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FUNDAMENTOS DA COSMETOLOGIA

Cremes e Loções
Luciana Amiralian, Claudia Regina Fernandes
Phisalia Produtos de Beleza Ltda., Osasco SP, Brasil

um filme que não irá ser destruido quando


Neste artigo serão abordados: características de produto, definição, duas gotas colidirem.
mecanismo de atuação, formulação e função de ingredientes, assim como 3 - Tem que apresentar uma estrutura
processo de fabricação de cremes e loções cosméticas. molecular específica, cuja extremidade
polar seja atraída para a água e a extremi-
En este artículo se abordarán características de producto, definición, dade não polar atraída para o óleo.
mecanismo de actuación, formulación y función de ingredientes, así como 4 - Precisa ser mais solúvel na fase
proceso de fabricación de cremas y locciones cosméticas. contínua para estar prontamente dispo-
nível para a adsorção.
In this article will be approached product characteristics, definition,
5 - Tem que apresentar potencial ele-
mechanism of action, formulation and function of ingredients, as well as
trocinético adequado.
manufacturing process of creams and cosmetic lotions.
6 - Tem que afetar a viscosidade da
emulsão e deve ser eficiente em baixas
concentrações, além de ser relativamente
barato.
A composição da proporção entre
água, óleo e concentração de emulsio-

C
remes e loções são emulsões O/A As emulsões A/O têm efeito oclusivo, nante é de extrema importância para a
(óleo em água) ou A/O (água em podendo ser utilizadas para a limpeza da estabilidade da emulsão. Assim, para
óleo) constituídas de uma fase pele por meio da remoção de sujidades mantê-la estável, o importante é evitar
aquosa e de uma fase oleosa que são oleosas, já que são solúveis e podem ser a coalescência das gotículas, reduzir a
unidas por meio de um tensoativo removidas facilmente.2 tensão interfacial e diminuir a diferença
(emulsionante) que tem afinidade com Na preparação de uma emulsão, al- de densidade entre as fases, além de re-
ambas as fases. Possui aparência bran- guns fatores influenciam os resultados duzir o tamanho das gotículas para doar
ca (macroemulsão) ou aparência mais finais, como: algumas variáveis de for- estabilidade ao meio.
transparente (microemulsão) – a apa- mulação, a natureza do emulsionante e das Outros fatores a ser considerados são
rência depende do tamanho das micelas fases aquaosa e oleosa, e a temperatura. o mecânico, ou seja o tipo de equipamento
que se formam. Os estudos das características físico- utilizado; a velocidade de agitação; e o
Os cremes apresentam alta viscosida- químicas, como a avaliação do balanço processo de fabricação para o emulsio-
de, enquanto as loções apresentam de mé- hidrofílico-lipofílico (HLB) – utilizado namento do meio e para a estabilização
dia a baixa viscosidade, podendo, ainda, para determinar, por meio de uma escala dessa emulsão.3
ser muito fluidas. numérica, qual é a característica desejável A indicação da estabilidade da emul-
Os cremes e as loções são sistemas do emulsionante para se produzir emul- são é dada pelo tempo necessário para o
versáteis e responsáveis por carrear ativos sões A/O ou O/A –, e o estudo da solubi- início visual de separação de fases. As
que foram incorporados a eles, entregando lidade e da compatibilidade, permitem emulsões estáveis demoram muito tem-
benefícios à pele ou aos cabelos.1 prever de que forma alguns tensoativos po para se separar. Dessa forma, os ten-
(emulsionantes) podem contribuir para a soativos (emulsionantes) utilizados na
Emulsões Cosméticas estabilidade da emulsão.2 formulação devem adiar ao máximo esse
Nas emulsões O/A nas quais o meio Em relação ao sistema emulsionante, processo natural de separação.3
dispersante é aquoso, o sensorial do pro- Sherman (1968) resumiu as características
duto é mais leve, menos oleoso e, assim, desejáveis de um agente emulsificante: Tipos de Emulsão Cosmética
menos oclusivo para a pele. Esse tipo de 1 - Tem que reduzir suficientemente a Creme clássico
emulsão é mais utilizado e valorizado no tensão interfacial. Constituído basicamente de ceras, emo-
mercado brasileiro porque proporciona as 2 – Precisa adsorver-se rapidamente lientes, conservantes e água, tem um to-
sensações de leveza e refrescância. sobre as gotículas dispersas, para formar que mais ceroso.

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Loção clássica Quadro 1. Exemplo de uma formulação básica de
Emulsão com viscosidade menor que a do creme clássico, po- cremes e emulsões
dendo ou não ser aplicada com fricção. É ideal para aplicação
corporal, por ser menos espessa e ter melhor espalhabilidade. Componente Conc (% p/p)
- Creme oil free: creme isento de óleos de origem mineral e Água qsp 100,00
componentes comedogênicos; nessas formulações, a viscosidade Reguladores de viscosidade 2–6
é dada por espessantes, geleificantes e por silicones que deixam Gelificantes 0,5 – 1,5
o creme com a aparência branca. Umectantes 1–3
– Loção oil free: tem composição semelhante à do creme oil Emulsionantes 0,2 – 1
free, porém apresenta menor consistência. Emolientes 0,5 – 2
Agente quelante 0,05 – 0,15
- Creme hidratante: creme no qual adicionam-se hidratantes
Ativos 0,5 – 2
naturais à sua formulação, principalmente os constituintes do
NMF (fator de hidratação natural), como ceramidas, PCA sódico Reguladores de pH Conforme pH desejado
e aminoácidos. Conforme a
Conservantes
RDC nº 29/2012
- Emulsão de cristal líquido: emulsão trifásica formada por
Fragrância 0,3 – 0,8
uma fase externa aquosa; pela fase intermediária, que possui
estruturas líquidas cristalinas lamelares (cristais líquidos)
dispersas, englobando a fase oleosa; e pela fase mais interna, Componentes de Cremes e Loções
que apresenta a estrutura de um gel. A emulsão resulta em uma Os cremes e as loções são compostos de agentes espessantes
preparação muito hidratante, de toque seco e suave devido à de fase oleosa ou reguladores de viscosidade, gelificantes de
presença do gel e de pouco conteúdo ceroso. fase aquosa, emulsionantes, emolientes, umectantes, agente
- Gel-creme: emulsão (formada normalmente a partir de um quelante, reguladores de pH, ativos, conservantes e fragrância.
gel) com alto percentual de água e baixo (ou nenhum) percentual No Quadro 1 é apresentado um exemplo de uma formulação
de óleo. Pode-se, ainda, acrescentar ao gel-creme um opacificante básica de cremes e emulsões.
para dar a ele uma aparência branca.
- Sérum ou leite: veículo fluido que contém até 3% de fase ole-
Processo de Fabricação
osa em sua formulação, o que permite a penetração dos ativos vei-
culados. Por possuir gel em sua formulação, proporciona toque O processo de fabricação de um creme ou de uma loção
seco, não oleoso nem pegajoso e tem excelente espalhabilidade. clássicos consiste basicamente na mistura de uma fase aquosa

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e de uma fase oleosa, que são aquecidas à temperatura de apro- Referências
ximadamente 80ºC, por determinado período de tempo, para a 1. Ansel HC, Popovich NG, Allen LV. Formas farmacêuticas e siste-
formação da emulsão. Após a emulsificação, a mistura é resfriada mas de liberação de fármacos, 6. ed., Colômbia: Editorial Premier,
e quando estiver na temperatura de aproximadamente 45ºC, são 2006
adicionados a ela os conservantes, os aditivos e a fragrância, 2. Coutinho C dos Santos, Santos EP. Cremes e loções: visão geral,
Cosm & Toil Brasil 26(4), 00-00, 2014
que são sensíveis a altas temperaturas, finalizando o processo.
3. Daltin D. Tensoativos: química, propriedades e aplicações, Ed.
Os pontos críticos do processo são a temperatura da emulsão, o Blucher, São Paulo, 2011
tipo de agitação e, as velocidades de agitação e de resfriamento. 4. Becher P. Emulsions: theory and practice, 2. ed., Reinhold Pu-
blishing Corp, New York, 1965
Carcterísticas do Produto Final 5. Salager JL, Miñana-Perez M, Pérez-Sánchez M, Ramirez-Gouveia
M, Rojas Lab CI. Surfactant-oil-water Systems near the Affinity
As características físico-químicas desejáveis de um produto Inversion - Part III: the two Kinds of Emulsion Inversion, Labora-
cosmético da categoria de cremes e loções devem atender aos torio FIRP, Escuela de Ingenieria Quimica de la Universidad de
seguintes parâmetros: los Andes, Mérida, Venezuela
- Viscosidade, a qual depende muito do tipo de frasco no 6. Gomes RK, Gabriel M. Cosmetologia: descomplicando os princípios
qual o produto será comercializado, pois este deve ser de fácil ativos, Livraria Médica Paulista – LMP, São Paulo, 2006
7. Barata E. Cosméticos: arte e ciência. 1. ed., Lidel-Edições Técnicas,
manuseio.
Lisboa, 2002
- Aspecto, o qual depende do tipo de formulação desejada, 8. Schlossman ML. The Chemistry and manufacture of cosmetics, v.
como emulsão cremosa, ou loção fluida, ou gel–creme. 1 – Basic Science, 3. ed., Michael Schlossman, New York, 2000
- pH: deve estar entre 5,5 – 6,5 (creme de formulação básica). 9. Anton RE, Salager J-L. Lab. Emulsion Instability in the Three-
Há ainda cremes e loções com características mais específi- Phase Behavior Region of Surfactant-Alcohol-Oil-Brine Systems,
cas, como peelings químicos, filtros solares, cremes antirrugas, Laboratorio FIRP, Escuela de Ingenieria Quimica de la Uni-
versidad de los Andes, Mérida, Venezuela, 1985
cremes antiacne, cremes preventivos de assaduras etc.
Luciana Amiralian é farmacêutica-bioquímica formada pela Universi-
Conclusão dade de São Paulo (USP) e sócia-diretora da empresa Phisalia Produtos
Desenvolver formulações de sucesso é um desafio, espe- de Beleza, onde também é responsável pelas áreas de pesquisa e de-
cialmente quando os produtos são emulsões, pois o consumidor senvolvimento, inovação e controle de qualidade.
Claudia Regina Fernandes é química-industrial com especialização em
quer desempenho, aparência agradável e inovação em um único
Engenharia Cosmética e mais de 15 anos de experiência nas áreas de
produto. Além disso, como o mercado atual é muito competitivo, pesquisa e desenvolvimento, regulatórios e controle de qualidade. Atua
os formuladores têm como desafio cumprir todos esses requisitos na empresa Phisalia Produtos de Beleza como supervisora da área de
em prazos extremamente curtos para o lançamento do produto. pesquisa e desenvolvimento.

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