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Os 100 meticais

De Adil Litos Sadeia

Já eram nove horas de um dia com muito sol, o sono do Júlio, foi interrompido e cortado aos
pedaços como se de carne tratasse, quando por volta das nove horas e trinta minutos, Júlio de 21
anos de idade, adornado, braço rijo e com um corpo estampado de melanina, acordou com duas
chamadas perdidas e com uma mensagem que dizia, bom dia Senhor Júlio!
Como resposta, decidiu mandar uma mensagem, pois o número parecia lhe estranho. — Bom
dia, estava a descansar, quem me escreve? Cinco minutos depois, Clarice, colega do Júlio liga!

— Tá sim, bom dia— Disse Júlio com uma voz fina e firme!

— Bom dia, estou a falar com Júlio?

— Sim sim, é ele?

—Hahahaha Júlio, esquece-la, não estas a falar com Nyusi, muda-la de voz! — Disse Clarice
Soltando um balde de gargalhadas.

— Édjò, aqui Clarice, espero que estejas a me ouvir bem e, que os teus ouvidos estejam bem
apurados para me escutar muito bem, tá bom ?

— Sim sim— Respostou Júlio com a voz baixa—a chamada da Clarice, havia lhe retirado uma
dose de sorrisos.

— Estou a ligar-te para falar de trabalho. Conforme sabes, tu não fizeste nada no trabalho,
confirmas?

— Desculpa, que trabalho?

—Awenou! Trabalho da faculdade— disse furiosa, Clarice, que falava de Chokwé!


— Há sim— bocejou Júlio com intuito de transparecer o sono que ainda pesava sobre ele.

— É o seguinte, uma vez que você e outros colegas não fizeram o trabalho, terão de cuidar da
logística e, já pensei em tudo!

— Como assim logística? Pensou em o quê? Júlio, viu o seu semblante na metamorfose de
impaciente para sério!

— Eu enviei trabalho ao meu namorado para imprimir, digitei na internet café e, por fim
pesquisei a informação em Inhambane, na casa de um vizinho meu de distrito de Vilanculo!

Todavia, o discurso da Clarice, era tão embaraçoso que dava para perceber de antemão que se
tratava de mais um golpe inteligente e chantagem académica!

— Quero deixar bem claro que, ninguém é obrigado a tirar os cem meticais, e para evitar
confusão, imprimi cinco capas, a primeira com nome de todos os elementos do grupo, a segunda
com nome dos 4 elementos do grupo, a terceira com o meu nome, a quarta com o nome de três
elementos e por fim tenho uma capa virgem que só estarão os que forem a canalizar o valor no
meu M-pesa! Ntláa— Disse com seriedade e com um tom de revolta.

— E por quê estas a ser assim, colega? — Perguntou Júlio!

— Alô, não me viajam vocês! Eu não posso digitar o trabalho, fazer pesquisas e por fim voltar a
imprimir o trabalho sozinha, sendo que o grupo é constituído por oito elementos. Eu também
tenho minhas preocupações. Mobiya hitxova1?

— Esta bem, você é quem sabe. Faça o que bem entender.

— Você é que sabe? É isso que irás dizer? Júlio, eu não estou na faculdade para fazer
licenciatura para ninguém, e digo mais, eu estou a fazer-vos um favor para evitar reprovações,
chuva de injúrias e nomes que por fim, não mudarão nada na minha vida, estas a me ouvir bem?

— Esta bem!

— Até as 18 horas para fazeres falar o meu M-pesa!

1
Estao loucos?
Naquele embaraçoso dia, naquelas horas em que o sol se dá por vencido, e dá lugar a noite. O
homem carregava um rosto exibido de insuficiência de precipitação pluviométrica de alegria, ou
seja, não chovia nenhuma gota de sorriso nos seus lábios. 2 A pressão escorria nas veias daquele
pobre homem, que procurava os cem meticais, como se estivesse a procura de uma agulha no
deserto.

Já eram dezoito horas e a Clarice decide ligar!

— Edjô, qual é a cena? Espero que não me chames de maldosa quando eu for entregar o trabalho
sem o teu nome.

— Meus pais estão txonados e, conforme sabes, estamos numa crise. Não consegui o valor.
Desculpa!

— Júlio, não me venhas com essas, não me arranques a felicidade, pois tudo que fiz foi para o
seu futuro, sim, sei que estas txonado, mas tentaste txenecar aos seus vizinhos?

Esta bem, fizeste a sua escolha, espero que tenhas um bom semestre nessa cadeira no ano que
vem. Passar bem. — Disse Clarice com raiva, pois, precisava daquele valor para saciar os seus
caprichos.

— Mas colega (…) thummmmmm!!!.

Clarice, desligou o telemóvel sem que o Júlio terminasse o seu discurso. Naquele dia, o Júlio
semeou um ódio para com sua colega, regou-o com injúrias, brotou uma mágoa e rogava que a
Clarice tivesse má sorte na vida, mas pouco imaginava Júlio, que a Clarice tivesse o perdoado e
escrito o nome dele na capa de trabalho.

Duas semanas depois, quando o Júlio entrara no sistema, percebeu que havia uma nota que não
lhe pertencia, mas pouco queria saber da sua proveniência, o homem, transbordava a felicidade,
trajava a alegria, sorrindo como um vencedor que não era.

2
In Meque Samboco, A Quarentena do Sr. Muchanga
Anos passaram, Júlio, quando finalmente, furou o mercado do emprego, teve tantas dificuldades
em resolver alguns problemas que lhe eram servidos, e muitos desses problemas e resoluções
estavam expostos no trabalho que ele rejeitara quando fazia faculdade, consequências da sua
irresponsabilidade, preguiça, tornara Júlio um mau profissional!

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