitando-se os instrutórios e os de mero encaminhamento do processo.

Em síntese, rejeitadas as exceções de ilegitimidade de parte, incompetência do juízo,


litispendência ou coisa julgada, a decisão é irrecorrível.

Acolhida ou rejeitada a exceção de suspeição, não cabe qualquer recurso, pois não se
pode forçar o juiz que se considera suspeito a julgar a causa.

IV) Da decisão que pronunciar

A decisão de pronúncia trata-se de uma decisão interlocutória mista não terminativa,


que encerra uma fase do procedimento, sem julgar o mérito, isto é, sem declarar o réu culpado.

A decisão de impronúncia, com a edição da Lei 11689/2008, passou a comportar o


recurso de apelação (art. 416).

V) Da decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir
requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou
relaxar a prisão em flagrante:

Nessa parte, a lei prevê tanto situação favorável ao réu quanto desfavorável. Assim,
concedida a fiança ou fixado um valor muito baixo, pode o MP recorrer. Negada, cassada ou
considerada inidônea, cabe ao acusado apresentar o seu inconformismo.
Embora quando a decisão seja desfavorável ao réu possa este impetrar HC, pois se está
diante de norma que envolve liberdade de locomoção, previu o legislador a possibilidade de utilização
do RESE.

Em se tratando de prisão preventiva, pode o juiz indeferir o pedido formulado pelo


promotor, não acolher a representação feita pelo delegado ou revogá-la, propiciando recurso por
parte do MP.

Não se tratou das situações envolvendo a decretação da prisão preventiva ou


indeferimento de sua revogação, o que provoca, como alternativa única para o interessado, a
impetração de HC.

Por outro lado, quando o juiz conceder liberdade provisória, pode o MP recorrer, mas
não cabe RESE para o réu que tem o seu pedido de liberdade provisória negado. Vale-se ele do
habeas corpus.

Finalmente, quando a prisão, por ser ilegal, mereça ser relaxada, caso o juiz o faça,
proporciona ao MP a interposição de recurso em sentido estrito. Quando houver a negativa ao
relaxamento, somente por habeas corpus o interessado pode questionar a decisão.

VI) Absolvição sumária

Essa decisão era impugnada por recurso em sentido estrito. Com a edição da Lei
11689/2008, o recurso cabível passou a ser apelação.

VII) Da decisão que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor

São situações desfavoráveis ao réu, sendo-lhe permitido o recurso em sentido estrito,


porque, realmente, são decisões interlocutórias, merecedoras do duplo grau de jurisdição.

Entretanto, quando houver o quebramento, implicando a obrigação de se recolher à


prisão, poder dar ensejo à impetração de HC. Caso o juiz negue o quebramento ou a perda, o MP
somente pode insurgir-se contra a decisão em preliminar de futura apelação, se houver.

VIII) Da decisão que julgar extinta a punibilidade do acusado

Trata-se de sentença terminativa de mérito, isto é, que encerra o processo com


julgamento do mérito, sem absolver ou condenar o réu.

O recurso não tem efeito suspensivo, devendo o réu ser colocado imediatamente em
liberdade.

O assistente de acusação, habilitado ou não, pode apresentar RESE (art. 584, § 1º, CPP).

IX) Da decisão que indeferir pedido de extinção de punibilidade

É a contraposição do inciso anterior. Negada a extinção da punibilidade, o processo


seguirá seu curso normal. Trata-se, portanto, de decisão interlocutória simples. Diante da previsão
expressa da lei, caberá recurso em sentido estrito.

X) Da decisão que conceder ou negar a ordem de habeas corpus

O dispositivo refere-se à decisão do juiz de primeira instância, da qual, na hipótese de


concessão, cabe também recurso ex officio (art. 574, I).

No caso de decisão denegatória proferida em única ou última instância, pelos Tribunais


Regionais Federais e pelos tribunais dos Estados, caberá recurso ordinário para o STJ (art. 105, II,
“a”, CF).

Se a decisão denegatória for proferida em única instância (somente em única instância)


pelos tribunais superiores, caberá recurso ordinário ao STF (art. 102, II, “a”, CF/88).

XI) Da decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena

No caso da decisão encontrar-se embutida em sentença condenatória, cabe apelação.


Após o trânsito em julgado da condenação, cabe agravo em execução (art. 197 da LEI 7210/84).
Assim, esse dispositivo tem aplicação prejudicada.

XII) Da decisão que conceder, negar ou revogar livramento condicional

Cabe agravo em execução, estando o dispositivo em questão revogado (art. 197 da LEI
7210/84).
XIII) Da decisão que anular a instrução criminal no todo ou em parte

Reconhecida essa hipótese, que é típica decisão interlocutória, cabe à parte


inconformada em ter que reiniciar a instrução ou reproduzir determinados atos, impugnar a decisão
anulatória pelo recurso em sentido estrito.

XIV) Da decisão que incluir ou excluir jurado na lista geral


Tendo em vista a imparcial formação da lista de jurados, o procedimento deve ser de
conhecimento geral, publicando-se o resultado final na imprensa e afixando-se no fórum. Logo, é
possível que qualquer pessoa questione a idoneidade de um jurado, incluído na lista (art. 426, § 1º).

Nesse caso, pode o juiz, acolhendo petição da parte interessada, excluí-lo da lista, o que
dá margem ao inconformismo daquele que foi extirpado. Por outro lado, a inclusão de alguém,
impugnada e mantida pelo magistrado, dá lugar à interposição de recurso em sentido estrito. Nesse
caso, em caráter excepcional, segue o recurso ao Presidente do TJ.

XV) Da decisão que denegar a apelação ou julgá-la deserta

No caso da apelação, o juízo de prelibação (admissibilidade) deve ser feito tanto na


primeira quanto na instância superior. Assim, o juiz a quo pode deixar de receber o apelo (o que
equivale a denegá-lo), se entender não preenchido algum pressuposto recursal objetivo ou subjetivo.

Nessa hipótese, cabe recurso em sentido estrito contra o despacho denegatório da


apelação. Note-se que o recurso não se volta contra a sentença apelada, mas exclusivamente contra
o despacho que negou seguimento à apelação.

Se o juiz denegar também o recurso em sentido estrito, estará agindo sem respaldo
legal, e, desta decisão, caberá carta testemunhável dirigida ao escrivão (art. 640).

XVI) que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

As questões prejudiciais estão previstas nos artigos 92 e 93 do CPP.

XVII) que decidir o incidente de falsidade

O incidente de falsidade está previsto no artigo 145 a 148 do CPP.


B) TEMPESTIVIDADE – Art. 586 e 588

Regra:

O prazo para a interposição: 05 (cinco) dias

Prazo para oferecimento das razões: 02 (dois).

Exceções:

20 (vinte) dias, no caso de inclusão ou exclusão de jurado na lista, conforme art. 581,
XIV, CPP.

15 (quinze) dias para interposição (e 02 para razões), quando a impugnação é feita pelo
assistente à acusação não habilitado, nos termos do art. 584, § 1º, c/c 598, parágrafo único do CPP.

II – PRESSUPOSTO/REQUISITO SUBJETIVO

A) LEGITIMIDADE

O Ministério Público, o querelante (ação penal privada), a defesa, o próprio réu e, ainda,
o assistente de acusação podem interpor recurso em sentido estrito.

OBS: O assistente de acusação poderá recorrer em sentido estrito somente da decisão


que “decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade”, nos termos do art.
584, § 1º, c/c art. 581, VIII, já que tal decisão impede a formação de título executivo para eventual
reparação do dano.

O assistente de acusação pode ser habilitado nos autos, hipótese que, nessa condição,
será intimado de todos os atos e poderá recorrer, caso não o faça o Ministério Público, no prazo de
05 dias.

No caso de assistente de acusação não habilitado, considerando que ainda não tinha
tomado ciência dos atos praticados no processo e, portanto, não foi intimado das decisões, terá o
prazo de 15 dias para interpor o recurso em sentido estrito (art. 584, §1º, c/c 598, parágrafo único,
do CPP).
A contagem do prazo para o assistente de acusação interpor recurso segue a regra
disposta na Súmula 448 do STF: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a
correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público”.

III) COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO – ART. 582 (IMPORTANTE)

A interposição do recurso deve ser dirigida ao juiz de primeiro grau que proferiu a
decisão, para que este possa rever a decisão, em sede de juízo de retratação.

As razões de recurso devem ser endereçadas ao Tribunal competente (Tribunal de


Justiça, se da competência da Justiça Comum Estadual; ou Tribunal Regional Federal, se da
competência da Justiça Federal).

IV) EFEITOS

O RESE possui efeito regressivo, uma vez que a interposição do recurso obriga o juiz
que prolatou a decisão recorrida a reapreciar a questão, mantendo-a ou reformando-a, conforme
dispõe o artigo 589, “caput”, do CPP.

No tocante ao efeito regressivo do recurso: recebendo os autos, o juiz, dentro de dois


dias, reformará ou sustentará a sua decisão, mandando instruir o recurso com as cópias que lhe
parecerem necessárias. A falta de manifestação do juiz importa em nulidade, devendo o tribunal
devolver os autos para esta providência. O juízo de retratação será sempre fundamento. A
fundamentação deficiente do juiz também obriga o tribunal a convencer o julgamento em diligência
para esse fim.

Se o juiz mantiver o despacho, remeterá os autos à instância superior; se reformá-la, o


recorrido, por simples petição, e dentro do prazo do prazo de cinco dias, poderá requerer a subida
dos autos. O recorrido deverá ser intimado, no caso de retratação do juiz.

Na hipótese de manutenção da decisão recorrida, ou, ainda, se houver retratação e


agora a outra parte impugnar a nova decisão, o recurso passará a ter efeito devolutivo, devolvendo
a discussão de toda a matéria ao Tribunal Competente.

Via de regra, o RESE não tem efeito suspensivo, salvo nas hipóteses previstas no artigo
584 do CPP.
16.2) APELAÇÃO

A) CONCEITO

É o recurso interposto da sentença definitiva ou com força de definitiva, para a segunda


instância, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a consequente modificação
parcial ou total da decisão.

B) CABIMENTO DA APELAÇÃO – Art. 593


I - DAS SENTENÇAS DEFINITIVAS DE CONDENAÇÃO OU ABSOLVIÇÃO PROFERIDAS
POR JUIZ SINGULAR

Cabe apelação nas sentenças definitivas de condenação ou absolvição. São as decisões


que põe fim à relação jurídica processual, julgando o seu mérito, quer absolvendo, quer condenando
o acusado. De toda sentença condenatória cabe apelação, e de toda absolutória também.

Com o advento da Lei 11.689/2008, caberá apelação contra a sentença de absolvição


sumária (art. 416), tanto as proferidas nos processos de competência do juiz singular (art. 397),
exceto a decisão que declara extinta a punibilidade (inciso IV do art. 397), como as proferidas nos
processos de competência do júri, na 1ª fase do procedimento (art. 415 do CPP).

II - DAS DECISÕES DEFINITIVAS, OU COM FORÇA DE DEFINITIVAS, PROFERIDAS POR


JUIZ SINGULAR NOS CASOS NÃO PREVISTOS NO CAPÍTULO ANTERIOR

Cabe, ainda, apelação das sentenças que, julgando o mérito, põem fim à relação jurídica
processual ou ao procedimento, sem, contudo, absolver ou condenar o acusado.

Logo, no caso, consistem na hipótese de decisões interlocutórias mistas (definitivas ou


com força de definitivas), que não integram o rol do art. 581, sendo, assim, cabível, na forma
residual, portanto, o recurso de apelação, previsto no inciso II do art. 593.

* DECISÕES DEFINITIVAS: também denominadas terminativas de mérito, são aquelas


que encerram o processo, incidental ou principal, com julgamento do mérito, sem, no entanto,
absolver ou condenar. 1

1 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva. p, 755.


Ex: procedência ou improcedência da restituição de coisa apreendida (art. 120, § 1º);
decisão que autoriza levantamento do sequestro; que concede a reabilitação.

* DECISÕES COM FORÇA DE DEFINITIVAS: são aquelas decisões que encerram o


processo, sem julgamento do mérito (decisão interlocutória mista terminativa) ou uma etapa
procedimental (decisão interlocutória mista não terminativa).

Ex: decisão de impronúncia, que é apelável (art. 416 CPP).

III) APELAÇÃO DAS DECISÕES DO JÚRI

* Vinculação dos fundamentos da apelação

Quando a parte pretender recorrer de decisão proferida no Tribunal do Júri deve


apresentar logo na petição de interposição qual o motivo que o leva a apelar, deixando expressa a
alínea eleita do inciso III do art. 593 do CPP. Posteriormente, no momento de apresentação das
razões, fica vinculado ao motivo declinado.

Assim sendo, o Tribunal somente pode julgar nos limites da interposição. Nesse sentido
é a Súmula 713 do STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos
fundamentos da sua interposição”.

a) Nulidade posterior à pronúncia

Tratando-se de nulidade anterior à pronúncia, a questão já foi analisada na própria


decisão ou em recurso contra ela interposto, operando-se, por conseguinte, a preclusão.

Quanto à nulidade posterior, se relativa, deve ser arguida, logo após o início do
julgamento, em seguida ao pregão das partes, sob pena de considerar-se sanada (art. 571, V). Se
a nulidade relativa tiver ocorrido durante o julgamento, o protesto deve ser feito logo após a sua
ocorrência, sob pena de ser convalidada (art. 571, VIII).

b) Sentença do juiz presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos


jurados

O juiz está obrigado a cumprir as decisões do Júri, não havendo supremacia do juiz
togado sobre os jurados, mas simples atribuições diversas de funções. Os jurados decidem o fato e
o juiz-presidente aplica a pena, de acordo com esta decisão, não podendo dela desgarrar-se.

c) Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de


segurança

É outra hipótese que diz respeito, exclusivamente, à atuação do juiz presidente, não
importando em ofensa à soberania do veredicto popular. Logo, o Tribunal pode corrigir a distorção
diretamente.

A aplicação de penas muito acima do mínimo legal para réus primários, ou


excessivamente brandas para reincidentes, por exemplo, sem ter havendo fundamento razoável, ou
medidas de segurança incompatíveis com a doença mental apresentada pelo réu podem ser
alteradas pela Instância superior.

d) Quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos

Contrária à prova dos autos é a decisão que não encontra respaldo em nenhum elemento
de convicção colhido sob o crivo do contraditório. Não é o caso de condenação que apoia em versão
mais fraca.

Só cabe apelação com base nesse fundamento uma única vez. Não importa qual das
partes tenha apelado, é uma vez para qualquer das duas.

C) PRAZO

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias

Art. 600. Assinado o termo de apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o
prazo de oito dias cada um para oferecer razões, salvo nos processos de contravenção, em que o
prazo será de três dias.

O prazo para interposição é, em regra, 05 dias, a contar da intimação, sendo 08 dias


para arrazoar o recurso.

O prazo flui a partir da juntada da carta precatória ou mandado aos autos; contudo,
recentemente, o STF editou a Súmula 710, na qual pacificou o entendimento no sentido de que “No
processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado
ou carta precatória ou ordem”.

No caso do réu, devem ser intimados ele e seu defensor, iniciando-se o prazo após a
última intimação.

D) LEGITIMIDADE

Podem interpor recurso de apelação o Ministério Público, querelante (ação penal


privada), o réu ou seu defensor (art. 577) e o assistente de acusação.

A legitimidade do assistente de acusação está prevista no artigo 598 do CPP. Pode ser:

a) habilitado nos autos, sendo, portanto, intimado dos atos processuais, podendo, nessa
condição, interpor recurso no prazo de 05 dias.

b) não habilitado nos autos, não sendo até então, portanto, intimado dos atos
processuais, razão pela qual terá o prazo mais dilatado para interpor recurso de apelação, qual seja,
15 dias, nos termos do artigo 598, parágrafo único, do CPP).

A contagem do prazo para o assistente de acusação interpor recurso segue a regra


disposta na Súmula 448 do STF: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a
correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público”.

E) PROCESSAMENTO

a) a apelação é interposta por termo ou petição, admitindo-se, ainda, a interposição por


telex ou fax.

b) interposta a apelação, as razões devem ser oferecidas dentro do prazo de 08 dias, se


for crime, salvo nos crimes de competência do juizado especial criminal, quando as razões deverão
ser apresentadas no ato de interposição.

c) é obrigatória a intimação do apelante para que passe a correr o prazo para


oferecimento das razões de apelação.

d) Se houver assistente, este arrazoará no prazo de três dias após o MP.

e) se o apelante desejar, poderá oferecer as suas razões em segunda instância, perante


o juízo ad quem (art. 600, § 4º).

f) a apresentação tardia das razões de apelação não impede o conhecimento do


recurso

g) No Tribunal ad quem, os autos serão remetidos ao MP de segunda instância, que


poderá opinar livremente, já que não é parte.

F) EFEITOS

Art. 597. A apelação de sentença condenatória terá efeito suspensivo, salvo o disposto
no art. 393, a aplicação provisória de interdições de direitos e de medidas de segurança (arts. 374
e 378), e o caso de suspensão condicional de pena.

São efeitos da apelação:

a) devolutivo: devolve o conhecimento da matéria à instância superior.


b) suspensivo: trata-se do efeito da dilação procedimental, que retarda a execução da
sentença condenatória: aplicava-se nos casos de primariedade e bons antecedentes. Com o advento
da Lei 11719/2008, o art. 594 do CPP foi revogado expressamente e o réu somente será preso se
estiverem presentes os requisitos da prisão preventiva (art. 387, parágrafo único);

c) regressivo: não há; na apelação não existe juízo de retratação.

d) extensivo (art. 580): o correu que não apelou beneficia-se do recurso na parte que
lhe for comum.

Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso
interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente
pessoal, aproveitará aos outros.

G) VEDAÇÃO À REFORMATIO IN PEJUS

Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts.
383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente
o réu houver apelado da sentença.

Embora a apelação permita o reexame da matéria decidida na sentença, o efeito


devolutivo não é pleno, ou seja, não pode resultar do julgamento decisão desfavorável à parte que
interpôs o recurso.

Recorrendo apenas o réu, não é possível haver reforma da sentença para agravar sua
situação; recorrendo a acusação em caráter limitado, não pode o tribunal dar provimento em maior
extensão contra o apelado.

I) REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA

Trata-se da anulação da sentença, por recurso exclusivo do réu, vindo outra a ser
proferida, devendo respeitar os limites da primeira, sem poder agravar a situação do acusado.

Assim, caso o réu seja condenado a 5 anos de reclusão, mas obtenha a defesa a anulação
dessa decisão, quando o magistrado – ainda que seja outro – venha a proferir outra sentença, está
adstrito a uma condenação máxima de 5 anos.

Se pudesse elevar a pena, ao proferir nova decisão, estaria havendo uma autêntica
reforma em prejuízo da parte que recorreu.

Em tese, seria melhor ter mantido a sentença, ainda que padecendo de nulidade, pois a
pena seria menor.

16.3) EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE – Art. 609

A) CONCEITO

Trata-se de recurso privativo da defesa, voltado a garantir uma segunda análise da


matéria decidida pela turma julgadora, por ter havido maioria de votos e não unanimidade,
ampliando-se o quórum do julgamento.

Assim, o recurso obriga que a câmara seja chamada a decidir por completo e não apenas
com os votos dos Desembargadores que compuseram a turma julgadora.

No TJ, por exemplo, a Câmara é composta por cinco Desembargadores, participando da


turma julgadora apenas três deles.

Dessa forma, caso a decisão proferida contra os interesses do réu constituir-se de


maioria (dois a um) de votos, cabe a interposição de embargos infringentes, chamando-se o restante
da câmara ao julgamento.

B) LEGITIMIDADE PARA INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS INFRINGENTES E DE


NULIDADE

Dispondo a lei que os embargos infringentes ou de nulidade só podem ser apresentados


pela defesa, não é cabível tal recurso da acusação ou da assistência.

C) CABIMENTO DOS EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE

Os embargos infringentes e de nulidade referem-se apenas ao recurso em sentido estrito


e à apelação. Por isso, é praticamente pacífico na doutrina e na jurisprudência que não é cabível em
revisão, em habeas corpus.

Há entendimentos no sentido de que é cabível no agravo em execução, pois o


processamento deste recurso segue as regras do recurso em sentido estrito.

Não cabe os julgamentos realizados pelas turmas recursais, porque não possuem
natureza de tribunais.

D) PRAZO – Art. 609, parágrafo único


O prazo para a oposição dos embargos infringentes é de dez dias, a contar da publicação
do acórdão, sendo desnecessária a intimação pessoal do réu e de seu defensor, salvo, no caso deste
último, quando se tratar de defensoria pública. A intimação do MP também é pessoal.

Por ocasião da interposição, deve o recurso ser devidamente instruído com as razões,
pois não será aberta vista para essa finalidade.

16.4) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – Art. 382 e 619 do CPP e 82 da Lei 9099/95

A) Conceito

Trata-se de recurso posto à disposição de qualquer das partes, voltado ao esclarecimento


de dúvidas surgidas no acórdão, quando configurada ambiguidade, obscuridade, contradição ou
omissão, permitindo, então, o efetivo conhecimento do teor do julgado, facilitando a sua aplicação
e proporcionando, quando for o caso, a interposição de recurso especial ou extraordinário.
Ambiguidade: é o estado daquilo que possui duplo sentido, gerando equivocidade e
incerteza, capaz de comprometer a segurança do afirmado. Assim, no julgado, significa a utilização,
pelo magistrado, de termos com duplo sentido, que ora apresentam uma determinada orientação,
ora seguem em caminho oposto, fazendo com o leitor, seja ele leigo ou não, termine não entendendo
qual o seu real conteúdo.

Obscuridade: é o estado daquilo que é difícil de entender, gerando confusão e


ininteligência, no receptor da mensagem. No julgado, evidencia a utilização de frases e termos
complexos e desconexos, impossibilitando ao leitor da decisão, leigo ou não, captar-lhe o sentido e
o conteúdo.

Contradição: trata-se de uma incoerência entre uma afirmação anterior e outra posterior,
referentes ao mesmo tema e no mesmo contexto, gerando a impossibilidade de compreensão do
julgado.

Omissão: é a lacuna ou o esquecimento. No julgado, traduz-se pela falta de abordagem


do magistrado acerca de alguma alegação ou requerimento formulado, expressamente, pela parte
interessada, merecedor de apreciação.

B) PRAZO

Os embargos devem interpostos no prazo de 02 dias perante o próprio juiz prolator da


sentença (art. 382), ou, no caso dos tribunais (art. 619), endereçados ao próprio relator do acórdão
embargado.

C) PROCESSAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – Art. 620

Os embargos de declaração devem ser opostos no prazo de dois dias contado da


publicação do acórdão (art. 619), já que somente com conhecimento do inteiro teor deste o
interessado pode ter conhecimento dos defeitos que ele contém.

Devem ser apresentados em petição dirigida ao relator, fazendo-se constar os pontos


em que é ambíguo, obscuro, contraditório ou omisso, e desde que preencha tal requisito, o relator
deve indeferir, liminarmente, o requerimento.

Nos termos do dispositivo, recebendo o relator os embargos, deve ele apresenta-los para
julgamento na primeira sessão, não se prevendo, na hipótese, vista ao revisor.

Como não se pode, nos embargos declaratórios, ao menos em tese, alterar a decisão,
mas apenas esclarecê-la, sem violação do contraditório, não prevê também a lei a impugnação da
parte contrária, nem o oferecimento de parecer pelo procurador-geral de Justiça.

D) EFEITO INTERRUPTIVO

Por analogia ao disposto no art. 1026 do novo CPC, os embargos de declaração possuem
o efeito de interromper o prazo para interposição de recurso.

Com a novação redação do artigo 83, § 2º, da Lei 9.099/95, dada pelo novo Código de
Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), os embargos de declaração no âmbito do Juizado Especial
Criminal passaram também a ter efeito interruptivo.

16.5) CARTA TESTEMUNHÁVEL – Art. 639

A) CONCEITO

É o recurso que tem por fim provocar o reexame da decisão que denegar ou impedir o
seguimento de recurso em sentido estrito e do agravo em execução.
Com relação ao não recebimento da apelação, cabe recurso em sentido estrito (art. 581,
XV), não sendo necessária carta testemunhável.

B) PROCEDIMENTO

Art. 640. A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal,


conforme o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, indicando
o requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas.

Art. 641. O escrivão, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à parte e, no


prazo máximo de cinco dias, no caso de recurso no sentido estrito, ou de sessenta dias, no caso de
recurso extraordinário, fará entrega da carta, devidamente conferida e concertada.

Art. 643. Extraído e autuado o instrumento, observar-se-á o disposto nos arts. 588 a
592, no caso de recurso em sentido estrito, ou o processo estabelecido para o recurso extraordinário,
se deste se tratar.

Art. 644. O tribunal, câmara ou turma a que competir o julgamento da carta, se desta
tomar conhecimento, mandará processar o recurso, ou, se estiver suficientemente instruída, decidirá
logo, de meritis.

Art. 646. A carta testemunhável não terá efeito suspensivo

A carta testemunhável deve ser requerida dentro de 48 horas, após a ciência do


despacho que denegar o recurso ou da decisão que obstar o seu seguimento.

O requerimento deve ser endereçado ao escrivão, indicando o requerente as peças do


processo que deverão ser trasladadas. O escrivão dará recibo à parte recorrente da entrega do
recurso. Este, dentro do prazo máximo de 5 dias, fará a entrega da carta devidamente formada com
as peças indicadas; o escrivão que se negar a dar o recibo ou deixar de entregar, sob qualquer
pretexto, será suspenso por 30 dias.

O art. 641 faz referência ao prazo de 60 dias quando se tratar de recurso extraordinário.
Todavia, encontra-se revogado nesta parte, visto que do indeferimento desse recurso cabe agravo
instrumento.

Formado o instrumento, no caso do recurso em sentido estrito, o recorrente será


intimado para oferecer as suas razões dentro do prazo de 02 dias, e, em seguida, será intimado o
recorrido para oferecer suas contrarrazões, dentro do mesmo prazo, possibilitando-se, após, o juízo
de retratação por parte do juiz que denegou o recurso.

Na instância superior, o recurso seguirá o rito do recurso denegado. O tribunal mandará


processar o recurso, ou, se a carta estiver suficientemente instruída, julgará diretamente o recurso.

A carta testemunhável não tem efeito suspensivo.

17) REVISÃO CRIMINAL

A) CONCEITO

É uma ação penal de natureza constitutiva e sui generis, de competência originária dos
tribunais, destinada a rever decisão condenatória, com trânsito em julgado, quando ocorreu erro
judiciário.

Permite-se, portanto, pela revisão criminal, que o condenado possa pedir a qualquer
tempo aos tribunais, nos casos expressos em lei, que reexamine o processo já findo, a fim de ser
absolvido ou beneficiado de alguma forma.

PRESSUPOSTO: Cabendo a revisão apenas nos “processos findos”, é pressuposto


indispensável ao cabimento do pedido que a sentença condenatória tenha transitado em julgado, ou
seja, que da decisão não caiba qualquer recurso, inclusive extraordinário, com exceção do hábeas
corpus, que também é cabível a qualquer tempo.

B) CABIMENTO DA REVISÃO – Art. 621

I) quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal;

A sentença condenatória é contrária à lei quando não procede como ela manda ou
quando nela não encontra respaldo para sua existência.

Ex: réu condenado por fato que não constitui crime ou condenação a pena superior ao
limite máximo previsto em lei.

Quando se tratar de interpretação controversa do texto de lei, não cabe revisão criminal,
para se buscar outra análise do mesmo preceito. A hipótese deste inciso é clara: afronta ao texto
expresso de lei – e não do sentido que esta possa ter para uns e outros.

II) contrariedade à evidência dos autos

Contrária à evidência dos autos é a condenação que não tem apoio em provas idôneas,
mas em meros indícios, sem qualquer consistência lógica e real.

Para ser admissível a revisão criminal, torna-se indispensável que a decisão condenatória
proferida ofenda frontalmente as provas constantes nos autos.

Ex: Seria o equivalente a dizer que todas as testemunhas idôneas e imparciais ouvidas
afirmaram não ter sido o réu o autor do crime, mas o juiz, somente porque o acusado confessou na
fase policial, resolveu condená-lo. Não havendo recurso, transitou em julgado a sentença.

III) quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou


documentos comprovadamente falsos;

A lei utiliza a qualificação comprovadamente para denominar o falso dessas peças


constitutivas do conjunto probatório, determinante para a condenação.

Portanto, não é qualquer suspeita de fraude, vício ou falsidade que levará a reavaliação
da condenação com trânsito em julgado. Torna-se nítida a exigência de uma falsidade induvidosa.

Não basta que seja a prova falha, precária ou insuficiente. Não fundamenta a revisão,
por exemplo, simples falta de fundamentação de laudo pericial.

Provada, todavia, a falsidade do testemunho, colhido eventualmente até sob coação, da


perícia ou do documento, não se justifica manter-se aquilo que constitui fraude à Justiça, mesmo
porque a CF prevê a inadmissibilidade em juízo de prova ilícita.

Com o pedido, o requerente deve apresentar a prova que possua para demonstrar a
falsificação, já que não se permite na revisão a reabertura do processo para a produção de novas
provas.

IV) quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado


ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

Prova nova é aquela produzida sob o crivo do contraditório, não se admitindo, por
exemplo, depoimentos extrajudiciais. É também aquela que já existia à época da sentença, mas cuja
existência não foi cogitada.

Surgindo novas provas que indiquem que o condenado deveria ser absolvido, ou de
existirem circunstâncias atenuantes ou causas de diminuição de pena não cogitadas, ou não estarem
presentes circunstâncias agravantes, qualificadoras ou causas de aumento de pena indevidamente
reconhecidas, deve ser deferido o pedido revisional.

Se as provas inéditas, surgidas depois da sentença condenatória definitiva ter sido


proferida, inocentarem o acusado, seja porque negam ser ele o autor, seja porque indicam não ter
havido fato criminoso, é de se acolher a revisão criminal.

C) REVISÃO E EXTINÇÃO DA PENA – Art. 622


Permite a lei o pedido de revisão a qualquer tempo, inclusive após a extinção da pena.

Há, na hipótese, interesse de agir, pois, além do aspecto moral ínsito à revisão de uma
condenação, pode a decisão condenatória causar gravames ao condenado, não só na esfera civil e
administrativa, como também no campo penal (por exemplo, caracterização da reincidência).

Impede-se a reiteração do pedido de revisão sem novas provas, evitando-se assim


simples repetição indefinida daquilo que já foi examinado. Assim, apenas um novo pedido com
pretensão diversa, ou alicerçado em novas provas, que possibilite nova apreciação por novos
fundamentos de fato e de direito, merece conhecimento.

D) LEGITIMIDADE – Art. 623

Como demonstra este artigo, trata-se de ação privativa do réu condenado, podendo ele
ser substituído por seu representante legal ou seus sucessores, em rol taxativo – cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão. Nucci entende que companheiro(a) também pode.

Portanto, a revisão pode ser pedida pelo próprio réu, independentemente de estar
representado por seu procurador.

A revisão pode ser proposta por procurador legalmente habilitado, não se exigindo a
outorga ao advogado de poderes especiais.

E) ÓRGÃO COMPETENTE PARA O JULGAMENTO DA REVISÃO CRIMINAL


Art. 624. As revisões criminais serão processadas e julgadas:

I - pelo Supremo Tribunal Federal, quanto às condenações por ele proferidas;

II - pelo Tribunal Federal de Recursos (STJ), Tribunais de Justiça ou de Alçada, nos


demais casos.

§ 1o No Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Federal de Recursos o processo e


julgamento obedecerão ao que for estabelecido no respectivo regimento interno.

§ 2o Nos Tribunais de Justiça ou de Alçada, o julgamento será efetuado pelas câmaras


ou turmas criminais, reunidas em sessão conjunta, quando houver mais de uma, e, no caso contrário,
pelo tribunal pleno.
§ 3o Nos tribunais onde houver quatro ou mais câmaras ou turmas criminais, poderão
ser constituídos dois ou mais grupos de câmaras ou turmas para o julgamento de revisão, obedecido
o que for estabelecido no respectivo regimento interno.

É da competência originária dos tribunais, jamais sendo apreciada por juiz de primeira
instância. Se a decisão condenatória definitiva provier de magistrado de primeiro grau, julgará a
revisão criminal o tribunal que seria competente para conhecer do recurso ordinário.

Caso a decisão provenha de câmara ou turma de tribunal de segundo grau, cabe ao


próprio tribunal o julgamento da revisão, embora, nessa hipótese, não pela mesma câmara, mas
pelo grupo reunido de câmaras criminais.

Tratando-se de decisão proferida pelo Órgão Especial, cabe ao mesmo colegiado o


julgamento da revisão.

Cabe ao STF o julgamento da revisão criminal de seus julgados, em regra, os de


competência originária.

Da competência prevista pelo art. 624, deve-se excluir o Tribunal Federal de Recursos
(extinto) e acrescentar o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, e, da CF) e os Tribunais Regionais
Federais (art. 108, I, B, da CF), que tem competência revisional.

Não há mais Tribunal de Alçada, extinto que foi pela edição da EC 45/2004. Restam,
para o julgamento das revisões criminais de sua competência, os Tribunais de Justiça dos Estados e
os Tribunais Regionais Federais.

F) DECISÃO NA REVISÃO CRIMINAL – Art. 626

Em princípio, a revisão só pode ser deferida havendo nulidade insanável no processo ou


erro judiciário. Mas, apesar do caráter taxativo do art. 621, a decisão em que se julgar procedente
a revisão pode alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o
processo, tendo como único obstáculo a impossibilidade de se agravar a pena imposta pela decisão
revista.

Assim, além de se rescindir complementarmente a sentença ou acórdão para absolver o


acusado, nada impede, por exemplo, conforme jurisprudência, que se desclassifique a condenação
de tentativa de homicídio culposo para lesão corporal culposa, ou de falsificação de documentos
para falsa identidade; que se reveja e reduza a pena; que se reconheça nulidade absoluta, anulando-
se o processo, embora a nulidade manifesta também possa ser atacada por meio de habeas corpus.

18) HABEAS CORPUS

A) CONCEITO - ART. 647

É o remédio judicial que tem por finalidade evitar ou fazer cessar a violência ou a coação
à liberdade de locomoção decorrente de ilegalidade ou abuso de poder.

B) ESPÉCIES

 Habeas Corpus Liberatório ou repressivo: ⌠Existindo violência ou coação ilegal por


parte do coator, só restará então impetrar-se a ordem do juiz para que fique restabelecida a
liberdade de locomoção do paciente.

 Habeas Corpus Preventivo: ⌠Se a violência ou coação ilegal ainda não ocorreu, mas
tudo indica que iria consumar-se em breve dá-se então o habeas corpus preventivo. Bastará a
simples ameaça de coação à liberdade de coação.

C) LEGITIMIDADE ATIVA – ART. 654

Pode ser impetrado por qualquer pessoa, independentemente de habilitação legal ou


representação de advogado (dispensada a formalidade da procuração).

D) LEGITIMIDADE PASSIVA
No polo passivo da ação de habeas corpus está a pessoa – autoridade ou não – apontada
como coatora, que deve defender a legalidade do seu ato, quando prestar as informações.

Pode, ainda, ser o corpo estatal, como ocorre com tribunais, CPI.

Acrescente-se, ainda, que a CF não distingue, no polo passivo, a autoridade do particular,


de modo que é possível impetrar habeas corpus contra qualquer pessoa que constranja a liberdade
de locomoção de outrem.

Ex: imagine-se os inúmeros casos de internação irregular em hospitais psiquiátricos ou


mesmo da vedação de saída a determinados pacientes que não liquidam seus débitos no nosocômio
E) ADMISSIBILIDADE – ART. 648

I - quando não houver justa causa

Justa causa é a existência de fundamento jurídico e suporte fático autorizadores do


constrangimento à liberdade ambulatória. A hipótese trata da falta de justa causa para a prisão,
para o inquérito e para o processo.

Só há justa causa para a prisão no caso de flagrante delito ou de ordem escrita e


fundamentada da autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão ou crime
militar.

Falta justa causa para o inquérito policial quando este investiga fato atípico ou quando
já estiver extinta a punibilidade do indiciado.

II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei

Em regra, o processo do réu preso, na antiga sistemática do CPP, devia estar encerrado
dentro do prazo de 81 dias.

A nova reforma processual penal, ao concentrar os atos da instrução numa única


audiência, visou, em especial, concretizar o princípio constitucional da celeridade processual,
impedindo, por consequência, que os réus fiquem sujeitos ao constrangimento ilegal da prisão por
excesso de prazo.

Cumpre mencionar que a audiência de instrução e julgamento, no procedimento


ordinário, deverá realizar no prazo máximo de 60 dias (art. 400), após o oferecimento da defesa
inicial (art. 396 e 396 A).

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo

Só pode determinar a prisão a autoridade judiciária dotada de competência material e


territorial, salvo caso de prisão em flagrante. A incompetência absoluta do juízo também pode ser
reconhecida em sede de habeas corpus.

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação


Ex: sentenciado que já cumpriu sua pena, mas continua preso.

V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza

VI - quando o processo for manifestamente nulo

VII - quando extinta a punibilidade

F) COMPETÊNCIA

I) Do juiz de direito de primeira instância

Para trancar inquérito policial. Porém, se o inquérito tiver sido requisitado por autoridade
judiciária, a competência será do tribunal de segundo grau competente, de acordo com a sua
competência.

O juiz não pode conceder a ordem sobre ato de autoridade judiciária do mesmo grau.

II) Do Tribunal de Justiça

Quando a autoridade coatora for representante do MP Estadual. Ex: se o promotor de


justiça requisita a instauração de inquérito policial, sem lastro para tanto, o habeas corpus deve ser
impetrado perante o tribunal de justiça. No caso, estando a autoridade policial obrigada a atender a
requisição, o promotor de justiça é o verdadeiro responsável pela coação.

III) Do Tribunal Regional Federal

Se a autoridade coatora for juiz federal (art. 108, I, “d”).


IV) Do Superior Tribunal de Justiça

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

I - processar e julgar, originariamente:

a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e


nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos


Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;

c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas


mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de
Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

V) Do Supremo Tribunal Federal

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

(...)

i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o


paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do
Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999)

G) IMPETRAÇÃO – ART. 654

A impetração do habeas corpus pode ser feita por qualquer pessoa, denominada
impetrante.

A liminar é admissível, se os documentos que instruírem a petição evidenciarem a


ilegalidade da coação (art. 660, § 2º).

Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá,


fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1º Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por
outro motivo dever ser mantido na prisão.
§ 2º Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem a ilegalidade da coação,
o juiz ou o tribunal ordenará que cesse imediatamente o constrangimento.

Reiteração de pedido de habeas corpus: só é possível o conhecimento de novo pedido


quando haja novos fundamentos de fato ou de direito, que já não tenham sido analisados no pedido
anterior.

H) JULGAMENTO E EFEITOS

a) a concessão de habeas corpus liberatório implica seja o paciente posto em liberdade,


salvo se por outro motivo deva ser mantido na prisão.

Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá,


fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1º Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por
outro motivo dever ser mantido na prisão.

b) se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência ou coação
ilegal, será expedido ordem de salvo-conduto em favor do paciente

c) se a ordem for concedida para anular o processo, este será renovado a partir do
momento em que se verificou o vício

Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade do processo, este
será renovado.

d) quando a ordem for concedida para trancar inquérito policial ou ação penal, esta
impedirá seu curso normal

e) a decisão favorável do habeas corpus pode ser estendida a outros interessados que
se encontrem na situação idêntica à do paciente beneficiado.

I) RECURSOS

Cabe recurso em sentido estrito da decisão do juiz que conceder ou negar a ordem de
habeas corpus (art. 581, X).
18) RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL

Cabe recurso ordinário constitucional ao STF da decisão dos Tribunais Superiores que
julgar em única instância o habeas corpus, desde que denegatória (art. 102, II, “a”, CF/88).

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:

(...)

II - julgar, em recurso ordinário:

a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de


injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;

Cabe recurso ordinário constitucional ao Superior Tribunal de Justiça da decisão


denegatória de habeas corpus, proferida em única ou última instância pelos Tribunais Regionais
Federais, ou pelos tribunais dos Estados e do Distrito Federal (art. 105, II, “b”).

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

(..)

II - julgar, em recurso ordinário:

(...)

b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais


Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a
decisão;

O prazo de é de 05 dias para apresentar a petição de interposição do recurso ordinário


constitucional, já acompanhado das razões (art. 30 da Lei 8038/90).

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