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Caderno de Direito Constitucional - 2006

Ney Barros de Bello Filho


__________________________________________________________________________________________

ESCOLA DA MAGISTRATURA DO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

Direção
Desembargador Federal Luiz Carlos de Castro Lugon

Conselho
Desembargador Federal Paulo Afonso Brum Vaz
Desembargador Federal Antônio Albino Ramos de Oliveira

Coordenador Científico do Módulo de Direito Constitucional


Juiz Federal Jairo Gilberto Schäfer

Assessoria
Isabel Cristina Lima Selau

___________________________________________

CADERNO DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Organização
Maria Luiza Bernardi Fiori Schilling

Revisão
Leonardo Schneider
Maria Aparecida Corrêa de Barros Berthold
Maria de Fátima de Goes Lanziotti

Capa e Editoração
Alberto Pietro Bigatti
Marcos André Rossi Victorazzi
Rodrigo Meine

Apoio
Seção de Reprografia e Encadernação

Contato:
E-mail: emagis@trf4.gov.br
Fone: (51) 3213-3041, 3213-3043 e 3213-3042
www.trf4.gov.br/emagis

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Apresentação

O Currículo Permanente criado pela Escola da Magistratura do


Tribunal Regional Federal da 4ª Região - EMAGIS - é um curso realizado em
encontros mensais, voltado ao aperfeiçoamento dos juízes federais e juízes federais
substitutos da 4ª Região, que atende ao disposto na Emenda Constitucional nº
45/2004. Tem por objetivo, entre outros, propiciar aos magistrados, além de uma
atualização nas matérias enfocadas, melhor instrumentalidade para condução e
solução das questões referentes aos casos concretos de sua jurisdição.

O Caderno do Currículo Permanente é fruto de um trabalho conjunto desta


Escola e dos ministrantes do curso, a fim de subsidiar as aulas e atender às
necessidades dos participantes.

O material conta com o registro de notáveis contribuições, tais como artigos,


jurisprudência selecionada e estudos de ilustres doutrinadores brasileiros e
estrangeiros compilados pela EMAGIS e destina-se aos magistrados da 4ª Região,
bem como a pesquisadores e público interessado em geral.

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Índice:

Ordem Ambiental Constitucional


Ministrante: Ney Barros de Bello Filho

Ficha Técnica..................................................................................................................... 02
Apresentação...................................................................................................................... 03

Texto 1: “A dignidade da pessoa humana e o direito fundamental ao ambiente”


Autor: Ney Barros de Bello Filho

1. Considerações iniciais..................................................................................................... 05
2. A Compreensão Dogmático-constitucional da Dignidade da Pessoa Humana............... 06
3. O Conteúdo do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana........................................... 12
4. Conteúdo do Direito Fundamental ao Ambiente Apoiado no Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana.................................................................................................................. 13
5. Conclusão........................................................................................................................ 15

Texto 2: “A Constituição Federal e o meio ambiente”


Autor: Ney Barros de Bello Filho

1. A Constituição e o ambiente............................................................................................ 16
2. A tutela constitucional do ambiente................................................................................. 17
2.1 Conceito e função da constituição............................................................................. 17
2.2 O sentido de constitucionalizar a proteção ao meio ambiente................................. 17
2.3 Necessidade da constitucionalização do ambiente................................................... 19
2.4 Ambiente: bem e valor jurídico.................................................................................. 19
3. Espécies constitucionais de proteção ao ambiente......................................................... 20
3.1 Proteção através de normas....................................................................................... 20
3.2 Proteção através de políticas públicas....................................................................... 21
4. Os deveres fundamentais de preservar o ambiente........................................................ 21
5. O direito fundamental ao ambiente.................................................................................. 25
Questões.............................................................................................................................. 26
Texto complementar: A Constituição de 1988.................................................................... 27

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A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O DIREITO FUNDAMENTAL


AO AMBIENTE

Ney de Barros Bello Filho 1

1. Considerações Iniciais

A constatação de que o direito ao ambiente sadio e ecologicamente


equilibrado configura-se como um direito fundamental na ordem constitucional
positiva brasileira parte da convicção de que o artigo 225 da CRF/88 é um
enunciado normativo de direito fundamental que expressa uma norma de direito
fundamental atributiva de um direito subjetivo, e que esta norma se fundamenta
formal e materialmente como uma norma de direito fundamental. 2

A fundamentalidade formal do direito ao ambiente sadio e ecologicamente


equilibrado pode ser sugerida desde a simples leitura da cláusula de abertura do
catálogo de direitos fundamentais prevista no artigo 5º § 2o, da Constituição Federal.
Já o fundamento material deste direito pressupõe uma gama de princípios sobre os
quais se justifica materialmente o direito fundamental ao ambiente dentro da
quadratura do sistema constitucional.

Neste sentido, forçoso reconhecer que o direito subjetivo ao ambiente, de


matriz constitucional, não se fundamenta exclusivamente na dignidade da pessoa
humana, mas em toda uma gama de princípios fundamentais, implícitos ou
explícitos, expressos ou decorrentes.

Por outro lado, embora não seja o único fundamento material de direitos
fundamentais a DPH – dignidade da pessoa humana - representa o seu mais forte
arrimo, na medida em que traz consigo a consubstanciação de todos os conteúdos

1
Ney de Barros Bello Filho é mestre em Direito pela UFPE, doutorando em Direito pela UFSC, Juiz Federal,
professor da UFMA e da UNDB, Coordenador do NEA – Núcleo de Estudos Ambientais da UFMA,
Coordenador do NERISK - Núcleo de Estudos de Direito e Sociedade do Risco da UNDB, Membro da
Comissão de Direito Ambiental da IUCN, Vice- Presidente do Instituto “O Direito por um Planeta Verde”.
2
A compreensão da relação enunciado normativo/norma parte do conceito semântico de norma de direito
fundamental que concebe diferença entre enunciados normativos, normas e direitos subjetivos. ALEXY, Robert.
Teoria de los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales. 1997, pp. 48/81.

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que tornaram possíveis os discursos de direitos fundamentais consolidados através


dos tempos.

O objetivo deste artigo não é o de esquadrinhar o direito fundamental ao


ambiente, nem tão pouco o de analisar o princípio da dignidade da pessoa humana
dando-lhe conteúdo claro, mas tão somente o de levantar questões e estabelecer
conexões entre o direito subjetivo ao ambiente sadio e ecologicamente equilibrado e
o seu mais forte fundamento material, a DPH.

2. A Compreensão Dogmático-constitucional da Dignidade da


Pessoa Humana

A dignidade da pessoa humana, no sistema constitucional brasileiro, é um


princípio fundamental e se constitui em uma das bases da República Federativa do
Brasil. 3 Pode-se dizer que é fundamento do Estado brasileiro conforme se
depreende do artigo 1º da CF/88. O Estado e todo o sistema constitucional apóiam-
se em uma teia de princípios e em uma cadeia de valores acerca dos quais houve
opção do constituinte. Um destes valores – convertidos em princípios - é o da
dignidade da pessoa humana. 4

Originariamente a dignidade da pessoa humana é um valor moral que ao ser


positivado transforma-se em norma de direito positivo. Ao ser incorporado à ordem
positiva, deixa de se tratar de uma declaração ética ou moral, passando a
configurar-se em norma jurídica que gera efeitos como quaisquer outras normas do

3
COSTA, José Manoel M. Cardoso. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Constituição e na
Jurisprudência Constitucional Portuguesas. In Estudos em Homenagem a Manoel Gonçalves Ferreira Filho. São
Paulo: Dialética, 2001, p. 191. Para José Manoel Cardoso da Costa, a constitucionalização da dignidade da
pessoa humana representa mais que isso. Representa a constitucionalização de um limite ao Estado, e um espaço
de valor anterior à existência do próprio Estado e que funciona como limite a qualquer campo de atuação estatal.
No mesmo sentido BENDA, Ernest. Dignidad Humana y Derechos de la Personalidad. In Konrad Hesse,
Manual de Derecho Constitucional, Madrid: Marcial Pons. 1996, p. 118, e SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade
da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de 1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado, p.
69.
4
Neste sentido, tratando do sistema alemão cf BENDA, Ernest. Dignidad Humana y Derechos de la
Personalidad. In Konrad Hesse, Manual de Derecho Constitucional, Madrid: Marcial Pons. 1996, p.117 – 144.

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ordenamento jurídico-constitucional 5 . A sua positividade transforma o seu conteúdo


fazendo-o estender-se do campo da moral para o terreno do direito.

A opção do constituinte de alçar a dignidade da pessoa humana à condição


de princípio fundamental traduz-se – dentre outras formas – na busca de uma linha
média entre o liberalismo extremado, e um coletivismo que minudencia a liberdade.

Esta linha média buscada pelo constituinte significa a criação de uma esfera
individual que não se supera pelo coletivismo atentatório, mas também significa a
fixação de patamares – ditados pelo conteúdo do princípio - que não podem ser
negados, e nem submetidos ao individualismo. Neste sentido, entronizar a dignidade
da pessoa humana como princípio fundamental significa uma tentativa de construir
um elo entre o individualismo e o coletivismo, e um ponto de equilíbrio entre os
direitos e a democracia. 6

Muito embora a dignidade possa ser tomada como algo intrínseco à noção de
humanidade e, portanto, não dependente de uma qualquer positivação jurídica, é
forçoso reconhecer que a positivação constitucional, na qualidade de princípio, tem a
função de salvaguardar uma característica imanente a todo ser humano,
transformando em mandado jurídico-positivo a determinação de proteção deste
valor. Em um sistema de direito positivo é exatamente esta positivação que dota a
dignidade da pessoa humana de normatividade, podendo então se estabelecer
como norma válida, vigente e eficaz.

Esta constitucionalização da dignidade da pessoa humana na categoria de


princípio constitucional permite seja a norma configurada como uma norma-princípio
que se traduz em um mandado de otimização, determinando que algo seja realizado
na maior medida possível. 7

Isto significa permitir que todas as normas jurídicas sejam tomadas como
condutoras da dignidade humana, e, por via inversa, permite negar
constitucionalidade a normas e atos jurídicos que a neguem.

5
BENDA, Ernest. Dignidad Humana y Derechos de la Personalidad. In Konrad Hesse, Manual de Derecho
Constitucional, Madrid: Marcial Pons. 1996, p. 120.
6
BENDA, Ernest. Dignidad Humana y Derechos de la Personalidad. In Konrad Hesse, Manual de Derecho
Constitucional, Madrid: Marcial Pons. 1996, p.119.
7
Acerca dos princípios como mandados de otimização cf ALEXY, Robert. Teoria de los Derechos
Fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1995.

7
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Desta maneira, o papel de concretizar a dignidade da pessoa humana passa


a ser de todo aplicador do direito que deve realizá-la ao aplicar normas jurídicas que
com ela guardem fundamento.

Como princípio 8 que é tem o efeito de condicionar as normas e atos jurídicos


à sua observância e cumprimento, servindo de base a outras regras e interagindo
normativamente com outros princípios.

Na constituição brasileira, uma das maiores características da dignidade da


pessoa humana reside no fato de ela gozar da função de princípio político-
constitucional que define e caracteriza a coletividade política e o Estado. 9 A
conseqüência direta da sua posição jurídico-constitucional é jogar o papel de vetor
interpretativo 10 , ou ainda o papel de valor-guia 11 de diversas normas expressas por
outros enunciados normativos constitucionais.

A constitucionalização da dignidade da pessoa humana como um valor alçado


à condição de princípio constitucional tem a conseqüência político-normativa de
marcar uma opção constituinte pelos valores humanistas, tornando o homem centro
de uma ordem político-constitucional. 12

Intrincada questão é saber se, na qualidade de norma princípio, a dignidade


da pessoa humana também é um direito, e se assim um for, se é um direito
fundamental.

A dignidade da pessoa humana não é propriamente um direito fundamental 13 ,


já que inexiste um direito fundamental à dignidade 14 . O princípio expresso pelo

8
PÉREZ, Jesús González. La Dignidad de la Persona. Madrid: Civitas, 1986.
9
CANOTILHO, J.J. Gomes, MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa Anotada. 1º vol, Lisboa:
Coimbra, 1984, p 66.
10
BARCELLOS, Ana Paula. A Eficácia dos Princípios Constitucionais – O Princípio Constitucional da
Dignidade da Pessoa Humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 146.
11
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de
1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 72.
12
COSTA, José Manoel M. Cardoso. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Constituição e na
Jurisprudência Constitucional Portuguesas. In Estudos em Homenagem a Manoel Gonçalves Ferreira Filho. São
Paulo: Dialética, 2001, p. 191; no mesmo sentido BENDA, Ernest. Dignidad Humana y Derechos de la
Personalidad. In Konrad Hesse, Manual de Derecho Constitucional, Madrid: Marcial Pons. 1996, p.119.
13
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de
1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 68.
14
Neste sentido, COSTA, José Manoel M. Cardoso. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na
Constituição e na Jurisprudência Constitucional Portuguesas. In Estudos em Homenagem a Manoel Gonçalves
Ferreira Filho. São Paulo: Dialética, 2001, p. 192; e tomando as posições que conferem à dignidade da pessoa
humana uma posição de direito ou uma posição de princípio que fundamenta outros direitos que o concretiza, e
denominando ambas concepções de “direito autônomo” e “direito relativo”, cf DELPÉRÉE, Francis. O Direito à

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enunciado normativo do artigo 1º da CF/88 é fundamento de outros direitos que


realizam o princípio quando são aplicados em relações jurídicas intersubjetivas ou
quando dão azo a atuações estatais fundadas em tais direitos.

A dignidade enquanto pessoa é algo intrínseco a existência humana, e não


tem, propriamente, a estrutura de um direito, já que essencial ao conceito de
humanidade. Mas o fato de não ser exatamente um direito tem a conseqüência,
apenas, de não ser possível uma demanda com fundamento exclusivo no princípio
da dignidade da pessoa humana, já que não parece lógico pleitear algo que é
inerente ao próprio conceito de Homem. 15 A ausência de justiciabilidade e seu perfil
tão somente vinculativo para as atuações administrativas, legislativas e judiciárias dá
o tom de norma jurídica de eficácia meramente objetiva à dignidade da pessoa
humana, conferindo-lhe feição distinta das normas atributivas de direitos subjetivos.

Parece, à partida, equivocado sustentar que um princípio fundamental


irradiante para toda ordem jurídica como o princípio da dignidade da pessoa humana
não seja protegido positivamente por uma estrutura de direitos.

A dignidade da pessoa humana, como princípio expresso demonstra ser algo


mais que um direito fundamental. É um valor irradiante para toda a ordem jurídica, e
dele decorrem posições jurídico-fundamentais, já que fundamenta direitos
subjetivos, mas, em si, não é um direito. 16

Como anota Ingo Sarlet 17 , não há mesmo sentido na dignidade da pessoa


humana constituir-se em um direito, uma vez que não há razão para pleitear o que é
intrínseco ao Homem 18 . Por outro lado, o fato de se constituir em um princípio

Dignidade Humana, In Estudos em Homenagem a Manoel Gonçalves Ferreira Filho. São Paulo: Dialética, 2001,
p. 151-162.
15
Neste sentido, SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 3a. Ed. 2003, p.109. Sobre a possibilidade de litigar – no sistema constitucional português, utilizando-
se por base somente o princípio da dignidade da pessoa humana expresso no artigo 1 da CRP, cf o Acórdão do
Tribunal Constitucional Português de nº 105/90. Naquela decisão, o TC admitiu o fundamento exclusivo de uma
argüição de constitucionalidade com base no princípio, mas reiterou a dificuldade de concretização de seu
conteúdo.
16
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 3a. Ed.
2003, p. 103, e também SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na
Constituição de 1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 70-71
17
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de
1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 71.
18
Esta posição merece reparos, na medida em que algo ser intrínseco ao homem não serve de elemento
caracterizador do conceito de direito. A vida, por exemplo, é intrínseca ao ser humano, e se constitui em um
direito na medida em que pode ser agredida ou mitigada por atividades exógenas. Assim também a dignidade
poderia – a princípio – ser um direito que pudesse ser negado ou agredido por outrem, necessitando, pois, de
uma afirmação pública para que fosse garantido pelo Estado. A não ser que se tomasse a dignidade como algo de

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significa que todas as demais normas jurídicas positivas guardam-lhe deferência, o


que implica na possibilidade de a dignidade agredida ser corrigida pela natural
vinculatividade das normas que se fundamentam no princípio da dignidade da
pessoa humana. 19 20

Estar constitucionalizado como princípio e não como um direito não implica


em uma ausência de relação direta entre a dignidade da pessoa humana e os
direitos fundamentais. Muito ao contrário, os direitos fundamentais – diretamente ou
mediatamente – fundamentam-se no princípio da dignidade da pessoa humana.

Esta constitucionalização na qualidade de princípio tem o efeito de servir de


base (exclusiva) direta 21 , ou (concorrente) mediata 22 , para a fundamentação material
dos direitos fundamentais, vez que, o catálogo constitucional de direitos passa a ser
conseqüência da humanização das bases constitucionais do Estado. 23 O princípio
fundamenta e confere unidade aos direitos fundamentais 24 , muito embora não seja o
único princípio a servir de base material a tais normas, razão pela qual, a sua
fundamentação não é exclusiva, mas concorrente com outros princípios e, nem
sempre, direta. Podem existir direitos apenas indiretamente arrimados na dignidade
da pessoa humana.

Os direitos fundamentais existentes no tempo presente, dada a hiper-


complexidade da sociedade, não se apóiam exclusivamente na dignidade da pessoa
humana, e nem é possível encontrar diretamente fundamento exclusivo em tal
princípio para todos os direitos fundamentais.

impossível retirada, intrínseco de tal forma que o homem sempre a terá, independentemente de sua agressão por
outrem, a idéia não parece ser firmemente posta.
19
BENDA, Ernest. Dignidad Humana y Derechos de la Personalidad. In Konrad Hesse, Manual de Derecho
Constitucional, Madrid: Marcial Pons. 1996, p. 121.
20
Este sim parece ser o argumento mais forte a justificar a posição da dignidade da pessoa humana como
princípio gerador de direitos e não um direito em si mesmo.
21
ANDRADE, José Carlos Vieira. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. Coimbra:
Almedina, 2a. 2001; SILVA, José Afonso, Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 3a. ed. São Paulo:
Malheiros, 1998; DELPÉRÉE, Francis. O Direito à Dignidade Humana, In Estudos em Homenagem a Manoel
Gonçalves Ferreira Filho. São Paulo: Dialética, 2001, p. 151-162; BARCELLOS, Ana Paula. A Eficácia dos
Princípios Constitucionais – O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002.
22
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 3a. Ed.
2003; SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de
1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado;
23
COSTA, José Manoel M. Cardoso. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Constituição e na
Jurisprudência Constitucional Portuguesas. In Estudos em Homenagem a Manoel Gonçalves Ferreira Filho. São
Paulo: Dialética, 2001, p. 192.
24
CANOTILHO, J.J. Gomes, MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa Anotada. 1º vol, Lisboa:
Coimbra, 1984, p.70.

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Todas as normas de direitos fundamentais guardam uma relação com os


princípios da Carta Constitucional, e desta forma, os direitos à vida, à liberdade e à
igualdade correspondem direta ou indiretamente às exigências elementares de
realização dos ideais de dignidade da pessoa humana 25 , que é um princípio
constitucional expresso pelo enunciado normativo do artigo 1o da CF/88. 26

No entanto, os direitos fundamentais estão embasados em diversos princípios


constitucionais, dentre eles na dignidade da pessoa humana, e já não é possível
dizer que todos os direitos fundamentais sejam realizadores do princípio da
dignidade da pessoa humana. Se mediatamente todos eles guardam uma
vinculação, ainda que tênue, com tal princípio, já não se pode dizer que toda e
qualquer norma de direito fundamental guarde com ele consonância direta.

Os direitos fundamentais terminam por serem a concretização de princípios


que não possuem a estrutura de direitos de natureza subjetiva. A concretização de
tais princípios dar-se-á por intermédio de direitos fundamentais.

Como uma das bases do sistema aberto de direitos fundamentais da carta


constitucional, o princípio da dignidade da pessoa humana serve de vetor para
interpretação e alcance de toda a gama de normas de direitos fundamentais
constitucionalmente previstas, configurando-se, assim, como um princípio de maior
hierarquia axiológico-valorativa. 27

Desta forma, no ordenamento jurídico brasileiro, a dignidade da pessoa


humana possui um duplo papel: fundamenta materialmente os direitos
fundamentais 28 , alguns diretamente e outros indiretamente, e serve de conteúdo
interpretativo para diversas normas jurídicas em si embasadas.

25
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 3a. Ed.
2003, p. 102.
26
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 3a. Ed.
2003, p. 102.
27
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de
1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado, p. 72.
28
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição de
1988.Porto Alegre: Livraria do Advogado, p.70.

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3. O Conteúdo do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

Há uma íntima ligação entre o princípio da dignidade da pessoa humana e o


arrimo jusnaturalista de uma teoria dos direitos fundamentais, principalmente em sua
base religiosa. A utilização do princípio começa na inspiração cristã, fazendo todo
um arco histórico passando pelo humanismo, chegando a uma sustentação racional,
esta sim, laica. 29

A princípio tomado desde a concepção cristã de homem 30 , a dignidade da


pessoa humana terminou por consolidar uma compreensão racional de ser humano,
fazendo retirar todo – ou parte – do conteúdo metafísico do princípio.

Esta explicação-justificação do princípio da dignidade da pessoa humana a


partir da concepção racional de homem permitiu uma relativização do conteúdo que
fez, do princípio, algo relativo, e concretizável desde a utilização da argumentação
histórica ou racional, mas jamais demonstrável empiricamente.

Por considerações de natureza histórica, o princípio é extremamente aberto, o


que não permite qualquer conceituação ou fixação de conteúdo divorciado do
processo histórico ou do embate racional. Considerando a diversidade de valores de
uma sociedade hiper-complexa, é difícil encontrar um conteúdo unívoco para o
princípio da dignidade da pessoa humana.

História e razão são dinâmicas e não produz ecos uníssonos. O processo de


densificação do princípio permite uma pluralidade de conteúdos que não projeta uma
base sólida, quer para os direitos que fundamenta quer para os princípios aplicados
diretamente.

A concretização da dignidade da pessoa humana não é diferente da


densificação de qualquer outro princípio. Tomado este como categoria dogmática, a
resolução de questões que envolvam a fixação de um conteúdo passa pelas três
dimensões da dogmática: a empírica, a analítica e a normativa.

29
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 3a. Ed.
2003, p. 106-107.
30
BENDA, Ernest. Dignidad Humana y Derechos de la Personalidad. In Konrad Hesse, Manual de Derecho
Constitucional, Madrid: Marcial Pons. 1996, p. 117-118.

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Desta maneira, o que vai lhe definir o conteúdo, é sempre uma argumentação
principiológica – tomando-se por base a estrutura conceitual da dogmática analítica,
e as constatações empíricas, como a redação do enunciado normativo e as decisões
do Supremo Tribunal Federal.

A dimensão normativa da dogmática vai permitir a utilização de pré-


compreensões, de entendimentos culturais diversos todos eles utilizáveis como topoi
no processo de concretização do princípio.

Assim, o processo de atribuição de conteúdo ao princípio vai se submeter às


três dimensões da dogmática permitindo-se quer as considerações empíricas, quer
as analíticas quer as normativas.

4. Conteúdo do Direito Fundamental ao Ambiente Apoiado no


Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

O direito fundamental ao ambiente sadio e ecologicamente equilibrado ao se


apoiar no princípio da dignidade da pessoa humana para se configurar como direito
fundamental na ordem constitucional brasileira carece da fixação do conteúdo,
carece, previamente, de um acordo semântico e normativo acerca do que significa
observar a dignidade da pessoa humana.

Isto implica em dizer que a definição constitucional de que todos temos um


direito fundamental ao ambiente sadio e ecologicamente equilibrado é também
tributário da afirmação segundo a qual este direito corresponde a uma mediata
realização do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Em outras
palavras, só haverá direito fundamental ao ambiente se a dignidade da pessoa
humana estiver sendo observada.

A partir da máxima kantiana segundo a qual o homem deve ser tratado como
um fim em si mesmo e não como um meio para a aquisição de outro valor, pode se
pensar em pressupostos para a configuração de um conteúdo mínimo, ou conteúdo
essencial para este princípio .

Somente haverá direito fundamental ao ambiente se o homem estiver sendo


tratado com respeito à sua dignidade, e tal se dá quando o homem é tratado como

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razão de ser de determinada atividade, e não como meio para a consecução de uma
outra finalidade. Jamais haverá realização do direito fundamental ao ambiente se o
homem estiver sendo tratado como um objeto. Desta forma, compreensões
puramente econômicas do direito ao ambiente parecem gerar não apenas oposições
teórico-analíticas, mas antinomias no campo da dogmática, uma vez que a
dignidade da pessoa humana é fundamento de materialidade do direito ao ambiente.

Por outro lado, forçoso concluir que o conteúdo prima facie do direito
fundamental ao ambiente pode ser buscado desde o apoio de uma compreensão
também prima facie do princípio que lhe dá apoio, mas tal se dá, a posteriori, apenas
após a ponderação de outros princípios em processo de colisão de normas e direitos
que deverão ser resolvidos através da proporcionalidade.

Questão intrigante é saber se a compreensão de que o direito ao ambiente


sadio e ecologicamente equilibrado sustenta-se na dignidade da pessoa humana
não significa um retorno a compreensões antropocêntricas do direito ambiental,
afastando uma certa visão biocêntrica em voga após os anos noventa.

Importa frisar que a dicotomia antropocentrismo e biocentrismo nada mais


representa que um falso dilema. Ao tratar-se da categoria teórica chamada “direito”,
seja ela através de um discurso dogmático ou zetético, revela-se impossível
desconsiderar a centralização do discurso na idéia de homem, e, portanto, na
compreensão humanista do fenômeno jurídico. Direito como produto da sociedade,
como fruto das relações estabelecidas socialmente, e como técnica de resolução de
conflitos não poderá, jamais, abandonar o discurso humanista e a compreensão de
homem como finalidade do discurso jurídico. Por outro lado, qualquer discurso
ambiental, seja através da ciência do direito seja através da sociologia ou da biologia
deverá buscar observar a natureza e toma-la como razão de ser das normas de
conduta humana que disciplinam as relações construídas em derredor deste valor.

Neste sentido, a superação da dicotomia faz-se mister para se compreender


que fundamentar o direito ambiental em um discurso ético, e em um princípio como
o da dignidade da pessoa humana não significa um retorno ao antropocentrismo,
mas em uma superação do falso dilema rumo a um ecocentrismo.

De outra feita, parece cristalino que, embora construído com base material em
princípios, dentre eles o da dignidade da pessoa humana, o direito fundamental ao

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ambiente justifica-se como tal sempre através da argumentação jus-fundamental,


apta a consolidar o mais possível os discursos aprioristicamente construídos,
dotando-os de eficácia.

5. Conclusão

A guisa de conclusão pode-se sustentar, na quadratura dogmático-


constitucional brasileira, que o direito ao ambiente sadio e ecologicamente
equilibrado é direito subjetivo fundamental e, portanto, de eficácia objetiva e
subjetiva. Por assim ser, tal direito se apóia materialmente em uma teia de princípios
constitucionalmente válidos, entre eles o da dignidade da pessoa humana.

Como normas-princípio que são, tanto a dignidade da pessoa humana


quanto o direito ao ambiente jogam a função de mandados de otimização que são
conhecidos prima facie, mas que se realizam a posteriori.

Apoiar o direito fundamental ao ambiente sadio e ecologicamente


equilibrado na dignidade da pessoa humana representa uma superação da
dicotomia antropocentrismo/biocentrismo, construindo-se uma visão do fenômeno
jurídico ambiental baseada no ecocentrísmo.

A dignidade da pessoa humana e o direito fundamental ao ambiente são


objetos de uma argumentação jusfundamental, dentro da dogmática tridimensional,
e, como tais têm seus conteúdos fixados apenas após as atividades de ponderação,
guiadas pela proporcionalidade.

Desta forma, para a fixação do direito fundamental ao ambiente faz-se


mister o conhecimento prévio do princípio da dignidade da pessoa humana, que lhe
dá fundamento e materialidade, embora não de forma exclusiva.

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A Constituição Federal e o meio ambiente


Ney de Barros Bello Filho *

1. A Constituição e o ambiente

O direito ao ambiente sadio e ecologicamente equilibrado está previsto na


Constituição da República Federativa do Brasil em seu artigo 225 1 .
O fato de o sistema normativo reservar assento constitucional para a proteção
do ambiente, significa, antes de tudo, a constatação da importância que possui a
preservação do ambiente para a vida de todos e, em seguida, a confirmação do grau
de importância que as normas jurídicas, cujo objeto é o ambiente, possuem no
sistema normativo.
Prever constitucionalmente a tutela do ambiente significa admitir que a
preservação ambiental é função do Estado e que decorrem direitos dos particulares
– frente ao Estado e a outros particulares – do só fato de a sanidade ambiental ser
protegida pela ordem jurídica. A previsão constitucional significa a constatação da
existência de um direito intimamente ligado à opção política da sociedade brasileira
e, também, o fato de a preservação ambiental ser elemento constitutivo do Estado
democrático de direito, sendo possível falar-se, então, em Estado Democrático de
Direito Ambiental.
A previsão constitucional da tutela ao ambiente direciona toda a sua proteção
infraconstitucional, apresentando-o como bem protegido por uma norma de
importância superior às normas infraconstitucionais, sem prejuízo de que, abaixo da
norma constitucional, outras normas protejam o mesmo objeto.

Ney de Barros Bello Filho é mestre em Direito pela UFPE, doutorando em Direito pela UFSC, Juiz Federal,
professor da UFMA e da UNDB, Coordenador do NEA – Núcleo de Estudos Ambientais da UFMA,
Coordenador do NERISK - Núcleo de Estudos de Direito e Sociedade do Risco da UNDB, Membro da
Comissão de Direito Ambiental da IUCN, Vice- Presidente do Instituto “O Direito por um Planeta Verde”.
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 98.

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2. A tutela constitucional do ambiente


A Constituição, em seu artigo 225 caput apresenta a seguinte proposição
normativa:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações. Artigo. 225 da CF/88.

2.1 Conceito e função da constituição


Uma Constituição é o texto fundamental do sistema normativo. Os elementos
estruturais de toda a ordem jurídica estão ali previstos e todos os bens, interesses e
direitos mais importantes, quer da compreensão do Estado quer da idéia de
sociedade, podem ser ali encontrados.
O pacto fundador tem a função de fundir o político com o jurídico constituindo-
se em texto de direção político-jurídica de uma sociedade refletindo o especial modo
de ser de suas organizações políticas e indicando as bases para a superação de
uma realidade.Tem força de lei, tem normatividade, tem função de direito, mas
possui objeto eminentemente político.
Constituição é um sistema que se compõe de realidade e de texto, de
especial modo de ser de uma sociedade e de normas escritas que indicam como
proceder. Reflete o que há de mais importante no espaço social e propõe o que há
de fundamental para toda a sociedade.

2.2 O sentido de constitucionalizar a proteção ao meio


ambiente
Faz sentido e é necessário proteger constitucionalmente o ambiente, pois isto
significa valorizar os procedimentos de proteção ambiental e reconhecer a
essencialidade do ambiente sadio para a vida de todos 2 .

2
MILARÉ, Édis. Op. cit., p. 98.

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A proteção constitucional tem o sentido simbólico de atribuir importância


fundamental à preservação, além de caracterizar simbolicamente a preservação
como algo importante.
De uma simples leitura do caput do artigo 225 da Constituição Federal
tornam-se perceptível algumas características desta proteção constitucional-
ambiental.
Em primeiro lugar não se trata de uma proteção percebida em paridade com a
proteção dos bens exercida pelo direito de propriedade. A expressão “todos” deixa
claro que se trata de uma proteção difusa, que abrange direitos e interesses de
diversas pessoas e, portanto, não encartado na compreensão tradicional dos direitos
patrimoniais. Não são direitos ou interesses que podem ser atribuídos a uma parte
da sociedade ou a pessoas individualizadas. Trata-se de uma proteção plural que
possui sujeitos indefinidos no momento da produção legislativa, e sujeitos que
somente se tornam definíveis após a aplicação das normas ao caso concreto.
Assim, a primeira constatação que surge do texto constitucional é que toda a
sociedade torna-se sujeito de direitos ou de interesses referentes ao ambiente sadio
e ecologicamente equilibrado.
Perceptível, também, após a leitura do texto é o fato de que o constituinte
admitiu a essencialidade do ambiente para a vida de todos. Ou seja, o bem jurídico
ambiente é de fundamental importância para a vida das pessoas. Se
sistematicamente ele se torna importante para a conceituação do Estado pelo só
fato de estar previsto constitucionalmente, ele também é reconhecido como
essencial para a existência digna do Homem, tomada esta no seu conceito mais
amplo possível.
Esta amplitude subjetiva acarreta a terceira constatação: a de que a
titularidade de interesses e direitos não é apenas dos viventes hoje, mas daqueles
que ainda estão por vir, ou seja, as futuras gerações 3 .
Não apenas os habitantes do planeta possuem interesses jurídicos
decorrentes da norma constitucional que protegeu no ápice do sistema normativo o
ambiente, mas aqueles filhos da esperança que não apenas ainda não nasceram,
como não se sabe ao certo se chegarão a nascer.

3
MILARÉ, Édis. Op. cit., p. 121-122.

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Por mais dificuldade que se possa encontrar desta afirmação constitucional,


claro se demonstra que a amplitude da tutela desconstitui a compreensão privatista
do ambiente, inaugurando uma compreensão difusa de toda a proteção ambiental.
Por quarto e derradeiro, o constituinte afirmou de forma cristalina a
obrigatoriedade da preservação não apenas para o Estado, mas para toda a
sociedade. Criou-se uma obrigação constitucional de natureza pública que impõem
ao Estado condutas de preservação, proibindo-o de, por intermédio do Legislativo,
do Executivo ou do Judiciário praticar ofensas ao ambiente que agridam o núcleo
essencial do direito ou do interesse. E mais ainda, impôs ao Poder Público a
obrigação de praticar atos administrativos que tenham por objetivo preservar o
ambiente.
Desta maneira, a preservação ambiental passa a ser uma função e ao mesmo
tempo uma obrigação do Estado, além de um elemento de constituição do próprio
modelo de Estado Democrático de Direito, realizando-se, também, como direito e um
interesse de todos.

2.3 Necessidade da constitucionalização do ambiente


O ambiente poderia ser protegido apenas por normas de natureza infra-
constitucionais, sem que a constituição necessitasse estabelecer direitos, deveres e
tratar de bens e valores de natureza ambiental.
A par do aspecto simbólico, a necessidade da preservação pode ser
vislumbrada da natural instituição de direito fundamental ao ambiente e da obrigação
fundamental do Estado que decorrem da previsão constitucional.
Além disso, a sua natural característica rigidez, tornando-se normas de difícil
modificação, faz com que a proteção constitucional do ambiente se torne perene,
não se submetendo a modificações realizadas pela maioria legislativa. A solidez
também é justificativa para a constitucionalização da proteção ambiental.

2.4 Ambiente: bem e valor jurídico


O ambiente foi visto, a princípio, como um bem patrimonial. A partir da sua
constitucionalização como um bem autônomo, que se submete a sujeitos em uma
relação de essencialidade e não desde uma relação patrimonial clássica, pode-se
dizer que o ambiente é um bem de todos, não passível de apreensão e de
privatização.

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O ambiente tornou-se um bem jurídico autônomo 4 , desvinculado de seu


aspecto patrimonial, o que implica em dizer que um mesmo objeto ambiental pode
se submeter a propriedade – no sentido do direito civil – e à propriedade – no
sentido dos direitos difusos. Na primeira hipótese trata-se da propriedade enquanto
coisa móvel ou imóvel, e no segundo sentido, propriedade tomada como interesse
na sua preservação.
Esta novel concepção de propriedade pressupõe tomar o ambiente como um
valor jurídico autônomo independentemente de sua caracterização como valor
patrimonial.
A constitucionalização do ambiente elevou o bem jurídico à condição de valor
constitucional considerado de fundamental importância para a geração atual e as
futuras gerações. Isto implica no fato de que o ambiente deixa de ser mero objeto e
passa a ser um valor em si mesmo, razão pela qual a sua preservação deve se dar
mesmo que isto cause ofensas à propriedade.

3 Espécies constitucionais de proteção ao ambiente

A previsão constitucional da preservação do ambiente estabelece duas


espécies de proteção: a proteção através de normas e a proteção através de
políticas públicas 5 .

3.1 Proteção através de normas


É obrigação do Estado legislar respeitando o ambiente. Isto significa que a
sociedade possui não apenas o direito ao ambiente sadio e ecologicamente
equilibrado, mas principalmente o direito a ser disciplinada por leis que protejam o
ambiente.
Ao estabelecer o ambiente como um valor e como um bem jurídico em si
mesmo, a Constituição determina ao legislador que tutele estes bens, impedindo a
elaboração de normas que agridam o ambiente.

4
MONTEIRO STEIGLEDER, Annelise. Responsabilidade civil ambiental – As dimensões do dano ambiental
no direito brasileiro. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2004. p. 96-101).
5
MILARÉ, Édis. Op. cit., p. 69-78.

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3.2 Proteção através de políticas públicas


Ao estabelecer deveres do Estado, condutas que a Administração deve
praticar para ver o ambiente preservado, o constituinte estabeleceu a
obrigatoriedade na realização de políticas públicas, de condutas administrativas que
têm por objetivos a preservação da natureza.
As obrigações impostas através das normas constitucionais obrigam o
administrador não apenas a não poluir, mas também a não deixar que se polua o
ambiente, devendo praticar, assim, condutas impedientes da poluição e políticas de
preservação e de recuperação do ambiente.

4 Os deveres fundamentais de preservar o ambiente

Este quadro de obrigações que o Estado possui com o ambiente também


desborda para um rol de deveres ambientais, que em razão de se tratar de deveres,
cujo objeto é um item fundamental na estruturação do Estado, são chamados de
deveres fundamentais.
Conforme a determinação constitucional é dever do Estado preservar os sítios
arqueológicos e os assim chamados processos arqueológicos fundamentais.
O conhecimento das origens do Homem, da fauna e da flora – contidos nos
sítios arqueológicos devem ser preservados para que se possa conhecer e estudar o
nosso passado, para melhor compreender nosso futuro.
A preservação da integridade e da diversidade do patrimônio genético
também é um dever fundamental. O Estado e a sociedade civil têm a obrigação de
protegê-lo, compreendendo-se por patrimônio genético todas as formas de vida
existentes e acrescidas de todas as suas características originárias e de seus
atributos 6 .
O Brasil é um dos países do mundo que possui maior diversidade biológica.
As suas matas e florestas, seus rios e seu mar é rico em fauna e flora, gerando todo
um conjunto de ecossistemas e espécies que carecem de atenção do Estado e da
sociedade civil.
Os riscos são muitos, vez que a pirataria biológica e o tráfico de espécies de
fauna e flora causam um fluxo intermitente de bens e valores ambientais que saem

6
MILARÉ, Édis. Op. cit., p. 73-78.

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do território brasileiro e vão ser utilizados como patrimônio de empresas em todas as


partes do mundo.
Diversos medicamentos, sabores, bens de consumo e objetos de todos os
tipos são manufaturados a partir de matérias vivas apenas encontradas em solo
brasileiro, e retornam ao Brasil na qualidade de produtos estrangeiros sem que os
bônus decorrentes da propriedade original sejam usufruídos pela população
brasileira.
Mais que isso, espécimes de nossa fauna e de nossa flora são traficados para
o estrangeiro causando danos irreversíveis aos nossos ecossistemas. Os grandes e
ricos mercados da moda são abastecidos por animais das zonas tropicais ao arrepio
de uma atuação administrativa de fiscalização e policial-preventiva que impeça tais
ofensas à natureza.
A constituição estabelece este dever fundamental de toda a sociedade e
principalmente da administração pública de tutelar todo o nosso patrimônio,
impedindo tais abusos.
A chegada das hipóteses de manipulação genética também acarreta a
obrigação fundamental de preservar tal patrimônio, não permitindo que os avanços
da ciência tragam efeitos deletérios para o ambiente.
Também é dever ambiental fundamental do Estado definir espaços territoriais
a serem especialmente protegidos. A natureza carece de locais onde o Homem não
realize seus impactos ambientais, ainda que mínimos, e que são necessários ao
desenvolvimento. Faz-se mister estabelecer espaços onde a fauna e a flora possam
existir e executar seus ciclos de vida sem a interferência do Homem. Espaços
territoriais especialmente protegidos são espaços definidos legalmente aonde a
atuação humana é limitada aos objetivos de preservação das espécies e do lugar.
As unidades de conservação estão previstas no Sisnuc – Sistema Nacional de
Unidades de Conservação – e são locais definidos em lei ou ato administrativo cujo
objetivo é a preservação de seu patrimônio ambiental. As unidades de conservação
estão disciplinadas pela Lei 9.985, de 18.07.2000.
O Estado, através de todas as suas expressões, tem o dever fundamental de
exigir estudo prévio de impacto ambiental para atividades potencialmente poluidoras.
Este dever se estende tanto às atividades do próprio Estado quanto às atividades
dos particulares. Tal dever de exigir se dá no bojo da atividade de licenciamento e
fiscalização de atividades que podem causar danos ao ambiente.

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O impacto ambiental é o dano causado ao ambiente em decorrência às


atividades humanas. Toda atividade é impactante. Não há atividade humana que
não cause nem um dano, ainda que mínimo, ao ambiente. Existem, no entanto,
algumas atividades que podem causar riscos consideráveis ao ambiente, e para
estas há de ser exigido o EIA-RIMA, que significa Estudo de Impacto Ambiental
(EIA), acompanhado de seu Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).
Atividades potencialmente poluidoras são aquelas que – por lei ou resolução
administrativa sejam catalogadas como tais e mereçam um estudo de suas
conseqüências para o ambiente. Este estudo, obviamente, deverá ser prévio à
realização de qualquer ato que esteja inquinado de poluidor.
O EIA/RIMA é um estudo técnico que tem por objetivo esclarecer as
conseqüências que advirão para o ambiente caso os serviços públicos, as atividades
privadas ou as obras sejam realizadas. Para que haja licença, concessão, permissão
ou autorização de obras ou atividades potencialmente impactantes, o estudo deverá
ser realizado. É dever fundamental do Estado exigi-lo.
Outro dever fundamental do Estado é o de controlar a produção e a
comercialização de substâncias que comportem risco ao meio ambiente.
O conceito de risco é de conhecimento do direito ambiental contemporâneo,
porque toda a atividade que envolve prática de tecnologia de ponta ou de produto de
pesquisa científica. Tudo aquilo que possui conseqüências ainda não conhecidas é
produto de risco, uma vez que a incerteza é o elemento fundamental do conceito.
O Estado tem o dever de controlar a produção, a utilização e o comércio de
todas as substâncias que causem risco ao ambiente e à saúde humana.
Há uma graduação inerente ao risco. Alguns produtos possuem riscos tão
elevados que a sua produção e a sua utilização e comércio devem ser proibidos. Já
outros são de tal maneira suportáveis que apenas a sua produção, comércio e
utilização devem ser controlados.
Tal dever ambiental fundamental justifica-se pela obrigação que o Estado
possui de tutelar o ambiente, protegendo-o não apenas das atividades dos próprios
particulares, mas também, e às vezes principalmente, das atividades estatais.
A proteção da fauna e da flora são deveres ambientais fundamentais.
Obviamente é de toda a sociedade a atribuição de proteger e preservar a fauna e a
flora, mas é ao Estado que o constituinte impôs a maior carga de atenção. Isto
porque aos poderes públicos resta a incumbência não apenas de não realizar atos

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que agridam o patrimônio florístico e faunístico, mas também realizar condutas


públicas que impeçam atos atentatórios praticados por particulares.
A fauna e a flora possuem natureza pública. São bens de uso comum do povo
– segundo determinação constitucional – e ainda que alguns espécimes estejam sob
o domínio privado eles possuem um valor que transcende aos limites patrimoniais,
tornando-se, neste sentido, patrimônio público.
Esta obrigação de proteção transcende os limites do Estado e se estabelece
como uma obrigação de toda a coletividade, evidentemente que com condutas e
omissões reguladas em lei.
Como não poderia deixar de ser, a promoção da educação ambiental também
é um dever fundamental do Estado. Qualquer hipótese de construção de uma
sociedade ambientalmente equilibrada, onde os processos de desenvolvimento
respeitem os processos de preservação, apenas vai se tornar realidade se a
educação ambiental cumprir seu papel de formador de consciências. A necessidade
dos processos educativos em matéria ambiental é uma realidade em países como o
Brasil, de vasto patrimônio ambiental e de estreita formação cultural de preservação.
Existem práticas culturais atentatórias ao meio ambiente que ao revés de
serem confrontadas com a preservação, sob o discurso da liberdade de afirmação
cultural deveriam ser trabalhadas tendo-se por objetivo a compatibilização entre a
liberdade de atuar e o ambiente para preservar.
Isto apenas se torna possível se se compreende a educação ambiental como
fruto, ela também, de um processo cultural. Trata-se de educação sem imposição,
mas com discussão acerca de quanto o fundamentalismo cultural pode ser
atentatório à preservação e ao progresso da humanidade. Trata-se de uma
educação construtora de uma realidade emancipatória, de uma sociedade que se
afirme com liberdade.
Muito embora os deveres de preservar o ambiente que estão afirmados
constitucionalmente sejam deveres que – em última análise – são de toda a
sociedade, deve-se observar que são todos eles prioritariamente deveres do Estado.
Mas a sociedade também possui deveres fundamentais em relação ao
ambiente, uma vez que o rol de obrigações constitucionais também é um rol
extremamente genérico.

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A sociedade possui o dever de preservar o ambiente para esta e para as


futuras gerações, garantindo que o patrimônio ambiental que nos é disponível seja
accessível a todos 7 .

5 O direito fundamental ao ambiente 8

Além de estabelecer obrigações que dizem respeito ao Estado e a sociedade


civil, a Constituição Federal também estabelece o direito fundamental ao ambiente
sadio e ecologicamente equilibrado. Ou seja, além de ser dever do Estado e da
sociedade protegê-lo, também é direito do cidadão exigi-lo e buscar sua realização
no judiciário.
Ter um direito significa poder estabelecer uma relação jurídica com outros,
tendo por objeto um bem da vida e colocando-se na posição ativa de quem pode
exigir uma postura de alguém em face de algo que é seu.
Existem vários direitos cujo objeto é o ambiente e que estão estabelecidos
pela legislação infraconstitucional. O que o constituinte determinou foi que, além de
se possuir direitos sobre os elementos do ambiente previstos em outras normas de
grau inferior, há um mínimo de qualidade ambiental que se constitui em um direito
que é fundamental.
Ser considerado direito fundamental significa que ele não pode ser modificado
pela maioria porque se constitui em garantia contra-majoritária. É um direito que faz
parte da idéia nuclear de Estado e de sociedade e preserva valores fundamentais.
O Direito Fundamental ao ambiente é um direito difuso porque seu sujeito não
pode ser individualizado a priori. Todos têm direito ao ambiente sadio e
ecologicamente equilibrado, o que desvincula este direito da noção clássica de
direitos com sujeitos pré-definidos. Por esta razão, trata-se de um direito
Fundamental de 3ª geração que se explica como um direito fundamental como um
todo. A sociedade possui direito a ações do Estado, a omissões do Estado e a ações
e omissões de particulares 9 .

7
MILARÉ, Édis. Op. cit., p. 85-87.
8
PACHECO FIORILLO, Celso Antonio. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva,
2002. p. 15-19.
9
VALERY MIRANDA, Álvaro Luiz. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo:
Editora Juarez de Oliveira, 2002. p. 115.

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Trata-se de um direito amplo que vincula as atuações de todos, e que pode


ser exigido junto ao Judiciário. O direito fundamental ao ambiente possui
vinculatividade e justiciabilidade, pois obriga a todos e fornece a possibilidade de
que se vá aos tribunais em defesa dos direitos.
Como todo direito fundamental ele colide com outros direitos. Tal colisão do
direito ao ambiente se percebe nos casos em que o exercício da propriedade é
deletério ao ambiente. Também pode ser percebido nos casos em que o
desenvolvimento possui um alto preço, que é a degradação ambiental. Há casos em
que a liberdade do homem é limitada porque seu exercício acarreta em degradação
ambiental agressora dos direitos fundamentais de outrem.
Em todos estes casos deverá haver uma compatibilização, garantindo-se a
sobrevivência de todos os direitos fundamentais, preservando-se o núcleo essencial
de cada um deles.
É preciso compatibilizar o direito fundamental ao ambiente com outros direitos
constitucionais. Apenas assim pode-se ter um efetivo Estado de Direito Ambiental
que possa gerar um Estado do Bem Estar Ambiental.

QUESTÕES:

1) QUAL A IMPORTÂNCIA DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO


DO MEIO AMBIENTE COMO UM BEM JURÍDICO PROTEGIDO E
COMO UM VALOR PRESERVADO?
a. A previsão constitucional implica na cristalização da
opção política de todo um povo e dota o sistema jurídico de
uma norma de hierarquia superior com a função de tutelar o
ambiente.
b. A constitucionalização é meramente simbólica uma vez
que a efetividade do direito infra-constitucional é que garante a
preservação dos bens ambientais.
c. Não surte efeitos concretos por que a norma não pode ser
auto-aplicável.
d. Gera o engessamento do universo jurídico não permitindo
às normas que influem no planejamento econômico e social

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gerarem espaços de desenvolvimento quanto agredirem o ambiente


em favor do crescimento sócio-econômico.
2) SÃO DEVERES FUNDAMENTAIS AMBIENTAIS
PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:
a. Preservar os sítios arqueológicos e os assim chamados
processos arqueológicos fundamentais
b. Preservar a integridade e a diversidade do patrimônio
genético
c. Definir espaços territoriais a serem especialmente
protegidos.
d. Todas estão corretas
3) O QUE É DIREITO FUNDAMENTAL AO AMBIENTE
SADIO E ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO?
a. Direito fundamental de todos que tem por conteúdo a
equilibrada relação entre o Homem e o ambiente.
b. Direito de dimensões objetivas e subjetivas, o que
significa que além do direito há a correspondente obrigação.
c. O Direito Fundamental direito difuso porque seu sujeito
não pode ser individualizado a priori.
d. Todas estão corretas.

TEXTO COMPLEMENTAR A CONSTITUIÇÃO DE 1988

A Constituição de 1988 pode muito bem ser denominada “verde”, tal o


destaque (em boa hora) que dá à proteção do meio ambiente.
Na verdade, o Texto Supremo captou com indisputável oportunidade o que
está na alma nacional – a consciência de que é preciso aprender a conviver
harmoniosamente com a natureza -, traduzindo em vários dispositivos o que pode
ser considerado um dos sistemas mais abrangentes e atuais do mundo sobre a
tutela do meio ambiente. A dimensão conferida ao tema não se resume, bem de ver,
aos dispositivos concentrados especialmente no Capítulo VI do Título VIII, dirigido à
Ordem Social, mas alcança também inúmeros outros regramentos insertos ao longo
do texto nos mais diversos Títulos e Capítulos, decorrentes do conteúdo
multidisciplinar da matéria.

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A esse texto – tido como o mais avançado do Planeta em matéria ambiental,


secundado pelas Cartas estaduais e Leis Orgânicas municipais –, vieram somar-se
novos e copiosos diplomas oriundos de todos os níveis do Poder Público e da
hierarquia normativa, voltados à proteção do desfalcado patrimônio natural do país.
Não basta, entretanto, apenas legislar. É fundamental que todas as pessoas e
autoridades responsáveis se lancem ao trabalho de tirar essas regras do limbo da
teoria para a existência efetiva da vida real, pois, na verdade, o maior dos problemas
ambientais é o desrespeito generalizado, impunido ou impunível, à legislação
vigente. É preciso, numa palavra, ultrapassar-se a ineficaz retórica ecológica – tão
inócua quanto aborrecida – por ações concretas em favor do ambiente e da vida. Do
contrário, em breve, nova modalidade de poluição – a “poluição regulamentar”
ocupará o centro de nossas preocupações.

MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. – 2. ed. ampl. – São Paulo: RT, 2001. p.
231-232.

ATIVIDADE:
Tendo em vista que apenas a existência de um arcabouço legal não vai
solucionar os nossos graves problemas ambientais, apresente sugestões para a
efetiva implementação das normas ambientais brasileiras.

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