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SER
CATEQUISTA
Curso de Formação de Catequistas
TEXTO DO FORMANDO
Belém
Agosto de 2021
Tema 3: A Pedagogia de Jesus
Introdução
Fará sentido utilizar o termo “pedagogia da fé” se a catequese tem como projeto,
como finalidade conduzir o ser humano à “comunhão com Jesus Cristo (cf. CT 5)”? A fé é
um dom de Deus e “só pode nascer do íntimo do coração humano como fruto da “prévia e
concomitante graça” (DV 5; cf. CCE 153)” e “como resposta completamente livre à moção
do Espírito Santo que move o coração e o dirige para Deus, dando-lhe “suavidade em
aceitar e crer a verdade” (DV 5)» (cf. CCE 153; DGC 55). Então, como suscitar a fé no
coração humano?
O que Deus quer e para que o quer. O fundamental é descobrir o que Deus quer:
Pedagogia do ENCONTRO:
Lemos e meditamos este texto no Tema 2 para considerarmos os sofrimentos e
morte do Senhor e contemplarmos a glória da sua Ressurreição. Neste Tema recordamo-
lo de novo, mas contemplando agora a pedagogia do Senhor.
Este texto dirige-se aos cristãos, da década de oitenta do século I. Já tinha passado
muito tempo após a morte de Jesus e a comunidade cristã experimentava algumas
dificuldades. Este trecho de S. Lucas procura reavivar a fé dos cristãos, revelando o jeito
do Ressuscitado de ir ao encontro de cada ser humano e ainda como e onde é possível
deixar-se ENCONTRAR por Ele.
A narrativa convida a acompanhar dois discípulos desiludidos a quem furtaram a
esperança, depositando-a num sepulcro. Afinal, quem é esse Jesus? Já lá vão três dias?
Como poderia Ele ser o Messias?
E enquanto caminhavam, para Emaús, conversando sobre o sucedido e deixando
para trás o sonho e a comunidade, eis que um “forasteiro” vem ao seu encontro e “põe-se
a caminhar com eles”.
Naquele momento, “os seus olhos estavam impedidos de O reconhecer”. Jesus
questiona-os e convida-os a dizerem aquilo que os preocupa. À partilha da sua tristeza e
desencanto, Jesus responde explicando-lhes as Escrituras revelando-lhes o projeto de
Deus. Um projeto que passa pelo amor e não pela lógica humana do sucesso.
Ao chegar a Emaús, Jesus faz menção de seguir caminho. Estratégia que provoca
nos discípulos um desejo, uma súplica e a possibilidade de serem eles a convidarem o
Mestre a entrar… Jesus entra na intimidade da casa, não por um momento, mas para
ficar.
É à mesa, no pão que é partido, que O reconhecem e recordam a promessa de
“ficar para sempre com eles”. É na mesa, lugar da família, da intimidade e da comunhão,
lugar da gratidão (Eucaristia) que os seus olhos se abrem. Ele deixa de estar aparente
aos seus olhos. Mas está com eles para sempre e mais do que nunca. O percurso de
Jerusalém para Emaús, orientado por Jesus, muda a sua história e impele-os a regressar
à comunidade onde todos testemunham: «Vimos o Senhor».
É longo o processo de se deixar encontrar, de confiar, ser cativado e reconhecer a
presença de Deus na vida e isso não se faz apenas em encontros esporádicos.
O QUE
PERSONAGEM O QUE FAZ? O QUE DIZ?
ACONTECE?
JESUS
DISCÍPULOS
DE EMAÚS
OUTROS
O QUE
PERSONAGEM O QUE FAZ? O QUE DIZ?
ACONTECE?
JESUS
SAMARITAN
A
OUTROS
O QUE
PERSONAGEM O QUE FAZ? O QUE DIZ?
ACONTECE?
JESUS
CEGO
OUTROS
JESUS
ZAQUEU
OUTROS
EXPRESSÃO E VIVÊNCIA DA FÉ
pergunto-me:
Quem é Jesus ressuscitado para mim? Como experimento que Ele me acompanha
diariamente? Que sinais vejo na minha vida e na vida de quem me rodeia?
2.4. Oração
Leio este trecho da “Alegria do Evangelho”, do Papa Francisco, lentamente, sem pressa.
“Não é a mesma coisa conhecer Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa
caminhar com Ele ou caminhar tateando, não é a mesma coisa poder escutá-Lo ou
ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo, adorá-Lo, descansar
n’Ele ou não o poder fazer. Não é a mesma coisa procurar construir o mundo com o seu
Evangelho em vez de o fazer unicamente com a própria razão. Sabemos bem que a vida
com Jesus se torna muito mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para
cada coisa. É por isso que evangelizamos. O verdadeiro missionário, que não deixa
jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele,
trabalha com ele. Sente Jesus vivo com ele, no meio da tarefa missionária. Se uma
pessoa não O descobre presente no próprio coração da entrega missionária, depressa
perde o entusiasmo e deixa de estar segura do que transmite, faltam-lhe força e paixão. E
uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, segura, enamorada, não convence
ninguém” (Evangelii Gaudium, nº 266).
Descobrimos que:
A fé é um dom de Deus e “só pode nascer do íntimo do coração humano como fruto
da “prévia e concomitante graça e como resposta completamente livre à moção do
Espírito Santo que move o coração e o dirige para Deus, dando-lhe suavidade em
aceitar e crer na verdade”;
Como exercício de uma “pedagogia original da fé” a catequese tem Deus como
fonte e modelo;
Para aprofundar:
Leio os textos do Magistério propostos a seguir e procuro assimilar os traços
essenciais da pedagogia que deve ser a minha enquanto catequista.
1. DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA CATECHESI TRADENDAE (S. JOÃO PAULO II)
Com a pedagogia original da fé
58. A originalidade inconfundível da identidade cristã tem como corolário e condição uma
pedagogia não menos original da fé. De entre as inúmeras e prestigiosas ciências do
homem, nas quais se verifica em nossos dias imenso progresso, a pedagogia é
certamente uma das mais importantes. Além disso as conquistas de outras ciências —
biologia, psicologia, sociologia — fornecem-lhe elementos preciosos. Acontece ainda que
tanto a ciência da educação como a arte de ensinar estão a ser objeto de contínuas
investigações para conseguir delas melhor adaptação ou maior eficácia, com resultados
também diversos.
Ora sucede que há também uma pedagogia da fé; e nunca será demais tudo o que
se disser sobre o que essa pedagogia pode contribuir para a catequese. É normal que se
adaptem à educação da fé as técnicas aperfeiçoadas e comprovadas da educação em
geral. No entanto, importa ter em conta em cada momento a originalidade própria da fé.
Na pedagogia da fé, não se trata simplesmente de transmitir um saber humano, por mais
elevado que se considere; trata-se de comunicar na sua integridade a Revelação de
Deus. Ora ao longo de toda a história sagrada, sobretudo no Evangelho, o próprio Deus
serviu-se de uma pedagogia que deve continuar a ser modelo para a pedagogia da fé.
Nenhuma técnica será válida na catequese senão na medida em que for posta ao serviço
da fé a transmitir e a educar; caso contrário, não terá valor.
A pedagogia de Deus
139. “Deus trata-vos como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige?” (Hb
12,7). A salvação da pessoa, que é o fim da revelação, manifesta-se como fruto também
de uma original e eficaz «pedagogia de Deus» ao longo da história. Analogicamente ao
uso humano e segundo as categorias culturais do tempo, Deus, na Escritura, é visto como
um pai misericordioso, um mestre, um sábio que assume a pessoa, indivíduo e
comunidade, na condição em que se encontra, livra-a dos laços com o mal, a atrai a Si
com vínculos de amor, faz com que ela cresça progressiva e pacientemente até à
maturidade de filho livre, fiel e obediente à sua palavra. Com este objetivo, como
educador genial e providente, Deus transforma os acontecimentos da vida do seu povo
em lições de sabedoria, adaptando-Se às diversas idades e situações de vida.
A este Povo, confia palavras de instrução e catequese que são transmitidas de
geração em geração, adverte com a recordação do prémio e do castigo, torna formativas
as próprias provações e sofrimentos. Verdadeiramente, fazer encontrar uma pessoa com
Deus, que é tarefa do catequista, significa colocar no centro e fazer própria, a relação que
Deus tem com a pessoa e deixar- se guiar por Ele.
A pedagogia de Cristo
140. Vinda a plenitude dos tempos, Deus mandou à humanidade o Seu Filho, Jesus
Cristo. Ele trouxe ao mundo o supremo dom da salvação, realizando a sua missão de
redentor, no âmbito de um processo que continuava a «pedagogia de Deus» com a
perfeição e a eficácia intrínsecas à novidade de sua pessoa. Nas suas palavras, sinais e
obras, ao longo de toda a sua breve mas intensa vida, os discípulos fizeram experiência
direta das diretrizes fundamentais da «pedagogia de Jesus», indicando-as, depois, nos
Evangelhos: o acolhimento do outro, em particular do pobre, da criança, do pecador,
como pessoa amada e querida por Deus; o anúncio genuíno do Reino de Deus como boa
nova da verdade e da consolação do Pai; um estilo de amor delicado e forte, que livra do
mal e promove a vida; o convite premente a uma conduta amparada pela fé em Deus,
pela esperança no reino e pela caridade para com o próximo; o emprego de todos os
recursos da comunicação interpessoal, tais como a palavra, o silêncio, a metáfora, a
imagem, o exemplo e tantos sinais diversos, como o faziam os profetas bíblicos.
Convidando os discípulos a segui-Lo totalmente e sem nostalgias, Cristo entrega-lhes a
sua pedagogia da fé como plena partilha da sua causa e do seu destino.
A pedagogia da Igreja
141. Desde o princípio, a Igreja, que «é como um sacramento em Cristo», (cf. GS 36) tem
vivido a sua missão como prosseguimento visível e atual da pedagogia do Pai e do Filho.
Ela, «sendo nossa Mãe, é também educadora da nossa fé».
São estas as razões profundas, pelas quais a comunidade cristã é, em si mesma,
uma catequese viva. Por aquilo que é, anuncia e celebra, opera e permanece sempre o
lugar vital, indispensável e primário da catequese.
A Igreja produziu, ao longo dos séculos, um incomparável tesouro de pedagogia da
fé: antes de mais nada, o testemunho de catequistas e de santos. Uma variedade de vias
e formas originais de comunicação religiosa, como o catecumenato, os catecismos, os
itinerários de vida cristã; um precioso património de ensinamentos catequéticos, de
cultura da fé, de instituições e de serviços da catequese. Todos estes aspectos fazem a
história da catequese e entram, a pleno título, na memória da comunidade e na práxis do
catequista.
142. «Feliz o homem a quem corriges, Iahweh, e a quem ensinas por meio de tua lei» (Sl
94,12). Na escola da Palavra de Deus acolhida na Igreja, graças ao dom do Espírito
Santo enviado por Cristo, o discípulo cresce como o seu Mestre, «em sabedoria, em
estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens» (Lc 2,52) e é ajudado a
desenvolver em si a «educação divina» recebida, mediante a catequese e os recursos da
ciência e da experiência. Deste modo, conhecendo sempre cada vez mais o mistério da
salvação, aprendendo a adorar a Deus Pai e «vivendo na verdade segundo a caridade»,
procura crescer «em tudo em direção àquele que é a cabeça, Cristo» (Ef 4,15).
A pedagogia de Deus pode dizer-se realizada quando o discípulo atinge «o estado
de Homem Perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo» (Ef 4,13). Por isso, não
se pode ser mestre e pedagogo da fé alheia, se não se é discípulo convicto e fiel de Cristo
na Sua Igreja.
145. Jesus Cristo é a viva e perfeita relação de Deus com o homem e do homem com
Deus. D'Ele, a pedagogia da fé recebe uma «lei que é fundamental para toda a vida da
Igreja» e, portanto, da catequese: «a lei da fidelidade a Deus e da fidelidade ao homem,
numa única atitude de amor».
Será, portanto, genuína, aquela catequese que ajudar a perceber a ação de Deus
ao longo do caminho formativo, favorecendo um clima de escuta, de ação de graças e de
oração e, ao mesmo tempo, visar a livre resposta das pessoas, promovendo a
participação ativa dos catequizandos.
146. Querendo falar aos homens como a amigos, Deus manifesta a sua pedagogia, de
modo particular, adaptando com solícita providência, a sua Palavra à nossa condição
terrena.
Isso comporta, para a catequese, a tarefa jamais concluída de encontrar uma
linguagem capaz de comunicar a palavra de Deus e o Credo da Igreja, que é o seu
desenvolvimento, nas variadas condições dos ouvintes, mantendo, ao mesmo tempo, a
certeza de que, por graça de Deus, isso pode ser feito, e que o Espírito Santo dá a alegria
de fazê-lo.
Por isso, indicações pedagógicas adequadas à catequese são aquelas que
permitem comunicar a totalidade da Palavra de Deus no coração da existência das
pessoas.
VOCABULÁRIO DO CATEQUISTA