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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

CIÊNCIAS SOCIAIS – EAD

ATIVIDADE DE FILOSOFIA
MAQUIAVEL

DENIS WILLIAN CABRAL RA: 203800 – 1º SEM


HENRIQUE MARCO PINTO BARBOSA - RA: 203488– 1º SEM
JORGE MIKLOS - RA: 207075– 1º SEM
NILSELENE MOREIRA DA SILVA FONSECA - RA: 203490– 1º SEM
RUBENS GOMES LIMA - RA: 203483– 1º SEM

POLO GUARULHOS
PERÍODO 1 – 1º SEM 2011
1
No cotidiano as palavras “força”, “poder” e “política” são utilizadas por muitos como
se fossem parecidas. É muito comum escutar que tal político usou do seu poder para fazer isso
ou aquilo ou que esse presidente tem mais ou menos força do que o outro. É comum também
o uso da palavra política como uma capacidade de persuasão, de convencimento. Dizemos
que tal pessoa conquistou um cargo na empresa, pois “ela ou ele é política”, ou seja, consegue
fazer acordos, atrair aliados, mediar conflitos, agradar “gregos e troianos” para, enfim,
alcançar um objetivo, uma meta, que muitas vezes nada mais é do que o próprio poder. Essa
última forma, parece-nos a mais comum: política seria o uso de recursos e estratégias (força)
para se alcançar o poder.
Mas o senso comum é repleto de armadilhas e muitas vezes nos dá uma visão ingênua
e parcial da realidade, quando não uma visão até distorcida do real. O dicionário de política
organizado por Norberto Bobbio nos oferece uma visão acerca dessa indeterminação:

A LINGUAGEM política é notoriamente ambígua. A maior parte dos termos usados


no discurso político tem significados diversos. Esta variedade depende, tanto do
fato de muitos termos terem passado por longa série de mutações históricas —
alguns termos fundamentais, tais como "democracia", "aristocracia", "déspota" e
"política", foram-nos legados por escritores gregos —, como da circunstância
de não existir até hoje uma ciência política tão rigorosa que tenha conseguido
determinar e impor, de modo unívoco e universalmente aceito, o significado
dos termos habitualmente mais utilizados. A maior parte destes termos é
derivada da linguagem comum e conserva a fluidez e a incerteza dos
confins. Da mesma forma, os termos que adquiriram um significado
técnico através da elaboração daqueles que usam a linguagem política para
fins teóricos estão entrando continuamente na linguagem da luta política do dia-a-
dia, que por sua vez é combatida, não o esqueçamos, em grande parte com a arma
da palavra, e sofrem variações e transposições de sentido, intencionais e não-
intencionais, muitas vezes relevantes. Na linguagem da luta política quotidiana,
palavras que são técnicas desde a origem ou desde tempos imemoriais, como
"oligarquia", "tirania", "ditadura" e "democracia", são usadas como termos
da linguagem comum e por isso de modo não-unívoco. Palavras com
sentido mais propriamente técnico, como são todos os "ismos" em que é rica a
linguagem política — "socialismo", "comunismo", "facismo", peronismo",
"marxismo", "leninismo", stalinismo", etc. —, indicam fenômenos históricos
tão complexos e elaborações doutrinais tão controvertidas que não deixam de
ser suscetíveis das mais diferentes interpretações.1

O recurso disponível para minorar o sentimento de indeterminação que o uso dessas


palavras causam é a busca de referências teóricas em que filósofos e cientistas políticos
refletiram de maneira mais rigorosa, radical e de conjunto acerca da política. Se isso não
resolve ao todo o problema, pelo menos nos dá maior consistência de análise.

1
BOBBIO, Norberto, Dicionário de política. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad.
Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. -
Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1 la ed., 1998.
2
O propósito dessa reflexão é refletir acerca do pensamento de Maquiavel, partindo da
visão política grega.
Vejamos o diz a professora Marilena Chauí acerca disso:

Para os gregos, a finalidade da vida política era a justiça na comunidade. A noção de


justiça fora, inicialmente, elaborada em termos míticos, a partir de três figuras
principais: themis, a lei divina que institui a ordem do Universo; cosmos, a ordem
universal estabelecida pela lei divina; e dike, a justiça entre as coisas e entre os
homens, no respeito às leis divinas e à ordem cósmica. Pouco a pouco, a noção de
dike torna-se a regra natural para a ação das coisas e dos homens e o critério para
julgá-las. A idéia de justiça se refere, portanto, a uma ordem divina e natural, que
regula, julga e pune as ações das coisas e dos seres humanos. A justiça é a lei e a
ordem do mundo, isto é, da Natureza ou physis. Lei (nomos), Natureza (physis) e
ordem (cosmos) constituem, assim, o campo da idéia de justiça. A invenção da
política exigiu que as explicações míticas fossem afastadas - themis e dike deixaram
de ser vistas como duas deusas que impunham ordem e leis ao mundo e aos seres
humanos, passando a significar as causas que fazem haver ordem, lei e justiça na
Natureza e na polis. Justo é o que segue a ordem natural e respeita a lei natural. Mas
a polis existe por natureza ou por convenção entre os homens? A justiça e a lei
política são naturais ou convencionais? Essas indagações colocam, de um lado, os
sofistas, defensores do caráter convencional da justiça e da lei, e, de outro lado,
Platão e Aristóteles, defensores do caráter natural da justiça e da lei.2

Política e Filosofia nasceram na mesma época. Por serem contemporâneas, diz-se que
"a Filosofia é filha da polis" e muitos dos primeiros filósofos (os chamados pré-socráticos)
foram chefes políticos e legisladores de suas cidades. Por sua origem, a Filosofia não cessou
de refletir sobre o fenômeno político, elaborando teorias para explicar sua origem, sua
finalidade e suas formas. A esses filósofos devemos a distinção entre poder despótico e poder
político.
Quando lemos os filósofos gregos e romanos, observamos que tratam a política como
um valor e não como um simples fato, considerando a existência política como finalidade
superior da vida humana, como a vida boa, entendida como racional, feliz e justa, própria dos
homens livres. Embora considerem a forma mais alta de vida a do sábio contemplativo, isto é,
do filósofo, afirmam que, para os não-filósofos, a vida superior só existe na Cidade justa e,
por isso mesmo, o filósofo deve oferecer os conceitos verdadeiros que auxiliem na
formulação da melhor política para a cidade.
Para Aristóteles a polis (cidade) existe por natureza e é da natureza humana buscar a
vida em sociedade.
“Toda cidade [pólis], portanto, existe naturalmente, da mesma forma que as
primeiras comunidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma coisa
é seu estágio final. (...) Estas considerações deixam claro que a cidade é uma

2
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.
3
criação natural, e que o homem é por natureza um animal político” (o grifo é
nosso) 3

Na cidade bem constituída, os cidadãos devem viver executando trabalhos braçais


(artesãos) ou fazendo negócios (comerciantes). Estes tipos de vida são ignóbeis e
incompatíveis com as qualidades morais. Tampouco devem ser agricultores os aspirantes à
cidadania. Isso porque o ócio 4 é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à
prática das atividades políticas.
Ócio entre os gregos era um conceito, de origem aristocrática, que implicava,
precisamente, a liberdade, que advém de não se ter obrigatoriamente que trabalhar. Liberdade
para participar da vida pública e para refletir sobre o mundo, para flanar, para dedicar-se a
discussões estimulantes.
Assim, a reflexão aristotélica sobre a política não se separa da ética, pois a vida
individual está imbricada na vida comunitária. Se Aristóteles conclui que a finalidade da ação
moral é a felicidade do indivíduo, também a política tem por fim organizar a cidade feliz: “É
preciso que o melhor governo seja aquele que possua uma constituição tal que todo o
cidadão possa ser virtuoso e viver feliz.”5
Por isso, diante da noção fria de justiça proposta por Platão, Aristóteles considera que
a justiça não pode vir separada da philia. A ligação entre ética e política é evidente, na medida
em que a questão do bom governo, do regime justo, da cidade boa, depende da virtude.
Podemos considerar que a política é uma invenção grega. Cidadãos livres das
necessidades, virtuosos, se reuniam na ágora como iguais para debater acerca do bem comum,
da vida da polis. A isso chamamos também de esfera pública.
Na Idade Média predomina a concepção de que homem teria uma natureza sujeita ao
pecado e ao descontrole das paixões, o que exige vigilância constante, cabendo ao Estado
intimidar os homens para que ajam retamente.

Na Idade Média configuram-se duas instâncias de poder: a do Estado e a da Igreja.


O Estado é de natureza secular, temporal, voltado para as necessidades mundanas e
caracteriza-se pelo exercício da força física. A Igreja é de natureza espiritual,
voltada para os interesses da salvação da alma e deve encaminhar o rebanho para a
verdadeira religião por meio da força da educação e da persuasão.6

3
ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Trad. de Mário da Gama Kuri. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997.
4
A palavra que os gregos usavam, scholé, originou "escola" e o nexo entre nossa escola e o ócio grego está,
justamente, nessa oportunidade de se refletir, que deveria estar no centro da escola.
5
Idem
6
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São
Paulo: Moderna, 2003.
4
Diante disso podermos observar a estreita ligação entre política e moral, com a
exigência de se formar o governante justo, não-tirânico, que por sua vez consiga obrigar,
muitas vezes pelo medo, à obediência aos princípios da moral cristã:

Dois amores construíram duas cidades: o amor de si levado até ao desprezo de Deus
edificou a cidade terrestre, civitas terrena; o amor de Deus levado até ao desprezo de
si próprio ergueu a cidade celeste; uma rende glória a si, a outra ao Senhor; uma
busca uma glória vinda dos homens; para a outra, Deus, testemunha da Consciência,
é a maior glória (Santo Agostinho)7.

Para a moral cristã, predominante na Idade Média, há valores espirituais


superiores aos políticos, além de que o bem comum da cidade deve se subordinar ao bem
supremo da salvação da alma. A moral cristã se apóia em uma concepção do bem e do mal; do
justo e do injusto, que ao mesmo tempo preexiste e transcende a autoridade do Estado, cuja
organização político-jurídica não deve contradizer ou violar as formas éticas fundamentais,
implícitas no direito natural. O indivíduo está subordinado ao Estado, mas a ação deste último
se acha limitada pela lei natural ou moral que constitui uma instância superior à qual todo
membro da comunidade pode recorrer sempre que o poder temporal atentar contra seus
direitos essenciais inalienáveis. Na Idade Média, o Estado está para a Igreja como a filosofia
para a teologia e a natureza para a graça.
No fim da Idade Média e no início dos tempos modernos, nascem as monarquias
nacionais européias, graças à aliança estabelecida entre rei (ocupava o trono, mas não exercia
sua autoridade sobre o conjunto da população do reino, na medida em que, no feudalismo, o
poder achava-se pulverizado entre os feudos) e a burguesia (almeja unificar mercados e
padronizar leis, moedas, pesos... a fim de incrementar suas atividades mercantis), e, a partir de
então, os reis ampliaram seus poderes, monopolizando o governo. Os monarcas absolutistas
europeus controlavam o exército (permanente e profissional), a cobrança de tributos e a
justiça dos seus reinos. Controlavam, portanto, um grande e oneroso aparelho de Estado que
demandava recursos constantes para seu sustento.
A nova configuração na ordem política europeia implicou uma reavaliação das
relações entre ética e política, estabelecendo a autonomia da política, negando a anterioridade
das questões morais na avaliação da ação política.
Nesse cenário emerge Nicolau Maquiavel, pensador italiano, considerado o pai da
teoria política moderna. Em sua obra “O Príncipe”, defendia a criação de um Estado

7
Idem
5
unificado, com poder político forte e centralizado. Maquiavel intercedeu favoravelmente à
separação entre política e moral no exercício do poder.
Se por um lado, na antiguidade clássica, Aristóteles sublinha a convergência entre
política e ética, afirmando que as virtudes morais individuais são indispensáveis para
engendrar a cidade feliz, por outro, Maquiavel na modernidade dava aos governantes
capazes dos grandes feitos a licença de não se obrigariam sequer a cumprir os pactos e a
palavra empenhada. Em nome do bem comum e da manutenção do poder, nos momentos das
grandes decisões, seria necessário ter força e astúcia, simbolicamente, agir como o leão e
como a raposa), e saber, quando necessário, dissimular:

Todos sabem que, para um príncipe, é uma boa coisa manter a palavra e viver uma
vida fiel. A história de nossos tempos mostra, contudo, que os príncipes que fizeram
grandes coisas tiveram pouca consideração em manter a fé. Com o correr do tempo,
foram capazes de ultrapassar aqueles que tornaram a lealdade e a honestidade a base
de sua lei... um príncipe de êxito deve imitar a raposa e o leão, pois o leão não pode
se proteger das armadilhas , e a raposa não pode se defender dos lobos. Portanto,
precisa ser ao mesmo tempo uma raposa para reconhecer as armadilhas e um leão
para afugentar os lobos. Os que desejam ser apenas leões não compreendem este
fato importante. Um príncipe não deve manter sua palavra quando fazê-lo for contra
seus interesses, e, quando não existam mais as razões que o motivaram
originalmente. Se os homens fossem todos bons, esta regra não seria muito certa.
Mas como são maus e não honrariam sua palavra com o príncipe, este não tem
obrigação moral de lhes ser fiel. Além disso, um príncipe sempre pode encontrar
uma desculpa para não cumprir a palavra dada. Qualquer um pode apresentar uma
série de exemplos modernos desta afirmação, e pode demonstrar quantas vezes a paz
foi rompida e promessas rejeitadas por príncipes desonestos. Os que conseguiram
imitar a raposa foram os que obtiveram mais êxito. Mas um príncipe deve ter o
cuidado de disfarçar bem estas características. Os homens são tão tolos e qualquer
um que os deseje enganar, sempre pode encontrar quem o permita.8

Os resultados é que contariam, não os princípios. Embora aceitando que o Príncipe


deve se manter o quanto possível no caminho do bem, agindo em conformidade com a
caridade, a fé, a clemência e a religião, Maquiavel reitera que ele deverá enveredar pelo mal
quando for preciso. E justifica sua visão descarnada do poder e dos meios para sua
manutenção, asseverando que os governantes agem dessa maneira porque os homens não são
bons. Se todos fossem bons, os príncipes não precisariam ser dissimulados e dissimuladores.
Não sendo assim, "na ação de todos os homens - e principalmente nas do Príncipe, contra o
qual não existe tribunal a que se possa recorrer - o que importa é o resultado."

8
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: [tradução Maria Júlia Goldwasser]. 2ª Ed. – São Paulo: Martins Fontes,
1996. – (Clássicos)
6
Tal afirmação leva as pessoas a considerar que Maquiavel estaria defendendo o
político imoral, os corruptos e os tiranos. Disso derivou-se o adjetivo maquiavélico. A má
fama do pensador italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) é bastante antiga. Data de meados
do século XVI. Ao longo do tempo, ele foi inúmeras vezes considerado um autor maldito, a
ponto de seu nome ter dado origem a um apelido para o diabo em inglês: "old Nick".
O lirvo “O Príncipe” constava no Index Librorum Prohibitorum, lista de publicações
proibidas pela Igreja Católica, de "livros perniciosos" contendo ainda as regras da igreja
relativamente a livros.
Para muitos não se trata disso. O adjetivo maquiavélico não cabe em Maquiavel. A
novidade do pensamento de Maquiavel, justamente a que causou maior escândalo e críticas,
está na reavaliação das relações entre ética e política. Maquiavel apresenta uma moral laica,
secular, de base naturalista, diferente da moral cristã; por outro, estabelece a autonomia da
política, negando a anterioridade das questões morais na avaliação da ação política.

"Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado do que temido, ou o inverso?


Respondo que seria preferível ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-
las, parece-me muito mais seguro ser temido do que amado, se só se puder ser uma
delas. [...] Os homens hesitam menos em prejudicar um homem que se torna amado
do que outro que se torna temido, pois o amor mantém-se por um laço de obrigações
que, em virtude de os homens serem maus, quebra-se quando surge ocasião de
melhor proveito. Mas o medo mantém-se por um temor do castigo que nunca nos
abandona. Contudo, o príncipe deve-se fazer temer de tal modo que, se não
conseguir a amizade, possa pelo menos fugir à inimizade, visto haver a possibilidade
de ser temido e não ser odiado, ao mesmo tempo9."

Pode-se dizer que a política de Maquiavel é realista, pois procura a verdade efetiva, ou
seja, "como o homem age de fato". As observações das ações dos homens do seu tempo e dos
estudos dos antigos, sobretudo da Roma Antiga, levam-no à constatação de que os homens
sempre agiram pelas vias da corrupção e da violência. Partindo do pressuposto da natureza
humana capaz do mal e do erro, analisa a ação política sem se preocupar em ocultar o que se
faz e não se costuma dizer:

Mas pretendo escrever alguma coisa útil. Examinarei os fatos da política, em vez de
extrair minhas provas de governos imaginários, que, de fato, nunca existiram. Existe
uma grande diferença entre a maneira de vivermos e como deveríamos viver. Na
política, um homem deveria ser guiado pelo que é, e não pelo que deveria ser. Um
homem que fez apenas o que é certo fracassará logo entre tantos, indignos de
confiança.10
9
Idem
10
Idem
7
A nova ética analisa as ações não mais em função de urna hierarquia de valores dada a
priori, mas sim em vista das conseqüências, dos resultados da ação política. Não se trata de
um amoralismo, mas de uma nova moral centrada nos critérios da avaliação do que é útil à
comunidade: o critério para definir o que é moral é o bem da comunidade, e nesse sentido às
vezes é legítimo o recurso ao mal (o emprego da força coercitiva do Estado, a guerra, a prática
da espionagem, o emprego da violência). Estamos diante de uma moral imanente, mundana,
que vive do relacionamento entre os homens. E se há a possibilidade de os homens serem
corruptos, constitui dever do Príncipe manter-se no poder a qualquer custo.
Os problemas colocados por esse tipo de interpretação são imensos. No fundo volta-se
à relação entre moral e política. Maquiavel, de certo modo, não renega a moral cristã, apenas
mostra que a política obriga, em circunstâncias dadas, a agir guiado por outros valores. Lança,
assim, as sementes de idéias como a incomensurabilidade e mesmo a incompatibilidade de
valores que convivem na mesma cultura e entre os quais não existem padrões racionais de
escolha.
Entretanto, acreditamos que defender que o poder e a ética são instâncias separadas é
perigoso. Max Weber em sua obra A política como vocação, na qual o maior sociólogo do
século passado analisa os êxitos e fracassos dos políticos no afã de modificar o curso das
coisas. As dez últimas páginas da conferência expressam à perfeição as angústias dos
políticos conscientes de seu papel. O tema da ética de responsabilidade e da ética de
convicções é exposto magistralmente pelo mestre alemão: "Se fizermos qualquer concessão
ao princípio de que os fins justificam os meios, não será possível aproximar uma ética dos
fins últimos (de convicções) e uma ética da responsabilidade, ou decretar eticamente que fim
deve justificar que meios.11”
Longe que querer esgotar o assunto, acreditamos que Maquiavel sempre será um
pensador “atual”. Sua atualidade reside no fato dele ter tratado de um tema que permeia a
esfera da vida humana tanto individual como coletiva: o poder.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

11
WEBER, Max. Ciência e Política. Duas Vocações. São Paulo: Cultrix, 2004.

8
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução
à filosofia. São Paulo: Moderna, 2003.
ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Trad. de Mário da Gama Kuri. Brasília: Ed. Universidade de
Brasília, 1997.
BOBBIO, Norberto, Dicionário de política. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e
Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. João Ferreira; rev. geral
João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1
la ed., 1998.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: [tradução Maria Júlia Goldwasser]. 2ª Ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 1996
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2004.

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