O percurso que tracei pela Psicologia foi fortemente influenciado pela
Psicanálise desde seu início. Essa trilha começa ainda da minha escolha profissional, quando fiz análise em Campinas, minha cidade natal, aos 18 anos. O primeiro contato que tive com a psicanálise ocorreu antes que eu pudesse estudá-la e conhecê-la, já que minha analista foi indicação familiar e eu pouco sabia as distinções entre as abordagens psicológicas. E, embora tenha me formado em Psicologia, foquei esforços para prestar vestibular de midialogia, campo próximo às artes cinematográficas, das quais tanto sou afeito. No entanto, foi em Psicologia, na Unesp de Bauru, que fui aprovado e passei cinco anos no estudo dos campos psicológicos, de forma a não me ver mais, nos dias atuais, exercendo outra profissão. O estudo sistemático da psicanálise começou no segundo semestre do curso, quando tive aulas com o professor que viria a ser meu orientador de pesquisa anos depois – e se mantém como um querido amigo e colega de publicações. Desde muito cedo, portanto, minha predileção foi pela ciência do inconsciente, que acompanhou pari passu minha trajetória de análise pessoal. Quanto mais eu descobria empiricamente o inconsciente, mais me afeiçoava pelo seu estudo. Ao todo, são seis anos de análise, com três analistas diferentes em decorrência das mudanças de cidade. Em um primeiro momento, minha formação se endereçou para os estudos acadêmicos: procurei a formação em Filosofia, que fiz concomitante à formação em Psicologia, em busca de aprofundá-la; duas pesquisas de iniciação científica, sendo a primeira delas no âmbito da antropologia e da religião, enquanto a segunda se configurou como um estudo sistemático da metapsicologia freudiana, precisamente sobre a temática da angústia, recortada na análise de personagens no filme Melancolia; publicação de capítulos de livros; apresentação de trabalho em congressos nacionais e internacionais; e formação complementar em cursos de psicanálise. Com esse caminho, pude manter o afeto pelo campo das artes e trabalhá- lo sob o viés psicanalítico, coadunando meu gosto pessoal com minha profissão. Quando estava no último ano da graduação, tive experiência prática em psicologia. Realizei três estágios ao longo de um ano: o primeiro deles, em clínica psicanalítica com adolescentes e adultos, supervisionado pela Prof. Patrícia Porchat; o segundo, em acompanhamento terapêutico, com o Prof. Edson De Castro; e o terceiro, em orientação profissional, com a Prof. Marianne Feijó. Na clínica, atendi três pacientes adultos, que acompanhei durante o ano, e fiz supervisões semanais em grupo. Como acompanhante terapêutico, fiz visitas às residências terapêuticas da cidade de Bauru, acompanhando seis pacientes semanalmente, junto com a supervisão, também semanal. Por fim, a primeira das atividades de orientação profissional foi direcionadas aos alunos de um cursinho popular da Unesp, com encontros semanais; a segunda atividade foi em atendimento particular, também semanal, com dois irmãos em período pré-vestibular. Como os estudos sobre a metapsicologia despertam minha atenção, propus um projeto de mestrado, que realizo, atualmente, no Instituto de Psicologia da Usp, sob orientação da Prof. Ana Loffredo. Para a realização da minha pesquisa, faço uma retomada da temática da percepção em Freud e suas dinâmicas subjetivantes. Mantendo-me atento aos estudos e na transmissão de conhecimento, fui contratado para lecionar aulas sobre Freud em um cruso livre de formação psicanalítica na cidade de São Bernardo do Campo, ao qual iniciarei minhas atividades como docente no mês de agosto. Com o ingresso no mestrado, estou em São Paulo há pouco mais de um ano e precisei desse tempo para me estabelecer. Agora, tanto em análise, quanto no meu percurso acadêmico, a possibilidade de atendimento na clínica aparece de diferentes formas: de maneiras conscientes, quando busco casos clínicos para ilustrar a teoria, quanto inconscientes, através de sonhos em relações transferenciais em análise. Nesse sentido, identifiquei um desejo de - e com a posição de – analista que cresce e toma espaço em minha vida. Não à toa, faço parte de um grupo de estudos quinzenal sobre o conceito de sujeito na obra lacaniana e estou fazendo aperfeiçoamento no Sedes Sapientiae, no curso Conflito e Sintoma, que envereda para um estudo da psicanálise que não seja extensivamente acadêmico, mas focado no fazer clínico. Nesse cenário, em meio a essa busca por um espaço para iniciar meu trabalho clínico em São Paulo, fui agraciado pela indicação do Prof. Edson De Castro para entrar em contato com a Bela. A possibilidade de fazer parte da equipe do Centro Terapêutico Integrado Rafael vem de encontro com esse anseio de sedimentar um itinerário clínico e expandir meus conhecimentos práticos em psicanálise. Evidentemente, a psicanálise nasce como uma terapêutica e se consolida como uma forma de escuta específica frente ao sofrimento, e essa parcela é crucial para construir um esteio sólido para a teoria que tanto me encanta. Por fim, é nesse ínterim de complementar minha formação como psicanalista que urge o prelúdio do trabalho clínico e, como resposta, eu busco sustentá-lo da forma mais coesa possível.