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Confissão de Pedro

Fagundes Varela

Dos amigos fiéis acompanhado,


Sequioso de paz e de sossego
Para as santas doutrinas explicar-lhes,
Busca Jesus os lúcidos retiros
De Cesareia de Filipe. O tempo
Corre veloz, e o prazo necessário
De seus dias na terra se restringe.
Uma tarde, ao sol posto, refletindo
Sobre a cegueira e a perversão dos homens,
Volta-se aos companheiros e interroga:
- O que se diz de mim por essas vilas
E por essas cidades? O que pensa
E fala o pobre povo a meu respeito?
O que julgam aqueles que me cercam,
E pedem meu auxílio, e atentos ouvem
Da Nova Lei as máximas fecundas? –
- Dizem uns que és Elias, lhe respondem.
Outros que és o Batista, outros ainda
Que és Jeremias, mas ninguém duvida
Que tu sejas do Eterno um mensageiro.
- E tu, quem dizes que sou eu? – pergunta
A Pedro o Galileu – Tu és o Cristo,
O Filho de Deus vivos, - lhe responde
O velho pescador no mesmo instante.
- Oh! Bem-aventurado és tu, pois creste
Não no que o sangue revelou e a carne,
Senão meu Pai que está no céu, - exclama
Comovido Jesus; - e pois, te digo
Que tu és Pedro e que serás a pedra
Sobre a qual fundarei a minha Igreja,
E nunca poderão do inferno as portas
Prevalecer contra ela! – Ouve, não tremas.
Do eterno Reino te darei as chaves,
E tudo o que ligares sobre a terra
Será no céu ligado, e tudo aquilo
Que sobre a terra desligado houveres,
Desligado será no céu. – Por ora
Cumpre sobre o que ouvis guardar silêncio:
Os dias do martírio se aproximam,
Vai rebentar o temporal da ira
Sobre o Filho do Homem! Perseguido,
Preso, julgado, condenado à morte,
Aos verdugos entregue, o extremo alento
Soltará nas angústias do suplício!
Mas, ao terceiro dia triunfante,
Quebrando a dura lousa do sepulcro,
Ressurgirá dos mortos. Necessário
É que a vontade eterna se execute.

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