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DÉDA, Francino Silveira. Baião de Dois. O IDEAL; Ano II, nº 59; p.03. 13 de junho de 1954.

Acervo Digital do
Laboratório de Ensino e pesquisa em História. LEPH; UniAGES; Paripiranga/BA

BAIÃO DE DOIS

Recordo agora, aos 57 anos, os meus tempos das 17 primaveras, nas plagas do meu Coité; isso
quando a minha juventude não conhecia e não compreendia as responsabilidades e só pensava em brinquedos
e divertimentos dê toda espécie; principalmente danças. Dançar era o meu maior prazer; fosse onde fosse e
com quem quer que fosse. Com os outros moços da minha época, adivinhávamos os “pagodes” dentro e fora
da Vila: no “cavaco” com Antônio Té na concertina, como no “Matoso” com Pedro toca na harmônica. Não
mediamos distânciâs, como não tem temíamos a lama ou a poeira, a chuva ou o escuro: queríamos era dançar
a valsa BALAR CÉ a franceza, ou a vienense, a POLCK originária da Bohêmia, dançada a dois que giravam
sobre si mesmos, marcando o rítimo em cada pé, num movimento ligeiro a 2/4, ou a SCHOTTISCH a 4 tempos,
ou ainda a MAZURKA, muito apreciada naquela época; se bem que os nossos sanfoneiros antigos, só sabiam
executar para os dançarinos, a fanhosa MAZURKA: - “Sá Viana... Sá Viana ... Sá Viana chegou”.
Estas eram as danças mais em voga na região e nós, com mocinhas esbeltas e faceiras, da Vila ou da
roça, cheirando a “Água florida”; ou mesmo de braços passados nas cinturas espartilhadas nos cogotes
perfurmados de “corilopes” de Zefa de Tereza ou Zefa de Chicão, o que queríamos era rodopiar até “pegar o
sol com a mão”. No dia seguinte, com as narinas cheias de pó do piso batido dos salões sem ladrilhos e tisnadas
com a fumaça do “fifó” de parede, íamos dormir o sono reparador da noite perdida e das caminhadas a pé´,
sonhando com novos “pagodes”, no “sabão” ou no “cavaquinho”; no “baixão” ou nos “Alegres”.
Aquelas danças foram então, aos poucos, substituídas pelo samba brasileiro ou o Tango argentino e
com estes entrou também para os salões o fogoso e lascivo Maxixe dos pretos, onde os pares encontraram
oportunidade para juntaram-se apertadamente.
Vieram-me então as responsabilidades e os encargos de família e a cada dia mais pesados e eu fui
esquecendo a dança, passando a embrenhar o meu espirito nos prazeres da literatura, mesmo medíocre. Mas,
faz pouco tempo, fui a Paripiranga a uma festa dançante e arredio, comentando aqueles velhos tempos, com
um outro velhote, também jovem da minha época, apreciávamos como a mocidade era diferente...Como o JAZZ
com seus ruídos exóticos, com suas notas dissonantes e seu rítimo sincopado, de 1915 para cá, havia
modificado a dança... Atualmente só temos da velha BLOCK, da SHOTTISCH, ou da MAZURKA, a
recordação... Os jovens da atualidade, rodopiam diferente... Como êles preferem a Ruma Cubana, com seu
rítimo lânguido, lento a princípio e depois marcadamente acelerado... Como eles gostam hoje do Bolero
espanhol, com rítimo vivo e uniforme, a modo do velho e desaparecido FANDANGO... Como êles dançam com
alegria doida o Baião dos violeiros . . . E foi assim que em dado momento em que me encontrava no salão em
tôrno de uma mesa, não resisti, ao convite de uma pequena dançarina e largando o meu copo de saborosa
Guaraná, e sem pedir licença ao outro velho que me assistia, cal no frevo e redopiei gotejando e suor, um
fogoso BAIÃO DE DOIS ...

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