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1996+ +Ética+Do+Acompanhamento+Terapêutico+ +Boletim+Do+At
1996+ +Ética+Do+Acompanhamento+Terapêutico+ +Boletim+Do+At
São
Paulo, v.1, p.13 - 13, 1996.
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termos do naturalismo. O lugar de instalação é um propiciador de problemas e
contradições mas ele, por si só, não pode produzir um método ou um caminho de
reflexão. Não há, nesse sentido, psicologia hospitalar, assim como não há a subjetividade
dO drogadito, dO aidético, dA grávida, etc.
Nesse sentido o desejo de unidade teórica na prática do acompanhamento corre o
risco de converter a ação do A.T. numa burocracia funcional. Procurar tal segurança ou
garantia é incluir-se na demanda de roteirização e alienação própria das tecnologias
psicológicas. Postulamos, portanto, que se trata de encontrar a ética que diferencie e
especifique o A.T. nas diversas formas de absorção teóricas que podem acompanhá-lo.
Falar em equipe multidisciplinar (note-se o disciplinar), a partir da procura de
uma base vocabular comum à psicologia e psiquiatria ou entre psicanálise e psicologia
ou ainda dentro de cada um destes campos e tentar resolver no plano prático o que se
mostra contraditório no plano teórico, geralmente em prejuízo de ambos.
Isto significa considerar o espaço do A.T. como um espaço de tensão,
discordância e concorrência onde a posição do acompanhado não seja entificada nem
devastada pelas éticas institucionais do Bem Estar. Mas note-se que dizer isto já é por si
só uma tomada de posição que mereceria justificativa.
Escutando acompanhantes terapêuticos e pensando em minha breve experiência
com esta prática duas posições parecem rodear o tema: uma que encampa o saber sobre o
Bem que cabe ao paciente, geralmente associado ao endosso da perspectiva clínica
predominante. Outra posição que parecia denunciar uma certa opressão a que o paciente
era submetido e realizava uma espécie de aliança contra a família, o corpo clínico, a
instituição, etc., significados indiretamente como agências produtoras do mal estar no
sujeito.
As duas perspectivas mantém em comum a idéia de que a direção do tratamento
tende à homogenização, quer triunfante, quer lamuriosa a situação teria por horizonte o
estabelecimento de um único discurso e de uma única ética.
É paradoxal que aqueles supostamente treinados para lidar com a diferença se
mostrem tão perturbados pelo seu aparecimento cotidiano. O livre engajamento e a ética
relativista do respeito à diferença, pela diferença, parece nos ter conduzido a uma
falência do debate teórico e pior do debate clínico. É nesse sentido que o A.T. está às
DUNKER, C. I. L. - A Ética do Acompanhamento Terapêutico. Psiconews - Boletim do AT. São
Paulo, v.1, p.13 - 13, 1996.
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urbano ou familiar. De fato, é como se se tratasse de acolher um estrangeiro, de lhe
fornecer continência, de introfuzir familiaridade. O que fica menos explícito é a atenção
com o discurso produtor deste "estrangeiro". Neste sentido a ética que visnumbramos não
termina na relação com o acompanhado.