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FACULDADE SANTA MARIA DA GLÓRIA – SMG

CURSO DE DIREITO

EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL NO BRASIL

Ana Carolina de Oliveira


Grayce Kelly Bispo Boscarato
Leonardo Vinicius Tobar

Trabalho apresentado a Professora Natalia Santin


Mazaro, na matéria de Teoria Geral do Estado e
Constitucional, 2º semestre, para avaliação e
composição da nota do projeto integrador da
Faculdade Santa Maria da Glória - SMG.

Maringá
2017
2

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 03

3
2 ORIGENS E CONCEITOS DE 04
CONSTITUIÇÃO..............................
2.1 Conceito de Constituição......................................................... 04 1.
2.2 Origem do Constitucionalismo .............................................. 05 1.
1.
3 LINHA CRONOLÓGICA DAS CONSTITUIÇÕES 07
1.
BRASILEIRAS... 07 1.
3.1 Constituição Imperial de 08 1.
1824..................................................... 1.
10
3.2 Const. da Republica dos Estados Unidos do Brasil de 11 1.
1891........ 1.
13
3.3 Const. da Republica dos Estados Unidos do Brasil de 1.
13
1934........ 1.
14
3.4 Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1.
16 1.
1937....................
16 1.
3.5 Constituição dos Estados Unidos do Brasil de
19 1.
1946 ...................
1.
3.6 Golpe Militar de 1964 e os Atos
1.
Institucionais.............................
1.
3.7 Constituição da República Federativa do Brasil de 1967
1.
............
1.
3.7.1 Ato institucional 1.
n°5 ..................................................... 1.
3.8 Constituição da República Federativa do Brasil de 1.
1988 ............ 1.
3.8.1 Caracterização da Constituição de 1.
1988..................... 1.
1.
4 SEMELHANÇAS E DIFFERENÇAS ENTRE A CONSTITUIÇÃO 1.
DE 1824 E A DE 21 1.
1988....................................................................... 1.
1.
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 23 1.
1.
REFERENCIAS ............................................................................. 24
1.
4

Apresentaremos neste trabalho, primeiramente, os primórdios do movimento


constitucionalista e os fatores históricos que levaram a elaboração da Carta Magna
em 1215, que é considerada uma das Leis precursoras do Constitucionalismo.
Neste sentido, é abordado o contexto histórico do Brasil e o que forçou D.
Pedro I criar um sistema jurídico para o recém independente Império Brasileiro,
começando de fato, com a Constituição de 1824.
E dessa forma o trabalho se distende elencando não só as principais
mudanças a cada Carta Constitucional, mas também ao entendimento do que,
histórico e socialmente, induziu o governo e o povo a evoluir constitucionalmente.
Além de esmiuçar apenas as Constituições brasileiras, se fez necessário
também discorrer a propósito do Golpe Militar em 1964 e o governo dos Atos
Institucionais, que suprimiram diversos Direitos Fundamentais do povo brasileiro, o
que para a ciência do Direito é imprescindível.
Ao término dos “Anos de Chumbo” e a consequente saída dos militares
do Poder, a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi um respiro a
população brasileira que a partir de então, pode contar novamente com as garantias
individuais suprimidas durante o Regime, e principalmente, com a liberdade de
expressão tão restringida naquele período.
Outrossim, a Constituição de 1988 teve a função de ouvir o povo que nas
ruas, clamava pelo retorno da democracia. Instalada a Assembleia Constituinte e
eleito o seu presidente, Ulysses Guimarães que com grande expectativa proferiu as
calmantes e calorosas palavras: “Srs. Constituintes, esta Assembleia reúne-se sob
um manto imperativo: o de promover a grande mudança exigida por nosso povo.
Ecoam nesta sala as reinvindicações das ruas (...). A Nação quer mudar, a Nação
deve mudar, a Nação vai mudar (...). Estamos aqui para dar a essa vontade
indomável o sacramento da lei. A Constituição deve ser - e será – o instrumento
jurídico para o exercício da liberdade e da plena realização do homem brasileiro”.
Com as palavras de Ulysses Guimarães, adaptadas por Zulmar Fachin,
abrimos a presente composição.
2. ORIGENS E CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO
5

2.1 CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

Constituição é a Lei Maior de uma sociedade politicamente organizada. É


o modo pelo qual se forma, se estabelece e organiza uma sociedade. Pode ser
compreendida segundo Zulmar Fachin 1 "como o documento normativo fundamental
do Estado e da sociedade, dotado de supremacia normativa em relação ao restante
do ordenamento jurídico. " E o Direito Constitucional é um conjunto de normas e
regras que definem a estrutura da constituição do Estado, organizando suas
instituições e órgãos, limitando poderes, através de previsão de diversos direitos e
garantias fundamentais.

Para Hans Kelsen, no sentido jurídico-positivo, a Constituição é o


fundamento de validade da ordem jurídica. Quer dizer que é o conjunto de normas
que regulam a criação das normas jurídicas em geral, poder esse atribuído ao
Estado. Kelsen desenvolveu a chamada "Teoria Pura do Direito", onde a
Constituição é considerada como norma, e norma pura, como puro dever ser, sem
qualquer consideração de cunho sociológico, político ou filosófico. 2

Já no sentido sociológico, Ferdinand Lassalle defendeu que uma


Constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder do povo, refletindo as
forças sociais que constituem tal poder. Diz ele:

“Podem os meus ouvintes plantar no seu quintal uma macieira e segurar no


seu tronco um papel que diga: "Esta árvore é uma figueira". Bastará esse
papel para transformar em figueira o que é macieira? Não, naturalmente. E
embora conseguissem que seus criados, vizinhos e conhecidos, por uma
razão de solidariedade, confirmassem a inscrição existente na árvore de
que o pé plantado era uma figueira, a planta continuaria sendo o que
realmente era e, quando desses frutos, destruiriam estes a fábula
produzindo maçãs e não figos. Igual acontece com as Constituições. De
nada servirá o que se escrever numa folha de papel, se não se justifica
pelos fatos reais e efetivos do poder”. 3

1
Fachin, Zulmar Curso de Direito constitucional: FORENSE 2012.
2
KELSEN, Hans, 1881-1973. Teoria Pura do Direito: introdução a problemática cientifica do direito –
2007.
3
LASSALLE, Ferdinand, que é uma Constituição? P. 59.
6

Logo, se não representasse o efetivo poder do povo, ela seria ilegítima,


caracterizando-se como uma simples folha de papel. A constituição, segundo o
autor, seria, então, a somatória dos fatores reais do poder dentro da sociedade.

2.2 ORIGEM DO CONSTITUCIONALISMO

Tudo começou na Inglaterra, a liberdade política e a igualdade civil foi


tomando força, mesmo que vagarosamente, como condições indispensáveis a vida
pública. Bruno Albergaria, conta em seu livro Histórias do Direito (2012) que com a
Morte do Rei Henrique II, Richard I, o legítimo herdeiro do trono inglês assumiu a
coroa inglesa, mas não permaneceu na Inglaterra, afinal, nem inglês falava,
dominava a língua francesa.
O Rei Richard I tentou conquistar Jerusalém, promovendo a terceira
Cruzada, o que acabou por obriga-lo a fazer expedições a Terra Santa. Deixou
tomando conta da Inglaterra em seu lugar, seu irmão, que apesar de não ser rei,
ficou responsável pelo governo. João Lackland, ou João sem Terra, já que não havia
herdado nenhuma terra de seu pai, o Rei Henrique II. João sem Terra acabou
ascendendo definitivamente o Governo depois que Richard I foi morto em batalha,
sem deixar descendentes diretos.

João Sem-Terra era noivo de Isabel de Gloucester, mas acabou se


casando com Isabel de Augoulême, o que provocou uma guerra com a França três
anos após sua coroação, em 1202. Acabou perdendo todas as batalhas, deixando
sua situação financeira ainda mais precária, e também, piorando ainda mais a
situação, tentou interferir na escolha do Arcebispo de Cantuária, desagradando o
Papa Inocêncio III, que o excomungou em 1211. Por causa da contenda com o
Papa, John confiscou os bens da Igreja, causando uma revolta da população que já
não estava feliz com o aumento das taxas tributárias, causando com isso, uma
quase guerra civil.

Por fim, após fracassar em sua tentativa de tomar os bens na França,


completamente debilitado em seu governo, rendeu-se ao Papa e aos nobres, sendo
obrigado pelos Lordes a jurar a Magna Carta em 1215. Segundo Albergaria "O texto
é considerado um dos documentos jurídicos mais importantes feitos Homem.
7

Caracteriza o início do Constitucionalismo." 4 Pelo que jurava a Carta Magna, João foi
obrigado a renunciar muitos Direitos e respeitar os procedimentos legais, nos termos
de seu último artigo:

"63- Portanto, é nossa vontade e firmemente ordenamos que a igreja


inglesa seja livre, e que os homens de nosso reino tenham e conversem
todas conversem todas aquelas liberdades, Direitos e concessões, bem e
pacificamente, livres e tranquilamente, em sua plenitude e integridade, para
si e para seus herdeiros, de nós e de nossos herdeiros, a todos os respeitos
e em todos os lugares, para sempre. Ambos, nós e os barões, juremos que
todos estes preconceitos serão observados de boa-fé e sem malícia. Com o
5
testemunho das pessoas acima mencionadas e de muitas outras"

Além disso, através da Carta Magna, o rei reconhecia que não estava
acima da Lei, e que deveria respeitar as normas pré-instituídas, foi então que surgiu
o chamado "Estado de Direito", assegurando a liberdade do povo e da igreja.

3. LINHA CRONOLÓGICA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

3.1 CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DO IMPERIO DO BRASIL DE 1824.

4
ALBERGARIA, Bruno, HISTÓRIAS DO DIREITO (2012)
5
Art. 63 da Magna Carta, disponível em https://georgelins.com/2009/08/09/a-magna-charta-de-joao-
sem-terra-1215-a-peticao-de-direitos-1628-e-o-devido-processo-legal/, acesso em 10 de setembro de
2017
8

Em 1823, D. Pedro I convocou uma assembleia nacional constituinte com


o objetivo de criar uma constituição genuinamente brasileira, a constituinte era
formada em partes por portugueses que defendiam que o poder ficasse
absolutamente nas mãos do Imperador, e de outro lado os brasileiros que
desejavam que houvesse a divisão dos três poderes, ficando o poder do Imperador
submetido ao Legislativo. Conduta esta que desagradou a D. Pedro que dissolveu a
Assembleia Constituinte
Conhecida como “Constituição da Mandioca”, foi outorgada pelo
Imperador Dom Pedro I após a dissolução da Assembleia Constituinte e tinha
caráter extremamente censitário, o que significava que para eleger e ser eleito, os
cidadãos deveriam ter uma renda mínima, fixada à época em produção de
mandioca, o que deu origem ao seu apelido 6.
Além disso apenas tinham direito a voto os homens livres e proprietários
de terras, comércios ou indústrias, de acordo também com uma quantia de renda
líquida anual.
Trazia em seu texto a segmentação do poder em quatro partes: Poder
Executivo, chefiado pelo Imperador e exercitado através dos Ministros de Estado;
Poder Legislativo, composto pela Assembleia Geral que se dividia em Câmara dos
Deputados e Câmara dos Senadores que eram responsáveis por legislar, sanar
quaisquer dúvidas sobre a sucessão do trono e tomar juramento daqueles que irão
capitanear o império (sejam imperadores, regentes ou príncipe imperial); Poder
Judicial, composto por Juízes e Jurados indicados pelo imperador, era responsável
por julgar os casos e fazer aplicar a Lei onde coubesse; e o Poder Moderador,
também composto pelo Imperador, era responsável por coordenar todos os conflitos
existentes entre os demais poderes do império, senão vejamos o artigo 98° da
Constituição Imperial de 1824:
“Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização política, e é
delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e
seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a
manutenção da Independência, equilíbrio, e harmonia dos mais Poderes
Políticos. ”7

6
http://osheroisdobrasil.com.br/contexto-historico/a-constituicao-de-1824/, 29/08/2017.
7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm, acesso em 29/08/2017
9

Dessa forma então em 25 de março de 1824 estava outorgada a Primeira


Constituição do Brasil, estabelecendo assim um estado unitário de monarquia
constitucional e representativa.

3.2 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE


1891

A ascensão do movimento republicano e insustentabilidade da monarquia


no fim da década de 1880 culminou na queda do Império, no estabelecimento da
república e convocação de um congresso constituinte. Após a queda e o
consequente exílio da família Imperial, fora instituído um governo regente que era
encabeçado por Marechal Deodoro da Fonseca.
Durante este período todo o Direito brasileiro foi regulado por um decreto
escrito por Rui Barbosa, enquanto a nova constituição era redigida pela Assembleia
Constituinte, que em 24 de fevereiro de 1891 promulgou a primeira Constituição
Republicana do Brasil que expunha já em seu primeiro artigo a instituição da forma
governamental republicana:

“Art. 1º - A Nação brasileira adota como forma de Governo, sob o regime


representativo, a República Federativa, proclamada a 15 de novembro de
1889, e constitui-se, por união perpétua e indissolúvel das suas antigas
Províncias, em Estados Unidos do Brasil.”8

Esta constituição buscou inspiração na Constituição dos Estados Unidos


de tal forma que o País passou a denominar-se “Estados Unidos do Brasil”, e
estabeleceu a forma federada de estado e republicana de governo.
Também foi nesta Carta Magna que reservou uma área de território que
seria destinado a construção de uma nova Capital Federal, visto que para os
republicanos, a cidade do Rio de Janeiro era inservível a capital da República, posto
que lá ainda pairavam ideias monarquistas. Vejamos então seu artigo 3º:

8
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/coao91.htm, acesso em 30/08/2017
10

“Art. 3º - Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma


zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente
demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal. ”

Outra mudança importante advinda desta Constituição, é a separação do


Estado e Religião, a Laicidade, não sendo feitas as eleições dentro das igrejas e o
governo não interferindo mais na escolha dos cargos do Clero, além da extinção das
paróquias como unidades administrativas de governo. O Estado passou a ter
monopólio do registro civil, criando cartórios para os registros de nascimento,
casamento e morte, bem como os cemitérios públicos, onde qualquer pessoa
poderia ser sepultada, independentemente de seu credo. 9
Neste período, no contexto político-administrativo, as grandes oligarquias
de Minas Gerais e São Paulo passaram a se revezar no poder, criando assim a
conhecida “República do Café com Leite”, pois esses dois estados eram os maiores
produtores de café e leite do país.
Esta política estremeceu-se quando em 1929 o presidente Washington
Luís apoiou outro paulista a sucessão da Presidência da República, o que causou
insatisfação nos mineiros, que por sua vez apoiaram outro candidato oposicionista:
Getúlio Vargas. Obtendo a vitória o candidato paulista Júlio Prestes, que nem
chegou a tomar posse devido a eclosão da Revolução de 1930 10, que depôs o
presidente Washington Luís, já no fim de seu mandato.

3.3 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE


1934

Com a Revolução de 1930 que depôs o então presidente Washington


Luís do cargo, Getúlio Vargas foi conduzido ao poder para governar
provisoriamente, quando baixou o decreto de número 19.398, que dissolveu a
Congresso Nacional e deu total poder Executivo e Legislativo ao Chefe do governo,
vejamos então seu artigo 2°:

9
http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/republica-velha acesso em, 30/08/2017.
10
Fachin, Zulmar Curso de Direito constitucional: FORENSE 2012. (p. 80).
11

“Art. 2º É confirmada, para todos os efeitos, a dissolução do Congresso


Nacional das atuais Assembleias Legislativas dos Estados (quaisquer que
sejam as suas denominações), Câmaras ou assembleias municipais e
quaisquer outros órgãos legislativos ou deliberativas, existentes nos
Estados, nos municípios, no Distrito Federal ou Território do Acre, e
dissolvidos os que ainda o não tenham sido de fato.” 11 (Revogado pelo
decreto n° 11 de 1991)

A partir deste decreto o Executivo podia legislar através dos chamados


decretos-leis, foram extintos os partidos, suspenderam-se as garantias individuais e
foi criada a censura.12 Em 1932, com o início do Movimento Constitucionalista, o
governo provisório se viu pressionado a convocar, em 3 de maio de 1933, eleições
para eleger a Assembleia Constituinte.
A Constituição de 1934, promulgada em 16 de julho, manteve a essência
liberal de sua antecessora, mas trazia em seu texto inovações nunca antes vistas no
Brasil. Uma das principais inovações foi a criação da Justiça do Trabalho e parte dos
direitos dos trabalhadores. Uma grandiosa mudança foi a inserção das mulheres
como eleitoras e criação da Justiça Eleitoral, que retirou o encargo de apuração das
eleições do Poder Legislativo.
Diferentemente do decreto 19.398, a Constituição de 1934 edificou
novamente o Estado Federativo e o Governo Republicano, o elencando já em seu
primeiro artigo:
“Art. 1º - A Nação brasileira, constituída pela união perpétua e indissolúvel
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios em Estados Unidos do
Brasil, mantém como forma de Governo, sob o regime representativo, a
República federativa proclamada em 15 de novembro de 1889. ” 13

11
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19398.htm, acesso em 05 de setembro de
2017.
12
NOGUEIRA, Octaviano. A constituinte de 1946. Getúlio, o sujeito Oculto. São Paulo: Martins
Fontes, 2005, p XX e XXI.
13
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm, acesso em 12 de setembro de
2017.
12

Muito embora esta constituição se parecesse muito com a atual de 1988,


trazendo muitos avanços e direitos antes inexistentes no Brasil, esta foi a Carta que
menos vigorou no país.

3.4 CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1937

Em meados década de 1930, com Getúlio Vargas governando o País, o


Brasil começou a sentir instabilidades decorrentes do crescimento do comunismo no
exterior e após receber um suposto plano chamado “Plano Cohen”, que hoje em dia
sabe-se que nem se quer ele existia, foi apenas um arcabouço dos estrategistas de
Vargas.
Esse plano prometia um golpe armado no governo para instaurar uma
ditadura comunista no Brasil, e Getúlio Vargas com um discurso de proteção a
estabilidade e a democracia no país aplicou um autogolpe em sua administração.
Em 10 de novembro de 1937, fora outorgada uma nova Carta
Constitucional no Brasil e assim estava instalada a Ditadura do Estado Novo. A nova
Constituição, ficou conhecida futuramente por Constituição Polaca, por ter sido
inspirada na Carta da Polônia. 14 Esta nova Lei, determinou em seu artigo 178 a
dissolução de todos os entes legislativos do país desde as Câmaras de Vereadores
até o Congresso Nacional:

“Art. 178 - São dissolvidos nesta data a Câmara dos Deputados, o Senado
Federal, as Assembleias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais.
As eleições ao Parlamento nacional serão marcadas pelo Presidente da
República, depois de realizado o plebiscito a que se refere o art. 187. ” 15

O artigo 187 previa que esta Constituição só entraria em vigor se fosse


aprovada em plebiscito nacional que deveria ser convocado por decreto
presidencial, entretanto, Vargas alegou estado de Guerra e este plebiscito nunca

14
http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/vargas-assina-polaca-passa-ter-plenos-poderes-
para-estado-novo-10169358, acesso em 12 de setembro de 2017.
15
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm, acesso em 12 de setembro de
2017.
13

aconteceu, o que culmina no ponto de vista de Zulmar Fachin, juridicamente a


Constituição Federal de 1937, se quer chegou a existir. (FACHIN 2012 p. 89)
Nesta Carta o Estado Brasileiro voltou a ser unitário, concentrando todo o
poder nas mãos do chefe supremo da Nação que podia legislar ao seu bel-prazer
sobre as matérias de interesse da União.
Foi na vigência desta Carta que aconteceu a criação da Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT) e, em contrapartida, a supressão da classe partidária, a
instauração da censura prévia, a adoção da pena de morte, a eleição indireta para
presidente e a permissão para exílio de opositores do governo eram totalmente
asseguradas nesta Constituição.
Após o término da Segunda Guerra Mundial, a derrota das ditaduras
internacionais de Direita e a queda dos regimes nazifascistas, o Brasil sofreu grande
impacto no Governo Federal, Getúlio tentou se manter no poder, mas em vão. O
poder foi passado ao então presidente do STF que convocou eleições presidenciais,
saindo vitorioso o General Eurico Gaspar Dutra. Empossado em outubro de 1945,
governou por decretos-leis enquanto era preparada uma nova Constituição. 16

3.5 CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 1946

Promulgada em 18 de setembro de 1946, essa nova Carta teve a função


de redemocratizar o País após o Estado Novo de Getúlio Vargas, trazendo em seu
texto novamente a repartição clássica dos poderes segundo Montesquieu. Além
disso a partir dela, existiriam eleições diretas em todos os níveis.
Nos termos do seu primeiro artigo, manteve a forma federada de Estado e
Republicana de governo. O sistema bicameral era adotado no Legislativo Federal e
composto pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados e deveria legislar
sobre os assuntos de interesse comum da União.

16
https://www.megajuridico.com/conheca-7-constituicoes-brasileiras/, acesso em 12 de setembro de
2017.
14

Diferentemente das outras constituições, esta previa a eleição separada


para Vice-presidente da República que acumularia a função de Presidente do
Senado, de acordo com o artigo 61.17
Incorporou como instrumentos do Poder Judiciário, a Justiça do Trabalho
e o Tribunal Superior de Recursos. Opostamente a Carta anterior, fora proibida
novamente a pena de banimento, de confisco de perpetuidade, além da abolição da
pena capital, produzindo a garantia aos direitos individuais. Também retomou o
direito a organização sindical, direito de greve de manifestação.
Na sua vigência sofreu várias emendas, após a renúncia do presidente
Jânio Quadros e o impedimento do retorno do vice, João Goulart, que estava na
China, o Parlamento aprovou a emenda que instituiu o Parlamentarismo no país,
que caiu por terra em 1963 após um referendo popular que determinou que o retorno
ao presidencialismo.

3.6 GOLPE MILITAR DE 1964 E OS ATOS INSTITUCIONAIS

Entre os anos de 1964, ano de instauração do Regime Militar, até o ano


de 1967, ano de outorga da nova Constituição, a administração do Estado Brasileiro
foi feita através de Atos Institucionais. Para melhor entender este período, deve-se
entender o contexto que levou ao Golpe Militar.
Em 1961, substituindo Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros assumiu a
Presidência República, renunciando ao mandato após ter sofrido ameaças de
“forças terríveis”. Quem devia assumir a chefia do governo era seu vice, João
Goulart, que teve a posse vetada pelas forças armadas, aparecendo assim o
Parlamentarismo e a dualidade do executivo, Jango seria chefe de Estado e
nomearia um Primeiro Ministro que seria chefe de governo e como visto
anteriormente esta forma de governo durou até janeiro de 1963 após o referendo
que determinou o retorno do presidencialismo, assumindo, finalmente, João Goulart.
Após um governo muito conturbado, João Goulart se dirigiu ao Rio de
Janeiro e a Porto Alegre para buscar alianças para sustentar seu governo, uma
escolha errada que forçou o Senado Federal decretar a vacância do cargo e sua

17
Lenza, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado: Saraiva, 2010 (p.109).
15

consequente deposição pelas Forças Armadas, acusado de servir o “comunismo


internacional”
Subiu então ao Poder em 09 de abril de 1964 o “Supremo Comando da
Revolução”, composto pelos mais altos comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, decretou o Ato Institucional n°1, suprimindo diversos direitos
democráticos. O AI-1, foi seguido pelo AI-2 que estabeleceu eleições indiretas para
Presidente e Vice, este por sua vez, seguido pelo AI-3 que também as estabeleceu
em âmbito estadual.
Usando arbitrariamente destes atos, o governo pode prender e acusar,
bem como sentenciar àqueles que eram considerados subversivos e contrários a
administração militar18.

3.7 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967

Buscando uma maneira de legitimar o governo autoritário dos militares o


AI-4, abriu novamente o congresso com o fim de aprovar a Constituição de 1967.
Alguns autores acreditam que esse texto fora “promulgado”, posto que ele foi
redigido e aprovado pela Casa de Leis.
Entretanto, devido ao caráter autoritário do Governo e sem a possibilidade
do Congresso Nacional se manifestar a respeito da instalação deste novo Estado,
fica convencionado dizer que ela foi outorgada unilateralmente.
Um dos principais direitos restringidos por esse texto foi o de voto direito
para Presidente da República, que passou a ser escolhido por um Colégio Eleitoral,
que era composto pelo Congresso Nacional e por delegados escolhidos pelos
estados membros, nos termos do artigo 76:
“Art. 76 - O Presidente será eleito pelo sufrágio de um Colégio Eleitoral, em
sessão, pública e mediante votação nominal.

§ 1.º - O Colégio Eleitoral será composto dos membros do Congresso


Nacional e de Delegados indicados pelas Assembleias Legislativas dos
Estados.

18
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Golpe1964, acesso em 13 de setembro de
2017.
16

§ 2º - Cada Assembleia indicará três Delegados e mais um por


quinhentos mil eleitores inscritos, no Estado, não podendo nenhuma
representação ter menos de quatro Delegados. ” 19

Além disso, as três esferas legislativas, tiveram seus poderes esvaziados


e concentrados no Executivo Federal, que podia nomear até 1/3 do Senado Federal.
Um conjunto de medidas com esta, minimizou também o poder de atuação do Poder
Judiciário, colocando o Executivo, típico de regimes ditatoriais, como centro da
Nação.

Apesar de manter o Brasil como República Federativa, como visto, o


regime militar aproximou, na prática, o País de um Estado Unitário, que podia
interferir até mesmo na administração de nomeação de cargos estaduais e
administrações municipais.

3.7.1 Ato Institucional N°5

Era de praxe do Governo Militar, editar e decretar os temidos Atos


Institucionais, não foi diferente em 13 de dezembro de 1968, quando o mais violento
ato foi baixado pelo Presidente Costa e Silva.
O AI-5, deu ainda mais poderes ao Presidente, que poderia decretar:
recesso do Congresso bem como convoca-lo, o confisco de bens de quaisquer
pessoas que enriqueceram ilicitamente em exercício de função pública, bem como
cassar todos os direitos políticos de qualquer cidadão por 10 anos e os mandatos de
eletivos nas três esferas. Também foram suspendidos os direitos ao habeas corpus
para presos por crimes políticos e a mais triste determinação surgia no art. 11:

19
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm, acesso em 20 de setembro de
2017.
17

“Art. 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos


praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos
Complementares, bem como os respectivos efeitos. ”20

Assim, qualquer cidadão poderia ser preso, investigado, torturado, julgado


e condenado de acordo com o que determinava o Executivo Federal. A população já
temerosa, teve de aceitar calada essa determinação, que suprimia ainda mais as
garantias individuais. O AI-5 vigorou autoritariamente até a emenda constitucional de
17 de outubro de 1978, que o revogou.

3.8 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Durante o período da Ditadura Militar (1964-1985), o Brasil estava submetido


as regras da Constituição de 1967, a qual possuía um conjunto normativo de atos de
natureza antidemocrática. Com o término do regime ditatorial, ocorreu o retorno ao
regime democrático.
O movimento que consolidou essa reforma - pois muitos insistiam em
permanecer sob o regime ditatorial - foi a ida da população às ruas, reivindicando,
acima de tudo, a realização de eleições diretas em todos os níveis, a elaboração de
uma nova Constituição e o retorno da democracia para a população brasileira.
Em 1984, o deputado Dante de Oliveira protagonizou o projeto de votação
“Emenda Constitucional Dante de Oliveira”, cuja finalidade era restabelecer as
eleições diretas, conhecido como DIRETAS-JÁ para Presidente da República,
mobilizando milhões de pessoas por todo o território brasileiro, porém, o projeto fora
rejeitado no Congresso Nacional por não alcançar três quartos dos votos de
deputados necessários para ser aprovado.
Segundo Zulmar Fachin (2012), embora tenha ocorrido entraves como este,
o projeto do deputado Dante de Oliveira progrediu e adquiriu força suficiente para,
em 1985, eleger - mesmo que pela via indireta -, um civil ao cargo de Presidente da
República, finalizando o ciclo dos governos militares. Logo, em 1986 realizaram
eleições para escolher os membros da Assembleia Nacional Constituinte, assim,
elegeu-se 487 deputados e dois terços dos 72 senadores.
20
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm, acesso em 20 de setembro de
2017.
18

Sob a presidência do Supremo Tribunal Federal, o Ministro José Carlos


Moreira Alves elaborou uma Assembleia Nacional Constituinte no dia 1º de fevereiro
de 1987, em Brasília, elegendo no dia 2 de fevereiro do mesmo ano o deputado
Ulysses Guimarães para presidente com 425 votos.
Nas semanas seguintes foi elaborado o Regimento Interno da Assembleia
Nacional Constituinte, tendo Fernando Henrique Cardoso como relator constituinte.
Promulgado Pela Resolução 2, de 24 de março de 1987, o regimento foi publicado
pelo presidente da Assembleia.21
Fachin (2012) destaca como foi organizado o Regimento e a sua forma
prevista para funcionamento, afirmando que o:

“[...]regimento previa o funcionamento de nove comissões,


assim denominadas: a) Comissão da Soberania e dos Direitos e
Garantias do Homem e da Mulher; b) Comissão da Organização
do Estado; c) Comissão da Organização dos Poderes e Sistema
de Governo; d)Comissão da Organização Eleitoral, Partidária e
Garantia das Instituições; e) Comissão do Sistema Tributário,
Orçamento e Finanças; f) Comissão da Ordem Econômica; g)
Comissão da Ordem Social; h)Comissão da Família, da
Educação, Cultura e Esportes, da Ciência e da Tecnologia e da
Comunicação; i) Comissão de Sistematização” (art. 15.)

Ao encerramento da sessão da promulgação da Constituição, o então


presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, finalizou
dizendo que “A persistência da Constituição é a sobrevivência da Democracia”. Uma
frase de grande valor, visto que o país estava a ponto de retornar ao regime
democrático, o qual permaneceu suspenso durante duas décadas, sendo substituído
pelo regime ditatorial.
Fachin (2012) destaca pessoas que tiveram forte influência na elaboração
da Constituição de 1988, exercendo a função e ocupando o cargo da advocacia, do
magistério e da magistratura. Entre os citados, estão Ulysses Guimarães
(presidente); Bernardo Cabral (relator-geral); Álvaro Dias (participante), Aécio
Neves, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin Filho, Itamar Franco, José

21
Fachin, Zulmar Curso de Direito constitucional: FORENSE 2012. p. 98.
19

Serra, Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer, Renan Calheiros, Roberto Freire,
José Sarney Filho.
A Constituição Federal atual está em vigor desde 5 de outubro de 1988,
considerada como a sétima na história do Brasil. O texto, que é o conjunto de regras
de governo que rege o ordenamento jurídico de um País, marcou o processo de
redemocratização após a Ditadura Militar. Até o momento, foram acrescentadas 102
emendas, sendo 96 emendas constitucionais e 6 emendas constitucionais que estão
para revisão.
A 96ª Emenda Constitucional é a seguinte:

“Acrescenta § 7º ao art. 225 da Constituição Federal para


determinar que práticas desportivas que utilizem animais não
são consideradas cruéis, nas condições que especifica. ”
(BRASIL, 96, de 6.6.2017. Publicado no DOU 7.6.2017).

O autor dessa emenda é o deputado federal Ricardo Tripoli, filiado ao


partido PSDB-SP, do qual é líder na Câmara dos Deputados. A data de
apresentação dessa emenda foi no dia 11 de abril de 2017 pela PEC 304/2017.

Segundo Gilmar Mendes a Constituição de 1988 pela primeira vez na


história do constitucionalismo apresentou o princípio do respeito à dignidade da
pessoa humana e o Título de direitos fundamentais logo no início, antes das normas
de organização do Estado, recebendo também o reconhecimento de Constituição
Cidadã.22

3.8.1 Caracterização da Constituição de 1988

A Constituição de 1988 foi promulgada, isto é, obteve participação popular


para sua elaboração, possuindo divisões e subdivisões, cada qual com a sua
essência e qualidades distintivas. É relativa a diversos assuntos apresentando

22
MENDES, Gilmar Ferreira Curso de Direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo
Gonet Branco (2012).
20

objetividade e organização. É considerada o documento de maior valor e mais


importante do país, afinal, sem Constituição, não há Estado.
Para Paulo Bonavides
“A Constituição é o conjunto de normas pertinentes à
organização do poder, à distribuição da competência, ao
exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da
pessoa humana, tanto individuais como sociais. Tudo quando
for, enfim, conteúdo básico referente à composição e ao
funcionamento da ordem política exprime o aspecto material da
Constituição. ” 23

Dessa forma, podemos afirmar que uma sociedade só pode ser


considerada organizada politicamente desde que seus direitos e deveres estejam
assegurados por meio deste documento, tendo como principal objetivo gerir e
organizar o Estado, nortear os cidadãos, a fim de que possam entender-se como
sujeito crítico, capaz de posicionar-se politicamente. Neste contexto, destacaremos
algumas das principais características da atual Constituição.
Destacado por Fachin, a constituição possui os Direitos e Garantias
Fundamentais, sendo dividida em cinco capítulos: direitos e deveres individuais,
podendo ser encontrado no artigo 5º; direitos sociais, do artigo 6º ao 11º; direitos da
nacionalidade, inclusos nos artigos 12º e 13º; direitos políticos, localizados nos
artigos 14º, 15º e 16º; e partidos políticos no artigo 17º. Esses não são os únicos
direitos fundamentais, pois consta outros na Constituição que estão dispersos. 24
Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário foram fortalecidos, fora
atribuído ao Ministério Público diversos poderes e maior campo de atuação, entre
eles “o patrimônio público, prerrogativas constitucionais, criança e adolescente, meio
ambiente e consumidor”.

A Constituição brasileira é escrita, é um livro divido em três partes: 1.


Preâmbulo (consagração em nome de Deus); 2. Corpo com 250 artigos e; 3.
Disposições Transitórias com 94 artigos. Possui grande comprometimento com a
Democracia, estabelece procedimento rígido para alterá-la, de modo direto, para ser

23
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, 2011. P .84.
24
Fachin, Zulmar Curso de Direito constitucional: FORENSE 2012.
21

aceita a alteração deve-se conquistar três quintos de votos favoráveis, e a votação


deve ocorrer duas vezes em cada Casa Legislativa do Congresso Nacional.

Na Constituição a pessoa humana é o sujeito de proteção em diversos


fundamentos constitucionais do Estado brasileiro, e consagra os direitos civis,
políticos, culturais, econômicos e sociais, apresenta conteúdos redundantes, sempre
reafirmando os direitos igualitários, e seus dispositivos constitucionais possuem
força normativa, deste modo a Constituição é caracterizada também como eclética,
humanista, analítica e normativa, além de igualitária através da Constituição da
Igualdade assegura o princípio da igualdade material.

Fachin destaca que a Constituição brasileira possui diversas


características e todas fazem da Carta enriquecedora a fim de desafiar a todos os
cidadãos dessa nação a lutar pelos seus direitos e tê-los assegurados, conquistando
25
tanto a sua defesa como a sua concretização.

4. SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE A CONSTITUIÇÃO DE 1824 E


1988

Como visto nos tópicos anteriores, a primeira Constituição da nação


brasileira foi elaborada no ano de 1824 após a Independência do Brasil, um projeto
imposto e de autoria de Dom Pedro I e apoiado pela elite portuguesa.

A Constituição de 1824 já tinha os poderes Executivo, Legislativo e


Judiciário, mas somavam quatro poderes adicionando o Poder Moderador que era
exercido pelo Imperador, tanto que o nome do país na época foi Império do Brasil.

Essa Carta foi a que permaneceu em maior período de tempo, durando


65 anos, nesta Constituição foi instituído a Monarquia Constitucional, visto que no
art. 98 decretava que o Poder Moderador “é a chave de toda a organização Política,
e é delegada privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação”, o
poder de Estado era centralizado nas mãos do Monarca, a Monarquia era hereditária
e constitucional, e o Estado unitário, com concentração de toda autoridade política
na Capital.
25
Idem.
22

Segundo Gilmar Mendes, o art. 99 assegurava que a pessoa do


Imperador não poder ser responsabilizada por causa alguma, ou seja, sua figura era
considerada como sagrada, ou até mesmo inviolável. Mesmo ele infringido algo ou
alguém ele não seria condenado culpado. A figura do Imperador também era
responsável por nomear os senadores, pelas demissões de ministros de estados e
suspensão de juízes. Durante esse regime o voto era considerado censitário, isto é,
somente aqueles que possuíam condições financeiras tinham direito, portanto não
era reconhecido a toda população, estima-se que somente 1 por cento da população
possuía direito ao voto. 26

A Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã diferente da


Constituição de 1824 foi promulgada, restaurou a importância do respeito aos
direitos individuais inclusos numa série de direitos sociais e fundamentais. O Estado
se comprometera a não se envolver em questões individuais do cidadão e somente
interferir em assuntos que envolvem a sociedade civil, com o intuito de proporcionar
maior autonomia aos cidadãos e afirmando a dignidade da pessoa humana.

Ocorreu também a reforma eleitoral dando direito aos analfabetos e


jovens a partir dos 18 anos obrigatório e entre 16 a 18 anos é facultativo,
independente da sua classe social, raça e cor, transformando todos os cidadãos
atuantes nas questões políticas da sociedade, pois é uma sociedade igualitária, não
há distinção.

Relacionado aos poderes o Poder do Monarca foi extinto, visto que o país
passou a ser uma República, e vive sob o regime democrático. Os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário ainda permanecem organizando o Estado. Foram
incluídos novos direitos trabalhistas, tais como redução na jornada de trabalho,
férias remuneradas, 13º salário e também seguro desemprego, independente da
área de atuação.

26
MENDES, Gilmar Ferreira Curso de Direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo
Gonet Branco (2012).
23

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o término do trabalho e conclusão da pesquisa, pode-se notar que o


Brasil, desde sua independência, possui uma longa história político-administrativa,
que passa por acordos de revezamento de poder, na República Velha; por ditaduras
populistas, no Estado Novo e Era Vargas; por golpes políticos, no Regime Militar;
por até mesmo guerras civis, nas revoluções de 1932 e até movimentos
separatistas, como a Revolução Farroupilha e a Guerra de Canudos.
Com todos esses acontecimentos, a principal lição que se pode tirar disto
é a de que o povo brasileiro realmente nunca desiste e luta todos os dias para
mudar seu estado.
Durante a ditadura militar, os direitos sociais e políticos foram suprimidos,
mas nosso povo não se abateu diante disso e lutou por vinte longos anos até
conseguir mudar esta realidade. Graças a essa determinação, hoje podemos contar
com uma das constituições mais avançadas do mundo que garante direitos nunca
antes vistos em muitas localidades.
24

Cada outorga ou promulgação de uma nova constituição no Brasil,


representou a história sendo escrita de uma nova forma, seja pacífica e vitoriosa
como a Constituição de 1988, ou seja, de forma autoritária e forçada da carta de
1937, história essa que todos os brasileiros, de sangue ou os que adotaram esta
como sua pátria, devem se orgulhar.
De tempos em tempos numerosas crises assolam o País, mas após cada
uma delas sempre existem tempos de fraternidade e solidariedade. Tempos difíceis
criam povos fortes, e disso podemos ter certeza: o povo brasileiro é forte, nunca
desiste, luta para que cada dia seja melhor que o outro que passou.
Assim sendo a mensagem que permanece conosco ao encerrar essa a
apresentação, é de que sempre houve e sempre haverá problemas políticos,
administrativos e sociais, mas com força de vontade e inspirados por exemplos de
grandes heróis do passado que foram responsáveis pelos avanços e revoluções que
mudaram o futuro, podemos seguir em frente.

Referencias

KELSEN, Hans, 1881-1973


Teoria pura do direito: introdução a problemática cientifica do direito/ Hans
Kelsen; tradução de J. Cretella Jr. e Agnes Cretella. – 5. Ed. rev. – São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2007.

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(p.59);

https://georgelins.com/2009/08/09/a-magna-charta-de-joao-sem-terra-
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setembro de 2017;
25

ALBERGARIA, Bruno
Histórias do direito: evolução das leis, fatos e pensamentos/ Bruno
Albergaria – 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2012

http://osheroisdobrasil.com.br/contexto-historico/a-constituicao-de-1824/,
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http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/republica-velha,
acesso em 30 de agosto de 2017;

FACHIN, Zulmar
Curso de Direito constitucional / Zulmar Fachin – 5. Ed. rev., atual. E
ampl. – Rio de Janeiro: FORENSE 2012 (1-10; 70 - 105);

MENDES, Gilmar Ferreira


Curso de Direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo
Gonet Branco – 7. ed. rev. Atual. – São Paulo: Saraiva 2012;

NOGUEIRA, Octaviano. A constituinte de 1946. Getúlio, o sujeito Oculto.


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Direito Constitucional Esquematizado/ Pedro Lenza – 14. ed. rev. atual. e
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PEC 304/2017 Histórico de Pareceres, Substitutivos e Votos, disponível


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http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_pareceres_substitutivos_votos;jses
27

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