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Os Auditores-Fiscais do Trabalho
no enfrentamento da Covid-19

Carlos Silva
Auditor-Fiscal do Trabalho
e presidente do SINAIT

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1. A pandemia provocada pelo Novo Coronavírus, desde quando

assim foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde - OMS,
em 11 de março de 2020, já dava sinais que para além de
provocar uma crise sanitária, alcançaria a grande maioria dos
países e continentes com potencial de provocar danos e impactos
econômicos e sociais, que somente as grandes guerras puderam
apresentar ao mundo. Seus efeitos nefastos sobre os
trabalhadores e trabalhadoras, por meio do avanço das infecções
nos ambientes laborais, eram previsíveis, bem como as medidas
necessárias para se minorar a intensidade dessa devastação.
Além disso, para diminuir, no tempo, o número de pessoas
trabalhadoras contaminadas, assim como a duração da fase
crescente de novos contágios e o número de mortes.

2. O Brasil chegou a 18.859 mortes confirmadas, causadas pela

Covid-19. Registrou 291.579 ocorrências da doença, segundo
dados do Ministério da Saúde atualizados até às 19h de
20/05/2020. Já é o terceiro país do mundo em número de casos
confirmados de Covid-19, ficando atrás apenas dos Estados

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Unidos e da Rússia. O mundo registrou, no mesmo recorte

temporal, mais de 5 milhões de casos e 328 mil mortes.

3. Entre as medidas de proteção clássicas contra para evitar a

contaminação pela Covid-19, temos: lavar as mãos com
frequência; não botar a mão na boca, no nariz ou nos olhos; usar
a “etiqueta respiratória” na hora que tossir ou espirrar; evitar
aglomerações; usar máscara; manter hábitos saudáveis para
fortalecer a imunidade, ou seja, dormir a quantidade de horas
certas para a sua idade, alimentar-se bem, manter-se hidratado,
fazer exercícios físicos regularmente e tentar reduzir o estresse.
Isso tudo não é suficiente quando tratamos dos ambientes de
trabalho, dos variados setores econômicos em atividade no país,
considerando suas rotinas e processos de trabalho.

4. Há uma evidente necessidade de reorganização da forma de

realização das atividades nas variadas empresas, que tem trazido
consequências para todos: trabalhadores, empregadores,
governo e para a sociedade de modo geral. É essa a missão de
todos os profissionais prevencionistas, que atuam no âmbito da

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segurança e saúde do trabalhador. As mudanças exigidas pela

pandemia, com alto custo para toda a humanidade, certamente
deixarão um legado de transformações que nos afastarão do
mundo que se conhecia antes.

5. Os Auditores-Fiscais do Trabalho - AFT fiscalizam se as empresas

estão cumprindo as determinações pelos órgãos técnicos
responsáveis por emitir diretrizes de prevenção e combate à
Covid-19. Atualmente os AFT estão vinculados à Subsecretaria de
Inspeção do Trabalho – SIT, do Ministério da Economia. Com um
quadro exígiuo de 2.100 AFT, tem se desdobrado para enfrentar
as demandas do Estado no curso da pandemia da Covid-19, não
deixando de atuar no sentido de conferir dignidade a todos os
trabalhadores e trabalhadoras por todas as demais frentes, como
a do combate ao trabalho escravo e infantil, por exemplo.

6. As Superintendências Regionais do Trabalho, órgãos regionais do

equivocadamente extinto Ministério do Trabalho, presentes em
todas as capitais brasileiras, encontram-se fechadas, e assim
precisam continuar. Todos os seus serviços estão sendo

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prestados através da internet. A Fiscalização do Trabalho tem

sido realizada por todos os meios possíveis e conforme previsões
legais e regulamentares, também fazendo uso de “novas
tecnologias” como plataformas digitais para realização de
inspeções físicas à distância, mas não apenas. Muitas
fiscalizações com inspeções físicas realizadas nos locais de
trabalho têm sido realizadas, gerando inclusive interdições de
estabelecimentos como frigoríficos e supermercados.

7. Nas recentes fiscalizações tem sido observadas irregularidades

de toda ordem: inexistência de vigilância epidemiológica ativa e
passiva; não afastamento de todos os casos suspeitos e seus
contactantes; desrespeito quanto ao distanciamento entre
trabalhadores dentro dos ambientes laborais; aglomerações em
refeitórios, vestiários, banheiros e áreas de lazer; descontrole de
aglomeração nos momentos de chegada e saída de
trabalhadores, especialmente no trabalho por turnos;
descontrole de proteções nos ambientes dos ônibus e outros
veículos automotores fornecidos pela empresa; inexistência de
controle de temperatura corporal (medições de superfície e

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corporal); inexistência de mecanismos de orientação para os

trabalhadores; logística precária de reposição de EPI; reuso e uso
inadequado de EPI; inexistência de eventual necessidade de
adequação do sistema de ventilação dos estabelecimentos; não
remanejamento de empregados do grupo de risco para locais
onde haja contato direto com outros empregados ou
clientes...entre outros.

8. Os Auditores-Fiscais do Trabalho desempenham um papel

fundamental nesse cenário, exigindo das empresas as medidas
técnico-legais associadas e adicionadas às anteriormente
vigentes, exigíveis por meio do cumprimento das Normas
Regulamentadoras de SST. Para o enfrentamento específico da
Covid-19 nos ambientes laborais, a Subsecretaria de Inspeção do
Trabalho - SIT, do antigo ministério do Trabalho têm produzido
diversas orientações técnicas, gerais e específicas a
determinados setores, de cumprimento obrigatório pelas
empresas. Todas as publicações podem ser consultadas no Portal
da Escola Nacional da Inspeção do Trabalho - Enit, onde serão
acessados o inteiro teor das orientações gerais e setoriais

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relacionadas à covid-19: https://enit.trabalho.gov.br/covid-19-

coronavirus.

7.1 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores

em razão da pandemia da covid-19 (27/03/2020);
7.2 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores
do Setor de Construção Civil (14/04/2020);
7.3 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores
do setor de Farmácias e Drogarias (13/04/2020);
7.4 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores
do Setor de Frigoríficos (31/03/2020);
7.5 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores
do Setor de Postos Revendedores de Combustíveis
(09/04/2020);
7.6 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores
do Setor Rural (05/05/2020);
7.7 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores
nos Serviços de Saúde (30/04/2020);
7.8 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores
do Setor de Supermercados (20/04/2020);

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7.9 Orientações Gerais aos trabalhadores e empregadores

do Setor de Telesserviços (31/03/2020);
7.10 Orientações em relação ao Trabalho Doméstico;
7.11 Utilização de máscaras PFF1 em razão da pandemia da
covid-19. Comunicado de 04/05/2020, revisado em
11/05/2020.

9. A Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia

disponibilizou uma plataforma para denúncias trabalhistas. Para
utilizá-lo, o trabalhador precisa realizar um cadastro no portal
Gov.br. Absurdamente, a denúncia não pode ser feita de forma
anônima, mas o governo afirma que os dados são sigilosos e não
serão divulgados, e ainda diz que o tempo para concluir uma
denúncia é de aproximadamente 15 minutos. O canal pode ser
acessado por meio do link https://denuncia.sit.trabalho.gov.br/

10. Os AFT existem, para entre outras atribuições, transformar em

realidade, na vida das pessoas trabalhadoras, o comando
constitucional brasileiro que prevê como direito fundamental a
garantia de um ambiente de trabalho livre de riscos de acidentes

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e doenças. A Fiscalização do Trabalho é uma atividade essencial

para o Estado, hoje e sempre. Essa prerrogativa foi confirmada
por meio do decreto do Presidente da República, publicado no
dia 26 de março de 2020, o Decreto 10.292, de 25 de março de
2020, o qual prevê expressamente que a Fiscalização do Trabalho
é atividade essencial durante o período de calamidade pública
por Covid-19.

11. Para isso, os AFT são autoridades trabalhistas, reconhecidas

legalmente nos termos da Lei 10.593/2002, em seu artigo 11 e
parágrafos “§ 2o Os ocupantes do cargo de Auditor-Fiscal do
Trabalho, no exercício das atribuições previstas neste artigo,
são autoridades trabalhistas” , com atribuição de fiscalizar e
exigir o cumprimento das Normas Regulamentadoras de
Segurança e Saúde do Trabalho - SST vigentes, assegurando
melhores condições de trabalho, por meio da minoração dos
riscos ocupacionais presentes nos mais diversos ambientes
laborais.

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12. Todo o arcabouço normativo trabalhista vigente no Brasil, que

se propõe a prevenir o acometimento de doenças nos locais de
trabalho, estão sendo desafiados pela Covid-19. A prevenção de
contaminação por agentes biológicos, como se caracteriza o
Novo Coronavírus, dentre os riscos ambientais conhecidos,
sempre foi objeto da atenção dos profissionais prevencionistas
de SST, seja por meio da observação dos preceitos da Norma
Regulamentadora - NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em
Serviços de Saúde, incluindo as previsões da NR 15 - Atividades
e Operações Insalubres, seja por meio de medias gerais de
Gerenciamento de Riscos Ocupacionais.

13. A natureza de maior complexidade trazida pelo alto potencial

de contágio do Novo Coronavírus pôs, associado a
comportamentos de indisciplina no cumprimento de medidas de
gerenciamento de riscos, inclusive pelos estabelecimentos que já
lidavam com riscos biológicos, todos em xeque, a despeito de
haver por aqueles Programas de Gestão de Riscos Biológicos já
implantados com medidas para o enfrentamento desses agentes.

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Mesmo para esses estabelecimentos, o cenário é repleto de

dificuldades e muito sofrimento.

14. A Auditoria Fiscal do Trabalho atua para que se implantem as

necessárias medidas preventivas, sejam elas administrativas,
organizacionais, coletivas e/ou individuais; inafastáveis para se
fazer cumprir o que a Constituição Cidadã brasileira assegura a
todos: trabalho livre de doenças e acidentes. Se, de uma hora
para outra, todos os ambientes de trabalho passam a precisar
enfrentar um agente biológico, que chegou com força em
praticamente todos os setores econômicos do país - construção
civil, padarias, marcenarias, supermercados, entre outros, e no
maior grau de complexidade para seu controle, é de se imaginar
e esperar o quão grave e complexo é e será para que todos
adotem as medidas de prevenção e de assistência aos
trabalhadores.

15. A despeito das dificuldades, todas as medidas de prevenção

devem ser implantada, a fim de assegurar a todos a proteção
constitucional, legal e regulamentar que possuem os

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trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Ao governo federal

caberá cumprir seu papel de representação do Estado brasileiro
na adoção de politicas públicas de apoio à população de
trabalhadores, empregadores, e de todos os cidadãos. Mais
agora do que nunca.

16. Além de contar com uma atuação institucional, por meio da

Subsecretaria de Inspeção do Trabalho, os Auditores-Fiscais do
Trabalho atuam fortemente por meio de sua entidade de
representação nacional, em regionais - o Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais do Trabalho - SINAIT. Para os esforços
necessários ao enfrentamento da pandemia, o SINAIT constituiu
uma Comissão Técnica Covid-19/SINAIT, com o propósito de
apontar caminhos e alternativas para oferecer proteção a todos
os trabalhadores e trabalhadoras, bem como para apoiar a
sociedade em geral no esclarecimento de seus direitos e
caminhos para exigência desses direitos. As orientações e
direcionamentos que partem do SINAIT, tem considerado a
máxima “#fiqueEmCasa”, tendo em vista a indiscutível
manifestação da Organização Mundial de Saúde - OMS sobre a

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necessidade de aprendermos a conviver com o Novo

Coronavírus, adotando medidas mais rígidas de proteção, até o
surgimento de fármacos e vacinas com resultados positivos
comprovados cientificamente.

17. O SINAIT e a Comissão Técnica – Covid-19/SINAIT lançaram,

no dia 28 de abril, Dia Mundial em Memória das Vítimas de
Acidentes e Doenças do Trabalho, a publicação “Trabalho e
Covid-19”, organizada por integrantes do colegiado e que contou
com a colaboração de Auditores-Fiscais do Trabalho. A obra
reúne uma síntese das leis trabalhistas editadas pelas Medidas
Provisórias – MPs 927 e 936, ambas de 2020, portarias e ofícios
da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho – SIT, entre outros
expedientes legais. Além disso, estudos internacionais de
instituições e organismos sobre os desdobramentos da pandemia
do novo coronavírus para o mundo do trabalho. O conteúdo foi
formatado em perguntas e respostas, com indicação da fonte
legal a cada tópico e links para os diversos documentos citados.
Denuncias, sugestões, comentários e reflexões podem ser
dirigidos à Comissão por meio do e-mail covid19@sinait.org.br.

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18. A Comissão Técnica – Covid-19/SINAIT providenciou a

tradução de mais uma publicação internacional, com orientações
de segurança e saúde do trabalho no setor da construção civil. O
“Guia de recomendações de segurança e saúde para a
continuidade das atividades de construção durante a epidemia
de coronavírus Covid-19” foi elaborado pelo Organisme
Professionnel de Prévention du Bâtiment et des Travaux Publics –
OPP BTP, a Agência Profissional Francesa de Prevenção de Riscos
em Construção Civil e Obras Públicas. O documento lista as
medidas urgentes e específicas a serem tomadas para garantir as
condições sanitárias necessárias à proteção de trabalhadores da
construção civil e de obras públicas, convocados para trabalhar
em escritórios, oficinas, depósitos ou canteiros de obras e outros
locais. Abrange ainda qualquer medida de saúde promulgada
pelas autoridades públicas que aprovaram esse guia específico. A
publicação tem o aval de diversos órgãos franceses, como o
Ministério de Transição Ecológica e Solidária; o Ministério de
Urbanização e Habitação; o Ministério das Relações Sociais e da
Saúde, e o Ministério do Trabalho. Além dessa tradução, outras

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de grande relevância foram providenciadas e se encontram à

disposição no site do SINAIT - www.sinait.org.br.

19. Os canais de comunicação com a Comissão Técnica – Covid-

19/SINAIT são:
a. WhatsApp: (61) 99308-7005;
b. E-mail: covid19@sinait.org.br;
c. Formulário eletrônico de denúncia:
https://sinait.org.br/site/contato-covid

20. O SINAIT defende um isolamento social radical para as

atividades não essenciais, sustentado na convicção dos
organismos técnicos nacionais e internacionais da necessidade
de contenção de uma explosão catastrófica do número de
contaminados e mortos.

21. Os Auditores-Fiscais do Trabalho realizaram mais de 1,1 milhão

de fiscalizações de prevenção de acidentes e doenças no trabalho
no período de 2008 a 2019. Nesse mesmo período, investigaram
quase 23 mil acidentes de trabalho. Atividades que se

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desempenharam sem relaxamento do dever de autuação quando

constatada a irregularidade, conforme a literalidade do artigo
628 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, “Salvo o disposto
nos arts. 627 e 627-A, a toda verificação em que o Auditor-Fiscal
do Trabalho concluir pela existência de violação de preceito
legal deve corresponder, sob pena de responsabilidade
administrativa, a lavratura de auto de infração”.

22. Fiscalização sem Fiscais não existe. De igual forma, fiscalização

sem possibilidade de sanção, também não existe. Assim pode-se
entender de grande relevância a decisão recente do Supremo
Tribunal Federal - STF, quando, por maioria, decidiu negar
referendo ao indeferimento da medida cautelar tão somente em
relação aos artigos 29 e 31 da Medida Provisória 927/2020 e, nos
termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para
o acórdão, suspendeu a eficácia desses artigos. A decisão foi do
Plenário do STF, em sessão virtual realizada inteiramente por
videoconferência em 29 de abril de 2020, nos termos da
Resolução 672/2020/STF.

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23. O já derrubado artigo 31 da Medida Provisória 9027/2020, de

22 de março de 2020, poderia ser compreendido como uma
significava e verdadeira guinada prejudicial na Política de
Inspeção do Trabalho no Brasil, que tentou transformá-la num
serviço público apenas de orientação aos empresários,
resultando num evidente fomento ao descumprimento das
obrigações legais no âmbito trabalhista.

24. Desde o princípio, o SINAIT atuou no sentido de reverter tal

retrocesso; primeiro no debate legislativo, quando na Comissão
Mista instalada pelo Congresso para apreciar e deliberar sobre o
seu texto, apresentou emendas para que o texto do artigo 31
fosse retirado por completo do que seria aprovado pela
Comissão, da mesma forma que o fez em relação ao artigo 29.
Segundo, quando foi admitido como “amigo da corte” na ADI
6342/2020, que discutia as inconstitucionalidades da MP
927/2020, bem como na ADI 6363/2020, que fazia o mesmo em
relação à MP 936/2020, de 1 de abril de 2020. O resultado do
julgamento da ADI 6342/2020 acabou, assim, afastando a eficácia
dos artigos 29 e 31 da MP 927/2020.

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25. Os AFT não deixaram de autuar os empresários

descumpridores da legislação trabalhista, especialmente aquelas
relacionadas aos aspectos de SST. A queda do artigo 31 da MP
927/2020 só torna mais evidente o equívoco de se tentar praticar
uma espécie de “vale tudo” em uma clara conduta de
aproveitamento da vulnerabilidade da coletividade diante das
várias crises geradas pela pandemia.

26. O Sistema Federal de Inspeção do Trabalho, que se constituiu

no Brasil a partir de 17 de janeiro de 1891, observa os comandos
organizacionais e estruturais estabelecidos pela Convenção 81 -
Inspeção do Trabalho - da Organização Internacional do Trabalho
- OIT, ratificada pelo Brasil, que, entre outras disposições,
assegura no seu artigo 18 “Sanções apropriadas por violação dos
dispositivos legais, cuja aplicação está submetida ao controle
dos inspetores de trabalho e por obstrução feita aos inspetores
de trabalho no exercício de suas funções, serão previstas pela
legislação nacional e efetivamente aplicadas”.

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27. Além disso, o artigo 31 da referida Medida Provisória

representava uma escancarada interferência política externa na
Inspeção do Trabalho, ferindo outro dispositivo da Convenção 81
da OIT, o artigo 6 “O pessoal da inspeção será composto de
funcionários públicos cujo estatuto e condições de serviço lhes
assegurem a estabilidade nos seus empregos e os tornem
independentes de qualquer mudança de governo ou de
qualquer influência externa indevida”.

28. Assim, as atividades dos Auditores-Fiscais do Trabalho seguem

sua rotina de autuação apropriada, havendo, por enquanto,
apenas a devida suspensão de prazos processuais para
seguimento nos ritos ordinários do processo de imposição de
multas em razão da lavratura de autos de infração pelos AFT.
Interdições e embargos, notificações para regularização,
notificações recomendatórias seguem sendo realizadas pelos
AFT em todo o país, logicamente também sujeitos, os
procedimentos, aos devidos ajustes em razão das condições,
inclusive pessoais, dos Auditores-Fiscais do Trabalho.

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29. A Fiscalização do Trabalho realizada com foco na verificação do

cumprimento das Normas Regulamentadoras de SST tem
particularidades especiais associadas à modalidade de rotina
utilizada para situações de normalidade, qual seja, a fiscalização
direta dirigida, que é aquela que se desenvolve com a verificação
dos ambientes de trabalho nos estabelecimentos onde laboram
os trabalhadores e trabalhadoras de todos os ramos de
atividades existentes no país. Assim, de maneira lógica, seguindo
as práticas pensadas para um período de normalidade, quão
menor for o quadro de AFT em atividade, menor será o número
de fiscalizações realizadas. E num cenário atípico, esse quadro
tende a se agravar.

30. A atividade da Fiscalização do Trabalho tem suas diretrizes

procedimentais estabelecidas, em grande parte, pelos comandos
da Portaria 643, de 11 de maio de 2016, que traz, dentre tantos
outros dispositivos, as modalidades previstas para a realização
das ações fiscais. Obviamente, seu texto tem por base períodos
de normalidade, nada assemelhado ao de uma pandemia que
desafia o planeta, alcançando o novo e o velho mundo.

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31. É inegável que o trabalho de autoridades responsáveis pela

execução de atividades essenciais, como os Auditores-Fiscais do
Trabalho, pode valer-se de instrumentos contemporâneos e já
aprovados, inclusive e notadamente, para o funcionamento de
órgãos de importância e essencialidade inquestionáveis: o
Senado Federal, a Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional,
o Supremo Tribunal Federal, os Conselhos Nacionais do
Ministério Público e de Justiça, as Assembleias Legislativas nos
estados, bem como Câmaras Municipais de Vereadores, dentre
outros. São exemplos concretos da viabilidade de alternativas
virtuais/à distância para que a Fiscalização do Trabalho prossiga
o seu trabalho, destacando que é a Inspeção do Trabalho
responsável por exigir das empresas medidas de proteção
assemelhadas a essas para seus trabalhadores.

32. Ademais, como já exposto anteriormente, os Auditores-Fiscais

do Trabalho realizaram mais de 1,1 milhão de fiscalizações de
prevenção de acidentes e doenças no trabalho no período de
2008 a 2019. Nesse mesmo período, investigaram quase 23 mil

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acidentes de trabalho. Período sem pandemia, onde os

procedimentos regulamentados, poderiam ser aplicados sem
ajustes. Agora não! É preciso também conferir segurança
também aos AFT, a fim de que desempenhem suas atividades de
forma segura. Por essa razão o SINAIT tem exigido da SIT o
acréscimo de uma nova modalidade de fiscalização: a fiscalização
direta, à distância.

33. Atualmente o Brasil conta com um quadro de 2.100 AFT em

atividade, que se encontram distribuídos pelas 27 Unidades da
Federação, incluindo a sede do Ministério da Economia, em
Brasília/DF. No ordenamento jurídico vigente, existe permissão
legal para a formação de um quadro com 3.644 AFT. Essa
realidade impõe um déficit atual de 1.544 cargos de Auditor-
Fiscal do Trabalho, constituindo o maior dos últimos 25 anos! As
vagas existem, mas o governo federal insiste em não preenchê-
las, em não realizar concurso público.

34. Em média, todos os anos, aposentam-se 130 Auditores-Fiscais

do Trabalho. Em Julho de 2012, num estudo amplo e rigoroso, o

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Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - IPEA publicou a

Nota Técnica n 4, chegando à conclusão que o Brasil de hoje,
contemporâneo, necessita de um quadro de 8.000 Auditores-
Fiscais do Trabalho, distante dos atuais 2.100. Tal conclusão está
associada aos compromissos do Estado brasileiro de erradicação
do trabalho escravo e infantil, de combater a informalidade e,
especialmente, debelar os milhares de acidentes e doenças do
trabalho registrados anualmente pelo INSS, ampliados
sobremaneira com os efeitos da pandemia.

35. A necessidade de maior número de Auditores-Fiscais do

Trabalho aumenta na medida em que a legislação trabalhista e
de Segurança e Saúde do Trabalho são flexibilizadas, bem como
na medida em que os ambientes de trabalho escancaram suas
fragilidades. Desde a reforma trabalhista de 2017, o Brasil só
aumentou o número de mudanças legislativas que têm levado a
uma maior precarização e vulnerabilidade dos trabalhadores.
Esse é o pior cenário, o da desregulamentação do trabalho, onde
a atuação e maior número de Auditores-Fiscais do Trabalho
tornam-se mais do que necessários, essenciais, para conferir

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dignidade a todos os cidadãos. É o que agora o Brasil e todos os

trabalhadores sentem na pele: as instituições de representação
do Estado brasileiro que se dedicam a exigir o cumprimento de
obrigações ligadas à Saúde e Segurança dos trabalhadores e
trabalhadoras deveriam estar mais fortalecidas. Não estão por
decisões políticas equivocadas e inclinadas ao desprezo dos
cidadãos que dependem exclusivamente do trabalho para
sobreviver.

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