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A sociedade Brasileira de Pediatria, coloca acima ou igual a 34 semanas, pois nessa idade
gestacional, o RN já apresenta pneumócitos do tipo II, células responsáveis pela produção de
líquido surfactante. Dessa forma, a reanimação neonatal para RN de 34 a 37 semanas é a
mesma do que para RN acima de 37 semanas. Relembrando que RN é de 0 a 28 dias de vida.
INTRODUÇÃO
As três principais causas, das 2,9 milhões de mortes neonatais a cada ano no mundo, são as
complicações da prematuridade (1,0 milhão), eventos relacionados ao parto (0,7 milhão) e
infecções (0,6 milhão). Assim, sabe-se que cerca de 3 milhões de RN morrem no mundo a cada
um ano, sendo que 0,7 milhão está associado a eventos relacionados ao parto, isto é, uma má
assistência na sala de parto, que são completamente modificáveis. O médico na sala de parto
não tem que ser necessariamente um pediatra, por isso é imprescindível que todo o médico
saiba os passos da reanimação neonatal.
A mortalidade neonatal precoce associada à asfixia perinatal (ou seja aquele bebê que não
recebeu o suprimento adequado de oxigênio) em recém-nascidos de baixo risco, ou seja, com
peso ao nascer ≥2500g e sem malformações congênitas, é elevada em nosso meio. E isso se
deve, principalmente, à falta de treinamento dos médicos nas condutas de reanimação
neonatal. Por isso, o progresso na sobrevida neonatal deve incluir a qualificação do
atendimento ao recém-nascido.
Ao nascimento:
1:10 RN necessita de ajuda para iniciar a respiração efetiva (transição da vida intra
para extrauterina); Isso significa que a cada 10 salas de parto, o pediatra, ou qualquer
outro profissional da saúde capacitado, só é necessário para auxiliar uma única criança
nessa transição.
1:100 precisa de Intubação orotraqueal (IOT); Dos 1 para cada 10 RN que necessitam
de ajuda para iniciar respiração efetiva, 1 em cada 100 irá necessitar de intubação
orotraqueal.
1-2:1.000 requer IOT acompanhada de massagem cardíaca e/ou medicações, desde
que a ventilação seja aplicada adequadamente. Assim, é raro uma sala de parto com
intubação e mais raro ainda uma sala que necessite realizar a massagem cardíaca.
OBS: A criança e, principalmente, o bebê não param devido a uma causa cardíaca (diferente
dos adultos), somente quando esta criança já possuir uma cardiopatia congênita. Em geral,
eles param por hipóxia, por isso ao longo do processo da reanimação neonatal, o primeiro
passo deve ser conseguir a via aérea e depois realizar a massagem cardíaca.
Quando entramos na sala de parto conseguimos saber se há um risco maior ou menor, devido
a alguns fatores de risco que chamam atenção.
Idade materna e idade gestacional -> Sabe-se que os principais fatores são idade materna
menor que 16 anos e idade gestacional menor que 34 ou acima de 41 semanas, pois nós
sabemos que o parto ideal é aquele que ocorre com 40 semanas. Assim, os partos mesmo
sendo a termo, menor que 39 semanas e acima de 41 semanas já devem ser tratados com
maior cautela.
Discrepância da idade gestacional e peso -> Os RN PIG e GIG requerem atenção, pois atrás
dessas condições existem diversos fatores de risco associados, por exemplo, o PIG pode ter
apresentado um crescimento intrauterino restrito, má circulação placentária, tabagismo,
infecções maternas no período pré-natal. O RN GIG pode ser filho de mãe diabética.
Parto cesáreo -> O parto cesáreo por si só constitui um fator de risco, principalmente,
considera-se o parto cesáreo eletivo, é aquele que a mãe nem entra em trabalho de parto. O
trabalho de parto é uma etapa importante, pois ocorre a contração uterina, que seria uma
forma de “acordar o bebê e mostrar para ele que precisa respirar sozinho”, dessa forma o
bebê começa a participar ativamente do parto. Com isso, no parto cesáreo a criança pode
demorar mais para respirar e necessitar de uma reanimação.
Parto prematuro -> O parto prematuro pode apresentar possíveis complicações que o RN a
termo não apresentaria.
OBS: TODAS as salas de parto necessitam ter o preparo do material necessário para a
reanimação neonatal.
O PREPARO
Quando o pediatra chega no plantão a primeira coisa que deve fazer é a anamnese materna.
Precauções-padrão:
Então a paramentação deve ser aquela como se o profissional fosse participar da cirurgia.
Quando o recém-nascido é extraído da cavidade uterina seja por parto normal ou por parto
cesáreo existem três perguntas que devem ser feitas:
Essas perguntas devem necessariamente existir. De cada 10 bebês que nascem 9 respondem a
essas perguntas. Se o RN apresentar positividade em todas essas perguntas deve-se fazer o
clampeamento tardio do cordão umbilical, mais de 1 minuto de vida. E esse RN deve ser
colocado pele a pele com a mãe.
Essa conduta é realizada, pois existem pesquisas que demonstram a proteção de uma anemia
carencial futura do RN, pelo clampeamento tardio do cordão. Por volta dos 2 anos de vida,
25% das crianças apresentam anemia ferropriva, assim essa conduta previne a anemia
carencial em períodos posteriores da vida da criança.
Deve continuar junto de sua mãe depois do clampeamento do cordão (“pele a pele”).
Colocar o bebê junto a mãe é importante para fornecer calor, além disso apresenta
uma temperatura presente no período intrauterino – o RN já conhece; além disso,
reconhece o cheiro que sentiu durante todo o período intrauterino, que é o cheiro da
mãe; além de escutar o som do coração da mãe, que é o único som que escutou
durante toda a vida intrautero. Isso torna o nascimento do bebê muito mais
humanizado, seria então o fornecimento de um conforto para o RN após passar por
um período de trauma, que é o nascimento. TORNA A PASSAGEM DA VIDA UTERINA
PARA EXTRA-UTERINA MAIS CONFORTÁVEL
Na sala de parto, enquanto o RN está junto à mãe, prover calor (pode colocar as
compressas e campos aquecidas), manter as vias aéreas pérvias (se tiver necessidade
realiza a aspiração) e avaliar a sua vitalidade de maneira continuada.
Secar o bebê colocar as compressas e campos aquecidos deixar o RN junto a
mãe.
Para manter a normotermia (Tax 36,5-37,5ºC), garantir a temperatura ambiente na
sala de parto entre 23-26ºC (inclusive é importante ter um termômetro em toda sala
de parto), secar o corpo e o segmento cefálico com compressas aquecidas e deixar o
RN em contato “pele a pele” com a mãe, coberto com tecido de algodão seco e
aquecido.
o O RN perde muito calor pela cabeça, a superfície corporal de cabeça
representa cerca de 30% da superfície corporal total do RN. A cabeça é
completamente desproporcional ao restante do corpo. Principal forma de
perda de calor.
Para manter as vias aéreas pérvias, atenção à flexão ou hiperextensão do pescoço e ao
excesso de secreções na boca e nariz.
o O RN apresenta uma hipotonia axial, assim quando está em flexão ou
hiperextensão do pescoço, ele não consegue mover a cabeça para deixar a via
aérea pérvia.
Avaliar a frequência cardíaca (FC) com o estetoscópio no precórdio, o tônus muscular e
a respiração/choro.
Depois, de maneira continuada, observar a atividade, o tônus muscular e a
respiração/choro do RN. Intervindo minimamente no contato do bebê com a mãe.
Se a resposta para qualquer uma dessas perguntas for NÃO CLAMPEAMENTO IMEDIATO
DO CORDÃO UMBILICAL INICIAR O PASSO A PASSO PARA A REANIMAÇÃO NEONATAL.
OBS: O boletim de Apgar, determinado no 1º e 5º minutos, mas NÃO é utilizado para indicar
procedimentos na reanimação neonatal. Já que, até chegar na avaliação do RN, passou-se
somente 30 segundos. Assim, o RN pode no primeiro minuto ainda apresentar 10 de apgar.
Se o Apgar é <7 no 5º minuto, recomenda-se realizá-lo de 5/5 minutos, até 20 minutos de vida.
Nesse processo, o apgar começa a ser utilizado para detectar o prognóstico.
Antes de 2016, a presença de líquido amniótico meconial era um indicativo de reanimação
neonatal, juntamente com as perguntas do bebê a termo, respirando ou chorando, presença
de tônus muscular. Com isso, antigamente, no RN com líquido amniótico meconial, era feita a
clampagem imediata do cordão umbilical, levado para o berço de calor radiante, e
laringoscopado para a aspiração da via aérea (não podia nem secar o RN). Contudo,
atualmente o líquido amniótico meconial é um fator de risco, considerando que indica um
sofrimento fetal, pois não é normal o RN defecar na vida intrauterina. Essa medida foi feita
pelo criador do NAUS, pois no caso de líquido amniótico meconial, era necessário realizar a
intubação para posterior aspiração das vias aéreas. Assim, é essencial a presença do médico
apto a realizar a intubação traqueal, presente no momento do nascimento. Mas, os médicos
não aptos estavam demorando muito para intubação e estava ocorrendo um aumento da
mortalidade neonatal. Por isso, atualmente se o RN nasce chorando ou respirando, com tônus
muscular adequado e é a termo, mesmo com líquido amniótico meconial, ele não é indicado
para a reanimação neonatal. E com isso deve-se realizar o clampeamento tardio do cordão
umbilical e levar para o “pele a pele” com a mãe, mesmo recoberto por fezes.
Contudo, se houver suspeita de obstrução de via aérea superior por rolha meconial, se o RN é
pré-termo ou pós-termo, não está respirando ou chorando e/ou não apresenta tônus muscular
em flexão clampagem imediata de cordão e passos iniciais da reanimação!
Se indicação de reanimação:
Aspiração traqueal: feita através da cânula traqueal conectada a um dispositivo para aspiração
de mecônio e ao aspirador a vácuo. Nessa situação, aspirar o excesso de mecônio uma única
vez.
“Minuto de Ouro”. 99% dos bebês respondem a isso, sem haver necessidade de
intubação ou massagem cardíaca.
A ventilação pulmonar é o procedimento mais importante e efetivo na reanimação do
RN em sala de parto!
FC: melhor parâmetro para avaliar efetividade da VPP (que pode ser monitorada pelos
três métodos, citados). Se o RN tem uma via aérea bem estabelecida, ele vai melhorar
a FC.
Uma vez iniciada, recomenda-se o uso da oximetria de pulso (sensor neonatal no MSD, na
região do pulso radial – SatO2 pré-ductal); e monitorização cardíaca (fixar um eletrodo em
cada braço próximo ao ombro e o terceiro eletrodo na face anterior da coxa ). Como o RN
acabou de nascer, com isso a troca gasosa não é totalmente efetiva, por isso não se
espera que ele consiga saturar 100% até o 10º minuto.
→ Deixar sempre à disposição uma cânula de diâmetro superior e outra inferior àquela
escolhida!
Regra prática: “peso estimado (Kg) + 6”. O problema é que os berços de calor radiante
americanos, apresentam balança e com isso é mais fácil utilizar a regra prática. Contudo, não é
uma realidade brasileira. Se não souber o peso “chuta 3 kg, 3+6= 9 cm, sempre dá certo”.
11. Se após 30 segundos de VPP por meio da cânula traqueal (a 100%), o RN mantém FC
<100 bpm ou não retoma a respiração espontânea ou, ainda, a SatO2 permanece
abaixo dos valores desejáveis/não detectável:
Verificar a posição da cânula,
A permeabilidade das vias aéreas,
A pressão que está sendo aplicada no balão.
Pode-se aumentar a oferta de oxigênio até 60-100% (caso não estivesse sendo ofertado).
Técnica dos dois polegares (mais efetiva, mas depende da experiência do profissional de
reanimação):
Compressão
Quem vai executar a massagem cardíaca se posiciona atrás da cabeça do RN, enquanto aquele
que ventila se localiza em um lado e do outro lado o profissional que realiza o cateterismo
umbilical. Profundidade: 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax; Deve-se permitir a
reexpansão plena do tórax sem retirar os dedos da posição.
Relação ventilação-massagem
60 SEGUNDOS, única etapa com maior tempo para analisar a eficácia da massagem.
Considera-se falha se, após 60 segundos de VPP com cânula traqueal e oxigênio a 100%
acompanhada de massagem cardíaca, o RN mantém FC <60 bpm.
As medicações são indicadas quando a ventilação efetiva por cânula traqueal com
oxigenioterapia a 100% acompanhada de massagem cardíaca não são capazes de manter a FC
< 60bpm
Adrenalina:
Expansor de volume:
Considerar se não houver resposta à administração da adrenalina e/ou se perda sanguínea
e/ou se sinais de choque hipovolêmico (palidez, perfusão inadequada, pulsos débeis).
NaCl 0,9%, na dose de 10 mL/kg em 5-10 minutos, podendo ser repetida a critério clínico.
ASPECTOS ÉTICOS
As questões relativas às orientações para não iniciar a reanimação neonatal e/ou interromper
as manobras são controversas e dependem do contexto nacional, social, cultural e religioso, no
qual os conceitos de moral e ética são discutidos
A decisão final é feita no momento do nascimento. Mesmo se os pais tomaram uma decisão
antenatal de não reanimação, mas no momento do nascimento mudaram de opinião, o
médico, sem considerar os seus preceitos, deve realizar todo o procedimento de reanimação.
Se não houver certeza, todos os procedimentos necessários devem ser feitos de acordo com o
fluxograma da reanimação neonatal.