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“NÃO DEIXEM ISSO ACONTECER!


Pr. Robert H. Pierson, ex-presidente da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo
Dia (1966-79), proferido a 16 de outubro de 1978 perante o Concílio Anual da Igreja
mundial.

Esta será a última vez que me apresentarei no meu atual cargo perante os líderes mundi-
ais da minha igreja, a vossa igreja, a nossa igreja, e tenho algumas palavras para vos
deixar.

Tomo os meus pensamentos a partir de algo que o irmão e a irmã Ralph Neal escreve-
ram, descrevendo como tipicamente uma seita evolui para uma igreja. Eles dizem que
uma seita é muitas vezes iniciada por um líder carismático com tremenda energia e em-
penho, e que surge como um protesto contra o mundanismo e formalismo de uma igreja.
É geralmente acolhida pelos pobres. Os ricos perderiam demasiado juntando-se-lhe, já
que é impopular, desprezada e perseguida pela sociedade em geral. Tem crenças defini-
das, firmemente apoiadas por membros zelosos. Cada membro faz uma decisão pessoal
de se juntar e sabe no que acredita. Há pouca organização ou propriedades e há poucos
edifícios. Pregadores, muitas vezes sem educação, surgem por compulsão interior. Há
pouca preocupação com relações públicas.

E então passa para a segunda geração. Com o crescimento vem a necessidade de organi-
zação e edifícios. Como resultado da indústria e frugalidade, os membros tornam-se
prósperos. Com o aumento da prosperidade, a perseguição começa a diminuir. As crian-
ças nascidas no movimento não têm que tomar decisões pessoais para nele participar.
Eles não sabem necessariamente sabem no que acreditam. Não precisam para chegar às
suas próprias decisões. Elas foram elaborados para eles. Pregadores surgem mais pela
seleção e pelo aprendizado para os membros mais velhos do que por compulsão interna
direta.

Na terceira geração, a organização desenvolve-se e as instituições são estabelecidos. É


achada necessidade de escolas para transmitir a fé dos pais. Faculdades são estabeleci-
das. Os membros têm de ser exortados a viver de acordo com as normas, enquanto ao
mesmo tempo, os padrões de adesão vão sendo rebaixados. O grupo torna-se negligente
com o corte de membros não praticantes. O zelo missionário esfria. Há mais preocupa-
ção com relações públicas. Os líderes estudam métodos de propagação da sua fé, por
vezes empregando recompensas extrínsecas como motivação aos membros para o servi-
ço. Os jovens questionam porque são diferentes dos outros, e contraem matrimónio com
aqueles que não são da sua própria fé.

Na quarta geração, há muito mecanismo; o número de administradores aumenta enquan-


to o número de trabalhadores nas bases torna-se proporcionalmente menor. São realiza-
dos grandes concílios de igreja para definir doutrina. Mais escolas, universidades e se-
minários são estabelecidas. Estes procuram acreditação do mundo e tendem a se tornar
secularizados. Há um reexame das posições e modernização de métodos. É dada atenção
à cultura contemporânea, com interesse nas artes: música, arquitetura, literatura. O mo-
vimento visa tornar-se relevante para a sociedade contemporânea, tornando-se envolvi-
do em causas populares. Os serviços tornam-se formais. O grupo goza de aceitação
completa pelo mundo. A seita tornou-se uma igreja!

Irmãos e irmãs, isto nunca deve acontecer com a Igreja Adventista do Sétimo Dia! Isto
não é simplesmente mais uma igreja - é a igreja de Deus! Mas vós sois os homens e as
mulheres sentados neste templo esta manhã, em quem Deus está a contar para garantir
que isso não aconteça.

Agora mesmo, irmãos e irmãs, há forças subtis que estão começando a agitar-se. Infe-
lizmente há aqueles na igreja que depreciam a inspiração da Bíblia, que desprezam os
11 primeiros capítulos do Génesis, que questionam a curta cronologia da Terra apresen-
tada no Espírito de Profecia, e que de modo subtil e não tão subtil atacam o Espírito de
Profecia. Há alguns que apontam para os reformadores e teólogos contemporâneos co-
mo fonte e norma para a doutrina Adventista do Sétimo Dia. Há aqueles que suposta-
mente estão cansados dos conceitos antiquados do adventismo. Há aqueles que querem
esquecer os padrões da Igreja que amamos. Há aqueles que cobiçam e que cortejariam o
apreço dos evangélicos; aqueles que dispensariam o manto de um povo peculiar; e aque-
les que iriam pelo caminho do mundo secular e materialista.

Colegas líderes, amados irmãos e irmãs – não deixem isso acontecer! Rogo-vos tão fer-
vorosamente quanto eu posso esta manhã – não deixem isso acontecer! Faço um apelo à
Universidade de Andrews, ao Seminário, à Universidade de Loma Linda – não deixem
isso acontecer! Nós não somos Anglicanos do Sétimo Dia, não somos Luteranos do Sé-
timo Dia – somos Adventistas do Sétimo Dia! Esta é a última igreja de Deus com a úl-
tima mensagem de Deus.

Vós, os líderes, sois os homens e as mulheres com quem Deus está a contar para manter
a igreja Adventista do Sétimo Dia como a igreja remanescente de Deus, a igreja que
Deus tem destinado a triunfar!

A serva do Senhor diz:

“Terríveis perigos se acham diante dos que têm responsabilidades na obra do Senhor -
perigos cuja ideia me faz tremer” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 391).

E Ezequiel 22:30 diz:

“E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha
perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse.”
Esta manhã eu acredito, colegas líderes, que Deus está procurando homens e mulheres
que sejam líderes intrépidos, homens e mulheres que amam a igreja de Deus e a verdade
de Deus mais do que amam as suas vidas, para fazer com que, por Deus, esta igreja che-
gue até ao reino. A tarefa à nossa frente não vai ser fácil. Se eu entendo corretamente a
Bíblia e o Espírito de Profecia esta manhã, à frente encontra-se um tempo de angústia,
um tempo de desafio como esta igreja e este mundo nunca antes conheceram.

A serva do Senhor diz-nos:

“O inimigo das almas tem procurado introduzir a suposição de que uma grande reforma
devia efetuar-se entre os adventistas do sétimo dia, e que essa reforma consistiria em
renunciar às doutrinas que se erguem como pilares de nossa fé, e empenhar-se num pro-
cesso de reorganização. Se tal reforma se efetuasse, qual seria o resultado? Seriam rejei-
tados os princípios da verdade, que Deus em Sua sabedoria concedeu à igreja remanes-
cente. Nossa religião seria alterada. Os princípios fundamentais que têm sustido a obra
neste últimos cinqüenta anos, seriam tidos na conta de erros. Estabelecer-se-ia uma nova
organização. Escrever-se-iam livros de ordem diferente. Introduzir-se-ia um sistema de
filosofia intelectual. Os fundadores deste sistema iriam às cidades, realizando uma obra
maravilhosa. O sábado seria, naturalmente, menosprezado, como também o Deus que o
criou. Coisa alguma se permitiria opor-se ao novo movimento. Ensinariam os líderes ser
a virtude melhor do que o vício, mas, removido Deus, colocariam sua confiança no po-
der humano, o qual, sem Deus, nada vale” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p, 204, 205).

A Igreja Adventista do Sétimo Dia teve o seu alfa anos atrás. Você e eu somos os líde-
res que irão enfrentar o omega que será da mesma origem subtil e diabólica. O seu efei-
to será mais devastador do que o alfa. Irmãos, peço-vos, estudai, sabei o que está à fren-
te, depois com a ajuda de Deus preparai o vosso povo para enfrentá-lo.

“Deus chama homens que estão preparados para enfrentar emergências, homens que
numa crise não serão encontrados no lado errado” (Review and Herald, 06 de dezembro
de 1892).

E então eu chamo a atenção para uma visão que a serva do Senhor teve, em que ela viu
um navio indo rumo a um icebergue. Ela disse:

“Ali, elevando-se muito mais alto que o navio, estava um gigantesco icebergue. Uma
voz autorizada exclamou: “Enfrentai-o!” Não houve um momento de hesitação. Urgia
ação rápida. O maquinista pôs todo o vapor, e o timoneiro dirigiu o navio diretamente
para cima do iceberg. Com um estrondo o navio deu contra o gelo. Houve tremendo
choque e o icebergue se desfez em muitos pedaços, despencando sobre o convés, com
um ruído de trovão. Os passageiros foram sacudidos violentamente pela força da coli-
são, nenhuma vida se perdeu. O navio sofreu avaria, mas não irreparável. Refez-se da
colisão, tremendo de proa a popa, qual criatura viva. E seguiu então seu caminho.
Bem sabia eu o significado dessa representação. Eu tinha minhas ordens. Ouvira as pa-
lavras, como uma voz que viesse de nosso Comandante: “Enfrentai-o!” Sabia qual meu
dever, e que não havia um momento a perder. Chegara o tempo para ação decidida. Eu
devia, sem tardança, obedecer à ordem: “Enfrentai-o!”(Mensagens Escolhidas, v.1, p.
205, 206).

Colegas líderes, pode ser que no futuro não tão distante, você terá que enfrentá-lo. Eu
oro para que Deus lhe dê graça e coragem e sabedoria.

Finalmente,

“Que admirável pensamento é esse de que o grande conflito se aproxima do fim! Na


conclusão da obra enfrentaremos perigos com os quais não sabemos como lidar; não
esqueçamos, porém, que os três grandes poderes do Céu estão operando, que uma mão
divina se encontra ao leme, e que Deus levará a cabo os Seus desígnios. Ele reunirá do
mundo um povo que O há de servir em justiça” (Mensagens Escolhidas v. 2, p. 391).

Que garantia maravilhosa temos esta manhã, irmãos e irmãs, que você e eu estamos na
obra de Deus. Este trabalho não é dependente de homem algum; é dependente do nosso
relacionamento com Ele. Há apenas um caminho para enfrentarmos o futuro, que é ao
pé da cruz. Uma igreja com os seus olhos sobre o Homem do Calvário não andará em
apostasia.

Obrigado, irmãos e irmãs, por me darem o privilégio de servi-Lo durante os últimos 45


anos, e que Deus abençoe cada um de vós.

Nota: por motivos de saúde e após servir durante 13 anos como presidente da Confe-
rência Geral, o Pr. Pierson aposentou-se semanas depois desta última intervenção pe-
rante a igreja. Ele faleceu em 1989, com 78 anos.

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