Você está na página 1de 220

FORMULAÇÕES EM

COSMETOLOGIA

Alexandra Allemand
Introdução às formulações
cosméticas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os princípios para a associação de insumos na obtenção


de cosméticos.
„„ Identificar as formas farmacêuticas empregadas na obtenção de
cosméticos.
„„ Conhecer os princípios e as rotas para permeação cutânea.

Introdução
Neste capítulo, você estudará os principais componentes de uma for-
mulação cosmética, bem como os princípios para associação desses
componentes e quais os fatores que influenciam na sua incorporação.
Em seguida, aprenderá quais são as principais formas farmacêuticas (FF)
dos cosméticos, quais as diferenças entre elas e a indicação de cada uma;
por fim, você conhecerá as formas como as substâncias presentes nos
cosméticos podem permear a nossa pele.

Cosméticos e sua composição


Cosmetologia pode ser definida como a ciência que estuda os cosméticos, desde
a concepção de conceitos até a aplicação dos produtos elaborados, incluindo
a pesquisa de novas matérias-primas, tecnologias para o desenvolvimento de
formulações, produção, comercialização, controle de qualidade, legalização,
etc. É uma atividade multidisciplinar e que trabalha com a beleza, a correção e
a preservação. Não tem finalidade curativa ou de tratamento, pois não se refere
2 Introdução às formulações cosméticas

a medicamentos, mas sim de prevenção e melhora de alterações inestéticas


na pele e nos cabelos (RIBEIRO, 2010).
Os cosméticos estão classificados juntamente com os produtos de higiene
pessoal e perfumes, sendo definidos como preparações constituídas por subs-
tâncias naturais ou sintéticas, de uso externo (nas diversas partes do corpo
humano), como pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos,
dentes e membranas mucosas da cavidade oral. Tem o objetivo, exclusivo ou
principal, de limpar, perfumar, alterar sua aparência, corrigir odores corporais
ou proteger e manter em bom estado (BRASIL, 2015).
As formulações cosméticas são compostas por matérias-primas denomi-
nadas excipiente e princípio ativo. Algumas formulações podem apresentar
apenas excipiente, como uma base cosmética. As substâncias que constituem
a formulação podem ser formadas por um ou mais componentes de origem
vegetal, animal ou mineral. Podem ser naturais ou sintéticas (GOMES; DA-
MAZIO, 2013).

Excipientes ou substâncias adjuvantes


São todas as substâncias adicionadas ao produto com a finalidade de melhorar
a sua estabilidade ou sua aceitação como FF. Possuem a função de estabi-
lizar e preservar o aspecto e as características físico-químicas da fórmula.
Dependendo da formulação, os excipientes podem funcionar como diluentes,
desintegrantes, aglutinantes, lubrificantes, conservantes, solventes, edulcoran-
tes, aromatizantes, agentes doadores de viscosidade, veículo, agentes antio-
xidantes etc. Em geral, os excipientes são terapeuticamente inertes, inócuos
nas quantidades adicionadas e não devem prejudicar a eficácia terapêutica do
ativo (BRASIL, 2012a).
Além das funções essenciais dos excipientes citadas, nos cosméticos,
excipientes como emolientes por exemplo, podem melhorar a espalhabilidade
do produto, ao passo que silicones podem conferir toque seco ou aveludado,
proporcionado uma sensação agradável. O uso de adjuvantes facilita a per-
meação de ativos na pele, sendo necessário nos cosméticos, já que a pele é
uma barreira natural. Corantes e perfumes também são muito utilizados nos
cosméticos, promovendo maior aceitabilidade e beleza na formulação.
É importante relatar que muitos excipientes apresentam mais de uma
propriedade, podendo ser umectante e emoliente ao mesmo tempo ou emo-
liente e espessante, por exemplo. A predominância de uma propriedade
sobre a outra pode ser determinada pela concentração usada para cada
matéria-prima.
Introdução às formulações cosméticas 3

Características e funções dos excipientes


Os umectantes são substâncias higroscópicas que possuem a propriedade
de absorver vapor de água da umidade do ar até alcançar um determinado
grau de diluição. São utilizados em formulações cosméticas com o objetivo
de evitar ou diminuir o ressecamento da formulação. Além disso, as proprie-
dades higroscópicas da película umectante que permanece sobre a pele após
a aplicação do produto podem favorecer a sua hidratação. São exemplos de
umectantes glycerin (glicerina), propylene glycol (propilenoglicol), sorbitol
(sorbitol), trehalose (trealose), cyclomethicone (ciclometicone), polyethylene
glycol (PEG ou polietilenoglicol), urea (ureia) e outros (ROWE; SHESKEY;
QUINN, 2009, CORRÊA, 2012).
Os emolientes são responsáveis pelo espalhamento e pela lubrificação. São
substâncias empregadas em produtos de uso tópico, com finalidade de suavizar
ou amaciar a pele ou, ainda, torná-la mais flexível. A oclusão promovida pelos
emolientes diminui a perda transepidermal de água e, consequentemente,
aumenta a hidratação do estrato córneo. Em geral, são de natureza oleosa,
como os óleos vegetais almond oil (óleo de amêndoas), canola oil (óleo de
canola), coconut oil (óleo de coco), soybean oil (óleo de soja), liquid paraffin
ou mineral oil (parafina líquida ou óleo mineral) e paraffin (parafina), lanolin
(lanolina), isopropyl palmitate (palmitato de isopropila), cyclomethicone
(ciclometicone), dimethicone (dimeticone) entre outros (ROWE; SHESKEY;
QUINN, 2009, FERREIRA, 2011; BRASIL, 2012a).
O solvente é utilizado para dissolver outra substância na preparação de
uma formulação. Além disso, deve ser compatível com os outros componentes
da fórmula, bem como ter baixa toxicidade e, de preferência, sem odor e cor.
O solvente pode ser aquoso ou não aquoso (oleoso, por exemplo). A água
purificada é o solvente mais utilizado e o mais desejável para o preparo de
formulações cosméticas. Quando a água é usada como solvente principal, um
solvente auxiliar pode ser empregado para aumentar a sua ação solvente ou
para contribuir com a estabilidade do produto. O álcool, a glicerina e o propi-
lenoglicol são os solventes auxiliares mais usados. O álcool etílico ou etanol
é o segundo solvente mais utilizado, porém apresenta algumas desvantagens,
como a dificuldade no emulsionamento, pois altera a capacidade do tensoativo
na redução da tensão superficial da água.
A glicerina apresenta solubilidade com diversos outros veículos, como
água, álcool etílico e isopropílico e PEG 400 e dissolve muitos óleos volá-
teis. Não é irritante a pele, apresenta propriedades antissépticas e é umec-
tante. Contudo, devido à sua viscosidade, pode conferir aspecto pegajoso à
4 Introdução às formulações cosméticas

f­ ormulação, além de apresentar o inconveniente de interferir na estabilidade


da emulsão.
O propilenoglicol também apresenta solubilidade com diversos outros
solventes, assim como a glicerina. Apresenta propriedades antimicrobianas
e umectantes, além de solubilizar diversos ativos e vitaminas A e D. Também
interfere na estabilidade das emulsões. Dentre os polietilenoglicois, o PEG
400 é outro umectante com capacidade solvente, que também pode interferir
na estabilidade das emulsões.
Outros solventes utilizados são os óleos (óleo de amêndoas doces, óleo de
rícino, óleo de milho, óleo de soja, óleo mineral entre outros).
O espessante é o responsável por aumentar viscosidade do produto e me-
lhorar a sua estabilidade. Pode ser chamado também de agente de viscosidade
ou doador de consistência. Alguns espessantes são usados em formulações para
reduzir a velocidade de sedimentação de partículas dispersas em um veículo
no qual não são solúveis, neste caso, são chamados de agentes suspensores.
Os agentes geleificantes também apresentam a propriedade de espessamento
(FERREIRA, 2011).
Doadores de consistência são, principalmente, ácidos, álcoois e ésteres de
ácidos graxos de cadeia longa como cetostearyl alcohol (álcool cetoestearílico),
stearyl alcohol (álcool estearílico) e glyceryl monostearate (monoestearato
de glicerol), parafinn (parafina) e agentes geleificantes, utilizados para au-
mentar a consistência da formulação (FERREIRA, 2011, ROWE; SHESKEY;
QUINN, 2009).
Agentes geleificantes e suspensores podem ser derivados da celulose -
carboxymethylcellulose [CMC] (carboximetilcelulose), hydroxyethyl celulose
[HEC] (hidroxietilecelulose); resinas; carbômeros - carboxyvinyl polymer,
(carboxivinil polímero) ou serem naturais - xanthan gum (goma xantana)
(FERREIRA, 2011, ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).
O emulsionante é usado para promover e manter a dispersão de partículas
finamente divididas de um líquido em um veículo no qual elas são imiscíveis.
O produto pode ser uma emulsão líquida ou semissólida (por exemplo, creme).
Tem a capacidade de produzir a emulsificação e de manter a estabilidade da
emulsão durante o prazo de validade prevista para o produto. Os emulsionantes
podem ser tensoativos ou poliméricos.
Os tensoativos têm a capacidade de reduzir a tensão superficial, permi-
tindo formulações mais estáveis e uniformes. Isso se deve à sua propriedade
molecular de apresentar afinidade, tanto para substâncias hidrossolúveis como
lipossolúveis. Por isso, são muito empregados no preparo de emulsões que
Introdução às formulações cosméticas 5

são FF caracterizadas por componentes oleosos e aquosos, como as emulsões.


Além disso, apresentam características como detergência e formação de es-
puma, sendo matérias-primas indispensáveis na formulação de sabonetes e
xampus (FERREIRA, 2011). De acordo com o caráter da porção hidrofílica,
os tensoativos podem ser aniônicos — sodium lauryl sulphate (lauril sulfato
de sódio), disodium laureth sulfossuccinate (lauril sulfosuccinato de sódio),
docusate sodium (docusato de sódio), TEA lauryl sulfate (lauril sulfato de
trietanolamina), ammoniuml lauryl sulfate (lauril sulfato de amônio); ca-
tiônicos — cetrimonium chlorid (cloreto de cetrimônio), utilizado como
antisséptico ou em condicionadores; não iônicos — cocamide DEA (dieta-
nolamida de ácido graxo de coco), decyl glucoside (decilglucósido), lauryl
glucoside (lauril-glicosídeo); ou, ainda, anfóteros — cocamidopropyl betaine
(cocoamidopropil betaína), sodium cocoamphoacetate (cocoanfoacetato de
sódio) (DALTIN, 2011).
Os emulsionantes poliméricos são polímeros do ácido acrílico, também
emulsionantes primários que, combinados ou não com tensoativos iônicos
ou não iônicos, formam emulsões estáveis do tipo óleo em água (O/A).
A aplicação dos polímeros na área cosmética vem crescendo, exemplos
são os derivados acrílicos contendo aminoácidos ou compostos de amônio
quaternário, que originam xampus com boas propriedades; o poli (dialil
dimetilamônio) e os copolímeros acrílicos, de natureza aniônica e anfotérica,
respectivamente, são usados em condicionadores; o copolímero silicone/
acetato de vinila é empregado em sprays para cabelo. Monômeros contendo
ácido 2-acrilamida-metilpropanosulfônico, previamente neutralizado, quando
polimerizados na presença de acrílicos de baixa hidrossolubilidade, originam
uma estrutura com maior hidrofobia e compatibilidade com outros compo-
nentes lipofílicos, sendo úteis na preparação de emulsões contendo filtros
solares. Copolímeros acrílicos baseados no acrilato, metacrilato de amônio
e estireno originam máscaras, delineadores, mousses e filtros solares com
excelentes características. Poliacrilatos e poliuretanos (PU’s) são utilizadas
como formadores de filmes em máscaras e maquiagens (VILLANOVA;
ORÉFICE; CUNHA, 2010).
O corretivo de pH (alcalinizante e acidificante) corrige o pH da formulação,
com o objetivo de estabilizar a formulação; torná-la compatível ao local de
aplicação ou à função principal do cosmético. Os agentes acidificantes, dimi-
nuem o pH (por exemplo, ácido cítrico, ácido acético, ácido bórico), ao passo
que os alcalinizantes aumentam o pH (bicarbonato de sódio, dietanolamina,
trietanolamina) (FERREIRA, 2011).
6 Introdução às formulações cosméticas

Os conservantes são substâncias que tem a finalidade de preservar o cos-


mético dos danos causados por microrganismos (por exemplo, ácido benzoico,
metilparabeno, propilparabeno, álcool benzílico, triclosan) (CORRÊA, 2012).
O crescimento microbiano ocorre em produtos não estéreis e com alto teor de
água, como soluções e dispersões de base aquosa. Portanto, para os produtos
não estéreis, é necessária a inclusão de conservante ou sistema conservante
na formulação. FF sólidas, com quantidades relativamente pequenas de água
podem não requerer conservante (BRASIL, 2012a).
O antioxidante inibe ou bloqueia o processo de oxidação dos compo-
nentes orgânicos, ou seja, a degradação do cosmético, que se manifesta
principalmente pela mudança do odor e da cor. Contudo, os antioxidantes
também oxidam, ou seja, não protegem indefinidamente o produto. A adição
do antioxidante deve ser feita antes do processo oxidativo, já que ele não
pode reverter a formação de peróxidos. Diversas matérias-primas de origem
orgânica empregada nas formulações cosméticas podem sofrer oxidação,
como praticamente todos os óleos vegetais e animais, óleos essenciais e
muitas vitaminas (por exemplo, butilhidroxitolueno (BHT), ascorbato de
sódio, metabissulfito de sódio) (CORRÊA, 2012).
Agentes quelantes (sequestrantes) são substâncias que formam complexos
estáveis (quelato) com metais que possam acelerar os processos oxidativos,
aumentando a atividade dos antioxidantes. O mais importante é o ácido eti-
leno diaminotetracético (EDTA) e seus sais (EDTA dissódico, trissódico ou
tetrasódico). Sequestram principalmente íons de cobre, ferro e manganês
(FERREIRA, 2011).
Perfumes são substâncias usadas para conferir sabor e odor agradável a
preparação. São de origem natural, como os óleos essenciais (jasmim, rosa
gerânio) ou sintética (citral, acetato de linalina, acetato de benzila) (FER-
REIRA, 2011).
O corante é uma substância adicional a medicamentos, produtos die-
téticos, cosméticos, perfumes, produtos de higiene e similares, saneantes
domissanitários e similares, com o efeito de lhes conferir cor. Em determi-
nados tipos de cosméticos, podem transferir a cor para a superfície cutânea e
anexos da pele. Podem ser de origem natural ou sintética (BRASIL, 2012a).
A lista de substâncias corantes permitidas para produtos de higiene pessoal,
cosméticos e perfumes consta na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) nº. 44, de 2012
(BRASIL, 2012c).
Introdução às formulações cosméticas 7

O princípio ativo é uma substância química ou biológica que atua sobre


as células teciduais de várias maneiras. Em uma formulação é o elemento
com ação ou efeito mais acentuado. Os princípios ativos podem ter efeito
farmacológico ou cosmético, e possuem propriedades anti-inflamatórias,
antissépticas, calmantes, cicatrizantes, hidratantes, nutritivas entre outros
(GOMES; DAMAZIO, 2013).

Incorporação dos insumos na formulação


Os produtos cosméticos comumente apresentam em suas formulações uma
enorme variedade de substâncias combinadas em diversas associações. É
comum, por exemplo, a associação de ativos ou excipientes que apresentam
as mesmas propriedades, com o objetivo de potencializar o efeito desejado
por meio de mecanismos de ação diferentes. Quando o efeito de dois ou mais
ativos combinados é maior do que a soma dos efeitos individuais dá-se o nome
de efeito sinérgico.
De acordo com o Formulário da Farmacopeia Brasileira, de 2012 (BRA-
SIL, 2012a), os conservantes presentes nas formulações são selecionados
conforme seu espectro de ação, portanto, a associação de mais de um tipo de
conservante amplia o efeito contra microrganismos que podem deteriorar a
formulação. O efeito hidratante de um cosmético pode ser atribuído a vários
tipos de substâncias associadas, a ureia, por exemplo, promove hidratação
cutânea devido à sua capacidade de se unir à água e acelerar a penetração
cutânea. A eficácia da ureia aumenta quando associada a outros componentes,
como vitaminas e ceramidas. A adição de um umectante e um emoliente
potencializa o efeito hidratante, em razão da sua propriedade higroscópica e
oclusiva (RIBEIRO, 2010).
Os cremes e loções cremosas possuem, em geral, pelo menos um emo-
liente em sua composição. A estrutura química dos emolientes influencia sua
interação com a pele e a propriedade sensorial do produto. O óleo mineral,
os óleos vegetais, a lanolina e a vaselina têm maior poder oclusivo. Os óleos
produzem sensação mais gordurosa, ao passo que os ésteres de ácidos graxos,
como o miristato de isopropila, conferem sensação mais leve na pele, sendo
menos oclusivos que as ceras e os óleos (BRASIL, 2012a).
A associação de emolientes ou outros insumos pode alterar algumas ca-
racterísticas da formulação, como espalhabilidade, custo, compatibilidade,
capacidade solubilizante, liberação do ativo, permeação cutânea, entre outras
(BRASIL, 2012a).
8 Introdução às formulações cosméticas

Independentemente da matéria-prima a ser incorporada ou associada,


ela deve ter sua quantidade controlada, em virtude dos limites aceitáveis de
aplicação, toxicidade, possíveis efeitos colaterais, sensibilização e ­reações
alérgicas. Esses parâmetros devem estar de acordo com o Guia para Avalia-
ção de Segurança de Produtos Cosméticos da ANVISA, de 2012 (BRASIL,
2012b).
Além disso, uma série de parâmetros, como forma de apresentação, com-
patibilidade entre os componentes, estabilidade, eficácia e local de aplicação
são imprescindíveis para a associação dos insumos e obtenção do cosmético.
Veja alguns pontos importantes que devem ser considerados na incorporação
das matérias-primas (FERREIRA, 2011):

„„ Capacidade de solubilização ou dispersão — quanto mais solúveis


entre si forem os excipientes e os princípios ativos, mais fácil será a
manipulação do cosmético. A solubilização pode ser facilitada pelo
aumento da temperatura, pela diminuição das partículas por meio de
trituração ou pela adição de um solvente.
„„ Compatibilidade entre os compostos — muitas substâncias são incom-
patíveis e podem perder o efeito quando adicionadas concomitantemente.
É comum também a formação de precipitados e alteração de pH, que
devem ser evitados.
„„ Características sensoriais e FF — a escolha do veículo influencia na
consistência da formulação, originando um cosmético mais oleoso ou
mais líquido, por exemplo, e no desenvolvimento da FF.

Em geral, o pH da formulação deve ser compatível com o pH da região do corpo a ser


aplicado o cosmético. Com algumas exceções, pode-se desejar um pH diferente do
local de aplicação para que o ativo exerça o feito esperado. Por exemplo, alguns cremes
com ácidos para efeito peeling precisam de um pH bem baixo na formulação final,
em torno de 3,0, para que sua função de escamação aconteça. Observe no Quadro a
seguir o pH de diferentes partes do corpo.
Introdução às formulações cosméticas 9

Faixas do pH do corpo

Axilas 6,3 a 6,5


Costas 4,5 a 4,8
Cabelo 4,5 a 4,7
Coxas 6 a 6,1
Mãos 4,3 a 4,6
Nádegas 6,4 a 6,5
Pés 7 a 7,2
Face 4 a 4,8
Seios 6 a 6,2
Tornozelos 5,9 a 6,1
Fonte: Batistuzzo, Itaya e Eto (2015).

Formas farmacêuticas dos cosméticos


A FF de um cosmético é a sua apresentação, sua forma física. Pode ser sólida,
semissólida, líquida ou gasosa. É o estado final de apresentação que os princí-
pios ativos possuem após uma ou mais operações farmacêuticas executadas com
ou sem a adição de excipientes apropriados, a fim de facilitar a sua utilização
e obter o efeito terapêutico desejado, com características apropriadas a uma
determinada via de administração (BRASIL, 2011; 2012a). A seguir serão
apresentadas as FF mais comuns dos cosméticos.

Formas farmacêuticas sólidas


Os pós são FF sólidas, contendo um ou mais princípios ativos secos e com
tamanho de partícula reduzido, com ou sem excipientes (BRASIL, 2011). De
acordo com Gomes e Damazio (2013), pós são FF preparadas e conservadas
em estado seco, sem qualquer umidade, como talco, pó facial, maquiagem
em pó e máscaras argilosas. Nessas últimas, a adição de água deve ser feita
no momento da aplicação.
A FF cápsula é sólida, na qual o(s) princípio(s) ativo(s) e/ou os excipientes
estão contidos em invólucro solúvel duro ou mole, de formatos e tamanhos
10 Introdução às formulações cosméticas

variados, geralmente contendo uma dose única do princípio ativo. Pode ser
formada de gelatina, amido ou outras substâncias (BRASIL, 2011). De acordo
com FERREIRA, 2011, cápsulas são FF, em geral destinadas à administração
por via oral. O conteúdo das cápsulas pode ser de consistência sólida (mistura
de pós), líquida (líquidos anidros) ou semissólida. O invólucro é constituído
de gelatina (cápsulas gelatinosas) ou outro material apropriado, como a hi-
droxipropilmetilcelulose (HPMC), constituinte das cápsulas vegetais. De
acordo com o farmacêutico pesquisador em cosmetologia, o uso de cápsulas
com nutricosméticos é uma boa alternativa para complementar os tratamentos
estéticos tópicos (NUTRICOSMÉTICOS..., 2018).
Bastões ou Sticks são formas cosméticas moldadas, adequadas para a
administração tópica de ativos cosméticos. Têm como vantagens a facilidade
de transporte, podem ser preparados em diferentes tamanhos e formatos para
aplicação em diferentes áreas do corpo, por exemplo. desodorantes (FER-
REIRA, 2011). Os sticks, em sua maioria, são produzidos a partir de substâncias
lipofílicas, como ceras (candelila, cera de abelha, ceras ozoquerita) e óleos
(óleo de rícino, mineral, vegetal) em diversas proporções, que permitam dureza
ou rigidez específicas, mas também apresentem elasticidade suficiente para
resistir a quebra ou rachaduras durante o uso. São exemplos desodorantes,
batons e lapiseiras de maquiagem (ESTÉTICA EXPERTS, 2018).
Sabonete em barra é um FF sólida, com forma variável, derivada da
ação de uma solução de álcali em gorduras ou óleos de origem animal ou
vegetal; é destinado à limpeza e à aplicação na superfície cutânea (BRASIL,
2011). A limpeza da oleosidade e sujidades da pele se deve ao tensoativo que,
nesse caso, é formado pela reação de saponificação dos óleos com a adição
de um alcalinizante, como o hidróxido de sódio ou a neutralização de ácidos
graxos. O sabão é o tensoativo de limpeza mais antigo em uso ainda nos dias
de hoje. Os sabonetes em barra costumam apresentar pH mais alcalino, o que
os tornam mais agressivos a pele, quando comparados aos sabonetes líquidos
ou cremosos (RIBEIRO, 2010).
Adesivo é um sistema destinado a produzir um efeito sistêmico pela difu-
são do(s) princípio(s) ativo(s) em uma velocidade constante, por um período
de tempo prolongado (BRASIL, 2011). Também conhecidos como patches
transdérmicos, esses sistemas permite uma liberação controlada dos ativos
paras as camadas da pele até atingir a circulação sanguínea. Exemplos de
ativos veiculados em patches cosméticos são a cafeína para tratamento da
celulite, o colágeno, o ácido hialurônico e os óleos essenciais (FURLANI;
SILVA; NETZ, 2012).
Introdução às formulações cosméticas 11

Formas farmacêuticas semissólidas


Creme é um FF semissólida que consiste em uma emulsão, formada por
uma fase lipofílica e uma fase aquosa. Contém um ou mais princípios ativos
dissolvidos ou dispersos em uma base apropriada e é utilizado para aplicação
externa na pele ou nas membranas mucosas (BRASIL, 2012a). É umas das
formas físicas mais utilizadas na cosmetologia. Dependendo da sua consis-
tência, pode originar loções cremosas ou sérum.
O gel é uma FF semissólida com um ou mais princípios ativos contendo um
agente gelificante, que fornece firmeza a uma solução ou dispersão coloidal
(um sistema no qual partículas de dimensão coloidal — tipicamente entre
1 nm e 1 mm — são distribuídas uniformemente através do líquido). Um gel
pode conter partículas suspensas (BRASIL, 2011). De acordo com Gomes
e Damazio (2013), trata-se de um sistema coloidal formado por duas fases,
sendo uma dispersora líquida (água, álcool, propilenoglicol, acetona) e outra
fase dispersa sólida (agentes geleificantes). Existem dois tipos de gel: gel
aquoso e gel creme. As características são determinadas pela base veicular,
mais precisamente a fase dispersora. Os efeitos do gel variam conforme os
princípios ativos adicionados, ou seja, efeito hidratante, refrescante, calmante,
deslizante. Os géis são a FF mais indicada para peles oleosas, acneicas ou
seborreicas. Segundo Ferreira (2011), emulsões formadas a partir de géis são
chamadas de gel-creme, formados com alta porcentagem de água e baixa, ou
nenhuma, porcentagem de óleo. São preparações opacas, com aparência de
creme, mas com composição de gel, geralmente tem bons resultados em peles
oleosas e mistas com excesso de brilho e extremidades ressecadas.
A pomada é um FF semissólida para aplicação na pele ou nas membranas
mucosas, que consiste de solução ou dispersão de um ou mais princípios ativos
em baixas proporções em uma base adequada (BRASIL, 2011). De acordo
com Ferreira (2011), a pomada normalmente é mais gordurosa que o creme,
pois não permite incorporar quantidades significativas de água ou compos-
tos hidrossolúveis. Existem bases mais hidrofóbicas (vaselina, ceras) e mais
hidrofílicas que permitem alguma incorporação de água, como a lanolina e
PEG. Uma das características das pomadas é sua capacidade oclusiva, ou seja,
que em contato com a pele ou mucosa impede a transpiração, contribuindo
para a hidratação do local. Por isso, são bastante indicadas para regiões pe-
quenas do corpo, extremamente secas e propensas a fricção. Em razão de
sua ação congestiva, as pomadas principalmente as que contem excipientes
mais hidrofóbicos, só devem ser utilizadas em dermatoses crônicas. Não são
12 Introdução às formulações cosméticas

aconselhadas em estados cutâneos agudos ou subagudos. Na cosmética, as


pomadas são úteis após procedimentos ou na cosmética capilar.

Formas farmacêuticas líquidas


A emulsão é uma FF líquida de um ou mais princípios ativos que consiste de
um sistema de duas fases envolvendo, pelo menos, dois líquidos imiscíveis,
na qual um líquido é disperso na forma de pequenas gotas (fase interna ou
dispersa) através de outro líquido (fase externa ou contínua). Geralmente, é
estabilizada por meio de um ou mais agentes emulsificantes (BRASIL, 2011).
A palavra serum vem do latim e significa soro. Constitui-se em uma emul-
são, em geral administrada na forma de gotas, devido à sua textura fluida e
leve. Possui alta concentração de ativos, pequena quantidade de óleo, baixa
viscosidade e rápida absorção na pele. Proporciona um toque seco, não oleoso
e não pegajoso, com excelente espalhabilidade. É ideal para ser aplicado em
toda a face e muito utilizado na área dos olhos (ESTÉTICA EXPERTS, 2018).
Loção é uma preparação líquida aquosa ou hidroalcoólica, com viscosidade
variável para aplicação na pele, incluindo o couro cabeludo. Pode ser solução,
emulsão ou suspensão, contendo um ou mais princípios ativos ou adjuvantes
(BRASIL, 2012a). Muito comuns na produção de demaquilantes, loções de
limpeza e loções tônicas adstringentes (GOMES; DAMAZIO, 2013).
Esmalte é uma solução contendo um ou mais princípios ativos para apli-
cação nas unhas. Forma uma película que não sai com água (BRASIL, 2011).
A espuma é uma FF que consiste em um grande volume de gás disperso em
um líquido, geralmente contendo uma ou mais substâncias ativas. É formada
pela ação de um propelente, podendo haver outros excipientes (BRASIL, 2011).
As mousses ou espumas eram de uso exclusivo para os cabelos, mas, nos dias
de hoje, é comum encontrar como sabonetes, protetor solar e até maquiagem.
Por ser de uma textura mais leve, absorve na pele com rapidez e, ainda, é mais
confortável e gostosa de aplicar.
O sabonete líquido é uma solução contendo um ou mais princípios ativos
para aplicação na superfície cutânea (BRASIL, 2011). Trata-se de FF destinada
à limpeza, devido aos tensoativos da formulação, que se baseiam na emulsifi-
cação das gorduras e sujidades da pele. Na cosmética dermatológica são mais
indicados sabonetes líquidos ou cremosos, pois apresentam pH fisiológico à
pele. A adição de princípios ativos, como óleos essenciais, extratos vegetais,
ácidos, aminoácidos, ativos antimicrobianos, vitaminas e outro, proporciona
ao sabonete efeitos adicionais ao da limpeza (RIBEIRO, 2010).
Introdução às formulações cosméticas 13

A solução é uma FF líquida límpida e homogênea, que contém um ou mais


princípios ativos dissolvidos em um solvente adequado ou em uma mistura
de solventes miscíveis (BRASIL, 2012a). Resulta da dissolução de uma ou
mais substâncias (soluto) em um líquido ou misturas de líquidos (solvente),
constituindo um sistema homogêneo de única fase. De acordo com o solvente,
as soluções podem ser: aquosas, alcoólicas, hidroalcoólicas ou glicéricas.
Muito utilizadas para a assepsia da pele, iontoforese, tonificação, peeling,
entre outros procedimentos (ESTETICA EXPERTS, 2018).
Suspensão é uma FF líquida, porém heterogênea, pois consiste em uma
fase interna (partículas sólidas) insolúvel na fase externa (líquida). Nesse tipo
de FF, utiliza-se agentes espessantes ou suspensores para facilitar a suspensão
das partículas na formulação. Além disso, pode ser necessário haver no rótulo
a seguinte mensagem: “agite antes de usar”. São exemplos de suspensão os
esfoliantes físicos e cosméticos perolizados, algumas pastas, entre outros
(BRASIL, 2012a; ESTETICA EXPERTS, 2018).
Xampu trata-se de solução ou suspensão, contendo um ou mais princípios
ativos para aplicação na superfície do couro cabeludo (BRASIL, 2011). Assim
como o sabonete, essa FF destina-se principalmente à limpeza dos fios e couro
cabeludo. Porém, atualmente, as formulações estão cada vez mais voltadas a
promover outros efeitos, como maciez, brilho, flexibilidade, além de ativos
para nutrição capilar.

Conheça os diferentes tipos de princípios ativos utilizados na cosmetologia assistindo


ao programa Estética na Tv, disponível no link abaixo.

https://goo.gl/iL6jkV

Princípios e rotas da permeação cutânea


A pele, maior órgão do corpo humano, funciona como um revestimento
externo e exerce variadas e importantes funções, como proteção e defesa de
agentes externos (barreira microbiana, química, radiação, térmica), regulação
14 Introdução às formulações cosméticas

térmica, percepção sensorial, secreção, regulação hídrica, metabolismo e


excreção e respostas imunológicas (CONHEÇA... 2017; SOUTOR; HOR-
DINSKY, 2015).
A pele é constituída de três camadas de tecidos: uma superior — a epi-
derme; uma intermediária — a derme; e uma profunda — a hipoderme ou
tecido subcutâneo. A epiderme não é vascularizada e pode ser dividida em
quatro camadas celulares distintas: basal; espinhosa; granulosa e córnea (rica
em células mortas queratinizadas que como principal função a proteção).
A derme é formada por fibras de colágeno e elastina e gel coloidal, que
conferem tonicidade, elasticidade e equilíbrio à pele. É onde se situam vasos
sanguíneos, glândulas sebáceas, sudoríparas e folículos pilosos. A hipoderme
é composta de tecido adiposo e sua espessura é bastante variável, conforme
a constituição física de cada pessoa. Ela apoia e une a epiderme e a derme ao
resto do corpo. Além disso, a hipoderme mantém a temperatura do corpo e
acumula energia para o desempenho das funções biológicas (CONHEÇA...
2017; RIVITTI, 2014). A principal barreira à penetração de substâncias na
pele é a camada córnea, a mais externa da epiderme e, por isso, que merece
maior atenção no que se refere à permeação de ativos cosméticos.

Camada córnea e o controle de permeação cutânea


De acordo com Soutor e Hordinsky (2015), a camada córnea é uma barreira
semipermeável construída tipo “tijolos” (células empilhadas endurecidas) e
“argamassa” (ceramidas, colesterol e ácidos graxos). Essa barreira é criada
pela diferenciação dos queratinócitos conforme se movem da camada de
células basais para o estrato córneo. De acordo com essa movimentação
para o estrato córneo, os queratinócitos perdem seus núcleos e assumem
uma forma hexagonal plana, sendo sobrepostos alternadamente e designa-
dos de corneócitos (constituídos de queratina). Essas células levam 14 dias
para atingir o estrato córneo e outros 14 dias para descamar, portanto, a
substituição da epiderme ocorre em, aproximadamente, 28 dias. (SOUTOR;
HORDINSKY, 2015).
Os corneócitos são revestidos por uma fina camada irregular e descontí-
nua, o manto hidrolipídico, que consiste no sebo secretado pelas glândulas
sebáceas, suor, bactérias e células mortas da pele. Considera-se que essa
camada seja uma barreira adicional à permeação de substâncias através
da camada córnea (SOARES et al., 2015). Os lipídeos da matriz intercelu-
lar estão organizados em estruturas multilamelares, com alternância dos
Introdução às formulações cosméticas 15

d­ omínios hidrofílicos e lipofílicos, o que dificulta a passagem de ativos por


essa camada. Em geral, essa camada é constituída por 15 a 20 camadas de
corneócitos, podendo atingir as 100 camadas, como na palma das mãos e
nos pés (RAFEIRO, 2013).
O fluxo de substâncias através do estrato córneo é diretamente propor-
cional ao gradiente de concentração, portanto pode ser considerado uma
difusão passiva. Compostos muito lipofílicos e com baixo peso molecular
(< 100 daltons) demonstram grande velocidade de fluxo através da matriz
lipídica do estrato córneo. Moléculas não ionizadas permeiam com mais
facilidade que as ionizadas. Contudo, difundem-se lentamente quando
encontram as camadas aquosas da epiderme. O oposto também é verda-
deiro para substâncias hidrofílicas polares (a primeira barreira é a camada
lipídica do estrato córneo). Portanto, o ativo que apresenta propriedade
tanto hidrofílica como hidrofóbica apresentará uma melhor permeação.
Essa propriedade está relacionada ao coeficiente de partição óleo/água,
isto é, capacidade da molécula de se distribuir em diferentes fases. Além
disso, quanto maior for a área da superfície exposta, maior será o fluxo da
molécula (FERREIRA, 2011).

Tipos de permeabilidade cutânea


De acordo com Gomes e Damazio (2013), as substâncias podem ser permeá­
veis, semipermeáveis ou impermeáveis à barreira cutânea. O que permite a
passagem é o reconhecimento e a necessidade da substância pela membrana
celular.

„„ Substâncias permeáveis — gases (O2 e CO2), etanol, água, moléculas


hidrossolúveis e lipossolúveis com baixo peso molecular (abaixo de 0,8
nm), como o ativo ácido glicólico, muito usado na estética para peelings
(KEDE; SABATOVICH, 2009).
„„ Substâncias semipermeáveis — aminoácidos, glicose, nucleotídeos,
íons como cálcio, sódio e potássio, vitaminas D e E, hormônios, anesté-
sicos, resorcina, hidroquinona. Essas moléculas necessitam de proteínas
carreadoras ou transmembrana. No mercado há hormônios que utilizam
a permeação transepidérmica em forma de adesivo.
„„ Substâncias impermeáveis — eletrólitos (penetram se estiverem io-
nizados), proteínas e carboidratos ou quaisquer moléculas hidrofílicas
de alto peso molecular, por exemplo, colágeno e elastina.
16 Introdução às formulações cosméticas

Rotas de permeação cutânea


Permeação cutânea é a passagem das moléculas presentes na formulação da
camada mais externa da pele, a epiderme, para a derme e a hipoderme, podendo
ocorrer pelas seguintes rotas, conforme ilustrado na Figura 1 (SOARES et al.,
2015):

„„ Via transfolicular — quando as substâncias permeiam através do


folículo piloso ou glândula sebácea.
„„ Via transepidermica — a permeação ocorre entre os espaços celulares
(queratinócitos). É a principal via de permeação de substâncias pequenas
e lipofílicas. Também chamada de permeação intercelular.
„„ Via transcelular — permeação por dentro das células, realizada prin-
cipalmente para substâncias de baixíssimo peso molecular. Também
chamada de permeação intracelular.

Transepidérmico Através dos poros

Intercelular Transcelular Transglandular Transfolicular

Corneócitos Papila capilar

Glândula

Figura 1. Rotas de permeação cutânea.


Fonte: Adaptada de Campos e Mercúrio (2009, documento on-line).

Fatores que influenciam a permeação cutânea


Fatores relacionados à pele, bem como características da base ou veículo e
princípio ativo podem afetar a permeação cutânea.
Introdução às formulações cosméticas 17

Fatores fisiológicos da pele

São consideradas a integridade, a espessura, a hidratação e a região anatômica.


A pele é, naturalmente, uma barreira para entrada de substâncias. Quando ela
está lesionada, com fissuras, cortes ou queimada, por exemplo, a permeabi-
lidade cutânea estará aumentada, portanto, nesses casos, deve-se atentar na
aplicação de cosméticos, devido à probabilidade de infecção. A pele hidratada
tem maior flexibilidade e elasticidade, o que facilita a entrada de substâncias
(SILVA, 2009). Em relação à espessura da camada córnea, quanto mais fina
for, maior será a permeação cutânea. Peles oleosas costumam ter essa camada
mais espessa, sendo muito comum a utilização de ácidos ou esfoliantes sobre
a epiderme para facilitar a entrada de moléculas nas camadas mais internas
da pele (KEDE; SABATOVICH, 2009). As mucosas, as áreas com maior
número de folículos pilossebáceos e as áreas mais vascularizadas tem maior
permeação (GOMES; DAMAZIO, 2013).

Fatores cosmetológicos

Cosméticos do tipo emulsões favorecem a permeabilidade cutânea dos ati-


vos, a qual depende não só dos excipientes, mas também dos tensoativos e
da sua quantidade. Quanto mais baixo for o peso molecular e o tempo de
exposição ao cosmético, maior será a permeação (GOMES; DAMAZIO,
2013; FERREIRA, 2011).
O aumento da permeabilidade da pele para diversos ativos pode ser
conseguido mediante a coadministração de promotores químicos de per-
meação, ou pelo uso de promotores físicos de permeação, que diminuem
temporariamente a impermeabilidade do estrato córneo (FERREIRA, 2011;
CORRÊA, 2012).

Promotores químicos de permeação

Os promotores químicos são substâncias capazes de melhorar o transporte


de moléculas através da pele, pela redução temporária e reversível das suas
propriedades de barreira e consequente aumento da permeabilidade, por meio
de vários mecanismos. Os promotores podem exercer os seus efeitos direta-
mente sobre a estrutura da pele, atuando sobre os lipídeos intercelulares ou
sobre os corneócitos; podem extrair lipídeos da pele, criando vias de difusão
para o fármaco, ou inserir moléculas anfipáticas nas bicamadas, perturbando
a sua estrutura organizada e causando a sua fluidificação; e podem, também,
18 Introdução às formulações cosméticas

aumentar a atividade termodinâmica do fármaco, promover a hidratação da


camada córnea, alterar as propriedades dos corneócitos ou desmossomas ou
aumentar o coeficiente de partição da molécula, proporcionando uma difusão
adequada através da pele (SOARES et al., 2015; ALVES, 2015).
Os promotores químicos têm sido classificados com base nas suas estruturas
químicas e não nos seus mecanismos de ação. A água constitui o promotor
químico mais natural, outros exemplos são os álcoois (etanol, pentanol, álcool
benzílico, álcool láurico, propilenoglicol, glicerol) e os ácidos graxos (ácido
oleico, ácido linoleico, ácido valérico e ácido láurico). Os álcoois atuam por
extração de lipídeos ou proteínas, intumescimento da camada córnea ou, ainda,
melhoram a partição da molécula na pele ou a sua solubilidade na formulação.
Já os ácidos graxos atuam na desorganização das bicamadas lipídicas ou por
formação de complexos lipofílicos com a molécula.
O uso de tensoativos reduz a força da barreira hidratante natural. Os sabões
podem fragilizar essa barreira, além de retirar os lipídeos da superfície da pele
(SILVA, 2009). Outros exemplos são as aminas (dietanolamina, trietanolamina),
a ureia, o miristato de isopropila, dimetil sulfóxido (DMSO), ciclodextrinas
e outros (SOARES et al., 2015; ALVES, 2015).
Os promotores químicos são considerados métodos passivos de per-
meação cutânea, podendo ser incorporados à formulação cosmética para
aumentar a permeação de ativos. Na estética é possível contar também
com promotores ativos ou físicos, como a iontoforese, a eletroporação,
a sonoforese, o microagulhamento, a microdermoabrasão, entre outros
(SOARES et al., 2015).

No link a seguir você verá um vídeo sobre pesquisas com nanocosméticos.

https://goo.gl/FzahSQ
Introdução às formulações cosméticas 19

O microagulhamento, conhecido também por indução percutânea de colágeno, além


de estimular os fibroblastos, aumenta a permeação de ativos, a partir das microper-
furações que provoca na pele, como você pode observar na ilustração da Figura 2.

Figura 2. Microagulhamento.
Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com.

1. As formulações cosméticas são a) Todos os cosméticos apresentam


constituídas por matérias-primas, princípios ativos e excipientes.
como excipientes e princípio ativo. b) Os excipientes são inertes,
Os excipientes ou adjuvantes ou seja, não apresentam
possuem diversas características efeito sobre a pele.
que determinam diferentes c) O conservante é responsável
funções dentro de um cosmético. por conservar a água
De acordo com o que você na formulação.
estudou, assinale a alternativa d) Tensoativo é um excipiente
que descreve corretamente que promove detergência e
essas características e funções. estabilidade às formulações.
20 Introdução às formulações cosméticas

e) O veículo normalmente está em as FF que mais se adequam a


maior quantidade e é líquido. essa caraterística são as pomadas.
2. Um creme hidratante pode ser b) Os géis, também chamados de
composto basicamente de creme emulsões, são FF translúcidas,
base, umectante, emoliente, indicadas para peles oleosas
corretivo de pH e antioxidante. Ao ler pois apresentam na sua
o rótulo de um creme, o cliente pede composição menos óleo,
para você explicar o significado dos comparados aos cremes.
seguintes ingredientes: glicerina, c) A FF mais utilizada na
óleo mineral, ácido cítrico e BHT. cosmetologia é o creme,
Qual das alternativas a seguir mas uma alternativa menos
apresenta uma resposta que você oleosa para este cliente
poderia fornecer ao cliente? seria o gel-creme, emulsão
a) A glicerina é um umectante formada a partir de gel.
com característica higroscópica, d) Uma FF que poderia ser
ou seja, tem capacidade de indicada para este cliente é
liberar água para a formulação. uma solução adstringente,
b) O óleo mineral, também cuja principal característica é o
chamado de parafina uso de agentes suspensores.
sólida, é um emoliente. e) Para remover a oleosidade
c) O óleo mineral é um e sujidade da pele, a melhor
emoliente que tem como FF é o sabonete, devido aos
caraterística amaciar a pele. agentes quelantes presentes
d) O ácido cítrico é um corretivo nesse tipo de formulação.
de pH, ou seja, possui ação 4. Os cosméticos são formulações
de modificar o pH da pele. de uso tópico, podendo atuar na
e) BHT é um antioxidante epiderme ou em outras camadas
que confere consistência da pele. Um cosmético anti-
à formulação. idade, com efeito estimulante
3. Formas farmacêuticas (FF) são a sobre os fibroblastos, precisa
forma física de apresentação do chegar até a derme para ter
cosmético. O profissional de estética, eficácia, porém, muitos fatores
juntamente ao cliente pode escolher podem influenciar esse processo.
a FF que melhor se adequa ao local Com base nessa afirmação,
de aplicação e ao efeito desejado. marque a alternativa correta.
Um cliente de pele oleosa se diz a) Os ativos presentes nos
incomodado com uma formulação cosméticos devem ser absorvidos
em creme que vem usando, pois pela circulação sanguínea
acha gorduroso e pegajoso. Qual para chegarem na derme.
das alternativas a seguir é a mais b) A adição de promotores físicos
adequada quanto às características às formulações cosméticas
e indicações para este cliente? aumenta a permeação cutânea.
a) Uma pele oleosa exige menos c) Para atingir a derme, é preciso
gordura na formulação, portanto que os ativos atravessem a
Introdução às formulações cosméticas 21

camada córnea, que devido camada lipídica do estrato córneo.


à sua espessura e arquitetura Estratégias de procedimentos
facilita a permeação. estéticos, bem como a adição de
d) A permeação cutânea veículos em cosméticos podem
até a derme depende da aumentar a permeação de ativos. O
hidratação da pele, quanto uso de ______ ou _______ diminui
mais hidratada a pele estiver, a espessura da camada córnea, ao
menor será a permeação. passo que a adição de ________
e) Os ativos podem chegar à derme e ______ remove os lipídeos da
por mecanismos de permeação epiderme facilitando a permeação
cutânea: via transfolicular, cutânea de moléculas hidrossolúveis.
transepidermica ou transcelular. a) hidrofílicas, ácidos ou esfoliantes,
5. Marque a alternativa que álcool ou tensoativos.
apresenta as palavras capazes de b) lipofílicas, umectantes
completarem, ordenadamente, ou hidratantes, álcool
as lacunas no texto a seguir. ou tensoativos.
A pele constitui uma barreira natural c) hidrofílicas, álcool ou tensoativos,
para permeação de moléculas ácidos ou esfoliantes.
que podem ser classificadas como d) de baixo peso molecular,
permeáveis, semipermeáveis ou álcool ou tensoativos,
impermeáveis. No entanto, de ácidos ou esfoliantes.
uma maneira geral, moléculas e) de alto peso molecular,
_________ apresentam menor emolientes ou umectantes,
velocidade de permeação através da ácidos ou esfoliantes.

ALVES, N. C. Penetração de ativos na pele: revisão bibliográfica. Amazônia: Science &


Health, Gurupi, v. 3, n. 4, p. 36-43, out. dez. 2015. Disponível em: <http://ojs.unirg.edu.
br/index.php/2/article/view/852>. Acesso em: 10 out. 2018.
BATISTUZZO, J. A. O.; ITAYA, M; ETO, Y. Formulário médico farmacêutico. 5. ed. São Paulo:
Atheneu, 2015. 812 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 7, de 10 de fevereiro de 2015. Dispõe sobre os requisitos
técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes
e dá outras providências. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasília, 2015. 21 p.
Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2867685/RDC_07_2015_.
pdf/>. Acesso em: 10 out. 2018.
22 Introdução às formulações cosméticas

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Vocabulário


controlado de formas farmacêuticas, vias de administração e embalagens de medicamen-
tos. Brasília: Anvisa, 2011. 56 p. Disponível em: <http://dradnet.com/medicamentos-
-psiquiatria/vocabulario_controlado_medicamentos_Anvisa.pdf>. Acesso em: 10
out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário
nacional da farmacopeia brasileira. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012a. 224 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259372/FNFB+2_Revisao_2_COFAR_se-
tembro_2012_atual.pdf/20eb2969-57a9-46e2-8c3b-6d79dccf0741>. Acesso em: 10
out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para avaliação
de segurança de produtos cosméticos. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012b. 71 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/106351/107910/Guia+para+Avalia%C3%A7%
C3%A3o+de+Seguran%C3%A7a+de+Produtos+Cosm%C3%A9ticos/ab0c660d-3a8c-
4698-853a-096501c1dc7c>. Acesso em: 10 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 44, de 9 de agosto de 2012. Dispõe sobre Boas Práticas
Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da
comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias
e drogarias e dá outras providências. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasília,
2012c. 10 p. Disponível em: <https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.
php/legislacao?task=callelement&format=raw&item_id=522&element=f85c494b-
2b32-4109-b8c1-083cca2b7db6&method=download&args[0]=45930b7bf8285ea79a
2ecdb76ce0e136>. Acesso em: 10 out. 2018.
CAMPOS, P. M. B. G. M.; MERCÚRIO, D. G. Farmacologia e a pele - Pharmacology and the
skin. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, v. 66, ed. especial Dermatologia, p. 15-21,
dez. 2009. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_ma-
teria=4149>. Acesso em: 10 out. 2018.
CONHEÇA a pele. Sociedade Brasileira de Dermatologia, Rio de Janeiro, 10 jul. 2017. Dis-
ponível em: <http://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/cuidados/conheca-a-pele/>.
Acesso em: 10 out. 2018.
CORRÊA, M. A. Cosmetologia: ciência e técnica. São Paulo: Medfarma, 2012. 492 p.
DALTIN, D. Tensoativos: química, propriedades e aplicações. São Paulo: Blucher, 2011.
330 p.
ESTÉTICA EXPERTS. [s.l.], 2018. Disponível em: <https://www.esteticaexperts.com.br/>.
Acesso em: 10 out. 2018.
FERREIRA, A. O. Guia prático da farmácia magistral. 4. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2011. 2 v. 1438 p.
FURLANI, D.; SILVA, N.; NETZ, D. J. A. Uso cosmético de patches: artigo de revisão. 2012.
22 f. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em estética facial e corporal)–
Introdução às formulações cosméticas 23

Unidade Ilha, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2012. Disponível em: <http://
siaibib01.univali.br/pdf/Daniela%20Furlani%20e%20Nayara%20da%20Silva.pdf>.
Acesso em: 10 out. 2018.
GOMES, R. K.; DAMAZIO, M. G. Cosmetologia: descomplicando os princípios ativos. 4.
ed. São Paulo: LMP, 2013. 478 p.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
1056 p.
NUTRICOSMÉTICOS que auxiliam na estética. Diário do Nordeste, Fortaleza, 7 jul. 2018.
Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/verso/nutri-
cosmeticos-que-auxiliam-na-estetica-1.1965211>. Acesso em: 10 out. 2018.
RAFEIRO, D. F. B. Novas estratégias de promoção da permeação transdérmica. 2013. 44
f. Dissertação (Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas) – Escola de Ciências
e Tecnologias da Saúde da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias,
Lisboa, 2013. Disponível em: <http://recil.grupolusofona.pt/xmlui/handle/10437/4376>.
Acesso em: 10 out. 2018.
RIBEIRO, C. Cosmetologia aplicada a dermoestética. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2010. 460 p.
RIVITTI, E. A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2014. 748 p.
ROWE, R. C.; SHESKEY, P. J.; QUINN; M. E. (Ed.). Handbook of pharmaceutical excipients.
London: Pharmaceutical Press; Chicago; Washington: American Pharmacists Associa-
tion, 2009. 888 p.
SILVA, V. R. L. Desenvolvimento de formulações cosméticas hidratantes e avaliação da
eficácia por métodos biofísicos. 2009. 182 f. Tese (Doutorado em Produção e Controle
Farmacêuticos) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9139/tde-29032010-145411/pt-br.php>. Acesso
em: 10 out. 2018.
SOARES, M. et al. Permeação cutânea: desafios e oportunidades. Revista de Ciências
Farmacêuticas Básica e Aplicada, Araraquara, v. 36, n. 3, p. 337-348, 2015. Disponível
em: <http://seer.fcfar.unesp.br/rcfba/index.php/rcfba/article/view/332>. Acesso em:
10 out. 2018.
SOUTOR, C.; HORDINSKY, M. Dermatologia clínica: Lange. Porto Alegre: AMGH; Artmed,
2015. 376 p.
VILLANOVA, J. C. O.; ORÉFICE, R. L.; CUNHA, A. S. Aplicações farmacêuticas de polí-
meros. Polímeros: Ciência e Tecnologia, São Carlos, v. 20, n. 1, p. 51-64, 2010. Disponível
em: <http://www.revistapolimeros.org.br/doi/10.1590/S0104-14282010005000009>.
Acesso em: 10 out. 2018.
Legislação brasileira de
produtos cosméticos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a legislação sanitária vigente para registro e notificação


de cosméticos.
„„ Reconhecer os dizeres obrigatórios de rotulagem de cosméticos.
„„ Relacionar o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cos-
méticos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária aos dizeres de
rotulagem.

Introdução
Neste capítulo, você estudará a legislação vigente sobre registro e no-
tificação de cosméticos, como estes se classificam para fins de registro,
quais são eles e por que alguns precisam de registro e outros apenas de
notificação. Você aprenderá também qual legislação trata da sua rotulagem,
quais são os dizeres obrigatórios gerais e os produtos que necessitam de
dizeres mais específicos, bem como a importância do Guia para Avaliação
de Segurança de Produtos Cosméticos da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e sua relação com os dizeres de rotulagem.

Registro e notificação de cosméticos


No site da Anvisa, existe uma série de informações necessárias à regularização
tanto de empresas como dos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfu-
mes, como informações sobre autorizações e licenças de funcionamento, Boas
Práticas de Fabricação e Certificado de Boas Práticas de Fabricação, registro
e comunicação prévia de fabricação, certificados, entre outros.
O registro de um produto se trata do ato legal que reconhece sua adequação
à legislação sanitária, e sua concessão é dada pela Anvisa. Para que ele seja
2 Legislação brasileira de produtos cosméticos

registrado, deve-se atender aos critérios estabelecidos em leis e à regulamen-


tação específica da agência. Tais critérios visam minimizar eventuais riscos
associados ao produto.
Cabe à empresa fabricante ou à importadora a responsabilidade pela quali-
dade e segurança dos produtos registrados junto a Anvisa. Para isso, o detentor
do produto deve possuir dados comprobatórios que atestem sua qualidade,
segurança e eficácia, a idoneidade dos dizeres de rotulagem, bem como os
requisitos técnicos estabelecidos na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)
nº. 07, de 2015, os quais deverão ser apresentados aos órgãos de vigilância
sanitária, sempre que solicitados ou durante as inspeções. Deve ainda garantir
que o produto não constitui risco à saúde quando utilizado em conformidade
com as instruções de uso e demais medidas constantes da embalagem de venda
durante o período de validade. A empresa deverá, então, anexar à transação
o Termo de Responsabilidade, disponível na RDC, devidamente assinado
pelo responsável técnico e representante legal da empresa (BRASIL, 2015a).
Os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal,
cosméticos e perfumes estão descritos na RDC nº. 07, de 2015. De acordo
com essa normativa:

Produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são preparações constituí­


das por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do
corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos,
dentes, membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou
principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores
corporais ou protegê-los ou mantê-los em bom estado (BRASIL, 2015a, p. 6).

A classificação para fins de registro ou notificação identifica os produtos


de higiene pessoal, cosméticos, perfumes e os infantis em dois graus: 1 e 2.
Seus critérios foram definidos em função da probabilidade de ocorrência de
efeitos não desejados devido ao seu uso inadequado, sua formulação, finalidade
de uso, áreas do corpo a que se destinam e cuidados a serem observados ao
utilizá-los.
Os produtos Grau 1 “[...] se caracterizam por possuírem propriedades bási-
cas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não
requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições
de uso, devido às características intrínsecas do produto” (BRASIL, 2015a, p. 7).
Portanto, esses cosméticos não podem ter indicações específicas, como ação
anticaspa, antiqueda, antiperspirante, antiacne, anticelulite, antirrugas, etc.
Já os produtos Grau 2 “[...] possuem indicações específicas, cujas caracterís-
ticas exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações
Legislação brasileira de produtos cosméticos 3

e cuidados, modo e restrições de uso” (BRASIL, 2015a, p. 7), apenas eles estão
sujeitos ao procedimento de registro. Você pode ver alguns desses produtos
a seguir:

ANEXO VIII
Produtos Grau 2 sujeitos a Registro
1. Bronzeador.
2. Protetor solar.
3. Protetor solar infantil.
4. Gel antisséptico para as mãos.
5. Produto para alisar os cabelos.
6. Produto para alisar e tingir os cabelos.
7. Repelente de insetos.
8. Repelente de insetos infantil.
(BRASIL, 2015a, p. 20–21).

Os demais produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são isentos


de registro e estão sujeitos ao procedimento de comunicação prévia a Anvisa,
que é o procedimento administrativo a ser aplicado para informar a intenção
de comercialização de um produto isento de registro por meio de notificação
(BRASIL, 2015a).

As legislações podem sofrer mudanças ao longo do tempo, como alterações, revisões


ou serem revogadas. Por exemplo, a RDC nº. 07, de 2015, já sofreu uma modificação
pela RDC nº. 237, de 2018 (BRASIL, 2018).
Para manter-se atualizado, consulte sempre o portal da Anvisa, observando o status
da norma.

Rotulagem de cosméticos
A rotulagem tem como objetivo estabelecer as informações indispensáveis
que devem figurar nos rótulos dos produtos de higiene pessoal, cosméticos
e perfumes, concernentes a sua utilização, assim como toda a indicação ne-
cessária referente a eles. Ela também não deve conter indicações e menções
4 Legislação brasileira de produtos cosméticos

terapêuticas, nem denominações e indicações que induzam a erro, engano


ou confusão quanto à sua procedência, origem, composição, finalidade ou
segurança (BRASIL, 2015a).
Antes de você compreender quais são os dizeres obrigatórios exigidos pela
Anvisa para a rotulagem dos cosméticos, é preciso entender alguns conceitos
descritos na RDC nº. 07, de 2015, Anexo V (BRASIL, 2012a; 2015a, p. 16–17):

1. Embalagem Primária: envoltório ou recipiente que se encontra em contato


direto com os produtos. Considera-se material de embalagem primária: ampola,
bisnaga, envelope, estojo, flaconete, frasco de vidro ou de plástico, frasco-
-ampola, cartucho, lata, pote, saco de papel e outros. Não deve haver qualquer
interação entre o material de embalagem primária e o seu conteúdo capaz de
alterar a concentração, a qualidade ou a pureza do material acondicionado.
2. Embalagem Secundária: é a embalagem destinada a conter a embalagem
primária ou as embalagens primárias. É a que possibilita total proteção do
material de acondicionamento nas condições usuais de transporte, armazena-
gem e distribuição. Considera-se embalagem secundária: caixas de papelão,
cartuchos de cartolina, madeira ou material plástico ou estojo de cartolina,
dentre outros.
3. Rótulo: identificação impressa ou litografada, bem como dizeres pintados
ou gravados, decalco sob pressão ou outros, aplicados diretamente sobre
recipientes, embalagens, invólucros, envoltórios ou qualquer outro protetor
de embalagens.
4. Folheto de Instruções: texto impresso que acompanha o produto, contendo
informações complementares.
5. Nome/Grupo/Tipo: designação do produto para distingui-lo de outros, ainda
que da mesma empresa ou fabricante, da mesma espécie, qualidade ou natureza.
6. Marca: elemento que identifica um ou vários produtos da mesma empresa
ou fabricante e que os distingue de produtos de outras empresas ou fabricantes,
segundo a legislação de propriedade industrial.
7. Origem: lugar de produção ou industrialização do produto.
8. Lote ou Partida: Quantidade de um produto em um ciclo de fabricação,
devidamente identificado, cuja principal característica é a homogeneidade.
9. Prazo de Validade: tempo em que o produto mantém suas propriedades,
quando conservado na embalagem original e sem avarias, em condições
adequadas de armazenamento e utilização.
10. Titular de registro: pessoa jurídica ou denominação equivalente definida
no ordenamento jurídico nacional que possui registro de Produtos de Higiene
Pessoal, Cosméticos e Perfumes.
11. Elaborador/Fabricante: empresa que possui as instalações necessárias para a
fabricação/elaboração de Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes.
12. Importador: pessoa jurídica ou denominação equivalente definida no
ordenamento jurídico nacional responsável pela introdução em um país, de
Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes estrangeiros.
13. Número de Registro do Produto: corresponde ao número de identificação de
empresa e o número de Resolução ou Autorização de comercialização do produto.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 5

14. Ingredientes/Composição: descrição qualitativa dos componentes da


fórmula através de sua designação genérica, utilizando a codificação de
substâncias estabelecida pela Nomenclatura Internacional de Ingredientes
Cosméticos (INCI).
Advertências e Restrições de Uso: são as estabelecidas nas listas de substân-
cias quando exigem a obrigatoriedade de informar a presença das mesmas
no rótulo e aquelas estabelecidas no Anexo V desta Resolução “Regulamen-
to Técnico sobre Rotulagem Específica para Produtos de Higiene Pessoal,
Cosméticos e Perfumes”.

O Anexo V da RDC nº. 07, de 2015, dispõe sobre o regulamento técnico


sobre rotulagem obrigatória geral para produtos de higiene pessoal, cosméticos
e perfumes, o qual tem como objetivo estabelecer as informações indispensáveis
que devem figurar nos rótulos desses produtos, concernentes a sua utilização,
assim como toda a indicação necessária referente a eles.

Quadro 1. Rotulagem obrigatória

Rotulagem Obrigatória Geral

REF. ITEM EMBALAGEM

1 Nome do produto e grupo/tipo a que pertence Primária e Secundária


no caso de não estar implícito no nome.
2 Marca Primária e Secundária
3 Número de registro do produto Secundária
4 Lote ou Partida Primária
5 Prazo de Validade Secundária
6 Conteúdo Secundária
7 País de origem Secundária
8 Fabricante/Importador/Titular Secundária
9 Domicílio do Fabricante/Importador/Titular Secundária
10 Modo de Uso (se for o caso) Primária ou Secundária
11 Advertências e Restrições Primária e Secundária
de uso (se for o caso)
12 Rotulagem Específica Primária e Secundária
13 Ingredientes/Composição Secundária

Fonte: Adaptado de Brasil (2015a, p. 17–18).


6 Legislação brasileira de produtos cosméticos

Algumas observações devem ser consideradas quanto à rotulagem obri-


gatória geral:

„„ quando não existir embalagem secundária, toda a informação requerida


deve figurar na embalagem primária;
„„ o modo de uso poderá figurar em folheto anexo por meio de indicação
na embalagem primária, por exemplo, “Ver folheto anexo”;
„„ quando a embalagem for pequena e não permitir a inclusão de adver-
tências e restrições de uso, estas poderão figurar em folheto anexo,
por meio de indicação na embalagem primária — “Ver folheto anexo”.

Já o Anexo VI da RDC nº. 07, de 2015 (BRASIL, 2015), trata do regula-


mento técnico sobre rotulagem específica para produtos de higiene pessoal,
cosméticos e perfumes.

„„ Aerossóis:
■■ inflamável, não pulverizar perto do fogo;
■■ não perfurar, nem incinerar;
■■ não expor ao sol nem a temperaturas superiores a 50º C;
■■ proteger os olhos durante a aplicação;
■■ manter fora do alcance de crianças.
„„ Neutralizantes, produtos para ondular e alisar os cabelos:
■■ não aplicar se o couro cabeludo estiver irritado ou lesionado;
■■ manter fora do alcance das crianças.
„„ Agentes clareadores de cabelos e tinturas capilares:
■■ pode causar reação alérgica. Fazer a Prova de Toque;
■■ não usar nos cílios e sobrancelhas;
■■ não aplicar se o couro cabeludo estiver irritado ou lesionado;
■■ em caso de contato com os olhos, lavar com água em abundância;
■■ manter fora do alcance das crianças.
„„ Tinturas capilares com acetato de chumbo:
■■ não aplicar se o couro cabeludo estiver irritado ou lesionado;
■■ o uso inadequado pode provocar intoxicação por absorção de chumbo;
■■ aplicar somente no couro cabeludo (cabelos);
■■ depois do uso, lavar as mãos com água em abundância para evitar
a ingestão acidental;
■■ manter fora do alcance das crianças.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 7

„„ Depilatórios e epilatórios:
■■ não aplicar em áreas irritadas ou lesionadas;
■■ não deixar aplicado por tempo superior ao indicado nas instruções
de uso;
■■ não usar com a finalidade de se barbear;
■■ em caso de contato com os olhos, lavar com água em abundância;
■■ manter fora do alcance das crianças.
„„ Dentifrícios e enxaguatórios bucais com flúor:
■■ indicar o nome do composto de flúor utilizado e sua concentração
em ppm (parte por milhão);
■■ indicar o modo de uso, quando necessário;
■■ não usar em crianças menores de 06 anos. (somente para enxagua-
tórios bucais).
„„ Produtos antiperspirantes/antitranspirantes:
■■ usar somente nas áreas indicadas;
■■ não usar se a pele estiver irritada ou lesionada;
■■ caso ocorra irritação e/ou prurido no local da aplicação, suspender
o uso imediatamente.
„„ Tônicos capilares:
■■ em caso de eventual irritação do couro cabeludo, suspender o uso.

Além das advertências na rotulagem específica, deve-se acrescentar, obri-


gatoriamente, nas embalagens primária e secundária, os dizeres específicos
apresentados a seguir (BRASIL, 2015a, p. 4):

I- AEROSSÓIS: “Evite a inalação deste produto”.


II- NEUTRALIZANTES, PRODUTOS PARA ONDULAR E ALISAR OS
CABELOS: “Este preparado somente deve ser usado para o fim a que se
destina, sendo PERIGOSO para qualquer outro uso”.
III- AGENTES CLAREADORES DE CABELOS E TINTURAS CAPI-
LARES: Os rótulos das tinturas e dos agentes clareadores de cabelos que
contenham substâncias capazes de produzir intoxicações agudas ou crônicas
deverão conter as advertências: “CUIDADO. Contém substâncias passíveis
de causar irritação na pele de determinadas pessoas. Antes de usar, faça a
prova de toque”.
IV- BRONZEADORES SIMULATÓRIOS: Os rótulos dos produtos destinados
a simular o bronzeamento da pele deverão conter a advertência “Atenção: não
protege contra a ação solar”.
8 Legislação brasileira de produtos cosméticos

Veja na Figura 1 um exemplo de rotulagem obrigatória geral na embalagem primária, a


qual fica em contato direto com o produto. Quando não existir a embalagem secundária,
toda a informação requerida deve figurar na primária.

Figura 1. Exemplo de rotulagem obrigatória geral na embalagem primária.


Fonte: Santos (2016, documento on-line).

Os cosméticos para crianças são cada vez mais populares, e o Brasil é um dos maiores
mercados mundiais desses produtos, que incluem maquiagens, esmaltes, sabonetes,
batons, entre outros. As crianças devem utilizar apenas produtos infantis, pois eles são
elaborados respeitando as necessidades específicas dessa faixa etária.
A RDC nº. 15, de 24 de abril de 2015, e suas atualizações dispõem sobre os requisitos
técnicos para a rotulagem de produtos infantis, bem como para sua formulação. Para
saber mais detalhes, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/m3WM92
Legislação brasileira de produtos cosméticos 9

Guia para Avaliação de Segurança de Produtos


Cosméticos
A empresa fabricante do cosmético é responsável pela segurança desse produto,
conforme assegurado pelo Termo de Responsabilidade disponível no Anexo
VII da RDC nº. 07, de 2015 (BRASIL 2015a) que deve ser apresentado no ato
da sua regularização e no qual ela declara possuir dados comprobatórios que
atestam sua eficácia e segurança. A avaliação da segurança deve preceder a
colocação do produto cosmético no mercado (BRASIL, 2012b).
Com o intuito de não limitar as empresas de apresentarem alternativas
de avaliações, a Anvisa elaborou um Guia para Avaliação de Segurança de
Produtos Cosméticos, com sugestões de critérios para avaliar a segurança dos
produtos e fornecer os subsídios para esse fim.
Como já observado, na rotulagem, alguns dizeres obrigatórios em pro-
dutos específicos são relacionados a advertências e restrições de uso, bem
como elaborados de acordo com os resultados apresentados por eles após os
testes necessários para avaliar sua segurança. Essa avaliação está baseada
na avaliação do risco e deve considerar os parâmetros toxicológicos dos
ingredientes com base em dados atualizados, as condições de uso do produto
cosmético e o perfil do consumidor alvo (ROGIERS; PAUWELS, 2008 apud
BRASIL, 2012b).
Quanto à avaliação dos riscos, você deve compreender os seguintes con-
ceitos: (BRASIL, 2012b, p. 11):

Perigo: propriedade intrínseca de um ingrediente. É o potencial de causar um


dano, sem relação com a dosagem ou a exposição.
Dano: é a lesão ou reação causada pelo ingrediente ou associação de ingre-
dientes de um produto.
Risco: é a probabilidade de ocorrência do dano, em função do nível de ex-
posição.

Segundo o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cosméticos


(BRASIL, 2012b), o risco cosmético se trata da probabilidade de ocorrência
de uma das reações apresentadas a seguir (SAMPAIO; RIVITTI, 2007; CA-
SARETT, KLAASSEN, DOULL, 2008):

Irritação: processo inflamatório que ocorre na área de contato com o produto,


podendo ocorrer após a primeira aplicação (irritação primária) ou com a con-
tinuidade do uso (irritação acumulada). É determinada por um dano tecidual
agudo ou crônico de intensidade variada. É dependente da concentração dos
10 Legislação brasileira de produtos cosméticos

ingredientes no produto final, da formulação como um todo, quantidade


aplicada, frequência e modo de aplicação.
Sensibilização: processo inflamatório que envolve mecanismo imunológico,
do tipo celular, com tempo de contato variável, de alguns dias ou mesmo
alguns anos, até que o organismo reconheça um ou mais ingredientes como
alergênicos. Em geral, é uma resposta que não ocorre nas primeiras aplicações,
a não ser que o indivíduo já se encontre sensibilizado a um dos ingredientes
do produto, podendo aparecer em outra área, diferente da área de aplicação.
O processo alérgico pode decorrer tanto em função dos ingredientes isola-
dos, quanto da interação entre eles no produto, formando novo componente.
As respostas de irritação e sensibilização do ponto de vista clínico são seme-
lhantes, caracterizadas pela ocorrência de um ou mais dos seguintes sinais
clínicos: eritema, edema, pápula e pústula. Diferenciam-se pelo fato da irrita-
ção ser dose dependente, enquanto que a sensibilização não: o indivíduo uma
vez sensibilizado desenvolverá a reação a toda exposição ao(s) ingrediente(s).
Sensações de desconforto: são reações comuns a cosméticos, caracterizadas
por sintomas subclínicos que podem sinalizar uma irritação: ardência, prurido/
coceira, dor, pinicação, etc.
Efeito sistêmico: resulta da passagem de quaisquer ingredientes do produto,
para a corrente circulatória, independentemente da via de aplicação. O risco
sistêmico é avaliado a partir dos dados relativos aos ingredientes.

A maioria das informações necessárias na avaliação do risco potencial de


um produto cosmético resulta do conhecimento dos ingredientes que compõem
sua fórmula, porém, a associação entre os insumos pode influenciar nesse risco
e, por conta disso, a avaliação de segurança pressupõe uma abordagem caso a
caso, observando-se, preliminarmente, todas as informações disponíveis que
contribuam para o conhecimento do risco potencial, em condições normais
ou razoavelmente previsíveis de uso. Embora os cosméticos sejam aplicados
topicamente, um ou mais de seus ingredientes podem permear a barreira
cutânea; já outros, devido à sua apresentação e ao modo de uso, podem ser
até inalados, por exemplo, o spray para cabelos (BRASIL, 2012b).
De acordo com o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cos-
méticos (BRASIL, 2012b), caso não haja risco previsível decorrente do uso,
avalia-se a fórmula per si para determinar a aceitabilidade dos ingredientes
nas condições de utilização do produto acabado. Por razões éticas, quando o
risco previsível não pode ser suficientemente conhecido, recorre-se, segundo
o nível de conhecimento, aos métodos experimentais, in vitro ou in vivo
(BRASIL, 2012b).
As metodologias utilizadas para demonstrar a segurança dos produtos
cosméticos propostas pelo Guia para Avaliação de Segurança são divididas
em dois grupos: os ensaios pré-clínicos (in vitro e em animais) e os clínicos.
A seguir, você pode ver a relação dos testes recomendados em cada grupo.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 11

Ensaios pré-clínicos
In vitro

„„ Avaliação do potencial de irritação ocular: membrana cório-alantoide;


permeabilidade e opacidade de córnea bovina/olho isolado de galinha
(BCOP/ICE); red blood cell (RBC); citotoxicidade pelo método de
vermelho neutro (NRU) e citotoxicidade pelo método MTT.
„„ Avaliação do potencial de irritação cutânea: epiderme reconstituída.
„„ Avaliação do potencial fototóxico: teste de fototoxicidade.
„„ Avaliação da permeação e retenção cutâneas.

In vivo

„„ Toxicidade aguda oral: método de doses fixas, método up and down,


método de classes.
„„ Irritação/corrosividade ocular.
„„ Irritação/corrosividade cutânea.
„„ Avaliação da irritação primária.
„„ Avaliação da irritação acumulada.
„„ Sensibilização dérmica.
„„ Teste de irritação da mucosa oral.
„„ Teste de irritação da mucosa vaginal.
„„ Teste de irritação da mucosa peniana.
„„ Teste de comedogenicidade.

Ensaios clínicos
Produtos cosméticos podem necessitar de estudos clínicos em humanos para
que as empresas ofereçam aos consumidores o máximo de segurança, com o
menor risco, garantindo suas melhores condições de uso. A partir das infor-
mações pré-clínicas, deve ser confirmada a evidência de segurança com o uso
por humanos. Essas informações também são importantes para estabelecer
advertências de rotulagem e orientações para o serviço de atendimento ao
consumidor.

„„ Estudos de compatibilidade (condições maximizadas): avaliação da


irritação cutânea primária e acumulada; avaliação da comedogeni-
cidade em patch; avaliação da sensibilização dérmica; avaliação de
12 Legislação brasileira de produtos cosméticos

fotoirritação; avaliação de fotossensibilização. Elas devem anteceder


os estudos de aceitabilidade.
„„ Estudos de aceitabilidade (condições reais de uso): avaliação de acne-
genicidade e comedogenicidade em uso; avaliação de produto para pele
sensível; verificação da aceitabilidade ocular.

Rótulos com atributos de segurança


Geralmente, os rótulos dos cosméticos apresentam descrições como der-
matologicamente testado, não comedogênico, hipoalergênico, entre outras
especificações. Além desses dizeres, considerados atributos de segurança,
é crescente o número de produtos cujos rótulos têm indicação para públicos
específicos, por exemplo, pessoas alérgicas, com pele sensível, gestante e
público infantil.
O Guia da Anvisa, por meio do Anexo IV, descreve os atributos de
segurança e os ensaios recomendados em humanos para estes produtos.
Por exemplo, um cosmético que apresenta no rótulo “dermatologicamente
testado” significa que ele foi avaliado em seres humanos sob controle do
dermatologista. De acordo com o Guia, os ensaios recomendados são estudos
de compatibilidade cutânea conforme o grupo de produto e/ou aceitabilidade
cutânea, em condições normais de uso com avaliação clínica, no mínimo,
inicial e final. Já o ensaio de irritação dérmica primária não pode ser usado
isoladamente para a comprovação do atributo “dermatologicamente testado”
(BRASIL, 2012b).

Acesse a RDC nº. 07, de 2015, e suas atualizações no link a seguir.

https://goo.gl/uEyVMv
Legislação brasileira de produtos cosméticos 13

1. Aspectos legais relacionados a) Um gel esfoliante facial é


à saúde da população, como considerado Grau 2, pois
medicamentos e cosméticos, necessita de uma indicação
podem ser obtidos por meio do site específica quanto ao seu uso.
da Agência Nacional de Vigilância b) Um desodorante antitranspirante
Sanitária (Anvisa), no link legislação, é classificado como Grau 1,
e é importante sempre observar a pois apresenta propriedades
vigência da norma, se houve alguma básicas ou elementares,
alteração ou se foi revogada. Com cuja comprovação não é
base nessa informação, qual das inicialmente necessária.
alternativas a seguir está correta? c) Os produtos classificados
a) Atualmente, os produtos com Grau 1 e Grau 2
sujeitos a registro podem necessitam de registro.
ser encontrados na d) Apenas os produtos classificados
RDC nº. 07, de 2015. como Grau 2 estão sujeitos
b) A RDC nº. 237, de 2018, altera ao procedimento de registro,
os dizeres obrigatórios sobre os demais estão sujeitos ao
a rotulagem dos cosméticos. procedimento de comunicação
c) A RDC nº. 237, de 2015, dispõe prévia a Anvisa, que é o
sobre a regularização dos processo de notificação.
cosméticos e sua atualização, e) O protetor solar e os produtos
já a RDC nº. 07, de 2018, altera o para alisar cabelo são
Anexo VIII que lista os produtos exemplos de cosméticos que
Grau 2 sujeitos a registro. necessitam de notificação.
d) Os dizeres obrigatórios para 3. A RDC nº. 07, de 2015, estabelece
rotulagem encontram-se os requisitos para as rotulagens
na RDC nº. 237, de 2018. obrigatórias geral e específica.
e) A RDC nº. 07, de 2015, dispõe Por exemplo, você comprou dois
sobre a regularização dos demaquilantes, um deles vem
cosméticos e sua atualização, já embalado em uma caixinha, e o
a RDC nº. 237, de 2018, altera o outro não, quanto à rotulagem
Anexo VIII que lista os produtos desses produtos, você poderá
Grau 2 sujeitos a registro. observar os seguintes dizeres:
2. Para registro e notificação, os a) o nome do produto, a marca
cosméticos são classificados e o modo de uso poderão ser
em graus 1 e 2. Pesquise na lidos tanto na caixinha como
legislação vigente quais dos no frasco do demaquilante.
produtos a seguir são Grau 1 ou b) como a caixa é a embalagem
Grau 2, quais deles necessitam primária, você poderá ler
de registro ou notificação e informações como conteúdo,
marque a alternativa correta. prazo de validade e fabricante.
14 Legislação brasileira de produtos cosméticos

c) o lote do produto deverá e) todos devem dizer “manter


estar escrito obrigatoriamente fora do alcance das crianças
na embalagem secundária, e fazer à prova de toque”.
no frasco que contém 5. O que é necessário para que a
o demaquilante. empresa comprove a segurança de
d) os dizeres obrigatórios para a um cosmético e que este apresente,
embalagem secundária não por exemplo, no rótulo o seguinte
precisarão estar escritos no frasco dizer “dermatologicamente testado”?
do demaquilante sem caixa. a) A comprovação da segurança
e) o nome do fabricante ou e suas indicações específicas
importador são considerados são realizadas por meio
dizeres específicos e não de testes pela Anvisa.
fazem parte da rotulagem b) A empresa é responsável pela
obrigatória geral. segurança do produto cosmético
4. Além da rotulagem obrigatória e deve apresentar a Anvisa um
geral, alguns produtos necessitam Termo de Responsabilidade,
de uma específica, com dizeres o qual se encontra no Guia
específicos sobre o uso e as para Avaliação de Segurança
advertências. Por exemplo, um de Produtos Cosméticos.
desodorante aerossol, uma tintura c) A empresa deve apresentar
capilar e um produto depilatório à Anvisa um Termo de
devem conter, respectivamente, Responsabilidade com dados
os seguintes dizeres específicos comprobatórios indicando
na sua rotulagem: que o produto foi avaliado
a) não expor ao sol nem a em seres humanos sob
temperaturas superiores a 50 ºC; controle do dermatologista.
não usar em crianças menores de d) O Guia para Avaliação de
6 anos; fazer à prova de toque. Segurança de Produtos
b) inflamável; fazer à prova de Cosméticos contém todos
toque; não deixar aplicado por os testes obrigatórios que a
tempo superior ao indicado empresa fabricante deve realizar.
nas instruções de uso. e) O Guia para Avaliação de
c) não perfurar, nem incinerar; Segurança de Produtos
pode causar reação alérgica; não Cosméticos, elaborado pela
usar nos cílios e sobrancelhas. Anvisa, apresenta apenas
d) evite a inalação deste produto; sugestões de ensaios
proteger os olhos durante clínicos para avaliação in
a aplicação; não usar com a vivo da segurança dos
finalidade de se barbear. produtos cosméticos.
Legislação brasileira de produtos cosméticos 15

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário


nacional da farmacopeia brasileira. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012a. 224 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259372/FNFB+2_Revisao_2_COFAR_se-
tembro_2012_atual.pdf/20eb2969-57a9-46e2-8c3b-6d79dccf0741>. Acesso em: 13
out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para avaliação
de segurança de produtos cosméticos. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012b. 71 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/106351/107910/Guia+para+Avalia%C3%A7%
C3%A3o+de+Seguran%C3%A7a+de+Produtos+Cosm%C3%A9ticos/ab0c660d-3a8c-
4698-853a-096501c1dc7c>. Acesso em: 13 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 07, de 10 de fevereiro de 2015. Dispõe sobre os requisitos
técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes
e dá outras providências. Anvisa, Brasília, 2015. Disponível em: <http://portal.anvisa.
gov.br/documents/10181/2867685/RDC_07_2015_.pdf>. Acesso em: 13 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 15, de 24 de abril de 2015. Dispõe sobre os requisitos
técnicos para a concessão de registro de produtos de higiene pessoal, cosméticos e
perfumes infantis e dá outras providências. Anvisa, Brasília, 2015. Disponível em: <http://
portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2798795/RDC_15_2015_COMP.pdf/7be44226-
2698-4ce6-92be-5e665bbd947b>. Acesso em: 13 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC nº 237, de 16 de julho de 2018. Altera a Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015, e a Resolução da Diretoria Colegiada
– RDC nº 15, de 24 de abril de 2015. Anvisa, Brasília, 2018. Disponível em: <http://portal.
anvisa.gov.br/documents/10181/4881763/RDC_237_2018_.pdf/50b54103-1b51-41c5-
8c92-af50f4444038>. Acesso em: 13 out. 2018.
CASARETT, L. J.; DOULL, J.; KLAASSEN, C. D. Casarett and Doull’s toxicology: the basic
science of poisons. 7. ed. New York: McGraw-Hill, 2008. 1310 p.
SAMPAIO, S. A. P.; RIVITTI, E.A. Dermatologia. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2007. 1585 p.
SANTOS, C. O que a Anvisa diz sobre a qualidade dos cosméticos infantis. Cosmethica!:
a beleza por trás do rótulo, [s.l.], 12 out. 2016. Disponível em: <http://www.cosmethica.
com.br/qualidade-dos-cosmeticos-infantis/>. Acesso em: 13 out. 2018.
Matérias-primas utilizadas
em formulações cosméticas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os componentes primários, como emolientes, umectantes,


tensoativos, filtros solares e espessantes.
„„ Relacionar todos os componentes primários identificados à interfe-
rência na fisiologia cutânea.
„„ Reconhecer os riscos pelo uso de cosméticos associados aos com-
ponentes secundários, como conservantes, corantes, fragrâncias e
antioxidantes.

Introdução
Neste capítulo, você estudará algumas das matérias-primas mais utilizadas
no desenvolvimento de um cosmético, bem como as características e
funções de umectantes, emolientes, espessantes e filtros solares nesse
produto.
Você compreenderá também a importância desses componentes
na fisiologia cutânea, como eles agem na pele; os componentes secun-
dários da formulação, por exemplo, conservantes, corantes, fragrâncias
e antioxidantes, e qual a sua relação com algumas reações cutâneas.

Componentes primários da formulação


cosmética
Os umectantes e emolientes são matérias-primas muito utilizadas em asso-
ciação para promover hidratação e maciez à pele.
Os umectantes pertencem a um grupo de compostos hidrofílicos e, devido
à sua propriedade higroscópica de absorção de água, são capazes de retê-la
na formulação evitando seu ressecamento. Muitos deles também apresentam
2 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

propriedade de emoliência. Um dos seus principais representantes é a glicerina,


frequentemente utilizada pelo seu baixo custo e pela alta eficácia (CORRÊA,
2012; RIBEIRO, 2010).
Já os emolientes, além dos benefícios para a pele, melhoram as caracte-
rísticas da formulação cosmética, bem como a espalhabilidade, sensação ao
toque e viscosidade, podendo promover maior duração do efeito e poder de
propagação. Eles são representados pelos óleos, que podem ser quimicamente
diferentes, alguns mais hidrofílicos, leves e não pegajosos; e outros mais
lipofílicos e, portanto, mais oleosos (LIPIZENČIĆ; PAŠTAR; MARINOVIĆ-
KULIŠIĆ, 2006).
Os espessantes, por sua vez, são excipientes utilizados para aumentar a
viscosidade do produto e melhorar sua estabilidade, podem ser chamados
também de agentes de viscosidade ou doadores de consistência. Usa-se alguns
deles, denominados de agentes suspensores, em muitas formulações para
reduzir a velocidade de sedimentação de partículas dispersas em um veículo
no qual não são solúveis. Alguns agentes geleificantes também apresentam a
propriedade de espessamento (FERREIRA, 2011).
Muitos compostos apresentam mais de uma propriedade, podendo ser
umectante e emoliente ao mesmo tempo ou emoliente e espessante, por exem-
plo. Já a predominância de uma propriedade sobre a outra é determinada pela
concentração usada para cada matéria-prima.
O Quadro 1 demonstra alguns exemplos de substâncias umectantes, emo-
lientes e espessantes.

Quadro 1. Substâncias umectantes, emolientes e espessantes

Substância Umectante Emoliente Espessante

Glycerin x

Propylene glycol x

Sorbitol x

Trehalose x

Lanolin x

Liquid paraffin (mineral oil) x

Paraffin x X
(Continua)
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 3

(Continuação)

Quadro 1. Substâncias umectantes, emolientes e espessantes

Substância Umectante Emoliente Espessante

Almond oil x

Cetostearyl alcohol x X

Carboxymethylcellulose (CMC) X

Ethylcellulose (HEC) X

Carbômeros (polycarbophil, X
etc.)

Xanthan gum X

Fonte: Rowe, Shesket e Fuinn (2009).

Os tensoativos constituem outro tipo de matéria-prima utilizada em diversas


formulações cosméticas e têm a capacidade de alterar a tensão superficial, permi-
tindo formulações mais estáveis e uniformes, devido à sua propriedade molecular
de ter afinidade com substâncias hidrossolúveis e lipossolúveis. Por isso, eles são
muito empregados no preparo de emulsões, que se tratam de formas farmacêuticas
caracterizadas por componentes oleosos e aquosos. Além disso, apresentam
características como detergência e formação de espuma, sendo matérias-primas
indispensáveis na formulação de sabonetes e xampus (FERREIRA, 2011).
Você deve se lembrar de que a polaridade é a principal característica a ser
considerada quando se escolhe um tensoativo para uma aplicação.
Os tensoativos aniônicos, ao se ionizarem em solução aquosa, fornecem
íons orgânicos carregados negativamente. Eles constituem sua maior classe e
a mais utilizada pela indústria em geral, bem como são os principais tensoati-
vos de sabões, sabonetes, xampus e detergentes. Por exemplo: sodium lauryl
sulfate, disodium laureth sulfossuccinate, docusate sodium, triethanolamine
(TEA) lauryl sulfate e ammonium lauryl sulfate.
Já os catiônicos, ao se ionizarem em solução aquosa, fornecem íons orgâ-
nicos carregados positivamente e são, em geral, utilizados na composição de
produtos como condicionadores, máscaras capilares e amaciantes de roupas.
Seus agentes têm propriedades antiestáticas, capacidade de adesão à superfície,
alinhamento de fibras têxteis e dos cabelos, tornando os fios e tecidos mais
macios. Constituem uma classe representada por poucos tensoativos. Por
exemplo: cetrimonium chlorid, cetylpyridinium chloride.
4 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

Os tensoativos não iônicos possuem grupos hidrofílicos sem carga ligados


à cadeia graxa, compatíveis com a maioria das matérias-primas, apresentam
baixa irritabilidade à pele e aos olhos, mas têm baixo poder de espuma e
detergência. Devido a essas propriedades, são muito usados em xampus e
sabonetes infantis. Por exemplo: cocamide diethanolamine (DEA), decyl
glucoside, lauryl glucoside.
Os tensoativos anfóteros, por sua vez, fornecem íons orgânicos carregados
positiva ou negativamente, dependendo do pH do meio, eles se comportam
como tensoativos aniônicos ou catiônicos em meio alcalino ou ácido respec-
tivamente. Por exemplo: cocamidopropyl betaine, sodium cocoamphoacetate
(DALTIN, 2011).
A definição clássica de protetor solar, segundo Pathak (1997), é um pro-
duto destinado a bloquear o sol e proteger ou abrigar células viáveis da pele
contra efeitos potencialmente danosos da radiação ultravioleta (UV), como
queimadura solar e câncer de pele. Já pelos conceitos atuais, fotoprotetores
tópicos, protetores ou filtros solares são substâncias de aplicação cutânea
em diferentes apresentações que contenham em sua formulação ingredien-
tes capazes de interferir na radiação solar, reduzindo seus efeitos deletérios
(SCHALKA; REIS, 2011).
Essas substâncias podem ser classificadas quanto à categoria química em
filtros inorgânicos e orgânicos; à sua solubilidade em lipofílicos e hidrofílicos;
e ao espectro de absorção em filtros absorvedores ou refletores/refratores de
radiação UVA e/ou UVB (RIBEIRO, 2010; SCHALKA; REIS, 2011).
Os filtros inorgânicos são substâncias fotoestáveis que protegem a pele
da radiação UV por reflexão, dispersão e/ou absorção de UV, dependendo do
tamanho da partícula de cada agente fotoprotetor (KEDE; SABATOVICH,
2009). As partículas de óxidos metálicos presentes neles são capazes de, por
mecanismo óptico, refletir ou dispersar a radiação incidente (SCHALKA;
REIS, 2011). Eles formam uma barreira sobre a pele, refletindo, dispersando e
absorvendo a luz UV. Na reflexão e dispersão, a luz incidente nessas partículas
inorgânicas é redirecionada, refletindo de volta ou espalhando por vários
diferentes caminhos, trata-se de um processo responsável pela translucência
ou opacidade das partículas de filtros inorgânicos aplicadas sobre a pele
(RIBEIRO, 2010).
O índice de refração de um material é uma propriedade intrínseca, portanto,
fixa, e quanto maior ele for, maior será sua capacidade de refletir a luz. Por
isso, o dióxido de titânio (TiO2), na mesma concentração que o óxido de zinco
(ZnO), tem melhor efeito fotoprotetor e deixa a pele mais opaca, esbranquiçada
(RIBEIRO, 2010).
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 5

Os principais representantes dos filtros inorgânicos são o ZnO e o TiO2,


usados geralmente em associação com os orgânicos, e abrangem tanto a
proteção contra os raios UVB como UVA (SCHALKA; REIS, 2011; KEDE;
SABATOVICH, 2009) — tratam-se de semicondutores, capazes também de
absorver essa radiação. Quando estão sob a ação da luz UV, os elétrons dessas
moléculas são excitados, e a luz é convertida em outra forma de energia, como
o calor. O TiO2 tem a capacidade de absorver o UVB, mas não o UVA, que
pode ser refletido dependendo do tamanho das moléculas do filtro; já o ZnO
absorve a radiação UV em toda sua extensão.
O tamanho da partícula também influencia no efeito sobre a radiação,
e essa condição pode ser alterada na cosmetologia. A redução do TiO2 para
tamanhos inferiores a 40 nm aumenta sua absorção na faixa do UVB e dimi-
nui sua reflexão do UVA, tornando-o menos eficaz como protetor na região
do UVA. Com a redução do TiO2 e ZnO, consegue-se minimizar a interação
dessas partículas com a luz visível, mantendo o filme transparente sobre a
pele, tendo uma melhor aceitação estética. Portanto, os filtros inorgânicos são
comercializados na forma regular, com tamanhos superiores a 200 nm, e na
forma micronizada, variando entre 10 a 110 nm (RIBEIRO, 2010).
Já os filtros orgânicos ou químicos são moléculas que atuam por absorção
da radiação UV. Dependendo da capacidade de absorver comprimentos de
onda mais curtos ou mais longos, eles se subclassificam em filtros UVA,
UVB e de amplo espectro, UVA e UVB (SCHALKA; REIS, 2011; KEDE;
SABATOVICH, 2009). Esses filtros podem ser classificados segundo a sua
estrutura química, como você pode ver a seguir.

„„ Derivados do ácido para-aminobenzoico (PABA) — para-aminoben-


zoato de etil dihidroxipropila e para-aminobenzoato de octil dimetila
(octildimetilPABA ou padimato O).
„„ Derivados dos salicilatos — salicilato de trietanolamina e salicilato de octila.
„„ Derivados dos cinamatos — parametoxinamato de dietanolamida,
parametoxinamato de isoamila e parametoxinamato de 2-etil-hexila
(parametoxinamato de octila).
„„ Derivados da benzofenona — benzofenona 2, benzofenona 3, benzo-
fenona 4, benzofenona 5 e benzofenona 8.
„„ Derivados de dibenzoilmetano — butil metoxi-dibenzoilmetano (avo-
benzona). Esse filtro é utilizado com a finalidade de proteção UVA,
porém tem alta fotoinstabilidade e sofre isomerização irreversível sob
ação do UV, que leva à diminuição de sua capacidade protetora.
„„ Derivados de antranilato — antranilato de metila.
6 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

„„ Derivados da cânfora — metilbenzidileno cânfora e benzildileno cân-


fora. São altamente eficazes contra a radiação UVB, além de apresen-
tarem fotoestabilidade.
„„ Derivados do fenilbenzimidazol — ácido fenilbenzimidazol sufônico,
fenil dibenzimidazol tetrasulfonato de sódio.
„„ Derivados do benzotriazol — metileno-bis-benzotriazolil tetrametilbu-
tilfenol e trisiloxano dro-metriazol, sendo o mais conhecido no Brasil o
metileno-bis-benzotriazolil tetrametilbutilfenol (Trinosorb M®). Somada
à fotoestabilidade desse composto, tem-se o amplo espectro de proteção
UV, praticamente capaz de cobrir toda a faixa do UVB e UVA. Por
ter alto peso molecular, permeia pouco na pele, fato que lhe confere
menor toxicidade cutânea, se comparado aos outros filtros tradicionais.
„„ Derivados da triazina — bis-etilhexiloxifenol metoxifenil triazina (Tri-
nosorb S®), butamido triazona de etilexila e octil triazola (este último tem
alto poder de absorção na região do UVB em baixas concentrações e alta
fotoestabilidade). O Trinosorb S®, assim como Trinosorb M®, é fotoestável
e tem amplo espectro de absorção na faixa do UV, como maior poder de
absorção na faixa do UVB e no UVA até 360 nm. A partir desse com-
primento de onda, diminui sua eficácia se comparada ao Trinosorb M®.

Você deve conhecer a legislação vigente sobre as substâncias permitidas pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para produtos de higiene pessoal, cosméticos
e perfumes. Você tem acesso às listas atualizadas nos links a seguir:

Lista de corantes permitidos para uso em cosméticos —

https://goo.gl/rLyPXa

Lista de substâncias, incluindo fragrâncias, que os produtos cosméticos e perfumes


não devem conter, exceto nas condições e com as restrições estabelecidas —

https://goo.gl/KK5siz

Lista de filtros UV permitidos para uso em cosméticos —

https://goo.gl/xcThna

Lista de substâncias de ação conservante para uso em cosméticos —

https://goo.gl/JiWyGz
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 7

Efeitos dos componentes primários sobre a pele

Umectantes
O papel do umectante na pele é hidratação, devido principalmente à sua
propriedade higroscópica, ou seja, pela capacidade de absorção de água
a partir da derme (RIBEIRO, 2010). Substâncias umectantes previnem
a evaporação hídrica por meio da ligação molecular com a água e, no
estrato córneo, há algumas, altamente higroscópicas, que fazem parte do
fator natural de hidratação (FNH) e constituem fontes de matérias-primas
utilizadas em produtos hidratantes, como ureia, lactato de sódio, lactato de
amônio, ácido 2-pirrolidono-5-carboxilico sódico (PCA Na), polietilenoglicol
(PEG), aminoácidos, entre outros. Entretanto, nem todos os umectantes são
integrantes do FNH, por exemplo, glicerina, ácido hialurônico, quitosana
e condroitina.
Dependendo do peso molecular, eles permeiam a pele ou permanecem na
superfície cutânea, formando um filme hidrofílico sobre a camada córnea,
aumentando a retenção de água nessa superfície e podendo ser classificados
como umectantes ativos ou superficiais respectivamente (RIBERO, 2010;
RAWLINGS; HARDING, 2004).
A ureia, comumente utilizada em produtos hidratantes em concentrações
que variam de 3 a 5%, é considerada um umectante ativo, e a glicerina pode
ser usada em concentrações de 1 a 10% como umectante superficial (RIBERO,
2010).
Segundo Lodén et al. (2001), a solução aquosa de glicerina em pele normal
reduz a perda transepidérmica de água por algumas horas; já a aplicação a 20%
em emulsões não proporcionou efeitos significativos. Estudos demonstraram
que não há diferenças relevantes entre ureia e glicerina no tratamento de
dermatites atópicas (LODÉN et al., 2002).
De acordo com Albèr (2015), os mecanismos pelos quais os umectantes
interagem com a pele estão longe de serem totalmente compreendidos, e sua
compreensão pode aumentar as possibilidades de adequar os produtos às várias
anormalidades da pele. Um estudo publicado em 2015 investigou os efeitos de
umectantes de alto (ácido hialurônico) e baixo peso molecular (ureia e glicerol),
suas interações com a água, bem como seu efeito sobre as propriedades de
barreira da camada mais externa da pele, o estrato córneo. Em contraste com
os umectantes de baixo peso molecular, concluiu-se que o ácido hialurônico
(17 kDa) não penetra na barreira da pele devido ao tamanho, além disso, o
estudo mostrou que a ureia e o glicerol melhoram a hidratação da pele.
8 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

Assim como o ácido hialurônico, outros polissacarídeos são capazes de


formar um filme sobre a pele, absorvendo e retendo a água na superfície
da camada córnea. A quitosana é produzida industrialmente a partir da N-
-desacetilação química da quitina, um dos polissacarídeos mais abundantes
encontrados na natureza, como em crustáceos, moluscos ou insetos. Zhang
et al. (2000) utilizaram a estrutura molecular desse ácido como modelo para
criar derivados da quitosana e desenvolver um cosmético com propriedades
umectantes.
A quitosana forma um fino filme que, além de ajudar a manter a oleosi-
dade e a hidratação, protege a pele de agressões externas (LARANJEIRA;
FÁVERE, 2009). Sua propriedade formadora de filme se deve a sua carga global
positiva que interage com tecidos carregados negativos como pele e cabelo.
Em cosméticos para os cabelos, por exemplo, sua forma de interação com a
queratina dos cabelos proporciona mais brilho que os polímeros sintéticos
e apresenta maior estabilidade em alta umidade, diminuindo a tendência à
adesão e a formação de carga estática, facilitando a escovação e o penteado
(SILVA; SANTOS; FERREIRA, 2006).

Emolientes
Os emolientes constituem um tipo de matéria-prima que tem a capacidade
de tornar a pele mais macia e flexível. Representados pelos óleos, sobretudo
os vegetais, eles geram benefícios ao tecido cutâneo, pois são os principais
constituintes das membranas celulares, além de manterem o nível de água
adequado no estrato córneo (SILVA, 2009). Por isso, pode-se considerá-los
agentes hidratantes ou nutritivos, restaurando o equilíbrio fisiológico da pele
e mantendo o filme hidrolipídico.
A função hidratante dos emolientes ocorre por meio da ação mecânica sobre
a pele. Sua propriedade oclusiva impede que a água presente nas camadas da
pele evapore, portanto, pode-se afirmar que eles têm uma ação antidesidra-
tante. Eles auxiliam na impermeabilização da barreira hidrolipídica, o que
resulta em uma maior quantidade de água retida, permitindo a hidratação e
melhora da aparência do estrato córneo. Já a presença da umidade no interior
dessas células córneas mantém a elasticidade, flexibilidade e maciez da pele
(LIPIZENČIĆ; PAŠTAR; MARINOVIĆ-KULIŠIĆ, 2006). Para potencializar o
efeito, os emolientes devem ser aplicados na pele após o banho, pois apreendem
a água no estrato córneo (SILVA, 2009).
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 9

Os emolientes também têm ação nutritiva, pois ajudam a compensar a


deficiência lipídica natural da pele e fortalecem sua estrutura, melhorando a
coesão no cimento intercelular e evitando, assim, a perda de água e a alteração
da pele (LIPIZENČIĆ; PAŠTAR; MARINOVIĆ-KULIŠIĆ, 2006).
O estrato córneo contém, naturalmente, substâncias emolientes, como
ceramidas, ácidos graxos livres e colesterol. Os óleos vegetais estão sendo
amplamente empregados em formulações de uso tópico, pois têm em sua
composição ácidos graxos semelhantes aos encontrados na epiderme (SILVA,
2009). Os ricos em ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados são os
preferidos, uma vez que esses triglicerídeos reduzem gradativamente com o
envelhecimento (RIBEIRO, 2010).
Além da composição de ácidos graxos, alguns óleos podem ter vitaminas,
oligoelementos e compostos com atividade antioxidantes, sendo, portanto,
considerados nutritivos e muito úteis para o tratamento de peles envelheci-
das, por exemplo, o óleo da castanha-do-pará, que contém vitaminas A, B
e E, bem como selênio, um mineral importante com atividade antioxidante
(RIBEIRO, 2010).
Devido às suas propriedades, os emolientes são muito utilizados para fins
estéticos a fim de evitar a aparência de pele seca e constituem um importante
grupo de agentes usados para prevenção e tratamento de distúrbios cutâneos,
que apresentam como características pele seca, descamação e perda da função
barreira, por exemplo, a dermatite atópica (SIMPSON et al., 2014).

Tensoativos
Nos sistemas biológicos, os efeitos dos tensoativos são complexos, por serem
capazes de interagir com proteínas e lipídios no estrato córneo e, portanto,
levar às alterações na permeabilidade das membranas celulares. Isso é parti-
cularmente relevante, considerando que o estrato córneo é a principal barreira
natural de permeação da pele. Além de reduzirem a tensão superficial, eles
provocam a desnaturação reversível das proteínas da pele e reduzem de modo
marcante a capacidade do tecido subcutâneo de reter água ligada à mem-
brana — essa redução da força da barreira natural aumenta a permeação de
substâncias (FERREIRA, 2011).
Os tensoativos interagem com o estrato córneo e alteram sua estrutura de
forma reversível, causando um desarranjo estrutural lipídico e aumentando
a permeabilidade da pele (SILVA, 2009; RAFEIRO, 2013). Assim, muitos
10 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

são usados nas formulações cosméticas como promotores de permeação


cutânea de ativos, sendo os mais utilizados para aumentar a permeação
de ativos: lauril sulfato de sódio, docusato de sódio, polissorbatos (FER-
REIRA, 2011).
Uma das principais causas de irritação da pele é o uso de cosméticos para
lavagem do corpo, uma vez que eles estão em contato direto com ela e são
amplamente disponíveis e usados — com o grau de irritação diretamente
proporcional à extensão da penetração cutânea.
Os componentes responsáveis são os tensoativos, capazes de afetar células
em regiões mais profundas da pele ao penetrar através dessa camada, e seu
potencial de irritação é determinado pelas suas propriedades químicas e
físicas resultantes da sua estrutura e de interações específicas com a pele. A
penetração adicional na pele pode resultar em danos às membranas celula-
res e aos componentes estruturais dos queratinócitos, liberando mediadores
pró-inflamatórios. Os tensoativos podem levar à morte celular devido às
mudanças irreversíveis na estrutura celular (SEWERYN, 2018), sendo que
os catiônicos são mais irritantes que os aniônicos, e estes mais que os não
iônicos (FERREIRA, 2011).

Filtros solares
Os filtros UV são os ingredientes presentes nos fotoprotetores que apresentam a
capacidade de interagir com a radiação incidente, por meio de três mecanismos
básicos: reflexão, dispersão e absorção.
As principais características dos filtros inorgânicos são a baixa permeação
cutânea e a elevada fotoestabilidade, ou seja, como eles mantêm sua capacidade
fotoprotetora mesmo após longos períodos de radiação solar (SCHALKA;
REIS, 2011). Eles têm baixo potencial alergênico, podendo ser importantes
sobretudo para formulações de produtos infantis para uso diário, indivíduos
com pele sensível e gestantes (RIBEIRO, 2010).
A estrutura química dos filtros orgânicos permite que absorvam os raios
UV nocivos ao ser humano, a radiação com alta energia, convertendo-a em
uma radiação inócua com baixa energia, podendo ser na faixa do visível ou
infravermelho (IV). Portanto, um filtro solar absorve a energia prejudicial
e a transforma em formas não agressivas à pele (RIBEIRO, 2010). O uso
desses filtros químicos está associado aos casos de dermatite de contato e
fotodermatite (LATHA et al., 2016).
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 11

Algumas reações ocorrem logo após a aplicação da proteção solar, já


outras podem se desenvolver depois de alguns dias ou mesmo anos de uso
do mesmo produto — acontecendo em uma proporção muito baixa da po-
pulação, menos de 1% de todos os usuários. Como qualquer produto, o uso
de filtro solar precisa ser suspenso se houver alguma reação, e o indivíduo
deve procurar um profissional habilitado para diagnóstico e tratamento
(SUNSCREEN..., 2018).
A reação de filtro solar mais comum é chamada de dermatite de contato
e ocorre em pessoas que têm sensibilidade a um dos seus componentes. A
dermatite de contato irritativa acontece após a aplicação do FPS, é mais comum
em indivíduos com história de eczema ou pele sensível, causa uma irritação
na área da pele em que o protetor solar foi aplicado e pode aparecer como uma
leve vermelhidão ou uma sensação de ardor (sem vermelhidão). Já a dermatite
de contato alérgica é o tipo menos comum e ocorre em pessoas que desenvol-
veram sensibilidade a um dos componentes da formulação, como o próprio
filtro solar, fragrâncias e conservantes. Uma erupção cutânea com coceira
pode ocorrer na pele em que o produto foi aplicado e, por vezes, espalhar-se
para outras áreas (SUNSCREEN..., 2018; RIBEIRO, 2010).
Um tipo mais raro de reação de filtro solar é a fotodermatite, que geralmente
ocorre quando o produto foi aplicado ao corpo e exposto à luz solar. Em algu-
mas pessoas, há uma interação entre um ingrediente do protetor solar e a luz
UV, originando uma reação da pele, comumente se trata do resultado de uma
alergia ao FPS, mas também pode ser devido a uma reação às fragrâncias ou
aos conservantes do produto. Pode ocorrer uma grave queimadura ou eczema,
mais frequentemente em face, braços, dorso das mãos, peito e parte inferior
do pescoço (SUNSCREEN..., 2018; RIBEIRO, 2010).
A benzofenona-3 é, hoje, o filtro solar com maior probabilidade de causar
fotodermatite, já os casos de dermatite de contato são mais frequentes como
o uso da benzofenona-10 seguido pela benzofenona-3 (RIBEIRO, 2010).
Como os filtros solares absorvem apenas parte da região do UVA ou
UVB, para se ter uma proteção completa, deve-se fazer uma combinação
entre eles. Porém, essa combinação de diferentes tipos de filtros pode causar
um alto grau de irritabilidade quando aplicada à pele (FLOR; DAVOLOS;
CORRÊA, 2007).
Veja na Figura 1 o mecanismo de ação dos filtros solares inorgânicos e
dos orgânicos.
12 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

s
ga tas
Radiação UV do sol

l on cur
B as as
s UV ond ond
io e e
Ra VA d A d
U U V
ios os
Ra Rai

ZnO ZnO TiO2 TiO2

Epiderme
Avobenzona Octocrileno
Oxibenzona
Pele

Derme
Bloqueadores físicos Absorventes químicos Base tan

Figura 1. Mecanismo de ação dos filtros solares inorgânicos, óxido de zinco e dióxido de
titânio (ZnO e TiO2), e dos filtros orgânicos, avobenzone, oxybenzone e octocrylene.
Fonte: Hagadorn (2013, documento on-line).

No mercado crescente de formulações naturais e orgânicas, o universo das matérias-


-primas para o desenvolvimento desse tipo de produto é restrito. Em relação aos
conservantes e corantes, os óleos essenciais e corantes vegetais, como derivados
carotenoides e flavonoides, são alternativas naturais. Para a função de umectantes,
usa-se carboidratos naturais ou polímeros obtidos por processos biotecnológicos,
como a goma bissacarídica-1, a glicerina vegetal, as mucilagens, etc. Os óleos, as
manteigas e ceras naturais são exemplos de emolientes naturais, já os amidos naturais
não modificados da batata, mandioca e milho podem ser usados como espessantes
(RIBEIRO, 2010).
É importante lembrar que os termos orgânico e natural não são sinônimos, e as
principais empresas que certificam os produtos em naturais e orgânicos são: a ECOCERT
(França), a COSMOS (Europa), a USDA (Estados Unidos) e a IBD (Brasil).
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 13

Riscos associados aos componentes secundários


dos cosméticos
Os excipientes ou adjuvantes são substâncias auxiliares presentes nas formu-
lações cosméticas e possuem propriedades diferentes daquelas pertinentes aos
princípios ativos. Por anos, eles foram descritos como substâncias inertes que
não apresentavam ação farmacológica ou toxicológica e, assim, praticamente
nunca eram considerados quando o paciente tinha reações adversas. Contudo,
sabe-se que esses compostos podem afetar o perfil de segurança dos produtos,
sendo responsáveis por vários efeitos adversos (SENA et al., 2014).
Harris (2001) cita vários exemplos de agentes sensibilizantes presentes
em cosméticos. Em fragrâncias, têm-se muitas delas, como álcool e aldeído
cinâmico, álcool alfa-amil-cinâmico, hidroxicitronelal, eugenol, isoeugenol
e geraniol; em tinturas de cabelo, as mais comuns são o parafenileno dia-
mina e derivados; na classe de conservantes, antioxidantes e antissépticos,
encontram-se o formaldeído e formalina, os parabenos e poliquaternos; entre
os veículos, a lanolina e o propilenoglicol; na categoria de cosméticos para
unhas, as substâncias mais comuns incluem resina de paratoluenosulfonamida
e acrilatos; e em protetores solares, o ácido PABA (CHORILLI; SCARPA;
CORRÊA, 2007).
Os produtos para os cuidados com a pele são os principais contribuintes para
a dermatite cosmética de contato alérgica, seguidos por aqueles para cuidados
com os cabelos e as unhas. Os alérgenos mais comuns incluem fragrâncias e
conservantes (ALANI; DAVIS; YIANNIAS, 2013).
A dermatite de contato devida aos produtos cosméticos é uma queixa
dermatológica comum que afeta consideravelmente a qualidade de vida do
paciente, cujo diagnóstico, tratamento e estratégias preventivas representam
um custo substancial. Ela é responsável por 2 a 4% de todas as visitas ao
dermatologista, e aproximadamente 60% dos casos são de origem alérgica,
sendo a maioria causada por produtos de higiene e hidratação da pele, seguidos
por cosméticos para cabelos e unhas. Fragrâncias são a causa mais comum
de alergia aos cosméticos, seguida de conservantes e corantes capilares; no
entanto, todos os componentes, incluindo ingredientes naturais, devem ser
considerados potenciais sensibilizadores (GONZÁLEZ-MUÑOZ; CONDE-
-SALAZAR; VAÑÓ-GALVÁN, 2014).
14 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

Conservantes
Há alguns anos, a mídia vem alertando os riscos associados ao uso de parabenos
como sistema conservante e, a partir de então, uma série de produtos foram
lançados no mercado com o apelo de parabens free. Grande parte disso se
deve a dois estudos: um de 1998, elaborado por Routledge et al., que descobriu
a atividade estrogênica dos parabenos; e outro de 2004, elaborado por Darbre
et al., que identificou parabenos intactos em tecido canceroso de seio humano.
Esses e outros estudos são criticados por muitos pesquisadores que apontam
vários pontos controversos, entre eles, o fato de que não foram encontradas
taxas de parabenos em tecidos mamários saudáveis, além de inconsistências
levantadas como acúmulo de parabenos em tecidos adiposos, já que 62% deles
são formados por metilparabeno (CHORILLI; SCARPA; CORRÊA, 2007).
A União Europeia (UE) proibiu o uso de cinco parabenos (isopropilpa-
rabeno, isobutilparabeno, fenilparabeno, benzilparabeno e pentilparabeno)
como conservantes em produtos cosméticos e estabeleceu limites máximos de
concentração de 0,14% para butilparabeno ou propilparabeno (ésteres simples
e seus sais), 0,4% para metilparabeno ou etilparabeno (ésteres simples e seus
sais) e 0,8% para a mistura desses quatro ingredientes, em que a soma da
concentração individual de butilparabeno e propilparabeno não pode exceder
0,14% (COSMETIC INGREDIENT REVIEW, 2018). Alinhado à regulamen-
tação internacional, o limite máximo permitido na legislação brasileira para
uso de parabenos em cosméticos é de 0,4% para o ingrediente isolado ou 0,8%
para misturas (BRASIL, 2012a).
Assim como outros componentes das formulações cosméticas, os con-
servantes do tipo parabeno foram alvo de estudo para investigação de causa
potencial de dermatite alérgica de contato. De 2001 a 2008, Svedman et al.
avaliou as taxas de alergia de contato para sete conservantes, e os parabenos
demonstraram o menor nível de alergia entre os pacientes encaminhados com
dermatite (0,5 a 1%). Conservantes como quaternium-15, imidazolidinilureia,
diazolidinilureia, formaldeído, metildibromo glutaronitrila (MDBGN) e me-
tilcloroisotiazolinona (MCI)/metilisotiazolinona (MIT) apresentaram taxas
significativamente mais altas dessa dermatite após o teste de contato. O estudo
concluiu também que as poucas reações apresentadas pelos parabenos foram
atribuídas às peles que já apresentavam um certo grau de irritação, com perda
da função barreira natural (SVEDMAN, 2012).
De acordo com Deza e Giménez-Arnau (2017), os conservantes da classe
das isotiazolinonas são os responsáveis mais comuns pela alergia de contato
na Europa e nos Estados Unidos. Já a prevalência de alergia aos parabenos
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 15

permaneceu estável nas últimas décadas, o butilcarbamato de iodopropinila


pode ser considerado alérgeno emergente com uma prevalência crescente
(DEZA; GIMÉNEZ-ARNAU, 2017).
Um estudo de avaliação teratogênica em ratas prenhas tratadas por via oral
com 3-iodo-2-propinil butilcarbamato (IPBC) observou inchaço transitório no
pescoço desses animais, ganho de peso corporal, aumento da tireoide, dimi-
nuição no peso do timo e aumento no peso das glândulas suprarrenais. Com
a dose de 180 mg/kg, aumentou a incidência de fetos mortos ou reabsorvidos,
porém, não foi observada qualquer evidência de anormalidades externas,
esqueléticas ou viscerais em fetos (NODA et al., 1999).
Em 2004, o comitê científico sobre os produtos cosméticos e os produtos
não alimentares destinados aos consumidores declarou que a ingestão diária
biodisponível de iodo de produtos cosméticos não deve exceder 20% da dose
diária recomendada de 150 µg, que equivale a aproximadamente 0,002% de
IPBC em todos os produtos cosméticos de uso diário de 18 g e com taxa de
absorção percutânea de 20% (SCIENTIFIC COMMITTEE ON COSMETIC
PRODUCTS AND NON-FOOD PRODUCTS INTENDED FOR CONSU-
MERS, 2004). Em 2013, o Painel de Peritos do Cosmetic Ingrediente Review
(CIR) concluiu que o butilcarbamato de iodopropinila em cosméticos é seguro
em concentrações ≤ 0,1%, mas não deve ser usado em produtos aerossóis e
em crianças menores de 3 anos (CIR, 2013).
Outras substâncias utilizadas em produtos cosméticos podem ter proprie-
dades antimicrobianas, contribuindo para sua conservação, como muitos óleos
essenciais e alguns álcoois. Vários óleos apresentam propriedades antibacte-
rianas e antifúngicas comprovadas e, por isso, compõem muitos cosméticos
naturais ou orgânicos. Porém, eles não estão isentos de provocarem reações
cutâneas, por exemplo, dermatite e fotossensibilidade.
Geralmente, a fotossensibilização e a fototoxicidade são atribuídas aos
constituintes furocumarinas presentes em alguns óleos essenciais cítricos,
os quais reagem quando expostos à luz UV, provocando inflamação, bolhas,
vermelhidão e queimação da pele (TISSERAND; YOUNG, 2013).
Um estudo publicado em 2010 observou a fototoxicidade de óleos essenciais
de laranja e limão e revelou que ela depende do teor de componentes fotoativos
e do solvente usado (KEJLOVÁ et al., 2010). De acordo com Schempp, Schöpf
e Simon (2002), os principais óleos sensibilizantes são tea tree ou melaleuca,
arnica, camomila, Achillea millefolium L e extratos cítricos, hera comum,
aloe, lavanda, hortelã-pimenta, etc. No entanto, o potencial de sensibilização
dessas plantas varia. Já a maioria das substâncias sensibilizantes são lactonas
sesquiterpênicas ou terpenos.
16 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

Em 2016, o Scientific Committee On Consumer Safety (SCCS) publicou


que considera um teor máximo de 0,01% de extratos de Tagetes minuta e
Tagetes patula e de óleos essenciais em produtos leave-on como seguros,
desde que o teor de alfa terthienil (tertiofeno) dos extratos e óleos de Tagetes
não exceda 0,35%. Além disso, seus extratos e óleos não devem ser utilizados
em cosméticos destinados à proteção solar (SCIENTIFIC COMMITTEE ON
CONSUMER SAFETY; COENRAADS, 2016).

Corantes
Os corantes são substâncias adicionais aos medicamentos, produtos dietéticos,
cosméticos, perfumes, de higiene e similares, saneantes domissanitários e
parecidos, com a finalidade única de corá-las ou de alterar sua cor original e,
em determinados tipos de cosméticos, transferi-la para a superfície cutânea
e anexos da pele (BRASIL, 2012b).
Há dois tipos de substâncias corantes utilizadas: corantes e pigmentos.
Os pigmentos possuem, em geral, tamanho de partícula maior, são insolúveis
em água e empregados em suspensões, já os corantes se tratam de moléculas
solúveis em água, empregados em soluções. Além disso, os pigmentos têm
maior estabilidade química e térmica que os corantes, bem como utilizados
em produtos para maquiagem. Por exemplo: óxido de ferro — preto, vermelho
e amarelo (BRASIL, 2010).
Estudos de toxicologia são rotineiramente realizados por organizações como
a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Administração de Alimentos e
Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e a Comissão Europeia (CE). Com
base no resultado dessa revisão contínua, vários órgãos reguladores em todo
o mundo desenvolvem listas permitidas e restrições ou proibições de uso
de alguns corantes, o que difere de acordo com o país, portanto, o mesmo
corante pode ter um status regulatório diferente em cada território (ROWE;
SHESKET; FUINN, 2009).
A maioria dos corantes utilizados é de origem sintética e, de acordo com
a FDA, pode ser classificada em (BRASIL, 2010):

„„ corantes designados como food, drug and cosmetic (FD&C) podem ser
empregados em alimentos, medicamentos e cosméticos;
„„ corantes designados como drug and cosmetic (D&C) são autorizados
para uso em medicamentos e cosméticos;
„„ corantes D&C de uso externo apresentam emprego restrito aos medi-
camentos e cosméticos aplicados;
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 17

„„ externamente.

Por meio da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº. 44, de 2012


(BRASIL, 2012c), a Anvisa aprovou o Regulamento Técnico Mercosul
sobre “Lista de substâncias corantes permitidas para produtos de higiene
pessoal, cosméticos e perfumes”. Os corantes estão enumerados pelo color
index, que designa a cada corante um número (C.I n), o qual serve para sua
identificação, independentemente do país em que é comercializado. Nessa
resolução, os corantes permitidos estão descritos em quatro campos de
aplicação específicos:

„„ substâncias corantes permitidas para todos os tipos de produtos;


„„ substâncias corantes permitidas para todos os tipos de produtos, exceto
aqueles que são aplicados na área dos olhos;
„„ substâncias corantes permitidas exclusivamente em produtos que não
entram em contato com mucosas nas condições normais ou previsíveis
de uso;
„„ substâncias corantes permitidas exclusivamente em produtos que tenham
breve tempo de contato com a pele e os cabelos.

Em relação aos riscos associados ao uso de corantes, a maioria dos estudos


investiga os efeitos adversos daqueles ingeridos por meio de alimentos ou
medicamentos. Em 2007, foi publicado um estudo com o uso de seis coran-
tes, tartrazina, amarelo de quinoleína, amarelo sol, carmoisina, ponceau 4R
e vermelho allura, que relacionou sua ingesta em alimentos aos problemas
de comportamento em crianças (McCANN et al., 2007). No entanto, depois
de analisar os resultados do estudo, a Comissão Europeia Food Standards
Agency concluiu que nenhuma alteração na legislação seria necessária (ROWE;
SHESKET; FUINN, 2009).
Em geral, as preocupações quanto à segurança dos agentes corantes em
medicamentos e alimentos estão associadas aos relatos de hipersensibilidade e
hiperatividade, sobretudo entre crianças (ROWE; SHESKET; FUINN, 2009).
O amarelo de tartrazina também tem sido objeto de controvérsia sobre sua
segurança, mas restrições de uso são impostas em alguns países. Nos Estados
Unidos e no Brasil, por exemplo, produtos contendo-o devem apresentar o
seguinte aviso: este produto contém o corante amarelo de tartrazina que pode
causar reações de natureza alérgica, entre as quais asma brônquica, especial-
mente em pessoas alérgicas ao ácido acetilsalicílico (ROWE; SHESKET;
FUINN, 2009; BRASIL, 2002).
18 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

Segundo Marly Marques da Rocha, médica alergista e imunologista, os


corantes naturais costumam ser bem tolerados pela maioria das pessoas e
raramente provocam alergia, comparados aos sintéticos. Ela destaca os dois
grupos mais comuns em alergia: os azocorantes ou corantes amarelos, como
a tartrazina, o ponceau e o amarelo crepúsculo; e os não azocorantes, como
o azul brilhante, a eritrozina e a indigotina. Seu uso tópico por meio dos
cosméticos pode levar a quadros de dermatite de contato. Já a especialista
Ana Paula Moschione Castro mostra que esse desconforto se apresenta, ge-
ralmente, na forma de urticária, com placas avermelhadas espalhadas pelo
corpo (ESPECIALISTAS..., 2011).

Fragrâncias
Existem mais de 3.000 fragrâncias diferentes em cosméticos, que representam
juntamente aos conservantes um grupo de alérgenos mais comum nesses
produtos (GONZÁLEZ-MUÑOZ; CONDE-SALAZAR; VAÑÓ-GALVÁN,
2013). A Associação Internacional de Fragrância (IFRA) lista 3.999 compostos
usados como fragrâncias, entre eles, alguns apresentam estudos relacionados
aos efeitos nocivos à saúde, como câncer, toxicidade reprodutiva, alergias e
sensibilidades (INTERNATIONAL FRAGRANCE ASSOCIATION, 2016).
Um estudo de 2016, realizado nos Estados Unidos, avaliou os efeitos na
saúde de pessoas expostas às fragrâncias. Os participantes relataram uma
extensa lista de efeitos experimentados quando foram expostos, variando de
enxaqueca e asma a problemas gastrintestinais e cardiovasculares (STEINE-
MANN, 2016).
Outros estudos também descrevem esses efeitos adversos ao uso ou à
exposição de fragrâncias, além de ataques de asma, dificuldade respiratória,
problemas neurológicos e dermatite de contato (KIM et al., 2015; ELBER-
LING et al., 2005; MILLQVIST; LÖWHAGEN, 1996; KUMAR et al., 1995;
KELMAN, 2004; CARESS; STEINEMANN, 2004, 2005; JOHANSEN, 2003;
RASTOGI; JOHANSEN; BOSSI, 2007; SEALEY et al., 2015).
Os ftalatos, conhecidos também como diethyl phthalate (DEP) e di-2-
-ethylhexyl (DEHP) phthalate, são responsáveis pelo brilho e pela fixação da
cor de esmaltes e permitem que perfumes durem mais tempo. Já em outros
produtos, tanto para adultos como para crianças e bebês, por exemplo, em hi-
dratantes, spray de cabelo, sabonetes líquidos, antitranspirantes, desodorantes,
condicionadores e xampus, eles dão um aspecto líquido ou de cremosidade.
Estudos relacionam os ftalatos às anormalidades no sistema reprodutivo,
o que proporciona danos em períodos críticos do desenvolvimento e dificulta
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 19

o funcionamento dos órgãos sexuais. Além disso, seu uso está relacionado
à ocorrência de câncer em rins, pulmão e fígado e desenvolvimento de obe-
sidade (KIM; HAN; MOON, 2004; HOLTCAMP, 2012; CHOU et al., 2017;
ROWDHWAL; CHEN, 2018).
Na Europa, o uso dos ftalatos é proibido em cosméticos, além de serem
considerados tóxicos para o sistema reprodutivo. Já no Brasil, desde 2009, são
limitadas as concentrações de ftalatos e seus derivados (não mais que 1% em seu
peso) em copos e garrafas plásticas descartáveis, seguindo a resolução da Anvisa.
A RDC nº. 3, de 2012, estabelece uma lista de componentes de fragrância
identificados como importantes causas de reações alérgicas de contato entre
consumidores sensíveis a fragrâncias e aromas, determinando que a presença
dessas substâncias na formulação seja indicada na composição declarada na
rotulagem do produto, para facilitar sua identificação pelos indivíduos que
não as toleram. Elas devem ser indicadas na rotulagem pela Nomenclatura
Internacional de Ingredientes Cosméticos (INCI) quando sua concentração
exceder 0,001% em produtos sem enxágue e 0,01% naqueles com enxague
(BRASIL, 2012d).

Antioxidantes
O 2,3-terc-butil-4-hidroxianisol (BHA) e o 2,6-diterc-butil-p-creso (BHT)
estão presentes em batons, sombras para os olhos (maquiagem em geral),
cosméticos para os cabelos, protetores solares, desodorantes, antitranspirantes,
perfumes, cremes, medicamentos, motores a óleo, produtos feitos de borracha,
plásticos e alimentos.
Segundo os estudos da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer
(IARC), o BHA pode ser considerado um possível carcinogênico, baseado
em experimentos com animais. Um dos resultados conclui que, combinado
com outros componentes que são possivelmente carcinogênicos, ele induz às
modificações no DNA, iniciando a mutagênese.
Já oBHT, apesar de apresentar o mesmo comportamento do BHA quando
combinado com componentes carcinogênicos, não pode ser considerado como
tal, pois as evidências são limitadas, e os resultados dos experimentos com
animais não oferecem bases suficientes para conclusões. Segundo a IARC, o
BHA se enquadra no grupo 2B, possivelmente carcinogênico; e o BHT no grupo
3, não carcinogênico para humanos (LANIGAN; YAMARIK, 2002). Embora
haja alguns relatos isolados de reações adversas cutâneas, o hidroxitolueno é
geralmente considerado não irritante e não sensitivo nos níveis empregados
como antioxidante (ROWE; SHESKET; FUINN, 2009).
20 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

O BHT penetra na pele, mas uma quantidade relativamente baixa permanece


nela. De acordo com poucos estudos sobre seus efeitos na pele, não existem
irritação significativa, sensibilização ou fotossensibilização. Reconhecendo
a baixa concentração em que se usa esse composto atualmente, conclui-se
que ele é seguro quando utilizado em formulações cosméticas (LANIGAN;
YAMARIK, 2002).
Em 2013, um estudo concluiu que não há dados suficientes disponíveis no
momento para concluir sobre a segurança do BHA quanto ao seu potencial
efeito de desregulador endócrino (POP et al., 2013).
Outro antioxidante comumente usado em cosmético é o metabissulfito de
sódio. Embora ele seja muito utilizado em uma variedade de preparações, foi
associado às reações adversas graves a fatais — reações de hipersensibilidade,
broncospasmo e anafilaxia. Estima-se que a alergia aos antioxidantes sulfito
ocorre em 5 a 10% dos asmáticos, mesmo que também possam haver rea-
ções adversas em não asmáticos sem história de alergia (ROWE; SHESKET;
FUINN, 2009).

Cosmetic Ingredient Database (Cosing) da UE é um banco de dados da Comissão


Europeia para obter informações sobre substâncias e ingredientes cosméticos, dis-
ponível no link a seguir:

https://goo.gl/38GgV9

1. Por muito tempo, os excipientes pele. Com base nessa afirmação,


foram considerados inertes, isentos marque a alternativa correta.
de qualquer efeito biológico. Hoje, já a) Os umectantes são
se sabe que, além de fundamentais responsáveis por deixar a
para o desenvolvimento da forma formulação mais seca.
farmacêutica, muitos apresentam b) Os umectantes melhoram
propriedades benéficas tanto o aspecto da formulação,
para a formulação como para a proporcionando melhor
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 21

espalhabilidade e a) Para melhorar o aspecto


deixando-a mais viscosa. da formulação, tornando-a
c) Os emolientes são excipientes menos pegajosa.
capazes de amaciar a pele, b) Para melhorar a estabilidade
tornando-a mais flexível, das formulações, promover
sendo representados limpeza e aumentar a
principalmente pelos óleos. permeação de ativos na pele.
d) Os emolientes hidratam c) Para promover limpeza,
a pele, devido às suas umectação e hidratação da pele.
características higroscópicas. d) Para reduzir a formação de
e) A glicerina é umectante; espuma nos xampus.
a vaselina, emoliente; e o e) Para aumentar o espectro de
sorbitol, um espessante. absorção dos filtros solares.
2. Um creme para o corpo possui 4. Por que hoje em dia muitos
os seguintes componentes: cosméticos apresentam em
4-methylbenzylidene camphor, seus rótulos os seguintes
ethylhexyl methoxycinnamate, dizeres: livre de parabenos, sem
butyl methoxydibenzoylmethane. fragrância ou hipoalergênico?
Portanto, pode-se afirmar Marque a alternativa correta.
que esse produto: a) Porque os espessantes
a) é um creme hidratante com denominados parabenos e as
emolientes e umectantes. fragrâncias podem provocar
b) é um creme com filtros dermatite de contato.
solares físicos, capazes de b) Porque foi comprovado que
refletir a radiação UV. os conservantes propil e metil
c) apresenta filtros solares parabeno são tóxicos para a pele.
inorgânicos que absorvem c) Porque fragrâncias e
a radiação ultravioleta conservantes são os
(UV), transformando-a em principais adjuvantes
energia menos nociva. responsáveis por reações
d) contém uma associação de filtros adversas em cosméticos.
solares orgânicos e inorgânicos. d) Porque os parabenos podem
e) trata-se de um protetor solar provocar dermatite de
com filtros solares orgânicos contato, e a lista completa
e de amplo espectro, pode ser encontrada na
devido à absorção tanto da RDC nº. 03, de 2012.
radiação UVB como UVA. e) Porque os ftalatos, usados
3. Os tensoativos são moléculas para fixar as fragrâncias,
anfipáticas, apresentando são proibidos no Brasil.
características hidrofílicas e 5. Os corantes são utilizados
lipofílicas, as quais conferem a eles em alimentos, medicamentos
várias funções e benefícios. Por que e cosméticos. Muitos deles
esses excipientes são usados em são responsáveis por reações
diferentes formulações cosméticas? alérgicas nas pessoas, que
22 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

devem estar atentas aos rótulos c) Cada país estabelece um


e à nomenclatura correta dos número para cada corante,
corantes para evitar comprar chamado de color index.
produtos que os contenham. d) Os corantes sintéticos, como o
Qual das afirmativas a seguir óxido de ferro vermelho, são
está correta sobre os corantes? mais propensos a provocar
a) O amarelo tartrazina é um reações alérgicas nas pessoas.
corante proibido no Brasil. e) A dermatite de contato é
b) A RDC nº. 44, de 2012, uma das reações adversas
estabelece uma lista de mais comuns ao uso
corantes proibidos no Brasil. tópico de corantes.

ALANI, J. I.; DAVIS, M. D.; YIANNIAS, J. A. Allergy to cosmetics: a literature review. Der-
matitis, Hamilton, v. 24, n. 6, p. 283-290, Nov.-Dec. 2013.
ALBÈR, C. Humectants and skin: effects of hydration from molecule to man. 2015. 75 f.
Tese (Doutorado em Saúde e Sociedade) – Malmö University, Malmö, 2015. Disponível
em: <http://muep.mau.se/handle/2043/18372>. Acesso em: 23 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia
brasileira: volume 2: monografias. 5. ed. Brasília: Anvisa, 2010. 904 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/260079/5%C2%AA+edi%C3%A7%
C3%A3o+-+Volume+2/ce7e36ca-b3f4-46eb-9a99-2974c4041383>. Acesso em: 23
out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário
nacional da farmacopeia brasileira. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012b. 224 p. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259372/FNFB+2_Revisao_2_COFAR_se-
tembro_2012_atual.pdf/20eb2969-57a9-46e2-8c3b-6d79dccf0741>. Acesso em: 23
out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RE
Nº 572, de 5 de abril de 2002. Anvisa, Brasília, 2002. Disponível em: <http://portal.anvisa.
gov.br/documents/10181/2718376/RE_572_2002_COMP.pdf/586939e7-1a80-4acc-8e47-
7b7203ebd7e8>. Acesso em: 23 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 03, de 18 de janeiro de 2012. Aprova o Regulamento Téc-
nico “LISTAS DE SUBSTÂNCIAS QUE OS PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, COSMÉTICOS
E PERFUMES NÃO DEVEM CONTER EXCETO NAS CONDIÇÕES E COM AS RESTRIÇÕES
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 23

ESTABELECIDAS” e dá outras providências. Anvisa, Brasília, 2012d. Disponível em: <http://


bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0003_18_01_2012.html>. Acesso
em: 23 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 29, de 1 de junho de 2012. Aprova o Regulamento Técnico
Mercosul sobre “Lista de Substâncias de Ação Conservante permitidas para Produtos
de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes” e dá outras providências. Anvisa, Brasí-
lia, 2012a. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/
rdc0029_01_06_2012.html>. Acesso em: 23 out. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada - RDC Nº 44, de 9 de agosto de 2012. Aprova o Regulamento
Técnico Mercosul sobre “Lista de substâncias corantes permitidas para produtos
de higiene pessoal, cosméticos e perfumes” e dá outras providências. Anvisa, Brasí-
lia, 2012c. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/
rdc0044_09_08_2012.html>. Acesso em: 23 out. 2018.
CARESS, S. M.; STEINEMANN, A. C. A national population study of the prevalence of
multiple chemical sensitivity. Archives of Environmental Health, Chicago, v. 59, n. 6, p.
300–305, June 2004.
CARESS, S. M.; STEINEMANN, A. C. National prevalence of asthma and chemical hypersen-
sitivity: an examination of potential overlap. Journal of Occupational and Environmental
Medicine, Baltimore, v. 47, p. 518–522, May 2005.
CHORILLI, M.; SCARPA, M. V.; CORRÊA, M. A. Reações adversas a cosméticos. Infarma,
Brasília, v. 19, n. 11-12, p. 17-22, 2007. Disponível em: <http://www.revistas.cff.org.
br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=405>. Acesso em:
23 out. 2018.
CHOU, C. K. et al. The Impact of Di(2-ethylhexyl)phthalate on Cancer Progression. Archi-
vum Immunologiae et Therapiae Experimentalis, Wroklaw, v. 66, n. 3, p. 183-197, Jun. 2018.
CORRÊA, M. A. Cosmetologia: ciência e técnica. São Paulo: Medfarma, 2012. 492 p.
COSMETIC INGREDIENT REVIEW. Amended Safety Assessment of Parabens as Used in
Cosmetics. Washington, 29 Aug. 2018. 211 p. Disponível em: <https://www.cir-safety.
org/sites/default/files/Parabens.pdf>. Acesso em: 23 out. 2018.
COSMETIC INGREDIENT REVIEW. Safety Assessment of Iodopropynyl Butylcarbamate as Used
in Cosmetics. Washington, 16 Aug. 2013. 61 p. Disponível em: <https://www.cir-safety.
org/sites/default/files/butylcarbamate_rr.pdf>. Acesso em: 23 out. 2018.
DALTIN, D. Tensoativos: química, propriedades e aplicações. São Paulo: Blucher, 2011.
330 p.
DEZA, G.; GIMÉNEZ-ARNAU, A. M. Allergic contact dermatitis in preservatives: current
standing and future options. Current Opinion in Allergy and Clinical Immunology, London,
v. 16, n. 4, p. 263-268, Aug. 2017.
24 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

ELBERLING, J. et al. Mucosal symptoms elicited by fragrance products in a population-


-based sample in relation to atopy and bronchial hyper-reactivity. Clinical and Expe-
rimental Allergy: journal of the British Society for Allergy and Clinical Immunology,
Oxford, v. 35, n. 1, p. 75–81, Jan. 2005.
ESPECIALISTAS advertem sobre os riscos dos corantes de alimentos e remédios. Correio
Braziliense, Brasília, 4 jul. 2011. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/
app/noticia/ciencia-e-saude/2011/07/04/interna_ciencia_saude,259575/especialistas-
-advertem-sobre-os-riscos-dos-corantes-de-alimentos-e-remedios.shtml>. Acesso
em: 23 out. 2018.
FERREIRA, A. O. Guia prático da farmácia magistral. 4. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2011. 2 v. 1438 p.
FLOR, J.; DAVOLOS, M. R.; CORRÊA, M. A. Protetores Solares. Química Nova, São Paulo, v.
30, n. 1, p. 153-158, 2007. Disponível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.
asp?id=1771>. Acesso em: 23 out. 2018.
GONZÁLEZ-MUÑOZ, P.; CONDE-SALAZAR, L.; VAÑÓ-GALVÁN, S. Dermatitis alérgica de
contacto a cosméticos. Actas Dermo-Sifiliográficas, Madrid, v. 105, n. 9, p. 822-832, Nov.
2014. Disponível em: <http://www.actasdermo.org/es-linkresolver-dermatitis-alergica-
-contacto-cosmeticos-S0001731014000428>. Acesso em: 23 out. 2018.
HAGADORN, J. The Skinny on Sunscreen. Front Porch, Denver, 1 Aug. 2013. Disponível
em: <https://frontporchne.com/article/skinny-sunscreen/>. Acesso em: 23 out. 2018.
HARRIS, M. I. N. C. Hipoalergênicos: Mito ou realidade?. Revista Racine, São Paulo, v. 11,
n. 61, p. 12-17, 2001.
HOLTCAMP, W. Obesogens: An Environmental Link to Obesit. Environmental health
perspectives, Research Triangle Park, v. 120. n. 2, p. a62-a68, Feb, 2012. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3279464/>. Acesso em: 23 out. 2018.
INTERNATIONAL FRAGRANCE ASSOCIATION. IFRA Volume of Use Survey 2016: Transparecy
List. Geneva, 2016. 93 p. Disponível em: <http://www.ifraorg.org/en-us/ingredients#.
W88w_BGNzcu>. Acesso em: 23 out. 2018.
JOHANSEN, J. D. Fragrance contact allergy: a clinical review. American Journal of Clinical
Dermatology, Philadelphia, v. 4, n. 11, p. 789-798, 2003.
KEDE, M. P. V; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
1054 p.
KEJLOVÁ, K. et al. Phototoxicity of essential oils intended for cosmetic use. Toxicology
In Vitro, Oxford, v. 24, n. 8, p. 2084-2089, Dec. 2010.
KELMAN, L. Osmophobia and taste abnormality in migraineurs: a tertiary care study.
Headache, St. Louis, v. 44, n. 10, p. 1019–1023, Nov.-Dec. 2004.
KIM, I.Y.; HAN, S. Y., MOON, A. J. Phthalates inhibit tamoxifen-induced apoptosis in
MCF-7 human breast cancer cells. Journal of toxicology and environmental health. Part
A, Washington, v. 67, n. 23-24, p. 2025-2035, Dec. 2004.
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 25

KIM, S. et al. Characterization of air freshener emission: the potential health effects. The
Journal of Toxicological Sciences, Sapporo, v. 40, n. 5, p. 535–550, 2015.
KUMAR, P. et al. Inhalation challenge effects of perfume scent strips in patients with
asthma. Annals of allergy, asthma & immunology: official publication of the American
College of Allergy, Asthma, & Immunology, v. 75, n. 5, p. 429–433, Nov. 1995.
LANIGAN, R. S. YAMARIK, T. A. Final report on the safety assessment of BHT(1). Interna-
tional journal of toxicology, Thousand Oaks, v. 21, sup. 2, p. 19-94, 2002.
LARANJEIRA, M. C. M.; FÁVERE, V. T. Quitosana: biopolímero funcional com potencial
industrial biomédico. Química Nova, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 672-678, 2009. Dispo-
nível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=329>. Acesso em:
23 out. 2018.
LATHA, M. S. et al. Sunscreening Agents: A Review. The Journal of Clinical and Aesthetic
Dermatology, West Chester, v. 6, n. 1, p. 16-26, Jan. 2013. Disponível em: <http://jcadon-
line.com/sunscreening-agents-a-review/>. Acesso em: 23 out. 2018.
LIPIZENČIĆ, J.; PAŠTAR, Z.; MARINOVIĆ-KULIŠIĆ, S. Moisturizers. Acta Dermatovenerologica
Croatica, Zagreb, v. 14, n. 2, p. 104-108, 2006. Disponível em: <http://adc.mef.hr/index.
php/adc/article/view/117/>. Acesso em: 23 out. 2018.
LODÉN, M. et al. A double-blind study comparing the effect of glycerin and urea on
dry, eczematous skin in atopic patients. Acta Dermato-Venereologica, Stockholm, v. 82,
n. 1, p. 45-47, 2002.
LODÉN, M. et al. Instrumental and dermatologist evaluation of the effect of glycerine
and urea on dry skin in atopic dermatitis. Skin research and technology, Copenhagen,
v. 7, n. 4, p. 209-213, Nov. 2001.
McCANN, D. et al. Food additives and hyperactive behaviour in 3 and 8/9 year old
children in the community: a randomised, double-blinded, placebo-controlled trial.
Lancet, London, v. 370, n. 9598, p. 1560-1567, 3-9 Nov. 2007.
MILLQVIST, E.; LÖWHAGEN, O. Placebo-controlled challenges with perfume in
patients with asthma-like symptoms. Allergy, Copenhagen, v. 51, n. 6, p. 434–439,
June 1996.
NODA, T.; YAMANO, T.; SHIMIZU, M. Developmental toxicity of antimicrobial agent,
3-iodo-2- propynyl butylcarbamate, in rats. Seikatsu Eisei, v. 43, n. 1, p. 21-26, 1999. Dis-
ponível em: <https://www.jstage.jst.go.jp/article/seikatsueisei1957/43/1/43_1_21/_pdf/-
-char/en>. Acesso em: 23 out. 2018.
PATHAK, M. A. Photoprotection against harmful effects of Solar UVB and UVA radiation:
an update. In: LOWE, N. J.; SHAATH, N. A.; PATHAK, M. A. Sunscreens: development,
evaluation, and regulatory aspects. 2. ed. New York: Marcel Dekker; 1997. p 59-79.
POP, A.; KISS, B.; LOGHIN, F. Endocrine disrupting effects of butylated hydroxyani-
sole (BHA - E320). Clujul medical, Cluj-Napoca, v. 86, n. 1, p. 16-20, 2013. Disponível
em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4462476/>. Acesso em: 23
out. 2018.
26 Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas

RAFEIRO, D. F. B. Novas estratégias de promoção da permeação transdérmica. 2013. 44


f. Dissertação (Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas)– Escola de Ciências
e Tecnologias da Saúde da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias,
Lisboa, 2013. Disponível em: <http://recil.grupolusofona.pt/xmlui/handle/10437/4376>.
Acesso em: 23 out. 2018.
RASTOGI, S. C.; JOHANSEN, J. D.; BOSSI, R. Selected important fragrance sensitizers in per-
fumes: current exposures. Contact Dermatitis, Copenhagen, v. 56, n. 4, p. 201–204, Apr. 2007.
RAWLINGS, A. V.; HARDING, C. R. Moisturization and skin barrier function. Dermatologic
therapy, Copenhagen, v. 17, supl. 1, p. 43-48, 2004.
RIBEIRO, C. Cosmetologia aplicada a dermoestética. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2010. 460 p.
ROWDHWAL, S. S. S.; CHEN, J. Toxic Effects of Di-2-ethylhexyl Phthalate: An Overview.
BioMed Research International, [s.l.], v. 2018, p. 2018. Disponível em: <https://www.
hindawi.com/journals/bmri/2018/1750368/>. Acesso em: 23 out. 2018.
ROWE, R. C.; SHESKEY, P. J.; QUINN; M. E. (Ed.). Handbook of pharmaceutical excipients.
London: Pharmaceutical Press; Chicago; Washington: American Pharmacists Associa-
tion, 2009. 888 p.
SCHALKA, S.; REIS, V. M. S. Fator de proteção solar: significado e controvérsias. Anais
Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v. 86, n. 3, p. 507-515, 2011.
SCHEMPP, C. M.; SCHÖPF, E.; SIMON, J. C. Plant-induced toxic and allergic dermatitis
(phytodermatitis). Der Hautarzt; Zeitschrift für Dermatologie, Venerologie, und verwandte
Gebiete, Berlin, v. 53, n. 2, p. 93-97, Feb. 2002.
SCIENTIFIC COMMITTEE ON CONSUMER SAFETY; COENRAADS, P. J. Opinion of the
Scientific Committee on Consumer Safety (SCCS) - Opinion on the fragrance ingre-
dients Tagetes minuta and Tagetes patula extracts and essential oils (phototoxicity
only) in cosmetic products. Regulatory toxicology and pharmacology, New York, v. 76,
p. 213-214, Apr. 2016.
SCIENTIFIC COMMITTEE ON COSMETIC PRODUCTS AND NON-FOOD PRODUCTS INTEN-
DED FOR CONSUMERS. Opinion concerning Iodopropynyl butylcarbamate: Colipa nº P91.
Brussels, 2004. 18 p. Disponível em: <http://ec.europa.eu/health/ph_risk/committees/
sccp/documents/out288_en.pdf>. Acesso em: 23 out. 2018.
SEALEY L. A. et al. Environmental factors may contribute to autism development
and male bias: effects of fragrances on developing neurons. Environmental Research,
Amsterdam, v. 142, p. 731–738, Oct. 2015.
SENA, L. C. S. et al. Excipientes farmacêuticos e seu risco à saúde: uma revisão da
literatura. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde, São Paulo, v. 5, n.
4, p. 25-34, out.-dez. 2014. Disponível em: <http://www.sbrafh.org.br/rbfhss/index/
edicoes/vl/5/nr/4/id/621/lg/0>. Acesso em: 23 out. 2018.
SEWERYN, A. Interactions between surfactants and the skin - Theory and practice.
Advances in Colloid and Interface Science, [s.l.], v. 256, p. 242-255, June 2018.
Matérias-primas utilizadas em formulações cosméticas 27

SILVA, H. S. R. C.; SANTOS, K. S. C. R.; FERREIRA, E. I. Quitosana: derivados hidrossolúveis,


aplicações farmacêuticas e avanços. Química Nova, São Paulo, v. 29, n. 4, p. 776-785,
2006. Disponível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=2436>.
Acesso em: 23 out. 2018.
SILVA, V. R. L. Desenvolvimento de formulações cosméticas hidratantes e avaliação da
eficácia por métodos biofísicos. 2009. 182 f. Tese (Doutorado em Fármaco e Medica-
mentos)– Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9139/tde-
29032010-145411/pt-br.php>. Acesso em: 23 out. 2018.
SIMPSON, E. L. et al. Emollient enhancement of the skin barrier from birth offers effective
atopic dermatitis prevention. The Journal of allergy and clinical immunology, St. Louis, v.
134, n. 4, p. 818-823, Oct. 2014. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/
articles/PMC4180007/>. Acesso em: 23 out. 2018.
STEINEMANN, A. Fragranced consumer products: exposures and effects from emissions.
Air Quality, Atmosphere & Health, [s.l.], v. 9, n. 8, p. 861-866, Dec. 2016. Disponível em:
<https://link.springer.com/article/10.1007/s11869-016-0442-z>. Acesso em: 23 out. 2018.
SUNSCREEN reactions. Cancer Council Australia, Sydney, 1 Feb. 2018. Disponível em:
<https://www.cancer.org.au/preventing-cancer/sun-protection/sunscreen-reactions.
html>. Acesso em: 23 out. 2018.
SVEDMAN, C. et al. Follow-up of the monitored levels of preservative sensitivity in
Europe: overview of the years 2001-2008. Contact Dermatitis, Oxford, v. 67, n. 5, p.
312-314, Nov. 2012. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.111
1/j.1600-0536.2012.02140.x>. Acesso em: 23 out. 2018.
TISSERAND, R.; YOUNG, R. Essential oil safety. 2. ed. London: Churchill Livingstone, 2013.
784 p.
ZHANG, J. et al. Preparation of Chitosan Derivative Cosmetic Humectant. CN 98110568,
14 Nov. 1998; CN1253769 A, 24 May 2000. (Patente). Disponível em: <https://patents.
google.com/patent/CN1253769A/en>. Acesso em: 23 out. 2018.

Leituras recomendadas
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Di-
retoria Colegiada – RDC N° 69, de 23 de março de 2016. Dispõe sobre o “REGULAMENTO
TÉCNICO MERCOSUL SOBRE LISTA DE FILTROS ULTRAVIOLETAS PERMITIDOS PARA PRO-
DUTOS DE HIGIENE PESSOAL, COSMÉTICOS E PERFUMES”. Anvisa, Brasília, 2016. Disponível
em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2863150/RDC_69_2016_COMP.
pdf/5689ac91-e621-45b7-a122-b3163e4b3cc3>. Acesso em: 23 out. 2018.
HOPPE, A. C.; PAIS, M. C. N. Avaliação da toxicidade de parabenos em cosméticos.
Revinter: Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, São Paulo, v. 10,
n. 13, p. 49-70, out. 2017. Disponível em: <http://www.revistarevinter.com.br/autores/
index.php/toxicologia/article/view/301>. Acesso em: 23 out. 2018.
Cálculos básicos aplicáveis
na cosmetologia estética
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as unidades empregadas na expressão da concentração


de insumos em cosméticos.
„„ Reconhecer a expressão da concentração de insumos em cosméticos.
„„ Realizar cálculos de diluição e concentração.

Introdução
Neste capítulo, você estudará as principais unidades de medidas utiliza-
das para medir e pesar insumos cosméticos, empregadas na expressão
da sua concentração para compreender o significado das porcentagens
nos rótulos, bem como os cálculos de diluição e concentração que
possibilitam a identificação das quantidades de insumos usadas nos
cosméticos.

Unidades empregadas na expressão da


concentração de insumos em cosméticos

Sistema Internacional de Unidades


O Sistema Internacional de Unidades (SI, do francês Système international
d'unités) é usado para padronizar as unidades de medida, adotando-se uma para
cada grandeza física, que pode ser medida, como velocidade, tempo, massa e
força. Até meados do ano de 1960, em todo mundo, havia vários sistemas de
unidades de medida, com diferentes unidades fundamentais que originavam
2 Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética

inúmeras unidades derivadas. As grandezas força e velocidade, por exemplo,


possuíam cerca de uma dezena de unidades diferentes em uso.
De certa forma, essa grande quantidade de unidades fundamentais atra-
palhava o sistema de medidas, porque elas eram diferentes em cada região.
Devido a essa divergência, a 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas
(CGPM) criou o SI e, em 1971, na 14ª edição, selecionou as unidades bási-
cas: metro, quilograma, segundo, ampere, kelvin, mol e candela, correspon-
dentes, respectivamente, às grandezas fundamentais comprimento, massa,
tempo, intensidade de corrente elétrica, temperatura, quantidade de matéria
e intensidade luminosa (BRASIL, 2013; ANSEL, 2008). Do mesmo modo,
foram estabelecidos seus símbolos, unidades derivadas, unidades suple-
mentares e prefixos. O progresso científico e tecnológico tem possibilitado
a redefinição dos padrões dessas grandezas.
Já o Quadro Geral de Unidades (QGU), para uso no Brasil, baseia-se na 1ª
edição brasileira, elaborada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade
e Tecnologia (Inmetro) em 2012, da tradução autorizada da 8ª edição do SI,
foi publicado pelo Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM) no ano
de 2006 e compreende:

„„ sete unidades de base do SI;


„„ prefixos do SI (múltiplos e submúltiplos decimais das unidades SI);
„„ regras para grafia e pronúncia de nomes, símbolos das unidades e
expressão dos valores das grandezas;
„„ outras unidades não pertencentes ao SI;
„„ tabela geral de unidades de medida.

No Quadro 1, você pode conhecer as sete unidades de base do SI.

Quadro 1. Sete unidades de base do Sistema Internacional de Unidades

Nome da unidade Símbolo da


Grandeza singular (plural) unidade

Comprimento metro (metros) m

Massa kilograma ou quilograma kg


(kilogramas ou quilogramas)

Tempo segundo (segundos) s


(Continua)
Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética 3

(Continuação)

Quadro 1. Sete unidades de base do Sistema Internacional de Unidades

Nome da unidade Símbolo da


Grandeza singular (plural) unidade

Corrente elétrica ampere (amperes) A

Temperatura kelvin (kelvins) K


termodinâmica

Quantidade de substância mol (mols) mol

Intensidade luminosa candela (candelas) cd

Fonte: Brasil (2013).

Quando escritos por extenso, os nomes de unidades começam por letra


minúscula, mesmo quando têm o nome de um cientista, como ampere, kelvin,
newton, etc. O nome da unidade de temperatura grau Celsius, símbolo °C,
não é uma exceção a essa regra, porque a unidade grau se inicia pela letra “g”
minúscula e o adjetivo “Celsius” pela letra “C” maiúscula, por ser um nome
próprio. No entanto, os símbolos das unidades começam com letra maiúscula
quando se trata de nome próprio, por exemplo, ampere, A; kelvin, K; hertz,
Hz; coulomb, C) (BRASIL, 2013).
Nos outros casos, os nomes sempre começam com letra minúscula, por
exemplo, metro, m; segundo, s; mol, mol. O símbolo do litro é uma exceção,
porque se pode usar uma letra minúscula ou maiúscula. Nesse caso, utiliza-se
a maiúscula para evitar confusão entre a letra “ele” minúscula e o número
um (1) (BRASIL, 2013).
A partir das grandezas fundamentais, define-se unidades para as de-
mais, chamadas derivadas. Considera-se unidades derivadas do SI apenas
as que podem ser expressas por meio de suas unidades básicas e sinais de
multiplicação e divisão, assim, há somente uma unidade para cada grandeza.
Contudo, para cada unidade do SI pode haver várias grandezas. O compri-
mento (grandeza fundamental), por exemplo, cuja unidade é o metro, tem
unidades derivadas como área (metro quadrado) e volume (metro cúbico)
(ANSEL, 2008).
4 Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética

Veja a seguir as unidades de medida mais utilizadas no ramo da cosmetologia.

„„ Para sólidos:
■■ kg = quilograma.
■■ g = grama.
■■ mg = miligrama.
■■ µg (mcg) = micrograma.
■■ ng = nanograma.
„„ Para líquidos:
■■ L = litro.
■■ mL = mililitro.
■■ µL = microlitro.

Conversões de unidades
Quanto ao sistema métrico de pesos, tendo como base a unidade fundamental
grama, você deve considerar alguns aspectos.

„„ Múltiplos da unidade grama:


■■ Decigrama (dg) — 1 g = 10 dg.
■■ Centigrama (cg) — 1 g = 100 cg.
■■ Miligrama (mg) — 1 g = 1000 mg.
■■ Micrograma (µg ou mcg) — 1 g = 1.000.000 µg (106).
■■ Nanograma (ng) — 1 g = 1.000.000.000 ng (109).
„„ Submúltiplos da unidade grama:
■■ Decagrama (dag) — 1 g = 0,1 dag.
■■ Hectograma (hg) — 1 g = 0,01 hg.
■■ Quilograma (kg) — 1 g = 0,001 kg.

Cada unidade de massa é 10 vezes maior que a unidade imediatamente


inferior. Assim, para transformar gramas em miligramas, deve-se multiplicar
por 1000 (10 x 10 x 10), conforme exemplificado na Figura 1.
Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética 5

Figura 1. Cálculo para conversão da unidade de massa.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Já no sistema métrico de volume, tendo como base a unidade litro, considera-


-se os seguintes aspectos.

„„ Múltiplos da unidade litro:


■■ Decilitro (dL) — 1 L = 10 dL.
■■ Centilitro (cL) — 1 L = 100 cL.
■■ Mililitro (mL) — 1 L = 1000 mL.
■■ Microlitro (µL) — 1 L = 1.000.000 µl.
„„ Submúltiplos da unidade litro:
■■ Decalitro (daL) — 1 L= 0,1 daL.
■■ Hectolitro (hL) — 1 L = 0,01 hL.
■■ Quilolitro (kL) — 1 L = 0,001 kL.

Cada unidade de volume é 10 vezes maior que a unidade imediatamente


inferior. Assim, para transformar mililitros em litros, você deve dividir por
1000 (10 ÷ 10 ÷ 10), como mostra a Figura 2.

Figura 2. Cálculo para conversão da unidade de volume.


Fonte: Elaborada pelo autor.
6 Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética

Uma observação importante deve ser feita, porque a unidade de volume


litro não é considerada pelo SI a oficial para medir volume ou capacidade,
mas, sim, o metro cúbico (m 3), com o qual se consegue mensurar estruturas
sólidas, já com o litro, mede-se o que é líquido. Como eles medem capaci-
dade, pode-se relacionar o litro (L) a um dos submúltiplos do metro cúbico
(m3), o decímetro cúbico (dm3). Dessa relação, tem-se a seguinte condição
(FERREIRA, 2011):

1 L = 1 dm3
1 mL = 1 cm3
1 µL = 1 mm3

Portanto, saber identificar as unidades e fazer as devidas conversões é


muito necessário para compreender a expressão da concentração dos insumos
cosméticos.

Expressão da concentração de insumos em


cosméticos

Concentração
Em química, a concentração é um indicativo da composição de uma mistura,
geralmente, expressa como a razão entre a quantidade da substância e o volume
da mistura. Portanto, a razão da concentração se trata da relação do soluto
quanto à preparação total e pode ser representada em porcentagem (%).
Pode-se afirmar que a porcentagem é o resultado das frações que possuem
denominadores iguais a 100, por isso, são conhecidas como razões centesi-
mais e representadas pelo símbolo % (SINKO, 2008). Portanto, considera-se
os valores expressos em porcentagem como relativos, conforme mostra o
exemplo a seguir:

20% de 100 g = 20 g, já 20% de 1000 g = 200 g

Porcento significa partes por 100, por exemplo, 3% seria 3 partes em 100
partes totais. Na porcentagem, dois valores estão envolvidos, e as unidades
padrão são gramas (comumente quando se refere às substâncias sólidas) e
mililitros (em geral, se trata de substâncias líquidas). Portanto, 3% significa
3 g ou 3 mL em 100 g ou 100 mL do produto total.
Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética 7

A razão da concentração é expressa em peso/volume (p/v), volume/volume


(v/v) ou peso/peso (p/p):

„„ Porcentagem (p/v) — expressa o número de gramas em 100 mL de


solução.
„„ Porcentagem (v/v) — expressa o número de mL de um constituinte em
100 mL de solução.
„„ Porcentagem (p/p) — expressa o número de gramas de um constituinte
em 100 g de preparação.

Em alguns casos, a unidade do soluto pode ser representada por mili-


gramas e deve ser descrita na relação. Por exemplo, mg% é o número de
miligramas de um constituinte em 100 g ou 100 mL de uma preparação
(FERREIRA, 2011).
Já o soro fisiológico é composto de cloreto de sódio (NaCl) a 0,9% em
água, o qual está no estado sólido e se mensura em gramas, já a água,
medida em volume, se calcula em mL. Nesse caso, a porcentagem deve ser
acompanhada da inscrição p/v — 0,9% p/v. O uso de p/p ou v/v também
pode ocorrer quando o produto for tanto pesado como medido em volume
(FLORENCE, 2011).

É muito comum estar escrito nas prescrições de formulações magistrais as concen-


trações dos ativos e, ao final, “quantidade suficiente para” (q.s.p, do latim quantum
satis para).
Em química, a sigla q.s.p é utilizada quando não se tem uma quantidade definida
de um veículo líquido ou sólido, ou este varia para se completar um determinado
volume ou massa.

Cálculos de diluição e concentração


O profissional de estética e cosmética deve identificar os produtos com base
na sua concentração de ativos para indicar aos seus pacientes. Reconhecer a
diluição de um ativo na forma farmacêutica, seja uma solução, suspensão ou
8 Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética

creme, pode ser necessário para prover a concentração de um produto mais


satisfatório para uso. Por exemplo, uma pessoa com acne e pele oleosa precisa
de um cosmético mais concentrado em relação aos componentes, como os
tensoativos, quando comparado a alguém com pele seca ou mais sensível.
Além disso, durante a prática profissional, há ocasiões em que sua diluição
ou sua concentração para determinado procedimento estético é desejável ou
necessária (ANSEL, 2008).
A diluição de um produto líquido pode ser realizada adicionando o di-
luente, que é selecionado com base em sua compatibilidade com o veículo do
cosmético original — aquoso, alcoólico, hidroalcoólico ou outro. A diluição
de uma forma sólida ou semissólida, como creme ou pomada, também pode
ser feita para alterar sua dose ou concentração, escolhendo-se o diluente
baseado na compatibilidade com a formulação original. Caso uma mistura
com determinada porcentagem ou razão de concentração for diluída em duas
vezes a sua quantidade original, o componente ativo estará contido em duas
vezes mais partes do total e, portanto, sua concentração será reduzida à metade
(FLORENCE, 2011).
A porcentagem ou razão de concentração de um componente na formulação
cosmética é baseada em sua quantidade relativa quanto à total do produto.
Se a quantidade permanecer constante, qualquer mudança na quantidade da
preparação, por diluição ou concentração, altera inversamente a concentração
do componente (ANSEL, 2008; FERREIRA, 2011). Uma equação útil para
tais cálculos é a seguinte:

(1ª concentração) x (1ª quantidade) = (2ª concentração) x (2ª quantidade)


Ou
C1 * Q1 = C2 * Q2

Por exemplo, se 200 mL de uma solução a 30% (v/v) forem diluídas a


350 mL, qual será a concentração percentual (v/v) resultante?

C1 = 30%
Q1 = 200 mL
C2 = ?
Q2 = 350 mL
30 x 200 = C2 x 500 C2 = 12%
Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética 9

A solução final terá uma concentração de 12%.


Veja outro exemplo, 60 g de um creme hidratante contém 10% de ureia.
Se forem adicionados mais 50 g de creme base, qual será a nova concentração
de ureia?

C1 * Q1 = C2 * Q2
C1 = 10%
Q1 = 60 g
C2 = ?
Q2 = 110 g
10 * 60 = C2 * 110 C2 = 6%

Ao adicionar creme base, a quantidade em gramas de ureia não mudou,


mas sua concentração, sim, pois o produto está mais diluído.
A equação C1 * Q1 = C2 * Q2 serve, portanto, para calcular quantidades de
insumo ou concentração de um componente quando se trata do processo de
diluição. Nos casos em que a adição do componente aumenta sua concentra-
ção final, ou apenas se deseja saber a concentração do insumo no produto, a
equação indicada para realizar esses cálculos é a regra de três.

Regra de três (razão e proporção)


Ao ser confrontado com o problema de comparar duas ou mais quantidades, o
procedimento de razão e proporção, conhecido como regra de três, se trata de
um bom método para se utilizar e resolvê-lo. A razão considera os tamanhos
relativos de dois números e é encontrada dividindo-se um número com o qual
está sendo comparado. Com a utilização da razão e proporção, as duas razões
comparadas devem ser escritas na mesma ordem e estar nas mesmas unidades
(FERREIRA, 2011; FREITAS, 2008).
Na Figura 3, você pode ver como se realiza a regra de três.

Parte da total A Total A

Parte do total B Total B


Figura 3. Regra de três.
Fonte: Elaborada pelo autor.
10 Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética

Para montar a fórmula, multiplica-se as diagonais igualando as operações:

Parte do total A X total B = parte do total B X total A

Por exemplo, 60 g de um creme hidratante contém 10 g de ureia, assim,


qual a concentração de ureia em porcentagem nele? Lembre-se que descobrir
a porcentagem é saber a quantidade do insumo em 100 partes do produto —
nesse caso, 100 g de creme —, e não a concentração de ureia na sua diluição,
como mostra o exemplo anterior. Então:

Parte do total A = 10 g de ureia


Total A = 60 g de creme
Parte do total B = ?
Total B = 100 g
10 g de ureia —— 60 g de creme
x de ureia —— 100 g de creme
x * 60 = 10 * 100
x = 10 * 100 x = 16,6%
60

Portanto, essa é a concentração da ureia em 60 g de creme.


Veja outro exemplo, em 100 mL de uma loção tônica adstringente, tem-se
10 mL de extrato glicólico de hamamélis, quantos mililitro do extrato há em
150 mL de uma solução com a mesma concentração?

10 mL —— 100 mL
x —— 150 mL
x = 10 * 150 x = 15 mL
100

Portanto, em 150 mL de uma solução adstringente com a mesma concen-


tração haverá 15 mL do extrato.
Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética 11

Fique atento às unidades quando for realizar os cálculos de diluição ou a regra de


três, pois elas devem ser sempre correspondentes. Por exemplo, se a quantidade
inicial (a primeira quantidade [Q1]) estiver em mililitros, significa que a final (a segunda
quantidade [Q2]) também estará em mililitros.
Ocorre o mesmo na regra de três. Por exemplo, se a unidade da primeira coluna
for em gramas, a unidade correspondente abaixo será em gramas. Caso a segunda
coluna esteja em mililitros, deverá ser mililitros em cima e embaixo.

O correto é g —— mL e não: g —— mL
g —— mL mg —— L

Assista ao vídeo a seguir para conhecer algumas descrições sobre a diluição e quais
as fórmulas mais comuns utilizadas.

https://goo.gl/Vp5NQg

Independentemente da quantidade do produto, a porcentagem passa a ideia de


concentração.
„„ Exemplo 1: uma solução de ácido glicólico a 30% (p/v) significa que há 30 g do
ácido em 100 mL do produto final, ou seja, da solução.
„„ Exemplo 2: uma solução de álcool 70% (v/v) significa que há 70 mL de álcool em
100 mL da solução.
„„ Exemplo 3: uma pomada com 10% de ácido salicílico significa que há 10 g de ácido
salicílico em 100 g de pomada.
12 Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética

1. O ácido mandélico é um alfa- 30 g creme A: ácido kójico 0,6


hidroxiácido (AHA) muito utilizado g; ácido ferúlico 0,6 g; fator de
em peles acneicas devido ao crescimento epidérmico (EGF) 0,3 g;
seu efeito antibacteriano e ácido hialurônico 1,5 g; matrixyl 0,9 g.
cicatrizante. Se um frasco de 200 100 g creme B: ácido kójico 1,5%;
mL de sabonete líquido contiver ácido ferúlico 1,5%; EGF 0,5%; ácido
ácido mandélico a 5% (p/v), qual a hialurônico 3%; matrixyl 2,5%.
quantidade de ácido na fórmula? a) O creme B é o mais indicado
a) 5 g. para a senhora, pois os ativos
b) 5 mL. estão mais concentrados.
c) 2,5 mL. b) O creme B é o mais indicado
d) 10 g. para a cliente jovem, pois os
e) 10 mL. ativos estão mais concentrados.
2. Caso o sabonete da questão anterior c) Uma pele mais madura precisa
seja diluído para 500 mL, o que de uma concentração maior de
acontecerá com a concentração ativos, por isso, o creme A é o
do ácido mandélico na fórmula? mais indicado para a senhora.
a) O ácido mandélico ficará d) Os cremes A e B poderiam ser
mais concentrado, com indicados para as duas clientes,
um efeito mais potente do pois eles apresentam a mesma
sabonete sobre a pele. concentração de ativos.
b) O ácido mandélico ficará mais e) O creme A tem ativos menos
diluído; em vez de 5%, sua nova concentrados, portanto, é o mais
concentração será de 2%. indicado para a pele madura.
c) A nova concentração 4. Você tem na clínica 500 g de um
será de 2,5 g/100 mL. creme redutor de medidas com
d) Se em 200 mL tem 5%, em 5% de cafeína. Como seria possível
500 mL haverá 12,5%. diminuir a concentração de cafeína
e) A nova concentração do para 2% sem inutilizar o produto?
ácido mandélico será de 2%, a) Devem ser adicionados
sendo mais concentrado. 1.250 g de creme base.
3. Você tem duas clientes que b) Devem ser adicionados
precisam de um creme clareador e 500 g de creme base.
redensificador, porém, uma delas c) Devem ser adicionados
é jovem, com poucas manchas e 750 g de creme base.
deseja iniciar um tratamento mais d) Devem ser retirados 750
preventivo, e a outra se trata de mg de creme base.
uma senhora, com a pele bem e) Deve ser retirado 0,750
mais envelhecida, manchada e g de creme base.
flácida. Qual dos cremes a seguir é 5. O mercado dos nanocosméticos
o mais indicado para cada cliente? está em crescimento, os quais
Cálculos básicos aplicáveis na cosmetologia estética 13

são formados por nanopartículas quilogramas, gramas e miligramas.


1.000 vezes menor que o diâmetro Portanto, quantas nanogramas e
do fio de cabelo e apresentam microgramas, respectivamente,
melhor permeação cutânea, com correspondem a 3 g de ativo?
liberação controlada e prolongada a) Correspondem a 3 x 109
de ativos. Alguns exemplos são ng e 3 x 106 µg.
as nanoesferas de vitamina C, os b) 3 g é igual a 3.000 ng e 30.000 µg.
lipossomas de coenzima Q10, o nano c) É preciso dividir 3 por
resveratrol, entre outros. A unidade 100.000.000 para converter.
micrograma também é bastante d) É preciso multiplicar 3 por
utilizada na cosmetologia, porém, 100.000 e 1.000.000.000,
ainda se está mais acostumado respectivamente, para converter.
com as unidades de peso em e) Correspondem a 109 ng e 106 µg.

ANSEL, H. C. Cálculos farmacêuticos. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 451 p.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Instituto Nacional
de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro. Portaria nº 590, de 02 de dezembro
de 2013. Inmetro, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/
legislacao/rtac/pdf/RTAC002050.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2018.
FERREIRA, A. O. Guia prático da farmácia magistral. 4. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2011. 2 v. 1438 p.
FLORENCE, A. T. Princípios físico-químicos em farmácia. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2011. 690 p.
FREITAS, E. A. Regra de três. Brasília: Secretaria de Educação a Distância do Ministério
da Educação, 2008. 28 p. (Matemática, 2). (Apostila do Curso Técnico em Segurança
do Trabalho). Disponível em: <http://redeetec.mec.gov.br/images/stories/pdf/eixo_
amb_saude_seguranca/tec_seguranca/matematica/061112_mat_a02.pdf>. Acesso
em: 30 dez. 2018.
SINKO, P. J. Martin: físico-farmácia e ciências farmacêuticas. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2008. 809 p.

Leitura recomendada
CAMPBELL, J. M.; CAMPBELL, J. B. Matemática de laboratório: aplicações médicas e
biológicas. 3. ed. São Paulo: Roca, 1986. 347 p.
Cosméticos de limpeza
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os tensoativos aniônicos, catiônicos, anfóteros e não iônicos.


„„ Relacionar a presença dos tensoativos ao grau de detergência e aos
riscos de irritação cutânea.
„„ Analisar a composição de sabonetes e xampus relacionada ao grau
de detergência.

Introdução
Neste capítulo, você estudará os tensoativos, principais matérias-primas
dos cosméticos de limpeza, identificando como eles promovem a limpeza
de pele e cabelos. Também estudará a diferença entre os diferentes tipos,
suas características e seus principais usos, sua relação com o grau de
detergência e os riscos de irritação cutânea. Entenderá a identificação
desses componentes em xampus e sabonetes.

Tensoativos
Os tensoativos constituem uma das principais matérias-primas utilizadas em
cosméticos de limpeza e são um tipo de molécula que apresenta características
hidrofílicas e lipofílicas ao mesmo tempo, uma afinidade tanto pela água
como pela gordura, devido à sua estrutura química que possui uma parte
polar ligada a outra com característica apolar. Para representar esse tipo de
molécula, usa-se tradicionalmente a figura de uma barra (que representa a parte
apolar da molécula, portanto, solúvel em hidrocarbonetos, óleos e gorduras)
e um círculo (que representa a parte polar, solúvel em água), como você pode
observar na Figura 1 (DALTIN, 2011).
2 Cosméticos de limpeza

Figura 1. Representação esquemática de uma molécula de tensoativo com suas partes


apolar e polar.
Fonte: Adaptada de Daltin (2011).

Essas características conferem aos tensoativos a capacidade de alterar a


tensão superficial, o que facilita a limpeza de pele e cabelos, e promove o
desenvolvimento de formulações mais estáveis e uniformes, por exemplo,
o preparo de emulsões, que são formas farmacêuticas caracterizadas por
componentes oleosos e aquosos. Além disso, eles apresentam aspectos como
detergência e formação de espuma, sendo matérias-primas indispensáveis
na formulação de cosméticos como sabonetes e xampus (FERREIRA, 2011).
A polaridade é a principal característica a ser considerada quando se escolhe
um tensoativo para uma determinada aplicação. De acordo com a carga elétrica
da região polar, os tensoativos são classificados em quatro tipos, conforme
você pode ver a seguir.

Tensoativos aniônicos
Eles têm este nome, pois quando são dissolvidos em água, a região polar se
dissocia gerando um ânion, por isso, fornecem íons orgânicos carregados
negativamente. Suas propriedades gerais são de boa solubilidade em água,
bom poder de espuma, boa detergência e boa umectância. Comumente, não
possuem compatibilidade com tensoativos catiônicos em virtude da neutrali-
zação de cargas, constituem a maior classe de tensoativos e a mais utilizada
pela indústria em geral, sendo os principais em sabões, sabonetes, xampus e
detergentes. Os sabões são seus representantes mais conhecidos, substituídos
Cosméticos de limpeza 3

pelos tensoativos sintéticos nos xampus. Eles ainda podem ser divididos
nos seguintes grupos: sulfonatos, sulfatos, alquil-sulfosuccinatos, fosfatos e
sarcosinatos (DALTIN, 2011).
Veja alguns exemplos de tensoativos aniônicos: lauril sulfato de sódio,
lauril éter sulfato de sódio, lauril éter sulfosuccinato de sódio, lauril sulfato
de amônio, lauril sarcosinato de sódio, lauril sulfato de trietanolamina, etc.

Tensoativos catiônicos
Em solução aquosa, tensoativos catiônicos se ionizam e fornecem íons or-
gânicos carregados positivamente. Quando se realiza a lavagem dos cabelos
usando-os, toda a sujidade é retirada, mas também todos os tipos de gordura/
ceras que propiciam a lubrificação dos fios, melhoram o brilho e o caimento.
Eles proporcionam condicionamento e são comumente utilizados na composi-
ção de produtos como condicionadores, máscara capilar e cremes para pentear.
Eles têm também propriedades antiestáticas devido à grande quantidade de
cargas positivas espalhadas em suas moléculas, se ligam às cargas negativas
dos cabelos, protegendo-os e tornando-os mais macios, desembaraçados e
fáceis de pentear (COSTA, 2012).
Geralmente, eles não são compatíveis com os tensoativos aniônicos e
constituem uma classe representada por poucos tensoativos, dominada pelos
sais quaternários de amônio. Hoje, somente há disponibilidade no mercado
brasileiro daqueles baseados no nitrogênio quaternário (DALTIN, 2011).
Seu uso em condicionadores inclui o KDMP (cloreto de alquiltrimetil
amônio), que funciona muito bem na reparação de danos dos cabelos; o DSAC
(cloreto de diestearil amônio), que proporciona elevada maciez; e o CTAC (clo-
reto de cetil trimetil amônio), que atua bem em vários tipos de condicionadores.
Os catiônicos apresentam resultados importantes, especialmente quando são
bem combinados com tensoativos presentes nos xampus.
Veja alguns exemplos de tensoativos catiônicos: cloreto de cetrimônio,
cloreto de behentrimônio, metossulfato de behentrimônio e cloreto de este-
ralcônio (FERREIRA, 2011).

Tensoativos não iônicos


Eles possuem grupos hidrofílicos sem carga ligados à cadeia graxa, não ocorre
liberação de íons quando estão em solução aquosa, são compatíveis com
a maioria das matérias-primas por não apresentarem cargas verdadeiras,
geralmente não reagem com tensoativos aniônicos ou catiônicos, podendo
4 Cosméticos de limpeza

ser formulados com qualquer um deles, e constituem a segunda classe mais


utilizada no mercado.
Um dos compostos principais da classe dos tensoativos não iônicos se
trata dos alcanolamidas de ácidos graxos vegetais, que conferem aos xampus
propriedades como sobre-engordurante, espessante, solubilizante de essências
e espumógena, apresentam baixa irritabilidade à pele e aos olhos, mas possuem
baixo poder de espuma e detergência. Devido a esses aspectos, eles são muito
usados em xampus e sabonetes infantis (DALTIN, 2011).
Veja alguns exemplos de tensoativos não iônicos: dietanolamida de ácido
graxo de coco, lauril glicosídeo, decilglucosídeo, etc.

Tensoativos anfóteros
Estes tensoativos fornecem íons orgânicos carregados positiva ou negativa-
mente, dependendo do potencial hidrogeniônico (pH) do meio, comportando-se
como aniônicos ou catiônicos em meio alcalino ou ácido, respectivamente, e
constituem a classe menos utilizada no mercado devido ao alto custo. Em geral,
eles são compatíveis com todas as outras classes e, por terem as duas cargas —
negativa e positiva — na molécula, possuem propriedades de organização com
moléculas de tensoativos aniônico e catiônico que modificam-nas, permitindo
a redução, por exemplo, de sua irritabilidade ocular (FERREIRA, 2011).
Seus tipos que se destacam são as betaínas, entre elas, as derivadas do óleo
de coco. Eles se caracterizam pelo grau de compatibilidade com a pele, reduzem
a irritabilidade dos alquil sulfatados, alquil éter sulfatos e alquil sulfonados,
bem como proporcionam o aumento da viscosidade e a melhor estabilização da
espuma. Por não apresentarem boa detergência, eles não são utilizados como
tensoativo principal em cosméticos de limpeza, mas crescem no segmento de
cosméticos e higiene pessoal como condicionadores (COSTA, 2012).
São exemplos de tensoativos anfóteros: cocoamidopropil betaína, coco-
anfoacetato de sódio, etc.

Grau de detergência e riscos de irritação


cutânea
O grau de detergência, ou de limpeza, dos tensoativos está intimamente relacio-
nado aos riscos de irritação cutânea. Os tensoativos interagem com proteínas
Cosméticos de limpeza 5

e lipídios do estrato córneo (EC) levando às alterações na permeabilidade das


membranas celulares e na estrutura do EC de forma reversível causando um
desarranjo estrutural lipídico, aumentando a permeabilidade da pele (SILVA,
2009; RAFEIRO, 2013).
O EC é a principal barreira natural da pele, conferindo características de
proteção contra agentes físicos, químicos, mecânicos e biológicos. Portanto,
as alterações podem gerar alguns efeitos indesejáveis, tornando a pele mais
suscetível às agressões, além de certo grau de irritação cutânea. A redução da
tensão superficial diminui de modo marcante a capacidade do tecido subcutâneo
reter água ligada à membrana (FERREIRA, 2011).
Uma das principais causas de irritação da pele é o uso de cosméticos para
lavagem do corpo, uma vez que eles estão em contato direto com ela, são
amplamente disponíveis e usados, sendo seu grau diretamente proporcional à
extensão da penetração cutânea. Os componentes responsáveis por isso são os
tensoativos, cujo potencial de irritação se determina pelas suas propriedades
químicas e físicas resultantes da estrutura e das interações específicas com
a pele, pois, ao penetrá-la, eles também têm a capacidade de afetar células
em regiões mais profundas. A penetração adicional pode resultar em danos
às membranas celulares e aos componentes estruturais dos queratinócitos,
liberando mediadores pró-inflamatórios (SEWERYN, 2018).
Entre os tensoativos, os catiônicos são mais irritantes que os aniônicos,
e estes mais que os não iônicos (FERREIRA, 2011). Assim, eles estão entre
as matérias-primas responsáveis por dermatite de contato nos usuários de
produtos de limpeza (GONZÁLEZ-MUÑOZ; CONDE-SALAZAR; VAÑÓ-
-GALVÁN, 2014).
As reações relacionadas aos cosméticos são imediatas ou acumulativas,
como no caso de tensoativos. A irritação pode ser definida como a intolerância
local que se restringe à área de contato direto com o produto, correspondendo
às reações de desconforto menores, como também àquelas mais ou menos
agudas, variando sua intensidade desde ardor, coceira, pinicação até corrosão
e destruição do tecido (CHORILLI; SCARPA; CORRÊA, 2007).
Mesmo tendo um potencial irritativo, os tensoativos são considerados
seguros de acordo com o Cosmetic Ingredient Review (CIR). O único que
apresenta alguma ressalva quanto ao uso é o lauril sulfato de amônio, quando
utilizado em produtos destinados ao contato prolongado com a pele, sendo
que suas concentrações não devem exceder 1% nesse caso (CIR).
6 Cosméticos de limpeza

Fique atento aos nomes dos tensoativos nos rótulos dos cosméticos: eles devem estar
descritos na Nomenclatura Internacional de Ingredientes Cosméticos (INCI):
„„ Lauril sulfato de sódio: sodium lauryl sulfate.
„„ Lauril éter sulfato de sódio: sodium laureth sulfate.
„„ Lauril sulfato de trietanolamina: triethanolamine (TEA) lauryl sulfate.
„„ Dietanolamida de ácido graxo de coco: cocamide diethanolamine (DEA).
„„ Cocoamidopropil betaína: cocamidopropyl betaine.

Detergência e formação de espuma dos


sabonetes e xampus
O sabão é o representante mais conhecido dos aniônicos e considerado o ten-
soativo de limpeza mais antigo e usado ainda nos dias atuais. Seu tensoativo
se forma por meio da reação de saponificação dos óleos pela adição de um
alcalinizante, como hidróxido de sódio ou neutralização dos ácidos graxos
(RIBEIRO, 2010). A gordura animal possui triglicérides que, na presença
da soda cáustica e sob aquecimento, se decompõem em ácidos graxos, neu-
tralizados em uma reação que gera um sal de ácido graxo (o sabão) e água,
conhecida como saponificação (DALTIN, 2011).
Os sabonetes podem ser classificados dependendo do tipo de tensoativo.
Aqueles em barra regulares, por exemplo, são preparados a partir do sabão com
gordura ou óleo de origem animal ou vegetal e costumam apresentar pH mais
alcalino (pH 9–12), o que o torna mais agressivo à pele, quando comparados
aos líquidos ou cremosos. Já os do tipo Combo/Combars (combination bars),
Syndet (syntetic detergent) e glicerinados são feitos com uma mistura de
sabão e tensoativo sintético, associada à sua alcalinidade, a alta detergência
os torna mais irritantes para a pele.
Os sabonetes líquidos, por sua vez, são formulações muito semelhantes ao
xampu, elaboradas a base de tensoativos sintéticos. Uma das suas vantagens,
em comparação aos sabonetes em barra e Combar, é o pH neutro ou levemente
ácido (5–7), próximo ao fisiológico. Pode-se incorporar os mais variados
ativos, como extratos vegetais, proteínas, emolientes, etc. que proporcionam
efeitos adicionais aos da limpeza. Quando estiverem opacificados, eles são
denominados cremosos (RIBEIRO, 2010).
Cosméticos de limpeza 7

Detergência
Detergência é a propriedade de limpar e retirar as sujidades e a gordura de
superfícies sólidas, atribuída aos tensoativos. Na superfície da pele, existem
secreções lipofílicas das glândulas sebáceas, resíduos de poeira, corneócitos,
poluição, cosméticos, entre outras substâncias, e por não terem afinidade com
a água, elas não saem facilmente quando em contato. Os tensoativos facilitam
a retirada, pois diminuem a tensão superficial entre a gordura/sujeira e a água,
permitindo que se misturem e promovam a limpeza (RIBEIRO, 2010).
As moléculas do tensoativo em micelas rapidamente ocupam as superfícies
do óleo e do substrato com a água, esse efeito é amplificado por agitação ou
atrito, o que auxilia na retirada da sujidade dessa superfície. Como resultado do
efeito de detergência, há formação de emulsão de sujidade oleosa em água, que
deve ser estável até o enxágue — uma característica importante do aniônico.
Caso essa emulsão não seja estável, ocorre o efeito de redeposição da sujeira
sobre a superfície que já havia sido limpa (DALTIN, 2011).
Portanto, a boa detergência é determinada pelas seguintes etapas: umec-
tação da sujeira pelo detergente, remoção da sujeira da superfície, dispersão
da sujeira na solução detergente, suspensão da sujeira na solução e prevenção
da reposição sobre a superfície (RIBEIRO, 2010).

Espuma
A formação de espuma decorre do processo de agitação da solução ou mistura
aquosa, importante para que ocorra a solubilização dos tensoativos, a redução
do tamanho das gotículas de óleo, a retirada da sujeira e a distribuição das
micelas por todas as parcelas do líquido, garantindo que a detergência e a
emulsão sejam eficientes. Ela se trata de uma consequência do processo, não
é determinante para a detergência, porém, as pessoas geralmente esperam sua
formação abundante e a associam à limpeza. Em produtos como xampus, ela
tem a função de impedir que o tensoativo seja levado mais rápido pela água
do chuveiro e ajuda a arrastar fisicamente as partículas de sujidades sólidas,
mantendo-as suspensas até o enxágue.
A associação popular de espuma à eficiência de lavagem levou os fabricantes
de tensoativos a construir moléculas que a estabilizassem melhor. Os melhores
deles para sua formação rica e estável são os aniônicos, especialmente os
sulfatados, como o lauril sulfato de sódio.
A redução da tensão superficial também é importante para a formação das
bolhas, porque, em soluções de tensão superficial reduzida, pode-se formar
8 Cosméticos de limpeza

mais delas com a mesma energia de agitação. Os tensoativos aniônicos e


catiônicos, pela própria característica de trazer uma carga verdadeira em sua
parte hidrofílica, sempre apresentam maior retenção de moléculas de água
que os não iônicos — como ela se trata de um dos fatores de estabilização
de espuma, a escolha de um tensoativo de menor espuma recai sobre os não
iônicos (DALTIN, 2011).
No Quadro 1, você pode observar algumas características dos tensoativos
quanto ao grau de detergência, à formação de espuma, à irritabilidade aos
olhos e à agressividade aos cabelos.

Quadro 1. Características dos tensoativos

Irritabilidade Agressividade
Tensoativo Espuma Detergência
aos olhos aos cabelos

Lauril sulfato Boa Alta Alta Alta


de sódio

Lauril sulfato Ótima Alta Regular Regular


de amônia

Lauril sulfato de Ótima Alta Regular Alta


trietanolamina

Lauril sulfato de Ótima Ótima Regular Baixa


monoetanolamina

Lauril éter sulfato Ótima Boa Média Baixa


de sódio

Lauril éter sulfato Ótima Ótima Regular Baixa


de amônia + Lauril
sulfato de amônia

Lauril éter sulfato/ Boa Boa Baixa Baixa


sulfosuccinato
de sódio

Lauril sulfato Boa Boa Média Baixa


de sódio com
perolizantes
Cosméticos de limpeza 9

Para conhecer a nomenclatura INCI de cada ingrediente e sua função, acesse o site do
Cosmetic ingredient database (CosIng), o banco de dados de ingredientes cosméticos
da União Europeia, no link a seguir.

https://goo.gl/38GgV9

As emulsões de limpeza de pele são elaboradas como qualquer outra e têm uma fase
oleosa, uma aquosa e um ou mais tensoativos com propriedades emulsificantes. Em
geral, usa-se para remoção de maquiagem, limpeza diária da face ou em clínicas de
estética para o preparo da pele antes de iniciar algum procedimento estético.
A limpeza promovida por esse tipo de produto pode ser realizada pelos componentes
oleosos (mecanismo de arraste), por tensoativos emulsionante ou sintético suave.
Na Figura 2, você pode ver uma representação da limpeza promovida pelo tensoativo.

Figura 2. Representação esquemática da limpeza promovida pelo tensoativo.


Fonte: Adaptada de Ribeiro (2010).
10 Cosméticos de limpeza

1. O tensoativo é uma molécula compatibilidade com a pele e


anfipática ou anfifílica, o que seu baixo poder de irritação.
significa que ela tem características c) Os tensoativos aniônicos
hidrofílicas e lipolíticas ao são os mais usados,
mesmo tempo. Com base nessa apresentam boa detergência
afirmação, por que o tensoativo e formação de espuma.
é o principal componente dos d) Os tensoativos catiônicos
cosméticos de limpeza? liberam carga positiva em água
a) Porque a região hidrofílica da e apresentam alta detergência.
molécula se liga à sujidade e) Os tensoativos mais usados
da pele e dissolve na água, em produtos infantis
limpando a região. são os catiônicos.
b) Porque ele dissolve a 3. Observe os seguintes tensoativos
gordura e a sujeira. de um sabonete líquido:
c) Porque a região polar se liga à sodium laureth sulfate, cocamide
gordura e sujeira da pele, já a diethanolamine (DEA), decyl
parte apolar se liga à água. glucoside e cocamidopropyl
d) Porque ele diminui a tensão betaine. Pode-se afirmar
superficial entre a gordura/sujeira que esse produto:
e a água, permitindo que elas se a) apresenta tensoativos
misturem e promovam a limpeza. aniônicos e catiônicos.
e) Porque ele aumenta a b) não apresenta tensoativos
tensão superficial entre anfóteros.
a gordura e a água. c) apresenta todas as classes
2. Os tensoativos podem ser de tensoativos.
classificados conforme a carga d) tem mais tensoativos com
elétrica dissociada em água e características de detergência
apresentam algumas características suave e menos irritantes.
diferentes, que determinam seu uso e) tem a maioria dos tensoativos
nos cosméticos. Marque a alternativa de alta detergência e
que corresponde à característica formação de espuma.
dos tensoativos em questão. 4. Os tensoativos apresentam
a) Os tensoativos não iônicos diferentes graus de detergência,
liberam carga negativa em que estão relacionados aos riscos
água e compreendem o grupo de reações cutâneas. Sua cliente
de tensoativos mais usados tem um certo grau de inflamação
nos cosméticos de limpeza. no couro cabeludo e lhe mostra
b) Os tensoativos anfóteros o xampu que tem usado todos
liberam carga positiva em os dias. No rótulo, há a seguinte
água e apresentam alto descrição: xampu antirresíduos,
custo, principalmente por sua usar uma vez por semana. De
Cosméticos de limpeza 11

acordo com as características do baixa detergência e


xampu e a reação cutânea, qual a formação de espuma.
explicação provável? 5. Além dos xampus, os tensoativos
a) A irritação no couro cabeludo estão presentes nos sabonetes
pode ocorrer, pois os tensoativos em barra e líquidos. De acordo
interagem com as proteínas e com o que você estudou,
os lipídeos do estrato córneo, quais as características dos
retirando a oleosidade natural do tensoativos nos sabonetes?
couro cabeludo, o que o deixa a) O sabonete em barra
mais suscetível às irritações. regular é menos agressivo
b) Os tensoativos interagem com à pele que o líquido.
as proteínas e os lipídeos da b) O sabão é o tensoativo mais
camada dérmica, retirando a antigo, formado pela reação
proteção natural da pele. química de ácidos graxos e
c) Os tensoativos catiônicos uma base, o que torna o pH
neste tipo de xampu abrem mais ácido e agressivo à pele.
as cutículas dos cabelos, c) Os sabonetes do tipo Syndet
danificando-as devido à carga apresentam uma combinação
elétrica positiva liberada. de tensoativo natural, o sabão
d) O potencial hidrogeniônico e os tensoativos sintéticos.
(pH) dos tensoativos aniônicos d) Os sabonetes líquidos
agride o couro cabeludo. costumam ter pH mais alcalino.
e) A irritação é decorrente e) O sabão é um tensoativo
do tensoativo com anfótero.

CHORILLI, M.; SCARPA, M. V.; CORRÊA, M. A. Reações adversas a cosméticos. Infarma


— Ciências Farmacêuticas, Brasília, v. 19, n. 11/12, p. 17–22, 2007. Disponível em: <http://
www.revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=405>.
Acesso em: 29 dez. 2018.
COSTA, A. Tratado internacional de cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2012. 744 p.
DALTIN, D. Tensoativos: química, propriedades e aplicações. São Paulo: Blucher, 2011.
330 p.
FERREIRA, A. O. Guia prático da farmácia magistral. 4. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2011. v. 1. 736 p.
12 Cosméticos de limpeza

GONZÁLEZ-MUÑOZ, P.; CONDE-SALAZAR, L.; VAÑÓ-GALVÁN, S. Dermatitis alérgica


de contacto a cosméticos. Actas Dermo-Sifiliográficas, Madrid, v. 105, n. 9, p. 822–832,
nov. 2014.
RAFEIRO, D. F. B. Novas estratégias de promoção da permeação transdérmica. 2013. 44 f.
Dissertação (Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas) — Escola de Ciências e
Tecnologias da Saúde da Universidade Lusófona, Lisboa, 2013. Disponível em: <http://
recil.grupolusofona.pt/handle/10437/4376>. Acesso em: 29 dez. 2018.
RIBEIRO, C. Cosmetologia aplicada a dermoestética. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2010. 460 p.
SEWERYN, A. Interactions between surfactants and the skin: Theory and practice.
Advances in Colloid and Interface Science, Amsterdam, v. 256, p. 242–256, June 2018.
SILVA, V. R. L. Desenvolvimento de formulações cosméticas hidratantes e avaliação da
eficácia por métodos biofísicos. 2009. 182 f. Tese (Doutorado em Produção e Controle
Farmacêuticos) — Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9139/
tde-29032010-145411/pt-br.php>. Acesso em: 29 dez. 2018.

Leituras recomendadas
HOPPE, A. C.; PAIS, M. C. N. Avaliação da toxicidade de parabenos em cosméticos.
Revinter — Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, São Paulo, v. 10,
n. 3, p. 49–70, out. 2017. Disponível em: <http://www.revistarevinter.com.br/autores/
index.php/toxicologia/article/view/301>. Acesso em: 29 dez. 2018.
SAFE as used. Cosmetic Ingredient Review, Washington, July 2018. Disponível em:
<https://www.cir-safety.org/sites/default/files/S-122017revised072018.pdf>. Acesso
em: 29 dez. 2018.
Cosméticos de hidratação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar umectantes higroscópicos e filmógenos.


„„ Identificar e relacionar emolientes de acordo com sua categoria quí-
mica ao grau de untuosidade e comedogenicidade.
„„ Analisar cosméticos hidratantes quanto à eficiência e à indicação ao
tipo de pele.

Introdução
Os hidratantes podem ser classificados de acordo com o mecanismo de
ação de seus componentes: oclusão, umectação ou hidratação ativa.
Os principais compostos são denominados umectantes higroscópicos,
umectantes filmógenos e emolientes.
Neste capítulo, você aprenderá sobre os umectantes higroscópicos
e filmógenos, as diferenças entre seus mecanismos de ação hidratante,
bem como conhecerá alguns exemplos de utilização em produtos. Logo
em seguida, estudará como os emolientes conferem hidratação à pele
e qual a importância de identificá-los em relação ao seu grau de untuo­
sidade e comedogenicidade. Por fim, aprenderá a analisar a eficiência
dos cosméticos a partir da combinação de ativos hidratantes, além de
sua indicação quanto aos diferentes tipos de pele.

Umectantes higroscópicos e filmógenos

Umectantes
São compostos com propriedade higroscópica, ou seja, capacidade de absorver
água. Eles retêm água da formulação e da atmosfera, além de atrair a água
presente na derme. Por meio da ligação molecular com a água, os umectantes
2 Cosméticos de hidratação

a retém na camada córnea e previnem a evaporação. Esses compostos, no


entanto, devem estar associados a compostos oclusivos, pois, caso contrário,
a água pode evaporar para o meio ambiente e, em vez de promoverem a hi-
dratação, podem acelerar a perda transepidermal em até 20%, desidratando
a pele (COSTA, 2012; DOWNIE, 2010).
Dependendo do peso molecular, esses compostos podem permear ou não
a camada córnea, sendo classificados como umectantes higroscópicos (umec-
tantes ativos) ou filmógenos (umectantes superficiais) respectivamente.

Umectantes filmógenos
São aqueles que não permeiam a pele e, portanto, formam um filme hidrofílico
sobre a camada córnea. Tanto a água da formulação como a da atmosfera e da
pele é retida pelo filme, aumentando a retenção de água na superfície cutânea.
Qualquer hidrolisado de proteína, animal ou vegetal, é considerado umectante
filmógeno, por exemplo, a queratina, o colágeno e a elastina (RIBEIRO, 2010).
Polissacarídeos também são umectantes filmógenos. O ácido hialurônico,
por exemplo, é um polissacarídeo natural, principal componente da matriz
extracelular, produzido principalmente por fibroblastos e queratinócitos.
Na camada dérmica, o ácido hialurônico aparece especialmente relacionado
com as microfibrilas de colágeno, fibras colágenas e elásticas. Quando sin-
tetizado pelos queratinócitos, é transferido para o estrato córneo, além disso
está envolvido na estrutura e organização da matriz extracelular e facilita
o transporte de íons e nutrientes e a preservação da hidratação do tecido. A
água na derme vai para a epiderme por meio dos espaços extracelulares, e
a barreira extracelular (rica em lipídeos) impede a fuga da água da camada
granular, fazendo uma reserva adequada e que garante uma hidratação ótima
das camadas da epiderme. Esses processos são cruciais para a manutenção da
hidratação da pele (KIM, 2006). Este ácido hialurônico é muito importante
para manter hidratação natural e o colágeno na pele, o que resulta em uma pele
mais firme, melhor hidratada e mais jovem (GARBUGIO; FERRARI, 2010).
O ácido hialurônico é produzido em sua forma nativa com elevado peso
molecular (> 2.103 kDa), mas também pode ser sintetizado na forma de pequenos
fragmentos. Está presente na maioria dos cosméticos hidratantes, na forma
de hialuronato de sódio, um sal do ácido hialurônico, e as funções exercidas
na pele dependem do peso molecular das diversas formas de hialuronatos de
sódio que existem. As moléculas com alto peso molecular não conseguem
permear, e formam um filme sobre a pele, absorvendo e retendo a água na
superfície da camada córnea (NOBLE, 2002).
Cosméticos de hidratação 3

Já as formas menores de hialuronatos de sódio conseguem penetrar na pele


e chegam até a derme, desempenhando outras funções além da hidratação. O
ácido hialurônico pode influenciar na proliferação, na renovação e na migra-
ção celular, além de agir na angiogênse, na inflamação e na reposta imune
celular, o que o torna um ativo muito importante em cosméticos anti-idade e
hidratantes (STĘPIEŃ; IZDEBSKA; GRZANKA, 2007).
A quitosana é produzida industrialmente a partir da N-desacetilação química
da quitina, um dos polissacarídeos mais abundantes encontrados na natureza,
como em crustáceos, moluscos ou insetos. A propriedade formadora de filme da
quitosana se deve à sua carga global positiva, que interage com tecidos carregados
negativos, como pele e cabelo. Em cosméticos para os cabelos, por exemplo, sua
forma de interação com a queratina dos cabelos proporciona mais brilho que os
polímeros sintéticos e apresenta maior estabilidade em alta umidade, diminuindo
a tendência à adesão e à formação de carga estática, facilitando a escovação e o
penteado (SILVA; SANTOS; FERREIRA, 2006). A quitosana forma um fino
filme que, além de ajudar a manter a oleosidade e a hidratação, protege a pele
de agressões externas (LARANJEIRA; FÁVERE, 2009).
Vários glicóis são usados como umectantes, pois formam pontes de hidro-
gênio com a água. Dependendo do peso molecular, podem ou não permear
a camada córnea. São exemplos de glicóis a glicerina, o propilenoglicol e
polietilenoglicol (PEG).

Umectantes higroscópicos (umectantes ativos)


São compostos que conseguem permear a camada córnea e reter água em
toda a sua extensão. Os principais compostos umectantes higroscópicos ati-
vos fazem parte do fator natural de hidratação (FNH), presente no estrato
córneo. O FNH é formado por um conjunto de substâncias higroscópicas e
hidrossolúveis que compõe a camada córnea e é responsável pela captação
da umidade pela epiderme, mantendo o equilíbrio hídrico entre as camadas
profundas da pele e o meio ambiente. Fazem parte do FNH: ureia, lactato de
sódio, lactato de amônio, ácido 2-pirrolidono-5-carboxilico sódico (PCA-Na),
PEG, aminoácidos, entre outros (KEDE; SABATOVICH, 2009).
O PCA-Na tem alta capacidade de retenção de água em condições de baixa
umidade relativa, apresentando resultado melhor que a glicerina e o sorbitol.
Promove também maior elasticidade da camada córnea (RIBEIRO, 2010).
A ureia é um excelente umectante higroscópico, pois tem alta capacidade
de se ligar à água por inclusão nas estruturas cristalinas da camada córnea,
tornando os corneócitos mais hidratados. A eficácia da ureia aumenta quando
4 Cosméticos de hidratação

associada a outros componentes, como vitaminas e ceramidas. As concen-


trações de uso variam, chegando a no máximo 10% nos cosméticos, porém,
em produtos dermatológicos, essa concentração pode atingir até 40%, o que
confere propriedades queratolíticas à ureia (RIBEIRO, 2010; LIPIZENČIĆ;
PAŠTAR; MARINOVIĆ-KULIŠIĆ, 2006).
A trealose é um dissacarídeo formado por duas moléculas de glicose, que
atua por um mecanismo conhecido como vitrificação, ou seja, as moléculas de
açúcar interagem com sistemas hidrobióticos formando cristais amorfos (cristais
líquidos) impedindo a ruptura e desnaturação de bioestruturas. Na pele, esse
açúcar interage com lipídeos polares, que formam a estrutura lamelar entre os
corneócitos, estabilizando-os, impedindo alterações nessa região e diminuindo
a perda de água através da pele (PEREIRA et al., 2004). No Quadro 1 você
pode observar as concentrações de uso de umectantes em cosméticos.

Quadro 1. Umectantes higroscópicos e filmógenos e concentrações de uso nos cosméticos

Umectantes higroscópicos Concentração usual

PCA-Na 1–5%
Lactato de amônio 1–20%
Ureia 1–20%
Hidroxietil ureia 1–5%

Umectantes filmógenos Concentração usual

Ácido hialurônico ou hialuronato de sódio 0,5–5 %


Colágeno 1–10%
Elastina 1–10%
Glicerina 1–10%
Glicolato de quitosana 0,5–10%
Hidrolisados de proteínas vegetais 0,5–5%
(trigo, arroz, aveia)
Lactose e proteína do soro do leite 3–7%
Glucosaminoglucanas 2–5%
Polietilenoglicol 1–5%
Sorbitol 1–5%

Fonte: Adaptado de Ribeiro (2010).


Cosméticos de hidratação 5

Emolientes
Emolientes são compostos empregados nos cosméticos para proporcionar um
efeito hidratante e uma pele mais suave, macia e flexível. São representados
pelos óleos e, dependendo da sua constituição química, podem ser mais hidro-
fílicos, leves e não pegajosos (p. ex., óleos vegetais) ou mais lipofílicos e mais
oleosos ou untuosos (p. ex., vaselina, lanolina, óleo mineral). Desta forma,
os emolientes são considerados agentes hidratantes, capazes de restaurar o
equilíbrio fisiológico da pele e manter o filme hidrolipídico (RIBEIRO, 2010;
LIPIZENČIĆ; PAŠTAR; MARINOVIĆ-KULIŠIĆ, 2006).
Aqueles com propriedades mais untosas hidratam a pele por meio do
mecanismo de oclusão. Eles formam uma barreira superficial, que evita a
evaporação superficial de água; e um filme graxo, que impede a passagem da
água, ou seja, diminui a sua perda transepidermal, aumentando a hidratação
do estrato córneo (Figura 1) (RIBEIRO, 2010).

Figura 1. Ação oclusiva do emoliente sobre a epiderme evitando a perda de água


transepidermal.
Fonte: Adaptada de How to... (2017).
6 Cosméticos de hidratação

Com essa propriedade, é possível afirmar que eles têm uma ação antide-
sidratante, pois auxiliam na impermeabilização da barreira hidrolipídica, o
que resulta em uma maior quantidade de água retida, hidratação e melhora
da aparência do estrato córneo. Já a presença da umidade no interior dessas
células córneas mantém a elasticidade, a flexibilidade e a maciez da pele
(LIPIZENČIĆ; PAŠTAR; MARINOVIĆ-KULIŠIĆ, 2006). Os principais
representantes dos emolientes oclusivos são: parafina, óleo mineral, lanolina,
colesterol e ceras vegetais, como carnaúba e candelila (SETHI et al., 2016).
Para potencializar o efeito, os emolientes devem ser aplicados na pele após
o banho, pois apreendem a água no estrato córneo (SILVA, 2009).
Muitos emolientes fazem parte do estrato córneo naturalmente, como as
ceramidas, os ácidos graxos livres e o colesterol, e são considerados nutritivos,
pois ajudam a compensar a deficiência lipídica natural da pele e fortalecem
sua estrutura, melhorando a coesão no cimento intercelular. Eles são capazes
de “preencher” as fendas intercorneocíticas, retendo água nesta camada e
evitando a sua perda, bem como alteração da pele. Essa capacidade hidratante
é alcançada graças ao aumento da coesão entre essas células, que aumenta a
capacidade oclusiva natural da camada córnea (COSTA, 2009).
Os óleos vegetais são amplamente empregados em formulações de uso
tópico, pois têm em sua composição ácidos graxos semelhantes aos encontrados
na epiderme. Os ácidos graxos saturados e de cadeia longa, como esteárico,
linoleico, oleico, ácido láurico e álcoois graxos são encontrados naturalmente
nos óleos de palma e de coco (SETHI et al., 2016).
Outros exemplos de óleos vegetais emolientes muito usados em cosméticos
são os de amêndoas, canola e soja.

Grau de untuosidade e comedogenicidade


Quando se trata de compostos oleosos, é relevante lembrar a sua capacidade
comedogênica, que é aquela que tem potencial de formar comedões (cravos). A
comedogenicidade é um processo decorrente da hiperqueratinização causada
pela irritação da unidade pilossebácea, sem processo inflamatório visível
(BRASIL, 2012).

„„ Comedão: “rolha” de queratina e sebo contida em um orifício pilosse-


báceo dilatado, sem sinais inflamatórios. Consiste na lesão primária
da acne.
Cosméticos de hidratação 7

„„ Comedão aberto: também chamado de cravo preto, consiste no comedão


cuja superfície constituída de sebo se escureceu devido à oxidação dos
ácidos graxos em contato com o ar.
„„ Comedão fechado: também chamado de cravo branco, é o comedão
que não tem a superfície oxidada, pois o orifício pilossebáceo ainda
não se encontra tão dilatado.

O conceito de “acne cosmética” foi introduzido em 1972, por Kligman


e Mills Junior, para relacionar a acne feminina de meia-idade com o uso de
formulações cosméticas contendo determinados ingredientes capazes de
produzir comedões (KLIGMAN; MILLS JUNIOR, 1972). A partir disso,
pesquisas foram desenvolvidas para testar a atividade comedogênica de diver-
sas matérias-primas usadas em cosméticos (DRAELOS; DINARDO, 2006).
Fulton Junior (1989) classificou as substâncias quanto ao seu grau de
irritabilidade e comegenicidade em uma escala de 0 a 5, sendo 0 sem efeito
e 5 altamente comedogênico. O Quadro 2 apresenta alguns exemplos de
substâncias testadas e o seu respectivo grau de comedogenicidade.

Quadro 2. Grau de comedogenicidade de emolientes

Substância Comedogenicidade

Lanolina anidra 0 a 1*

Miristato de isopropila 5

Óleo de argan 0

Óleo de cártamo 0

Óleo de calêndula 1

Óleo de rosa mosqueta 1

Óleo de rícino 1

Cera de candelila 1

Cera de carnaúba 1

Óleo de maracujá 1 a 2*

Óleo de castanha do pará 2

(Continua)
8 Cosméticos de hidratação

(Continuação)

Quadro 2. Grau de comedogenicidade de emolientes

Substância Comedogenicidade

Óleo de cereja 2

Óleo de manga 2

Óleo de amêndoas 2

Óleo de damasco 2

Óleo de cânfora 2

Óleo de prímula 2

Óleo de semente de uva 2

Óleo de jojoba 2

Óleo de oliva 2

Óleo de girassol 2

Óleo de abacate 2 a 3*

Óleo de macadâmia 2 a 3*

Óleo de cenoura 3 a 4*

Óleo de coco 4

Óleo de palma 4

Óleo de gérmen de trigo 4 a 5*

Manteiga de cacau 4

Manteiga de karité 0

*O grau pode variar dependendo do fornecedor da matéria-prima.

Fonte: Adaptado de Fulton Junior (1989, p. 324–326).

É importante ressaltar que muitas variáveis podem influenciar o grau de


comedogenicidade, como a concentração e o veículo utilizado no cosmético.
Alguns compostos não são considerados comedogênicos em baixas concen-
trações, porém, em concentrações mais altas, apresentam certo grau de come-
dogenicidade. De acordo com Draelos e DiNardo (2006), é interessante olhar
sempre a embalagem do cosmético para ver se o fabricante faz uma alegação
Cosméticos de hidratação 9

não comedogênica baseada em testes, pois produtos que se apresentam com


algum grau de comedogenicidade não são necessariamente comedogênicos.

A bicamada lipídica da pele possui proteínas chamadas de aquaporinas, que aumentam


a permeabilidade das membranas à água. Apesar do movimento da água pela mem-
brana celular ocorrer diretamente através da bicamada lipídica por difusão simples,
em certas células, a maior parte da osmose é facilitada por esses canais, as aquaporinas
(difusão facilitada). Atualmente, existem 13 tipos conhecidos de aquaporinas em
mamíferos, mas a aquaporina 3 é a principal, pois predomina na pele humana, nos
rins e nos aparelhos respiratório e digestório. Por esses motivos, hoje em dia, muitos
cosméticos apresentam ativos hidratantes que estimulam ou atuam diretamente
sobre as aquaporinas.

Cosméticos hidratantes — eficiência e indicação


ao tipo de pele
A combinação de umectantes higroscópicos, filmógenos e emolientes aumenta
a eficiência do poder de hidratação dos cométicos, pois promove ações com-
plementares para alcançar e manter a hidratação e a função de barreira da
epiderme (KEDE; SABATOVICH, 2009).
Por exemplo, a queratina é capaz de se ligar mais à água na presença de
ureia, do que na sua ausência (RIBEIRO, 2010). Combinados em um mesmo
produto, lipídeos e açúcar com poder umectante, como a trealose, podem
aumentar grandemente a hidratação do estrato córneo. Um estudo verificou
que a capacitância da pele aumentou cerca de 40%, ao passo que a perda
transepidérmica reduziu 15% em duas semanas com o uso dessas substâncias.
Foi constatado também o reparo da barreira cutânea por conta da restauração
dos lipídeos da matriz extracelular, bem como o efeito imediato na hidratação
cutânea (SILVA, 2009).
Os lactatos de amônio e sódio são umectantes higroscópicos com eficiência
superior à glicerina, um umectante superficial. O lactato de amônio a 5%,
quando usado com frequência, confere melhora significativa em peles secas.
O problema do pH pode ser corrigido adicionando à formulação o ácido lático,
que também é higroscópico, formando um tampão, ao ser associado com
10 Cosméticos de hidratação

l­ actatos. O aminoácido arginina, quando associado à ureia, apresenta um efeito


sinérgico, aumentando o conteúdo de água da camada córnea e melhorando,
portanto, a capacidade hidratante da ureia. Além disso, a aplicação tópica
desse aminoácido aumenta a síntese de ureia pelos queratinócitos. Em casos
de dermatite atópica, o uso de arginina a 0,25% aumenta continuamente a
hidratação na camada córnea, melhorando os sintomas clínicos da dermatite.
Arginina é um aminoácido de alta hidrofilia que representa 4% do FNH
(RIBEIRO, 2010).
Uma outra associação essencial nos hidratantes é a combinação dos umec-
tantes com os emolientes oclusivos. Essa associação previne a evaporação
da água para o meio ambiente, o que acelera a perda de água transepidermal
(COSTA, 2012; DOWNIE, 2010).
Como você viu nos tópicos anteriores, existem diversos tipos de umectantes
e emolientes, cada um com suas propriedades e mecanismos de hidratação,
além de características de untuosidade e comedogenicidade. Essas diferenças
são importantes, pois influenciarão na indicação dos produtos, dependendo
do tipo de pele e necessidade de hidratação.
De um modo geral, a pele pode ser classificada em pele eudérmica ou
normal; pele seca ou alípica; pele oleosa e mista.

Pele normal
A pele normal tem textura saudável e aveludada, produzindo gordura em
quantidade adequada, sem excesso de brilho ou ressecamento. Geralmente,
a pele normal apresenta poros pequenos e pouco visíveis. Os processos bio-
lógicos como a queratinização, a descamação, a perda de água, a sudorese e
a secreção de sebo são equilibrados. Portanto, a hidratação também está em
equilíbrio (LOPES et al., 2017).

Pele seca
A perda de água em excesso caracteriza a pele seca, que em geral tem poros
poucos visíveis, pouca luminosidade e é mais propensa à descamação, à ver-
melhidão e ao aparecimento de pequenas linhas e fissuras. A pele seca pode
ser causada por fatores genéticos ou hormonais, como menopausa e problemas
na tireoide e, também, por condições ambientais, como o tempo frio e seco, o
vento e a radiação ultravioleta. Banhos demorados e com água quente podem
provocar ou contribuir para o ressecamento da pele (SBD).
Cosméticos de hidratação 11

A pele seca apresenta um potencial sensibilizante e irritante maior compa-


rado a pele normal e oleosa, portanto, esse tipo de pele requer alguns cuidados
na indicação de um hidratante. Um tratamento efetivo combinará umectantes
com emolientes, além de produtos com pouca detergência (KEDE; SABA-
TOVICH, 2009).
Geralmente, as peles secas estão associadas à menor presença de lipídeos
secretados pela glândula sebácea, portanto, os emolientes são importantes
aliados para esse tipo de pele, pois ajudam a compensar a deficiência lipídica
(COSTA, 2009). Além disso, a restauração da barreira epidérmica por emo-
lientes previne a penetração de irritantes e alérgenos, que poderiam causar
lesões eczematosas. Uma sugestão para esse tipo de pele é o óleo de banho,
que deve ser usado em todo o corpo após o banho com a pele ainda úmida
(KEDE; SABATOVICH, 2009).
O tratamento da pele seca também requer o uso de formulações para a
prevenção e o tratamento do envelhecimento cutâneo. Muitos emolientes
possuem, além da composição de ácidos graxos, vitaminas, oligoelementos
e compostos com atividade antioxidantes, sendo considerados nutritivos e
muito úteis para o tratamento de peles envelhecidas. São exemplos o óleo da
castanha-do-pará, que contém vitaminas A, B e E, bem como o selênio, um
mineral importante com atividade antioxidante (RIBEIRO, 2010).

A xerose cutânea ou pele seca pode ser uma manifestação secundária a outras condi-
ções dermatológicas, como psoríase e dermatite atópica. Apesar dessas manifestações
também serem beneficiadas pelo uso de hidratantes, elas devem ser diagnosticadas
por um profissional habilitado.

Pele oleosa
A pele oleosa apresenta poros dilatados e maior tendência à formação de
acne, comedões e pústulas (espinhas), devido à maior produção de sebo. Por
esse motivo, ela apresenta um aspecto mais brilhante e espesso. São causas
da pele oleosa: herança genética, fatores hormonais, excesso de sol, estresse e
dieta rica em alimentos com alto teor de gordura (TIPOS..., 2017, documento
on-line; ENDLY; MILLER, 2017).
12 Cosméticos de hidratação

As peles oleosas também precisam de hidratação, porém, deve-se evitar


formulações com alto teor de emolientes com características comedogênicas. O
veículo do cosmético deve ser leve, toque seco e de rápida absorção, como gel,
gel-creme, sérum ou emulsão O/A fluida. Além do composto hidratante, ativos
que reduzem o sebo da superfície da pele e proporcionam efeito refrescante
são indicados (KEDE; SABATOVICH, 2009).

No link a seguir você poderá assistir um vídeo sobre os mecanismos de hidratação


da pele, exemplos de ativos e a importância de uma pele bem hidratada para alguns
procedimentos estéticos.

https://goo.gl/qLbLG2

1. Os hidratantes são classificados de a) são umectantes higroscópicos


acordo com o mecanismo de ação e, devido ao seu peso
hidratante dos seus compostos. molecular, formam um
Um hidratante ideal é aquele que: filme sobre a epiderme.
a) apresenta alto teor de b) fazem parte do FNH da pele.
umectantes higroscópicos, ou c) ocluem os poros.
seja, compostos que possuem d) retêm água através do
água na sua estrutura química. mecanismo de vitrificação.
b) possui umectantes e) são umectantes higroscópicos
filmógenos, como a ureia. e permeiam a pele, retendo
c) possui umectantes higroscópicos água em sua extensão.
e filmógenos associados a 3. Um dos objetivos principais dos
compostos oclusivos. hidratantes é evitar a perda de água
d) apresenta emolientes transepidermal. Qual alternativa a
como o colágeno. seguir contempla compostos que
e) apresenta grande apresentam essa característica?
quantidade de água. a) Ureia e PCA-Na.
2. Ureia, lactato de amônio, b) Colágeno e lactato de amônio.
PCA-Na e trealose são ativos c) Ácido hialurônico e PCA-Na.
hidratantes porque: d) Glicerina e lanolina.
Cosméticos de hidratação 13

e) Sorbitol e lactato de sódio. composição graxa e às vitaminas.


4. Os emolientes são representados Porém, podem apresentar alguns
principalmente pelos óleos inconvenientes, principalmente
e também apresentam para quem tem a pele mais oleosa.
propriedade hidratante. Como Em relação a essa afirmação,
esses compostos oleosos são assinale a alternativa correta.
capazes de hidratar a pele? a) Devido ao alto teor de
a) Eles absorvem água da lipídeos, hidratantes contendo
formulação e transferem emolientes são contraindicados
para a epiderme. para peles oleosas.
b) Eles formam um filme oclusivo b) A comedogenicidade
sobre a epiderme que evita a é uma característica de
perda de água transepidermal. todos os emolientes.
c) Por meio da sua característica c) Hidratantes com emolientes
higroscópica. oclusivos são necessariamente
d) Por fazerem parte do cosméticos comedogênicos.
FNH da pele. d) Produtos que apresentam
e) Porque estimulam no rótulo a descrição de não
as aquaporinas. comedogênico podem ser
5. Os emolientes, além da sua ação usados em peles oleosas.
hidratante, são capazes de tornar e) O grau de comedogenicidade
a pele mais macia e flexível é medido pela capacidade do
e são nutritivos, devido à sua composto de irritar a pele.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para ava-
liação de segurança de produtos cosméticos. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012. 71 p. Disponível
em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/106351/107910/Guia+para+Avalia%C3%
A7%C3%A3o+de+Seguran%C3%A7a+de+Produtos+Cosm%C3%A9ticos/ab0c660d-
3a8c-4698-853a-096501c1dc7c>. Acesso em: 4 fev. 2019.
COSTA, A. Hidratação cutânea. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, v. 66, n. especial
dermatologia, p. 15–21, abr. 2009. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas.
asp?fase=r003&id_materia=3999>. Acesso em: 4 fev. 2019.
COSTA, A. Tratado internacional de cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2012. 750 p.
DOWNIE, J. B. Understanding Moisturizers and their Clinical Benefits: Selecting an
appropriate moisturizer depends on the vehicle, skin type, and individual needs of
the patient. Practical Dermatology for Pediatrics, [s.l.], v. 6, n. 10, p. 19–22, Sep.–Oct. 2010.
14 Cosméticos de hidratação

Disponível em: <http://bmctoday.net/practicaldermatologypeds/pdfs/PEDS1010_Pe-


dSkincare.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2019.
DRAELOS, Z. D.; DINARDO, J. C. A re-evaluation of the comedogenicity concept. Journal
of the American Academy of Dermatology, St. Louis, v. 54, n. 3, p. 507–512, Mar. 2006.
Disponível em: <https://www.jaad.org/article/S0190-9622(05)04600-1/fulltext>. Acesso
em: 4 fev. 2019.
ENDLY D. C.; MILLER, R. A. Oily Skin: A Review of Treatment options. Journal of Clinical and
Aesthetic Dermatology, Edgemont, v. 10, n. 8, p. 49–55, Aug. 2017. Disponível em: <http://
jcadonline.com/oily-skin-treatment-options-august2017/>. Acesso em: 4 fev. 2019.
FULTON JUNIOR, J. E. Comedogenicity and irritancy of commonly used ingredients
in skin care products. Journal of the Society of Cosmetic Chemists, n. 40, p. 321–333,
Nov.–Dec. 1989. Disponível em: <http://www.nononsensecosmethic.org/wp-content/
uploads/2013/12/Comedogenicity-and-irritacy-of-commonly-used-ingredients.pdf>.
Acesso em: 4 fev. 2019.
GARBUGIO, A. F.; FERRARI, G. F. Os benefícios do ácido hialurônico no envelhecimento
facial. Uningá Review, Maringá, v. 4, n. 2, p. 25–36, out.–dez. 2010. Disponível em: <http://
revista.uninga.br/index.php/uningareviews/article/view/544/206>. Acesso em: 4 fev.
2019.
HOW TO treat dry and itchy skin. E45 Dermatological, Slough, 2017. Disponível em: <http://
hcp.e45.co.uk/treatment/how-to-treat-dry-and-itchy-skin/>. Acesso em: 4 fev. 2019.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
1054 p.
KIM, S. H. et al. The effects of Musk T on peroxisome proliferator-activated receptor
[PPAR]-α activation, epidermal skin homeostasis and dermal hyaluronic acid synthesis.
Archives of Dermatological Research, Berlin, v. 298, n. 6, p. 273–282, Nov. 2006.
KLIGMAN, A. M.; MILLS JUNIOR, O. H. Acne cosmetica. Archives of Dermatology, Chicago,
v. 106, n. 6, p. 893–897, Dec. 1972.
LARANJEIRA, M. C. M.; FÁVERE, V. T. Quitosana: biopolímero funcional com potencial
industrial biomédico. Química Nova, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 672–678, 2009. Dispo-
nível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=329>. Acesso em:
4 fev. 2019.
LIPIZENČIĆ, J.; PAŠTAR, Z.; MARINOVIĆ-KULIŠIĆ, S. Moisturizers. Acta Dermatovenerologica
Croatica, Zagreb, v. 14, n. 2, p. 104–108, 2006. Disponível em: <http://adc.mef.hr/index.
php/adc/article/view/117/>. Acesso em: 23 out. 2018.
LOPES, F. M. et al. Introdução e fundamentos da estética e cosmética. Porto Alegre: Sagah,
2017. 196 p.
NOBLE, P. W. Hyaluronan and its catabolic products in tissue injury and repair. Matrix
Biology, Stuttgart, v. 21, n. 1, p. 25–29, Jan. 2002.
Cosméticos de hidratação 15

PEREIRA, C. S. et al. Interaction of the disaccharide trehalose with a phospholipid bilayer:


a molecular dynamics study. Biophysical Journal, Cambridge, v. 86, n. 4, p. 2273–2285,
Apr. 2004. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1304077/>.
Acesso em: 4 fev. 2019.
RIBEIRO, C. Cosmetologia aplicada a dermoestética. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2010. 460 p.
SETHI, A. et al. Moisturizers: The Slippery Road. Indian Journal of Dermatology, Mumbai,
v. 61, n. 3, p. 279–287, May–Jun. 2016. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pmc/articles/PMC4885180/>. Acesso em: 4 fev. 2019.
SILVA, H. S. R. C.; SANTOS, K. S. C. R.; FERREIRA, E. I. Quitosana: derivados hidrossolúveis,
aplicações farmacêuticas e avanços. Química Nova, São Paulo, v. 29, n. 4, p. 776–785,
2006. Disponível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=2436>.
Acesso em: 4 fev. 2019.
SILVA, V. R. L. Desenvolvimento de formulações cosméticas hidratantes e avaliação da
eficácia por métodos biofísicos. 2009. 182 f. Tese (Doutorado em Produção e Controle
Farmacêuticos) — Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9139/
tde-29032010-145411/pt-br.php>. Acesso em: 4 fev. 2019.
STĘPIEŃ, A.; IZDEBSKA, M.; GRZANKA, A. The types of cell death, Postępy higieny i me-
dycyny doświadczalnej, Warsaw, v. 61, p. 420–428, July 2007. Disponível em: <https://
phmd.pl/resources/html/article/details?id=6854>. Acesso em: 4 fev. 2019.
TIPOS de pele. Sociedade Brasileira de Dermatologia, Rio de Janeiro, 2017. Disponível
em: <http://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/cuidados/tipos-de-pele/>. Acesso
em: 4 fev. 2019.

Leituras recomendadas
CUIDADOS diários com a pele. Sociedade Brasileira de Dermatologia, Rio de Janeiro,
2017. Disponível em: <http://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/cuidados/>. Acesso
em: 4 fev. 2019.
WEHR, R. F. et al. A controlled comparative efficacy study of 5% ammonium lactate
lotion versus an emollient control lotion in the treatment of moderate xerosis. Journal of
the American Academy of Dermatology, St. Louis, v. 25, n. 5, part. 1, p. 849–851, Nov. 1991.
Cosméticos de massagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar os emolientes empregados em cosméticos e relacioná-los


ao grau de permeação cutânea.
„„ Distinguir os ativos cosméticos anti-inflamatórios, rubefacientes, va-
sotônicos e óleos voláteis.
„„ Identificar os riscos de exposição aguda e crônica aos agentes rube-
facientes e óleos voláteis.

Introdução
A massagem é definida como técnicas específicas que utilizam o toque
de forma rítmica e metódica, comprimindo músculos e tecidos, para
promover benefícios estéticos ou terapêuticos com diferentes finalidades
— a maioria delas usa o toque e as mãos. O tipo geralmente empregado
se trata da modeladora, com movimentos de deslizamento, amassamento
e pressão vigorosos sobre a pele. Já a relaxante promove não somente
o relaxamento, como também uma série de benefícios, que podem ser
mecânicos, químicos, reflexos e psicológicos.
Os cosméticos de massagem são geralmente emulsões, contendo
quantidades suficientes de emolientes, substâncias oleaginosas que
têm a finalidade de formar uma película protetora na superfície da pele,
melhorando a hidratação, a proteção e a maciez, bem como promover a
espalhabilidade do produto e o deslizamento das mãos, evitando o atrito
entre a pele de quem aplica e a de quem recebe a massagem.
Neste capítulo, você estudará a formulação de um produto para
massagem, as principais matérias-primas utilizadas, os princípios ativos
incorporados, seus benefícios e como ocorre a permeação dessas subs-
tâncias através da pele.
2 Cosméticos de massagem

Formulação cosmética e massagem


A principal característica de uma formulação cosmética para uso em massagem
é a elevada concentração de substâncias denominadas emolientes, que têm
como finalidade diminuir o atrito entre a pele de quem aplica e a de quem
recebe a massagem, facilitando o deslizamento das mãos.
Contudo, antes de entender as formulações, é bom rever a estrutura da pele
e as formas de permeação de substâncias ativas através dela. A pele tem como
principal função a proteção do organismo e se divide em epiderme e derme,
separada do restante do corpo pela tela subcutânea, ou hipoderme (Figura 1).

Figura 1. Estrutura da pele.


Fonte: Martini, p. 90, 2009.

Para entender como ocorre a permeação de substâncias através da pele,


deve-se conhecer a estrutura da epiderme, sua camada mais superficial consti-
tuída, por sua vez, de quatro camadas, de baixo para cima, chamadas de basal,
espinhosa, granulosa e córnea. De modo geral, pode-se dividi-la em camada
córnea e epiderme viável (as demais camadas em que as células possuem núcleo).
A córnea, mais externa, está em contato direto com o meio ambiente e protege a
pele da entrada de substâncias nocivas ao organismo e da saída de substâncias
Cosméticos de massagem 3

importantes, como a água. Devido à sua estrutura, composta de corneócitos


(células da camada córnea) altamente queratinizadas e envoltas por bicamadas
de lipídeos, ela é conhecida como barreira cutânea (RIBEIRO, 2010).

Em algumas regiões, como palmares e plantares, há uma quinta camada denominada


lúcida.

Muitas substâncias ativas não conseguem permear de forma efetiva pe-


las demais camadas da epiderme, sendo nessa barreira que se deve intervir
para permitir a permeação das substâncias através da pele. Nesse sentido, as
substâncias precisam ter lipofilia para atravessar a camada córnea, mas serem
suficientemente hidrofílicas para atravessar a epiderme viável e a derme,
possuir baixo peso molecular, não ser irritantes e nem alergênicas (GUIRRO;
GUIRRO, 2004; KEDE; SABATOVITCH, 2004).
O tipo de formulação, bem como a presença de substâncias emolientes e
princípios ativos dependem da finalidade da massagem, a qual pode ser classi-
ficada em quatro tipos (GUIRRO; GUIRRO, 2004; KEDE; SABATOVITCH,
2004; RIBEIRO, 2010).

„„ Massagem relaxante: procedimento utilizado para aliviar a tensão e o


estresse, prevenindo seu agravamento, e pode ser aplicado em crânio,
face e ombros, com movimentos que avançam para outras regiões do
corpo ao longo do tempo.
„„ Massagem terapêutica: procedimento aplicado em condições patoló-
gicas, indo além do relaxamento.
„„ Drenagem linfática: massagem que favorece a eliminação de impurezas
por meio da estimulação do sistema linfático e realiza movimentos
sistemáticos, orientando a linfa pelos vasos linfáticos e reduzindo a
pressão interna.
„„ Massagem modeladora ou redutora: procedimento que usa movimentos
de deslizamento rápidos e vigorosos. Sua formulação deve conter uma
grande quantidade de emolientes para evitar o atrito, pode-se utilizar
também outros ativos, como hiperemiantes, crioterápicos, lipolíticos,
anti-inflamatórios, antiedematosos e os que melhoram a microcirculação.
4 Cosméticos de massagem

Emolientes
As emulsões são sistemas bifásicos formados por dois líquidos imiscíveis,
intimamente dispersos como gotículas por meio de substâncias denominadas
emulsionantes. Essas formulações adquirem viscosidades diferentes, depen-
dendo da concentração do espessante usado e, por isso, se classificam de
acordo com sua consistência em cremes (alta viscosidade), loções cremosas
(média) e leites (baixa). Para a elaboração de cosméticos de massagem, há
mais interesse nos cremes (LEONARDI, 2008; MARTINI, 2009; VANZIN;
CAMARGO, 2011).
Nas formulações de emulsões, há a necessidade de incorporação de subs-
tâncias graxas, ou emolientes, os quais são apolares e, quando aplicados sobre
a pele, provocam suavidade, flexibilidade e amaciamento, diminuindo os sinais
de ressecamento e a coesão entre as células da camada córnea, bem como
auxiliando o estrato córneo a manter sua capacidade de retenção de água na
superfície cutânea. Já as propriedades de um material graxo na pele dependem
de suas características químicas, de acordo com o número de átomos de carbono
em sua cadeia, o número e a localização de duplas ligações e a presença de
grupos funcionais específicos (CORRÊA, 2012; GOMES; DAMAZIO, 2009).
O sensorial dos emolientes é influenciado também pelo tipo de cadeia
carbônica, linear ou ramificada, geralmente as últimas proporcionam sensorial
mais leve. Em relação ao tamanho da cadeia, quanto maior ela for, maior será
a sensação gordurosa (sensorial desagradável e pegajoso). As duplas ligações
na cadeia carbônica dos triglicerídeos permitem que eles permaneçam líquidos
em temperatura ambiente a baixas temperaturas. Quando as duplas ligações
são conjugadas (–C=C-C=C–), o aspecto líquido é mais efetivamente mantido,
porém, sua presença predispõe as substâncias graxas à oxidação e, assim, os
antioxidantes são essenciais em formulações que contêm esses compostos
(CORRÊA, 2012).
As principais classes de substâncias graxas usadas como emolientes são
ácidos graxos, álcoois graxos, ésteres graxos, ceras, hidrocarbonetos e silicones
(REBELLO, 2004; CORRÊA, 2012; SOUZA, 2017).

„„ Ácidos graxos: são formados por meio da ligação de uma série de


átomos de carbono, ligados entre si por ligações simples (saturados) ou
duplas (insaturados). Essa região da molécula é denominada cauda e
composta de uma cadeia hidrocarbonada ligada a um grupo carboxila.
Os ácidos graxos de cadeia curta apresentam de 4 a 6 átomos de carbono;
os de cadeia média, de 6 a 12; e os de cadeia longa, de 16 a 22. Além
Cosméticos de massagem 5

de emoliência, são excelentes agentes de consistência para formulação


(espessantes). Por exemplo, ácido esteárico.
„„ Álcoois graxos: são álcoois graxos alifáticos de cadeia longa e, além
de emoliência, proporcionam viscosidade às emulsões (espessantes).
Por exemplo, álcool cetílico, álcool estearílico, álcool cetoestearílico,
álcool oleílico, álcool behênico, entre outros.
„„ Ésteres graxos: são obtidos por esterificação de um álcool graxo e um
ácido graxo, podem ser líquidos ou sólidos.

Os ésteres graxos podem ser:


„„ Líquidos, produzidos quando o álcool e/ou o ácido são de cadeia curta. Por exem-
plo, miristato de isopropila, isononanoato de cetoestearila, estearato de octila,
entre outros.
„„ Sólidos (ceras), sendo a reação entre um ácido e um álcool de cadeia longa. Por
exemplo, palmitato de cetila, miristato de miristila, monoestearato de glicerila e
ceras naturais, como cera de abelha, carnaúba, espermacete, etc.

„„ Triglicerídeos: são ésteres de glicerol com três ácidos graxos, sendo


os óleos vegetais sua principal fonte, em que esses ácidos que os
compõem variam de acordo com o número de carbonos que apresen-
tam. Por serem extraídos de plantas, têm estrutura complexa, uma
vez que, durante o processo de extração, podem ser obtidos outros
componentes que provocam benefícios à pele, como anti-inflamatórios
e antioxidantes. Por exemplo, óleo de abacate, óleo de amêndoas doces,
óleo de avelã, óleo de andiroba, óleo de calêndula, óleo de gergelim,
óleo de jojoba, óleo de maracujá, óleo de oliva, óleo de prímula, óleo
de semente de uva, etc.
„„ Hidrocarbonetos: são derivados do petróleo e compostos apenas de
átomos de hidrogênio e carbono, com remoção das impurezas que
geralmente fazem parte destes produtos. Por exemplo, óleo mineral,
parafina e isoparafina.
„„ Lanolina: é uma substância graxa extraída da lã do carneiro, apresenta
características únicas e consiste em uma mistura complexa de ésteres,
porção ácida e alcoólica. Por meio de processos industriais, pode-
-se obter diversos derivados dela, com vantagens importantes sobre a
6 Cosméticos de massagem

natural, como lanolina anidra, líquida, álcoois da lanolina e álcoois da


lanolina etoxilado.
„„ Silicones: são constituídos de silício combinado com oxigênio, bem
como polímeros inertes, resistentes às diferentes temperaturas e à
oxidação. Geralmente, eles conferem toque suave à formulação, com
redução da pegajosidade. Por exemplo, ciclometicone, dimeticone,
dimeticonol, trimetilsiloxissilicato, etc.

Um material graxo de baixa massa molecular pode ocasionar uma sensação menos
gordurosa sobre a pele, como o ácido láurico e o mirístico.

Veja como se organizam os componentes básicos de uma formulação cosmética


(LEONARDI, 2008), por meio da fórmula geral de uma emulsão:
„„ Emulsionantes.
„„ Espessantes.
„„ Emolientes.
„„ Água.
„„ Umectantes.
„„ Conservantes (antioxidantes, quelantes e antimicrobianos).
„„ Fragrância (opcional).
„„ Corretores de potencial hidrogeniônico (pH).

Permeação cutânea
A principal barreira que se opõe à entrada de substâncias ativas na pele é a
camada córnea. Devido à composição das membranas celulares em bicamadas
de fosfolipídios, em que suas regiões lipofílicas (capazes de repelir água) ficam
voltadas para o exterior, e a região hidrofílica permanece na parte interna da
Cosméticos de massagem 7

membrana, o percurso de muitos ativos em direção às demais camadas da


pele é dificultado (CHORILLI et al., 2007).
Devido a essa lipofilia da camada córnea, ativos que podem ser incorpo-
rados em carreadores oleosos penetram com mais facilidade nela. Entretanto,
os ativos lipofílicos têm mais dificuldade em penetrar nas demais camadas
da epiderme, porque estas apresentam maior teor de água do que a córnea
(CHORILLI et al., 2007; LEONARDI, 2008; RIBEIRO, 2010).
Com isso, em geral, as substâncias emolientes formam um filme protetor na
camada córnea, conhecido como oclusão, protegendo a pele do ressecamento
por evitar a perda de água transepidérmica através dela. Entretanto, as técnicas
de massagem permitem a permeação cutânea de algumas substâncias ativas,
pois melhoram o fluxo sanguíneo e, associadas ao aumento da temperatura
corporal, facilitam a entrada dos cosméticos na pele (CHORILLI et al., 2007;
LEONARDI, 2008; RIBEIRO, 2010).

A função da barreira é conhecida como seletividade natural da pele, pois permite a


passagem de algumas substâncias através dela (as moléculas pequenas e preferen-
cialmente lipofílicas) e impede a passagem de outras (como as moléculas maiores e
as hidrofílicas) e a perda de água (CHORILLI et al., 2007).

Princípios ativos usados em cosméticos de


massagem
Há muitos princípios ativos usados em formulações cosméticas para massagem
a fim de, principalmente, proporcionar alívio de alguns sintomas, além de
melhorar a hidratação e a textura da pele. Alguns ativos, elencados a seguir,
objetivam também facilitar a permeação de outras substâncias através das
camadas da pele, uma vez que estimulam a circulação sanguínea. Vários
desses princípios são extraídos de plantas e, devido à sua composição química
variada, possuem mais de uma propriedade biológica.

„„ Anti-inflamatórios: a inflamação pode ser provocada por agentes no-


civos ao organismo em tecidos vascularizados, como os microrganis-
8 Cosméticos de massagem

mos. Essas substâncias têm como finalidade reduzir os sintomas da


inflamação (dor, edema, calor e eritema) e impedir possíveis infecções.
Muitos extratos vegetais usados em cosméticos para massagem possuem
propriedades anti-inflamatórias, conforme apresentado no Quadro 1
(GOMES; DAMAZIO, 2009).

Quadro 1. Princípios ativos anti-inflamatórios e vasoatônicos

Princípio Veículos Concentração


ativo Ação usados de uso

Ginkgo Atua na circulação periférica Gel 1–3%


biloba e tem ação antioxidante Loção
e anti-inflamatória Creme

Castanha- Possui propriedades Gel 1–3%


da-índia antiedema e anti-inflamatória, Loção
reduz a permeabilidade capilar Creme

Camomila Apresenta propriedades Gel 5–12 %


calmante, anti-inflamatória, Loção
emoliente, normalizadora Creme
e purificadora da pele

Calêndula Tem ação anti-inflamatória, Gel 2–10%


calmante, cicatrizante Loção
e antisséptica Creme

Centella Atua nos fibroblastos, estimula Gel 2–6%


asiática a síntese de colágeno e atua Loção
na microcirculação periférica Creme

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Gomes e Damazio (2009).

„„ Rubefacientes: ativos que provocam hiperemia local e possuem ação


irritante, aumentando a circulação no local de aplicação, principalmente
por dilatar os capilares sanguíneos, com isso, ajudam a dissipar reações
inflamatórias e aumentam a temperatura corporal. O nicotinato de
metila é um ativo amplamente utilizado e apresenta ação vasodilatadora
em cinco minutos após a aplicação, mantendo seu efeito por até 60
minutos e diminuindo em até duas horas. Quimicamente, trata-se de
um metil éster da niacina usado como ingrediente ativo rubefaciente
Cosméticos de massagem 9

em preparações tópicas. A presença de grupo metila facilita a pene-


tração do nicotinato de metila através da pele, com boa lipofilicidade,
permitindo a rápida absorção após a administração tópica. Promove,
ainda, o aumento da circulação sanguínea e é usado em produtos de
massagem para promover a permeação de ativos na pele (METHYL...,
2017, documento on-line). Durante a penetração tecidual na derme,
o nicotinato de metila é hidrolisado em ácido nicotínico (Quadro 2).

Quadro 2. Características do nicotinato de metila

Princípio Veículos Concentração


ativo Mecanismo de ação usados de uso

Nicotinato Provoca a vasodilatação Gel 0,025–1%


de metila do sangue dos capilares Loção
periféricos, localizados nas Creme
papilas dérmicas das camadas
superiores da derme adjacentes
à junção epiderme-derme. Essa
ação envolve a liberação de
prostaglandina D2, mas é incerto
qual tipo de célula da pele seja
exatamente responsável pela
liberação de prostaglandina)

Fonte: Elaborado pelo autor.

„„ Vasotônicos: ativos que regulam a tonicidade vascular e estimulam


a circulação sanguínea periférica (GOMES; DAMAZIO,2009; LEO-
NARDI; CHORILLI, 2010) (Quadro 1).
„„ Óleos essenciais: compostos voláteis e lipossolúveis, extraídos de diver-
sas partes das plantas aromáticas e usados em massagens terapêuticas
denominadas aromaterapia, bem como no tratamento e na prevenção
de problemas de saúde devido às suas propriedades biológicas. Os dife-
rentes aromas atuam para reestabelecer a energia por meio de estímulos
emocionais, psíquicos e mentais, pois o olfato apresenta conexão com
as emoções, agindo em funções vitais como a sensibilidade, o sono,
a memória, etc. Quando aplicados sobre a pele ou inalados, eles são
absorvidos pela corrente sanguínea e metabolizados no organismo.
10 Cosméticos de massagem

Os óleos escolhidos para serem usados na aromaterapia têm como


finalidade melhorar o bem-estar físico e emocional (HOARE, 2010) e
devem sempre ser diluídos em um carreador, que pode ser um veículo
cosmético (cremes de massagem, loções) ou óleos fixos, conforme
demonstrado na Figura 2. Entre os mais usados, encontram-se o de
lavanda, alecrim e melaleuca (BIZZO; HOVELL; REZENDE, 2009;
HOARE, 2010). No Quadro 3, estão elencados alguns óleos essenciais
e suas propriedades terapêuticas (HOARE, 2010).

Macadâmica

Cártamo Jojoba

Rosa
Borragem
mosqueta

Óleos
Carreadores

Avelã Sésamo

Amêndoas
Uva
doces
Germe
de trigo

Figura 2. Tipos de carreadores usados na aromaterapia.


Fonte: Elaborada pelo autor.
Cosméticos de massagem 11

Quadro 3. Alguns óleos essenciais e suas propriedades terapêuticas

Indicações terapêuticas
Nome botânico Nome popular no sistema nervoso

Boswellia carteri Olíbano Ansiedade, tensão nervosa


e insegurança

Cedrus atlantica Cedro do Atlas Tensão nervosa, ansiedade,


exaustão e estresse

Chamaemelum nobile Camomila Enxaqueca, tensão


nervosa e insônia

Citrus aurantifolia Limão Taiti Fadiga mental, ansiedade


e depressão

Citrus aurantium Néroli Ansiedade, depressão,


var. amara tensão nervosa e síndrome
pré-menstrual

Citrus bergamia Bergamota Ansiedade, depressão,


raiva e estresse

Coriandrum sativum Coentro Enxaqueca, nevralgia e


exaustão nervosa

Foeniculum vulgare Erva-doce Má circulação e celulite

Lavandula angustifolia Lavanda Dores de cabeça, insônia, variação


de humor e tensão nervosa

Melissa officinalis Melissa Tensão nervosa, distúrbios


nervosos, dores de
cabeça e ansiedade

Mentha piperita Hortelã-pimenta Dores de cabeça,


enxaqueca e fadiga

Ocimum basilicum Manjericão Ansiedade, depressão, enxaqueca,


dores de cabeça e tensão nervosa

Pelargonium graveolens Gerânio Tensão nervosa e estresse

Rosmarinus officinalis Alecrim Dores de cabeça, fadiga


mental e exaustão nervosa

Zingiber officinale Gengibre Debilidade, exaustão nervosa e


confusão (estimula a memória)

Fonte: Elaborado pelo autor.


12 Cosméticos de massagem

Riscos dos agentes rubefacientes e óleos


voláteis
Os cosméticos não são isentos de riscos, porque qualquer produto que entre
em contato com a pele pode provocar, principalmente, reações de hiper-
sensibilidade (risco agudo), o que pode ser uma característica intrínseca
ao usuário. Assim, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
elaborou um guia para avaliação da segurança dos produtos cosméticos
para que os fabricantes evitem ao máximo a exposição das pessoas a esses
riscos (BRASIL, 2012).
Contudo, muitas vezes, o risco não está associado ao produto em si, mas,
sim, ao seu uso inadequado e às concentrações utilizadas nas formulações, que
podem levar à exposição crônica (risco crônico). Assim, sempre se estabelece
concentrações mínimas e máximas efetivas, pois ultrapassar as máximas
acarreta em risco para a saúde.
As reações mais comumente observadas na pele, devido ao uso de cos-
méticos, incluem:

„„ Irritação — reações que ocorrem no local de aplicação, acompanhadas


por prurido, ardência, vermelhidão e/ou destruição do tecido.
„„ Sensibilização — reações alérgicas que envolvem mecanismos imu-
nológicos e podem aparecer em local diferente do que foi aplicado o
produto. Sua manifestação é imediata ou tardia.
„„ Efeito sistêmico — reações que ocorrem quando substâncias são ab-
sorvidas pela via transcutânea.

Geralmente, as manifestações observadas na pele são devido à composição


dos ingredientes usados no preparo da formulação e, por isso, o conhecimento
químico de todos os componentes da fórmula é muito útil ao formulador, bem
como a obtenção de informações a respeito da toxicologia dos produtos de
forma individualizada ou em associação com outros componentes.
Em relação aos rubefacientes, sobretudo ao nicotinato de metila, ampla-
mente utilizado nas clínicas de estética, a Câmara Técnica de Cosméticos
(CATEC) da Anvisa, por meio do Parecer Técnico nº. 5, de 23 de agosto de
2005, determina que cosméticos contendo essa substância sejam classifi-
cados como grau 2, realizando-se testes de segurança e eficácia do produto
acabado, pois eles apresentam risco potencial em provocar reações adversas
(BRASIL, 2005).
Cosméticos de massagem 13

Quando os produtos contendo nicotinato de metila forem usados na pele,


deve-se ter alguns cuidados para evitar reações no usuário e no profissional,
por exemplo, realizar o teste de sensibilidade dérmica no cliente (atrás da
orelha ou no antebraço). Como a utilização de luvas na massagem é inviável,
aconselha-se borrifar a solução de nicotinato de metila na pele ao final do
procedimento (BRASIL, 2005; LEONARDI; CHORILLI, 2010).
O interesse por plantas aromáticas com finalidades terapêuticas tem crescido
nos últimos anos, assim, a qualidade e a segurança dos óleos essenciais obtidos
delas devem ser avaliadas. Como as plantas possuem uma variabilidade muito
grande de componentes químicos, para a comercialização desses óleos, segue-se
critérios de qualidade, como nome científico da planta, parte utilizada para
a extração e tipo de composto químico majoritário. O controle de qualidade
previne as possíveis contaminações biológicas e químicas, a prevenção da
degradação dos compostos, a determinação de impurezas e a adulteração de
óleos essenciais com aqueles fixos.
Não se deve esquecer que os óleos essenciais podem provocar reações
adversas e efeitos indesejados. Muitas pessoas acreditam que, por se tratar de
produtos naturais, são isentos de tais reações, porém, sua toxicidade, em geral,
é maior do que a planta que o contém, pois se encontra de forma concentrada.
Além disso, devido à sua elevada lipossolubilidade e ao baixo peso molecular,
eles atravessam as membranas biológicas. Assim, apesar de apresentarem
inúmeros benefícios para a saúde, tornam-se um risco se forem utilizados de
forma incorreta (HOARE, 2010).
Com isso, são estabelecidos critérios para a utilização dos óleos essenciais
na pele, que são constituídos de substâncias concentradas e não devem ser apli-
cados puros na superfície cutânea, pois podem causar irritações e queimaduras.
Assim, precisam sempre ser diluídos em um carreador, para posterior aplicação
na pele. Além disso, recomenda-se fazer o teste de sensibilidade cutânea para
verificar a segurança e se o paciente gosta do aroma (HOARE, 2010).

Saiba mais sobre as informações do nicotinato de metila no site da Anvisa, disponível


no link a seguir.

https://goo.gl/dWJCHJ
14 Cosméticos de massagem

Conheça o conteúdo do “Guia para avaliação de segurança de produtos cosméticos”


da Anvisa no link a seguir.

https://goo.gl/ejq6ul

1. Em relação à permeação através a) Promover a hidratação cutânea.


da pele, os emolientes: b) Atuar como agente
a) atingem a derme, devido de consistência.
à sua lipofilicidade, pois c) Reduzir a hipersensibilidade
apresentam mais afinidade cutânea.
com os lipídios da pele. d) Aumentar a resistência cutânea.
b) atingem a hipoderme e e) Atuar como agente de
são capazes de promover permeação cutânea.
a lipólise e estimular a 3. Você é um profissional que deve
microcirculação sanguínea. escolher um produto cosmético
c) chegam à epiderme viável que que contenha em sua formulação
apresenta sua composição substâncias vasotônicas e anti­-
rica em células, com grande -inflamatórias para ser utilizado
quantidade de proteínas em uma massagem para
envoltas por triglicerídeos. melhorar o quadro de celulite.
d) formam um filme hidrofóbico Qual a formulação correta?
na superfície cutânea e podem a) Formulação 1: miristato de
ficar retidos na camada córnea, miristila e óleo de gerânio.
promovendo a oclusão, b) Formulação 2: óleo de
que é um mecanismo de coentro e álcool cetílico.
hidratação. c) Formulação 3: ginkgo biloba
e) são capazes de ser absorvidos e castanha-da-índia.
pela pele e atingir as camadas d) Formulação 4: óleo de
mais profundas por meio de camomila e ciclometicone.
um processo denominado e) Formulação 5: parafina
difusão percutânea. e óleo de jojoba.
2. Qual o benefício da utilização 4. Sobre a utilização dos
de hiperemiantes em óleos essenciais na pele,
cosméticos? pode-se afirmar que:
Cosméticos de massagem 15

a) podem ser associados aos diferentes óleos


óleos fixos para aumentar essenciais.
o rendimento. 5. Uma formulação cosmética
b) não permeiam a pele, contendo 30% de fase oleosa
pois são óleos. e composta de álcool
c) são muito potentes, cetoestearílico, óleo mineral
podendo causar reações e palmitato de octila
indesejáveis. apresenta:
d) são indicados para pessoas a) sensorial agradável.
com diabetes a fim de b) sensorial gorduroso.
restabelecer o equilíbrio físico. c) sensorial leve.
e) é benéfica qualquer d) sensorial pegajoso.
combinação entre os e) sensorial seco.

BIZZO, H. R.; HOVELL, A. M. C.; REZENDE, C. M. Óleos essenciais no Brasil:


aspectos gerais, desenvolvimento e perspectivas. Química Nova, São Paulo, v. 32, n.
3, p. 588–594, 2009. Disponível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.
asp?id=309>. Acesso em: 17 dez. 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia de segurança de produtos cos-
méticos. 2. ed. Brasília: Anvisa, 2012. 71 p. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/
documents/106351/107910/Guia+para+Avalia%C3%A7%C3%A3o+de+Seguran%C3
%A7a+de+Produtos+Cosm%C3%A9ticos/ab0c660d-3a8c-4698-853a-096501c1dc7c>.
Acesso em: 17 dez. 2018.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Parecer Técnico nº 5, de 23 de agosto
de 2005: avaliação toxicológica do nicotinato de metila. Brasília, 2005. Disponível
em: <http://portal.anvisa.gov.br/informacoes-tecnicas13?p_p_id=101_INSTANCE_
WvKKx2fhdjM2&p_p_col_id=column-2&p_p_col_pos=1&p_p_col_count=2&_101_
INSTANCE_WvKKx2fhdjM2_groupId=106351&_101_INSTANCE_WvKKx2fhdjM2_
urlTitle=publicacao-cosmeticos-parecer-tecnico-n-5-de-23-de-agosto-de-2005&_101_
INSTANCE_WvKKx2fhdjM2_struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_con-
tent&_101_INSTANCE_WvKKx2fhdjM2_assetEntryId=109307&_101_INSTANCE_
WvKKx2fhdjM2_type=content>. Acesso em: 17 dez. 2018.
CHORILLI, M. et al. Aspectos gerais em sistemas transdérmicos de liberação de fármacos.
Revista Brasileira de Farmácia, Rio de Janeiro, v. 88, n. 01, p. 7-13, 2007. Disponível em:
<http://www.rbfarma.org.br/files/PAG07a13_ASPECTOS.pdf>. Acesso em: 17 dez. 2018.
16 Cosméticos de massagem

CORRÊA, M. A. Cosmetologia: ciência e técnica. São Paulo: MedFarma, 2012. 492 p.


GOMES, R. K.; DAMAZIO, M. G. Cosmetologia: descomplicando os princípios ativos. 3.
ed. São Paulo: LMP, 2009. 420 p.
GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos
patologias; 3. ed. Barueri: Manole, 2004. 584 p.
HOARE, J. Guia completo de aromaterapia. São Paulo: Pensamento, 2010. 256 p.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. São Paulo: Atheneu, 2004. 795 p.
LEONARDI, G. R. Cosmetologia aplicada. 2. ed. São Paulo: Santa Isabel, 2008. 230 p.
LEONARDI, G. R.; CHORILLI, M. Celulite: prevenção e tratamento. São Paulo: Pharma-
books, 2010. 140 p.
MARTINI, F. H. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MARTINI, M. C. Tratado de cosmetologia: estética: cosmética. São Paulo: Andrei, 2009.
272 p.
METHYL niconitate. Drug Bank, [s.l.], 6 Sep. 2017. Disponível em: <https://www.drugbank.
ca/drugs/DB13882>. Acesso em 17 dez. 2018.
REBELLO, T. Guia de produtos cosméticos. 9. ed. São Paulo: Senac, 2004. 164 p.
RIBEIRO, C. Cosmetologia aplicada a dermoestética. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2010.
SOUZA, G. B. Formulário farmacêutico magistral. 2. ed. São Paulo: MedFarma, 2017. 1194 p.
VANZIN, S. B.; CAMARGO, C. P. Entendendo cosmecêuticos: diagnósticos & tratamento.
2. ed. São Paulo: Santos, 2011. 412 p.

Leituras recomendadas
MATOS, S. P. Cosmetologia aplicada. São Paulo: Érica, 2014. 148 p. (Série Eixos).
MAXWELL-HUDSON, C. Aromaterapia & massagem. 2. ed. São Paulo: Vitória Régia,
2000. 112 p.
MICHALUN, M. V.; MICHALUN, N. Dicionário de ingredientes para cosmética e cuidados
da pele. São Paulo: Cengage Learning; Senac, 2011. 368 p.
SOARES, M. et al. Permeação cutânea: desafios e oportunidades, Revista de Ciências
Farmacêuticas Básica e Aplicada, Araraquara, v. 36, n. 3, p. 337–348, 2015. Disponível
em: <http://seer.fcfar.unesp.br/rcfba/index.php/rcfba/article/view/332>. Acesso em:
17 dez. 2018.
Cosméticos depilatórios/
epilatórios e pós-depilatórios
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os princípios e os riscos da depilação/epilação química.


„„ Identificar os ativos depilatórios/epilatórios químicos e seus meca-
nismos de ação.
„„ Listar os ativos antissépticos e anti-inflamatórios tópicos de uso cos-
mético pós-depilação/epilação.

Introdução
A depilação/epilação é a retirada dos pelos indesejáveis do corpo por
meio de métodos como a remoção com pinça, lâminas, ceras ou subs-
tâncias químicas, que ocorre por eles serem considerados inestéticos
em algumas regiões e estarem relacionados a uma maior sensação de
bem-estar, higiene e maciez da pele. Porém, o ato de retirar os pelos
pode gerar alguns inconvenientes, principalmente após o procedimento,
porque a pele sofre um trauma sempre que for depilada/epilada, por
exemplo, sensação de ardência, desidratação, vermelhidão, irritação,
inflamação do folículo piloso e, eventualmente, sangramentos — essas
alterações podem ser intrínsecas ao indivíduo, sobretudo naqueles que
apresentam sensibilidade.
Neste capítulo, você estudará as formulações dos depilatórios/epi-
latórios químicos, os princípios ativos que os contêm, a concentração
de uso, o potencial hidrogeniônico (pH), os mecanismos de ação e as
possíveis reações indesejadas, bem como a composição das formulações
pós-depilatórias, imprescindíveis para a recuperação do tecido após
esses procedimentos.
2 Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios

Estrutura e função dos pelos


Os pelos são anexos cutâneos que se originam dos folículos pilosos da derme,
com funções relacionadas à proteção e percepção. Os folículos têm origem
na epiderme por meio de uma invaginação especializada, e em sua base está
localizada a papila dérmica, responsável pelo crescimento do pelo e pela
manutenção do folículo. A retirada do pelo pode causar danos nesse folículo,
porém, se a papila dérmica não for atingida, esta deverá recuperá-lo (COR-
RÊA, 2012). Anexos ao folículo, estão as glândulas sebáceas, as sudoríparas
apócrinas e o músculo eretor do pelo (LEONARDI; SPERS, 2015).
Os pelos são formados pelas células queratinizadas e têm duas regiões, uma
conhecida como parte livre (haste) e uma intradérmica denominada bulbo,
em que se encontram as células germinativas que revestem as papilas, com
estrutura conjuntiva muito vascularizada e inervada. As células germinativas
proliferam-se frequentemente e dão origem à matriz do pelo, da qual emerge
a haste (LEONARDI; SPERS, 2015).
A haste pilar se constituí de três estruturas, de dentro para fora, denomina-
das medula, córtex e cutícula. A medula é a parte mais interna, que se encontra
apenas em pelos maduros; já o córtex se trata da região intermediária, na
qual está depositada a melanina, um pigmento que atribui coloração ao pelo,
composto de uma proteína estrutural chamada queratina. A cutícula, por sua
vez, é a região externa, em contato com o meio ambiente, formada por células
dispostas em escamas (RIBEIRO, 2010).
Os pelos apresentam ciclos de desenvolvimento que se caracterizam pelas
fases anágena (crescimento), catágena (interrupção do crescimento) e telógena
(queda). A primeira fase determina o tamanho do pelo em cada local do corpo
e, quanto maior for a sua duração, maior ele fica (RIBEIRO, 2010; LEONARDI;
SPERS, 2015). Na Figura 1, você pode observar a estrutura do pelo.
Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios 3

Figura 1. Estrutura do pelo.


Fonte: Adaptada de Barks/Shutterstock.com.

Por exemplo, na região das pernas, a fase anágena tem uma duração aproximada de
19 a 26 semanas, já no couro cabeludo, ela dura de 2 a 6 anos.

Para compreender o efeito de depilatórios/epilatórios químicos, deve-se


conhecer a estrutura queratina. Os pelos são compostos de aproximadamente
80% de queratina, uma proteína estrutural que tem formato espiralado (alfa-
-hélice) e é formada por uma grande quantidade de aminoácidos ligados entre
si por meio de ligações peptídicas estáveis e de difícil rompimento — sendo a
cisteína um dos principais aminoácidos que aparece na sua molécula.
Essas ligações na molécula de queratina incluem as de hidrogênio, as
iônicas e as pontes dissulfeto. As ligações dissulfeto são as mais fortes e
estáveis, responsáveis pela resistência da estrutura dos pelos e ocorrem a
partir do aminoácido cisteína, por meio da ligação de dois átomos de enxofre
(LEONARDI, 2008; DELDOTTO et al., 2011). Veja na Figura 2 a estrutura
da queratina.
4 Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios

Figura 2. Estrutura da queratina.


Fonte: Adaptada de molekuul_be/Shutterstock.com.

Depilação versus epilação


A depilação é a retirada temporária ou definitiva dos pelos corporais por
questões estéticas e representa uma forma de higiene pessoal, vaidade e be-
leza. A eliminação desses pelos pode ser realizada por meio de dois tipos de
procedimentos, denominados epilatórios ou depilatórios.

„„ Epilação: é a remoção ou o arrancamento dos pelos, incluindo o bulbo


ou suas papilas. Tem a vantagem de ser mais duradoura, mas se trata
de um procedimento doloroso. Por exemplo, ceras quentes ou frias e
uso de pinças.
„„ Depilação: consiste na retirada superficial do pelo, na qual ele é cortado.
Por exemplo, lâminas, barbeadores, depilação química (MARTINI,
2009; RIBEIRO, 2010).

A depilação química é realizada por meio de substâncias que provocam


a dissolução dos pelos, sendo um método indolor, quando comparado à epi-
lação com cera. Deve-se deixar o produto em contato com o pelo por tempo
suficiente para que ocorra o rompimento das pontes dissulfeto da molécula
da queratina (MARTINI, 2009; PEREIRA; MACHADO; SELORES, 2015).
Porém, ela não pode ser usada em peles irritadas ou com presença de lesões, e
o tempo de aplicação deve ser rigorosamente respeitado para evitar irritações
e reações adversas na pele, removendo-se o produto imediatamente caso isso
ocorra durante o procedimento (RIBEIRO, 2010).
Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios 5

Um aspecto importante a ser observado ao realizar a depilação/epilação


se trata das questões assépticas. É imprescindível adotar métodos de higiene
antes da depilação para prevenir as possíveis contaminações do folículo, o que
pode levar aos quadros de infecção da pele, bem como ter cautela na escolha
do método e dos produtos a fim de evitar queimaduras, hiperpigmentações e
cicatrizes (PEREIRA; MACHADO; SELORES, 2015).

As reações indesejáveis quanto à utilização dos depilatórios químicos ocorrem, prin-


cipalmente, em peles sensíveis. Portanto, deve-se realizar um teste de sensibilidade
dérmica antes do uso, aplicando uma pequena quantidade do produto atrás da orelha
ou do antebraço para evitar os inconvenientes.

Mecanismo de ação dos depilatórios químicos


O ácido tioglicólico e seus sais derivados, como o tioglicolato de cálcio ou
o de sódio, são as substâncias ativas mais empregadas nas formulações de
depilatórios químicos. Ele pode ser usado até a concentração máxima de 5%,
e o pH final do produto deve ficar entre 7 a 12,5 (ABRAHAM et al., 2009).
O ácido tioglicólico tem como mecanismo de ação o rompimento das
ligações dissulfeto da molécula de queratina presentes no pelo, que provoca
o amaciamento deste, podendo ser facilmente removido com uma espátula.
A eficácia do produto depende da sua capacidade de penetrar na cutícula e
atingir o córtex para encontrar a queratina. Assim, os produtos à base de
substâncias químicas retiram superficialmente os pelos e, portanto, são de-
nominados depilatórios.
Entretanto, a concentração e o pH influenciam diretamente na eficácia do
produto, em que quanto mais elevado for o pH da formulação, maior é sua
eficácia. Portanto, se ambos forem muito altos, podem lesar o tecido e causar
as reações cutâneas indesejáveis, como queimaduras, eritema e irritação.
Assim, o ácido tioglicólico pode ser usado com pH mais baixo, sendo menos
irritante para a pele do que seus derivados. Devido ao potencial irritante
desses produtos, eles não são muito utilizados na prática, mas por serem um
procedimento menos dolorido, usa-se mais amplamente na face, porque os
6 Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios

métodos epilatórios, como as ceras, se tornaram inapropriados para essa região


(ABRAHAM et al., 2009; HALAL, 2012).

Princípios ativos pós-depilatórios


Independentemente do método depilatório/epilatório utilizado, as alterações na
superfície da pele podem ocorrer em maior ou menor grau. Entre os inconve-
nientes da remoção de pelos, destacam-se desidratação ocasionada por danos na
barreira cutânea, prurido, vermelhidão, descamação, sangramento, inflamação
e, eventualmente, infecções. Essas condições aumentam a permeabilidade e
a perda de água transepidermal (RIBEIRO, 2010). Portanto, é imprescindível
utilizar cosméticos pós-depilatórios que recuperem a função de barreira da
pele para que outras alterações não ocorram, como as infecções. Já os ativos
cicatrizantes e que estimulam a regeneração do tecido também podem fazer
parte dessas formulações (COSTA, 2012).
Entre as principais complicações pós-depilatórias, há os processos in-
flamatórios e infecciosos. Por isso, as substâncias ativas antissépticas e
anti-inflamatórias são importantes em cosméticos para a manutenção das
características normais da pele. Esses produtos podem ser aplicados antes do
procedimento para fazer a assepsia da pele e após a depilação, a fim de retirar
resíduos do produto depilatório que eventualmente possam ficar na superfície
(TEDESCO et al., 2014). Como anti-inflamatórios, usa-se os extratos vegetais
com essas características, principalmente os ricos em flavonoides. Eles também
têm efeito antioxidante, pois espécies reativas de oxigênio podem aumentar
os processos inflamatórios, por exemplo, os extratos de calêndula, camomila,
própolis, as vitaminas C e E, etc. Entre as substâncias extraídas de plantas
com a função de limitar a inflamação, tem-se bisabolol, matricina, azuleno,
glicirrizina, curcumina, entre outros (GOMES; DAMAZIO, 2009).
A eventual presença de infecção consiste em uma complicação pós-de-
pilação e deve ser prevenida e/ou tratada. Os ativos que atuam como anti-
-inflamatório tem a função de preveni-la, por exemplo, camomila, calêndula,
própolis e óleo de copaíba. Além desses extratos, os óleos essenciais são
conhecidos pelo seu potencial efeito bactericida, como melaleuca, alecrim e
mirtilo. Um ativo antisséptico que pode ser usado no pré e no pós-depilatório
é o triclosan, com atividade bacteriostática e que impede o crescimento dos
microrganismos. No Quadro 1, você pode ver os principais antissépticos e
anti-inflamatórios utilizados em cosméticos pós-depilatórios (NOVACOSK;
TORRES, 2006; GOMES; DAMAZIO, 2009; TEDESCO et al., 2014).
Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios 7

Já um ativo de destaque após a depilação é o mentol, que, quando em


contato com a pele, proporciona uma sensação de refrescância e propicia um
alívio imediato (BRASIL, 2005).

Os ativos (vitaminas A, F e D-pantenol, etc.) e os óleos vegetais (p. ex., rosa mosqueta)
atuam como hidratantes e regeneradores de tecido, protegendo da desidratação,
porque recuperam a função de barreira da pele.

Quadro 1. Ativos cosméticos antissépticos e anti-inflamatórios

Veículos Concentração
Princípio ativo Mecanismo de ação usados de uso (%)

Alantoína Cicatrizante, hidratante, Gel 1–5


umectante, calmante e Loção
regenerador tecidual Creme
Azuleno Anti-inflamatório Gel 0,025–1
e cicatrizante Loção
Creme
Alfa-bisabolol Anti-inflamatório, Gel 0,05–0,2
descongestionante, Loção
antibacteriano, Creme
antisséptico, anti-irritante,
calmante e cicatrizante
Extrato de Anti-inflamatório, Gel 5–10
calêndula antisséptico, bactericida Loção
e cicatrizante Creme
Extrato de Anti-inflamatório, Gel 5–12
camomila antialérgico, calmante, Loção
descongestionante Creme
e refrescante
Extrato de Cicatrizante, anti- Gel Até 10
própolis -inflamatório, anti-irritante, Loção
bactericida, protetor e Creme
regenerador tecidual
(Continua)
8 Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios

(Continuação)

Quadro 1. Ativos cosméticos antissépticos e anti-inflamatórios

Veículos Concentração
Princípio ativo Mecanismo de ação usados de uso (%)

Extrato de Anti-inflamatório, Gel 5–10


chá verde antisséptico, bactericida Loção
e antioxidante Creme

Extrato de mirtilo Antioxidante e Gel 0,5–1


anti-irritante Loção
Creme

Óleo essencial Antisséptico, bactericida, Gel 0,5–5


de melaleuca analgésico e cicatrizante Loção
microencapsulado Creme

Triclosan Antisséptico e Gel 1–5


bacteriostático Loção
Creme
Sabonete
líquido

Mentol Refrescante Gel Até 1


Loção
Creme

Fonte: Adaptado de Gomes e Damazio (2009).

Saiba mais informações sobre o triclosan no site Cosmética em foco, disponível no


link a seguir.

https://goo.gl/oKhV72
Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios 9

1. A retirada do pelo por métodos e) à delipidação cutânea.


químicos envolve interações entre 3. O ácido tioglicólico é uma
as moléculas das substâncias e substância química utilizada
aquelas presentes nas estruturas em produtos depilatórios,
internas desse anexo cutâneo, bem principalmente na forma de
como propiciam o amaciamento emulsões cremosas e, ao entrar
do pelo, o que facilita sua retirada. em contato com o pelo durante
Portanto, as reações químicas que um determinado tempo, permite
envolvem esse processo ocorrem: sua retirada de forma fácil e sem
a) na medula, pois é composta dor. Contudo, há a interação
de aminoácidos que fazem do produto com estruturas da
pontes de hidrogênio entre si. pele, o que pode gerar alguns
b) no folículo piloso, pois alteram inconvenientes. Escolha a
a fase anágena do ciclo capilar. alternativa que corresponde a
c) no córtex, pois é rico em um efeito adverso desse ácido
queratina, molécula proteica em depilatórios químicos.
que atribui resistência ao pelo. a) Flacidez.
d) na cutícula, que fica mais b) Pápulas.
exposta, facilitando a entrada c) Edema.
de substâncias químicas. d) Cistos.
e) nas papilas dérmicas do e) Queimadura.
folículo, pois origina o pelo. 4. Todo processo depilatório, usado
2. O uso de substâncias químicas para tornar algumas regiões do
na pele interfere em maior ou corpo mais estéticas, ocasiona
menor grau nas camadas cutâneas. algum tipo de desconforto na
Devido à sua composição química, pele após o procedimento,
algumas têm a propriedade de danificando-a. O dano provocado
interagir com a camada córnea, pode se tornar uma porta de
a mais superficial da epiderme e entrada para alguns microrganismos
a primeira que entra em contato que geram infecções. Nesse
com os produtos. Os agentes contexto, é muito importante usar
depilatórios químicos são cosméticos pós-depilatórios que
substâncias que possuem essa reduzam os processos inflamatórios
propriedade. As alterações na pele e evitem possíveis infecções
após a depilação ocorrem devido: cutâneas. Em relação a esse tema,
a) ao aumento da perda de escolha a alternativa que contenha,
água transepidermal. respectivamente, uma substância
b) à diminuição da queratinização. anti-inflamatória e uma antisséptica
c) ao aumento da epitelização. para o uso em pós-depilatórios.
d) ao aumento da temperatura. a) Alantoína e alfa-bisabolol.
10 Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios

b) Mentol e azuleno. dos ativos cosméticos para


c) Extrato de própolis e escolher o produto correto. Em
extrato de camomila. uma formulação pós-depilatória
d) Extrato de calêndula e óleo contendo mentol e azuleno,
essencial de melaleuca. quais as principais funções
e) Triclosan e mentol. desses ativos cosméticos?
5. Após a depilação, a) Refrescante, anti-inflamatório
independentemente do método e cicatrizante.
usado, em geral, a pele fica b) Regenerador tecidual,
irritada, vermelha e com sensação hidratante e emoliente.
de ardor. Esses efeitos podem c) Refrescante, descongestionante
ser minimizados com o uso e bactericida.
de produtos pós-depilatórios d) Anti-irritante, antialérgico
adequados, por isso, é importante e anti-inflamatório.
que o profissional esteticista e) Antisséptico, hidratante
reconheça as diferentes funções e calmante.

ABRAHAM, L. S. et al. Tratamentos estéticos e cuidados dos cabelos: uma visão médica
(parte 2). Surgical & Cosmetic Dermatology, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4, p. 178–185, 2009.
Disponível em: <http://www.surgicalcosmetic.org.br/detalhe-artigo/40/Tratamentos-
-esteticos-e-cuidados-dos-cabelos--uma-visao-medica--parte-2->. Acesso em: 5 fev.
2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Câmara Téc-
nica de Cosméticos. Parecer Técnico nº 8, de 1º de novembro de 2005 (atualizado
em 26/7/2006). Anvisa, Brasília, 2006. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/
resultado-de-busca?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_
mo de =view&p_ p_col _ id= column -1&p_ p_col _count=1& _101_ s trut s _
action=%2Fasset_publisher%2Fview_content&_101_assetEntryId=109197&_101_
type=content&_101_groupId=106351>. Acesso em: 5 fev. 2019.
CORRÊA, M. A. Cosmetologia: ciência e técnica. São Paulo: Medfarma, 2012. 492 p.
COSTA, A. Tratado internacional de cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2012. p. 600–615.
DELDOTTO, L. et al. Proteína hidrolisada de quinoa no tratamento de cabelos quimi-
camente danificados. Cosmetic & Toiletries, São Paulo, v. 23, p. 36–40, 2011.
GOMES, R. K.; DAMAZIO, M. G. Cosmetologia: descomplicando os princípios ativos. 3.
ed. São Paulo: LMP, 2009. 368 p.
Cosméticos depilatórios/epilatórios e pós-depilatórios 11

HALAL, J. Tricologia e a química cosmética capilar. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning,
2012. 320 p.
LEONARDI, G. R. Cosmetologia aplicada. 2. ed. São Paulo: Santa Isabel, 2008. 230 p.
LEONARDI, G. R.; SPERS, V. R. E. Cosmetologia e empreendorismo: perspectivas para a
criação de novos negócios. São Paulo: Pharmabooks, 2015. 568 p.
MARTINI, M. C. Tratado de cosmetologia: estética — cosmética. São Paulo: Andrei,
2009. 272 p.
NOVACOSK, R.; TORRES, R. S. L. A. Atividade Antimicrobiana sinérgica entre óleos
essenciais de lavanda (Lavandula officinalis), Melalauca (Melaleuca alternifólia), Cedro
(Juniperus virginiana), Tomilho (Thymus vulgaris) e Cravo (Eugenia caryophyllata).
Revista Analytica, São Paulo, n. 21, p. 36–39. 2006.
PEREIRA, S.; MACHADO, S.; SELORES, M. Remoção do pelo na adolescência. Nascer e
Crescer, Porto, v. 24, n. 2, p. 70–74, jun. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.mec.
pt/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0872-07542015000300004&lng=pt&nrm=
iso>. Acesso em: 5 fev. 2019.
RIBEIRO, C. Cosmetologia aplicada a dermoestética. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks,
2010. 460 p.
TEDESCO, L. et al. Avaliação antibacteriana do extrato de melaleuca (Melaleuca alterni-
fólia) frente à cepa de Staphylococcus aureus. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR,
Umuarama, v. 18, n. 2, p. 89–94, 2014. Disponível em: <http://revistas.unipar.br/index.
php/saude/article/view/5172>. Acesso em: 5 fev. 2019.

Leituras recomendadas
AVRAN, R. M. et al. Atlas colorido de dermatologia estética. Rio de Janeiro: McGraw Hill,
2009. 277 p.
BORGES, F. S. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2. ed. São Paulo: Phorte,
2010. 680 p.
GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos patologias.
3. ed. Barueri: Manole, 2003. 584 p.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
1054 p.
PROCEDIMENTOS
EM ESTÉTICA
FACIAL

Débora Rosa Calza


Avaliação e procedimentos
aplicados à estética facial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever as características faciais fisiológicas.


 Diferenciar as alterações funcionais relacionadas ao envelhecimento
facial intrínseco e extrínseco.
 Listar os procedimentos manuais, produtos e recursos eletroestéticos
aplicados à estética facial.

Introdução
As propriedades físico-químicas da pele são de grande importância
para o profissional desenvolver seu trabalho. Nesse sentido, não se
deve visualizar a pele como uma unidade anatômica e histológica
simplesmente, mas, sim, a partir da compreensão de que ela está em
constante e ininterrupta alteração de acordo com os fatores internos e
externos de cada indivíduo.
Neste capítulo, você vai conhecer as características individuais e as
alterações que o envelhecimento acarreta na pele, assim como as técnicas
e os procedimentos utilizados no tratamento das alterações inestéticas
faciais.
2 Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial

1 Características fisiológicas faciais


Desde o nascimento, ocorrem constantemente modificações fisiológicas na
pele que são influenciadas pela predisposição genética, pelo ambiente em que o
indivíduo está inserido e pelos hábitos de vida — a soma dessas variáveis molda
as características faciais de cada pessoa (HARRIS, 2017). Fisiologicamente, a
pele já apresenta meios de barreira e defesa, pois é revestida por um cosmético
natural, uma emulsão que é composta basicamente pelo sebo e pela sudorese. Esse
cosmético natural da pele é conhecido como FNH (fator natural de hidratação)
e tem a função de lubrificar o tecido, conferir proteção e promover a hidratação
pela retenção de água na camada córnea (KEDE; SABATOVICH, 2004).
A quantidade de secreção sebácea produzida é determinada por diversos
fatores: genética, condições climáticas, alterações hormonais, aspectos emocio-
nais, alimentação, uso de medicamentos, entre outros. Veja, a seguir, os quatro
principais tipos de pele que existem e que estão relacionados diretamente com
a produção sebácea, que confere características específicas e predisposição a
alterações cutâneas (HARRIS, 2017).

 Eudérmica: popularmente conhecida como pele normal, com secreção


sebácea equilibrada. Possui características de textura lisa e suave, com
os orifícios pilossebáceos pouco visíveis.
 Lipídica: popularmente conhecida como pele oleosa, produz alto nível
de secreção sebácea (Figura 1). Por isso, esse tipo de pele tem aspecto
brilhoso, principalmente na região da zona T (testa, nariz e queixo).
Os orifícios pilossebáceos são dilatados, com tendência à formação de
comedões e acne, e a espessura aumentada, pois a oleosidade dificulta
o desprendimento natural das células da camada córnea.
 Alípica (alipídica): popularmente conhecida como pele seca, a produ-
ção de sebo é reduzida e, por isso, sua espessura sua espessura é fina,
podendo apresentar descamação. Esse tipo de pele apresenta mais sen-
sibilidade, com presença de linhas finas e poros praticamente invisíveis.
 Combinada ou mista: é o tipo mais comum de pele, com variação de produ-
ção de oleosidade em diferentes áreas da face. É predominantemente oleosa
na zona T (testa, nariz e queixo), enquanto nas demais regiões tem aspecto
normal ou seco (IFOULD; FORSYTHE-CONROY; WHITTAKER, 2015).
Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial 3

Figura 1. Pele oleosa versus pele normal.


Fonte: Vladimir Gjorgiev/Shutterstock.com.

Oleosidade versus hidratação


É muito comum que ocorra uma confusa relação entre pele hidratada com
pele oleosa. Quando nos referimos à hidratação, falamos de água, e não de
oleosidade. A capacidade do estrato córneo em conseguir reter a água na
pele é um dos fatores responsáveis pela sua hidratação (KEDE; SABATO-
VICH, 2004).
A pele é a interface entre o meio externo e interno, estando constantemente
em troca com o meio ambiente. Quando exposta a climas e ambientes com
baixa umidade, a tendência é que a pele perca água para esse tipo de ambiente,
tornando-se desidratada (KEDE; SABATOVICH, 2004). Por isso, a produção
de secreção sebácea também ajuda a manter sua hidratação, pois a oleosidade
forma um filme que evita que o ambiente externo e suas condições climáticas
desidratem a pele (HARRIS, 2017).
Assim, a pele alípica fica propensa a desidratação por não produzir secreção
sebácea suficiente. No entanto, isso não garante que a pele oleosa seja hidra-
tada, pois outro fator que contribui para a hidratação da pele é a quantidade
de ingestão diária de água — deve-se ter consciência de que o organismo,
assim como a pele, não tem capacidade de produzir água.
4 Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial

As peles mais oleosas são mais espessas. A produção de sebo exacerbada dificulta o
desprendimento das células mortas da camada córnea, levando, assim, mais tempo
para finalizar o processo de renovação celular.

Fototipos cutâneos
A cor da pele é uma composição pigmentos melânicos e sanguíneos que ocorre
graças à predisposição genética e a reações bioquímicas na pele. Sabe-se que
a produção de melanina ocorre nos melanócitos, células que se encontram
em grande maioria na camada basal da epiderme. No interior dos melanó-
citos, estão os melanossomas, que sintetizam e depositam a melanina. Essa
produção é geneticamente determinada, não tendo relação com a quantidade
de melanócitos entre as diferentes raças, mas, sim, com sua capacidade de
produção. Observa-se diferença nos melanossomas: indivíduos de pele negra
possuem melanossomas maiores e dispersos; indivíduos de pele clara, possuem
melanossomas menores e agrupados. (KEDE; SABATOVICH, 2004; RIVITTI,
2014) Outra diferença é a melanina sintetizada: há dois tipos de melanina, a
eumelanina (pigmento marrom ao preto) e a feomelanina (pigmento amarelo ao
vermelho), e a variação da proporção de ambas confere tonalidades diferentes
de pele (HARRIS, 2017).
A classificação dos fototipos cutâneos, feita por Fitzpatrick (Quadro 1)
(Figura 2), é embasada na resposta da pele à exposição aos raios ultravioletas
(UV) em relação à tolerância a queimaduras e à capacidade de bronzeamento
cutâneo (KEDE; SABATOVICH, 2004).
Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial 5

Quadro 1. Classificação de Fitzpatrick dos fototipos cutâneos

Fototipo Cor básica da pele Resposta à exposição solar

I Branca-pálida Queima facilmente, não se bronzeia.

II Branca Queima facilmente, bronzeia-se com


dificuldade.

III Branca Pode queimar inicialmente, mas se bronzeia


facilmente.

IV Castanha-clara/oliva Queima dificilmente, bronzeia-se facialmente.

V Parda Habitualmente não se queima, bronzeia-se


facialmente.

VI Negra Não se queima, torna-se mais escura.

Fonte: Adaptado de Wolff (2019).

Figura 2. Fototipos cutâneos.


Fonte: Adaptada de Naeblys/Shutterstock.com.
6 Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial

Os fototipos de peles mais altos, como V e VI, possuem maior proteção contra os efeitos
deletérios da radiação ultravioleta, pois o maior conteúdo de melanina presente na
pele protege as células contra essas agressões. Porém, apesar de sofrerem menos
com o envelhecimento cutâneo que fototipos mais baixos, eles têm mais tendência
a desenvolver hipercromias e manchas, não extinguindo a possibilidade de formação
de cânceres de pele — por isso a fotoproteção solar é necessária.

2 Alterações faciais causadas pelo


envelhecimento
Envelhecer é inevitável, e as marcas que simbolizam esse processo na pele,
como as rugas, não indicam o início desse processo de envelhecimento. Essas
modificações iniciam após os 25 anos, quando ocorre alterações fisiológicas
que afetam a capacidade de homeostase do organismo e que são determinadas
por dois fatores: os intrínsecos e extrínsecos.
O intrínseco ou cronológico é o envelhecimento esperado, sendo determi-
nado geneticamente e acarretando alterações que estão relacionadas com os
anos de vida (KEDE; SABATOVICH, 2004). Nesse processo, estão relaciona-
das a diminuição da capacidade de divisão celular e a síntese dos componentes
da matriz dérmica; além disso, ocorre o aumento das metaloproteinases que
degradam o colágeno e a elastina. Outro fator decorrente do envelhecimento
cronológico é a respiração celular realizada pelas mitocôndrias: com o passar
dos anos, ocorre uma alteração no metabolismo mitocondrial, reduzindo a
produção de trifosfato de adenosina (ATP) celular (HARRIS, 2017).
O extrínseco, também conhecido como fotoenvelhecimento ou actinosce-
nescência, acelera o envelhecimento intrínseco trazendo precocemente danos
à pele (KEDE; SABATOVICH, 2004). Esse fator está relacionado não somente
à exposição solar, mas ao conjunto de fatores ambientais, ao estilo de vida,
a hábitos alimentares, consumo de álcool, fumo, entre outros (PACHECO,
2017). Sabe-se que a exposição aos raios ultravioletas (sol, lâmpadas fluores-
centes) tem ação cumulativa e que está relacionada ao envelhecimento da pele
Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial 7

conforme a predisposição do indivíduo, seu fototipo cutâneo e a frequência


dessa exposição durante a vida (RIVITTI, 2014).
A sinergia entre esses dois fatores causadores do envelhecimento gera
alterações internas dos processos fisiológicos do organismo, como: encurta-
mento e ruptura dos telômeros, estresse oxidativo, degradação e diminuição da
produção de colágeno, redução da divisão celular (turnover), atrofia progressiva
da pele, redução do tecido adiposo, alterações musculares e remodelação
óssea (PACHECO, 2017; RIVITTI, 2014). Veja, no Quadro 2, as alterações
que ocorrem na derme e na epiderme em função do envelhecimento.

Quadro 2. Alterações nas camadas da pele decorrente do envelhecimento

Epiderme Derme

 Redução do número de células, resultando  Principal responsável


na diminuição da espessura. pelas características do
 Diminuição do turnover celular, reduzindo envelhecimento.
de 30% a 50% a partir da terceira até a oitava  Redução em torno de 20% da
década. turgidez dérmica.
 Diminuição da produção de melanina.  Espessamento das fibras
 Diminuição do número de melanócitos elásticas e fragmentação das
ativos e redução de 10% a 20% para cada mais antigas.
década de vida, decrescendo a melano-  Redução de 30% da rede
gênese e promovendo um clareamento vascular.
discreto e progressivo da pele com apareci-  Redução de 50% dos mastóci-
mento de acromias. tos, implicando nas respostas
 Ressecamento cutâneo da pele e dificul- imunológicas da pele.
dade na reposição do manto hidrolipídico.  Diminuição dos fibroblastos
 Redução da superfície de contato da junção e da espessura das fibras de
dermo-epidérmica dificultando as trocas colágeno.
metabólicas.  Pelos 60 anos, o colágeno
 Redução de cerca de 50% das células de fica mais rígido, diminuindo a
Langerhans nos idosos, podendo agravar-se elasticidade.
com exposição solar crônica, implicando na  Diminuição dos
resposta imunológica da pele. mucopolissacarídeos.
 Declínio da produção de vitamina D.

Fonte: Adaptado de Rivitti (2014) e Harris (2017).


8 Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial

Assim, todas essas alterações celulares são percebidas fisicamente no


indivíduo por meio de rugas, ptose das pálpebras e bochechas, flacidez da
pele, ressecamento cutâneo, manchas de pele, entre outros (PACHECO, 2017).
Um dos sinais mais populares do envelhecimento da pele são as rítides,
conhecidas popularmente por rugas e linhas de expressão. Seu aparecimento é
resultado das mudanças estruturais na pele, no tecido adiposo e nos músculos.
A formação das rítides não é totalmente entendida, e elas podem ser superficiais
ou profundas, dinâmicas ou estáticas. Um dos fatores que inicia esse processo
são os movimentos musculares repetitivos (SOUTOR; HORDINSKY, 2015).
A avaliação das rítides pode ser realizada de acordo com a classificação
de Tsuji (Quadro 3) ou Lapiere e Pierard (Quadro 4).

Quadro 3. Classificação das rítides segundo Tsuji

Grau Descrição

I Rugas superficiais, desaparecem com o estiramento da pele.

II Rugas profundas ou permanentes, não desaparecem com o estiramento da pele.

Fonte: Adaptado de Kede e Sabatovich (2004).

Quadro 4. Classificação das rítides segundo Lapiere e Pierard

Grau Descrição

I Rugas de expressão, formadas quando ocorre a contração dos músculos,


sem presença de alteração estrutural na epiderme e derme.

II Rugas finas, com alteração estrutural na epiderme e derme.

III Rugas profundas, com alteração estrutural na epiderme, na derme e no


tecido subcutâneo.

Fonte: Adaptado de Kede e Sabatovich (2004).


Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial 9

Com a chegada da perda de volume facial (reabsorção óssea, redução da


camada adiposa e redução das estruturas da pele), da perda de elasticidade da
pele e da perda de tônus muscular, percebe-se alteração no contorno facial, o
que se conhece como ptose (SOUTOR; HORDINSKY, 2015).
Ainda, na evolução do processo de envelhecimento cutâneo, ocorrem
alterações em todas as regiões da face, como: rugas frontais horizontais, rugas
glabelares verticais, caimento das pálpebras superiores, formação de bolsas
nas pálpebras inferiores, acentuação do sulco nasogeniano (bigode chinês) e
nasolabial (rugas de marionete), rugas verticais na região orolabial (código de
barras), perda do tônus e volume labial, perda do contorno do mento, flacidez
de papada (KEDE; SABATOVICH, 2004).
Outro aspecto percebido na pele no decorrer do envelhecimento é o apare-
cimento das hipercromias, que são caracterizadas por manchas acastanhadas/
amarronzadas acima do tom natural da pele. Existem diferentes tipos de
hipercromias faciais, que variam de acordo com seu tamanho, coloração e
agente causador (RIVITTI, 2014).

 Efélides: conhecidas popularmente como sardas, manchas castanhas


(claras ou escuras), medindo de 2 a 4 mm de diâmetro, devido a pre-
disposição genética, acometem mais os fototipos I e II.
 Melanose solar: aumento de produção de melanina decorrente da
exposição solar.
 Melasma e cloasma: acometem a face, com maior incidência nas mu-
lheres, geralmente após os 25 anos ou na gravidez. São multifatoriais e
seu aparecimento está relacionado a fatores hormonais, predisposição
constitucional (racial ou genética) e exposição solar.
 Hipercromia pós-inflamatória: manchas que aparecem após processo
inflamatório local, como picadas de insetos, acne e cicatrizes.
 Hiperpigmentação periorbital: conhecida popularmente como olhei-
ras, fatores que contribuem para o seu aparecimento são genética,
vascularização comprometida e aumento de melanina.
 Melanoderma residual: causada pelo contato de substâncias fotossen-
sibilizantes com posterior exposição solar. Pode ser por medicamentos,
perfumes e alguns tipos de plantas.
10 Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial

Veja, no Quadro 5, a classificação de Glogau para o envelhecimento geral


da pele em quatro níveis.

Quadro 5. Classificação do envelhecimento segundo Glogau

Tipo Grau Idade Descrição

I Leve 20 a 30 Poucas rugas de expressão, sem queratose.

II Moderado 30 a 40 Rugas finas paralelas ao sorriso, ceratores actínicas


iniciais.

III Avançado 50 ou mais Rugas em repouso, ceratores actínicas óbvias com


telangiectasias.

IV Severo 60 a 70 Rugas profundas estáticas, muita flacidez, ceratores


actínicas severas com presença de lesões cutâneas.

Fonte: Adaptado de Kede e Sabatovitch (2004).

3 Procedimentos manuais, cosméticos


e recursos eletroestéticos aplicados
à estética facial
Após avaliar o cliente e identificar o que deve ser tratado, é hora de traçar
um plano de tratamento. Para isso, o profissional deve estar atento às opções
indicadas para o tratamento de cada alteração estética facial e que podem ser
manuais, cosméticas ou com o uso de eletroterapias.
Existem diversos tipos de massagem facial com o objetivo relaxar ou modelar
o tecido. Quando a massagem facial tem como objetivo fins estéticos, seus
movimentos são realizados com foco na suavização das rugas e efeito lifting. Na
massagem estética com intuito de lifting, são utilizadas manobras de pinçamento
e movimentos rápidos, vigorosos e ascendentes. Além da tonificação da pele,
a massagem estética auxilia na ativação muscular e no aumento da circulação
sanguínea, que incrementa a distribuição de oxigênio e nutrientes para as cé-
lulas. Outro benefício é o aumento da penetração de ativos que são utilizados
em cosméticos específicos para a realização da massagem que auxiliam no
tratamento do envelhecimento (PEREIRA, 2016). Um exemplo desse tipo de
Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial 11

massagem é a miototerapia, técnica de massagem espanhola para redefinição


dos contornos faciais e pescoço e que trabalha de forma passiva a musculatura
da face com mobilização da pele ao mesmo tempo (PEREIRA, 2016).
Uma técnica muito utilizada no corporal que teve origem na China, mas
que é pouco conhecida para o rejuvenescimento facial, é o shiatsu. Essa técnica
tem como objetivo estimular pontos reflexos (chamados de Ki) que estão
com a energia estagnada por meio de pressões. O shiatsu facial desbloqueia
o Ki estagnado nos pontos que correspondem aos sinais do envelhecimento
(VACCHIANO, 2012). Quando se fala em massagem facial, é muito importante
ressaltar que, em peles com tendência à oleosidade, os movimentos vigorosos
podem contribuir para o aumento da produção de sebo. Isso, no entanto, não
se aplica no shiatsu facial, pois a massagem é realizada com pressões.
Os produtos cosméticos estão presentes em todos os tratamentos estéticos,
tanto para o uso do profissional em sua clínica quanto para a manutenção da
pele do cliente em casa, o que se conhece como cuidados homecare. Existem
diversos tipos de produtos cosméticos que podem ser utilizados em diferentes
momentos e com associação de outras técnicas de tratamento, como cremes,
séruns, máscaras e peelings (KEDE; SABATOVICH, 2004).
Os peelings químicos são amplamente utilizados no rejuvenescimento
facial, tanto para o tratamento de rugas e flacidez quanto para o clareamento de
manchas. Seus efeitos são diversos e, no envelhecimento, atuam na renovação
da pele, que promove a proliferação de células novas e o aumento da produção
de colágeno, com ação clareadora hidratante e antioxidante. Exemplos desse
peeling são ácido glicólico, ácido salicílico, ácido mandélico e ácido lático
(PEREIRA, 2016). Além dos ácidos, nas formulações cosméticas escolhidas
para o tratamento do envelhecimento, deve-se ter em mente a utilização de
princípios ativos nutritivos e antioxidantes, como vitamina E, vitamina C,
chá verde, selênio, silício orgânico, raffermine, argireline, DMAE (KEDE;
SABATOVICH, 2004).

Faça uma busca na web pela expressão “nutricosméticos no combate ao envelhe-


cimento da pele” para saber como eles podem ser grandes aliados no combate ao
envelhecimento.
12 Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial

Outra opção de tratamento é a utilização de equipamentos que combatem


o envelhecimento de diferentes maneiras. Veja, a seguir, alguns exemplos
desses procedimentos (PEREIRA, 2016; BORGES, 2010; NEGRÃO, 2015).

 Peeling de diamante e peeling de cristal: ambos são peelings mecânicos


que, quando aplicados na pele, promovem uma microdermoabrasão,
uma esfoliação, sendo indicados para o tratamento de rugas, manchas
e cicatrizes. O peeling de diamante é realizado com um equipamento
gerador de pressão negativa que possui uma ponteira diamantada. O
peeling de cristal é realizado com um equipamento que utiliza um
compressor de ar com duas cânulas de saída que trabalham simulta-
neamente na mesma ponteira — uma tem pressão positiva e expira
cristais (óxido de alumínio) na pele, e a outra promove sucção a partir
da pressão negativa, removendo esses cristais utilizados.
 Ionização: utilização de um equipamento gerador de corrente galvânica
que tem como objetivo a introdução de diferentes ativos na pele de acordo
com o foco do tratamento. Esses princípios ativos estão inseridos em
formulações específicas para a utilização da ionização.
 Microcorrentes: aplicação de corrente de baixa frequência que atua
diretamente nas células. Tem o poder de restabelecer a bioeletricidade
tecidual, aumentar a síntese de proteínas e a energia celular, combatendo
os sinais do envelhecimento.
 Vacuoterapia: conhecida como dermotonia, são utilizadas ventosas de
vidro acopladas a um equipamento que gera sucção, ou seja, pressão
negativa no tecido cutâneo. No tratamento para envelhecimento, desde
que cuidando a pressão utilizada, atua-se no aumento do trofismo da
pele, com o aumento da nutrição das células e a estimulação das fibras
de colágeno e elastina.
 Corrente russa/aussie: utilização de corrente elétrica específica para
estimular a contração muscular por meio da aplicação de eletrodos
nos pontos motores com a intenção de diminuir a hipotonia muscular.
 Eletrolifting: utilização de um equipamento gerador de corrente con-
tínua em que é utilizado um eletrodo com uma agulha descartável na
ponta. Esse método é utilizado diretamente no canal da ruga, onde é
provocada uma lesão tecidual controlada que gera uma inflamação do
tecido, estimulando a produção de colágeno e elastina.
Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial 13

 Radiofrequência: aplicação de ondas eletromagnéticas que elevam


a temperatura dos tecidos por conversão de energia e que promovem
respostas fisiológicas. Para bons resultados com a técnica, o tecido
deve estar hidratado. Sua principal ação é no estímulo da produção
de colágeno e elastina, sendo indicado para o tratamento das rugas e
flacidez de pele.
 Microagulhamento: utilização de um equipamento composto por
um rolinho com microagulhas (Figura 3) que promovem a produção
de colágeno na pele, como também facilita a penetração de ativos in-
corporados em produtos específicos para a realização dessa técnica.
Existem diferentes tamanhos de agulhas que penetram em diferentes
profundidades na pele, havendo restrições de uso em relação a essa
profundidade, que depende de formação acadêmica. A profundidade
da agulha está relacionada diretamente com o objetivo do tratamento,
sendo possível tratar rugas, flacidez e manchas.

Figura 3. Aplicação de microagulhamento no método por rolete.


Fonte: Robert Przybysz/Shutterstock.com.

Combinar diferentes técnicas que potencializam os resultados é de grande


valia, mas, independentemente das técnicas escolhidas para compor o tratamento
do cliente, é necessário sempre avaliar suas necessidades, indicações e con-
traindicações das técnicas, para proporcionar um tratamento seguro e assertivo.
14 Avaliação e procedimentos aplicados à estética facial

BORGES, F. dos S. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2. ed.São Paulo:


Phorte, 2010.
HARRIS, M. I. Pele: do nascimento à maturidade. São Paulo: Senac, 2017. (E-book).
IFOULD, J.; FORSYTHE-CONROY, B.; WHITTAKER, M. Técnicas em estética. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2015.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. São Paulo: Atheneu, 2004.
NEGRÃO, M. M. C. Microagulhamento: bases fisiológicas e práticas. São Paulo: CR8
Editora, 2015.
PACHECO, M. dos S. A performance dos fatores de crescimento no rejuvenescimento facial.
2017. 18 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Estética em Bem-estar) —
Escola de Ciências da Saúde, Universidade do Sul de Santa Catarina, Florianópolis,
2018. Disponível em: https://riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/5586/Artigo%20
p%c3%b3s%20finalizado.pdf?sequence=19&isAllowed=y. Acesso em: 24 abr. 2020.
PEREIRA, M. de F. L. (org.). Recursos técnicos em estética. São Paulo: Difusão, 2016. 1 v.
RIVITTI, E. A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. Porto Alegre: Artmed,
2014.
SOUTOR, C.; HORDINSKY, M. K. Dermatologia clínica. Porto Alegre: AMGH, 2015
VACCHIANO, A. Shiatsu facial: a arte do rejuvenescimento. 7. ed. São Paulo: Ground, 2012.
WOLFF, K. et al. Dermatologia de Fitzpatrick: atlas e texto. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.

Leitura recomendada
FACCHINETTI, J. B.; SOUZA, J. S. de; SANTOS, K. T. P. Radiofrequência no rejuvenescimento
facial. Revista Id on Line, v. 11, nº. 38, 2017. Disponível em: https://idonline.emnuvens.
com.br/id/article/view/896. Acesso em: 24 abr. 2020.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Tratamentos manuais e
eletroestéticos para rosácea
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Listar os recursos manuais e eletroestéticos utilizados no tratamento


da rosácea.
 Descrever as indicações e contraindicações dos recursos manuais e
eletroestéticos no tratamento da rosácea.
 Explicar o mecanismo de ação dos recursos manuais e eletroestéticos
usados no tratamento da rosácea.

Introdução
As alterações da rosácea estão localizadas no rosto, uma área do corpo
totalmente exposta, e geram insatisfação da imagem pessoal, ansiedade,
estresse e, inclusive, depressão. O tratamento estético auxilia no controle
da rosácea, que não tem cura, melhorando a vida das pessoas que são
acometidas por essa condição.
Neste capítulo, você vai conhecer os recursos disponíveis no mercado
para o tratamento da rosácea, vendo suas indicações e contraindicações
e seus mecanismos de ação, de modo a habilitar-se para o cuidado dessa
alteração inestética facial.

1 Recursos utilizados no tratamento


para rosácea
A rosácea é uma doença vascular inflamatória crônica facial que acomete
cerca de 10% dos indivíduos de pele clara, entre os 30 a 50 anos de idade.
As mulheres têm predominância no desenvolvimento dessa afecção cutânea,
mas, quando se desenvolve nos homens, tende a ser mais grave (WOLLF;
JOHNSON; SAAVEDRA, 2019). Essa patologia inicia com crises de eritema
2 Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea

na região da face, normalmente centrofacial, chamado de flushing. Esses


episódios ocorrem por diferentes estímulos, como exposição ao calor, algumas
bebidas, certos alimentos e alterações emocionais, tendo pouca duração e
desaparecendo completamente (PROENÇA, 2017).
Com a evolução da rosácea, os episódios de flushing se repetem com
frequência e observa-se um aumento da rede vascular, que é percebida pela
presença das telangiectasias. Posteriormente, ocorre a formação de pápulas
e pústulas, que erroneamente são confundidas com acne. Como diferenças
entre a acne e rosácea, podemos citar que (PROENÇA, 2017):

 não são desencadeadas pelo mesmo fator;


 a rosácea não tem pré-formação, como os comedões;
 as inflamações pápulo-pustulosa da rosácea persistem por tempo in-
determinado, sem regressão espontânea;
 um dos causadores da foliculite na rosácea é o Demodex folliculorum,
um ácaro que está presente naturalmente na pele e se alimenta da se-
creção sebácea.

Veja, a seguir, a classificação da rosácea de acordo com as manifestações


clínicas.

 Rosácea eritemato-telangiectásica: classificada como subtipo 1, apre-


senta-se de forma leve com eritema, persistente na região central do
rosto, podendo ou não ter a presença de telangiectasias (SOUTER;
HORDINSKY, 2015).
 Rosácea pápulo-pustulosa: além do eritema, presença de pápulas e
pústulas acompanhadas de edema (SOUTER; HORDINSKY, 2015).
 Rosácea fimatosa: essa forma rara acomete mais o sexo masculino e
ocorre principalmente na região nasal, com espessamento e superfície
irregular (SOUTER; HORDINSKY, 2015).
 Rosácea ocular: cerca de 50% dos indivíduos que desenvolvem a rosácea
apresentam alteração ocular, como conjuntivite, blefarite, episclerite
(RIVITTI, 2014).

Sabe-se que o indivíduo acometido pode apresentar um ou mais tipos de ma-


nifestações da rosácea (SOUTER; HORDINSKY, 2015), e o melhor tratamento
para a condição é o diagnóstico precoce e a prevenção para minimizar seus
Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea 3

efeitos, no intuito de evitar que a doença saia do controle. Para um tratamento


efetivo, é importante analisar a fisiopatologia da rosácea (PROENÇA, 2017).
A educação do indivíduo acometido sobre o uso dos produtos homecare (higie-
nizante, hidratante e protetor solar) é extremamente importante para evitar o uso
de cosméticos inadequados que possam piorar o quadro clínico. Muitas vezes, a
rosácea é confundida com acne em função das lesões pápula-pustulosas semelhantes,
mas uma das grandes diferenças é que na rosácea não há aumento da secreção
sebácea. Assim, os produtos para peles acneicas geralmente não são adequados
para rosácea. Um homecare apropriado é o ponto central para manter a remissão e
aliviar os sintomas, podendo auxiliar no reparo e na manutenção da integridade da
pele e potencializando o tratamento medicamentoso (GONÇALVES; PINA, 2017).
O papel do profissional da estética é auxiliar no tratamento de controle,
principalmente da rosácea eritemato-telangiectásica e pápulo-pustulosa, con-
tribuindo para a regressão do quadro que se apresenta e para o controle da
doença. Assim, a seguir, confira a descrição de alguns recursos da estética
que podem ser utilizados nesse contexto.

Drenagem linfática manual (DLM)


A drenagem linfática é uma terapia manual que auxilia no escoamento do
líquido intersticial (extracelular) excedente, descongestionando o tecido e
melhorando as trocas metabólicas. Os movimentos realizados na drenagem
linfática geram efeitos sistêmicos no corpo, tendo influência direta nas res-
postas imunológicas e no aumento da circulação de retorno (BORGES, 2010).
Existem diferentes técnicas de drenagem linfática manual, mas as mais
conhecidas são as técnicas de Vodder, Leduc e de Foldi. Independentemente
da técnica utilizada, todas devem ser realizadas com movimentos lentos, com
pressão leve, respeitando a anatomia do sistema linfático. Um estudo de caso
realizado com indivíduos com edema persistente causado pela rosácea mostrou
resultados promissores com a aplicação da DLM associada a exercícios faciais
para auxiliar na mobilização dos líquidos, na bandagem compressiva utilizada
pela noite e na educação do paciente quanto aos cuidados (KUTLAY et al., 2018).

Microcorrentes
As microcorrentes (microcurrent electrical neuromuscular stimulation —
MENS) (Figura 1) são correntes elétricas de baixa frequência que trabalham
na faixa de microamperes (μA). O corpo possui uma corrente endógena que
4 Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea

trabalha na mesma faixa e, por esse motivo, as MENS são denominadas


correntes fisiológicas, pois se assemelham à bioeletricidade da pele humana.
Estudos realizados no processo de cicatrização utilizando a MENS na
frequência de 100 MHz, com intensidade de 80 μA, aplicada três vezes na
semana em idas alternados, mostraram uma melhora de 92,2% das lesões
após 30 sessões (MARTELLI, 2016).
As microcorrentes têm a capacidade de restabelecer a homeostase das célu-
las, dando condições para a recuperação dos tecidos afetados. A bioeletricidade
celular é fundamental para a manutenção do organismo; quando se tem alguma
alteração fisiológica, o fluxo bioelétrico tem dificuldade de percorrer o tecido
que se encontra alterado. Esse processo dificulta sua recuperação, mas, com
a aplicação da microcorrentes, é possível aumentar esse fluxo, reduzindo a
resistência do tecido alterado e restabelecendo a homeostase para as células
terem condição de recuperação (BORGES, 2010).

Figura 1. Aplicação da microcorrentes com eletrodo tipo caneta.


Fonte: Petr Smagin/Shutterstock.com.

Diodo emissor de luz (LED)


O LED (Figura 2) é um componente eletrônico semicondutor que emite um
espectro luminoso, estreito e não coerente, e que trabalha com diferentes
comprimentos de ondas e tem efeito biofotomodulador e terapêutico.
Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea 5

Isso foi descoberto já em 1998, quando o professor Harry Whelan, junta-


mente ao grupo de medicina espacial da NASA, desenvolveu o NASA LED,
um equipamento cujo objetivo era testar seu efeito no crescimento de plantas no
espaço. Contudo, o resultado da pesquisa trouxe outras conclusões, e a emissão
da radiação se mostrou efetiva no crescimento tecidual e na cicatrização de
lesões (KIM; CALDERHEAD, 2011).
Depois disso, surgiram estudos para verificar os efeitos dessa terapia e
entender melhor seu mecanismo. Atualmente, sabemos que, quando o LED é
emitido sobre os tecidos sua luz, emite energia que é absorvida pelos cromó-
foros fotorreceptores que possuem funções dentro do organismo independente
da emissão de luz. Quando a luz é emitida, as funções dos cromóforos são
ativadas, produzindo fotobiomodulação e gerando uma fotoresposta: aumento
da mitose celular, diminuição da inflamação dos tecidos, alívio da dor e
incremento na produção de proteínas. Esse equipamento não é invasivo,
não é ablativo, é indolor, não tem risco de efeitos colaterais, não é tóxico,
sendo bem tolerado por todos os tipos de pacientes independentemente da
idade (AGNES, 2011).
O comprimento de onda determina a resposta fotoquímica desejada e, por
isso, é importante ter conhecimento dos diferentes comprimentos de onda e
seus efeitos sobre os tecidos. As cores mais utilizadas na aplicação do LED
são azul, verde, vermelho e infravermelho.

Figura 2. Equipamento de LED.


Fonte: Africa Studio/Shutterstock.com.
6 Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea

2 Indicações e contraindicações dos recursos


utilizados no tratamento da rosácea
As técnicas de tratamento devem ser aplicadas respeitando suas indicações
e contraindicações e, para isso, é necessário realizar uma avaliação prévia
para certificar-se de que o cliente está apto a receber o tratamento. A seguir,
confi ra as indicações e contraindicações dos recursos aplicados para tratar
a rosácea.

Indicações e contraindicações da drenagem linfática


A drenagem linfática possui inúmeros benefícios, tanto locais como sistêmicos,
contribuindo para (BORGES, 2010):

 redução de edemas;
 melhora da resposta imunológica;
 aumento da filtragem da linfa;
 aumento da absorção dos líquidos excedentes;
 melhora das trocas metabólicas, nutrição e oxigenação das células;
 detoxificação do meio intersticial com a retirada de toxinas;
 relaxamento pela liberação de substâncias simpaticolíticos no organismo.

No entanto, a aplicação da drenagem linfática é contraindicada nos se-


guintes casos:

 tumores malignos;
 tuberculose;
 infecções agudas e reações alérgicas agudas;
 edemas de origem cardíaca ou renal;
 insuficiência renal;
 trombose venosa.

Indicações e contraindicações da microcorrentes


São poucas as contraindicações da microcorrentes, mas, entre elas, destacam-se
a osteomielite, a dor de causa desconhecida, gestantes, neoplasias, problemas
cardíacos (BORGES, 2010). A aplicação das microcorrentes gera a homeostase
dos tecidos que estão desequilibrados, sendo indicada para (AGNES, 2011):
Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea 7

 processo de regeneração e cicatrização;


 processos inflamatórios;
 redução de edema;
 auxílio no controle da dor.

Indicações e contraindicações do LED


A aplicação de LED é bem tolerada, sendo indolor e sem efeitos colaterais
(AGNES, 2011) — em parâmetros adequados, o LED não é tóxico. Estudos
mostraram que o LED azul pode induzir o estresse oxidativo nas células,
incluindo a geração de diferentes quantidades e tipos de espécies reativas
dependentes do comprimento de onda usado, resultando em diferentes efeitos
biológicos (OPLÄNDER et al., 2011). Esse efeito danoso pode ser amenizado
com o uso de antioxidantes que combatem a ação dos radicais livres, como
o resveratrol.
O LED é indicado para (AGNES, 2011):

 regeneração de tecidos;
 controle da inflamação e eritema;
 melhora do sistema imunológico;
 analgesia;
 diminuição do edema.

Os LEDs utilizados no tratamento para rosácea são (AGNES, 2011):

 LED âmbar — diminuição do eritema, efeito calmante, redução do


edema;
 LED vermelho — ação cicatrizante, melhora a respiração celular e o
sistema imunológico;
 Infravermelho — potente ação anti-inflamatória, analgésica, oxigenante
e melhora do sistema imunológico.

Estudos de caso utilizando o LED no tratamento da rosácea mostraram


resultados satisfatórios na redução do eritema e das lesões pápulo-pustulosas
com aplicação sequencial do LED azul (480 nm) com a dose de 300 j/min
e LED vermelho (650 nm) com a dose de 100 j/min, totalizando 15 minutos
de aplicação de cada luz, com frequência de duas sessões por semana (SOR-
BELLINI; PADOVA; RINALDI, 2020).
8 Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea

3 Mecanismo de ação dos recursos utilizados no


tratamento da rosácea
O entendimento dos mecanismos de ação dos recursos estéticos é de suma
importância na vida de um profissional que busque resultados satisfatórios a
partir da melhor técnica dentro da fisiopatologia da rosácea, pois a escolha
de uma abordagem inadequada ou um erro no ajuste de um equipamento,
mesmo com a escolha terapêutica correta, pode produzir efeitos adversos ou
até mesmo complicações. Dessa forma, a seguir, serão descritos alguns meca-
nismos terapêuticos de técnicas estéticas aplicadas no tratamento da rosácea.
Fisiologicamente, o sistema linfático é uma via de retorno dos líqui-
dos intersticiais para o sangue e é composto por uma trama de vasos
linfáticos, tecido linfoide, linfonodos, timo, baço e amígdalas. O sistema
sanguíneo distribui nutrientes e oxigênio para a manutenção das células
e, pela pressão capilar, esses componentes saem das artérias para o meio
intersticial banhando as células. Essas utilizam os elementos necessários
para a sua manutenção e eliminam produtos da degradação celular para
o meio intersticial. Parte desses dejetos celulares retorna para o sistema
sanguíneo através dos capilares venosos (90%) e o restante que não con-
seguiu ser captado é absorvido pelos capilares linfáticos (10%) (LEDUC;
LEDUC, 2007).
Sabe-se que as manobras da DLM são realizadas para promover uma
modificação no gradiente de pressão da linfa no espaço intersticial, pro-
vocando a mobilização desse líquido (Figura 3). Para uma melhor compre-
ensão, podemos considerar o exemplo do edema, em que há um acúmulo
de líquidos no meio intersticial decorrente do desequilíbrio entre o aporte
de líquido extravasado pelos capilares sanguíneos e sua evacuação. O
edema pode ser causado por diferentes fatores, como aumento da per-
meabilidade capilar, aumento da pressão capilar, acúmulo de proteínas
no espaço intersticial, alteração da resposta imunológica na região, entre
outros (LEDUC; LEDUC, 2007).
Por isso, pensando nos mecanismos fisiológicos e patológicos, a técnica
é realizada sempre no sentido do fluxo da circulação de retorno venoso,
em direção ao grupo de linfonodos mais próximos da região que está
sendo massageada. Para aplicação da técnica de drenagem linfática, não
é necessário utilizar cremes ou óleos, mas, depois, pode ser realizada a
aplicação de máscaras que agregam no tratamento da rosácea (LEDUC;
LEDUC, 2007).
Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea 9

Figura 3. Cliente recebendo DLM na face.


Fonte: Fineart1/Shutterstock.com.

O corpo possui uma corrente elétrica que circula constantemente em todos


os tecidos, chamada de bioeletricidade celular, que é a base para crescimento,
regeneração e cura. Quando um tecido sofre um trauma, a bioeletricidade desse
tecido é comprometida, gerando resistência e tornando-o eletricamente isolado.
A bioeletricidade evita regiões com resistência, resultando na diminuição do
fluxo elétrico e na capacidade celular de recuperação da lesão. A aplicação
das microcorrentes aumenta o fluxo bioelétrico no tecido lesionado, reduzindo
sua resistência e restabelecendo a homeostase (BORGES, 2010).
Assim, o ATP, que é a principal fonte de energia celular e sua síntese, está
diretamente ligado ao processo elétrico fisiológico do organismo. Os tecidos
lesionados são pobres em ATP e, para a sua recuperação, é necessária uma
grande quantidade de energia. A utilização de microcorrentes restabelece os
seus níveis e contribui para o transporte ativo através das membranas celulares,
com isso, aumentando o fluxo de nutrientes para o interior das células e para
a retirada toxinas de seu interior (BORGES, 2010).
Da mesma forma, o sistema linfático é responsável pela evacuação das
proteínas presentes no líquido intersticial. Por isso, quando ocorre um desequi-
líbrio das trocas líquidas, produz-se grande concentração de proteínas no meio
intersticial, resultando na formação de edema. As microcorrentes promovem o
movimento das proteínas que estão no meio intersticial para dentro dos tubos
linfáticos, reduzindo o edema local (BORGES, 2010) e aceleram o processo de
reparação tecidual pela excitação elétrica, que tem a capacidade de promover
a multiplicação celular. Além disso, tem efeito anti-inflamatório decorrente da
ação dos macrófagos e anticorpos através do estímulo da fagocitose. Quanto
10 Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea

aos parâmentros, para o tratamento da pele, é utilizada a frequência de até


100 Hz com intensidades de 50 a 500 μA (BORGES, 2010).
Outro recurso são os LEDs, que possuem diversas propriedades que estão
diretamente ligadas ao comprimento de onda e à camada da pele que se deseja
atingir para obter os resultados específicos — sabe-se que, quanto maior o
comprimento de onda, mais profundo será o alcance desse recurso eletroestético
nas camadas da pele. Veja, no Quadro 1, a seguir, a relação entre as luzes
aplicadas, seu comprimento de onda e os efeitos gerados.

Quadro 1. Efeitos das luzes de LED

Faixa de
Cor
comprimento Efeitos
da luz
de onda (nm)
Luz infra- 700 nm – 1200 nm  Tem ação anti-inflamatória e analgésica
vermelha  Ativa fibroblastos
 Aumenta a permeação de ativos
Luz 630 nm – 700 nm  Tem efeito bioestimulante
vermelha  Melhora a regeneração
 Tem ação anti-inflamatória
 Promove a produção de colágeno e elastina
 Aumenta a permeabilidade
Luz âmbar 570 nm – 590 nm  Aumenta o fluxo linfático
(amarela)  Melhora a textura da pele
 Aumenta a síntese de colágeno e elastina
Luz verde 470 nm – 550 nm  Inibe o estímulo dos melanócitos que
provocam a hiperpigmentação
 Estimula a microcirculação
 Contribui para a circulação linfática e redu-
ção do edema
Luz azul 400 nm – 470 nm  Tem ação bactericida
 Melhora a oxigenação dos tecidos
 Contribui para a regeneração
 Promove hidratação
 Tem efeito clareador
Luz violeta 380 nm – 450 nm  Regeneração celular
 Aumenta o metabolismo local
 Aumenta o nível de hidratação
 Melhora a viscoelasticidade da pele
Fonte: Adaptado de Pereira (2013).
Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea 11

AGNES, J. E. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Pallotti, 2011.


BORGES, F. dos S. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte,
2010.
GONÇALVES, M. M. B. M. M.; PINA, M. E. S. R. T. Dermocosmetic care for rosacea. Brazilian
Journal of Pharmaceutical Sciences, v. 53, n. 4. 2017. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.1590/s2175-97902017000400182. Acesso em: 8 maio 2020.
KIM, W.-S.; CALDERHEAD, R. G. Is light-emitting diode photetherapy (LED-LLLT) really
effective? Laser Therapy, v. 20, n. 3, 2011. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pmc/articles/PMC3799034/. Acesso em: 5 maio 2020.
KUTLAY, S. et al. Complete decongestive therapy is an option for the treatment of rosacea
lymphedema (morbihan disease): two cases. Physical Therapy, v. 99, n. 4, 2018. Dispo-
nível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30561675. Acesso em: 5 maio 2020.
LEDUC, A.; LEDUC, O. Drenagem linfática: teoria e prática. 3. ed. Barueri: Manole, 2007.
MARTELLI, A. et al. Microcorrente no processo de cicatrização: revisão da literatura.
Archives of Health Investigation, v. 5, n. 3, 2016. Disponível em: http://www.archheal-
thinvestigation.com.br/ArcHI/article/view/1316. Acesso em: 5 maio 2020.
OPLÄNDER, C. et al. Effects of blue light irradiation on human dermal fibroblasts. Journal
of Photochemistry and Photobiology B, v. 103, n. 2, 2011. Disponível em: https://www.
ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21421326. Acesso em: 5 maio 2020.
PEREIRA, M. de F. L. P. Recursos técnicos em estética. São Paulo: Difusão, 2013. v. 1.
PROENÇA, N. G. A rosácea e seu manejo. Arquivos Médicos dos Hospitais e da Faculdade
de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, v. 62, n. 2, 2017. Disponível em: http://
arquivosmedicos.fcmsantacasasp.edu.br/index.php/AMSCSP. Acesso em: 5 maio 2020.
RIVITTI, E. A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2014.
SORBELLINI, E.; PADOVA, M. P.; RINALDI, F. Coupled blue and red light-emitting diodes
therapy efficacy in patients with rosacea: two case reports. Journal of Medical Case
Reports, v. 14, 2020. Disponível em: https://jmedicalcasereports.biomedcentral.com/
articles/10.1186/s13256-019-2339-6. Acesso em: 5 maio 2020.
SOUTOR, C; HORDINSKY, M. K. Dermatologia clínica. Porto Alegre: AMGH, 2015.
WOLFF , K. JOHNSON, R.; SAAVEDRA, A. Dermatologia de Fitzpatrick: atlas e texto. 8. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2019.
12 Tratamentos manuais e eletroestéticos para rosácea

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Tratamentos para olheiras
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Classificar a hipercromia orbital.


 Reconhecer os protocolos para tratamento da olheira melânica.
 Descrever os protocolos para tratamento da olheira vascular.

Introdução
As olheiras são definidas como disfunções estéticas dermatológicas que
acometem a área dos olhos, gerando o escurecimento dessa região —
mais especificamente, levam ao surgimento de manchas mais escuras
em torno dos olhos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, 2017).
Consequentemente, as olheiras representam incômodos estéticos que
repercutem negativamente na aparência e na autoestima das pessoas,
principalmente porque trazem consigo um aspecto de cansaço e tristeza
que pode afetar negativamente a imagem pessoal. Por isso, mesmo
sendo uma disfunção que não traz danos ao organismo, deve ser tratada,
considerando o acometimento emocional que pode causar.
Neste capítulo, você vai conhecer o mecanismo fisiopatológico de forma-
ção das olheiras, entendendo os mecanismos pelos quais elas surgem. Além
disso, vai ver como avaliar os diferentes tipos de olheiras existentes, os motivos
pelos quais elas surgem e como se apresentam. Para isso, vai conhecer as
principais modalidades terapêuticas estéticas disponíveis para tratamento
das olheiras, incluindo recursos cosméticos, manuais e de eletroterapia.
2 Tratamentos para olheiras

1 A área dos olhos e as olheiras


A área dos olhos (Figura 1) compreende o globo ocular, a pálpebra superior, a
pálpebra inferior, sobrancelhas, porção orbitária, cílios e os cantos laterais e mediais
do olho. Os olhos ficam alojados em uma estrutura óssea que lhes garante proteção
e toda a região ao seu redor é envolta por tecidos especializados na proteção ocular.

Figura 1. Área dos olhos.


Fonte: Adaptada de Serg Zastavkin/Shutterstock.com.

Essa área tem algumas características anatômicas que merecem destaque,


como, por exemplo, o fato de que a pele dessa região é mais fina que o restante
do corpo, tendo aproximadamente 0,5 mm de espessura, enquanto outras áreas
de pele da face possuem uma espessura média de 2 mm (RIBEIRO, 2010).
As pálpebras possuem, além de uma pele mais fina, uma pele mais elástica,
que permite um movimento suave sobre os músculos da região ocular. Essa
característica da espessura da pele na região das pálpebras faz com que os vasos
sanguíneos da região fiquem mais evidentes quando comparados ao restante
do rosto. Vale ressaltar que a pele das pálpebras, além dessas características,
possui maior pigmentação que o restante da pele da face, também de maneira
natural (DANTAS, 2013). Contudo, algumas disfunções dermatológicas podem
alterar a anatomia e fisiologia dessa região, gerando o aparecimento de sinais
e sintomas inestéticos, como, por exemplo, bolsas, rugas e olheiras.
A área dos olhos tem grande importância estética, uma vez que revela
muito sobre saúde, idade e estado momentâneo da pessoa. Por isso, é essencial
conhecer as principais disfunções que acometem essa região e as modalidades
Tratamentos para olheiras 3

de tratamentos disponíveis, de modo a melhorar o padrão da disfunção estética


apresentada e, com isso, proporcionar uma melhor aparência facial.
Dentre as disfunções dermatológicas mais prevalentes que acometem a área dos
olhos, estão as olheiras. Também chamadas de hipercromia periorbital ou hiper-
pigmentação periorbitária, as olheiras são disfunções dermatológicas que geram
alterações na coloração da região orbicular do olho, caracterizadas pelo aparecimento
de manchas ao redor dos olhos, chamadas de máculas hipercromias, homogêneas,
com acometimento bilateral e simétrico (NUNES, SIMÃO, KUPLICK, 2013).
A partir de confirmação da literatura da área, sabe-se que, mesmo tendo
padrão de acometimento bilateral e simétrico, as olheiras podem apresentar
graus de gravidade diferentes entre um olho e outro (OLIVEIRA; PAIVA,
2016). Nessa situação, um olho pode estar mais comprometido do que o outro
e pode, ainda, haver diferenças de pigmentação nas áreas afetadas, afetando
as pálpebras superiores, inferiores, ambas ou, ainda, estendendo-se para a
região glabelar e para a área superior do nariz.
A Figura 2, a seguir, mostra um quadro de diferentes níveis de gravidade
desse tipo de hiperpigmentação facial.

Figura 2. Olheiras de diferentes gravidades.


Fonte: Artemida-psy/Shutterstock.com.

As olheiras também podem ser chamadas de hiperpigmentação das pálpe-


bras, círculos escuros abaixo dos olhos, círculos escuros ao redor dos olhos,
hipercromia cutânea idiopática da região orbital, hiperpigmentação infraorbital
ou círculos escuros infraorbitais (DANTAS, 2013).
Segundo Das (2018), as hiperpigmentações são disfunções dermatológicas
que acontecem por alterações no processo de coloração da pele. Nesses casos, o
pigmento que dá cor à pele, chamado de melanina, encontra-se mal distribuído
na pele e de maneira aumentada, causando o escurecimento localizado da pele.
4 Tratamentos para olheiras

Essa produção de melanina aumentada e desigual ocorre em resposta à


estimulação das células que sintetizam melanina, os melanócitos. A estimulação
dessas células pode ser feita por inúmeras condições, consideradas causas
das olheiras e que resultam no surgimento de hipercromias, que são manchas
localizadas na pele, de cor mais escura que a pele normal do paciente.
Quanto ao acometimento, esse tipo de hiperpigmentação tende a ser queixa mais
frequente de mulheres e mais prevalente em pacientes de pele, cabelos e olhos mais
escuros. Em relação à idade, as olheiras podem acometer todas as faixas etárias,
mas são mais prevalentes à medida que os pacientes envelhecem (DANTAS, 2013).
Em relação à etiologia, as olheiras possuem mecanismo multicausal, e
vários fatores atuam direta ou indiretamente no surgimento ou na piora da
disfunção. Esses fatores podem ser intrínsecos, relacionados a fatores internos
do organismo, ou extrínsecos, relacionados a fatores externos. Dentre os
fatores intrínsecos mais conhecidos, destacam-se etnia, fatores hormonais e o
processo de envelhecimento. Dentre os fatores extrínsecos, cita-se a radiação
ultravioleta, o estilo e hábitos de vida. Em relação à etnia, há algumas mais
predispostas ao aparecimento de olheiras, como árabes e indianos, que pos-
suem uma maior tendência a concentrar melanina na área dos olhos (NUNES;
SIMÃO; KUPLICK, 2013).
Os hormônios têm um papel primordial na integridade e na qualidade da
pele. Modificações hormonais mais intensas, como na puberdade, na gestação
e na menopausa, podem agravar quadros de olheiras (NUNES; SIMÃO; KU-
PLICK, 2013). Alterações circulatórias, locais ou sistêmicas, também podem
gerar o surgimento de quadros de congestão, hiperemia e outras alterações
circulatórias na área dos olhos. O envelhecimento, por causar alterações nos
tecidos da pele, favorece tanto o aparecimento hipercromias quanto a flacidez,
contribuindo para o quadro de olheiras (OLIVEIRA; PAIVA, 2016).
Já os hábitos de vida, que estão relacionados a fatores extrínsecos, podem
ser facilmente modificados e corrigidos para a melhora do quadro de olheiras.
Segundo Dantas (2013), privação do sono, tabagismo, exposição solar excessiva,
estresse emocional, exaustão física e consumo excessivo de café parecem estar
ligados ao surgimento de olheiras.
Tratamentos para olheiras 5

Nesse contexto, as olheiras são influenciadas tanto por fatores intrínsecos


quanto extrínsecos e levam ao surgimento de edema e vasodilatação local e à
redução de componentes de sustentação importantes da pele, gerando flacidez local.

Considerando que as olheiras podem ser influenciadas por uma série de fatores, intrín-
secos e extrínsecos, é essencial que o profissional de estética, antes de realizar o plano
de tratamento, faça uma avaliação detalhada do cliente e questione os principais fatores
que podem estar relacionados ao desenvolvimento ou a piora do quadro das olheiras.
Segundo Araújo e Ferreira (2018), a avaliação das olheiras deve contemplar o histórico
familiar do paciente, a presença de alergias (rinite alérgica ou dermatite de contato),
doenças associadas, uso de medicamentos e hábitos de vida como etilismo, tabagismo,
sono, dentre outros fatores que possam estar envolvidos na fisiopatologia das olheiras.

Em relação ao efeito causal principal, as olheiras são classificadas clini-


camente em três tipos: olheiras melânicas, vasculares e mistas. Contudo, vale
ressaltar que, na maioria dos casos, há prevalência tanto de características
das olheiras melânicas quanto de características de olheiras vasculares, o que
caracteriza olheiras de componente misto.

Olheiras melânicas
Neste tipo de olheiras, a fisiopatologia está relacionada à deposição excessiva
de pigmento de melanina na área dos olhos, promovendo o escurecimento da
região (QUEZADA GAÓN; ROMERO, 2014). Nesse caso, há uma deposição
dérmica de melanina além do esperado, o que é uma das principais causas
de olheiras. Quanto à apresentação clínica, esse tipo de olheiras costuma ter
coloração amarronzada e aparece mais evidente na região infraorbital (Figura
3) (DANTAS, 2013).
6 Tratamentos para olheiras

Figura 3. Fisiopatologia da hiperpigmentação que acontece nas olheiras melânicas.


Fonte: Adaptado de Sruilk/Shutterstock.com.

Em relação à fisiopatologia das olheiras melânicas, os melanócitos, células


responsáveis pela produção de melanina, são os principais envolvidos. Acredita-
-se que os melanócitos possuam células de “memória” e, em condições em que
são estimulados por radiação solar, medicamentos ou outros fatores, aumentam
sua atividade. Com isso, geram maior síntese de melanina, que fica depositada
na região, causando a hiperpigmentação (ARAÚJO; FERREIRA, 2018).
As olheiras melânicas são mais frequentes em pessoas adultas e com
fototipos de pele mais elevados. Entretanto, podem acometer pessoas de pele
mais clara também, geralmente de maior idade. Esse tipo de olheiras está
relacionado com fatores causais congênitos (primários) ou ambientais (se-
cundários) (DANTAS, 2013).
As causas congênitas estão relacionadas aos fatores étnicos, sendo olhei-
ras mais prevalente em algumas raças. Além disso, das causas congênitas,
as olheiras melânicas podem surgir em virtude de outros fatores primários,
relacionados, nesse caso, ao envelhecimento fisiológico da pele. As causas
ambientais, secundárias, referem-se a exposição solar excessiva, tabagismo,
etilismo, distúrbios de sono, reações alérgicas, uso de determinados me-
dicamentos e algumas alterações hormonais e nutricionais que atuam no
desenvolvimento ou na piora de olheiras com padrão melânico.
No geral, esses fatores envolvidos no desenvolvimento de olheiras melânicas
agem especificamente no processo de síntese de melanina na pele. Em condições
fisiológicas, os melanócitos, presentes na pele, geram a produção de melanina a
partir de um processo chamado de melanogênese (MARIEB; HOEHN, 2009),
em que a melanina é sintetizada pelos melanócitos e armazenada no formato de
Tratamentos para olheiras 7

grânulos para, posteriormente, ser distribuída a outras células de pele chamadas


de queratinócitos. À medida que as células da pele se renovam, os queratinócitos,
repletos de grânulos de melanina, são direcionados de maneira homogênea à
superfície da pele, dando-lhe cor de maneira regular (MARIEB; HOEHN, 2009).
Entretanto, esse processo fisiológico se encontra alterado no caso das olheiras
porque os fatores causais estimulam a produção de melanina pelos melanócitos
e, desse modo, uma maior quantidade desse pigmento chega até a superfície
da pele, de maneira não homogênea, dando o aspecto de coloração mais escura
em algumas áreas, que, no caso das olheiras, é ao redor da cavidade ocular.
A Figura 4 mostra inicialmente o processo de formação da cor da pele que
acontece fisiologicamente (Figura 4a) e o processo de formação da cor da pele
no caso das olheiras — é possível visualizar, na Figura 4b, que os grânulos de
melanina se encontram aumentados na superfície da pele.

Figura 4. Fisiopatologia da hiperpigmentação que acontece nas olheiras melânicas.


Fonte: Adaptada de Mosterpiece/Shutterstock.com.

Percebe-se também que, além da produção aumentada de melanina nas


células mais profunda da pele, no caso das olheiras (Figura 4b), existe uma
concentração aumentada também desse pigmento na superfície da pele, dando
a coloração escura para a pele da região infraorbitária principalmente.

Olheiras vasculares
Este tipo de olheira é determinado geneticamente e está relacionado a uma
herança familiar autossômica dominante. O escurecimento da área dos olhos,
neste caso, é causado por características especificas da pele do paciente nessa
região, como uma pele excessivamente delgada, com aspecto translúcido, o
que favorece a visualização dos vasos sanguíneos e músculos localizados
logo abaixo da pele.
8 Tratamentos para olheiras

Além disso, algumas pessoas, por questões genéticas, possuem um maior nú-
mero de vasos sanguíneos na região da pálpebra inferior. Como a pele da pálpebra
é extremamente fina, é possível enxergar parte desses vasos por transparência
(FLORIANI, 2020). Nas olheiras vasculares, observa-se, geralmente, um quadro
associado de eritema difuso à visualização de pontos de vasos sanguíneos ou à
visualização de uma rede vascular difusa (QUEZADA GAÓN; ROMERO, 2014).
Em relação ao surgimento dos sintomas, costumam aparecer mais precoce-
mente, ainda na fase de infância ou na adolescência, ao contrário das olheiras
melânicas, que costumam aparecer à medida que se envelhece. Quanto ao
padrão, nas olheiras vasculares, não se percebe mudança na cor da pele da
área dos olhos, como acontece nas olheiras melânicas. Nesse caso, as olheiras
se formam em virtude do escurecimento da pálpebra, causado pela maior
visualização dos vasos sanguíneos locais, e as olheiras costumam ter uma
coloração azul/púrpura/rosa (ARAÚJO; FERREIRA, 2018).
As olheiras vasculares podem, ou não, estar associadas à presença de
edema. A Figura 5, a seguir, mostra um padrão de olheiras vasculares em
que é possível identificar um quadro leve de eritema infraorbital e edema.

Figura 5. Olheiras vasculares.


Fonte: Sylvie Bouchard/Shutterstock.com.

Nas olheiras vasculares, os vasos, que podem ser visualizados, em geral,


encontram-se mais fragilizados. O fluxo de sangue na região costuma ser mais
lento e, com isso, pode haver escape de células do sistema sanguíneo, carre-
gadas de hemoglobina, para fora dos vasos (FLORIANI, 2020). Essas células,
chamadas de eritrócitos, ao ficarem armazenadas fora dos vasos sanguíneos,
são naturalmente destruídas pelo organismo. A lise (quebra) dessas células
promove a liberação de moléculas de hemoglobina que se encontram dentro das
Tratamentos para olheiras 9

células e geram a liberação de uma outra substância, chamada de hemossiderina


(ARAÚJO; FERREIRA, 2018). A hemossiderina é uma substância que serve
como pigmento férrico, com uma tonalidade parda, que fica depositada na área
de lise dos eritrócitos e em áreas adjacentes (RIBEIRO, 2010). Desse modo,
as olheiras vasculares além de serem causadas pela simples visualização dos
vasos sanguíneos, são acentuadas pela deposição de hemossiderina.
Em relação às causas, a vascularização neste tipo de olheiras é mais intensa e
está presente principalmente em pessoas de etnias que apresentem essa tendên-
cia, como descendentes de árabes, turcos, hindus e ibéricos (DANTAS, 2013).
Além disso, vale ressaltar que qualquer estímulo que cause dilatação dos
vasos sanguíneos e predisponha a formação de hemossiderina, acaba piorando
o quadro das olheiras. Hábitos de vida como etilismo e condições clínicas
como menstruação são exemplos de fatores que desencadeiam a vasodilatação
local e, com isso, maior extravasamento de sangue.

Olheiras mistas
As olheiras definidas como mistas são as mais comuns, segundo a Sociedade
Brasileira de Dermatologia (2020), e resultam da combinação de fatores me-
lânicos e de fatores vasculares em um mesmo paciente (QUEZADA GAÓN;
ROMERO, 2014). Vale ressaltar que essa classificação do tipo de olheiras é
extremamente útil para o profissional de estética, considerando que a aborda-
gem terapêutica deverá atender o tipo de olheira apresentado pelo paciente.
Na atualidade, há muitas terapias voltadas para atenuar as olheiras e,
por isso, torna-se essencial reconhecer as principais estruturas e alterações
que fazem parte da patogênese de cada um dos tipos de olheiras, de modo a
escolher a melhor opção terapêutica.
Em relação ao prognóstico de tratamento das olheiras, sabe-se que as
olheiras do tipo melânicas são mais sensíveis aos tratamentos propostos,
enquanto as olheiras vasculares, por apresentarem um componente hereditário
envolvido na maioria dos casos, são menos sensíveis aos tratamentos propostos
(ARAÚJO; FERREIRA, 2018).

2 Tratamentos estéticos das olheiras melânicas


Como a fisiopatologia das olheiras melânicas está relacionada ao excesso de
pigmento de melanina depositado na área dos olhos, os tratamentos aconse-
lhados devem atuar exatamente sobre o metabolismo desse pigmento. Nesse
10 Tratamentos para olheiras

caso, pode-se atuar desde na fase inicial da síntese de melanina até na sua
deposição nas camadas mais superficiais da pele. Por isso, são vastamente
empregados ativos cosméticos com propriedades despigmentantes, de modo
a promover o clareamento da pele. Além disso, podem ser utilizadas outras
modalidades, como a realização de peelings químicos, peelings mecânicos e
recursos de eletroterapia, como a carboxiterapia.

Ativos cosméticos
Em relação aos cosméticos empregados no tratamento de olheiras melânicas,
são utilizados cosméticos que tenham em sua composição ativos despigmen-
tantes cujo objetivo é promover um clareamento da pele da região por meio
da redução da hiperpigmentação tecidual.
Contudo, vale ressaltar que esses cosméticos utilizados no tratamento de
olheiras devem ser desenvolvidos especificamente para essa região, consi-
derando que essa área se apresenta com maior sensibilidade e, por isso, as
formulações cosméticas devem levar em conta essa característica (VANZIN,
CAMARGO, 2011).
Segundo Ribeiro (2010), esses ativos podem agir a partir de diferentes
mecanismos no tratamento das hipercromias, como as olheiras, promovendo
a redução da pigmentação. Dentre os mecanismos de ação, pode-se citar:

 inibição da tirosinase, enzima essencial para a síntese de melanina;


 redução da quantidade de melanócitos ativos;
 dispersão ou absorção de melanina da camada mais superficial da pele;
 redução da camada córnea da epiderme, promovendo uma esfoliação
intensa para reduzir a concentração de melanina local;
 promoção de ação antioxidante, evitando a formação ou piora de manhas
escuras por ação dos radicais livres.

Considerando esses mecanismos de ação dos ativos cosméticos, veja, a


seguir, alguns dos que podem ser empregados no tratamento de olheiras.

 Ácido kójico: age com ação despigmentante pela inibição primariamente


da tirosinase.
 Ácido fítico: tem ação semelhante ao ácido kójico, é indicado com
efeitos semelhantes ao da hidroquinona, mas com efeitos adversos
menos intensos (RIBEIRO, 2010).
Tratamentos para olheiras 11

 Ácido linoleico e linolênico (vitamina F): amplamente utilizados


para reduzir a síntese de melanina pelos melanócitos, além de acelerar
a renovação celular da epiderme e promover remoção da melanina
acumulada (RIBEIRO, 2010).
 Alfa hidroxiácidos: os ácidos glicólico, láctico, málico e mandélico
são utilizados com ação despigmentante (RIBEIRO, 2010). Em geral,
atuam como agentes esfoliantes da epiderme, removendo a camada mais
externa da epiderme e, com isso, o excesso de melanina acumulado nos
queratinócitos velhos.
 Arbutin: trata-se de um ativo cujo efeito clareador se assemelha à ação
da hidroquinona, mas com menos efeitos irritativos na pele (RIBEIRO,
2010).
 Flavonoides: incluem um gama de ativos cosméticos que agem de
maneira antioxidante, além de inibirem a tirosinase e, desse modo,
reduzirem a quantidade de melanina formada (RIBEIRO, 2010).
 Extrato de alcaçuz: age como despigmentante (NUNES; SIMÃO;
KUPLICK, 2013).
 Extrato de uva ursi: apresenta ação inibidora da tirosinase, além
de degradar a melanina existente na pele, provocando modificações
estruturais nas membranas das organelas dos melanócito (NUNES;
SIMÃO; KUPLICK, 2013).
 Licorice: é utilizado de modo a gerar a dispersão da melanina da epi-
derme (RIBEIRO, 2010).
 Melawhite: age como clareador e despigmentante por inibir a tirosinase,
diminuindo a formação de melanina (NUNES; SIMÃO; KUPLICK,
2013).
 Silicato de alumínio: age na absorção dos grânulos de melanina exis-
tentes na epiderme.
 Soja: possui atividade antioxidante, além de reduzir a quantidade de
grânulos de melanina que chegam à superfície da pele (COSTA, 2012).
 Vitamina C (ácido ascórbico): atua evitando a formação de radicais
livres envolvidos nos processos de hipercromias, tendo ação antioxidante
(RIBEIRO, 2010).

Além desses, outros ativos podem ser empregados no tratamento de olheiras


melânicas, desde que atuem por meio dos mecanismos de despigmentação.
12 Tratamentos para olheiras

Vale lembrar que os ativos cosméticos podem estar presentes em formulações cos-
méticas de maneiras associadas, potencializando os efeitos do produto. Além disso,
podem ser encontrados em produtos cosméticos de diferentes formas de apresentação.
Exemplos de formas de apresentação são cremes, loções, sabonete, géis, dentre outras,
de acordo com a finalidade de uso (CHAVEZ; DOREA; PINHEIRO, 2018).

Peeling químico
O uso isolado ou combinado de muitos dos ativos cosméticos utilizados na
modalidade de peeling promoverão uma esfoliação da pele, de natureza quí-
mica. Para isso, são utilizados cosméticos com pH baixo, ácidos, de modo
promover os efeitos terapêuticos.
Nesses casos, a esfoliação promovida pelos peelings químicos busca remover
parte das células localizadas na epiderme e, com isso, reduzir a concentração
de grânulos de melanina que se encontram dentro das células dessa camada
da pele, dispersando a melanina e, com isso, facilitando a despigmentação
das olheiras melânicas.
Em relação ao mecanismo de ação, são utilizados ativos cosméticos especí-
ficos, com pH ácidos, ou seja, menores que 6 na escala de mensuração do pH,
valores de pHs mais baixos que a pele. Esses ativos interagem quimicamente
com a pele por meio de reações químicas que causam níveis variados de lesões
na pele, conforme sua propriedade, seu pH e sua concentração, reduzindo a
adesão entre as células da camada mais externa da epiderme e facilitando a
remoção dessas células em seguida (SMALL, 2014).
Por isso, quando aplicados, esses ativos podem promover uma descamação
da pele, que pode ser de graus variados. Quando aplicados aos casos de olheiras,
os peelings químicos têm como objetivo remover a melanina que se encontra
presente no estrato córneo e na epiderme, no interior dos queratinócitos.
Os ativos cosméticos mais utilizados nos peelings para tratar as olheiras
são ácido tricloroacético, ácido salicílico, ácido glicólico, ácido lático, e ácido
mandélico (OLIVEIRA; PAIVA, 2016).
A concentração de cada um dos peelings depende do ativo utilizado e
também do nível de profundidade do peeling. Por exemplo, o ácido tricloro-
acético, bastante utilizado no tratamento de olheiras, pode ser utilizado em
uma concentração de 10% quando o objetivo é um peeling muito superficial.
Tratamentos para olheiras 13

O ácido glicólico, também bastante comum no tratamento de hiperpigmenta-


ções, é utilizado em concentrações de 30% para peelings muito superficiais,
assim como o ácido salicílico, que também é utilizado nessa concentração
(YOKOMIZO et al., 2013).
A aplicação correta faz com que um novo tecido seja formado na região,
mais saudável e com uma distribuição de grânulos de melanina menor e mais
homogênea.

A realização de peelings químicos é contraindicada em pacientes com presença de lesões


de herpes ou outros processos infecciosos. Além disso, se a área de tratamento estiver
irritada ou lesionada, o tratamento também é contraindicado (BORGES; SCORZA, 2016).

Microdermoabrasão
Trata-se de um método de esfoliação mecânica da pele com equipamentos
específicos que geram a microdermoabrasão, como o peeling de cristal ou o
peeling de diamante.
No uso da microdermoabrasão pelo peeling de cristal, o equipamento pro-
duz uma pressão positiva sobre a pele, a qual jateia microcristais sobre a pele,
gerando erosão da camada mais externa da epiderme, ao mesmo tempo que
utiliza a pressão negativa para sugar restos celulares e microcristais residuais
de volta para um reservatório no interior do equipamento (BORGES; SCORZA,
2016). Na microdermoabrasão pelo peeling de diamante, o equipamento utiliza
apenas uma pressão negativa, associada a uma lixa diamantada, que serve de
superfície abrasiva. Nesse tipo de microdermoabrasão, durante a movimentação
da manopla sobre a pele, a pele é sugada pela pressão negativa em direção à
superfície abrasiva, gerando a esfoliação (BORGES; SCORZA, 2016).
Em ambas as modalidades de microdermoabrasão, os objetivos de trata-
mento são os mesmos: gerar uma esfoliação mecânica da pele, removendo a
camada mais externa da epiderme e, com isso, induzindo uma maior taxa de
renovação celular. Além disso, dispersa a melanina que se encontra acumulada
na região, auxiliando no tratamento de olheiras melânicas.
A Figura 6, a seguir, mostra a aplicação da microdermoabrasão com peeling
de diamante.
14 Tratamentos para olheiras

Figura 6. Microdermoabrasão com peeling de diamante no tratamento de olheiras melânicas.


Fonte: Elenavolf/Shutterstock.com.

Em relação à profundidade, a esfoliação mecânica promovida pela mi-


crodermoabrasão pode causar níveis de abrasão de diferentes profundidades
de acordo com a pressão utilizada, com a velocidade de movimentação da
manopla com o tempo e número de vezes que a manopla é deslizada sobre
uma região (NUNES; SIMÃO; KUPLICK, 2013).

Carboxiterapia
Essa modalidade terapêutica se caracteriza pela administração do gás carbônico
(CO2) de forma terapêutica no plano subcutâneo através do uso de agulha. A
aplicação desse gás promove um descolamento da pele da região com afasta-
mento dos tecidos, que passam a ser ocupados pelo gás. Esse deslocamento
induz um trauma físico por meio do trauma imposto pela agulha associado
ao efeito circulatório e de oxigenação a partir do efeito Bohr que o gás pro-
porciona, suficientes para induzir uma cascata de eventos que culminam no
resultado que se almeja no tecido (BORGES, 2010).
Tais condições são favoráveis ao desenvolvimento de processo de cica-
trização, e esse processo induz a síntese de um novo tecido na região, com
novas fibras de colágeno e elastina, que melhoram a sustentação da pele
(OLIVEIRA; PAIVA, 2016).
Nesse caso, a carboxiterapia, considerando esse mecanismo de ação, pode
ser indicada para tratamento de olheiras que cursem com flacidez de pele. Ao
aumentar-se o tônus da pele e reduzir a flacidez, reduz-se também a sobra que
Tratamentos para olheiras 15

a pele faz sobre a região ocular e, com isso, diminui-se o padrão das olheiras
melânicas, principalmente, que são mais comuns em pacientes de maior idade.

3 Tratamento de olheiras vasculares


Como nesse tipo de olheiras a fisiopatologia está relacionada a um maior acúmulo
de edema e a circulação sanguínea se encontra alterada, os tratamentos propostos
devem, sobretudo, melhorar a circulação local e a nutrição tecidual, reduzindo
edema e evitando a estase venosa (DANTAS, 2013). Os tratamentos nos casos de
olheiras vasculares são destinados a amenizar a visualização dos vasos. Por isso,
podem ser empregados tratamentos estéticos que atuem sobre os vasos sanguíneos,
como o caso dos ativos cosméticos que atuem sobre as estruturas vasculares.
Além disso, podem ser empregados nesses casos tratamentos estéticos manuais,
como a drenagem linfática, para que promova melhora da circulação local, reduzindo
o edema e, desse modo, atuando sobre a fisiopatologia das olheiras vasculares.

Ativos cosméticos
Os ativos cosméticos destinados ao tratamento de olheiras do tipo vascular de-
vem atuar, principalmente, sobre os vasos sanguíneos e linfáticos, melhorando
a circulação local, fortalecendo a parede dos vasos sanguíneos, aumentando a
resistência e reduzindo a fragilidade capilar (RIBEIRO, 2010). Também podem
agir diminuindo o edema local e regularizando a permeabilidade vascular,
impedindo que células sejam perdidas do interior do vaso e que possam causar
deposito de hemossiderina, por exemplo.
A seguir, são apresentados alguns ativos com essas finalidades e o meca-
nismo de ação promovido — além desses ativos, outros ativos que estimulem
a circulação sanguínea e reduzam o edema local podem ser aplicados no
tratamento de olheira vasculares.

 Argilas: são ativos minerais utilizados na área da estética para nutrir,


hidratar, reconstituir, desintoxicar, revitalizar, equilibrar os tecidos.
São compostas por complexos de minerais e água e, por isso, pos-
suem propriedades terapêuticas relacionadas à ação facilitadora de
trocas calóricas, líquidas e iônicas. A composição mineral varia entre
as diversas cores de argila disponíveis no mercado de cosméticos. Em
16 Tratamentos para olheiras

relação à aplicação, podem ser utilizadas como agentes esfoliantes ou


como máscaras, promovendo ações de limpeza, esfoliação, peeling
físico, ação adstringente, hidratante, tensora, antioxidante, nutritiva,
tonificante, revitalizante e ativadora da circulação, além da ação clare-
adora (MILREU, 2013). Em relação às cores de argila mais utilizadas
no tratamento de olheiras, a argila branca é a que promove maior efeito
clareador. Contudo, outras argilas também podem ser empregadas para
melhorar o tônus da pele na região dos olhos, a circulação, promovendo
ação antioxidante, prevenindo sinais do envelhecimento, dentre outras
finalidades.
 Cafeisiliane C®: complexo de ativos com cafeína em sua composição
que atua melhorando a circulação local (RIBEIRO, 2010).
 Castanha da Índia: atua reduzindo a fragilidade capilar e regulando a
permeabilidade dos vasos sanguíneos. Além disso, promove aumento
do tônus vascular, efeito de proteção dos vasos sanguíneos e, ainda,
reduz a quantidade de edema formado (RIBEIRO, 2010).
 Chá verde: aumenta a resistência e o tônus venoso, tem efeito na melhora
da circulação sanguínea e, por isso, é eficaz no tratamento de olheiras
vasculares (NUNES; SIMÃO; KUPLICK, 2013).
 Extrato de hera: regula a circulação sanguínea nos pequenos vasos
(NUNES; SIMÃO; KUPLICK, 2013).
 Eyeliss®: atua melhorando a circulação linfática.
 Ginkgo biloba: possui uma serie de flavonoides na sua composição e,
por isso, é capaz de estabilizar a permeabilidade vascular e melhorar o
fluxo de sangue no local (RIBEIRO, 2010).
 Haloxil®: atua sobre a microcirculação, fortalece a pele e reduz a fra-
gilidade vascular na área dos olhos (RIBEIRO, 2010).
 Ruscus: é um ativo que atua na redução do edema (RIBEIRO, 2010).
 Vitamina K: atua sobre o mecanismo de homeostasia, evitando a perda
de células de dentro dos vasos sanguíneos (RIBEIRO, 2010).

Peelings químicos
Os peelings químicos também podem ser benéficos no tratamento de olheiras
vasculares. Dentre eles, indica-se o uso de ativos cosméticos como: ácido
Tratamentos para olheiras 17

tricloroacético, ácido salicílico, ácido glicólico, ácido lático e ácido mandélico


(OLIVEIRA; PAIVA, 2016).
No caso do tratamento de olheiras vasculares, Souza et al. (2013) sugerem
o uso do ácido tioglicólico, já que esse ácido tem capacidade de quelar o ferro
presente na hemossiderina e, com isso, evitar o acúmulo de pigmento dessa
substância na área dos olhos.

Drenagem linfática manual (DLM)


Considerando que as olheiras vasculares apresentam redução da circulação
sanguínea local, é esperado, também, que apresentem estase linfática e edema.
Nesse sentido, pode-se indicar como modalidade de tratamento o uso da DLM,
de modo a prevenir ou tratar o edema da área dos olhos.
A DLM atua drenando o excesso de líquido acumulado na região por
meio de movimentos lentos, fluidos e no sentido das vias linfáticas (NUNES;
SIMÃO; KUPLICK, 2013).
Para o tratamento de olheiras, é importante realizar a técnica em toda a
área facial, seguindo obrigatoriamente o sentido das vias linfáticas, conforme
a mostra a Figura 7, a seguir.

Figura 7. Sentido da drenagem linfatica facial no tratamento das olheiras.


Fonte: Alla Bagrina/Shutterstock.com.
18 Tratamentos para olheiras

Tratamento de olheiras mistas


As olheiras mistas apresentam características combinadas e, normalmente,
exigem também tratamentos combinados. Por isso, para tratamento dessas olheiras,
devem ser utilizados os recursos estéticos citados anteriormente e, ainda, outros
recursos que atuam nos dois tipos de olheira, como os que você confere a seguir.
 Radiofrequência: consiste na aplicação de energia eletromagnética, que, ao
chegar aos tecidos, promove agitação das moléculas de água e geração de
calor (RODRIGUES; PETRI, 2019). A radiofrequência eleva a temperatura tecidual,
que gera aumento no metabolismo e melhora da irrigação e nutrição.
 Laser infravermelho: atua no tratamento de olheiras por induzir a eliminação
das toxinas, ativar o sistema linfático e, com isso, proporcionar melhor oxigena-
ção dos tecidos e aumentar a microcirculação local, que se encontra afetada.
 Diodo emissor de luz (LED): emissão de luz por diodos que transforma energia
elétrica em radiação visível. Sua aplicação se dá pela ação de diferentes com-
primentos de onda, com cores especificas (VIEIRA; SILVA; DEVILLA, 2018). Para
olheiras, indica-se a terapia com comprimentos de onda azul, que estimula o
metabolismo celular, melhora a microcirculação sanguínea local e age sobre o
metabolismo da produção de melanina, auxiliando no clareamento de manchas
hipercromias.
 Luz intensa pulsada (IPL): fototerapia cuja energia luminosa age sobre os tecidos
com finalidade terapêutica. Assim como o LED, a IPL varia os comprimentos de
onda de acordo com a finalidade terapêutica. Para tratamento de hipercromias,
incluindo olheiras, orienta-se o uso de comprimentos de onda na faixa de 520
nm a 1200 nm (VIEIRA; SILVA; DEVILLA, 2018).
 Microcorrentes: recurso de eletroterapia, de baixa intensidade, baixa amperagem
e baixa frequência que possibilita um tratamento sem dor. Quando aplicada
aos tecidos, a microcorrente melhora a microcirculação sanguínea e linfática
e promove melhora da regeneração tecidual (NUNES; SIMÃO; KUPLICK, 2013).
 Iontoforese: uma corrente elétrica contínua é aplicada aos tecidos em associação
com ativos cosméticos específicos. Permite que o ativo cosmético utilizado
permeie de maneira mais efetiva na pele e atinja tecidos mais profundos e
de modo mais rápido — contudo, é muito importante tomar cuidado com
os ajustes, especialmente da intensidade da corrente, por ser uma corrente
polarizada, podendo causar queimaduras químicas se mal empregada.

Vale destacar que os recursos citados na terapêutica das olheiras devem


ser utilizados de maneira associada, considerando que os efeitos terapêuticos
podem ser potencializados quando mais de um recurso é empregado. Nesse
caso, em uma mesma sessão de tratamento, o profissional pode fazer uso de
recursos cosméticos, de eletroterapia, de fototerapia e, ainda, de terapia manual.
Tratamentos para olheiras 19

Também vale destacar que todo tratamento deve ser complementado com
cuidados dermoestéticos no ambiente domiciliar. No caso das olheiras, esses
cuidados dermoestéticos se relacionam com o uso de ativos cosméticos indi-
cados pelo profissional de estética no ambiente domiciliar e, ainda, cuidados
relacionados ao uso de filtro solar durante o tratamento, evitando piora do
quadro das olheiras.
O tratamento das olheiras pode trazer resultados satisfatórios ao paciente,
mas, para garantir os resultados esperados, é necessário que o profissional
realize uma correta avaliação do cliente e de sua condição inestética de modo
a elaborar um plano de tratamento adequado.
Além disso, todo tratamento de olheiras deve ser associado a orientações
acerca de fatores causais, de modo que, se possível, o paciente possa modificar
hábitos de vida que estejam relacionados ao surgimento ou à piora do quadro
de olheiras, garantindo, desse modo, um atendimento integral, efetivo e,
sobretudo, seguro.

Em relação à proteção solar, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (2020) orienta que se faça
utilização de protetores solares com filtros UVA e UBB associados e com fator de proteção
solar mínimo de 30, garantindo, assim, uma proteção adequada à radiação solar.

ARAÚJO, J. A.; FERREIRA, L. A. Hiperpigmentação periorbital. Psicologia e Saúde em


Debate, v. 4, n. 3, dez. 2018. Disponível em : http://www.psicodebate.dpgpsifpm.com.
br/index.php/periodico/article/view/V4N3A6/257 . Acesso em: 10 maio 2020.
BORGES, F. S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas.
2. ed. São Paulo: Phorte, 2010.
BORGES, F. S.; SCORZA, F. A. Terapêutica em estética: conceitos e técnicas. São Paulo:
Phorte, 2016.
CHÁVEZ, C X. B.; DOREA, J. S.; PINHEIRO, R. C. S. P. Utilização do peeling químico no
tratamento de hipercromias ou hiperpigmentação facial. Journal of Specialist, [S. l.], v. 1,
n. 4, apr. 2019. Disponível em: http://journalofspecialist.com/jos/index.php/jos/article/
view/121 Acesso em: 13 maio 2020.
20 Tratamentos para olheiras

COSTA, A. Tratado internacional de cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2012.
DANTAS, L. D. P. Análise de padrões dermatoscópicos em pacientes com hiperpigmentação
periocular. 2013. 87 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-graduação em Medicina, Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em: https://www.
lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/86415/000910129.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 10 maio 2020.
DAS, S. Hiperpigmentação. In: MANUAL MSD. [S. l.: s. n.], 2018. Disponível em: https://
www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-da-pele/dist%C3%BArbios-de-
-pigmenta%C3%A7%C3%A3o/hiperpigmenta%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 10
maio 2020.
FLORIANI, J. Olheiras. In: JULIANA FLORIANI. Balneário Camboriú: [S. n.], 2020. Disponível
em: https://julianafloriani.site.med.br/index.asp?PageName=olheiras. Acesso em: 10
maio 2020.
MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
MILREU, P. G. A. Cosmetologia. São Paulo: Pearson, 2013.
NUNES, L. F.; SIMON, A. B.; KUPLICH, M. M. D. Abordagens estéticas não invasivas para
a hiperpigmentação orbital. Revista Interdisciplinar de Estudos em Saúde, v. 2, n. 2, 2013.
Disponível em: http://45.238.172.12/index.php/ries/article/view/166/175. Acesso em:
10 maio 2020.
OLIVEIRA, G. A.; PAIVA, A. R. Causas e tratamento da hipercromia periorbital. Revista
da Faculdade de Ciências Médicas de Sorocaba, v. 18, n. 3, 2016. Disponível em: https://
revistas.pucsp.br/RFCMS/article/view/23330/pdf. Acesso em: 10 maio 2020.
QUEZADA GAÓN, N.; ROMERO, W. Dermatoscopia na hiperpigmentação periorbital:
uma ajuda no diagnóstico do tipo clínico. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 6, n. 2,
2014. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/2655/265531454009.pdf. Acesso
em: 10 maio 2020.
RIBEIRO, C. J. Cosmetologia aplicada a dermoestética. 2. ed. São Paulo: Pharmabooks, 2010.
RODRIGUES, P. A.; PETRI, T. C. Eletroterapia facial e corporal avançada. Porto Alegre:
SAGAH, 2018.
SMALL, R. Guia prático de peelings químicos microdermoabrasão e produtos tópicos. Rio
de Janeiro: Di Livros, 2014.
Tratamentos para olheiras 21

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Como prevenir. Rio de Janeiro: SBD, 2017.


Disponível em: http://www.sbd.org.br/dezembroLaranja/noticias/como-prevenir/.
Acesso em: 10 maio 2020.
SOUZA, D. C. M. et al. Comparação entre ácido tioglicólico 2.5%, hidroquinona 2%,
haloxyl 2% e peeling de ácido glicólico 10% no tratamento da hiperpigmentação
periorbital. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 5, n. 1, 2013. Disponível em: http://www.
surgicalcosmetic.org.br/detalhe-artigo/250/Comparacao-entre-acido-tioglicolico-2-
-5---hidroquinona-2---haloxyl-2--e-peeling-de-acido-glicolico-10--no-tratamento-
-da-hiperpigmentacao-periorbital. Acesso em: 10 maio 2020.
VANZIN, S. B.; CAMARGO, C. P. Entendendo cosmeceuticos: diagnósticos e tratamentos.
2. ed. São Paulo: Santos, 2011.
VIEIRA, P. F.; SILVA, R. M.; DEVILLA, M. H. Radiofrequência x led na despigmentação su-
borbital vascular: uma revisão bibliográfica. 13 f. Monografia (Especialização) - Curso de
Pós-graduação em Estética e Bem-estar, Universidade Federal do Sul de Santa Catarina,
2018. Disponível em: https://riuni.unisul.br/handle/12345/5453. Acesso em: 10 maio 2020.
YOKOMIZO, V. M. F. et al. Peelings químicos: revisão e aplicação prática. Surgical &
Cosmetic Dermatology, v. 5, n. 1, 2013. Disponível em: http://www.surgicalcosmetic.
org.br/detalhe-artigo/253/Peelings-quimicos--revisao-e-aplicacao-pratica. Acesso
em: 10 maio 2020.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Tratamento para
flacidez e rítides
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Indicar tratamentos faciais para flacidez tissular e muscular e rítides.


 Determinar as indicações, contraindicações dos tratamentos faciais
para flacidez tissular e muscular e rítides.
 Descrever o mecanismo de ação dos recursos estéticos usados nos
tratamentos faciais para flacidez tissular e muscular e rítides.

Introdução
O processo de envelhecimento se caracteriza por uma série de mudanças
inevitáveis que ocorrem gradualmente em nossas vidas. Um dos sistemas
que mais sofre alterações com o envelhecimento é o sistema tegumentar,
que apresenta diversas alterações com o decorrer dos anos. O envelhe-
cimento é variável entre os indivíduos — pode ocorrer de maneira lenta
e gradual ou de maneira mais acelerada.
O mercado da beleza oferece diversos tipos de tratamentos e cosméticos
antienvelhecimento que possuem mecanismos de ação diferentes. Esses
tratamentos são projetados para restaurar o frescor da pele, suavizar linhas de
expressão delicadas, melhorar a uniformidade de textura e cor e evitar flacidez,
estimulando a produção de colágeno e elastina e promovendo efeito tensor
(lifting) — essas ações são conferidas de acordo com o organismo do indivíduo
e o conhecimento do profissional na aplicação e escolha do melhor tratamento.
Neste capítulo, você vai conhecer os tratamentos faciais para flacidez
tissular e muscular e rítides, assim como suas indicações e contraindica-
ções. Além disso, vai ver o mecanismo de ação dos recursos estéticos
usados nos tratamentos faciais para essas questões estéticas.
2 Tratamento para flacidez e rítides

1 Tratamentos faciais para flacidez tissular


e muscular e rítides
Em decorrência do aumento da expectativa de vida da população, o interesse
por retardar os sinais do envelhecimento apresenta grande crescimento —
ao mesmo tempo, o padrão de beleza imposto é o de uma pele jovem, sem
manchas, rugas e flacidez. No entanto, o envelhecimento, inevitável, deve-se
a modificações em nível celular, com redução da capacidade dos órgãos de
execução de suas funções normais (PEREIRA, 2008). Trata-se de um processo
biológico complexo contínuo, que se distingue por alterações celulares, mo-
leculares e genéticas com redução progressiva da capacidade de homeostase
do organismo, senescência e/ou morte celular (BAGATIN, 2011).
A flacidez (ptose) é uma disfunção estética comum decorrente do en-
velhecimento biológico, que, consequentemente, leva a uma série de afecções
na face. As alterações que originam essa afecção têm como fatores desenca-
deantes o processo intrínseco do envelhecimento da pele, como as mudanças
repentinas de peso, idade, e fatores extrínsecos, como a exposição excessiva
ao sol, hábitos sociais, dentre outros (KEDE; SABATOVICH, 2004).
O envelhecimento cutâneo é um processo decorrente de alterações e dimi-
nuição das estruturas profundas da camada cutânea, originando um reflexo
à superfície. Na derme, ocorre a diminuição no número de fibroblastos e,
em decorrência desse processo, as fibras colágenas se tornam mais espessas,
enquanto as fibras elásticas perdem parte de sua elasticidade. Na hipoderme,
a diminuição de tecido de gordura é evidente. Do mesmo modo, ocorre a
mudança da atividade e hipotrofia muscular e, em fase mais tardia, ocorre
redução dos ossos da face (GUIRRO; GUIRRO, 2004; BORGES, 2010).
Segundo Guirro e Guirro, (2004), a ptose pode ser bilateral ou unilateral,
sendo classificada da forma como você confere a seguir.

 Leve: leve excesso da pele da região acometida,alteração do contorno


facial, com leve abaulamento submandibular.
 Moderada: pálpebras superiores com queda lateral e formação de bolsa
de gordura nas pálpebras inferiores. Região de zigomático maior e menor
com queda do tecido muscular e tissular, acarretando desalinhamento
do contorno facial.
Tratamento para flacidez e rítides 3

 Severa: aumento das bolsas de gordura nas pálpebras inferiores e re-


dundância acentuada da pele, tanto das pálpebras superiores quanto das
inferiores. O contorno facial fica prejudicado e se observa a presença de
sulcos profundos formados em região de nasogeniano devido a severa
flacidez de musculo e tecido cutâneo.

A manifestação das rugas (também denominadas rítides) é decorrente


do enrijecimento das fibras colágenas e da perda da elasticidade natural em
virtude da diminuição das fibras elásticas e de outros componentes do tecido
conjuntivo. A camada adiposa se torna acidentada, dando procedência a rugas
gravitacionais — nesse processo, ocorre a diminuição da oxigenação tecidual
e trocas metabólicas propiciando na superfície da pele um aspecto desidratado
(GUIRRO; GUIRRO, 2004).
De acordo com Borges e Scorza (2016), as rugas podem ser classificadas
de acordo com sua profundidade da seguinte forma:

 superficiais (com diminuição ou perda de fibras elásticas na derme


papilar, desaparecem com a distensão da pele);
 profundas (decorrentes principalmente da exposição solar e não desa-
parecem com a distensão da pele).

Além disso, as rugas podem ser divididas em:

 dinâmicas (decorrentes de movimento muscular durante a expressão


facial);
 estáticas (surgem mesmo na ausência de movimento);
 gravitacionais (devido a flacidez tissular).

Para alcançar uma melhora no aspecto do envelhecimento cutâneo, muito


se tem pesquisado na área de estética e cosmética. Desse modo, sempre surgem
novas tecnologias de recursos estéticos empregados para o tratamento e que
proporcionam a renovação celular e a hidratação da pele, de modo a atuar no
aumento da circulação superficial local, melhorando a nutrição, o metabolismo
e a oxigenação tanto do tecido cutâneo quanto do muscular, propiciando uma
4 Tratamento para flacidez e rítides

melhora no aspecto geral da pele e a diminuição dos sinais do envelhecimento


(BAGATIN, 2011; SANTOS, 2011). Dentre esses tratamentos atuais, para o
envelhecimento, principalmente atuando na flacidez tissular, muscular e as
rítides (rugas), contamos com radiofrequência, eletroestimulação muscular,
microagulhamento, microcorrentes e cosméticos, os quais você confere a seguir.

Radiofrequência (RF)
O espectro eletromagnético navega entre ondas longas (rádio) até ondas muito
curtas (raios gama). O equipamento de radiofrequência é uma modalidade tera-
pêutica em que são utilizadas radiações do espectro eletromagnético na ordem de
kilohertz (kHz) a megahertz (MHz) (AGNE, 2004). Os aparelhos disponíveis no
mercado operam na faixa de 0,5 MHz e 1,5 MHz (BORGES; SCORZA, 2016). Por
ser transmitida na forma de ondas eletromagnéticas, com alternância de polaridade,
esta corrente gera calor por conversão tecidual. Esse processo é denominado
diatermia e é utilizado há anos como termoterapia profunda (AGNE, 2004).
De acordo com Agne (2004), a produção de aquecimento é o principal efeito
da transmissão de ondas de alta frequência nos tecidos, e essa conversão de
energia elétrica em energia térmica ocorre de três formas, como você confere
a seguir (TONEDERM, [201-?]).

 Íons livres: os tecidos vivos são abundantes em íons positivos e nega-


tivos diluídos em meios líquidos, com mobilidade ou liberdade para
deslocamentos dentro desse meio. Durante a aplicação da corrente,
percebe-se um maior aquecimento em regiões do corpo em que houver
maior predomínio desses íons.
 Moléculas dipolares: as moléculas de água são denominadas dipolos; têm
assimetria estrutural ocasionando uma resultante elétrica como um dipolo.
Quando submetidas a campos elétricos com alternância acelerada de pola-
ridade, geram energia térmica devido a movimentos rotacionais, os quais
interferem nos movimentos de moléculas adjacentes levando a movimentos
mais aleatórios e calor. Porém, a produção de calor por esse efeito é acatada
como significativa apenas a partir de frequências superiores a 10 MHz.
 Moléculas não polares: as células adiposas são exemplos de moléculas
não polares. Apesar de possuírem poucos íons livres ou polaridade
molecular pouco significativa, rebatem a influência do campo de ra-
diofrequência gerando uma quantidade pequena de calor.
Tratamento para flacidez e rítides 5

Atualmente, no mercado, existem inúmeros modelos e marcas de equi-


pamentos de radiofrequência, cada um com diferentes típicos de manoplas.
Dentre esses modelos, destacam-se (BELENKY et al., 2012):

 Monopolar: a corrente é gerada e penetra na pele por meio de um


cabeçote móvel, sendo direcionada até uma placa de retorno, que é
alocada em uma região distante da área de tratamento. A profundidade
pode chegar até 6 mm.
 Bipolar: os eletrodos de saída e retorno da corrente estão no próprio
cabeçote, não sendo necessária a placa de retorno. A energia gerada
tem um efeito mais superficial de até 2 mm de profundidade.
 Tripolar e multipolar: possui três ou mais eletrodos, e a energia é gerada
quando a corrente passa entre os eletrodos. A distância da corrente
entre os eletrodos caracteriza a profundidade de penetração no tecido.

Eletroestimulação muscular
Os aparelhos de eletroestimulação possuem correntes alternadas simétricas,
senoidais, que oferecem parâmetros na sua configuração, como a intensidade
(mA) necessária para conseguir despolarizar a membrana da célula, a duração
do pulso com o tempo (µs) suficiente para geração do potencial de ação e
um tempo de estímulo (segundos ou minutos) empregado para promover as
respostas pretendidas (analgesia, fortalecimento e relaxamento) (AGNE, 2011).
Dentre os aparelhos de eletroestimulação muscular disponíveis para compra
no mercado, existem duas correntes mais difundidas para uso, a corrente russa
e a corrente aussie.

 Corrente ou estimulação russa: formada por trens de impulsos de cor-


rente do tipo retangular ou senoidal, bipolar e simétrica, emitidos na
frequência de 2.500 Hz modulada na faixa 1 Hz a 120 Hz (AGNE, 2011).
 Corrente ou estimulação aussie: é uma corrente de média frequência
(1.000 Hz ou 4.000 Hz), modulada na faixa de 1 Hz a 120 Hz, podendo
apresentar ondas retangulares, bifásicas ou simétricas (WARD; RO-
BERTSON; IOANNOU, 2009). A corrente permite ajustar sua frequência
burst em um curto período de tempo, o que a torna mais confortável
que as demais. Assim, ela é capaz de alcançar tecidos mais profundos
em menor intervalo de tempo (WARD; CHUEN, 2009).
6 Tratamento para flacidez e rítides

Segundo Borges (2010), a classificação das correntes elétricas pode ser


no grupo de correntes de baixa e média frequência, e as mais utilizadas são:
estimulação elétrica funcional (FES), corrente russa, aussie e estimulação
elétrica neuromuscular (NMES). Modulações são necessárias nessas correntes,
e essas variações são ordenadas a partir dos ajustes empregados nos equipa-
mentos, tendo como objetivo permitir um ciclo completo para o recrutamento
muscular. Na seguinte ordem, podem ser citadas quatro:

 Rampa de subida — Rise;


 Tempo ON — TON;
 Rampa de descida — Decay;
 Tempo OFF — TOFF.

Essas variáveis são medidas em segundos. Na primeira fase do circuito,


temos a rampa de subida, em que ocorre um aumento gradativo da intensi-
dade da corrente de forma lenta. Nesse processo, ocorre o recrutamento de
todas as fibras musculares. O tempo mais empregado é o de 2 segundos, mas
alguns equipamentos apresentam graduação de até 10 segundos (BORGES;
SCORZA, 2016).
Ocorre a sustentação na segunda fase do ciclo, em que se dá a contração ou
tempo ON. Nesse processo, obtém-se o maior recrutamento muscular, e uma
resistência externa no movimento é aconselhável. O tempo mais utilizado é de
6 a 10 segundos, mas alguns equipamentos possuem opção de até 30 segundos
de contração (BORGES; SCORZA, 2016).
O período de repouso do músculo é necessário após o período de sus-
tentação. Para isso, assim como no início do ciclo, quando a intensidade é
aumentada, é necessária a regressão gradativa da intensidade — rampa de
descida é o nome dado a esse período e seu valor é o mesmo da rampa de
subida (BORGES; SCORZA, 2016).
A última fase é denominada de repouso ou tempo OFF e, nesse processo,
não há liberação de pulsos, então ocorre o momento de descanso. Esse tempo
deverá ser maior ou igual ao tempo de sustentação (BORGES; SCORZA, 2016).
Tratamento para flacidez e rítides 7

Para realizar a eletroestimulação, pode-se aplicar a técnica ponto motor e a técnica


bipolar (AGNE, 2011). Na técnica ponto motor, o ponto é encontrado no local da
inervação até a depressão da fibra muscular. A estimulação muscular será muito mais
efetiva agindo sobre o ponto motor, pois haverá maior recrutamento de suas fibras.
Para localizar o ponto motor, é necessário:
1. envolver as pontas do eletrodo caneta com algodão umedecido em água;
2. posicionar um dos eletrodos — o passivo — em uma região próxima à localização;
3. utilizando o outro eletrodo — o ativo —, encontrar os pontos motores movendo-os
até que seja possível a visualização efetiva da contração muscular sem observar
a sua fasciculação;
4. encontrada a localização, utilizar um lápis dermográfico para marcação dos pontos;
5. dispor gel condutor nos eletrodos fixos e posicioná-los sobre os pontos já marcados.
Sugere-se a utilização da corrente de forma bipolar, em que um dos eletrodos é
posicionado na origem muscular e o outro eletrodo no seu ventre muscular.

Microagulhamento
A técnica foi apresentada por Orentreich na década de 1990, com o nome de
“subcisão” e com a finalidade de induzir a produção de colágeno no tratamento
de cicatrizes cutâneas e rugas. Por ser uma técnica que envolve lesão tecidual,
foi denominada TIC (terapia de indução de colágeno, do inglês CIT — Colagen
Induction Therapy) (NEGRÃO, 2015).
Por volta do ano 2000, o cirurgião plástico sul-africano Dermond Fernands
desenvolveu um aparelho adequado para a indução de colágeno, composto por
um cilindro rotativo envolto de microagulhas que permitia abranger diferentes
regiões, de forma rápida e em distintas profundidades conforme o tamanho
de suas agulhas. Foi criado, então, o Dermaroller®, marca registrada e mais
conhecida nos tratamentos de microagulhamento (NEGRÃO, 2015).
O principal objetivo do microagulhamento é a estimulação dos fibroblastos,
mas outro grande benefício é a introdução e a absorção de ativos de uso tópico,
que são mais fácil e rapidamente depositados nas camadas mais profundas da pele.
8 Tratamento para flacidez e rítides

Microcorrentes
As microcorrentes (MENS — Microcurrent Electrical Neuromuscular Stimu-
lation) são modalidades de terapia não invasiva que usam corrente de baixa
amperagem, em microampéres (µA), com alternância de polaridade positiva
e negativa a cada três segundos (BORGES, 2010).
A corrente do aparelho é capaz de atingir desde tecidos mais superficiais
até os mais profundos conforme os ajustes dos parâmetros no equipamento,
modificando a bioeletricidade no corpo, de forma a se restabelecer. Toda
corrente elétrica dentro do organismo faz aumentar a eletricidade endógena,
permitindo que a área corporal com disfunção recupere o que chamamos de
capacitância (GUIRRO; GUIRRO, 2004). Essa capacitância estará alterada no
processo fisiológico do envelhecimento e na presença de alguma lesão, pois a
passagem da corrente nos tecidos é bloqueada, acarretando impedência elétrica.
Essa, por consequência, prejudica o transporte de nutrientes e oxigênio aos
tecidos e, assim, sinaliza que a produção de ATP (liberação de energia) está
reduzida (SORIANO; PÉREZ; BAQUÉS, 2000).

Cosméticos
São produtos aplicáveis na pele que podem ter objetivos diversos, dadas as
suas formulações e seus princípios ativos. Entretanto, existem diferenças
entre eles que é necessário conhecer para saber orientar seu uso. Há, nesse
sentido, cosmecêuticos para rejuvenescimento, fotoproteção, redução de rugas,
tratamento de manchas, assim como os que realizam a prevenção das lesões
do tecido (DRAELUS, 2005). Esses produtos podem estar associados aos
recursos eletroterápicos e aos métodos de tratamento, assim como são indicados
para uso domiciliar, com a finalidade de manter o tratamento. Para atingir seu
efeito, devem ser usados com disciplina e da forma que o profissional orientar
(LEONARDI, 2008).
O tipo de pele é sempre avaliado pelo profissional, que também deve se
atentar às características dos ativos e suas concentrações na fórmula. Outro
ponto de extrema importância é saber quais ativos podem ser utilizados pela
sua classe profissional, já que alguns não podem ser aplicados por profissionais
da estética. Tendo todas essas informações esclarecidas, fica mais fácil buscar
um produto mais assertivo para cada cliente.
Tratamento para flacidez e rítides 9

Além disso, é recomendada a utilização de um cosmecêutico rejuvenes-


cedor a partir dos 30 anos de idade, quando a perda do colágeno começa
a aumentar com o passar dos anos (SOUZA, 2013). Esses cosméticos têm
em sua formulação princípios ativos hidratantes, nutritivos, antioxidante e
antienvelhecimento. Veja, no Quadro 1, alguns dos ativos que podem ser
encontrados em cosméticos antienvelhecimento.

Quadro 1. Ativos encontrados em formulações para tratamento do envelhecimento e


suas concentrações

Concentração Ativo

2,0 a 10,0% Lipossomas vitamina A e E

0,5 a 20,0% Vitamina C

0,5 a 20,0% Ácido hialurônico

2,0 a 10,0% Retinol

0,5% a 1,0% Filmexel®

3,0% a 10,0% Argireline®

0,5 a 15,0% Gluconolactona

2,0 a 5,0% Raffermine®

2,0% Reproage™

10,0% Argirelox™

0,5 a 1,0% (em associação) EGF (fator de crescimento epidermal)


3% (uso isolado)

0,5 a 1,0% (em associação) IGF (fator de crescimento insulínico)


3% (uso isolado)

0,5 a 1,0% (em associação) TGFß3 (fator de crescimento


3% (uso isolado) transformador)

0,5 a 1,0% (em associação) b-FGF (fator de crescimento fibroblástico


3% (uso isolado) básico)

Fonte: Adaptado de Souza (2013); Leonardi (2008); Bagatin (2011).


10 Tratamento para flacidez e rítides

2 Tratamentos faciais para flacidez tissular


e muscular e rítides: suas indicações
e contraindicações
Antes de qualquer tratamento ser realizado por um profissional de estética, uma
minuciosa anamnese deve ser feita para se preservar e assegurar a saúde do cliente.
De acordo com Borges (2010), para o uso da eletroterapia estética, algu-
mas indicações, precauções e contraindicações devem ser identificadas antes
da realização de qualquer recurso estético. Cada equipamento mediante seu
funcionamento terá suas indicações específicas, e é um dever do profissional
não somente saber indicar um procedimento, mas também conhecer o que
impede um paciente de realizar tal protocolo e quais cuidados que deve tomar.
A seguir, confira as indicações dos tratamentos faciais para flacidez tissular e
muscular e rítides.

 Indicação para estimulação muscular (AGNE, 2011; BORGES, 2010):


fortalecimento do músculo esquelético, melhorando de maneira signi-
ficativa tanto o controle motor quanto a morfologia das células mus-
culares por meio do aumento da área de secção transversa das fibras
do músculo esquelético.
 Indicação para radiofrequência (AGNE, 2011; BORGES, 2010):
■ flacidez tissular;
■ celulite;
■ lipodistrofia localizada (gordura localizada);
■ lipodistrofia ginoide (celulite).
 Indicação para microcorrentes (AGNE, 2011; BORGES, 2010):
■ cicatrização tecidual;
■ tratamento de rítidez (rugas);
■ elasticidade da pele;
■ acne;
■ involução cutânea — aumento do número de fibroblastos e reali-
nhamento das fibras colágenas;
■ pós-operatório de cirurgia plástica;
■ estrias.
 Indicação para microagulhamento (AGNE, 2011; BORGES, 2010):
■ cicatrização tecidual;
■ flacidez tissular;
■ tratamento de rítidez (rugas);
Tratamento para flacidez e rítides 11

■ cálvicie;
■ involução cutânea — aumento do número de fibroblastos e reali-
nhamento das fibras colágenas;
■ estrias.
 Indicação para cosméticos antienvelhecimento (AGNE, 2011; BORGES,
2010):
■ cicatrização tecidual;
■ flacidez tissular;
■ tratamento de rítidez (rugas);
■ elasticidade da pele;
■ acne;
■ estrias;
■ pós-laser;
■ lipodistrofias corporais;
■ pós microagulhamento;
■ hipercromias.

Além das indicações, é de fundamental importância o entendimento das


contraindicações de tratamentos. Por isso, confira a seguir uma série de itens
que contraindicam os tratamentos de eletroterapia estética e as precauções
que devem ser tomadas no contexto da aplicação de equipamentos em estética
(GUIRRO; GUIRRO, 2004; DRAELUS, 2005; BORGES, 2010).

 Contraindicações para eletroterapia:


■ pacientes com marca-passo cardíaco ou equipamentos elétricos
implantados;
■ regiões de implantes metálicos;
■ região de seios carotídeos e glote;
■ presença de tromboses e doenças vasculares periféricas;
■ presença de câncer e metástases;
■ presença de qualquer processo infeccioso;
■ pacientes com falta de sensibilidade ou sensibilidade aumentada;
■ pacientes com alteração de pressão arterial;
■ presença de lesões de pele abertas;
■ gravidez e amamentação;
■ uso de toxina botulínica;
■ diabetes e outros distúrbios endócrinos descompensados;
■ psoríase;
■ alergia à corrente e ao campo elétrico.
12 Tratamento para flacidez e rítides

 Precauções:
■ o profissional deve conhecer e saber todos os parâmetros do equipa-
mento com o qual vai trabalhar a fim de não ter um efeito indesejado
ou até mesmo de não se atingir os objetivos de tratamento;
■ equipamentos devem estar em excelente estado de conservação e
manutenção atualizadas;
■ nunca ligar o equipamento sem a certeza de que a intensidade está zerada;
■ manter eletrodos e fios em perfeito estado;
■ limpar corretamente o equipamento e acessórios por higiene e risco
de infecção;
■ nunca remover eletrodos com a corrente em funcionamento;
■ acoplar corretamente os eletrodos;
■ nunca deixar o paciente sozinho durante os procedimentos;
■ sempre explicar o protocolo ao paciente para que ele saiba o que vai sentir;
■ não economizar em gel, óleos ou cremes;
■ escolher bons produtos.
 Contraindicações para microagulhamento (NEGRÃO, 2015):
■ lesões ou feridas expostas;
■ pele bronzeada e/ou queimada devido a exposição solar;
■ pústulas e nódulos actíneos;
■ herpes ativa;
■ histórico de má cicatrização e quelóides;
■ paciente fazendo uso de Roacutan, anti-inf lamatórios e
anticoagulantes;
■ gestantes e lactantes;
■ neoplásicos (em qualquer fase);
■ rosácea ativa;
■ alergia aos ativos usados em associação.
 Contraindicações para cosméticos (SOUZA, 2013):
■ alergia a ativos da formulação — por isso é necessário ter produto
antialérgico local e produto calmante.
■ pele bronzeada e/ou queimada devido a exposição solar;
■ herpes ativa;
■ paciente fazendo uso de Roacutan, anti-inf lamatórios e
anticoagulantes;
■ gestantes e lactantes;
■ neoplásicos (em qualquer fase);
■ observar também a associação de tratamentos concomitantes para
avaliar se há ou não a indicação.
Tratamento para flacidez e rítides 13

3 Mecanismos de ação nos tratamentos faciais


para flacidez tissular e muscular e rítides
Todo tratamento estético tem um objetivo específico e mecanismos de ação
que desempenhará dentro do organismo do indivíduo que o recebe. A seguir,
você acompanha os mecanismos de ação dos tratamentos com equipamentos
e cosméticos para flacidez tissular e muscular e rítides.

Radiofrequência (RF)
Seu mecanismo de ação transforma a energia eletromagnética em energia
térmica com a vibração das moléculas de água. A radiofrequência atua sobre
os tecidos de várias formas, causando efeitos térmicos ou atérmicos. Com
relação aos efeitos térmicos, causados pelo aumento da temperatura tecidual
local, podemos citar como principais atividade do sistema nervoso autônomo
a contração do colágeno, o estímulo à síntese de fibras colágenas e a síntese
de mucopolissacarídeos ou glicosaminoglicanas e fibras elásticas, levando ao
espessamento dérmico e melhorando a firmeza e a elasticidade da pele (PONTE;
OLIVEIRA, 2017). Já com relação aos efeitos atérmicos, há mudanças pela
interação com receptores ou canais de membrana celular. A radiofrequência
também acelera a absorção de equimoses e hematomas e promove auxílio no
rompimento de fibroses (SILVA et al., 2014).
Com o uso do equipamento de radiofrequência em temperaturas controladas,
ocorre o estímulo de uma proteína de choque térmico, conhecida como HSP
(Heat Shock Protein), que protege o colágeno do tipo I durante a sua síntese
(AGNE, 2011). A HSP-47 é uma glicoproteína de 47 Kda, conhecida por ser
sintetizada a temperaturas em torno de 42°C e sendo a única molécula com
capacidade de se ligar ao colágeno devido ao estresse. Vale lembrar que a
expressão de HSP47 está relacionada com a idade, de modo que, com o passar
do tempo, ela tende a diminuir. A radiofrequência também promove a indução
de citocinas pró-inflamatórias e interleucina-1 β (IL-1β). Os efeitos térmicos
ativam os fibroblastos, levando à neocalagenização, corroborada por alterações
em seu diâmetro, espessura e periodicidade (AGNE, 2011).
Na flacidez, a principal função que desempenha é provocar a contração
das moléculas de colágeno e elevar a produção de neocolágeno. A temperatura
local deve estar em torno de 38°C a 40°C para que esse efeito ocorra no tecido
(BORGES, 2016).
14 Tratamento para flacidez e rítides

Eletroestimulação muscular
Segundo Borges (2010), as fibras musculares se classificam em:

 musculaturas de contração lenta tônica tipo I — se caracterizam por


um nível baixo de miosina ATPase, por velocidade de contração menor
e por uma baixa capacidade glicolítica desenvolvida;
 fibras de contração rápida do tipo II — são subdivididas em IIa e
IIb. A fibra IIa, oxidativa e glicolítica, de cor vermelha, contração
rápida ou intermediária, possui velocidade de contração rápida por
estar combinada a uma capacidade moderada bem desenvolvida para
transferência de energia tanto aeróbica quanto anaeróbica; a fibra
tipo IIb possui maior potencial anaeróbico e constitui a fibra rápida
e glicolítica. A frequência empregada deve ser em torno de 10 Hz
quando se almeja estimular fibras do tipo I e acima de 30 Hz para
fibras do tipo II (GUIRRO; GUIRRO, 2004).

Para Agne (2011), a eletroestimulação muscular é uma inovação tecno-


lógica na área da estética com capacidade de estimular as fibras musculares
para uma contração muscular. A eletroestimulação muscular é um meca-
nismo que simula a passagem do pulso elétrico nervoso, levando o músculo
a contração sem a necessidade de um pulso originado pelo próprio sistema
nervoso. Dessa forma, ocorre uma maior formação de unidades motoras
(unidade funcional básica do músculo), resultando em um maior recrutamento
de fibras musculares — o aumento na oferta de oxigênio no tecido faz com
que ocorra uma mudança positiva na sua aparência (SORIANO; PÉREZ;
BAQUÉS, 2002).
A frequência sugerida para a realização das sessões de corrente russa
é de duas ou três vezes na semana, para que sejam observados resultados,
e o número de sessões é variável de acordo com a intensidade da disfun-
ção estética e o estilo de vida do cliente. É válido lembrar de que hábitos
saudáveis, como dieta equilibrada associada à prática de exercícios físicos,
sempre potencializará os resultados esperados dos tratamentos estéticos
corporais (BORGES, 2010).
Tratamento para flacidez e rítides 15

Para que possamos realizar nossas atividades e movimentos diários, são fundamentais
os músculos, que são compostos de milhares de fibras musculares agrupadas de acordo
com características anatômicas e funcionais. As fibras musculares são divididas entre
fásicas/brancas (fibras de velocidade) e tônicas/vermelhas (sustentação). As contrações
rápidas e vigorosas são realizadas pelo músculo estriado esquelético e acontecem de
forma voluntária (SANTOS, 2011).

Microagulhamento
A injúria provocada pelo procedimento desencadeia perda da integridade do tecido,
dando início a uma nova produção de fibras colágenas com o fim de reparar as
fibras danificadas. Ocorre, também, dissociação dos queratinócitos e liberação
de citocinas ativadas pelo sistema imune, gerando uma vasodilatação no local; os
queratinócitos, então, migram para a região e reestabelecem o tecido lesionado.
Além da resposta fisiológica, as micropunturas facilitam a permeação de ativos no
tecido (LIMA; LIMA; TAKANO, 2013; KLAYN; LIMANA; MOARES, 2013).
O comprimento da agulha está ligado proporcionalmente à resposta in-
flamatória que será gerada no local — quanto maior o comprimento, maior
será a agressão e consequentemente a resposta gerada. Existem diferentes
comprimentos, que vão de 0,2 mm até 3,0 mm (BORGES, 2016).
Como a pele sofre perfurações superficialmente, são criados múltiplos micro-
canais que favorecem a permeação dos ativos cosméticos, possibilitando o drug
delivery (entrega do princípio ativo na camada em que será realizada sua ação no
tratamento das alterações estéticas). Dentre esses ativos de potencialização, temos
a aplicação dos fatores de crescimento, vitamina C, ácido hialurônico, entre outros.
As microlesões formadas na pele induzirão no tecido o processo de reparo
tecidual, que é constituído de três fases. A primeira fase é a inflamatória e tem
origem logo após a lesão, desencadeando um aumento da produção celular prin-
cipalmente de fibroblastos, aumentando a síntese de colágeno, elastina e de ou-
tras substâncias presentes no tecido conjuntivo, restabelecendo a integridade da
pele e promovendo um estímulo na produção de colágeno. Além disso, ocorre a
liberação de fatores quimiotáticos pelas plaquetas que promovem a invasão de
outras plaquetas, neutrófilos e fibroblastos (LIMA; SOUZA; GRIGNOLI, 2015).
16 Tratamento para flacidez e rítides

A segunda fase é a proliferativa, em que os neutrófilos são substituídos por


monócitos, sofrendo alteração celular para macrófagos e liberando fatores de
crescimento, incluindo o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF),
fator de crescimento fibroblástico (FGF) e fator de crescimento transformador
(TGF-b e TGF-a), os quais incitam a migração e a proliferação de fibroblas-
tos. Nesse processo, ainda, os queratinócitos começam a se proliferar e a
liberar fatores de crescimento para promover a reposição do colágeno pelos
fibroblastos. Nessa fase, ocorre, também, o processo de neovascularização,
em que novos vasos sanguíneos são formados e o colágeno tipo III é a forma
dominante na fase inicial da cicatrização (BORGES, 2016).
A terceira e última fase do processo é denominada remodelamento tecidual
e se dá quando o colágeno tipo III é depositado na derme, sendo gradualmente
substituído pelo colágeno tipo I (LIMA; SOUZA; GRIGNOLI, 2015).

Microcorrentes
A principal ação da microcorrente é proporcionar aumento na produção de
ATP. Devido a isso, de forma indireta, oportuniza o aumento no transporte de
aminoácidos de maneira interna, elevando a síntese de proteínas. O ATP pode
aumentar em até 500% com correntes entre 100 µA e 500 µA — o aumento da
produção de ATP busca fornecer a energia necessária aos tecidos para aumen-
tar a síntese de proteínas e o transporte de íons. Em resumo, esses processos
são a base do desenvolvimento saudável dos tecidos (RUSENHACK, 2004).
Portanto, a microcorrente é considerada uma corrente fisiológica e ho-
meostática, usada para analgesia e reparo de ossos e tecidos. Nas disfunções
estéticas, estimula a penetração de proteínas no sistema linfático, ativando
o metabolismo, melhorando o tônus tecidual e muscular, desempenhando
o reparo tecidual e até proporcionado melhorias na circulação sanguínea e
linfática (GUIRRO; GUIRRO, 2004).
Os cosméticos possuem cada um seu próprio mecanismo de ação com
base nos ativos que compõem sua fórmula. No Quadro 2, a seguir, você pode
verificar cada ativo e sua respectiva ação no organismo a fim de amenizar e
tratar os sinais do envelhecimento.
Tratamento para flacidez e rítides 17

Quadro 2. Ativos encontrados em formulações para tratamento do envelhecimento e


seu mecanismo de ação

Ativo Mecanismo de ação

Liposso- A vitamina A tem ação reguladora da produção de queratina, ou seja, na


mas Vita- renovação celular, e estimulante para a formação de fibras de sustentação
mina A e E (colágeno). Essas ações tornam a pele mais macia e suave. Por outro lado, a
vitamina E tem ação antioxidante e retarda a peroxidação lipídica, pro-
tegendo as lipoproteínas das membranas celulares. A associação dessas
duas vitaminas leva a uma ação no antienvelhecimento (LEONARDI, 2008).

Vitamina C Combate os radiais livres, netralizando-os. Além do efeito antioxidante, a


vitamina C estimula a produção de colágeno e promove efeito clareador.

Ácido Substância encontrada na pele e que possui atividade biológica como


hialurônico principal glicosaminoglicana da derme. Proporciona viscosidade e elastici-
dade na derme, além de auxiliar no controle da hidratação da derme e do
tônus da pele (LEONARDI, 2008).

Retinol Tem a capacidade de ativar a mitose e o metabolismo na pele envelhe-


cida, além de estimular a produção de matriz extracelular pelos fibro-
blastos, resultando no aumento da produção de glicosaminoglicanas e
colágeno (BAGATIN, 2011).

Forma uma rede fina, coesa, flexível e não oclusiva, com efeito de segunda
Filmexel® pele, que preenche o microrelevo cutâneo e proporciona benefícios de
melhora da radiância e aparência (BAGATIN, 2011).

Argireline® É um hexapeptídeo de aplicação tópica que possui o mesmo mecanismo


de ação da toxina botulínica, oferecendo segurança e conforto na aplica-
ção, mantendo a naturalidade da expressão da face e restaurando o tônus
cutâneo (BLANES-MIRA, 2002).

Glucono- Penetra lenta e suavemente na pele, normaliza a renovação celular e reduz


lactona as linhas finas e rugas de expressão sem irritar ou queimar o usuário. Além
disso, recondiciona a barreira natural do tecido epitelial e devolve a sua ca-
pacidade natural de autoproteção contra agentes irritantes (SOUZA, 2013).

Raffermine® Reestrutura a derme e confere efeito firmador imediato e prolongado. O


efeito firmador de longa duração ocorre por ação indireta, uma vez que
é metabolizado como nutriente pelas células, mantendo a contração das
fibras de colágeno por vários dias após sua aplicação. Além disso, otimiza
a elasticidade cutânea pela ação inibitória sobre elastases e reestrutura a
derme, organizando as fibras colágenas (LEONARDI, 2008).

(Continua)
18 Tratamento para flacidez e rítides

(Continuação)

Quadro 2. Ativos encontrados em formulações para tratamento do envelhecimento e


seu mecanismo de ação

Ativo Mecanismo de ação

Reproage™ Age através da epigenética, tornando o funcionamento metabólico de


células envelhecidas semelhante ao de células mais jovens. Isso se dá por
meio da promoção da renovação celular pelo estímulo das células basais.
Consequentemente, os sinais de envelhecimento são reduzidos, obser-
vando-se uma pele mais macia, radiante, uniforme e luminosa (SOUZA,
2013).

Argirelox™ Atua por dois mecanismos de ação complementares e sinérgicos; o


primeiro modula a liberação de acetilcolina (Ach) na fenda sináptica, uma
vez que compete em posição com SNAP25 no complexo SNARE, desesta-
bilizando sua formação; e o segundo bloqueia a entrada dos íons de cálcio
nos neurônios, necessários no transporte das vesículas com a membrana,
reduzindo as contrações musculares. Assim, esses mecanismos de ação
se complementam e auxiliam na potencialização e manutenção do efeito
antirrugas (SOUZA, 2013).

EGF (fator Induz o turnover celular, acelerando o processo de renovação da epiderme,


de cres- reduz e previne linhas e rugas, restaurando a uniformidade no tom da
cimento pele, promovendo vitalidade e energia, e recupera a aparência jovem do
epidermal) tecido (BAGATIN, 2011).

IGF (fator Ativa a geração de novas células cutâneas, reduzindo e prevenindo linhas
de cres- e rugas, aumenta os níveis de colágeno e elastina e reduz manchas aver-
cimento melhadas (BAGATIN, 2011).
insulínico)

TGFß3 Atua em sinergismo com o fator de crescimento fibrobástico básico no


(fator de estímulo da produção de matriz extra celular de qualidade e previne
cresci- fibrose (BAGATIN, 2011).
mento
transfor-
mador)

Estimula os fibroblastos, atuando na prevenção e na redução de linhas e


b-FGF rugas, contribui no rejuvenescimento da pele, repara cicatrizes e melhora
(fator de a elasticidade cutânea devido à indução da síntese de colágeno e elastina
cresci- (BAGATIN, 2011).
mento fi-
broblástico
básico)
Tratamento para flacidez e rítides 19

AGNE, J. E. Eletrotermoterapia teoria e prática. Santa Maria: Orium, 2004.


AGNE, J. E. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Pallotti, 2011.
BAGATIN, E. Mecanismos do envelhecimento cutâneo e o papel dos cosmecêuticos.
Revista Brasileira de Medicina, v. 66, abr. 2011.
BELENKY, I. et al. Exploring Channeling Optimized Radiofrequency Energy: a Review of
Radiofrequency History and Applications in Esthetic Fields. Advances in Therapy, v. 29,
n. 3, 2012. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22382873. Acesso
em: 10 maio 2020.
BORGES, F. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte, 2010.
BORGES, F. S.; SCORZA, F. A. Terapêutica em estética: conceitos e técnicas. São Paulo:
Phorte, 2016.
DRAELUS, Z.D. Cosmecêuticos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
GUIRRO, E. C. O.; GUIRRO, R. R. Fisioterapia: dermato funcional. 3. ed. Rio de Janeiro:
Manole, 2004.
KEDE, M.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
KLAYN, A. P.; LIMANA, M. D.; MOARES, L. R. S. Microagulhamento como agente poten-
cializador da permeação de princípios ativos corporais do tratamento de lipodistrofia
localizada: estudo de caso. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE PRODUÇÃO CIENTIFICA
CESUMAR, 8., 2013. Anais [...]. Disponível em: http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/
epcc2013/oit_mostra/aline_prando_klayn.pdf. Acesso em: 10 maio 2020.
LEONARDI, G. R. Cosmetologia aplicada. 2. ed. São Paulo: Santa Isabel, 2008.
LIMA, A. A.; SOUZA, T. H.; GRIGNOLI, L. C. E. Os benefícios do microagulhamento no
tratamento das disfunções estéticas. Revista Científica da FHO|UNIARARAS, v. 3, n. 1, 2015.
LIMA, E. V. A.; LIMA, M. A.; TAKANO, D. Microagulhamento: estudo experimental e classifi-
cação da injúria provocada. Surgical and Cosmetic Dermatology, v. 5, n. 2, 2013. Disponível
em: http://www.surgicalcosmetic.org.br/detalhe-artigo/261/Microagulhamento--
-estudo-experimental-e-classificacao-da-injuria-provocada. Acesso em: 10 maio 2020.
NEGRÃO, M. M. C. Microagulhamento: bases fisiológicas e práticas. São Paulo: CR8, 2015.
PEREIRA, S. Dermatoses no idoso. In: ROTTA, O. Guia de dermatologia: clínica, cirúrgica
e cosmiátrica. São Paulo: Manole, 2008.
PONTE, F. A.; OLIVEIRA, S. P. A utilização da radiorequência no rejuvenescimento cutâneo: es-
tudo de caso. Monografia (Graduação) - Universidade Tuiutu do Paraná, Curitiba, 2017. Dis-
ponível em: https://tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/A-UTILIZA%C3%87%C3%83O-
-DA-RADIOREQUENCIA.pdf. Acesso em: 10 maio 2020.
20 Tratamento para flacidez e rítides

RUSENHACK, C. Terapia por microgalvânica em dermato-funcional. Revista Fisio &


Terapia, v. 8, n. 44, abr./maio 2004.
SANTOS, J. L. M. Novas abordagens terapêuticas no combate ao envelhecimento cutâneo.
Tese (Doutorado) - Universidade Fernando Pessoa, Cidade do Porto, 2011. Disponível
em: https://bdigital.ufp.pt/handle/10284/2893. Acesso em: 10 maio 2020.
SILVA, A. R. et al. Radiofrequência no tratamento de rugas faciais. Revista da Universi-
dade Ibirapuera, v. 7, 2014. Disponível em: http://seer.unib.br/index.php/rev/article/
download/14/45. Acesso em: 10 maio 2020.
SORIANO, M. C. D.; PEREZ, S. C.; BAQUES, M. I. C. Electroestética professional aplicada:
teoria, y práctica para la utilización de corrientes en estética. Madrid: Sorisa, 2000.
SOUZA, V. M. Ativos dermatológicos: dermocosméticos e nutracêuticos. São Paulo:
Pharmabooks, 2013. v. 1-8.
TONEDERM. Manual de instruções. [S. l.: s. n., 201-?]. Disponível em: http://www.tone-
derm.com.br/images/EquipamentosDownloads/MANUAL%20PORT%20SPECTRA%20
G3A%20R07.pdf. Acesso em: 10 maio 2020.
WARD, A. R.; CHUEN, W. L. H. Lowering of sensory, motor, and pain-tolerance thresholds
with burst duration using kilohertz-frequency alternating current electric stimulation:
part II. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 90, n. 9, 2009. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19735792. Acesso em: 10 maio 2020.
WARD, A. R.; LUCAS-TOUMBOUROU, S.; MCCARTHY, B. A comparison of the analgesic
efficacy of medium-frequency alternating current and TENS. Physiotherapy, v. 95, n. 4,
2009. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19892092. Acesso em:
10 maio 2020.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Procedimentos estéticos em
cirurgias plásticas faciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever os cuidados do pré-operatório das cirurgias plásticas faciais.


„„ Explicar os cuidados do pós-operatório de ritidoplastia e de ble-
faroplastia.
„„ Distinguir as técnicas estéticas aplicadas no pós-operatório das cirur-
gias plásticas faciais.

Introdução
Devido à crescente busca por cirurgias estéticas, a área da estética tem
atraído para ela novos profissionais, que buscam atuar tanto no pré quanto
no pós-operatório desses procedimentos. Também se tem observado
uma crescente e cada vez mais efetiva integração do esteticista com
outros profissionais da saúde em consultórios e clínicas de cirurgia plástica,
no cuidado pré e, principalmente, no pós-cirúrgico.
O profissional esteticista, nesse contexto, atua de diversas formas,
com a utilização de variados recursos terapêuticos envolvidos nos cui-
dados do paciente de cirurgias plásticas. Na sua formação específica,
o profissional dessa área deverá desenvolver sua aptidão para atender às
diversas situações típicas do cuidado pré e pós-cirúrgico, de modo que
o conhecimento adquirido lhe permita efetuar intervenções seguras e
eficientes.
Neste capítulo, você vai ler sobre os cuidados do pré-operatório
das cirurgias plásticas faciais e sobre os cuidados que se devem ter no
pós-operatório de ritidoplastias e blefaroplastias. Além disso, você será
apresentado às técnicas que são aplicadas durante o pós-operatório de
cirurgias plásticas faciais.
2 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

1 Cuidados do pré-operatório
das cirurgias plásticas faciais
De acordo com a International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS)
(INTERNATIONAL SOCIETY OF AESTHETIC PLASTIC SURGERY, 2018),
o Brasil encontra-se em segundo lugar no ranking mundial de procedimentos
cirúrgicos de caráter estético. Além disso, tem sido cada vez mais comum
em nossa sociedade a procura precoce por cirurgias de rejuvenescimento que
proporcionem uma harmonização facial de forma natural, de modo a evitar
o estigma da operação.
A abordagem inicial ao preparo do paciente deve ser realizada por uma
equipe multidisciplinar que lhe forneça informações acerca das ações a serem
desenvolvidas, tanto no pré quanto no pós-operatório das cirurgias plásticas.
Pretende-se, dessa forma, reduzir o nível de ansiedade do paciente nos mo-
mentos que antecedem a cirurgia, orientando-o sobre os cuidados adequados
para essa abordagem e para qualquer dificuldade encontrada na recuperação
durante o pós-operatório (ALVES et al., 2007).
A eficiência da cirurgia plástica dependerá não apenas de uma eficiente
intervenção, mas também de cuidados estéticos pré e pós-operatórios, os quis
têm demostrado prevenir possíveis complicações, além de promover resultados
estéticos mais satisfatórios. Sendo assim, é importante que o paciente seja
orientado sobre a importância de um pré-operatório bem feito para que se
obtenha um bom resultado final da cirurgia. E essa orientação é função não
só do médico, mas também do profissional esteticista.
O profissional da área estética vem inovando os procedimentos ambula-
toriais e, se estiver preparado, pode atuar em uma equipe multidisciplinar
composta, por exemplo, de clínico geral, cirurgião plástico, equipe de enfer-
magem, nutricionista, fonoaudiólogo, psicólogo e fisioterapeuta (ROMÃO,
2016). Nesse contexto, cabe ao profissional esteticista, entre as atividades
por ele desenvolvidas, a realização de uma avaliação pré-operatória. Con-
forme Façanha (2003), tal avaliação é de fundamental importância para que
o procedimento cirúrgico e o pós-operatório resultem no sucesso esperado.
Isso porque a sua realização vai contribuir tanto emocional (na manutenção
da calma e na diminuição da ansiedade) quanto fisicamente.
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 3

Nesse momento, o esteticista realizará um primeiro contato com o paciente


a fim de estabelecer confiança, orientando-o e esclarecendo suas eventuais
dúvidas a respeito dos atendimentos no pós-operatório. Entre as informações
que costumam ser oferecidas, estão as relativas aos recursos terapêuticos a
serem utilizados, à frequência e à duração desses atendimentos, às orientações
sobre restrições de posicionamento e aos cuidados gerais que deverão ser
observados após a cirurgia (ROMÃO, 2016).
No pré-operatório, o esteticista poderá avaliar vários fatores relacionados à
disfunção estética que tenha motivado a busca pela cirurgia. Também poderá
obter informações sobre a história do paciente: se ele já realizou anteriormente
outras abordagens cirúrgicas e, em caso afirmativo, como se desenvolveram o
reparo e a recuperação delas; identificar a presença de fibroses e aderências,
pois é sabido que, em uma nova abordagem cirúrgica, haverá maior probabi-
lidade de novamente se desenvolver tal problema. Outro aspecto importante a
ser avaliado é a condição circulatória do paciente — no caso de haver edemas/
linfedemas, deve-se, antes da cirurgia, resolver essa situação. Ainda no que
diz respeito ao cuidado pré-operatório, Borges (2006) recomenda que o pro-
fissional simule manobras terapêuticas que serão realizadas no pós-operatório
para que o paciente se familiarize e não tenha receios com relação às condutas
que serão adotadas.

Para obter informações sobre cuidados que podem ser adotados em um pré-operatório
visando a diminuir o risco de complicações, assista ao vídeo “Programa Pré-Operatório”,
disponibilizado pelo canal Kurotel Centro Contemporâneo de Saúde e Bem-Estar,
no YouTube.

De forma geral, o pré-operatório funcionará também como orientação para


o paciente, pois é nesse momento que o profissional terá a oportunidade de
prepará-lo para a cirurgia, conhecendo suas alterações e limitações e, dessa
forma, podendo começar a traçar um plano de tratamento para o pós-operatório
(BORGES, 2006).
4 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

Segundo Schmitz, Laurentino e Machado (2012), deve-se ter especial aten-


ção em uma consulta pré-operatória, uma vez que nesse momento o profissional
da área da estética precisa avaliar fatores que possam estar relacionados a
alterações estéticas e funcionais, como retrações musculares, deformidades
articulares, desvios posturais. Além disso, outro aspecto importante de ser
abordado no pré-operatório é, como já mencionado, a avaliação de cirurgias
plásticas realizadas anteriormente pelo paciente, pois a presença de fibroses
e aderências podem permanecer no tecido por anos. Pacientes com fibroses
antigas submetidos a nova intervenção têm maior probabilidade de desenvolver
irregularidades do tecido cicatricial.
Dentre as abordagens que o esteticista poderá utilizar no pré-operatório,
podem-se destacar as seguintes.

„„ O preparo da pele mediante procedimentos que melhorem o tônus


muscular e tissular por meio do uso de equipamentos que restabeleçam
a fisiologia normal. Além disso, são essenciais técnicas manuais para
incremento circulatório e diminuição de líquidos e toxinas.
„„ Para favorecer a homeostase fisiológica durante não apenas o pós-ope-
ratório, mas também o intraoperatório, o paciente deverá ser orientado
com relação a medidas úteis, como:
■■ não fumar por, no mínimo, 48 horas antes da cirurgia e pelo menos
até o 21º dia de pós-operatório para evitar prejuízos no processo de
cicatrização;
■■ manter uma alimentação balanceada e, se necessário, procurar orien-
tação de um profissional nutricionista;
■■ estabelecer estratégias de cuidado com o peso corporal a fim de
facilitar a recuperação no pós-operatório e, dentro da possibilidade
clínica, praticar atividade física para fortalecer a musculatura e
melhorar o condicionamento físico geral.

O profissional esteticista poderá utilizar como técnicas estéticas no pré-


-operatório de cirurgia facial:

„„ limpeza de pele;
„„ esfoliação e hidratação cosmética;
„„ hidratação profunda com uso de recursos como ionização, microcor-
rentes, eletroestimulação, alta frequência e eletroporação;
„„ uso de eletroestimulação muscular;
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 5

„„ massagem facial com uso do vácuo, a fim de ativar a vascularização


local;
„„ drenagem linfática para diminuição de líquidos e toxinas;
„„ orientação para o uso de cosméticos homecare e filtro solar.

Todos esses cuidados devem ser realizados de forma a facilitar a recuperação


no pós-operatório e para que se alcance o resultado desejado.

2 Cuidados do pós-operatório
de ritidoplastias e blefaroplastias

Ritidoplastias
Nos últimos anos, as ritidoplastias (ou liftings faciais) têm apresentado contí-
nuas evoluções, bem como visto suas técnicas serem aprimoradas. Atualmente,
elas estão entre as cirurgias mais realizadas por pacientes na faixa etária dos
40 anos, os quais buscam sobretudo o rejuvenescimento e o realce da aparência
facial (TODESCHINI et al., 2006). Para Sampaio e Rivitti (2001), o avanço
da idade e a falta de hábitos de cuidados com a pele trazem prejuízos a ela,
como deformações e o seu envelhecimento.
Segundo Borges (2006), a ritidoplastia é um processo de agressão tecidual.
Dessa forma, mesmo se bem executada, ela pode prejudicar a função dos
tecidos, cabendo ao profissional da área da estética atuar com os recursos
disponíveis para minimizar o problema. A atuação do esteticista no pós-
-operatório pode iniciar logo após o final da cirurgia, aperfeiçoando o resul-
tado cirúrgico, diminuindo as queixas oriundas do processo e acelerando a
recuperação do organismo. Contudo, importa salientar que essa abordagem
exige muitos cuidados, sendo imprescindível a comunicação com a equipe e
o cirurgião plástico.
Para Garrido e Pacetti (2003), a fase pós-operatória inicia com a admissão
do paciente na área de recuperação e termina com a avaliação de seguimento
na unidade clínica; entretanto, esse intervalo de tempo dependerá muito da
liberação médica, pois normalmente a maioria dos atendimentos ocorre na
fase ambulatorial ou domiciliar. Nessa fase, os dados coletados na avaliação
pré-operatória serão utilizados como apoio para a tomada de decisão pelo
profissional esteticista. E uma maior relevância deve ser dada a alguns aspectos,
como a análise da cicatriz, do trofismo cutâneo e muscular, das condições do
edema; além da presença de dor e de alteração de sensibilidade.
6 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

Os cuidados vão prevenir a formação de aderências, que são o principal


fator agravante no pós-operatório, pois elas impedem o fluxo normal de
sangue e linfa, aumentando ainda mais o quadro edematoso e retardando a
recuperação local.
Segundo Borges (2006), devido ao procedimento estético ocorrer na face,
a resolução das condições é visível, o que, por sua vez, indica um processo
lento de mudança. Por isso, é importante o contato próximo do esteticista
com o médico cirurgião.
A realização dos cuidados pós-operatórios tem como objetivo principal
auxiliar no processo de recuperação do paciente e minimizar a ocorrência de
complicações após a realização do procedimento cirúrgico. No que diz respeito
aos objetivos específicos, podem-se destacar os seguintes:

„„ diminuir o edema local;


„„ aliviar a dor;
„„ prevenir alterações nas cicatrizes (fibrose, aderência, queloides, entre
outras).

Ainda segundo Borges (2006), deve-se destacar que essas ações necessitam
de uma intervenção por parte de um profissional esteticista qualificado, com
domínio das técnicas que vai oferecer, conhecimento dos procedimentos
realizados pelo paciente, interação constante com médico e equipe que o
acompanha no cuidado e, acima de tudo, atitude ética e correta no desenvol-
vimento das atividades.
No pós-operatório de cirurgias de ritidoplastia, sobretudo no primeiro mês
após a intervenção, alguns cuidados devem ser observados. Em muitos casos,
o paciente terá alta hospitalar no dia seguinte à cirurgia, desde que mantenha
os sinais vitais estáveis. Então, ele permanecerá com a face enfaixada por um
período entre 48 e 72 horas, utilizando um “capacete de gaze”, que auxiliará
na contenção de edema inicial e deverá ser removido pelo médico quando
da realização de consulta de retorno. Importa destacar que uma eventual
ocorrência de um pequeno sangramento não deve ser motivo para manipular
os curativos; contudo, se ocorrerem sangramentos maiores e grande inchaço
de forma súbita, o paciente deve ser orientado a procurar rapidamente o seu
médico (BORGES, 2006).
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 7

Segundo Oliveira (2017), outro cuidado importante que deve ser adotado
no pós-operatório imediato é a utilização de compressas frias, que podem
ser embebidas em água gelada ou aplicadas como compressas de gelo sobre
a região. Objetivando reduzir o tempo do edema e, ainda, proporcionar uma
analgesia, essas compressas podem ser utilizadas até 6 vezes ao dia, por
aproximadamente 20 minutos, durante a primeira semana de pós-operatório.
Nos primeiros dias, a sensibilidade estará diminuída na região da cirurgia,
havendo um retorno gradativo da percepção tátil, o que pode ser acompanhado
de leve aumento da sensação de dor.
Com relação ao posicionamento, é recomendada a adoção de repouso com
a cabeceira da cama elevada a 45°. Além disso, deve-se evitar abaixar a cabeça
e movimentar a face de forma exagerada; os movimentos devem ser realizados
de modo leve e sem grande amplitude. Para dormir, recomenda-se a posição
em decúbito dorsal (com a cabeceira elevada, como mencionado), evitando
deitar-se de lado, para não comprimir a região operada. Esses cuidados têm
como objetivo evitar a ocorrência de forças tensionais sobre a cicatriz cirúrgica
nesse momento (BORGES, 2006).
Nos casos em que o paciente apresenta uma sensação de “olhos secos”
— recorrente sobretudo quando o procedimento associa alterações nas pál-
pebras —, normalmente é indicado pelo cirurgião o uso de colírio oftálmico.
Havendo manutenção dessa situação de forma inadequada, o paciente deverá
ser orientado a procurar o profissional médico.
A exposição solar deve ser evitada, principalmente no primeiro mês de
pós-operatório, pois uma exposição inadequada poderá propiciar o apareci-
mento de manchas.
Para remover o edema excessivo encontrado no interstício, a realização de
drenagem linfática é uma estratégia de cuidado importante, em geral a partir
do final da primeira semana de pós-operatório.
Os cuidados de higiene devem ser realizados apenas com uso de sabão
neutro, e a lavagem do rosto deve ser feita sempre de forma suave. A lavagem
dos cabelos pode ser realizada somente a partir do segundo ou terceiro dia de
pós-operatório, normalmente após a retirada do capacete de gaze; porém, não
se deve friccionar o couro cabeludo, nem utilizar secadores quentes, pois tais
ações podem danificar a pele. Para pentear os cabelos, recomenda-se o uso
de pentes com dentes afastados ou o uso apenas dos dedos.
8 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

Por fim, para que se evitem complicações circulatórias, um cuidado impor-


tante é a realização, nas primeiras 24 horas após a cirurgia, de movimentos de
flexão e extensão do tornozelo a fim de mobilizar as pernas e ativar a circu-
lação sanguínea; e, para evitar edemas e trombose, é recomendado intercalar
períodos de repouso no leito com caminhadas após o 3º dia de pós-operatório.

Blefaroplastia
Segundo Ishizuka (2012), alterações ao redor dos olhos associadas ao enve-
lhecimento são objeto comum de intervenção por meio de cirurgias plásticas
faciais. Um desses procedimentos é a blefaroplastia, que envolve a retirada de
excesso de pele das pálpebras superiores e a remoção das bolsas de gordura
das pálpebras inferiores.
As complicações decorrentes da blefaroplastia são pouco frequentes e
geralmente transitórias. Envolvem o edema e a dor, que tendem a se resolver
de forma adequada, na maioria dos casos, até o final do 1º mês após o proce-
dimento (CASTRO, 2004).

Algumas dicas para o pós-operatório de cirurgia de blefaroplastia são apresentadas


no vídeo “Clube da Plástica: Dicas para o pós-operatório de cirurgia de pálpebras (ble-
faroplastia)”, disponibilizado no YouTube pelo canal Clube da Plástica Cirurgia Plástica.

Os cuidados no pós-operatório de blefaroplastia tendem a envolver as


seguintes ações:

„„ Utilizar compressas frias para diminuir o edema e aliviar a dor;


„„ Evitar movimentos bruscos, manter repouso, adotar posicionamento
adequado para dormir (com elevação de cabeceira);
„„ Mantar uma movimentação ativa de membros inferiores para melhorar
a circulação, evitando doenças vasculares periféricas;
„„ Utilizar colírio lubrificante para diminuir alteração de “olhos secos”;
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 9

„„ Evitar esforço físico, sendo aconselhável o retorno à prática de exercícios


físicos mais intensos somente após o primeiro mês do pós-operatório;
„„ Evitar exposição ao sol, pois pode provocar alterações de coloração
nas cicatrizes;
„„ Utilizar drenagem linfática facial sem deslizamento para prevenir fi-
brose, edema, aderência tecidual e, dessa forma, minimizar o tempo
de pós-operatório, restaurar a funcionalidade, melhorar o resultado
do procedimento e possibilitar a reintegração do indivíduo em suas
atividades sociais (BORGES, 2010).

Esses cuidados permitem uma recuperação mais rápida e adequada do


paciente no pós-operatório.

3 Técnicas estéticas aplicadas no


pós-operatório de cirurgias plásticas faciais
De acordo com Kede e Sabatovich (2015), as cirurgias plásticas faciais envol-
vem um conjunto de procedimentos estéticos que objetivam melhora estética,
função reparadora, recuperação de danos, entre outros. Esses procedimentos
provocam uma agressão no tecido e necessitam de alguns cuidados no pós-
-operatório visando à adequada recuperação.
Algumas das condições que normalmente ocorrem após a realização de
cirurgias plásticas são alterações circulatórias, como edema e equimoses;
alterações neurológicas, como hiper ou hipossensibilidade e dor; e alterações
teciduais associadas à formação de cicatrizes. Além das alterações normal-
mente esperadas, podem ocorrer complicações associadas a alterações vas-
culares, alterações na formação da cicatriz cirúrgica com fibrose, aderência
e queloides, hematomas, entre outras. Quase todas essas condições indicam a
necessidade de utilização de técnicas adequadas pelo profissional esteticista
no cuidado pós-operatório.
No pós-operatório é importante que o profissional saiba reconhecer em
qual fase de recuperação da cirurgia plástica se encontra o seu paciente. Para
Borges (2010), o processo de cicatrização, independentemente do tipo de trauma
ocorrido, poderá ser dividido em três fases, conforme apresentado a seguir.
10 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

„„ Fase inflamatória: é a fase em que ocorre a reação ao trauma, cujo


início se dá logo após o término da cirurgia e cuja duração vai de 48
até 72 horas do pós-operatório; ela inicia quando há o extravasamento
do sangue para agregar plaquetas e, assim, reverter a homeostase.
„„ Fase proliferativa: é o momento em que ocorre o “fechamento” da lesão;
apresentando três subfases (reepitelização, fibroplasia e angiogênese),
ela começa entre o 3º e o 4º dia do pós-operatório e tem duração de
2 a 4 semanas.
„„ Fase da remodelagem: é quando ocorre a regeneração do tecido, que vai
ser enriquecido com mais fibras de colágeno e adquirir características
de uma cicatriz; esta fase tem início por volta do 11º e segue até o
40º dia do pós-operatório.

Importa lembrar que cada paciente é único, cada organismo tem suas par-
ticularidades e cada técnica cirúrgica utilizada apresenta suas especificidades.
Sendo assim, é fundamental respeitar suas características clínicas.
Segundo Borges (2010), a adequada escolha das técnicas de cuidado no pós-
-operatório de cirurgias plásticas está relacionada com o processo de reparo do
tecido cicatricial. A escolha de cada procedimento é orientada pelas alterações
em cada fase de reparo do tecido, sendo esse quadro definido inicialmente
pela avaliação realizada pelo profissional esteticista.
No pós-operatório facial, a intervenção estará baseada em três fases asso-
ciadas ao processo de reparo: na primeira fase, aparecem inchaço e equimoses,
e o tratamento consiste, então, em diminuir esse quadro mediante a ativação
da circulação sanguínea e a oxigenação do tecido operado; na segunda fase,
é indicado combater a instalação de fibrose; e, na terceira, indica-se o uso de
recursos para prevenir ou diminuir a flacidez.
Para Borges (2010), algumas medidas que devem orientar as ações são:

„„ identificar o tipo e a profundidade dos tecidos envolvidos;


„„ identificar a natureza da patologia;
„„ avaliar o estágio da cicatrização, seus sinais e aspectos;
„„ avaliar a presença de contraindicações ao uso de técnicas estéticas;
„„ estabelecer metas para o tratamento em conjunto com o paciente;
„„ determinar as técnicas que serão utilizadas no cuidado do paciente.

Dentre as técnicas a serem utilizadas pelo profissional da estética, Borges


(2006) destaca as que serão apresentadas a seguir.
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 11

Agentes térmicos: crioterapia/calor


A crioterapia é uma das técnicas mais utilizadas no pós-operatório ime-
diato de cirurgias estéticas. O seu efeito é produzir o resfriamento local,
o que gera vasoconstricção e, assim, minimiza o extravasamento de líquidos
extracelulares, diminui o metabolismo e limita o trauma tecidual. Com isso,
ocorre uma redução na taxa de edema e de substâncias irritativas, alterando,
dessa forma, a percepção da dor. A técnica pode ser utilizada nas primeiras
24 horas após a cirurgia, devendo estar associada a um posicionamento corporal
correto para facilitar o retorno linfático e venoso adequado. Como vantagens
da crioterapia, ainda se podem citar seu baixo custo, o fácil manuseio e a
eficácia para redução da dor e do edema.
Normalmente, o calor deve ser utilizado na fase de remodelamento, com
temperaturas abaixo de 38°C, evitando o estímulo de colágeno. O intuito
principal do seu uso é aumentar a maleabilidade do tecido. Isso comumente
ocorre em casos em que é necessário trabalhar a mobilização do tecido com
placas ou cordões fibróticos.

Drenagem linfática manual


Na fase aguda, uma técnica importante e amplamente utilizada é a drenagem
linfática manual (DLM), que age sobre a circulação linfática e venosa, co-
laborando na manutenção do equilíbrio hídrico. Como as cirurgias plásticas
produzem edema e alteração de sensibilidade (com desconforto e dor), a DLM
sem deslizamento, respeitando a origem dos tecidos, colabora para a melhora
desse quadro. Sua eficácia já está comprovada na prevenção precoce de edemas,
hematomas, seromas, fibroses, aderências, equimoses, entre outros.
Na execução da DLM, devem-se considerar alguns aspectos, como o po-
sicionamento correto, para facilitar o retorno linfático; a adequada utilização
das manobras, respeitando as características anatômicas da rede linfática na
região facial; e a adoção de pressões suaves e lentas.
Guirro e Guirro (2010) salientam que, na execução da técnica de DLM,
alguns cuidados devem ser observados no pós-operatório imediato:

„„ a técnica deve ser aplicada de forma suave, evitando tensão excessiva;


„„ não se devem realizar movimentos de deslizamento, para não produzir
tensões na cicatriz cirúrgica;
„„ deve-se respeitar o trajeto do sistema linfático íntegro do ato cirúrgico;
12 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

„„ a face deve ser posicionada de forma a se beneficiar da força da gravidade


e do retorno vascular e linfático;
„„ deve-se, preferencialmente, utilizar uma mão como fixação, para não
gerar maior tensionamento na cicatriz cirúrgica.

A DLM é representada sobretudo pelas técnicas de Voldder e Leduc.


A diferença entre elas está basicamente no movimento: Voldder utiliza mo-
vimento circulares, rotatórios e de bombeio; já Leduc propõe movimentos
restritos.
O principal objetivo da DLM é eliminar os resíduos metabólicos e os líqui-
dos transudados por manobras nas vias linfáticas e linfonodos. Essa técnica
atua reabsorvendo as proteínas extravasadas, o que equilibra as pressões
hidrostáticas e tissulares, e reduz o edema.

Terapia manual/massagem
A terapia manual por meio da mobilização manual gera tensão no tecido
cicatricial, promovendo uma reorganização dos feixes de colágeno de maneira
natural, com mais elasticidade do que quando não há essa tensão. Tal técnica
é muito indicada para fibroses e aderências, pois nessas situações o colágeno
se deposita de forma desorganizada, e essa forma de terapia, feita em todos
os sentidos, reorganizará os feixes de colágeno.
Outra técnica manual amplamente utilizada pelo profissional esteticista é
a massoterapia. A massagem é capaz de produzir estimulação mecânica nos
tecidos, proporcionando relaxamento, auxílio da circulação venosa e absorção
de substâncias extravasadas nos tecidos. Contudo, durante a fase inicial do
pós-operatório, ela não deverá ser utilizada próxima da região cicatricial; nesse
caso, a massagem poderá ser realizada para relaxamento muscular de regiões
da cintura escapular ou da região cervical. O emprego direto na área da cirurgia
ocorre apenas em uma fase de remodelação, pois, se realizada precocemente,
seus movimentos podem provocar hematomas e outras alterações cicatriciais.

Taping ou kinesio taping


O taping, também conhecido como bandagem elástica, é uma técnica que
utiliza uma fita fina, elástica, adesiva, que pode permanecer em contato com
a pele por vários dias (FU et al., 2008; BELL; MULLER, 2013). Entre seus
principais efeitos, podem-se citar a analgesia, o suporte muscular e a corre-
ção articular — casos em que os cortes da bandagem são feitos em X, Y e I.
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 13

Por outro lado, quando o objetivo é drenagem, o corte (denominado teia de


aranha, polvo ou fan) é aplicado sem tensão, seguindo o percurso do sistema
linfático, o que ocasiona um melhor escoamento da linfa. A essa técnica dá-se
o nome linfotaping.
Uma vez aderida à pele, a bandagem vai atuar na abertura e no fechamento
dos vasos linfáticos e sanguíneos por meio de seus filamentos — o que reduz
dor e edema, favorece a redução de equimoses e auxilia na cicatrização natural
da cirurgia. Ao se aplicar a bandagem, observam-se alguns efeitos, como
diminuição de dores musculares, redução da congestão linfática; além disso,
ela pode ser utilizada para cicatrizes hipertróficas, fibroses e hematomas. Outra
recomendação para o uso do taping no pós-operatório de cirurgias plásticas
é no tratamento de dores musculares na região do trapézio.

Ultrassom
O ultrassom (US) proporciona, por meio dos seus efeitos térmicos e não
térmicos, um aumento do reparo dos tecidos, do fluxo sanguíneo e da ex-
tensibilidade dos tecidos, bem como a redução de dor e a resolução da lesão.
Segundo Migotto e Simões (2013), no pós-operatório de cirurgias plásticas,
seu uso, fundamentalmente, evita a formação de fibroses.
De preferência, o uso do US deve ser feito com frequência de 3 MHz, na
modalidade pulsada, para estimular o reparo tecidual e prevenir alterações
cicatriciais. Em um tecido que segue as fases de cicatrização normal, deve-
-se ter atenção para não se utilizar a modalidade contínua, especialmente até
a fase proliferativa, pois, nesse caso, a presença de calor será mais elevada,
provocando alterações não satisfatórias.
Segundo Cervásio (2010), no pós-operatório o US pode ser adotado em
associação com a técnica de DLM, uma vez que esse uso conjunto tem apre-
sentado resultados satisfatórios para evitar o aparecimento de fibrose tecidual.
Ha evidências que demonstram a eficácia do US nas diferentes fases do
reparo tecidual. Sua utilização contribui na reabsorção de equimoses, redu-
zindo as chances de formação fibrótica; previne a formação de cicatrizes
hipertróficas e queloides; e, ainda, melhora a nutrição celular, reduzindo o
edema e a dor, consequências da melhora da circulação sanguínea e linfática.
O US, especialmente na fase inflamatória, vai aumentar o número de fibro-
blastos, acelerando a contração da ferida quando utilizado no modo pulsado,
na frequência de 3 MHz e com intensidades abaixo de 0,5 w/cm², objetivando
reparo residual (BORGES, 2010).
14 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

Microcorrentes
Para Borges (2010), microcorrentes (MENS) são uma modalidade de eletro-
estimulação que utiliza correntes com parâmetros de intensidade na faixa
dos microamperes. Nos pós-operatórios de cirurgias plásticas, as MENS são
frequentemente utilizadas para auxiliar o reparo tecidual, pois permitem uma
melhor organização do tecido cicatricial, além de possuírem propriedades
anti-inflamatórias, antiedematosas e bactericidas.
Esse recurso acelera a síntese proteica de adenosina trifosfato (ATP)
de 300% a 500%, o que incrementa o transporte das membranas e de aminoáci-
dos de 30% a 40%, estimula alterações na cicatrização, libera íons bactericidas
pelo eletrodo e estimula a fagocitose (BORGES, 2010).

Corrente galvânica
Essa modalidade de corrente elétrica de baixa intensidade é usada, conforme
Guirro e Guirro (2010), especificamente sob a forma de iontoforese, que se
caracteriza pela introdução de íons medicamentosos no tecido, com finalidade
terapêutica.
No pós-operatório de cirurgias plásticas, é comum o uso de substâncias com
ação específica, como a dexametasona, devido à sua ação anti-inflamatória;
a hialuronidase, para tratar edemas e fibroses; e o óxido de zinco, para ação
antisséptica (BORGES, 2010). Nos casos em que se optar pelo uso da corrente
galvânica, deve-se atentar aos parâmetros, especialmente a intensidade, pois
se trata de uma corrente polarizada que oferece risco de queimadura química
caso haja mal utilização do equipamento. Além disso, importa lembrar que o
profissional estará lidando com um tecido com alteração de sensibilidade, que
esse recurso auxilia na permeação de ativos polarizados e que todo e qualquer
medicamento deve ter a autorização clínica do médico.

Endermoterapia
Esta técnica consiste no uso da pressão negativa, que realiza uma “sucção” na
pele. Essa pressão, quando aplicada na pele, faz um descolamento do tecido,
auxiliando no tratamento de fibroses e, com isso, promovendo um tecido mais
uniforme. A sua utilização no pós-operatório de cirurgias plásticas deve ser
feita de forma extremamente cautelosa, com ajuste de pressão conforme a
sensibilidade e a fase cicatricial do tecido. Para Borges (2010), a endermoterapia
parece ser muito agressiva aos tecidos em cicatrização.
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 15

Laser
Abreviação de Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation,
o laser de baixa potência é indicado no pós-operatório de cirurgias plásticas
por auxiliar e acelerar o processo de cicatrização, a diminuição do edema
local, a redução do processo inflamatório, entre outros (OLIVEIRA, 2017).
O laser de baixa potência é considerado um recurso da fototerapia, ele tem
como objetivo o reparo tecidual. Macedo e Oliveira (2010) acrescentam aos
benefícios do seu uso a redução de edemas e fibroses, o aumento da hidratação
e nutrição celular, a biomodulação da cicatrização e da drenagem linfática,
a aceleração da regeneração e da recuperação tecidual, o estímulo à produção
de fibras colágenas e elásticas, a amenização e a prevenção de intercorrências
comuns no processo inflamatório, o estímulo à mitose celular e à reprodução
de fibroblastos, o impedimento e a minimização da formação de queloides e
a hipertrofia cicatricial.

Diodos emissores de luz (LEDs)


Os LEDs são diodos semicondutores que emitem luz; de acordo com seu
comprimento de onda, eles vão atingir uma determinada profundidade no
tecido e em células específicas. Esse recurso pode emitir luz azul (405 nm),
âmbar (590 nm), infravermelha (940 nm), entre outras. Os LEDs estimulam
a célula diretamente, na sua permeabilidade, o que, por sua vez, estimula
mitocôndrias, síntese de ATP e proteínas como colágeno e a elastina. Esses
diodos têm ação anti-inflamatória e antimicrobiana, e seu efeito é direto no
processo inflamatório, estimulando o fluxo linfático, aumentando a atividade de
neutrófilos e macrófagos, reduzindo o edema e estimulando a resposta imune;
o aumento da formação de colágeno estimula a formação de fibroblastos,
o que aumenta a circulação local (ESPER, 2010).

Radiofrequência
Para Agne (2015), a radiofrequência (RF) é um recurso que vem sendo ampla-
mente utilizado em protocolos de pós-operatório de cirurgias plásticas. Essa
modalidade terapêutica converte a energia eletromagnética em efeito térmico.
O efeito Joule é o principal efeito térmico da RF ao atravessar o organismo,
efetuando a produção de calor.
16 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

A RF é uma forma de corrente elétrica alternada, e seu mecanismo de ação


se dá pelo aquecimento da derme — a energia térmica gerada nas camadas
profundas do tecido favorece a formação de colágeno. Porém, no pós-operatório
a RF é usada para tratamento das fibroses, tanto recentes quanto tardias, po-
dendo ser aplicada precocemente, desde que a sensibilidade térmica do paciente
seja mensurável e que o edema local não seja pronunciado (AGNE, 2015).
É importante ressaltar que esses procedimentos podem ser realizados
tanto logo após o procedimento cirúrgico, quanto no pós-operatório tardio,
dependendo de cada objetivo. Contudo, o profissional esteticista deverá buscar
informações com o médico para compreender de forma ampla os detalhes
do procedimento realizado e, com a avaliação do paciente, estabelecer um
programa de cuidados adequado ao seu cliente.

AGNE, J. E. Eletrotermofototerapia. 2. ed. Santa Maria: Jones Eduardo Agne, 2015.


ALVES, M. L. M. et al. Ansiedade no período pré-operatório de cirurgias de mama:
estudo comparativo entre pacientes com suspeita de câncer e a serem submetidas
a procedimentos cirúrgicos estéticos. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 57, nº. 2,
mar./abr. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&p
id=S0034-70942007000200003. Acesso em: 27 maio 2020.
BELL, A.; MULLER, M. Effects of kinesio tape to reduce hand edema in acute stroke. Top
Stroke Rehabit, v. 20, nº. 3, p. 283–288, maio/jun. 2013.
BORGES, F. S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas.
São Paulo: Phorte, 2006.
BORGES, F. S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas.
2. ed. São Paulo: Phorte, 2010.
CASTRO, C. C. A critical analysis of the current surgical concepts for lower blepharoplasty.
Plast. Reconstr. Surg., v. 114, n°. 3, p. 785–793, jan. 2004.
CERVÁSIO, V. Pós-operatório é importante para o sucesso da lipo em mulheres. 2010.
Disponível em: https://www.uniasselvi.com.br/extranet/layout/request/trilha/materiais/
livro/livro.php?codigo=31711. Acesso em 27 maio 2020: .
CHEN, C.-H. et al. Two stretching treatments for the hamstrings: proprioceptive neuro-
muscular facilitation versus kinesio taping. J. Sportes Rehabit, v. 22, nº. 1, p. 59–66, 2013.
Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais 17

ESPER, M. A. L. R. Análise comparativa do efeito da terapia com laser ou LED de baixa po-
tência durante o movimento ortodônico: estudo línico. 2010. 79 f. Dissertação (Mestrado
em Bioengenharia) — Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale
do Paraíba, São José dos Campos, 2010.
FAÇANHA, R. Estética contemporânea. Rio de Janeiro: Rubio, 2003.
FU T.-C. et al. Effect of kinesio taping on muscle strength in athletes: a pilot study.
Journal of Science and Medicine in Sport, v. 11, nº. 2, p. 198–201, abr. 2008.
GARRIDO, R. S.; PACETTI, R. R. Elaboração e rotinas de assistência de enfermagem no
pré e pós operatório de cirurgias plásticas. 2003. 271 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Enfermagem) — Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bits-
tream/handle/123456789/107967/241807.pdf?sequence=1. Acesso em: 27 maio 2020.
GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia dermatofuncional: fundamentos, recursos e patologia.
3. ed. São Paulo: Manole, 2010.
INTERNATIONAL SOCIETY OF AESTHETIC PLASTIC SURGERY. Mais recente estudo interna-
cional demonstra crescimento mundial em cirurgia estética. 2018. Disponível em: https://
www.isaps.org/wp-content/uploads/2018/11/2017-Global-Survey-Press-Release-br.
pdf. Acesso em: 27 maio 2020.
ISHIZUKA, C. K. Autoestima em pacientes submetidas a blefaroplastia. Rev. Bras. Cir.
Plást., v. 27, nº. 1, p. 31–36, mar. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1983-51752012000100007. Acesso em: 27 maio 2020.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
MACEDO, A. C. B. de; OLIVEIRA, S. M. de. A atuação da fisioterapia no pré e pós-operatório
da cirurgia plástica corporal: uma revisão de literatura. Cadernos da Escola de Saúde, v. 5,
p. 169–189, 2010. Disponível em: https://www.coursehero.com/file/p2lr59b/MACEDO-
-Ana-Carolina-Brandt-A-atua%C3%A7%C3%A3o-da-fisioterapia-no-pr%C3%A9-e-
-p%C3%B3s-operat%C3%B3rio-da/. Acesso em: 27 maio 2020.
MIGOTTO, J. S.; SIMÕES, N. D. P. Atuação fisioterapêutica dermato funcional no pós-
-operatório de cirurgias plásticas. Rev. Eletrônica Gestão & Saúde, v.4, nº. 1, p. 1365–1377,
2013. Disponível em: https://fisiosale.com.br/assets/11cirurgia-pl%C3%A1stica-corporal-
-0511b.pdf. Acesso em: 27 maio 2020.
OLIVEIRA, A. R. D. et. al. Recursos fisioterapêuticos utilizados no pós-operatório de
mulheres mastectomizadas. Fisioterapia Brasil, v. 18, nº. 4, 2017. Disponível em: . Acesso
em: 27 maio 2020.
ROMÃO, A. P. A atuação do tecnólogo em estética no pré e pós-operatório em cirurgia plás-
tica. 2016. Disponível em: https://portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/199/3-A_Atu-
acao_do_TecnYlogo_em_EstYtica_no_PrY_e_PYs_OperatYrio_em_Cirurgia_PlYstica.
pdf. Acesso em: 27 maio 2020.
SAMPAIO, S.; RIVITTI, E. A. Dermatologia. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
18 Procedimentos estéticos em cirurgias plásticas faciais

SCHMITZ, D. S.; LURENTINO, L.; MACHADO, M. Estética facial e corporal: uma revisão
bibliográfica. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Cosmetologia e
Estética) —- Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2010.
TODESCHINI, C. et al. Importância do tratamento da região submentoniana nas ritido-
plastias. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIRURGIA PLÁSTICA, 43., 2006, Recife. Anais
eletrônicos [...]. Disponível em: https://sbcp-sc.org.br/arquivos/2006-43-congresso-
-brasileiro-de-cirurgia-plastica.pdf. Acesso em: 27 maio 2020.

Leituras recomendadas
ANGER, J. et al. Um checklist pré-operatório em cirurgia plástica estética. Revista Bra-
sileira de Cirurgia Plástica, v. 26, nº. 3, jul./set. 2011. Disponível em: https://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-51752011000300026&lng=pt&nrm=iso.
Acesso em: 20 maio 2020.
CARVALHO, C. R. F. de. Estudo do perfil profissional e da formação acadêmica do tecnólogo
em estética: estudo de caso. 2006. 196 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Biociências
e Saúde) — Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2006.
GOZZO, T. O. et al. Informações para mulheres com câncer de mama. Esc. Anna Nery,
v. 16, nº. 2, p. 306–311, abr./jun. 2012.
RODRIGUES, B. de F.; QUARESMA, F. A inserção do tecnólogo em estética e imagem pes-
soal no mercado de trabalho – baseado na matriz curricular da utp. 2013. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Estética e Imagem Pessoal) — Universidade de
Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2013.
SCHIMMELPFENG, J. G. W. Estética e imagem pessoal: vantagens da drenagem linfática
manual no pré-operatório de lipoaspiração. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Tecnologia em Estética e Imagem Pessoal) — Universidade Tuiuti do
Paraná, Curitiba, 2017.
SHMIDTT, A.; OLIVEIRA, C.; GALLAS, J. C. O mercado da beleza e suas consequências.
2008. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Cosmetologia e Estética) —
Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, 2008.
SOUZA, L. R. M. de. Ética profissional no contexto da estética e beleza. 2017. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Estética e Imagem Pessoal) — Universidade Tuiuti
do Paraná, Curitiba, 2017.
VALDAMERI, G. A. A formação do profissional tecnológica em cosmetologia e estética:
limites e possibilidades do processo pedagógico. 2010. 116 f. Dissertação (Mestrado
em Educação) — Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, 2010.
VIGARELLO, G. História da beleza: o corpo e a arte de se embelezar, do Renascimento
aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

Você também pode gostar